Mecanismos de Controle
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Índice
11.1) Controle e Fiscalização Interna e Externa da Atividade Financeira do Estado 3
Após verificarmos os vários elementos que compõem o nosso direito financeiro, como as leis
orçamentárias, receitas e despesas, bem como o nosso crédito e dívidas públicas, estudaremos
a partir de agora como se verifica o controle dessa atividade. Isso implica abordar as
modalidades de controle possível e, principalmente, o papel do Tribunal de Contas como
fiscalizador dos gastos públicos.
A fiscalização de todo o ciclo orçamentário ocorre pelas discussões que envolvem a previsão
da receita, a consolidação das despesas, os projetos de leis orçamentárias, sua execução,
necessidades de empréstimos, bem como se a aplicação de recursos se deu como o previsto
em lei.
Temos, na Seção IX da nossa Constituição Federal, sobre a fiscalização das Contas Públicas:
SEÇÃO IX
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou entidade pública que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a
União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.
O art. 71 começa a abordar o controle externo, a cargo do Congresso Nacional e com o auxílio
do Tribunal de Contas da União, com a seguinte competência (Grifos nossos):
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas
e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda,
extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer
título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a
das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias
posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão
técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União
participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas,
ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
(...)
De acordo com o art. 74 da Constituição Federal, é dever integrado dos Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário manter um controle de interno com as seguintes finalidades:
Vejamos:
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema
de controle interno com a finalidade de:
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas
de governo e dos orçamentos da União;
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e
haveres da União;
O § 2ºdo art. 74 consagra uma importante missão quanto ao controle social das finanças
públicas. Ele demonstra que todos somos parte legítima para, na forma da lei, denunciar
irregularidades ou ilegalidades para o Tribunal de Contas da União, como parte de um
poder fiscalizatório em comum:
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma
da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem
como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
Veja que já há, inclusive, um delineamento dos tribunais de contas e da fiscalização, também,
por parte dos Estados.
“O controle do orçamento não pode ficar adstrito apenas à legalidade, uma vez que não
tem como a lei prever todos os acontecimentos que envolvem a aplicação dos recursos,
podendo-se até mesmo dizer que a maioria dos desmandos envolvendo os gastos públicos se
dá com observância da imprevisão do gasto em lei.
A fiscalização, ao mesmo tempo que verifica a legalidade e regularidade dos gastos públicos,
tem consigo uma possibilidade de repressão. A observância à lei quanto aos gastos públicos e a
necessidade de prestações de contas está prevista constitucionalmente nos arts. 34 e 35:
CAPÍTULO VI
DA INTERVENÇÃO
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo
de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos
prazos estabelecidos em lei;
c) autonomia municipal;
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios
localizados em Território Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
“(...) [C]ontrolar a execução orçamentária significa acompanhar e obter condições para, se for
o caso, otimizar os meios de arrecadação da receita pública, de um lado, e adotar medidas de
contenção dos gastos, de outro lado, ainda no decorrer do exercício. Trata-se de verificar a
compatibilidade entre o planejado e o que está sendo executado. Daí por que as metas
anuais de receitas são desdobradas em metas bimestrais de arrecadação, como determina o
art. 13 da LRF, exatamente para possibilitar a elaboração da programação financeira com o
respectivo cronograma de execução mensal de desembolso.
A fiscalização é feita sob vários ângulos. O controle externo cabe sempre ao Poder
Legislativo (Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais) com o auxílio
dos respectivos Tribunais de Contas. Nos Municípios onde não houver Tribunal de Contas
prestarão auxílio os Tribunais de Contas dos Estados ou os Conselhos ou Tribunais de Contas
dos Municípios (art. 31, § 1 o , da CF).”
Conforme vimos, a fiscalização do Estado e de sua atividade financeira vai além da observância
da legalidade. O princípio 70 da Constituição, inclusive, adiciona outros princípios e aspectos
levados em consideração para a fiscalização:
A Legalidade
De acordo com Kiyoshi Harada, sob a legalidade impõe-se a verificação dos requisitos
necessários à realização da despesa, isto é, ao gastar o dinheiro público o administrador
deve observar rigorosamente as autorizações e as limitações da lei orçamentária sob
execução.
Isso significa que o pagamento deve ser feito sempre com a devida previsão orçamentária e
não pode ir além dos créditos orçamentários ou adicionais (art. 167, II, da CF), sob pena de
caracterização do crime de responsabilidade (art. 85, VI, da CF). A realização de despesa
A Legitimidade
Para Harada:
Sob o enfoque da legitimidade, a fiscalização examina o mérito do ato praticado pelo agente
público para detectar possível desvio de finalidade. Filosoficamente, a legitimidade precede a
legalidade. O ato só será legítimo à medida que não contrariar a natureza do homem. Nem
tudo que é legal é legítimo. Dessa forma, despesas excessivas com representação ou com
cerimônias oficiais festivas, apesar de regulares do ponto de vista legal, porque financiadas
com dotações orçamentárias próprias, podem ser questionadas sob o prisma da legitimidade se
estiverem em descompasso com os valores fundamentais da sociedade.
A Economicidade
A Aplicação de Subvenções
A Renúncia de Receitas
I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da
Constituição, na forma do seu § 1º;
Controle Interno
O controle interno está previsto na parte final do art. 70 da Constituição Federal, prevendo uma
fiscalização “pelo sistema de controle interno de cada Poder”.
A Carta Magna fixa, desde logo, para os três Poderes parâmetros para a efetivação desse
controle. Dispõe em seu art. 74:
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema
de controle interno com a finalidade de:
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos
e haveres da União;
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma
da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.
É, basicamente, uma fiscalização prévia feita pelo próprio poder legislativo, executivo ou
judiciário em relação aos seus próprios agentes, órgãos e instituições.
Segundo Harada, o controle interno, apesar de contar com recursos materiais e pessoais
próprios, atua de forma integrada e interdependente com o controle externo (inciso IV, do
art. 74). Em nível infraconstitucional, o controle da execução orçamentária é disciplinado pela
Lei no 4.320/64, recepcionada pela ordem constitucional vigente.
A Lei 4.320/64 estabelece, em seu art. 75 três tipos de controle da execução orçamentária:
Além da tomada de contas anual, poderá haver, a qualquer tempo, levantamento, prestação ou
tomada de contas de todos os responsáveis por bens ou valores públicos (art. 78). O controle
do cumprimento do programa de trabalho cabe ao órgão incumbido da elaboração da proposta
orçamentária ou a outro indicado na legislação (art. 79).
É importante destacar que o controle interno se baseia, também, no critério hierárquico, uma
vez que apura irregularidades ou ilegalidades ocorridas dentro da esfera de cada poder.
Controle Externo
O Controle externo é exercido exclusivamente pelo Poder Legislativo de cada ente, com o
auxílio dos tribunais de contas, de acordo com os arts. 70 a 73 da Constituição Federal.
Veremos, adiante, uma sessão exclusiva sobre o funcionamento dos tribunais de contas.
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União
Controle Privado
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema
de controle interno com a finalidade de:
Conceito e Função
Os tribunais de Contas são órgãos auxiliares do Poder Legislativo. São colegiados, encarregados
de fiscalização e controle do orçamento. Têm função de auxiliar o Legislativo, mas não estão a
ele subordinados.
São parte do sistema de controle externo do orçamento o Tribunal de Contas da União (TCU),
os Tribunais de Contas dos Estados e os Tribunais de Contas dos Municípios ou Conselho
de Contas. A estrutura e o funcionamento desses órgãos são similares e decorrem das normas
constitucionais que tratam da matéria.
Nos demais Estados, em regra, os seus respectivos TCEs atuam tanto na fiscalização da
administração estadual como das administrações municipais. Já os Estados da Bahia, Goiás e
Pará possuem dois tribunais estaduais de contas: um Tribunal de Contas Municipais para
fiscalizar todos os seus municípios, e um outro Tribunal de Contas do Estado, apenas para
fiscalizar as contas do Estado-membro.
Introdução
De acordo com Kiyoshi Harada, o Tribunal de Contas da União tem sua origem no Decreto no
966-A, de 7-9-1890.:
Todo Estado de Direito pressupõe a submissão do próprio Estado às leis que ele edita. Daí a
necessidade de um órgão controlador da atividade estatal a fim de evitar que se cometam
ilegalidades. Assim, a função originária do Tribunal de Contas da União era a de controlar a
legalidade dos atos concernentes à execução orçamentária. Hoje, como sabemos, sua missão
não se exaure no exame da legalidade. O exercício de uma das atribuições do Tribunal de
Contas, consistente em “julgar as contas”, não lhe confere o exercício da atividade
jurisdicional, privativo do Poder Judiciário.
O Tribunal não julga as pessoas, limitando-se a julgar contas, isto é, restringe se a proferir
uma decisão técnica, considerando-as regulares ou irregulares. Sua decisão não opera
coisa julgada, pelo que tem natureza meramente administrativa.
Tanto é assim que as contas julgadas pelo Tribunal de Contas podem ser reapreciadas pelo
Poder Judiciário, como se depreende do art. 5o, incisos XXXV e XXXVII da CF, que introduz o
princípio da inafastabilidade da jurisdição e repele o “juízo ou tribunal de exceção”,
respectivamente. O fato de a Súmula no 347 do STF (sobre a qual existe, ainda, divergência
se foi superada) prescrever que “o Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade das leis e atos do Poder Público” em nada socorre o
posicionamento de autores que sustentam a natureza jurisdicional das decisões proferidas pelas
Cortes de Contas.
Atenção !
Composição
Tribunal de Contas da União, que tem sua sede no Distrito Federal, com jurisdição em todo o
território nacional, é composto de nove Ministros e tem quadro de pessoal próprio (art. 73 da
12. Mecanismos de Controle 16/29
12. Mecanismos de Controle
CF).
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito
Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no
que couber, as atribuições previstas no art. 96.
I - mais de trinta e cinco e menos de setenta anos de idade; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 122, de 2022)
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija
os conhecimentos mencionados no inciso anterior.
I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois
alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados
em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antigüidade e merecimento;
Desde o advento da Constituição de 1988 não mais existe a livre indicação de pessoas pelo
Presidente da República. Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas
garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do
Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as
normas constantes do art. 40. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998) (§ 3o). Verifique o quadro comparativo entre as organizações dos Tribunais de Contas e
dos demais Tribunais de Contas:
Funções
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e
mantidas pelo poder público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e
mantidas pelo poder público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões,
ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de comissão
técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas
Casas, ou por qualquer das respectivas comissões, sobre a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e
inspeções realizadas;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional,
que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
Pode-se, de acordo com Marcus Abraham, dizer que o Tribunal de Contas da União detém as
seguintes funções:
c) função julgadora, ao proceder aos julgamentos sobre as contas dos responsáveis por
bens e valores públicos, por prejuízos ao Erário e por infrações decorrentes da não publicação
do Relatório de Gestão Fiscal, da elaboração de anteprojeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias
sem metas fiscais, da inobservância de limitação de empenho ou da falta de medidas para
redução das despesas de pessoal (CF: art. 71, II, III);
i) função normativa, de expedir atos e instruções normativas (Lei Orgânica do TCU: art.
3º).
A abrangência do controle dos Tribunais de Contas vem prevista no parágrafo único do art.
70 da Constituição, o qual estabelece que qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores
públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de
natureza pecuniária, tem o dever de prestar contas ao TCU.
Isso significa que são submetidas à fiscalização e controle dos Tribunais de Contas todas as
entidades da Administração Direta ou Indireta, fundos constitucionais de investimento ou de
gestão, Entidades Fechadas de Previdência Privada – EFPP, Organizações sociais de interesse
público (OSCIP), Conselhos de regulamentação profissional (CREA, CRM, CRO etc.), Serviços
sociais autônomos (Sebrae, Sesi, Sesc, Senai, Senat etc.), beneficiários de bolsas de estudo e
projetos de pesquisa e beneficiários de renúncias de receitas ou de incentivos fiscais.
Por algum tempo, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o TCU não teria competência
para fiscalizar as contas de empresas públicas e as sociedades de economia mista nem
para julgar as contas dos seus administradores (vide MS 23.875 e 23.627). Em 2005, no
entanto, revendo o seu entendimento anterior, a Suprema Corte indeferiu os Mandados de
Segurança 25.092 (impetrado pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF) e
25.181 (impetrado pelo Banco do Nordeste – BNB), declarando expressamente que os
precedentes dos MS 23.875 e 23.627 deviam ser revistos e reconhecendo a competência do
TCU para a fiscalização das estatais e para o julgamento das contas de seus
administradores, inclusive por meio de tomada de contas especiais. No julgamento conjunto
dos citados mandados de segurança, o relator, Ministro Carlos Velloso, afirmou que “lesão ao
patrimônio de uma sociedade de economia mista atinge, sem dúvida, o capital público e,
portanto, o erário, além de atingir também o capital privado”.
Quanto aos Conselhos de fiscalização e regulamentação profissional (CREA, CRM, CRO etc.), o
entendimento do STF é no sentido de que estes devem se submeter à fiscalização do TCU,
uma vez que constituem autarquias federais, cujas cobranças de contribuição possuem
natureza tributária, na forma do art. 149 da CF (MS 21.797-RJ).
Como de costume, aqui a Ordem dos Advogados do Brasil está em situação sui generis
e não se submete ao regime de fiscalização e controle do TCU. Vejamos o esquema
abaixo:
O Tribunal de Contas da União, diz o art. 73 da Constituição, é integrado por nove Ministros,
tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território
nacional. Ele é vinculado, para efeitos orçamentários e de responsabilidade, ao Poder
Legislativo, possuindo, entretanto, total independência em relação ao Congresso e às suas
Casas. A dúvida surge a respeito de ser efetivamente ou não o Tribunal de Contas um órgão
integrante do Poder Legislativo.
Parte da doutrina entende que se trata de órgão integrante daquele Poder legiferante, embora
dotado de autonomia administrativa, sem, todavia, haver uma subordinação política.
“Entende-se que os Tribunais de Contas não possuem uma função jurisdicional propriamente
dita, uma vez que suas decisões produzem apenas a coisa julgada administrativa, que pode ser
revista pelo Poder Judiciário, o qual detém o monopólio jurisdicional no ordenamento jurídico
brasileiro. A posição majoritária da doutrina e jurisprudência é a de que os julgamentos
proferidos pelos Tribunais de Contas têm caráter administrativo e não jurisdicional.”
A esse respeito, José Afonso da Silva explica não se tratar propriamente de função
jurisdicional, pois os Tribunais de Contas não julgam pessoas, nem dirimem conflitos de
interesses, mas somente emanam um julgamento técnico de contas públicas.
No mesmo sentido, afirma o Ministro Carlos Ayres Britto que os Tribunais de Contas não
exercem a chamada função jurisdicional do Estado.
A função jurisdicional do Estado é exclusiva do Poder Judiciário e é por isso que as Cortes de
Contas:
a) não fazem parte da relação dos órgãos componentes desse Poder (o Judiciário), como se
vê da simples leitura do art. 92 da Lex Legum;
b) também não se integram no rol das instituições que foram categorizadas como
instituições essenciais a tal função (a jurisdicional, a partir do art. 127 do mesmo Código
Político de 1988).
Para Marcus Abraham, no entanto e mais do que em qualquer outro caso, seria possível aludir,
a propósito do Tribunal de Contas, a uma atuação quase jurisdicional.
“Se tal expressão puder merecer algum significado próprio, isso reside na forma processual
dos atos e na estrutura autônoma e independente para produzir a instrução e o julgamento. A
fórmula quase jurisdicional é interessante não para induzir o leitor a imaginar que a atuação do
Tribunal de Contas é idêntica à do Judiciário, mas para destacar como se diferencia do
restante das atividades administrativas e legislativas.”
Este entendimento, aliás, também aparece no teor da Súmula no 6 do STF, que ressalva a
competência revisora do Poder Judiciário sobre as decisões dos Tribunais de Contas.
Por outro lado, a Súmula nº 347 do STF afirma que “O Tribunal de Contas, no exercício de suas
atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.
Atenção! Segundo o Prof. Márcio André, existe divergência se essa súmula está superada. :
Súmula 347-STF: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a
constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.
A Min. Rosa Weber afirmou que o Tribunal de Constas pode “pelo voto da maioria absoluta
de seus membros, afaste a aplicação concreta de dispositivo legal reputado
inconstitucional, quando em jogo matéria pacificada nesta Suprema Corte”.
Entretanto, cabe ressaltar que compete ao Poder Judiciário apenas verificar os aspectos
formais do julgamento, vale dizer, se foi observado o devido processo legal e se não houve
nenhuma violação de direito individual, vez que o Judiciário não pode adentrar o mérito e
revisar as decisões dos Tribunais de Contas, por exemplo, declarando regulares as contas que
haviam sido julgadas irregulares, ou vice-versa.
Exercido seu papel, o TCU poderá confirmar a regularidade dos atos e procedimentos
praticados por seus fiscalizados, ou poderá rejeitá-los, emitindo recomendações ou
Atenção !
Além disso, poderá também, dentro do seu papel sancionador, aplicar penalidades aos
infratores (Lei Orgânica do TCU, arts. 57 e 58). Assim, quando o responsável for julgado em
débito, poderá ainda o Tribunal aplicar-lhe multa de até cem por cento do valor atualizado do
dano causado ao Erário.
Ato praticado com grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;
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Questão 2022 |
4000808293
I - A inscrição de multas impostas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na dívida ativa
da União é opcional.
II — Inscrita em dívida ativa, a multa pode ser cobrada judicialmente pelo Ministério
Público, seja o que atua junto ao Tribunal de Contas ou não.
III - Quando o TCU aplica multa a gestor estadual ou municipal, o beneficiário é a União
Federal, e não o Estado ou o Município.
Solução
Quanto à assertiva I, ela está correta, já que os termos do artigo 23, III, “b” da Lei n°
8.443/92, o acórdão do Tribunal de Contas da União constitui título executivo
bastante para cobrança judicial da dívida decorrente do débito ou da multa, se não
recolhida no prazo pelo responsável. Desse modo, não há necessidade de inscrição
por Termo de Dívida Ativa para obter-se a respectiva Certidão prevista na Lei de
Execução Fiscal, ensejando ação de cobrança por quantia certa.
Art. 3ºAs multas impostas pelo Tribunal de Contas da União, nos casos previstos no
artigo 53 do Decreto-lei nº 199, de 25 de fevereiro de 1967, após fixadas em decisão
definitiva, serão, também, objeto de cobrança executiva, na forma estabelecida no artigo
1º.
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Questão
2015 |
4000119848
No que se refere à apreciação das contas do presidente da República pelo TCU, assinale
a opção correta.
O relator, além dos elementos contidos nas contas prestadas, poderá solicitar
E) esclarecimentos adicionais por intermédio de unidade própria; contudo, não pode
impetrar rito fiscalizatório que entenda necessário à elaboração do seu relatório.
Solução
Art. 228, § 2º: O relatório, que acompanhará o parecer prévio, conterá informações sobre:
III - o cumprimento dos limites e parâmetros estabelecidos pela LRF.
Art. 221, Parágrafo único. As contas prestadas pelo Presidente da República consistirão
nos balanços gerais da União e no relatório do órgão central do sistema de controle
interno do Poder Executivo sobre a execução dos orçamentos de que trata o § 5º do art.
165 da Constituição Federal.
Art. 224. O relator, além dos elementos contidos nas contas prestadas, poderá solicitar
esclarecimentos adicionais e efetuar, por intermédio de unidade própria, fiscalizações
que entenda necessárias à elaboração do seu relatório.
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Questão 2022 |
4000808294
O Tribunal de Contas da União, integrado por onze Ministros, tem sede no Distrito
C)
Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional.
Solução
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio
do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no
Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional,
exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.
1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art1
2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art5
3 https://cj.estrategia.com/cadernos-e-simulados/cadernos/b25bc759-8dcb-4da9-9eaf-
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