Autoestima Na Perspectiva Da Gestalt-Terapia
Autoestima Na Perspectiva Da Gestalt-Terapia
Autoestima Na Perspectiva Da Gestalt-Terapia
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo estabelecer uma melhor compreensão da construção da autoestima no
enfoque da Gestalt-Terapia. Para isso, inicialmente desenvolveu-se uma revisão de literatura sobre o conceito de
autoestima, sua formação e problemas relacionados à sua deficiência. No estudo sobre esse tema, foram descritas
as formas pelas quais a personalidade do indivíduo é formada, diferenciando-se entre características inatas e
adquiridas, seu modo de enxergar-se, de relacionar-se e de estabelecer contato consigo mesmo e com os demais.
Visando um melhor esclarecimento sobre como a autoestima é compreendida na abordagem gestáltica,
discorreu-se sobre o impacto que as experiências vivenciadas na infância e num passado não tão distante têm
sobre a visão que o indivíduo constrói a seu respeito. Neste estudo, foram abordados conceitos como: self e suas
funções, situações de impasse existencial, dissociação do “eu” em dominador e dominado e mecanismos de
defesa desenvolvidos como forma de autorregulação. Descreveu-se também, um caso clínico como forma de
exemplificar e analisar de forma prática os conceitos abordados no presente estudo. Como conclusão, constatou-
se a influência de mensagens bionegativas internalizadas na criação do conflito interno dominador/dominado,
responsável pela baixa autoestima, bem como a importância de conhecer seus próprios sentimentos, limites e
potencialidades para ser capaz de se diferenciar do outro, aceitando-se integralmente, e desse modo, desenvolver
uma suficiente autoestima para estabelecer relações saudáveis com os demais e consigo mesmo.
INTRODUÇÃO
O conceito ou imagem que todo ser humano tem sobre si mesmo é criado ao longo de
sua história, por uma série de acontecimentos e situações vividas na relação com os demais,
principalmente durante a infância. Tais vivências definem a forma como ele se vê,
consigo mesmo.
Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo compreender a autoestima sob a
1. Graduada pelo Centro Universitário de Brasília – UniCEUB; Pós-Graduanda em Psicologia Clínica na Perspectiva da Gestalt-Terapia.
2. Gestalt Terapeuta; Mestre e Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Brasília-UNB; ex-professora
da Universidade de Fortaleza-UNIFOR; professora do Centro Universitário de Brasília-UNICEUB;
membro efetivo da diretoria e do corpo docente do Instituto de Gestalt-Terapia de Brasília-IGTB.
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indivíduo se enxerga. Considerando a importância das experiências vivenciadas por ele e das
mesmo que direcionará seus pensamentos, sentimentos e atitudes. Sendo assim, este estudo
pode contribuir para uma melhor compreensão sobre as dificuldades vivenciadas pelas
alguns autores não gestaltistas; no segundo, é feita uma exposição sobre a construção da
autoestima com base nos conceitos da Gestalt-Terapia; no terceiro, é descrito um caso clínico,
abordagem gestáltica.
O termo autoestima é bastante usado quando se quer fazer referência ao modo como o
indivíduo se percebe e ao valor que ele agrega a si mesmo. Rocha (1996) conceitua
autoestima como estima de si mesmo; amor-próprio. Sheehan (2005) corrobora com esta ideia
ao afirmar que a autoestima pode ser analisada por meio da escala de valores que nos
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atribuímos.
Cada autor define autoestima de forma diferenciada em algum aspecto. Para Branden
(1998), autoestima é um fenômeno psicológico que tem dois aspectos: a sensação de eficácia
percepção que se tem de si mesmo; e o segundo é a percepção que se tem do próprio valor.
Segundo o autor, o autoconceito procede de processos cognitivos e está sujeito a uma série de
fatores externos e internos à própria pessoa. São aquelas informações que vamos colhendo no
decorrer de nossas experiências, comentários a nosso respeito e opiniões alheias que vão se
somando àquelas originárias das avaliações que fazemos em relação aos nossos desempenhos,
ações, habilidades e características pessoais. Neste sentido, Moysés (2001) define autoestima
como o sentimento de valor que acompanha esta percepção que temos de nós próprios. Ou
seja, é a disposição que temos para nos enxergar como pessoas merecedoras de respeito,
pessoa sente quando se confronta com o seu autoconceito. Como esse é multifacetado, certos
ângulos do autoconceito podem ser muito bem elevados e a autoestima pode ser calcada nele,
(1998), é a imagem que temos de nós mesmos, com a qual nos inteiramos ao meio ambiente
em que vivemos e nos comunicamos uns com os outros. Para ele, “esta autoimagem é
formada de impressões contidas em nosso ser, ao redor dos quais orbita nosso centro
magnético” (p 41).
principalmente das nossas experiências sociais. A autora afirma que passamos a nos enxergar
como os outros nos enxergam. Ela comenta que segundo o sociólogo Cooley, a visão que
temos de nós mesmos é como um espelho que reflete a avaliação imaginária dos outros a
nosso respeito. Sendo assim, a autoconsciência que incorpora a noção de autoestima parece
Com base no que foi exposto pelos autores citados acima, o conceito de autoestima
adotado neste trabalho refere-se à forma como o indivíduo se enxerga e lhe atribui valor,
resultado do conceito que tem de si mesmo e das experiências vividas com os demais, ou seja,
da forma como foi tratado e o significado dado por ele a tal tratamento.
De acordo com os autores estudados, vários fatores influenciam para que uma
autoestima seja alta ou baixa. Um dos principais fatores que interfere na autoestima é o
potenciais, competências, qualidades e defeitos para que não fique tão vulnerável da opinião
alheia. Uma vez que o indivíduo não possui o conhecimento de si mesmo, não é capaz de
Teixeira (1998) argumenta que a maioria de nós não se conhece inteiramente. Para o
autor, não sabemos até que ponto não nos conhecemos. Ele acrescenta que o relacionamento
Para melhor compreender este conceito, torna-se necessário, portanto, entender como
a autoestima se desenvolve. Inicia-se nos primeiros anos de vida, quando a criança começa a
ter contato com outros, sejam eles adultos ou crianças e que fazem parte de sua família.
Moysés (2001) explica que, como a criança ainda não se reconhece como indivíduo, o
conceito que tem de si mesma é baseado no que dizem a seu respeito, no modo como a tratam,
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enfim, no modo como se dirigem e se referem a ela. Sendo assim, a pessoa mais importante
neste contexto é a mãe (ou a pessoa que exerce esta função), uma vez que é a partir dela que a
criança se percebe e reconhece o mundo. A forma como essa importante figura lida com ela
descartável.
Para a mesma autora, esse processo de internalização é feito com base em um sistema
criança com as pessoas à sua volta vão sendo estabelecidas, inicialmente, por meio da
linguagem não verbal e, depois, pela linguagem propriamente dita. Quando a comunicação se
alegria ou de aborrecimento que ela provoca nos outros; o grau de solicitude com que seus
desejos e necessidades são satisfeitos e até mesmo o jeito como ela é colocada no colo.
Quando a comunicação é verbal, tudo o que é dito sobre ela interfere na formação de sua
autoestima.
Sendo assim, é lenta e gradual a internalização que a criança faz sobre as referências a
seu respeito. A mesma autora explica que as mais fáceis de serem incorporadas são as que se
e a própria entonação com que ele faz seus comentários, a criança vai internalizando-os, até
chegar a adotá-los como seus (Moysés, 2001). Sheehan (2005) concorda com esta ideia e diz
que as mensagens que a criança recebe, no decorrer dos anos, das pessoas significativas para
ela são de extrema importância para sua autoestima, uma vez que elas tendem a aceitar essas
Os fatos corriqueiros da vida, por exemplo, também têm seu papel na forma como o
sujeito se valoriza, uma vez que nem aqueles com a mais elevada autoestima estão livres de se
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questionarem, algumas vezes, sobre seu valor. Ainda segundo a mesma autora, ser humilhado
pelos demais, ser recusado numa oportunidade de emprego, não obter sucesso em algum
projeto, realizar lentamente algo que os demais fariam com rapidez, pode influenciar
que deixam marcas na autoestima. No entanto, a maneira como a pessoa se percebe não
necessariamente corresponde à imagem que ela apresenta para os outros, nem coincide com
aquilo que ela realmente é. É apenas uma avaliação que ela tem de si mesma - que tanto pode
Considerando que a criança aprende com o adulto como deve relacionar-se com o outro e
consigo mesma, ela irá valorizar-se ou não, de acordo com a forma como interpretou e
anos de vida.
Sheehan (2005), por sua vez, afirma que se a pessoa cresceu em um ambiente em que
foi muito criticada, é comum que ela adote a mesma atitude com os demais ou consigo mesma.
provavelmente, na idade adulta irá sentir-se uma pessoa sem valor, inadequada e inferior aos
outros, devido à forma como foi tratada, desenvolvendo, assim, uma autoestima baixa. Em
contrapartida, se tiver sido apoiada, acolhida e incentivada pelas pessoas ao seu redor,
suas ações pode, pelo mesmo processo, reagir negativamente, como forma de defesa ou
retaliação, não só aos pais, como também a si mesma.” (p. 26). Steinem (1992) esclarece que
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as crianças que são maltratadas o bastante, por um tempo suficientemente longo, passam a
Com o passar dos anos, aquilo que achamos que somos, tanto do ponto de vista físico
quanto social e psicológico, vai ganhando corpo (Moysés, 2001). Para Vygotsky (citado pela
isto é, com suas próprias leis. “Como cada criança traz as marcas da sua individualidade, a
internalização se fará de acordo com tais marcas. O resultado final será a mescla do social –
representado por pessoas e circunstâncias que a cercam – com o individual” (p. 20).
Moysés (2001) comenta o pensamento de Bettelheim (1988), no qual este entende que
o fato de a criança saber que o que ela faz dá prazer a seus pais, faz com que ela se sinta
importante, por se autorreconhecer como fonte de prazer. Essa aprovação funciona como
criança capta os sentimentos dos pais, que no princípio eram externos a ela, e depois são
diretamente na sua autoestima. Para Sheehan (2005), a aparência física exerce tamanha
Sendo assim, as crianças que correspondem ao padrão de beleza imposto pela cultura recebem
elogios e são bem tratadas. Por este motivo, ao chegar na idade adulta, o indivíduo tende a
buscar essa imagem construída e elogiada na infância para se sentir valorizado. Desse modo, a
mesma autora enfatiza que não importa como nos parecemos na realidade, mas como
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A forma como o indivíduo se enxerga, o valor que ele atribui a si mesmo está
diretamente relacionado com os desafios que ele é capaz de superar, ou seja, determina sua
competência para solucionar problemas do dia a dia. Segundo Brandem (1998), a pessoa age
conforme o que acredita ser. Ou seja, as ações tendem a produzir resultados que confirmem o
conceito que se tem de si mesmo. Para esse autor, se, inconscientemente, temos um conceito
negativo de nós mesmos ou acreditamos em algo que nos sabote, somos controlados por essas
crenças sabotadoras, podendo nos libertar quando nos tornamos conscientes delas. Se este
resultado é um desastre.
Teixeira (1998) argumenta que a maioria de nós não se conhece inteiramente. Para o
autor, não sabemos até que ponto não nos conhecemos. Ele acrescenta que o relacionamento
Logo, observa-se que a pessoa com sentimento de menos valia tende a apresentar
indivíduo com baixa autoestima não se aceita, sente-se inadequado, inferior aos outros e tende
observou que, quanto mais um indivíduo aceita a si mesmo, mais ele está predisposto a aceitar
que realiza. Por esta razão, ele está insatisfeito na maioria das vezes, mesmo quando alcança
seus objetivos, uma vez que, apesar das conquistas, o vazio interior não é preenchido, explica
Sheehan (2005). A autora argumenta que esse perfeccionismo pode infiltrar-se em todas as
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áreas de sua vida, fazendo-o procurar sempre o “par perfeito”, criticar demais o parceiro,
considerando que ele não é “suficientemente bom”, enfim, tendo sempre a sensação de
Nem sempre a realidade em que vivemos é agradável para nós, por isso, todos
possuímos estratégias para nos adaptarmos a ela. Muitas vezes, é necessário até distorcer a
mecanismos de defesa, para evitar a angústia. Esses mecanismos serão melhor analisados
adiante, no entanto, por hora vale ressaltar o que Sheehan (2005) diz, ao explicar que
psicológicas para se preservar. É verdade que todos usamos essas defesas, entretanto, elas só
como forma de evitar lidar com situações, sentimentos, problemas ou enfrentar novos dados a
nosso respeito.
deficiência de autoestima tendem a não se conhecerem, pois são inseguros com relação à sua
natureza e valor, por isso evitam aprender mais sobre si mesmas. Sheehan (2005) explica,
verdade. Se, por exemplo, você só foi elogiado quando foi "bonzinho", pode assumir um falso
"eu bonzinho". Desse modo, esconde-se atrás dessa fachada defensiva, tornando-se amigável
e sempre dizendo as coisas "certas" e se comportando da maneira "correta". Age assim não em
benefício dos demais, mas para que os outros pensem bem de você e lhe deem toda a atenção
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de que necessita. Esta atitude nada mais é do que mais uma das formas de se adaptar à
realidade. (idem)
Neste sentido, esse “falso eu” que se assume, impede que se seja espontâneo, criativo
e sereno, pois deve-se estar sempre preocupado em manter a fachada. Desta forma, acaba-se
"bonzinhos" não significa que estamos escondendo quem, na verdade, somos, e não significa
que somos impedidos de saber quando, de fato, somos amados, pois estamos sempre deixando
Outro problema referente à baixa autoestima é a dificuldade que esses indivíduos têm
de tomar uma decisão. Para eles, é angustiante o medo de tomarem a decisão “errada”. Por
arriscarem e sentindo-se vítimas das circunstâncias, pois deixam “as coisas acontecerem”. Isto
só contribui para que sua autoestima seja ainda mais abalada e desgastada.
Por fim, Sheehan (2005) compara pessoas com autoestima mais elevada com as de
autoestima menos elevada, afirmando que as primeiras sabem que podem ser agradáveis no
relacionamento com os outros, pois, uma vez que buscam atender às suas próprias
autoestima baixa tendem a achar que seus relacionamentos serão frustrantes e difíceis. Estas
tato social, esperando mais avaliações negativas, em contraste com as pessoas com autoestima
elevada. Tendo em vista que a percepção que temos de nós mesmos parece formar-se de fora
para dentro, por meio das experiências que vivemos na relação com os demais, a mesma
autora sugere que entrar em contato com o maior número possível de experiências e pessoas
Perls, Hefferline e Goodman (2001/1951) afirmam que o self não existe por si só, e
sim a partir do contato com o meio. Neste sentido, conceituam self como “o sistema complexo
de contatos necessário ao ajustamento no campo imbricado” (p.180). Para esses autores, o self
fronteira de contato e pertence a ambos: ao organismo e ao meio. Desse modo, ele existe
sempre que houver uma interação de fronteira. “Onde há mais conflito, contato e figura/fundo,
diminuído” (p.180). Para Ginger e Ginger (1995) o self é flexível e diz respeito ao modo
característico de cada um reagir num dado contexto e momento, sendo, portanto, o estilo
indivíduo se perceber, se comportar e vivenciar sua relação com o mundo. Desse modo, ele
não é imutável, por ser o resultado de um processo contínuo de adaptação do homem ao seu
ambiente, uma vez que a cada experiência nova vivenciada, o self se reorganiza, conforme
Tendo em vista que self não é uma entidade fixa, ele pode assumir diferentes formas e
self é caracterizado segundo Perls, Hefferline e Goodman (1997), como passivo, disperso e
agiganta, uma vez que o tônus muscular é afrouxado e seus conteúdos são alucinatórios.
Ginger e Ginger (1995) complementam esta idéia dizendo que o “id” age sobre o sujeito,
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quase à sua revelia. Por outro lado, na função “ego”, o self é um “eu” ativo, responsável por
pessoa com características e valores próprios, responsável pelo que sente e faz. A autoestima
está relacionada à função personalidade, uma vez que é a partir do autoconceito que o
indivíduo atribui valor a si mesmo. Perls, Hefferline e Goodman (1997) entendem que “a
somos, que serve de fundamento pelo qual poderíamos explicar nosso comportamento, se nos
Segundo Ginger e Ginger (1995), em suas três funções, o self aparece de maneira
variável de acordo com cada situação. Haverá situações em que o indivíduo não se
reconhecerá, considerando que determinadas atitudes tomadas não são típicas de seu
atos fazem parte de seu padrão de comportamento. E ainda existem aquelas em que o self “se
dissolve” numa intensa “confluência”, ou, ao contrário, num estado de férias interior, de
“vazio fértil”, antes da emergência de uma nova figura que mobilizará sua atenção.
menos ativa (função “id” e “personalidade”). Para Perls, Hefferline e Goodman (2001), este
função personalidade do self. Quando essas experiências são vividas em situações de impasse
bionegativas impostas pelo outro, as quais irão compor uma autoimagem e um autoconceito
introjetado e distorcido.
o “eu dominado” é construído a partir das experiências cujas significações estão relacionadas
quanto o “eu dominado”, que é não introjetado, podem ser vivenciados como real e ideal.
mesmo, baseada em experiências organísmicas. Por outro lado, o eu ideal introjetado está
fazer, para corresponder às expectativas dos outros e ser aceito e valorizado por estes. Já o eu
Hyckner (2005) em seu livro “De pessoa a pessoa” relata o caso de uma cliente atendida
por ele que será utilizado no presente trabalho como ilustração na qual serão relacionados os
Maria era uma mulher de 25 anos que sofria de síndrome de irritação intestinal e já havia
se submetido a tratamentos médicos por vários anos e usava medicamentos por longas datas,
mas isso não curou o seu problema. Foi, portanto, encaminhada à terapia, pois havia fortes
Ela era uma talentosa cantora de ópera que sentia muita ansiedade ao se apresentar
formalmente em público, não conseguindo, portanto, uma boa performance de acordo com a
cobrança que fazia sobre si mesma como cantora. Sentindo-se julgada e pressionada pela
suicidas. Relatou que obter sucesso nessa carreira era algo de extrema importância, pois era
através disto que daria orgulho a seus pais, e consequentemente, seria admirada por eles, uma
Maria acreditou durante maior parte da vida adulta, que este, de fato, também era seu
sonho. Relatou, porém, em terapia, que ao apresentar-se com uma banda de jazz num pequeno
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clube noturno, não sentia a mesma aflição e necessidade de ser perfeita. Entretanto, após
assumir que preferia cantar jazz à ópera, afirmou que isso seria desapontar demais seus pais e
No decorrer das sessões, durante um rolle-playing, no qual ela seria a “voz” de seu
cólon intestinal, ele disse em uma linguagem bastante expressiva que não suportava tantas
expectativas e perfeccionismos, pois estava esgotado e não poderia lidar com o estresse das
apresentações formais de ópera. Seu cólon “pedia” uma mudança, ou ao menos um repouso.
Entretanto, para ela era inaceitável a mudança de carreira em função das consequências que
acarretariam, até que, com relutância, resolveu ouvir seu corpo e percebeu que no “problema”
estava a “resposta”: ela deveria fazer o que realmente gostava, e não o que achava que deveria
fazer.
da indiferença do pai para com ela, desenvolvendo, portanto, uma baixa autoestima.
Considerando que o maior objetivo da pessoa que apresenta sentimento de menos valia é
obter a aceitação dos demais, busca de todas as formas agradar a todos, acreditando que se
forem perfeitos, não serão rejeitados . Sendo assim, Maria descobriu que tinha um talento que
era muito valorizado pelos pais, cantar ópera. Este seria o meio encontrado por ela de acessar
esses pais, tendo, portanto, a missão de obter sucesso na carreira, pois dessa forma seria
Com base nisso, seu “eu real introjetado”, que funcionava como dominado em relação ao
“eu ideal introjetado”, dizia que ela era uma cantora de ópera que não conseguia se apresentar
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de forma perfeita, pois não tinha competência suficiente para realizar um sonho que era
também de seus pais, por isso, jamais poderia obter a valorização deles, nem de si mesma.
Seu “eu ideal introjetado” funcionava como dominador, dizendo que para ela ter valor,
deveria ser uma excelente cantora de ópera e ter sucesso em sua carreira. Durante a terapia,
tomou consciência de que seu verdadeiro sonho seria cantar jazz. Razão pela qual ela não
sentia-se aflita ao cantar no clube noturno, devido ao fato de que realmente acreditava que era
boa e não precisava “atuar” para ser reconhecida, uma vez que aquele talento era algo natural
e prazeroso para ela. Neste sentido, seu “eu real não introjetado” dizia que ela era boa no que
fazia, e que encontraria paz ao cantar sem se sentir pressionada. Desse modo, seu “eu ideal
não introjetado” a levava a querer buscar aprimorar-se para que se sentisse cada vez mais
realizada ao se apresentar e se tornar uma grande cantora de jazz, pois era isso que lhe fazia
feliz.
Com base no caso acima, conclui-se que a pessoa com baixa autoestima considera seu
modo de ser e pensar inadequado, inferior, errado, construindo, assim, uma imagem negativa
sobre si mesma. Isto faz com que acredite que para ser valorizada, deve ser outra pessoa,
aprendendo, portanto, a “atuar”, de forma que seja para o outro aquilo que ela acredita que
este outro deseja que ela seja. Desse modo, perde o contato consigo mesma, não
reconhecendo suas crenças, seus princípios e valores, pois não importa o que de fato sinta ou
pense, uma vez que suas ações serão no sentido de agradar aos outros e não de satisfazer suas
Neste sentido, a baixa autoestima pode ser entendida como resultado do conflito entre
dominador e dominado, ou seja, entre os eus real e ideal, introjetado e não introjetado. Na
CONSIDERAÇÕES FINAIS
da autoestima se inicia nos primeiros anos de vida, de modo que a forma como a criança foi
tratada pelos outros influencia a percepção que tem de si. Neste sentido, os comentários feitos
a seu respeito, posteriormente, vão sendo internalizados, fazendo-a ver-se de acordo com a
forma que os outros a veem, podendo desenvolver uma autoestima mais elevada ou menos
elevada.
adaptação entre seu organismo e o meio ambiente. Em Gestalt-Terapia, baseando-se nas ideias
isso não ocorre, o self atua rigidamente, de forma que o indivíduo não é capaz de adaptar-se às
situação, definindo, portanto, a neurose. Desse modo, pode-se admitir três diferentes funções
do self que são ativadas de acordo com o contexto: “id”, “ego” e personalidade. Esta última
consiste na representação que o indivíduo tem de si e de seu valor, relacionando-se, por sua
seu respeito, devido a introjetos. Neste sentido, uma vez que a percepção de si é distorcida, o
introjetadas a partir de situações de impasse existencial que ocorreram no passado e que não
respeito.
às tentativas do indivíduo de atender às exigências de seu “eu ideal introjetado”, que funciona
de perfeição que não correspondem ao seu “eu real”. Para solucionar ou minimizar esse
conflito interno, o indivíduo lança mão de mecanismos de defesa que o impedem de entrar em
contato com sua real situação e manter-se “aparentemente” equilibrado. Sendo assim,
bloqueia o contato com tudo o que emerge na fronteira do self e que pode desencadear a
Por fim, com o presente trabalho pode-se concluir que devido à importância das
experiências iniciais vividas pela criança, os pais e as pessoas à sua volta têm um importante
que acredite na sua capacidade de superar dificuldades por meio das próprias potencialidades.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Branden, N. (1998). A Psicologia do amor: o que é o amor, por que ele nasce, cresce e às
vezes morre. Tradução por Monica Braga. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos tempos.
Ginger, S. Ginger, A. (1995) Gestalt: uma terapia do contato. Tradução por Sonia de Souza
Rangel. São Paulo: Summus.
hycner
Perls, F.; Hefferline, R.; Goodman, P. (1997). Gestalt-terapia. 2ª edição. Tradução por
Fernando Rosa Ribeiro. São Paulo: Summus.
Polster, E.,Polster, M.( 2001). Gestalt-terapia integrada. Tradução por Sonia augusto. São
Paulo: Summus.
Rocha, R. (1996). Minidicionário. Ilustração Maria Luiza Ferguson. São Paulo: Scipione.
Sheehan, E. (2005). Baixa auto-estima: esclarecendo suas dúvidas. Tradução por Ruth
Rejtman. São Paulo: Àgora.