Teorico 1
Teorico 1
Teorico 1
Objetivos da Unidade:
Apresentar a função da sensação e da percepção por meio dos órgãos dos sentidos para o funcionamento do sistema nervoso.
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ʪ Material Teórico
Introdução
“Os homens devem saber que do cérebro, e apenas do cérebro, nascem nossos prazeres, alegrias, risadas e brincadeiras,
O cérebro e seu funcionamento sempre foram um mistério, um grande desa o para a humanidade. A loso a, a medicina e a psicologia vêm
se dedicando há séculos à busca de explicações e evidências sobre a relação entre atividade cerebral e comportamento humano.
O estudo do cérebro é tão antigo quanto a própria ciência. Os egípcios já realizavam a trepanação (perfuração com brocas da calota craniana)
para aliviar dores de pacientes e tratar outros problemas muito antes de a medicina se tornar uma ciência. Suas primeiras experiências com
cérebros post mortem permitiram estudos anatômicos que mapearam e diferenciaram os lobos cerebrais.
Os gregos antigos acreditavam que o cérebro não apenas era responsável pelas sensações, mas também pela inteligência. Hipócrates (400
a.C.), pai da medicina ocidental, identi cava também o cérebro como o órgão dos movimentos e dos juízos.
O médico romano Galena, que tratava gladiadores (170 a.C.), atribuiu ao cérebro a localização do “espírito animal” – um dos quatro humores
humanos de sua teoria. Para ele, os nervos eram canais por onde a substância espiritual se movia no corpo sob o comando cerebral.
Por muitos séculos, pouco se avançou nos estudos do sistema nervoso. O surgimento do microscópio, no século XVI, contribuiu para o
avanço do conhecimento do sistema nervoso. Em 1753, surgiu o conceito de que os nervos eram como “ os” que conduzem os sinais
elétricos do encéfalo para o corpo.
A teoria celular, proposta pelo siologista alemão Theodor Schwann, em 1839, sobre a composição dos tecidos por unidades microscópicas –
as células – contribuiu para a evolução do conhecimento. Apenas em 1900, as células nervosas, os neurônios, foram reconhecidas como a
unidade funcional básica do sistema nervoso.
Foi durante o século XX que mais se aprendeu sobre as funções do sistema nervoso. Mesmo assim, os estudos históricos de vários
pesquisadores são a fundamentação que sustenta as neurociências. Atualmente, a complexidade do funcionamento cerebral é conhecida e,
para melhor compreendê-la, adotam-se diferentes níveis de análises, como molecular, celular, de sistemas, comportamental e cognitiva.
O objetivo das neurociências é compreender o funcionamento do sistema nervoso. Os registros de atividades identi cadas externamente, bem
como a análise dos elementos internos encontrados no crânio, produziram descobertas signi cativas sobre a capacidade e a limitação da
função cerebral.
A publicação “Cerebri Anatome”, do século XVII, um relato das investigações anatômicas do cérebro pelo médico inglês Thomas Willis, é
considerado o marco para a fundação da neuroanatomia.
A neuro siologia, por sua vez, é o estudo dos movimentos dos íons (átomos com carga elétrica) através de uma membrana. Esses
movimentos podem iniciar a transdução de sinal e a geração de potenciais de ação. O estudo da neuro siologia também inclui a ação dos
neurotransmissores. Os neurônios e as células musculares são as únicas capazes de enviar sinais ao longo de sua superfície para gerar sinais
elétricos.
Os impulsos elétricos que percorrem a superfície de um neurônio são chamados de Potenciais de Ação (PAs). Os PAs são o meio de
comunicação entre os neurônios. Quando um PA percorre um axônio, ele é unidirecional, rápido, e ciente e simples (é uma resposta de tudo
ou nada) (KREBS, 2013).
O SNC é o conjunto dos órgãos protegidos por caixas ósseas na cabeça e nas costas. O encéfalo está contido na caixa craniana, e a medula
espinal está dentro da coluna vertebral.
Figura 2 – Sistema Nervoso Central
Fonte: Adaptada de KREBS; WEINBERG, 2013, p. 23
O encéfalo humano adulto pesa aproximadamente 1.400 g, cerca de 2% do peso de um adulto de compleição corporal média. Seu
desenvolvimento se dá a partir da quarta semana de vida. Uma estrutura pequena, composta pelo cérebro, pelo cerebelo e pelo tronco
encefálico, com funções complexas e muito diversas entre si, comanda o pensamento, a linguagem, a memória, as emoções e outras funções
corporais.
Na superfície do encéfalo (cérebro e cerebelo) encontram-se as substâncias cinzentas, espalhadas por todo o tronco encefálico. Chama-se
substância cinzenta qualquer acúmulo de corpos celulares neuronais. No encéfalo, eles se encontram na camada cortical, contornando os
sulcos cerebrais. Na medula espinal, a substância cinzenta está na parte central, rodeada pela substância branca – que é a soma de todos os
feixes de bras nervosas que adquirem um aspecto esbranquiçado. Oposto à medula, a substância branca ocupa no encéfalo a parte central do
cérebro.
O cérebro é uma estrutura maciça dividida por um sulco em dois hemisférios simétricos. A cobertura (parte mais externa) é o córtex cerebral.
Nas estruturas internas estão os gânglios, o hipocampo e a amígdala.
Em cada hemisfério, o córtex que o recobre é dividido em lobos – que são pequenas regiões identi cadas pela localização em que se
encontram no crânio. Os lobos são:
Frontal, o maior dos cinco, gerencia as seguintes funções: memória, motivação, movimento, iniciativa, planejamento de
ações futuras, concentração e inibições sociais;
O tronco encefálico é formado pelo mesencéfalo, pela ponte e pelo bulbo. Por ele, passam todas as bras que transportam informações
ascendentes e descendentes entre o encéfalo e a medula espinal.
O cerebelo é responsável pela coordenação de atividades motoras voluntárias. Ele tem dois hemisférios e uma área central chamada verme do
cerebelo, sua cobertura envolta pela folha pregueada, que é formada de pregas e sulcos.
Ligado ao tronco encefálico pelos pedúnculos, o cerebelo tem três superfícies de contato: a superior, com o tentório; a inferior, com a fossa
craniana inferior; e uma terceira, que toca o tronco encefálico.
A medula espinal é uma parte simples do SNC. Tem organização uniforme em toda a sua extensão de aproximadamente 45 centímetros. Com
processamento complexo, recebe grande parte da informação sensorial do mundo externo e realiza o processamento inicial. Participa do
controle dos movimentos físicos, pois transporta toda a informação motora dos músculos.
O Sistema Nervoso Periférico (SNP) é composto por nervos cranianos e espinhais que ligam o SNC ao ambiente externo e aos tecidos
viscerais. Os nervos correspondem a feixes de bras envolvidas por tecido conjuntivo, sendo doze pares cranianos e 31 pares espinhais.
Os gânglios são estruturas esféricas de conglomerado de neurônios. Os nervos simpáticos enviam informação motora para o centro
(vísceras).
Sistema nervoso autônomo: são as bras viscerais motoras, que atuam no controle de atividades de independem da nossa
vontade – ações involuntárias;
Nervo periférico: são feixes de axônios, ou bras nervosas, rodeados por várias camadas de tecido conectivo. Os receptores
sensoriais são localizados na extremidade dos nervos no SNP. Por meio deles, as informações do meio ambiente, como luz e
som, ou do próprio corpo são detectadas.
Estrutura e Funcionamento
Cérebro
É comum ouvir em reportagens ou palestras que o ser humano não utiliza sequer 10% de sua capacidade cerebral. Será verdade?
A a rmação, é claro, não tem comprovação cientí ca, e a menos que surjam achados cientí cos no futuro, atualmente ela não faz o menor
sentido para os neurocientistas. Estas e outras ideias de senso comum têm sido desmisti cadas com os avanços da Neurociência sobre a
função do cérebro e seu funcionamento.
Pelo que se sabe, o cérebro humano produz conexões em toda sua dimensão. Quando se menciona a necessidade de treiná-lo e fortalecê-lo,
sob pena de se gerar algum tipo de atro a, isso é verdade, mas é importante ter claro que o cérebro não é um músculo. Ele não é composto de
miócitos, mas sim de neurônios, que se interconectam e formam circuitos complexos entre si. Os neurocientistas estimam que o cérebro de
uma pessoa adulta é composto de 85 bilhões de neurônios, além das células gliais.
O cérebro ocupa a maior parte do encéfalo e é coberto pelas meninges, que são as membranas que o cobrem. Ele “ utua” no interior do
crânio, no líquido cefalorraquidiano que serve para sua proteção.
Mais do que ser responsável pela “inteligência”, é o cérebro que comanda e controla a maioria das funções corporais e cognitivas. Desde a
respiração e a fome, que são funções involuntárias, até as funções superiores, como o pensamento, a criatividade e a linguagem. É por isso
que, mesmo durante o sono, o cérebro não para de funcionar.
O tempo todo, o cérebro recebe informações dos órgãos dos sentidos e as utiliza para de nir as ações que devemos tomar. O cérebro processa
os dados e as informações vindas do meio ambiente, alinha-as conforme as necessidades e as memórias armazenadas e produz respostas
para a proteção e o bem-estar do organismo.
Neurônios
Os neurônios são as células que constituem o sistema nervoso e estão espalhadas por todo o organismo humano. Quando estimulados por
alguma parte do corpo, podem produzir correntes elétricas que percorrem grandes distância até a medula espinal ou o cérebro.
Os neurônios são especializados em receber, processar e transmitir informações nos níveis intra e intercelular. São células excitáveis, que
respondem a estímulos que chegam com os impulsos nervosos através da membrana celular.
Figura 5 – Neurônio
Fonte: Getty Images
Os neurônios são constituídos por três partes. A primeira é composta pelo corpo, a parte central e a esférica, onde se localiza o núcleo. É ele
que contém o material genético herdado e é responsável por garantir a sobrevivência do neurônio.
A segunda parte são os dendritos, rami cações presentes no corpo do neurônio e que são responsáveis por receber informações de outros
neurônios.
A terceira parte são os axônios, estruturas exclusivas que se rami cam a partir do corpo do neurônio. Podem chegar a um metro de
comprimento, e seu papel é justamente levar uma informação a longas distâncias. Alguns axônios – os motores e os sensoriais – são
recobertos por uma membrana de mielina, cuja função é acelerar a comunicação entre os neurônios.
Os terminais axônicos, que são a parte nal do neurônio, liberam o impulso elétrico da célula pré-sináptica para outro neurônio. De um modo
geral, os neurônios não encostam uns nos outros. Eles se comunicam por meio de sinapses – termo derivado do grego que signi ca
“amarrar junto” – responsáveis pela transmissão dos impulsos elétricos entre os neurônios.
Glia
Com novas técnicas de imagem e a ajuda de instrumentos de “escuta”, descobriu-se recentemente o valor das células glia, que além de
fornecer nutrientes para os neurônios, função já conhecida, contribuem para o processamento das informações no SNC. As células glia, ou
gliócitos, modulam os impulsos elétricos e podem in uenciar o local da formação das sinapses. Geralmente arredondadas, são encontradas
no cérebro na proporção de uma para cada neurônio.
Figura 6
Fonte: Wikimedia Commons
Quatro tipos de células glia células ependimárias (rosa claro), astrócitos (verde), células
microgliais (vermelhas) e oligodendrócitos (funcionalmente semelhantes às células de
Schwann no SNP) (azul claro).
Mesmo tendo um papel subordinado, sem as células glia o sistema nervoso não funcionaria corretamente. Elas formam as camadas de
membrana que fazem o isolamento dos axônios. São também responsáveis pela neurogênese, ou seja, pela formação de novos neurônios no
sistema.
Cerebelo
O cerebelo pode ser considerado o “profeta” do movimento corporal. Ele calcula as trajetórias e os prováveis resultados comportamentais. Ele
recebe informações sobre a posição das partes do corpo (informação proprioceptiva), o tônus muscular, intervém e modula em tempo real o
movimento de forma adequada. O cerebelo também é importante na cognição, sobretudo na linguagem, e ajuda a coordenar e prever
conceitos mentais. Esse órgão opera por mecanismos de feedback e antecipatórios. Por isso, as pessoas podem andar no meio da multidão
sem trombar.
Entre as funções importantes identi cadas como atribuições do cerebelo em pesquisas recentes, a percepção da posição da cabeça no espaço
é uma das mais importantes. Outras, igualmente importantes, são: orientar os movimentos dos olhos e estabelecer a coordenação entre o
olho e a mão. O que permite o aprendizado de uma nova habilidade, que passa a ser executada automaticamente como é o caso da escrita à
mão e de tocar do piano) (KREBS, 2013). A automatização pelo cerebelo, na verdade, libera o cérebro para atividades cognitivas mais
complexas.
O termo sistema nervoso refere-se a todos os elementos que o compõem: os nervos, os neurônios, a medula espinal e o encéfalo. Ele é um
sistema que trabalha com informações disponíveis e que são captadas externamente pelos órgãos do sentido (olhos, ouvidos, pele, nariz e
língua) e internamente pelo sangue, intestino, bem como pelos demais órgãos do organismo e pelas informações armazenadas na memória.
O modelo de funcionamento do sistema nervoso ajuda o ser humano a construir formas produtivas de interação. Ele não só responde pela
motricidade e pelo raciocínio, mas também por todas as habilidades humanas. Entre elas, as competências socioemocionais, as habilidades
artísticas e as atitudes morais e éticas. Na verdade, o sistema nervoso responde pelo desenvolvimento integral do ser humano.
Neurotransmissores e Hormônios
Os hormônios são substâncias químicas produzidas pelo corpo humano, como os neurotransmissores. Porém, diferem deles na sua produção
e distribuição. Os hormônios são produzidos por glândulas endócrinas e liberados pela corrente sanguínea, percorrendo longas distâncias no
organismo.
O termo hormônio tem origem na palavra grega ormóni, que signi ca evocar ou excitar. O nome, nesse caso, indica sua função: os hormônios
são responsáveis por ativar e equilibrar o metabolismo, o crescimento e a sexualidade no ser humano.
Cerca de cinquenta tipos de hormônios, cada um com uma função especí ca, são produzidos por dez glândulas espalhadas pelo corpo. Eles
são encontrados livremente na corrente sanguínea, mas atuam com especi cidade em um determinado órgão com o papel de ativar uma
função necessária para cada atividade do nosso dia a dia e para manter o corpo saudável. Por exemplo: após as refeições, o pâncreas produz
insulina para regular o nível de açúcar no sangue.
É importante conhecer a função dos hormônios, suas consequências e os sintomas relacionados com sua escassez ou excesso. As disfunções
hormonais geram problemas de metabolismo que afetam, além da saúde, o comportamento humano. Por exemplo: o hipotireoidismo é
causado pela redução da produção da tiroxina pela tireoide e causa aumento de peso, cansaço e sonolência. O hipertireoidismo, causado pelo
aumento da produção dos hormônios, causa perda de peso, irritabilidade e ansiedade.
Os neurotransmissores podem ser de nidos como os mensageiros químicos do sistema nervoso. Produzidas e liberadas pelos neurônios,
essas substâncias químicas percorrem a distância necessária para que um neurônio se comunique com outro pela sinapse. Ou seja, uma
distância curta. Durante a transmissão dos sinais elétricos, eles liberam os neurotransmissores para o neurônio seguinte. Nesse processo de
transmissão sináptica, os neurotransmissores são transportados até chegar ao destino no organismo.
Atualmente são conhecidos mais de cem neurotransmissores. Os principais são: endor na (dor e euforia), acetilcolina (aprendizagem),
glutamato (memória), gaba (calma), serotonina (humor e bem-estar), dopamina (prazer e sistema de recompensa).
Saiba Mais
A adrenalina é tanto um hormônio quanto um neurotransmissor. Sua função é regular a pressão arterial e
os batimentos cardíacos em situação de estresse, assim como desencadear a reação de fuga ou luta frente
a perigo ou surpresa.
O consumo crônico de drogas (naturais ou sintéticas) pode alterar a atividade, a produção e o armazenamento dos neurotransmissores e até
mesmo substitui-los. Elas interferem no processo natural e se ligam às células receptoras, elevando seus efeitos. Podem estimular ou inibir
propositadamente essas funções e causam dependência física ou psíquica, na busca da manutenção dos efeitos percebidos no
comportamento.
A canabis, o álcool, a cocaína, as substâncias alucinógenas encontradas em alguns tipos de cogumelo, os analgésicos, a cafeína e a nicotina
atuam modi cando a neuroplasticidade, alteram o sistema de recompensa e o mecanismo de adaptação do sistema nervoso.
Trocando Ideias...
Estilo de vida saudável: estudos cientí cos comprovam que algumas atividades estimulam positivamente
a produção de neurotransmissores. O exercício físico, a meditação e o mindfulness acionam a libertação do
gaba (calma). A prática intensa de esportes, a vida sexual e o consumo moderado de café ou de chá verde
ativam a produção da dopamina, relacionada ao prazer. Já a serotonina, relacionada à felicidade, pode ser
ativada pelo sono regular, banhos de sol e consumo de alimentos saudáveis
Sensação e Percepção
Qual a diferença entre sensação e percepção? Esses dois processos têm relação com nossa capacidade sensorial e a resposta a três perguntas
ajuda a diferenciá-los.
Se uma árvore cai numa oresta sem nenhum animal por perto, será que produz som?
Saiba Mais
Se uma árvore cai em uma oresta.
ACESSE
"A Terra era azul antes que o Homem a visse do espaço?” (LENT, 2001, p. 5).
A resposta a essas perguntas é NÃO.
Figura 10 - Sensação e Percepção humana
Fonte: Getty Images
No caso da árvore, ao cair, ela emite vibrações que se propagam pelo ambiente até se dissiparem. Mas essas vibrações somente seriam
consideradas sons caso houvesse um animal ou uma pessoa com um sistema auditivo para captá-las e percebê-las (LENT, 2001). O mesmo
ocorre nas outras situações: não há gosto se ninguém provou e nem cores se não for visto por alguém.
Para a Neurociência, sensação se refere à experiência iniciada por um estímulo do ambiente aos mecanismos biológicos dos cinco sentidos
humanos. Segundo Lent (2001), “sensação é a capacidade que os animais apresentam de codi car certos aspectos da energia física e química
que estão ao seu redor, representando-os como impulsos nervosos capazes de serem compreendidos pelos neurônios”.
A sensação está relacionada diretamente aos órgãos receptores sensoriais (olhos, ouvidos, nariz, boca, pele) e aos estímulos básicos, como
luz, cor, odor e texturas. Esses estímulos podem ser externos, proporcionados por algo que podemos ver, tocar e sentir, ou internos ao nosso
organismo, como a fome, fadiga ou sono.
A percepção, por sua vez, relaciona-se à interpretação que o sistema cognitivo faz da sensação recebida pelo cérebro (GAZZANIGA; IVRY;
MANGUN, 2006). Perceber é organizar as informações recebidas pelos órgãos do sentido. Uma mesma sensação pode gerar percepções
distintas em pessoas diferentes. Os dois processos são interdependentes, mas se in uenciam mutuamente.
A percepção se dá de duas formas: botton up (de baixo para cima), que acontece por meio de estímulos do ambiente; e push down (de cima
para baixo), que tem origem interna e está relacionada aos sentimentos, por exemplo.
Existe um mundo real, das coisas independentes, e há também um mundo percebido pelo ser humano. A percepção promove experiências
pessoais e distintas entre os seres humanos, e elas são, ao longo da vida de cada indivíduo, in uenciadas por uma série de fatores genéticos,
psicológicos, motivacionais e até mesmo sociais e culturais.
A percepção é uma das consequências da sensação. Além dela, a informação sensorial dá outras contribuições para o organismo: como o
controle da motricidade, a regulação das funções orgânicas sem ativação da nossa consciência e a manutenção da vigília.
A Visão
Pela visão, identi cam-se as cores, as formas e os contornos de outras pessoas, de outros seres e dos objetos de um ambiente. Isso acontece
por meio dos cones e bastonetes – que é o nome pelo qual são conhecidos os receptores da visão. Os bastonetes atuam em condições com
pouca luz, enquanto os cones são os responsáveis pela visão de cores e detalhes. A proporção na retina é de vinte bastonetes para cada cone.
Os cones detectam energia eletromagnética de sinergia luminosa em diferentes comprimentos de onda. Existem três tipos de cones, que são
relacionados às cores azul, verde e vermelho. Com esse espectro captado, conseguimos compor tudo em nossa paleta de cores.
Os bastonetes, que atuam principalmente à noite, detectam os contrastes entre claro e escuro; com a iluminação diurna, os cones é que fazem
esse trabalho. Por isso que o homem é incapaz de perceber diferenças de cor à noite, quando somente os bastonetes estão ativos.
Os cones e bastonetes controlam sua própria sensibilidade ao estímulo luminoso por meio da adaptação ao escuro ou claro. Assim, aumentam
o diâmetro das pupilas em ambientes escuros e o contraem sob a luz mais intensa.
A visão humana é limitada: os cones e bastonetes não captam todo o espectro de energia eletromagnética existente no meio ambiente. Nós
não conseguimos detectar a luz ultravioleta ou a radiação infravermelha, entre outras variações cromáticas.
A Audição
É pela orelha, o órgão responsável pela audição, que captamos os sons, que são produzidos por ondas de compressão e descompressão
alternadas do ar. Elas se propagam da mesma forma que as ondas se propagam na superfície da água. O sistema auditivo tem receptores
conhecidos como células ciliadas, que traduzem a energia mecânica em som. Esses receptores se localizam dentro da cóclea, um órgão
interno da orelha.
A orelha humana é altamente sensível e nos permite perceber e interpretar as ondas sonoras em uma gama muito ampla de frequências (20 a
20.000 Hertz ou ondas por segundo). A captação do som até a percepção e interpretação pelo cérebro envolve uma sequência de
transformações de energia que se inicia pela sonora, passa pela mecânica, pela hidráulica e, nalmente, chega à energia elétrica dos impulsos
nervosos.
Figura 12 - Receptores da audição
Fonte: Wikimedia Commons
Os centros auditivos do tronco encefálico relacionam-se com a localização da direção da qual o som emana e com a produção re exa de
movimentos rápidos da cabeça, dos olhos ou mesmo de todo o corpo em resposta a estímulos auditivos.
Equilíbrio
A orelha é sede de dois sentidos: dos mecanorreceptores auditivos e dos mecanorreceptores do equilíbrio. O movimento da cabeça e a direção
da gravidade é a função do sistema vestibular, que envia para o sistema nervoso informações e a percepção que nós temos do equilíbrio de
nosso próprio corpo.
A Somestesia
Esse termo vem do latim e é a combinação do vocábulo soma, que quer dizer corpo, e aesthesia, que signi ca sensibilidade. Nós não temos
consciência do nosso corpo o tempo todo. Ele está constantemente em funcionamento, mas muitas coisas acontecem que não são
registradas na nossa consciência.
A pele é o órgão sensorial que capta os estímulos térmicos, mecânicos e dolorosos. Considerando que toda a superfície cutânea possui
terminações nervosas, muitas informações são enviadas ao mesmo tempo para o sistema nervoso e não é possível ter consciência de todos o
tempo inteiro.
A somestesia está relacionada à percepção externa. Seus receptores são os mecanorreceptores especializados da pele, das articulações, dos
tendões e dos músculos. Como também na parte interna dos órgãos, refere-se ao sentido da condição siológica do corpo e ao controle
homeostático do organismo, com a percepção do estado subjetivo do próprio indivíduo (LENT, 2008).
Saiba Mais
O homúnculo, uma caricatura de um homem deformado e desproporcional, foi criado pelo neurocientista
canadense Dr. Wilder Pen eld para enfatizar as áreas do corpo mais sensíveis pela quantidade de
receptores. No rosto e boca, nas mãos e nos pés, temos mais receptores do que nas coxas, nas costas
e nos braços.
Tato: que corresponde à percepção dos objetos que tocam a nossa pele. A pele é o maior órgão do corpo humano, chega a
medir mais de dois metros quadrados e a pesar cerca de quatro quilogramas em um adulto. No córtex parietal, há uma
representação da superfície cutânea e do interior do corpo. Assim, assim o cérebro tem um mapa sensorial do corpo todo;
Propriocepção: é a capacidade de perceber e de ter a noção do próprio corpo. Também conhecida como cinestesia, é a
capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo, perceber a posição, a orientação e a força exercida pelos
músculos, além da posição de cada parte do corpo em relação às demais sem a necessidade de se utilizar a visão. Os
receptores proprioceptivos são mecanorreceptores e estão nos músculos, nos tendões e nas cápsulas articulares,
apresentando função re exa, locomotora e postural;
Termossensibilidade: é a nossa capacidade de perceber a temperatura do ambiente e de objetos por meio de receptores do
frio e do calor, que são distribuídos em números relativamente pequenos na pele. O fundamento da termossensibilidade é o
controle da temperatura corporal para que as reações biológicas não sejam prejudicadas e se evitem as lesões nos tecidos.
Para que a sensação térmica seja interpretada como calor ou frio, os termoceptores fazem a sinapse com neurônios na
espinha dorsal, causando percepção de calor e fazendo com que nós busquemos alimentos gelados e locais frescos. O
inverso (ou seja, a busca de alimentos e locais quentes) ocorre quando experimentamos o frio. Existem
nociceptores térmicos que são ativados por extremos de temperatura, em geral com menos de 5 °C ou mais de 45 °C;
Dor: descreve uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano real ou potencial do tecido cutâneo.
Ela é identi cada pela sensação de formigamento, de queimação, de picada ou de sgada. Como acontece com outras
modalidades, a dor possui uma função protetora e alerta sobre danos que poderão requerer proteção ou tratamento.
Por toda a extensão do corpo, há receptores de dor, os nociceptores, que estão presentes nos vasos sanguíneos e nas
meninges que envolvem o sistema nervoso central. Para cada tipo de estímulo (mecânico, químico ou térmico), existe
nociceptores especí cos, que conduzem a informação de dor até o córtex cingulado anterior (LENT, 2008).
A percepção da dor é subjetiva. Um mesmo estímulo sensorial pode gerar respostas distintas em sensibilidade e percepção
de tempo em cada pessoa. Muitos soldados feridos, por exemplo, não sentem a dor até serem removidos da batalha. Atletas
lesionados durante uma disputa com frequência não percebem a dor até a disputa terminar.
A Olfação
O sentido olfativo, junto com o paladar, é chamado de sentido químico. Os receptores olfativos são excitados por substâncias químicas do ar,
e os gustativos são excitados por substâncias químicas existentes nos alimentos. Esses sentidos trabalham juntos na percepção dos sabores.
O centro do olfato e do gosto no cérebro combina informações sensoriais da língua e do nariz.
Os estímulos odoríferos exercem papéis fundamentais em diversas funções para a maioria das espécies. Eles interferem, por exemplo, na
alimentação, no acasalamento, na reprodução e na organização social.
Percebemos o cheiro quando uma molécula química entra em contato com os receptores localizados no nariz. As paredes internas do órgão
são cobertas por uma mucosa na qual estão os neurônios responsáveis pela olfação. O ar, ao entrar no nariz, é umedecido, aquecido e
puri cado, separando as moléculas aromáticas.
Figura 14 Receptores olfativos
Fonte: Reprodução
O sistema olfativo detecta apenas um odor por vez. E, por essa característica, quando somos expostos a dois odores diferentes (um aroma
doce simultâneo a um odor de podridão), a sensação percebida será a do odor mais dominante. Existe uma forte relação do cheiro com a
memória o que se explica pelo fato de ambos serem processados pelo sistema límbico, responsável pela memória, reações instintivas e
emoções. Associamos o cheiro a fatos e sentimentos.
A Gustação
É na língua que esse outro sentido químico, também chamado de paladar, ocorre. O sistema gustativo desempenha papel fundamental no
controle da alimentação e da nossa digestão. As informações das células gustativas são transmitidas ao cérebro, atribuindo sabores. Com
isso, elas nos ajudam a selecionar os alimentos bené cos e os prejudiciais à sobrevivência. Os bebês já nascem gostando do doce (leite
materno) e rejeitando o sabor amargo (ervas/remédios).
Os receptores são as papilas gustativas, compostas por células epiteliais e localizadas em torno de um poro central na membrana mucosa
basal da língua. As moléculas químicas entram em contato com a saliva, cuja função é umedecer os alimentos para liberar o sabor, que é
sentido pelos receptores presentes na língua, capazes de identi car cinco variações de gostos nos alimentos: doce, salgado, azedo, amargo e
umami (BEAR, 2017).
Figura 15 – Cinco variações de gostos
Fonte: Reprodução
Recentes achados de cientistas químico-sensoriais questionam a de nição de locais diferentes na língua para a identi cação dos cinco
gostos. Resultados de vários experimentos indicam que papilas gustativas que sentem esses gostos estão distribuídas por todas as áreas da
boca (língua, o céu da boca e a garganta). Há apenas uma maior concentração e não exclusividade nas partes da língua, como se refere o
mapa dos sabores.
Então, como sabemos o que devemos comer e o que não devemos? A resposta é pela especi cidade de cada gosto e pela intensidade deles no
alimento.
Amargo: é um sabor que pode indicar toxicidade dos alimentos; identi cado com remédio e veneno, geralmente são
desagradáveis e rejeitados;
Umami: presença do aminoácido L-glutamato, identi ca o sabor gostoso, estimula a ingestão de peptídeos e proteínas, que
são fontes de energia.
Saiba Mais
Umami é uma palavra japonesa que signi ca “gostoso” ou “agradável”. O sabor foi identi cado por
Kikunae Ikeda (químico japonês) no início do século XX e só foi reconhecido em 1985 como o gosto dos
glutamatos e dos nucleotídeos que são encontrados em alimentos como tomates, cogumelos, queijo
parmesão e alimentos quentes e amanhecidos (como pizza e carnes). Promove um gosto residual suave,
mas duradouro. Ele aumenta a palatabilidade dos alimentos.
Quanto estamos diante de uma taça de sorvete, não sentimos apenas que é gelado ou que engolimos algo doce. Percebemos todas as
características simultaneamente – o gosto, a temperatura, a cor, a consistência ou o formato –, que ativam lembranças prazerosas.
Percebemos as qualidades de forma integral. A percepção é uma síntese das sensações da nossa realidade e pode transformar tomar uma taça
de sorvete numa experiência maravilhosa.
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Neurotransmissores
Hoje iremos falar sobre mensageiros químicos muito importantes para o sistema nervoso: os neurotransmissores. Falaremos também um
pouco sobre drogas, esquizofrenia e botulismo alimentar para ilustrar os possíveis impactos dos neurotransmissores na nossa saúde e
comportamento.
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ACESSE
ACESSE
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ʪ Referências
GAZZANIGA, M. S.; IVRY, R. B.; MANGUN, G. R. Neurociência cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2006.
KREBS, C.; WEINBERG, J.; AKESSON, E. Neurociências Ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2013. (e-book)
LENT, R. (coord.). Neurociência da Mente e do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. (e-book)
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PESSOA, F. Poemas completos de Alberto Caeiro. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013.