Compreendendo A Psicopedagogia

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COMPREENDENDO A PSICOPEDAGOGIA

INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor
compreensão do processo de aprendizagem, ou seja, contribuir na busca
de soluções para a difícil questão do problema de aprendizagem. A
aprendizagem deve ser olhada como a atividade de indivíduos ou grupos
humanos, que mediante a incorporação de informações e o
desenvolvimento de experiências, promovem modificações estáveis na
personalidade e na dinâmica grupal as quais revertem no manejo
instrumental da realidade. O objeto central de estudo da psicopedagogia
está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana:
seus padrões evolutivos normais e patológicos e a influência do meio
(família, escola, sociedade) em seu desenvolvimento. A Psicopedagogia é
um campo de conhecimento e atuação em Saúde e Educação, enquanto
prática clínica, tem-se transformado em campo de estudos para
investigadores interessados no processo de construção do conhecimento
e nas dificuldades que se apresentam nessa construção. Como prática
preventiva, busca construir uma relação saudável com o conhecimento,
de modo a facilitar a sua construção. KIGUEL (1983) ressalta que a
Psicopedagogia encontra-se em fase de organização de um corpo teórico
específico, visando à integração das ciências pedagógicas, psicológica,
fonoaudiológica, neuropsicológica e psicolinguística para uma
compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem humana.
O psicopedagogo deve desenvolver sua ação, mas sempre se
retratando as teorias, englobando vários campos de conhecimentos.
Diversos autores que tratam da Psicopedagogia enfatizam o seu caráter
interdisciplinar. O foco de atenção do psicopedagogo, é a reação da
criança diante das tarefas, considerando resistências, bloqueios, lapsos,
hesitações, repetição, sentimentos de angústias. O psicopedagogo ensina
como aprender e para isso necessita aprender o aprender e a
aprendizagem. Para os profissionais brasileiros (Maria M. Neves; Kiguel;
Scoz; Golbert; Weiss; Rubinstein), pode-se verificar que o tema da
aprendizagem ocupa-os e preocupa-os, sendo os problemas desse
processo (de aprendizagem) a causa e a razão da psicopedagogia. Para os
Argentinos também a aprendizagem preocupa, ou seja, “ a aprendizagem
com seus problemas” constitui-se no pilar-base da psicopedagogia. São
eles: Alícia Fernandez, Sara Pain, Jorge Visca, Mariana Muller. Então, o
que é a Psicopedagogia? Para SISTO (1996) é uma área de estudos que
trata da aprendizagem escolar, quer seja no curso normal ou nas
dificuldades. CAMPOS (1996), considera que os problemas de
aprendizagem se constituem no campo da Psicopedagogia. Por SOUSA
(1996), a Psicopedagogia é vista como área que investiga a relação da
criança com o conhecimento. O Código de Ética da Psicopedagogia, no
Capítulo I, Artigo 1º, afirma que “A Psicopedagogia é campo de atuação
em saúde e educação o qual lida com o conhecimento, sua ampliação, sua
aquisição, distorções, diferenças e desenvolvimento por meio de
múltiplos processos” A Psicopedagogia é uma área de estudos nova que
pode e está atendendo os sujeitos que apresentam problemas de
aprendizagem. BOSSA (1994), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de
atender a demanda – dificuldades de aprendizagem. FERREIRA (1982,
P.1412) Psicopedagogia “é o estudo da atividade psíquica da criança e dos
princípios que daí decorrem, para regular a ação educativa do indivíduo”.
Segundo MULLER, a Psicopedagogia liga-se as características da
aprendizagem humana, como se aprende, como essa aprendizagem varia
evolutivamente e está condicionada por outros fatores; como e porque se
produzem as alterações da aprendizagem, como reconhecê-las e tratá-las,
que fazer para preveni-las, e para promover processos de aprendizagem
que tenham sentido para os participantes. Esse objeto de estudo, que é
um sujeito a ser estudado por outro sujeito, adquire características
específicas e depende tanto do trabalho clínico ou preventivo. O trabalho
clínico não deixa de ser preventivo, pois trata alguns transtornos de
aprendizagem, podendo evitar o aparecimento de outros. Nessa
modalidade de trabalho, deve o profissional compreender o que o sujeito
aprende, como aprende e porque além de perceber a dimensão da
relação entre psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a
aprendizagem. No trabalho preventivo, a instituição, enquanto espaço
físico e psíquico da aprendizagem, é objeto de estudo da psicopedagogia,
uma vez que são avaliados os processos didático metodológicos e a
dinâmica institucional que interferem no processo de aprendizagem. Ao
psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se
transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de
conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz
conhecimento e aprende. Esse saber exige que o psicopedagogo recorra a
teorias que lhe permitam aprender, bem como às leis que regem esse
processo: as influências afetivas e as representações inconscientes que o
acompanham, o que pode comprometê -lo e o que pode favorecê-lo. O
psicopedagogo precisa saber o que é ensinar e o que é aprender; como
interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais
que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no
processo escolar. Enfim, a psicopedagogia se ocupa da aprendizagem
humana, que adveio de uma demanda – o problema de aprendizagem. –
Como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se
inicialmente do processo de aprendizagem, estudando assim as
características da aprendizagem humana. É necessário comentar que a
Psicopedagogia é comumente conhecida como aquela que atende
crianças com dificuldades de aprendizagem. É notório o fato de que as
dificuldades, distúrbios ou patologias podem aparecer em qualquer
momento da vida e, portanto, a Psicopedagogia não faz distinção de
idade ou sexo para o atendimento. Atualmente, a Psicopedagogia vem se
firmando no mundo do trabalho e se estabelecendo como profissão.

OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA


No livro da Nádia Bossa, a Psicopedagogia no Brasil, a autora cita
vários autores no que se refere ao objeto de estudo da psicopedagogia,
vejam a seguir: Para Kiguel, "o objeto central de estudo da
Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de
aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos –
bem como a influência de meio (família, escola, sociedade) no seu
desenvolvimento" (1991, p. 24). De acordo com Neves, "a psicopedagogia
estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as
realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E,
mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua
complexidade, procurando colocar em pé de 9 igualdade os aspectos
cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos" (1991, p. 12).
Segundo Scoz, "a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e
suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos
do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os"(1992,p.2). Para
Golbert: (...) o objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a
partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo
considera o objeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em
desenvolvimento enquanto educável. O enfoque terapêutico considera o
objeto de estudo da psicopedagogia a identificação, análise, elaboração
de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de
aprendizagem (1985, p. 13). Para Rubinstein, "num primeiro momento a
psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de
metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades,
tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma
promover o desaparecimento do sintoma". E ainda, "a partir do momento
em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de
aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a mesma, o
objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é
apenas um aspecto no processo terapêutico, e o principal objetivo é a
investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a
compreensão do processamento da aprendizagem considerando todas as
variáveis que intervêm nesse processo" (1992, P. 103). Do ponto de vista
de Weiss, "a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a
aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria
aprendizagem de alunos e educadores" (1991, P. 6).
Com referência aos profissionais brasileiros supracitados,
pode-se verificar que o tema aprendizagem ocupa-os e preocupa-os,
sendo os problemas desse processo ( de aprendizagem) a causa e a razão
da Psicopedagogia. Pode-se observar esse pensamento traduzido nas
palavras de profissionais argentinos como Alicia Fernandez, Sara Paín,
Jorge Visca, Marina Müller, etc., que atuam na área e estão envolvidos no
trabalho teórico. Para eles, "a aprendizagem com seus problemas"
constitui-se no pilar-base da Psicopedagogia. Segundo Jorge Visca, a
Psicopedagogia, que inicialmente foi uma ação subsidiária da Medicina e
da Psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e
complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo de
aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos
próprios. Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de
aprendizagem segundo a qual participa desse processo um equipamento
biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma
de relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições
influenciam e são influenciadas pelas condições socioculturais do sujeito e
do seu meio. Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito,
como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os
recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz
conhecimento e aprende. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba
o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e
métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no
surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar.
Segundo Bossa, faz-se, desta maneira, imperioso que, enquanto
psicopedagogos, aprendemos sobre como os outros sujeitos aprendem e
também sobre como nós aprendemos. Para Alicia Fernández, esse saber
só é possível com uma formação que os oriente sobre três pilares: -prática
clínica, construção teórica, tratamento psicopedagógico-didático. De
acordo com Alicia Fernández (1991), todo sujeito tem a sua modalidade
de aprendizagem ,ou seja, meios, condições e limites para conhecer. No
trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende como um sujeito
epistêmico-epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e
terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma
leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se possa
decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a
intervenção. Ainda de acordo com Alicia Fernández, necessitamos
incorporar conhecimentos sobre o organismo, o corpo, a inteligência e o
desejo, estando estes quatro níveis basicamente implicados no aprender.
Considerando-se o problema de aprendizagem na interseção desses
níveis, as teorias que ocupam da inteligência, do inconsciente, do
organismo e do corpo, separadamente, não conseguem resolvê-lo. 11
Faz-se necessário construir, pois, uma teoria psicopedagógica
fundamentada em conhecimentos de outros corpos teóricos, que,
ressignificados, embasem essa prática.
EMBASAMENTOS TEÓRICOS
Fundamentos da psicopedagogia implica refletir sobre as suas
origens teóricas; desde o seu parentesco com a Pedagogia, que traz as
indefinições e contradições, de uma ciência cujos limites são os da própria
vida humana. Como já mencionamos a psicopedagogia necessita de várias
áreas para compor o seu objeto de estudo: Psicologia, Filosofia,
Neurologia, Sociologia, Linguística e a Psicanálise, etc... O conhecimento
de diversas áreas segundo os autores Argentinos e Brasileiros servem
para fundamentar a constituição de uma teoria psicopedagógica. Devido a
complexidade do seu objeto de estudo, são importantes à
psicopedagogia, conhecimentos específicos de diversas outras teorias,
como:
• Psicanálise, que encarrega-se do inconsciente;
• Psicologia Social, que visa a constituição do sujeito e suas relações
familiares grupais e institucionais, em condição socio-culturais e
econômicas;
• Epistemologia / Psicologia genética, que analisa e descreve o processo
de como se constrói o conhecimento em interação com outros e com os
objetos.
• Linguística, encarrega-se da compreensão da linguagem.
 Pedagogia, contribui com as diversas abordagens do processo
ensino aprendizagem;
 Neuropsicologia, possibilita a compreensão dos mecanismos
cerebrais que subjazem ao aprimoramento das atividades mentais.
Etc... Dessa forma todas essas teorias (áreas) fornecem meios para
refletir e operar no campo psicopedagógico. Os profissionais da
psicopedagogia, sustentam a sua prática em pressupostos teóricos.
O foco de atenção do psicopedagogo, é a reação do sujeito
diante das tarefas, considerando resistências, bloqueios, lapsos,
hesitações, repetição, sentimentos de angústias. Atualmente, a
Psicopedagogia refere-se a um saber e a um saber fazer, às condições
subjetivas e relacionais – em especial familiares e escolares – às inibições,
atrasos e desvios do sujeito ou grupo a ser diagnosticado. O conhecimento
psicopedagógico não se cristaliza numa delimitação fixa, nem nos déficits
e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito,
a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o saber é
próprio do sujeito. Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia requer
refletir sobre suas origens teóricas, revisando os impasses conceituais na
ação da Pedagogia e da Psicologia no processo ensino-aprendizagem, os
quais envolvem tanto o social quanto o individual, tanto transformadores
quanto reprodutores. A psicopedagogia ainda se encontra em fase
embrionária e seu corpo teórico encontra-se em plena construção. A cada
dia surgem novas ideias, novas situações e mais transformações. Bossa diz
que podemos caracterizar a psicopedagogia como uma área de
confluência do psicólogo (a subjetividade do se humano como tal) e do
educacional (atividade especificamente humana, social e cultural).
(200,p.28). O psicopedagogo ensina como aprende e, para isso, necessita
aprender o aprender e a aprendizagem. Na aprendizagem o indivíduo ao
se apropriar de conhecimentos e técnicas, constrói na sua interiorização
um universo de representações simbólicas. Historicamente, a
Psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, uma
vez que acredita que muitas dificuldades de aprendizagem se devem a
inadequação da psicopedagogia institucional e familiar. Devido a
complexidade do seu objeto de estudo são importantes à Psicopedagogia
conhecimentos específicos de diversas outras teorias, as quais incidem
sobre os seus objetos de estudos, como já mencionado anteriormente:
como seres humanos, nos diferenciamos pela nossa capacidade de
aprender, mudar, fazer história, na qual o pensar alicerça esse processo de
mutação. Pensar envolve duvidar, perguntar, questionar. É uma maneira
de investigar, pesquisar o mundo e as coisas, por isso mesmo encerra algo
que perturba, provoca mal-estar, insegurança, porque aquilo que nos
parecia seguro foi atingido em nosso pensamento. A Epistemologia e a
Psicologia Genética se encarregam de analisar e descrever o processo
construtivo do conhecimento pelo sujeito 14 em interação com os outros
e com os objetos. A linguística traz a compreensão da linguagem como um
dos meios que caracterizam tipicamente o humano e cultural: a língua
enquanto código disponível a todos os membros de uma sociedade e a
fala como fenômeno subjetivo, evolutivo e historiado de acesso a
estrutura simbólica. A Pedagogia contribui com as diversas abordagens do
processo ensino-aprendizagem, analisando-o do ponto de vista de quem
ensina. Os fundamentos na Neuropsicologia possibilitam a compreensão
dos mecanismos cerebrais que subjazem ao aprimoramento das
atividades mentais, indicando-nos a que correspondem do ponto de vista
orgânico, todas as evoluções ocorridas no plano psíquico. Neste trabalho
de ensinar e aprender, o psicopedagogo recorre a critérios diagnósticos no
sentido de compreender a falha na aprendizagem. A investigação
diagnóstica envolve a leitura de um processo complexo: como o
individual, o familiar atual e passado, o sociocultural, o educacional e a
aprendizagem. Atualmente, portanto, a Psicopedagogia refere-se a um
saber, e a um saber a fazer, as condições subjetivas e relacionais
especialmente familiares e escolares – as inibições, atrasos e desvios do
sujeito ou grupo a ser diagnosticado. O conhecimento psicopedagógico
avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de
fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito. O trabalho clínico
não deixa de ser preventivo, pois ao tratar alguns transtornos de
aprendizagem, pode evitar o aparecimento de outros. Na sua função
preventiva, cabe ao psicopedagogo: o Detectar possíveis perturbações no
processo de aprendizagem; o Participar da dinâmica das relações da
comunidade educativa, a fim de favorecer o processo de integração e
troca;
 Promover orientações metodológicas de acordo com as características
dos indivíduos e grupos;
 Realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional,
tanto na forma individual ou grupal. O psicopedagogo pode atuar em
diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os
processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo
a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem
surgir. Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma
prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação,
ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao
psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de
aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade
educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover
orientações metodológicas de acordo com as características dos
indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional,
vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. O
psicopedagogo pode atuar tanto na área da saúde como na educação, já
que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da
aprendizagem humana. Também nas empresas ou seja onde houver uma
relação de ensino e aprendizagem. O primeiro aspecto a ser considerado
quando buscamos um trabalho com a autonomia das crianças é o lugar
social e subjetivo que ela ocupa. As preocupações de Piaget foram desde
cedo bem definidas e podem ser resumidas a algumas grandes questões,
como a da gênese das estruturas lógicas do pensamento da criança e a
maneira como elas funcionam, e, consequentemente, a questão dos
procedimentos do conhecimento que a criança põe em ação, o que
coloca o problema da Epistemologia Genética no quadro da Epistemologia
Geral. Em certo momento da vida de Piaget, ele observa seus próprios
filhos em colaboração com a esposa, o resultado de cinco anos de
investigações é publicado essencialmente em duas obras que dominam o
período: (O Surgimento do Pensamento da Criança), 1936 e (A Construção
do real da Criança) 1937. Piaget - escreve Vinh Bang - consagrou-se
essencialmente ao estudo das primeiras manifestações da inteligência,
desde os esquemas sensório-motores até as formas mais elementares de
representação, da imitação e do pensamento simbólico. Para o leitor
familiarizado com esses dois livros, pode parecer que Piaget recorre ao
método de simples observação e que assim sua reflexão metodológica
anterior esteja, senão ausente, ao menos posta de lado, na realidade não
se trata disso. O psicólogo, que se tornou pai, tenta simplesmente ver, em
seus filhos, de que maneira surgem as primeiras manifestações da
inteligência. Se Piaget abordou o estudo da inteligência anterior a
linguagem, não foi somente porque tinha filhos que facilitavam as suas
investigações. Além de saber perfeitamente o que deveria observar, ele
verificava de algum modo - ou experimentava - uma ideia importante, a
saber, que a inteligência é a forma tomada pela adaptação biológica no
nível da espécie. Era preciso descobrir como se constitui a primeira forma
assumida pela inteligência da criança, estabelecendo o inventário diário
de suas aquisições. Naturalmente a inteligência sensório-motora não é
mais do que a forma mais humilde - mas fundamental no sentido em que
não apenas as outras dela dependem como não poderiam sem ela existir -
assumida pela inteligência humana. Ela é essencialmente uma inteligência
sem pensamento, sem representação e sem linguagem. Ao observar os
moluscos nos lagos suíços que, para se adaptarem ao meio no qual se
encontram são levados a se transformar fixando-se ao suporte,
modificando assim as suas conchas, Piaget funda a psicologia 17 sobre a
adaptação do homem ao meio e cria a epistemologia da interação
sujeito/meio ambiente. Isso significa que considerando que todo
conhecimento é o produto de interações entre um sujeito e o seu meio, o
conhecimento provém da atividade do sujeito e , particularmente, de sua
capacidade para extrair as propriedades ao elemento do meio ou do
objeto. Mas conhecer, nesse sentido, comporta, de um lado, o que seria
extraído do objeto, suas qualidades próprias que podem ser captadas pela
atividade perceptiva; de outro, o que o sujeito nele introduz,
transformando-o. Assim, por exemplo, esta pedra é negra, tem estrias, e,
em uma delas, pode-se observar alguns pequenos cristais. Trata-se aqui
de elementos pertencentes à pedra, que o sujeito descobre através de
uma simples leitura perceptiva ou constatação. É o que o objeto fornece
de si mesmo ao sujeito que o observa. Mas levantar, bater, lançar, trazer
de volta, esfregar, sovar, girar de um lado para outro este objeto
constituem propriedades do sujeito que, ao exercê-las sobre o objeto
acaba por transformá-lo, descobrindo nele, através de sua ação, não
apenas novas propriedades - como seu peso ou a sua rijeza - mas também
que ele mesmo possui a capacidade de levantá-lo, calcular seu peso, girá-
lo , etc. Logo, a atividade do sujeito põe em ação propriedades que lhe são
próprias, fruto de interações anteriores que ele pôde estabelecer com o
mundo que o cerca. Daí a epistemologia genética,que seria a história da
organização progressiva e sucessiva das estruturas da atividade e de sua
construção na e através da interação entre o sujeito e o objeto. Essa
interação comporta, se adotarmos o ponto de vista do sujeito em relação
ao objeto, assimilação, ou seja, absorção pura e simples do objeto como
tal pelas estruturas da atividade do sujeito, e ainda, a cada resistência do
objeto, acomodação, isto é , modificação das estruturas da atividade do
sujeito para que ele possa assimilar o objeto. A epistemologia genética e a
psicologia genética dela decorrentes não são, portanto, mais do que a
descrição de um sujeito geral, tão geral que não 18 existe senão como
construção. Logo, o sujeito de Piaget não tem nada a ver com o sujeito
concreto, o sujeito psicológico real. Ele é apenas epistêmico, universal
qualquer, dirá o próprio Piaget. Podemos assim discernir, no
desenvolvimento das estruturas da inteligência, um conjunto de etapas
características, denominamos estádios, que podemos reduzir a três
principais, com subdivisões: 1- O estádio da inteligência sensório-motora
(até 2 anos). 2- O estádio das operações concretas( de 2 a 12 anos), com
os sub estádios: a)Da inteligência simbólica ou da inteligência pré-
operatória (2 a 7 anos). b)Da inteligência operatória concreta ou das
operações concretas ( 7 a 12 anos) 3-O estádio da inteligência operatório
formal ou das operações formais (12 anos a16 anos). Essa divisão em
estádios não é arbitrária, ela corresponde a critérios definidos,
diferentemente dos estádios das demais escolas psicológicas ou de outras
perspectivas de desenvolvimento. A obra de Piaget exerceu, exerce e
exercerá por muito tempo ainda uma influência considerável sobre a vida
e o pensamento científico e sobre o desenvolvimento da psicologia em
particular. A Psicanálise representa um corpo de conhecimentos sobre os
nossos desejos, os nossos pensamentos, e o modo como esses
pensamentos estão e os desejos se expressam através dos nossos sonhos,
crenças e ações. É uma teoria que procura explicar o modo como as
diferenças individuais da personalidade e conflitos que surgem na
infância, ou durante a infância. A Psicanálise é também uma forma de 19
psicoterapia, trata os distúrbios emocionais, individuais, mas é importante
relembrar que enquanto a psicanálise "trabalha" com pessoas (paciente),
mostrou informação muito importante sobre o comportamento humano.
A psicanálise apresenta uma série de suposições e hipóteses
indeterminadas, do que propriamente um conjunto de fatos
cientificamente comprovados. A teoria psicanalista de Freud, influenciou
grande parte dos estudos sobre a personalidade humana, na primeira
parte do século passado. Esta teoria foi elaborada a partir de observações
feitas aos pacientes no seu consultório clínico, não foi elaborada sob
condições científicas rigorosas. Freud pensava que era impossível
compreender os processos patológicos se só se admitisse a existência do
consciente. A concepção dominante de homem, até então, definia-o como
ser racional , que controlava os seus impulsos através da vontade. O
consciente, constituído pelas representações presentes na nossa
consciência e conhecido pela introspecção, constituía o essencial da vida
mental do homem. Posteriormente, Freud apresentou que a
personalidade humana basicamente se compõe de três instâncias: Id , ego
e superego. O ID refere-se aos instintos e as repressões e governa-se pelo
princípio do prazer. O superego é o nome dado às normas e exigências
sociais introjetadas. Id e superego são inconscientes, enquanto que o ego,
consciente, que se rege pelo princípio da realidade, tem a função ativa de
atender tanto às exigências do id e do superego, buscando uma
composição aceitável, para que lançará mão de mecanismos de defesa.
Freud estava convencido de que os distúrbios neuróticos manifestos pelos
seus pacientes tinha origem em experiências da infância. Por conseguinte,
ele veio a ser um dos primeiros teóricos a atribuir um papel importante ao
desenvolvimento da criança. Na teoria psicanalítica do desenvolvimento, a
criança passa por uma série de estágios psicossexuais. O Estágio oral vai
do nascimento ao segundo ano de vida. 20 Durante esta fase, a
estimulação da boca, como sugar, morder, é a fonte primária de satisfação
erótica. A satisfação inadequada nesse estágio - demasiada ou muito
pouca - pode produzir um tipo oral de personalidade, uma pessoa
excessivamente preocupada. No estágio anal, a gratificação vai da boca
para o ânus, e as crianças derivam prazer da zona anal. Durante esse
estágio, que coincide com o período do treinamento da higiene pessoal, as
crianças podem expelir ou reter fezes. Conflitos durante este período
podem resultar em um adulto anal expulsivo, que é sujo, perdulário e
extravagante, ou num adulto anal retentivo, demasiado asseado,
parcimonioso e compulsivo. Durante o estágio fálico, que ocorre por volta
do quarto ano de vida, a satisfação erótica se transfere para a região
genital. Há muita manipulação e exibição dos órgãos genitais. Freud situou
nesse estágio o desenvolvimento do complexo de Édipo. Freud sugeriu
que as crianças sentem atração sexual pelo genitor do sexo oposto e
temor pelo genitor do mesmo sexo, agora percebido como rival. As
crianças que sobrevivem às muitas lutas desses primeiros estágios entram
num período de latência, que dura mais ou menos do quinto ao décimo
segundo ano de vida. Então, ao ver de Freud, o início da adolescência e a
proximidade da puberdade assinalam o começo do estágio para preparar
para o casamento e para formar uma família. O autor soviético Lev
Seminovich Vygotsky teve um importante papel no estudo do
desenvolvimento humano. Vygotsky nasceu em 1896, na Bielo-Rússia, e
faleceu prematuramente aos 37 anos de idade. Ele foi considerado um dos
teóricos que buscou uma alternativa dentro do materialismo dialético
para o conflito entre as concepções idealista e mecanicista na psicologia.
O autor construiu propostas teóricas inovadoras sobre as relações entre
pensamento e linguagem, a natureza do processo de 21 desenvolvimento
da criança e o papel da instrução no desenvolvimento infantil. A sua
questão central é a aquisição de conhecimento pela interação do
indivíduo com seu meio. Nesse sentido, a formação psíquica é
internalizada e mediada pela cultura. Os processos de pensamento,
memória, percepção e atenção fazem parte da função mental, na qual o
conhecimento se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na
troca com outros indivíduos e consigo próprio que vão se internalizando
conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de
conhecimento e da própria consciência, que é mediada pela cultura. A
linguagem é compreendida por Vygotsky (1988) como mediação entre o
indivíduo e o objeto de conhecimento. Ela transmite a cultura e forma as
nossas funções mentais superiores. Esse processo de internalização é
fundamental para o desenvolvimento psicológico. O indivíduo não tem
acesso direto aos objetos que o rodeiam, e esse processo acaba sendo
mediado pelo outro.O desenvolvimento humano é resultado das
interações dialéticas do homem e seu meio sócio-histórico cultural. Ao
mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para seguir
suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo. O próprio
comportamento é criado e modificado ao longo da história social da
civilização, e é um dos instrumentos que o ser humano utiliza para
dominar o seu ambiente. No que diz respeito ao desenvolvimento infantil,
Vygotsky preconiza que devemos considerar não apenas o nível da
criança, mas também o seu nível de desenvolvimento potencial, a sua
capacidade de desempenhar tarefas com ajuda de outras pessoas mais
capazes. As respostas das crianças ao ambiente, no início, são
desencadeadas por processos inatos. Na mediação dos adultos, os
processos psicológicos mais complexos acabam tomando forma. Embora
as crianças dependam de cuidados prolongados, elas participam
ativamente de seu próprio aprendizado, tanto no contexto familiar quanto
na comunidade. O emprego de apoios como estratégias de ensino junto
aos alunos tem origem na teoria sociocultural de Vygotsky e em seu
conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP). Para Vygotsky
(1989), a ZDP representa a distância entre o desenvolvimento real, que se
identifica através da solução independente de um problema, e o nível de
desenvolvimento potencial, quando a solução de um problema acontece
sob orientação de um adulto ou em colaboração com colegas mais
capazes. A Neurologia é uma importante ferramenta para identificar
problemas de aprendizagem na criança. As crianças que apresentam
dificuldades escolares por mau rendimento crônico, perda de conteúdo e
dificuldades qualitativas e quantitativas de aprendizado devem ser sempre
analisadas como resultado de três fatores: 1)Problemas sócio-culturais;
2)Problemas Psicoemocionais e 3) Problemas Neurobiológicos
(Fonseca,1995). Sendo assim, a Neurobiologia deve ser estudada e
encarada também com ingrediente fundamental no rol dos
conhecimentos de quem ensina, já que o processo ensino-aprendizagem
sofre direta influência do funcionamento cerebral. A aquisição da
capacidade de leitura e escrita e do aprendizado escolar exige um
processo de complexas adaptações do sistema nervoso central às
demandas da estimulação ambiental, sendo um processo mais lento e
progressivo(CASELLA BARBANTE, COSTA, AMARO JUNIOR,2008). 23 Todo
processo de aquisição de qualquer informação que chega ao cérebro deve
passar por circuitos sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato, etc.)
os quais permitem absorver os estímulos do mundo externo e transmiti-
las para o cérebro. (CASSELLA BARBANTE,COSTA,AMARO JUNIOR,2008).
As áreas mais comumente envolvidas na percepção do mundo externo
estão localizadas em circuitos sensório-sensitivos na área de integração
sensório-motora cortical. Esta extensa área cortical "dá sentido" ao que
recebemos do ambiente e correlaciona com os nossos conceitos internos
já gerados internamente.(CASSELLABARBANTE, COSTA, AMARO
JUNIOR,2008). A Neuropsicologia é uma ciência que tenta relacionar os
processos psicológicos superiores ao funcionamento cerebral, utilizando
dois grandes grupos de disciplinas: as Neurociências, que elucidam a
estrutura e o funcionamento cerebral, e a Psicologia, que expõe a
organização das operações mentais e de comportamento (SERON,1991). O
estudo das relações entre os distúrbios de linguagem e as lesões
cerebrais, na Neurologia é uma das vertentes da Neuropsicologia. Em
torno da década de 30, a Neuropsicologia constitui-se em uma área
interdisciplinar, compreendendo a Neurologia, a Psicologia e a Linguística.
(CALDAS 2000). A Neuropsicologia cognitiva é um ramo da
Neuropsicologia cujo interesse é compreender o funcionamento do
cérebro normal e lesado por meio de modelos ou arquiteturas funcionais
de tratamento de informação. Este termo começou a ser usado em torno
da década de 70, com a união dos conhecimentos da Neurologia, do
avanço das técnicas de Neuroimagem e dos modelos do funcionamento
mental, provenientes da Psicologia Cognitiva. Os dados Neuropsicológicos
e a teoria cognitiva apresentam uma relação recíproca, dando suporte a
Neuropsicologia cognitiva. (RIDDOCH e HUMPHREYS,1994). Roazzi (1999),
salienta a impossibilidade de dissociar totalmente, do ponto de vista
psicológico, os elementos supostamente cognitivos daqueles relacionados
às regras de interação social e de estruturação do contexto no qual estão
inseridos os sujeitos, e menciona a existência de um novo paradigma de
investigação de pesquisa cognitiva, inserindo os sujeitos, e inserindo o
contexto sociocultural. A Neurociência cognitiva social busca compreender
os fenômenos em termos de interações entre três níveis de análise : 1) O
nível social, relacionado com fatores motivacionais e sociais que
influenciam o comportamento e a experiência; 2) O nível cognitivo;
relacionado aos mecanismos de processamento da informação que
sustentam o fenômeno e 3) O nível neural, que compreende os
mecanismos cerebrais que estão subjacentes aos processos cognitivos.
(OCHSNER ELIEBERMAN,2001). Na perspectiva da Neuropsicologia do
desenvolvimento, as dificuldades de aprendizagem são entendidas como
um conjunto de distúrbios sistémicos e parciais da aprendizagem escolar,
que surgem como consequência de uma insuficiência funcional de um ou
vários sistemas cerebrais. (SANTANA,2001). As práticas sociais relativas à
leitura e à escrita transcendem não só os limites da escola como, também,
precedem o ingresso da criança no sistema de ensino formal. 25
(CORREA,2001). Sabe-se que a criança inicia-se no processo de
alfabetização através de atividades da vida diária, a partir do uso de
materiais escritos e figurativos, disponíveis em casa (CASTANHEIRA,1992).
Assim, o contexto familiar constitui um fator importante para favorecer o
desenvolvimento de habilidades iniciais de leitura e escrita. Dentre as
variáveis de cunho sociocultural, Witter (1996) destaca a influência do
contexto histórico-cultural da própria sociedade, ambiente sociocultural
mais próximo em que vive o leitor e ambiente da própria escola. Portanto,
as dificuldades de leitura e escrita envolvem também fatores relacionados
ao núcleo familiar, a escola e ao meio social.(DOCKRELL E MC
SHANE,2000). 4. UM POUCO DE HISTÓRIA Historicamente, segundo BOSSA
(2000) os primórdios da Psicopedagogia ocorreram na Europa, ainda no
século XIX, evidenciada pela preocupação com os problemas de
aprendizagem na área médica. Acreditava-se na época que os
comprometimentos na área escolar eram provenientes de causas
orgânicas, pois procurava-se identificar no físico as determinantes das
dificuldades do aprendente. Com isto, constituiu-se um caráter orgânico
da Psicopedagogia. De acordo com BOSSA (2000), a crença de que os
problemas de aprendizagem eram causados por fatores orgânicos
perdurou por muitos anos e determinou a forma do tratamento dada à
questão do fracasso escolar até bem recentemente. Nas décadas de 40 a
60, na França, a ação do pedagogo era vinculada à do médico. No ano de
1946, em Paris foi criado o primeiro centro psicopedagógico. O trabalho
cooperativo entre médico e pedagogo era destinado a crianças com
problemas escolares, ou de comportamento e eram definidas como
aquelas que apresentavam doenças crônicas como diabetes, tuberculose,
cegueira, surdez ou problemas motores. A denominação
“Psicopedagógico” foi escolhida, em detrimento de “Médico Pedagógico”,
porque acreditava-se que os pais enviariam seus filhos com menor
resistência. Em decorrência de novas descobertas científicas e
movimentos sociais, a Psicopedagogia sofreu muitas influências. Em 1958,
no Brasil surge o Serviço de Orientação Psicopedagógica da Escola
Guatemala, na Guanabara (Escola Experimental do INEP - Instituto de
Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC). O objetivo era melhorar a
relação professor-aluno. Nas décadas de 50 e 60 a categoria profissional
dos psicopedagogos organizou-se no país, com a divulgação da abordagem
psico-neurológica do desenvolvimento humano. Atualmente novas
abordagens teóricas sobre o desenvolvimento e a aprendizagem, bem
como inúmeras pesquisas sobre os fatores intra e extra escolares na
determinação do fracasso escolar, contribuíram para uma nova visão mais
crítica e abrangente.
A HISTORIA DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL E NA ARGENTINA
Bossa, em sua obra Psicopedagogia no Brasil faz um resumo
referente a trajetória da Psicopedagogia, ressalta que o movimento da
Psicopedagogia no Brasil deu-se devido ao seu histórico na Argentina. A
autora articula que encontra-se trabalhos de autores argentinos na
literatura brasileira, os quais constituem os primeiros esforços no sentido
de sistematizar um corpo teórico da Psicopedagogia. A origem do
pensamento argentino acerca da Psicopedagogia, está fortemente
marcada pela literatura francesa. Autores como Jacques Lacan, Maud
Mannoni, Françoise Dolto, Julián de Ajuriaguerra, Janine Mery, Michel
Lobrot, Pierre Vayer, Maurice Debesse, René Diatkine, George Mauco,
PichónRivière e outros, são frequentemente citados nos trabalhos
argentinos. Relata a autora que, a Psicopedagogia nasceu na Europa,
ainda no século XIX. Inicialmente, pensaram sobre o problema de
aprendizagem: os filósofos, os médicos e os educadores. De acordo com
Bossa, na literatura francesa – encontra-se, entre outros, os trabalhos de
Janine Mery, psicopedagoga francesa, que apresenta algumas
considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas
ideias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro
centro médico psicopedagógico na França onde se percebe as primeiras
tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e
Pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de
aprendizagem. O termo psicopedagogia curativa, foi adotado por Janine
Mery, usado para caracterizar uma ação terapêutica que considera
aspectos pedagógicos e psicológicos no tratamento de crianças que
apresentam fracasso escolar. Tais crianças " experimentam dificuldades
ou demonstram lentidão em relação aos seus colegas no qual diz respeito
às aquisições escolares" (Janine Mery, 1985, p. 16). Segundo essa autora,
no final do século XIX, educadores como Itard, Pereire, Pestalozzi, e
Seguin começaram a se dedicar às crianças que apresentavam problemas
de aprendizagem em razão de vários tipos de distúrbios. Pestalozzi,
inspirando nas ideias de Rousseau , fundou na Suíça um centro de
educação através do trabalho, onde usou o método intuitivo e natural,
estimulando em especial a percepção. Educadores como Pereire, Itard e
Seguin também se preocuparam principalmente com a percepção. Mery
aponta esses educadores como pioneiros no tratamento dos problemas
de aprendizagem, observando, porém, que eles se preocupavam mais
pelas deficiências sensoriais e pela debilidade mental do que
propriamente pela desadaptação infantil. Em 1898, Edouard Claparède,
famoso professor de Psicologia, juntamente com o neurologista François
Neville, introduziu na escola pública as "classes especiais", destinadas à
educação de crianças com retardo mental. Esta foi a primeira iniciativa
registrada de médicos e educadores no campo da reeducação (cf.
Claparède, 1959). Em 1904 e 1908 iniciam-se as primeiras consultas
médico-pedagógicas, as quais tinham o objetivo de encaminhar as
crianças para as classes especiais. Ainda em fins do século XIX foi formada
uma equipe médico pedagógica pelo educador Seguin e pelo médico
psiquiatra Esquirol. A partir daí a neuropsiquiatria infantil passou a se
ocupar dos problemas neurológicos que afetam a aprendizagem (cf.
Mery, 1985, p. 11). Nessa mesma época Maria Montessori, psiquiatra
italiana, criou um método de aprendizagem destinado inicialmente às
crianças retardadas. Posteriormente, o método Montessori foi estendido
a todas as crianças, sendo hoje utilizado em muitas Escolas. Sua principal
preocupação está na educação da vontade e na alfabetização, via
estimulação dos órgãos dos sentidos – sendo por isso classificado como
sensorial (cf. Montessori, 1954). O psiquiatra Ovidir Decroly também se
preocupou com a ed. infantil, utilizando técnicas de observação e
filmagem para estudar as situações de aprendizagem. Criou os famosos
Centros de Interesse, que perduram até os nossos dias (cf. Decroly, 1929).
Conforme Mery (1985), em 1946 foram fundados os primeiros Centro
Psicopedagógicos, onde se buscava unir conhecimentos da Psicologia, da
Psicanálise e da Pedagogia para tratar comportamentos socialmente
inadequados de crianças, tanto na escola como no lar, objetivando a sua
adaptação. 29 De acordo com o professor Lino de Macedo, "a
Psicopedagogia é uma (nova) área de atuação profissional que tem, ou
melhor, busca uma identidade e que requer uma formação de nível
interdisciplinar (o que já é sugerido no próprio termo psicopedagogia)"
(1992, p. VIII).
A PSICOPEDAGOGIA NA ARGENTINA

De acordo com Alicia Fernández, a graduação em


Psicopedagogia surgiu há mais de trinta anos na Argentina. Na prática, a
atividade psicopedagógica iniciou-se antes da criação do próprio curso.
Profissionais que possuíam outra formação viram a necessidade de
ocupar um espaço que não podia ser preenchido pelo psicólogo nem pelo
pedagogo. Desta maneira, começaram fazendo reeducação, com o
objetivo de resolver fracassos escolares. Trabalhava-se as funções
egóicas, tais como memória, percepção, atenção, motricidade e
pensamento, medindo-se os déficits e elaborando planos de tratamento
que objetivavam vencer essas faltas. De acordo com Bossa, Alicia afirma
que o curso de Psicopedagogia passou por três momentos distintos
devido a alterações nos seus planos de estudo. (Bossa e Montti, 1991,
p.22). Para Fernández e Montti, o segundo momento da Psicopedagogia
na Argentina é constituído pelos planos de 1963, 1964 e 1969, nos quais
se evidencia a influência da Psicologia Experimental na formação do
psicopedagogo. Neste momento, busca-se a formação instrumental do
profissional, ou seja, procura-se capacitá-lo na medição das funções
cognitivas e afetivas. Durante os trinta anos que se passaram desde o seu
estabelecimento na Argentina, a Psicopedagogia tem ocupado um
significado espaço no âmbito da educação e da saúde. Nesse processo
evolutivo, é importante destacar um fato relevante que permitiu
mudanças na abordagem da Psicopedagogia: da reeducação à clínica. Na
década de 1970 criou-se em Buenos Aires os Centros de Saúde Mental,
onde atuavam equipes de psicopedagogos que faziam 30 diagnóstico e
tratamento. Esses profissionais observavam que, depois de um ano de
tratamento, quando os pacientes retornavam para controle, haviam
"resolvido" os seus problemas de aprendizagem. Entretanto, em lugar
desses problemas surgiam graves distúrbios de personalidade: fobias,
traços psicóticos, etc. Os reeducadores tomaram, então, consciência de
que haviam afogado o único grito que esses sujeitos tinham para se
expressar, produzindo-se, pois, um deslocamento de sintoma. A partir daí
ocorre uma grande mudança na abordagem psicopedagógica. Os
psicopedagogos começam a incluir no seu trabalho o olhar e a escuta
clínica da Psicanálise, resultando no atual perfil do psicopedagogo
argentino. Observam Fernández e Montti que, na Argentina, a atuação
psicopedagógica está ligada, fundamentalmente, a duas áreas: a
educação e a saúde. A função do psicopedagogo na área educativa é
cooperar para diminuir o fracasso escolar, seja este da instituição, seja do
sujeito ou, o que é mais frequente, de ambos. Esse objetivo é perseguido
através de assessoramento aos pais, professores e diretores, para que
possam decidir e opinar na elaboração de planos de recreação, cujo
objetivo é o desenvolvimento da criatividade, do juízo crítico e da
cooperação entre os alunos. Ainda na área educativa, psicopedagogo
argentino atua no serviço de orientação vocacional, na passagem do 1º
para o 2º e deste par o 3º grau, bem como em outras atividades que
surgem em função de necessidades concretas da instituição. Quanto a
área de saúde, o psicopedagogo, na Argentina, trabalha em consultórios
particulares e/ou em instituições de saúde, hospitais públicos e
particulares. Sua função é reconhecer e atuar sobre as alterações da
aprendizagem sistemática e/ou disfunção cerebral assistemática. Procura-
se reconhecer as alterações da aprendizagem sistemática, utiliza-se
diagnóstico na identificação dos múltiplos geradores desse problema e,
fundamentalmente, busca-se descobrir como o sujeito aprende. Utilizam-
se, no diagnóstico, testes para melhor conhecer o paciente e a sua
problemática, os quais são selecionados em função de cada sujeito.
Participam do processo diagnóstico tanto o Sujeito quanto os pais.

PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

De acordo com Bossa, no Brasil, se explicou o problema de aprendizagem


como produto de fatores orgânicos (Lefèvre, 1968, 1975, 1981; Grünspun,
1990). Nesse caminhar, na década de 70 foi difundida que a causa de uma
disfunção neurológica não-detectável em exame clínico, chamada mínima
(DCM), fosse o problema. No final da década de 70, surgiram os primeiros
cursos de especialização em Psicopedagogia no Brasil, idealizados para
complementar a formação dos psicólogos e de educadores que buscavam
soluções para esses problemas. Esses cursos foram estruturados e, dentro
desse contexto histórico, amparados num conhecimento científico, fruto
de uma dinâmica sociocultural que não a nossa. Os profissionais de Porto
Alegre organizaram centros de estudos destinados à formação e
atualização em Psicopedagogia – nos moldes dos cursos do Centro
Médico de Pesquisas de Buenos Aires -, como o professor Nilo Fichtner,
que fundou o Centro de Estudos Médicos e Psicopedagógicos na capital
gaúcha. Essa formação em Psicopedagogia dá-se num quadro de
referências baseado num modelo médico de atuação. Segundo Golbert
(1985), "a Clínica Médica Pedagógica de Porto Alegre, dirigida pelo Dr.
Nilo Fchtner desde 1970, prepara profissionais em Psicopedagogia
Terapêutica". Neste breve histórico da Psicopedagogia no Brasil, não se
pode deixar de mencionar o trabalho da professora Genny Golubi de
Moraes, por sua contribuição na compreensão e tratamento dos
problemas de aprendizagem. Coordenadora de cursos na PUC-SP, foi
responsável pela formação de um grande número de profissionais da
Psicopedagogia que hoje desenvolvem importantes trabalhos na área.
Priorizou sempre o trabalho preventivo, deixando clara a sua
preocupação no sentido de fazer com que cada vez menos crianças
cheguem à clínica por problemas escolares. 32 A nova abordagem desse
curso pioneiro reflete a mudança na forma de conceber a problemática
do fracasso escolar e a busca pela identidade desse profissional brasileiro,
que nasce como reeducador e que, ao longo do tempo, amplia o seu
compromisso assumindo a responsabilidade com a diminuição dos
problemas de aprendizagem nas escolas e, consequentemente, com a
redução dos altos índices de fracasso escolar. A Associação Brasileira de
Psicopedagogia não deixa de dar contornos à prática psicopedagógica em
nosso País. Tem sido responsável pela organização de eventos de
dimensão nacional, bem como por publicações cujos temas retratam as
preocupações e tendências na área. Segundo Bossa, o trabalho
psicopedagógico não pode confundir-se com a prática psicanalítica e nem
tampouco com qualquer prática que conceba uma única face do sujeito.
Um psicopedagogo, cujo objeto de estudo é a problemática da
aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a
inteligência e os desejos inconscientes. Diz Piaget que "o estudo do
sujeito ‘epistêmico’ se refere à coordenação geral das ações (reunir,
ordenar ,etc.) constitutivas da lógica, e não ao sujeito ‘individual’, que se
refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à
parte" (1970, p. 20). Desse sujeito individual ocupa-se a psicopedagogia.
O conceito de aprendizagem com o qual trabalha a Psicopedagogia
remete a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de
interação com o meio físico e social. Nesse processo interferem o seu
equipamento biológico, as suas condições afetivo-emocionais e as suas
condições intelectuais que são geradas no meio familiar e sociocultural no
qual nasce e vive o sujeito. O produto de tal interação é a aprendizagem.
Conhecer a Psicopedagogia implica um maior conhecimento de várias
outras áreas, de forma a construir novos conhecimentos a partir delas. Ao
concluir o curso de especialização em Psicopedagogia, o aluno está
iniciando a sua formação, o que deve ser um ponto de partida para uma
eterna busca do melhor conhecimento.

REFERÊNCIAS
BARBOSA,Laura Mont Serrat. O projeto de trabalho – uma forma de
atuação psicopedagógica. Curitiba, Paraná: Gráfica Arins, 1999. BOSSA,
Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre, Rio Grande do Sul:
Artes Médicas Sul, 2000. 105 KIGUEL, Sonia Moojen. Reabilitação em
Neurologia e Psiquiatria Infantil – Aspectos Psicopedagógicos. Congresso
Brasileiro de Neurologia e Psiquiatria Infantil – A Criança e o Adolescente
da Década de 80. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Abenepe, vol. 2, 1983.
FAGALI, Eloísa Quadros. VALE, Zélia Del Rio do. Psicopedagogia
Institucional Aplicada. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1993. SCOZ,
Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes, 1994. SCOZ, Beatriz. RUBISTEIN, Edith. ROSSA, Eunice Maria Muniz.
BARONE, Leda Maria Codeço. Psicopedagogia – o caráter interdisciplinar
na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Rio Grande do Sul:
Artes Médicas, 1987. RUBENSTEIN, Edith. Da reeducação para a
pscipedagogia, um caminhar. IN.: RUBENSTEIN, Edith (org).
Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. Casa do Psicólogo, São
Paulo, 1999, p. 37. ALLESANDRINI, Cristina Dias. Oficina Criativa e
Psicopedagogia. Casa do Psicólogo, São Paulo, 1996, p.57. FERNÁNDEZ,
Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991

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