Ordenador de Despesas Gestão e Discricionariedade
Ordenador de Despesas Gestão e Discricionariedade
Ordenador de Despesas Gestão e Discricionariedade
Ordenador de despesas:
gestão, discricionariedade e
responsabilidade pessoal
RESUMO
O ordenador de despesas pratica atos de gestão que exigem particular atenção por
representarem efetiva disposição do patrimônio público. Tais atos de gestão constituem
atos discricionários, de responsabilidade delegável em sua prática, mas indelegável em sua
essência, e que importam na responsabilidade pessoal do ordenador e na inversão do ônus
de prova em favor do Erário, competindo ao ordenador demonstrar a correção de seus atos.
No âmbito de suas atribuições, o ordenador de despesas mantém especial relacionamento
funcional com os ordenadores delegados, os pareceristas jurídicos e técnicos, os membros
das comissões de licitação, os fiscais de contrato e os agentes do controle interno, com os
quais deve manter especial harmonia. Ao dispor do patrimônio público, mediante a realização
de despesa financeira ou de outro ato de disposição patrimonial, como a alienação de um bem
público, o ordenador de despesas deve estar alinhado com as normas legais e regulamentares
da despesa pública, bem como com o interesse da sociedade.
ABSTRACT
The expenses manager performs management acts demanding particular attention as they
represent an effective disposition of public assets. Such management acts are discretionary and
generate a kind of responsibility that can be delegated in the practice, but not in the essence.
Management acts that bring to the manager personal responsibility together with the pro-
Treasury burden of proof inversion, it being up to the manager to demonstrate the correctness of
his acts. Within the scope of his attributions, the expenses manager holds a particular functional
relationship with delegated managers, legal and technical experts, members of the procurement
committees, contract inspectors and internal control agents, with whom it must ensure special
harmony. When disposing of public wealth, upon financial expense or other asset disposal
act, such as the disposal of a public asset, the expenses manager must be aligned with public
expenditure legal and regulatory rules, as well as with the interest of society.
1. INTRODUÇÃO
Ministério Público da União, fiscal da lei; e os órgãos de controle interno dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário Federais.
Constituição Federal
(...)
Decreto-Lei 200/1967
A ordenação de despesas não é mero ato formal, mas ato de efetiva gestão, que vai muito além
da simples concordância com outras instâncias do funcionamento organizacional. Ao lado
do componente formal, o ato de ordenar despesas tem forte componente material, que lhe é
indissociável, já que irregularidades na ordenação de despesas causam dano concreto à gestão
pública. Por isso, a assinatura de documento gerador de despesa somente deve ocorrer após
rigorosa análise de todo o conteúdo envolvido na decisão que se está tomando, bem como dos
efeitos esperados com a realização do gasto público (TCU, 2011b).
3. ATOS DISCRICIONÁRIOS
Os atos típicos da ordenação de despesas são constituídos por três aspectos essenciais:
a onerosidade, a formalidade e a discricionariedade. A onerosidade diz respeito
à disposição patrimonial que resulta desses atos, seja de forma financeira, mediante
dispêndio financeiro propriamente dito, seja de outra forma que em termos financeiros
possa ser medida, como a alienação de um bem, móvel ou imóvel. A formalidade remete
aos requisitos de forma previstos em lei ou outro normativo, sem os quais o ato não se
aperfeiçoa ou é considerado viciado e sujeito a anulação. A discricionariedade diz respeito
ao exercício de poder em sua forma mais evidente, vez que o ordenador de despesas
tem a faculdade de decidir pela realização, ou não, do ato. Em que pese ao eventual
assessoramento recebido, o ordenador de despesas goza de independência em sua
atuação e, portanto, deve ser responsabilizado na medida dessa independência.
Quando da Decisão 667/1995-P (TCU, 1995), o Tribunal deixou claro que a responsabilidade
por irregularidades na aplicação de recursos cabe à pessoa física autorizadora do
gasto. Esse posicionamento foi reforçado por ocasião do Acórdão 484/2007-1C, no qual,
novamente, destacou-se a obrigação de o causador de dano ao Erário ressarcir os cofres
públicos com seu patrimônio (TCU, 2007a). Posteriormente, quando do Acórdão 1194/2009-
1C (TCU, 2009b), confirmando posição que há muito tempo já sustentava, o Tribunal
assentou que ao gestor público, além do dever de ressarcir o Erário de prejuízos, cabe
também o ônus de prova, isto é, demonstrar que agiu correta e legalmente.
5. DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA
constante sobre os atos praticados por seu subordinado. O ordenador de despesas continua
responsável pela gestão de sua unidade, mesmo quando a execução se dá diretamente
por outra autoridade ou servidor, em hierarquia subordinada. Instruções, ordens de serviço
e portarias têm o condão de traduzir a estrutura interna e a distribuição de tarefas entre os
quadros dirigentes, mas não se sobrepõem ao caráter originário da responsabilidade do
ordenador de despesas titular do órgão ou entidade (TCU, 2015c; TCU, 2015e).
Discussão relevante diz respeito aos pareceres que subsidiam a ordenação de despesas,
tanto os pareceres jurídicos, quanto os técnicos. O ordenador de despesas costuma
fundamentar sua tomada de decisão nessas manifestações de assessoramento, o que
as torna relevantes. Contudo, em que pese à sua importância no contexto da tomada de
decisão pelo ordenador, os pareceres, como regra, não têm natureza vinculante, isto é,
não obrigam o ordenador de despesas a atuar de acordo com a orientação neles contida.
muito específica, não sendo razoável exigir seu conhecimento do chamado gestor
médio, em geral, um parecer não serve para afastar a responsabilidade do ordenador
de despesas, ainda que haja servido para fundamentar sua convicção e sua decisão. A
existência de parecer jurídico não afasta a responsabilidade dos gestores (TCU, 2008b).
Assim como ocorre com relação aos pareceristas técnicos jurídicos e técnicos, de
singular importância para o bom trabalho do ordenador de despesas são os profissionais
que integram as comissões de licitação. A principal característica do trabalho dessas
comissões é a independência funcional de seus membros, os quais, para fins de sua
atuação específica, não agem em cumprimento a ordens do titular do órgão ou entidade.
Não deve o ordenador de despesas, portanto, interferir nas decisões das comissões de
licitação. Previstas na Lei 8.666/1993 como responsáveis pelo julgamento objetivo das
propostas das empresas fornecedoras, entre outras responsabilidades, no âmbito da
nova Lei 14.133/2021, passam a ser denominadas comissões de contratação.
Lei 8.666/1993
Lei 14.133/2021
Devendo ser composta por no mínimo três membros, dos quais pelo menos dois servidores
públicos permanentes, a comissão de licitação (contratação) tem sua independência funcional
garantida pela lei e muito reafirmada pela jurisprudência do TCU. No desempenho de suas
atribuições, os membros da comissão, como dito, não cumprem ordens de quem quer que
seja, sendo os únicos responsáveis pelo julgamento das propostas, pelo cadastramento dos
licitantes e pela análise de todos os documentos e informações da licitação. Suas ações são
sujeitas ao crivo dos órgãos de controle, e subsiste sua responsabilidade pessoal por ressarcir
eventuais danos aos cofres públicos.
Lei 8.666/1993
Lei 14.133/2021
atos de ordenação de despesas. É o caso, por exemplo, em que o fiscal atesta serviços não
fazendo acompanhar a atestação dos necessários documentos comprobatórios.
9. CONTROLE INTERNO
No Brasil, nos termos constitucionais e legais, o controle externo da União é exercido pelo
Congresso Nacional com o auxílio do TCU. A mesma lógica estruturante é replicada nos
estados, nos municípios e no Distrito Federal. Nos estados, o controle externo é exercido pelas
assembleias legislativas com o auxílio dos tribunais de contas estaduais. Já o controle externo
nos municípios é exercido pelas câmaras municipais de vereadores com o auxílio também dos
tribunais de contas estaduais, exceto nos dois maiores municípios do Brasil, São Paulo e Rio
de Janeiro, os quais contam com tribunais de contas municipais. Em alguns estados, existem
os chamados tribunais de contas dos municípios, mas estes não são órgãos municipais, e sim
desdobramentos da competência estadual. Finalmente, no Distrito Federal, o controle externo é
exercido pela Câmara Legislativa com o auxílio do Tribunal de Contas do Distrito Federal.
O controle interno, por seu lado, é exercido a partir de oficinas orgânicas da própria
administração. No Brasil, a Controladoria-Geral da União (CGU) atua como órgão central do
sistema de controle interno federal, mas cada órgão ou entidade dispõe da sua estrutura
de controle. Em casos específicos, como os do Ministério das Relações Exteriores, do
Ministério da Defesa e dos comandos das Forças Armadas, as estruturas de controle
interno são separadas da competência geral da CGU. De acordo com o American Institute
of Certified Public Accountants (AICPA), os controles internos da organização devem
atender aos seguintes requisitos:
O ordenador de despesas deve estar sempre pronto para demonstrar o bom e regular
uso dos recursos públicos sob sua gestão. Na Administração Pública, vigora o princípio
da supremacia do interesse público sobre o privado, e não o princípio do in dubio pro
reo. Ao gestor público compete o ônus de demonstrar a regularidade dos atos de gestão
praticados, e essa exigência vale especialmente para o ordenador de despesas, habilitado
a dispor do patrimônio público que lhe é confiado e pelo qual responde. Pode-se chegar,
até mesmo, em certos casos, à presunção de dano ao erário.
Considerações finais
O ordenador de despesas é agente público investido de particular poder, haja vista sua
competência para realizar gastos à conta da Administração Pública e, em última análise, do
cidadão, contribuinte. A esse poder, como convém aos regimes democráticos, corresponde
responsabilidade igualmente singular. As atribuições dos ordenadores de despesa, os
chamados atos administrativos onerosos, caracterizam-se pela disposição do patrimônio
público e pela indissociabilidade entre as noções de autoridade e responsabilidade. A gestão
dos recursos públicos é confiada, primariamente, ao ordenador de despesas, e é por esse
prisma que se dá toda a avaliação de sua conduta.
A atuação do ordenador de despesas faz com que a Administração realize gastos custeados
com recursos públicos. Trata-se de atuação de extrema relevância para a entrega de bens e
serviços públicos à sociedade e que importa no dever de prestar contas dos atos praticados.
Tratando-se de recursos federais, essa prestação de contas é devida ao TCU, bem como
ao Congresso Nacional e aos outros órgãos integrantes do sistema federal de controle da
Administração Pública. Nos casos de recursos estaduais, municipais ou do Distrito Federal, as
prestações de contas são devidas aos respectivos órgãos competentes: tribunais de contas
estaduais ou municipais, Tribunal de Contas do Distrito Federal, assembleias legislativas,
câmaras de vereadores e Câmara Legislativa do Distrito Federal.
viciado e sujeito a anulação. A discricionariedade trata do exercício de poder em sua forma mais
evidente, já que o ordenador de despesas pode praticar o ato, ou não.
A relação do ordenador de despesas com os pareceristas jurídicos e técnicos deve ser pautada
pela harmonia e pela parceria. O mesmo ocorre relativamente a outros agentes públicos
cuja atuação se mostra particularmente relevante para o bom desempenho do ordenador
de despesas em suas atribuições, como é o caso dos membros das comissões de licitação,
dos fiscais de contrato e dos integrantes do controle interno. Todos esses agentes, ainda
que hierarquicamente subordinados ao ordenador de despesas, atuam com independência
funcional, o que deve ser compreendido e implementado pelo ordenador de despesas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
__________. Lei 8.443, de 16 de julho de 1992. Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União.
Brasília: Governo Federal, 1992. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8443.
htm>. Acesso em 11/06/2021.