Anotações Balistica Externa

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DISCIPLINA: BALÍSTICA EXTERNA

ALUNO: GABRIEL TAWIL AUBIN

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 2
TRAJETÓRIA .................................................................................................................................. 2
VELOCIDADE ................................................................................................................................. 6
REGIMES DE VELOCIDADE .......................................................................................................... 10
ESTABILIDADE ............................................................................................................................. 12
DESVIOS DE TRAJETÓRIA ............................................................................................................ 16
BALÍSTICA DE TRANSIÇÃO .......................................................................................................... 23
COMPARAÇÃO DE CURVAS BALÍSTICAS DE ARMAS PORTÁREIS .............................................. 24
COMPARAÇÃO DE CURVAS BALÍSTICAS DE ARMAS CURTAS .................................................... 29
TABELAS BALÍSTICAS E MPBR E MRD ......................................................................................... 30
COEFICIENTE BALÍSTICO ............................................................................................................. 31
BALÍSTICA EXTERNA PARA ESPINGARDAS ................................................................................. 35
PROBLEMAS RALACIONADOS A ESTABILIDADE E TRAJETÓRIA DE PROJÉTEIS ......................... 41
AVALIAÇÃO DE GRUPAMENTOS, MOA E MRAD ....................................................................... 46
CONFECÇÃO DE TABELAS BALÍSTICAS ........................................................................................ 53
INTRODUÇÃO

Balística externa ou exterior consiste, essencialmente, na trajetória do projétil,


ou seja, o caminho que o projétil faz depois de sair da boca do cano até alcançar o seu
primeiro obstáculo. Ainda, a balística externa é também os parâmetros do projétil ao
longo da trajetória, como a variação da velocidade, o momento linear e a energia do
projétil, o arrasto que o projétil sofre e faz com que ele perca velocidade, a
estabilidade do projétil e o tempo de exposição do projétil em voo. Também são
analisadas as causas de desvios de trajetória do projétil, como o vento, a temperatura,
a umidade, a altitude entre outros fenômenos.

TRAJETÓRIA

A trajetória do projétil não é uma parábola (expressão inadequada), mas sim


curva balística. Quando o atirador deseja acertar um alvo, com o armamento
devidamente regulado, é necessário alinhar o aparelho de pontaria com o alvo,
fazendo uso da linha de visada (linha reta), que se encontrará com trajetória do projétil
no alvo. Destaca-se que fatores externos, como a gravidade por exemplo, fazem com
que a trajetória do projétil não seja uma linha reta.

Para que a trajetória do projétil cruze a linha de visada em determinado


momento, é necessário jogar o projétil mais pra cima. Via de regra, a trajetória do
projétil cruza a linha de visada duas vezes, uma na sua fase de ascensão e outra
quando o projétil está descendo. Nesses dois pontos de cruzamento, o projétil acertará
o alvo com precisão.
Para que o atirador consiga acertar alvos a maiores distâncias, é necessário o
conhecimento da curva balística do equipamento utilizado. A curva balística vai indicar
informações como a linha da visada (ponto 0) e os pontos de cruzamento da trajetória
do projétil (ponto 1 – 20m e ponto 2 – 300m), como no exemplo. Para que o atirador
efetue um tiro a uma distância maior que o zero, será necessário elevar a linha do
cano para cima.

A curva balística sofre, essencialmente, com a gravidade, o que resulta na


queda do projétil. A linha de mira (sight picture) é a reta formada pelo olho do atirador
e o aparelho de pontaria, ao passo que a linha de visada (sight alignment) é a junção
da linha de mira com o alvo.
Ainda dentro da curva balística, quando o projétil deixa a boca do cano, ele
está sujeito ao arrasto, que é a dificuldade de o projétil vencer a resistência do ar. O
arrasto faz com que o projétil tenha uma redução na velocidade. Considerando que a
velocidade dos projéteis é muito alta, o arrasto também tende a ser forte.
A curva balística é definida a partir de uma tabela balística que apresenta
diversos dados, como a distância, o tempo de voo do projétil, a queda/trajetória, a
velocidade e a energia. Por exemplo, considerando a tabela balística de uma arma
curta no calibre .40 S&W, percebe-se que a arma está zerada para as distâncias de
13m e de 27,5m, motivo pelo qual, se o atirador quiser efetuar um disparo em um alvo
a 100m, será necessário elevar a linha do cano 30cm aproximadamente.

Quando tratamos do alcance máximo de um projétil, estamos falando da


distância máxima que ele pode alcançar. Nesse ponto, destaca-se que a trajetória do
projétil não é uma parábola, onde a subida e descida são simétricas e cujo disparo a
45º indicaria o alcance máximo (calculado no vácuo). Entretanto, tal forma de calcular
não considera o arrasto que o projétil sofre e que, consequentemente, reduz a sua
velocidade, motivo pelo qual os dados obtidos não refletem a realidade. A trajetória do
projétil na sua curva balística apresente uma subida uniforme e uma descida brusca,
diferenciando-se de uma parábola com movimentos uniformes.

Para medição do alcance máximo ou alcance real, ao contrário do imaginário


dos 45º, é recomendado utilizar ângulos em torno de 27º a 35º, entretanto, já em
ângulos pequenos como de 5º e 8º, o projétil pode buscar um alcance máximo de 65%
e 85% respectivamente. Nesse caso de medição de alcance máximo ou real, o projétil
chega ao fim de sua trajetória com a velocidade bastante reduzida, não passando
certeza acerca da produção de danos no alvo.
Por sua vez, o alcance efetivo ou útil é a distância máxima alcançada pelo
projétil com capacidade para matar. Destaca-se que não há consenso na doutrina,
algumas escolas utilizam como parâmetros para indicar o alcance efetivo a energia do
projétil para causar ferimentos graves em um homem (critério muito subjetivo e com
muitas variáveis) ou considerando os valores de 100J a 300J, ao passo que outras
utilizam a capacidade de acerto (50% de acerto em uma pessoa), o acerto no primeiro
disparo, o efeito desejado entre outros. Apesar de haver indicações de alcance efetivo
para os calibres 5,56 x 45 mm (550m), 7,62 x 51 mm (800m) ou .50 BMG (1500-
2000m) por exemplo, há diversos registros de disparos letais a distâncias superiores
ao indicado (5,56 x 45 mm - 720m, 7,62 x 51 mm - 1250m, .50 BMG - 3540m),
demonstrando que não há um critério rígido para o alcance útil.

VELOCIDADE

Normalmente, quando se fala em velocidade do projétil, a maioria das


informações são relativas à velocidade na boca do cano, que é aquela velocidade
inicial logo que o projétil sai do interior do cano do armamento. Assim que o projétil
deixa o interior do cano, ele tem sua velocidade reduzida ao longo da trajetória. Ainda,
as velocidades indicadas pelos fabricantes são obtidas através de testes realizados
com provetes nos padrões SAAMI, CIP ou OTAN, o que significa que tais velocidades
não serão reproduzidas no armamento necessariamente.
A massa do projétil apresenta uma relação inversamente proporcional à sua
velocidade, visto que projéteis com maior massa possuem uma inércia maior e, por
isso, apresentam uma velocidade menor.
O equipamento utilizado para medir a velocidade de um projétil é o cronógrafo,
que pode apresentar funções como velocidade (média, máxima e mínima), desvio
padrão, dispersão máxima e taxa de disparo. O funcionamento dos cronógrafos pode
se dar por pares de sensores de luminosidade + cronometro, radar com efeito doppler
ou sensor eletromagnético.
Os cronógrafos mais comuns utilizam sensores de luminosidade, onde o projétil
passa pelo primeiro sensor, gerando uma variação de luz e iniciando o cronometro, e
depois passa pelo segundo sensor, gerando outra variação de luz e pausando o
cronometro. Baseado na distância entre os dois sensores, é calculada a velocidade do
projétil.
Os sensores eletromagnéticos são acoplados na boca do cano da arma e
funcionam com dois sensores que captam a passagem da massa de metal do projétil.
A vantagem desse cronógrafo é não necessitar de luz ambiente, como é o caso dos
sensores de luminosidade, todavia a desvantagem é que o seu acoplamento na boca
do cano pode influenciar a saída dos gases e vibração do cano e, consequentemente,
a precisão do conjunto.

A tecnologia mais moderna dos cronógrafos utiliza o efeito doppler, onde há um


emissor e um receptor de ondas eletromagnéticas. O sensor é colocado ao lado do
armamento e é realizado o disparo, momento em que o sensor emite uma onda
eletromagnética que atinge o projétil e retorna ao sensor. A variação da frequência da
onda permite o cálculo da velocidade que o projétil estava. Esse tipo de método
permite a medição continua da velocidade é 100jds dependendo do calibre utilizado

A medição da velocidade do projétil pela SAAMI prevê a utilização de um


provete, onde há duas células fotossensíveis, estando a primeira a 10ft e a segunda a
20ft, de maneira que o projétil passe por cima dos dois sensores. O cálculo utiliza a
distância média de 15ft (4,5 metros) da boca do cano para indicar a velocidade do
projétil.
A velocidade ao longo da trajetória será uma função relacionada ao arrasto que
o projétil irá sofrer. O arrasto será proporcional ao diâmetro do projétil e à densidade
do ar e irá variar em função da velocidade do projétil (maior velocidade, mais arrasto).
Esses parâmetros são avaliados conforme o coeficiente balístico do projétil, que é a
capacidade do projétil de manter a velocidade ao longo da sua trajetória. A perda de
velocidade do projétil influencia a sua energia cinética, que depende justamente da
velocidade (ao quadrado) e da massa.

Nesse sentido, projéteis mais leves e com maiores velocidades apresentam


maiores valores de energia, entretanto esse parâmetro real não representa a
capacidade do projétil de causar lesão. Não há uma relação clara entre energia do
projétil e eficiência terminal (capacidade de causar lesão).
Quando se analisa a balística terminal, é mais interessante utilizar outro
parâmetro, que é o momento linear ou quantidade de movimento, que depende da
massa e da velocidade do projétil. A partir desse critério, é possível verificar que
projéteis com menor massa, mas com maior velocidade e energia, apresentam um
menor momento linear, enquanto um projétil mais pesado, porém como menor
velocidade e energia, apresentam um maior momento linear. Destaca-se que a
importância do momento linear é que ele fornece um critério de correlação com
penetração do projétil. O momento linear está diretamente relacionado com a
quantidade de penetração do projétil. A comparação do movimento linear deve ser
feita entre projéteis similares e de mesmo calibre.

Um terceiro parâmetro que está relacionado com a velocidade do projétil é o


momento linear ajustado, que depende da massa do projétil, da velocidade do projétil
e da área da seção transversal do projétil. Nesse critério, para analisar a capacidade
de penetração do projétil, devem ser considerados o diâmetro inicial e o diâmetro
expandido.
REGIMES DE VELOCIDADE

Os regimes de velocidade traduzem a velocidade do projétil em relação a um


parâmetro, no caso, o número de Mach, que é a velocidade do som no meio. Os
regimes de velocidade podem ser subsônico (abaixo da velocidade do sim), transônico
ou supersônico (acima da velocidade do sim), quando comparado com a velocidade
do som (340 m/s).
Quando o projétil está se descolando em velocidade subsônica, ou seja, abaixo
de Mach 1, há uma modificação no escoamento dos gases em torno do projétil. A
partir do movimento do projétil, o ar se molda à geometria do projétil.

A velocidade do som define esse parâmetro por que é a velocidade em que o


meio (ar) é capaz de propagar ondas. Se esse projétil aumenta sua velocidade e
passa de Mach 1, ou seja, em velocidade supersônica, o meio não consegue mais se
moldar ao corpo. O ar é empurrado de uma forma tão brusca que é comprimido em
determinados locais e gera ondas de choque (alta densidade e pressão).
O regime tansônico seria um intervalo intermediário onde a velocidade
permanece entre 0,9 e 1,2 Mach, ou seja, 306 a 408 m/s no ar aproximadamente.
Haverá a geração de ondas de choque em alguns pontos onde a velocidade é
supersônica, entretanto há momentos de velocidade subsônica, o que ocasiona
instabilidade do projétil.
As ondas de choque geradas durante o deslocamento do projétil ocasionam um
fenômeno chamado traço do projétil, que é a refração da luz em função da variação da
densidade do ar, que permite a visualização do projétil durante o voo. Outro fenômeno
gerado é o barulho do crack supersônico (sonic boom), ocasionado pela sobreposição
de várias ondas mecânicas.
A modificação no regime de velocidade dos projéteis gera modificações no
coeficiente balístico (manutenção da velocidade) e no coeficiente de arrasto (perda da
velocidade) dos projéteis. O coeficiente de arrasto tende a subir durante o regime
supersônico até próximo de Mach 1, quando passa pelo regime tansônico e tem uma
queda brusca do arrasto no regime subsônico. Tal mudança de regime gera uma
grande instabilidade no projétil, gerando o tombamento se esse não possuir uma boa
geometria.
ESTABILIDADE

Estabilidade é a capacidade de manter a ponta do projétil voltada para sua


direção de deslocamento (frente). É por isso que um projétil que tem estabilidade
apresenta varias consequências na sua aerodinâmica, trajetória e previsibilidade. Os
projéteis de arma de fogo são feitos para manter a sua estabilidade durante toda sua
trajetória, motivo pelo qual há o raiamento no interior do cano.
O projétil, durante sua trajetória, pode apresentar três movimentos, sendo eles:
a) rolagem: rotação em torno do seu eixo longitudinal em decorrência do raiamento; b)
arfagem: projétil inclina a ponta para cima e para baixo em função do seu eixo; e c)
guinada: inclinação da ponta lateralmente para esquerda ou direita em torno do seu
eixo longitudinal. O movimento da rolagem é esperado/programando, porém a arfagem
e a guinada acontecem de forma indesejada, apesar dos esforços para minimizar os
seus efeitos.

O raiamento do armamento, ao dar rotação ao projétil, proporciona estabilidade


por meio do chamado efeito giroscópico. Quando um corpo está realizando um
movimento de rotação em torno do seu eixo, ele tende a permanecer na mesma
posição sem inclinação e de forma estabilizada. O efeito giroscópico nos projéteis de
arma de fogo depende de vários fatores como a massa do projétil, a distribuição dessa
massa (geometria e densidade dos materiais), o calibre real, o passo de raiamento e a
velocidade de rotação. A estabilidade é inversamente proporcional à densidade do
meio, por isso, por exemplo, projéteis disparados em direção à água (bem mais densa
que o ar) apresentam baixa estabilidade e tombam rapidamente.
A rotação do projétil, quando analisada a sua estabilidade, gera ainda outros
efeitos, como a precessão, que é uma composição entre a guinada e arfagem do
projétil, oscilando a ponta. A tendência é que a estabilidade, com o efeito giroscópico,
diminua a precessão durante a trajetória do projétil. Outro movimento que é percebido
na trajetória do projétil é a nutação, que é uma pequena vibração que ocorre durante a
precessão. Todo projétil disparado de uma arma de fogo com cano raiado irá
apresentar os movimentos de rotação, precessão e nutação, porém os dois últimos
tendem a ter sua amplitude reduzida durante a trajetória do projétil.
A velocidade de rotação do projétil depende da velocidade do projétil na boca
do cano e do passo de raiamento do armamento.

Por sua vez, o cálculo do passo de raiamento adequado para um projétil utiliza
a fórmula de Greenhill simplificada, que considera o diâmetro do projétil e o
comprimento do projétil.
Há ainda a fórmula de Greenhill com correção da densidade do projétil para
identificar o passo de raiamento mais adequado para um tipo de projétil. Nessa
fórmula, além do diâmetro e do comprimento do projétil, deve ser considerada a
velocidade na boca do cano do projétil, onde se utiliza o valor de 150 ou 180 (se a
velocidade foi maior que 2800 fps - 853 m/s), além da densidade relativa do projétil
(ex.: 10,9 pra projéteis com núcleo de chumbo)

Existe uma fórmula utilizada no mundo do tiro de precisão principalmente, onde


é possível calcular o fator de estabilidade de um projétil. Nela, são levados em
consideração dados como a densidade do ar, geometria, massa e distribuição do
projétil. Destaca-se que o resultado pode representar a instabilidade do projétil, seu
parâmetro ideal ou, até mesmo um fator que represente a redução da acurácia e a
destruição do projétil em caso de super estabilização.
Destaca-se que o projétil sai da boca do cano com um desalinhamento inicial,
que pode chegar a 1º ou 2º, mas a tendência é que a estabilidade do projétil corrija
esse desalinhamento inicial, mantendo a pronta para frente e reduzindo o movimento
de precessão. Outro fator que pode ocasionar instabilidade é o balanceamento do
projétil, ou seja, um projétil balanceado apresenta o seu centro de massa disposto
exatamente no seu eixo de rotação. Havendo um desbalanceamento, o projétil irá
oscilar fora do seu eixo de rotação o que, somado a uma velocidade de rotação alta,
pode ocasionar o tombamento.

Diferentemente dos projéteis ponta oca de calibres nominais de arma curta,


desenvolvidos para expandir seu diâmetro, os projéteis de fuzil ponta oca boat tail
(HPBT) apresentam um pequeno orifício na sua ponta e uma cavidade considerável no
seu interior. Esse formato foi desenvolvido para tirar massa da região central do
projétil e a distribuir mais na parte lateral, a fim de aumentar o momento rotacional de
inércia do projétil, trazendo maior estabilidade.

Em síntese, a estabilidade é a capacidade do projétil em manter a sua ponta


para frente durante toda a sua trajetória, sendo que a tendência é que haja o aumento
da estabilidade durante a trajetória, pois há a redução da precessão e a velocidade de
rotação diminui em uma taxa menor que a velocidade de translação. A estabilidade
tende a aumentar até mudar do regime de velocidade supersônico (acima de Mach 1 –
340 m/s) para o transônico (entre Mach 0,9 e 1,2 - 306 a 408 m/s), regime no qual há
muita instabilidade. Se o projétil conseguir vencer o regime de velocidade transônico
com estabilidade, ao passar para o regime subsônico, manterá sua estabilidade.
DESVIOS DE TRAJETÓRIA

O vento é um dos principais fatores que influenciam a trajetória do projétil,


sendo de difícil correção. O desvio pelo vento depende da intensidade, da direção e do
local em que ele exerceu influência na trajetória, e tudo isso correlacionado com a
dimensão do projétil, sua massa, seu coeficiente balístico, seu tempo de exposição e a
densidade do ar.
Quando da prática de tiro de precisão, muitos atiradores utilizam um sistema de
compensação baseado nas horas de um relógio, onde são realizadas compensações
conforme a direção de influência do vento. Outra ferramenta que pode ser utilizada é a
Escala de Beaufort, que permite estimar a velocidade do vento baseada nas condições
da natureza (ex.: água como um espelho, fumaça subindo verticalmente). Ventos de
12h e 06h geralmente não apresentam muita influência na trajetória do projétil,
todavia, em distância acima de 1500m, o vento de 12h aumenta o arrasto (maior
queda) e o vento de 06h reduz o arrasto (menor queda).
Em relação aos disparos em ângulos, a tendencia dos tiros é impactar mais
alto, conforme a inclinação e distância horizontal. Sempre que houver o tiro em ângulo,
a tendência do projétil é bater um pouco acima, pois a componente da força
gravitacional terá um fator alinhado ao eixo do cano (diagonal) e um fator
perpendicular.

Para calcular a compensação nos disparos em ângulo é utilizada a


trigonometria, utilizando um multiplicador conforme o ângulo. Será calculada a
distância de rampa (distancia real do tiro) e coseno (distância horizontal).
Nos casos de disparos para o alto, o cano fica reto para cima (90º em relação
ao solo), o projétil sobe até determinado ponto, até que perde velocidade e começa a
sua trajetória em direção ao solo. Destaca-se que, independentemente da velocidade
de subida, qualquer objeto que esteja caindo na atmosfera sofre um fator chamado de
velocidade terminal, que é quando a força da gravidade se equilibra com a força de
arrasto. Em um estudo realizado com um projétil do calibre .30, verificou-se que
velocidade terminal ficou em torno de 91 m/s e o tempo de voo foi de 50s a 1min45s
(dependendo da direção da ponta). Projéteis mais pesados, como o .50 BMG,
apresentaram uma velocidade terminal de 150 m/s e tempo de voo de 1min50s.
A variação da temperatura pode causar desvio na trajetória do projétil. A
variação da temperatura ambiente gera mudança na densidade e viscosidade do ar,
pois quando a temperatura aumenta, a densidade e o arrasto diminuem. A variação de
temperatura no cartucho em si (balística interna) pode ocasionar desvio na trajetória
do projétil (balística externa), como no teste em que foi aumentado a temperatura de
um cartucho .308 Win para 36°C, o que resultou em um aumento de 4% na velocidade
da boca de cano e em 17cm de queda a 500m. Já em relação ao armamento (balística
interna), a temperatura do cano pode influenciar o ponto de impacto do projétil.
A variação da umidade também pode causar o desvio de trajetória, porque gera
variação na densidade do ar. Destaca-se que o ar mais úmido se torna menos denso,
e o ar mais seco mais denso. Todavia, essa variação é praticamente desprezível,
como, por exemplo, no teste utilizando um cartucho .308 Win, onde uma variação de
0% a 100% da umidade do ar resultou em um desvio de apenas 20cm a 1000m.
A variação de altitude e pressão atmosférica afeta a trajetória do projétil, pois
quanto maior a altitude, mais rarefeito é o ar, então a redução da pressão
consequentemente diminui a pressão do ar. A pressão atmosférica a nível do mar (0m)
é de 1000 hPa e, por exemplo, no ponto mais alto do Brasil (Pico da neblina no
Amazonas – 2995m) a pressão é de 692 hPa. Tomando como estudo um cartucho do
calibre .308 Win, essa variação resultaria em desvio de 26cm a 500m e 384cm a
1000m.
Há desvio de trajetória chamado de spin drift, que é o desvio lateral por efeito
giroscópico ou desvio devido ao ângulo de repouso, que acontece em tiros de longas
distâncias onde a ponta do projétil viaja um pouco mais pra cima que a linha da sua
trajetória. Em razão do efeito giroscópico, quando o projétil é empurrado tentando
desviar para cima, ele reage girando para a esquerda ou para a direita dependendo do
sentido de rotação (raiamento dextrogiro ou sinistrogiro). Projéteis maiores e mais
pesados tendem a sofrer menor influência do spin drift que os projéteis menores e
mais leves. Tal fenômeno só é relevante a longas distâncias e em tiros de precisão.
Ainda, há o efeito magnus, que acontece quando temos um projétil dotado de
rotação que enfrenta ventos laterais, onde há a incidência do princípio de Bernoulli. A
alteração no perfil de escoamento do ar faz com que o vento lateral (ex.: direita para
esquerda no projétil dextrogiro) embaixo do projétil tenha uma pressão menor e uma
maior velocidade, enquanto o vento lateral superior tenha uma pressão maior e uma
menor velocidade. Essa diferença de pressão (menor embaixo), faz com que o projétil
desvie para baixo. Esse efeito pouco influencia no tiro.

Por fim, o efeito Coriolis é aquele que representa um desvio de trajetória


considerando a movimentação do planeta, onde corpos viajando no hemisfério norte
tendem a desviar no sentido horário (direita) e corpos viajando no hemisfério sul
tendem a desviar no sentido anti-horário (esquerda), sendo nulo o efeito na linha do
equador.
BALÍSTICA DE TRANSIÇÃO

A balística de transição é essa fase inicial do voo do projétil, onde ele já deixou
a boca do cano, mas ainda está sofrendo os efeitos da ação dos gases (colidindo e
empurrando na base e passando à frente do projétil). A balística de transição se limita
a poucos centímetros após a boca do cano e o principal objeto de estudo é a
estabilidade do projétil. Nesse curto período analisado pela balística de transição, o
projétil está exposto a uma fase turbulenta, onde ocorrem ondas de choque gases em
velocidades subsônicas e supersônicas. Equipamentos como o freio de boca e quebra
chama auxiliam a reduzir os efeitos dos gases saindo pela boca de cano.
COMPARAÇÃO DE CURVAS BALÍSTICAS DE ARMAS PORTÁREIS

A primeira comparação é em relação a calibres nominais de armas curtas com


calibres nominais de fuzil. Deve ser considerado que armas curtas são zeradas para
distâncias bem menores que armas longas, geralmente 0 a 15m, ao passo que as
armas longas são zeradas para 0 a 50m ou de 0 a 100m. O eixo vertical representa o
eixo de queda (subida e descida) em relação ao ponto de visada (0), e o eixo
horizontal é a distância.
Os projéteis de calibres nominais de arma curta alcançam distâncias muito
mais curtas por que apresentam uma velocidade menor (ex.: 320 m/s), enquanto os
calibres nominais de fuzil alcançam altas velocidade (ex.:800 m/s).

Se for considerada a distância de 300m, enquanto os calibres nominais de fuzil


apresentam uma queda de 50cm aproximadamente, os calibres nominais de arma
curta apresentam uma queda entre 5m e 7m. Destaca-se que os calibres 5,56 x 45
mm e 7,62 x 51 mm apresentam uma trajetória muito semelhante até os 500m – 600m,
porém o 5,56 x 45 mm, por ser mais leve, sofre mais desvio do vento.
Comparando calibres nominais de fuzil, percebe-se que, até 300m, a trajetória
dos calibres é bem semelhante e com uma queda aproximada de 40cm. Aumentando
a distância para 1000m, o .50 BMG continua com uma trajetória com menos queda
devido a uma maior massa do projétil e maior velocidade, seguido do .338 Lapua Mag
pelos mesmos fundamentos. Todavia, percebe-se que o calibre 6,5 mm Creedmor,
apesar de ser mais leve que o .308 Win, apresenta uma menor queda, pois é um
projétil de alto desempenho e mantém sua velocidade.
Esses calibres perdem mais rapidamente a velocidade enquanto estão viajando
em regime supersônico, mas tendem a ter uma taxa de redução menor quando se
deslocam em regime subsônico, onde o coeficiente de arrasto é bem menor.

Analisando os dados abaixo, percebe-se que os calibres 5,56 x 45mm e 7,62 x


51 mm, até 200m, apresentam uma trajetória e queda semelhantes, enquanto os
calibres 7,62 x 39 mm e o .300 ACC Blackout também se assemelham, visto que o
que muda é apenas a geometria do estojo. Por sua vez, o calibre .30 Carbine
apresenta uma grande queda nos 200m, visto ter uma velocidade menor, massa
relativamente pequena e ter um projétil pouco aerodinâmico, não sendo recomendado
para o tiro a longa distância.

Por fim, o projétil .17 HMR apresenta uma queda menor que o .30 Carbine nos
200m, sendo repetido o resultado nos 400m, motivo pelo qual representa uma boa
opção para o tiro de precisão a uma distância média.
Para definir a melhor curva balística, o atirador deve ter noção do que ele
deseja acertar ou qual a aplicação do conjunto do armamento.

Tomando por exemplo um fuzil plataforma AR, no calibre 5,56 x 45 mm, projétil
de 77gr, velocidade de 800m/s, passo de raia 1:7, com zero a 50m, vento de frente de
3m/s, haverá um desvio de queda de 10cm e lateral de 9cm a 215m e queda de 20cm
e lateral de 12cm em disparos a 250m.
Por sua vez, um fuzil na plataforma AR, no calibre 7,62 x 51 mm, projétil de
150gr, velocidade de 773m/s, passo de raia 1:11, com zero a 100m, vento de frente de
3m/s, haverá um desvio de queda de 10cm e lateral de 7cm a 190m e queda de 28cm
e lateral de 13cm em disparos a 250m.
COMPARAÇÃO DE CURVAS BALÍSTICAS DE ARMAS CURTAS

Em relação à curva balística dos calibres nominais de armas curtas com


provetes de 4”, considerando o zero a 15m, percebe-se que o calibre .357 Mag possui
uma trajetória mais tensa, pois tem uma velocidade mais alta, ao passo que o .38 Spl
apresenta uma trajetória mais curta por ser mais pesado e lento. Os calibres 9mm
Luger e .40 S&W apresentam uma trajetória bem semelhante, tendo um desvio de
5cm a 6cm na média. Por sua vez, percebe-se que o calibre .45 ACP, a uma distância
de 50m, apresenta um desvio de 10cm aproximadamente.

A partir de determinas distâncias, é necessário que o atirador realize


compensações. A zeragem de fabrica das pistolas varia conforme o fabricante, visto
que a Glock utiliza 15jds – 13,7m, a Taurus 14jds – 12,8m e a Sig Sauer 10jds – 9,1m.
Ainda, deve ser considerado o tipo de visada que o atirador utiliza, como o método
pumpkin on a post (imagem 1), visada tradicional center hold (imagem 2) ou a visada
de combate (imagem 3). A fabricante Sig Sauer considera o método de visada de
combate.

Tomando por exemplo o calibre 9mm Luger, projétil de 147gr, velocidade de


320m/s, zero a 15m, com um vento de frente de 3m/s, percebe-se haverá um desvio
de 10cm para baixo do alvo em disparos a 58m e que a compensação que o atirador
deverá fazer em um tiro a 150m pode chegar a 1m acima do alvo.
TABELAS BALÍSTICAS E MPBR E MRD

As expressões MPBR e MRD geralmente são associadas ao zero do


armamento. A sigla MPBR significa maximum pont blank range, ou seja, a distância
máxima sem compensação, representando a distância máxima que o atirador pode
fazer a visada no centro do alvo com precisão suficiente, sem compensar desvio por
queda. Por sua vez, MRD significa most recommended distance, ou seja, a distância
mais recomendada para a zeragem do armamento.

Tomando por base um fuzil AR15, no calibre .223 Rem, projétil de 77gr,
velocidade de 850m/s, a tabela da curva balística possibilidade a análise dos dados e
a verificação do MPBR, ou seja, a distância máxima que o atirador pode fazer a visada
sem compensações. Utilizando como alvo um disco de 20cm, a zeragem a 243m
permite uma trajetória mais tensa que continua na zona de precisão (área laranja) até
285m. Destaca-se que, no gráfico, a zeragem a 33m apresentou uma curva balística
semelhante à de 243m, o que demonstra que é possível zerar o armamento em um
estande razoavelmente curto e mesmo assim apresentar bons resultados a distâncias
maiores

Assim, zerando o armamento no MRD, o atirador terá também o MPBR,


sempre sendo considerado o tamanho da zona vital (alvo), pois se a zona vital for
menor, a distância irá diminui. Outros termos utilizados que representam a mesma
coisa de MRD são GEE (sigla em alemão) para distância do alvo mais favorável e
RZR para recommended zero range ou distância de zero recomendada.
COEFICIENTE BALÍSTICO

Esse termo de coeficiente balístico surgiu a partir de estudos do século


passado na França, onde uma comissão militar estudou o comportamento de disparo
de canhões em navios numa praia. A partir dos resultados obtidos, verificou-se que
determinado tipo de projétil, denominado tipo 1, perdia velocidade de certa maneira,
sendo desenvolvido um modelo matemático para o comportamento dos projéteis
analisando o arrasto sofrido. Entretanto, nem todos os projéteis eram do tipo 1, ou
seja, apresentam geometria diferente, motivo pelo qual foi criado um fator de ajuste
chamado fator de forma, que corrige a curva de arrasto do projétil.
Assim, a definição de coeficiente balístico é a capacidade do projétil em manter
sua velocidade ao longo da trajetória. O coeficiente balístico depende a estabilidade
do projétil, a manutenção da sua ponta para frente, porém estabilidade não depende
do coeficiente balístico. O coeficiente balístico não está ligado à precisão nem balística
terminal (menor ou maior penetração por exemplo), mas sim com o desempenho do
projétil em vencer o arrasto do ar.
Geralmente, o coeficiente balístico é representado por um número na casa dos
milésimos abaixo de 1,000, como o calibre 9 x 19 mm com projétil EXPO Bonded
147gr com CB 0,200 ou com projétil ETOG 124gr com CB 0,160 e o calibre .40 S&W
ETPP 180gr com CB 0,174. Todavia, há exceções como o calibre .50 BMG Sniper
Solid AP 774gr com CB de 1,018.
Destaca-se que quanto maior for o número do CB, mais eficiente será o projétil
em manter a sua velocidade durante a trajetória. Aqueles projéteis que são
geometricamente semelhantes, mas possuem massa maior, tendem a apresentar um
CB melhor.

O CB é um número adimensional, ou seja, é representado sem nenhuma


unidade de medida, que representa a densidade seccional (massa do projétil dividido
pelo diâmetro ao quadrado) dividido pelo fator de forma. Por isso, é difícil comparar
projéteis com forma e peso diferentes entre si, pois são variáveis que influenciam
diretamente na formula aplicada. Reitera-se que, quanto maior a massa do projétil,
maior tende a ser o seu CB se os outros dados foram mantidos, ao passo que quanto
maior for o calibre real do projétil, menor será o CB, pois haverá maior área transversal
para gerar arrasto. O fator de forma veria conforme a geometria do projétil.
O número do CB pode ser utilizado para realizar comparações entre projéteis e
saber qual é o mais eficiente, bem como é utilizado em calculadoras balísticas para a
elaboração das tabelas de curva balística dos projéteis.
Alguns programas permitem auxiliam a elaboração das tabelas balísticas,
utilizando, além do CB, as características do projétil e do armamento e as condições
ambientais.

Outro fator que está relacionado o coeficiente balístico é o coeficiente de


arrasto (CD - drag coefficient), que representa quanto o projétil perde velocidade
durante a sua trajetória em razão do arrasto do ar. Projéteis supersônicos, ou seja,
acima de Mach 1 (340m/s), tem maior arrasto que projéteis subsônicos, portanto,
perdem velocidade mais rapidamente que os subsônicos (mais lentos). Os projéteis do
tipo 1 apresentam um CD conforme a linha verde e os projéteis com geometria
diferente daqueles do tipo 1 apresentam o CD conforme a linha cinza pontilhada,
sendo utilizado o fator de forma para ajuste no cálculo.

Os projéteis do tipo 1 apresentam uma base achatada e ogiva com curvatura


de 2 calibres. Com o passar dos anos, a geometria dos projéteis mudou tanto que foi
necessário desenvolver um novo método para facilitar o cálculo da tabela balística, em
especial para os projéteis de alto desempenho, como aqueles do tipo 7, que são
longos, base boat tail e ogiva tangente de 10 calibres. É possível utilizar uma ou outra
fórmula para o cálculo em programas computacionais, porém é mais indicado o
modelo mais parecido com a geometria do projétil (site da CBC usa G1 como padrão).
O coeficiente de arrasto (CD) demonstra a capacidade do projétil de perder
velocidade durante a sua trajetória. A produtora de munições Hornady desenvolveu o
modelo 4DOF (degrees of freedom / graus de liberdade = projétil se deslocar nos eixos
X, Y e Z e rotacionar em torno desses três eixos). Esse método, ao invés de utilizar o
CB para confecção da tabela balística, utiliza o CD obtido a partir de radar Doppler em
diferentes distâncias para medir a velocidade. A Hornady alega que o 4DOF é mais
preciso que CB (G1 ou G7) a longas distâncias (3km ou mais), utilizando o CD x n° de
Mach para cada projétil, sendo selecionado o projétil em um banco de dados.

É importante que se tenha um CB alto ou um CD baixo, pois haverá uma


manutenção da velocidade inicial do projétil, ou seja, um menor tempo de exposição a
elementos desviantes como ação da gravidade, vento e outros durante a trajetória.
Menores desvios representam uma trajetória mais tensa e uma menor necessidade de
compensações. Nesse sentido, percebe-se que o CB não tem relação com a precisão
dos disparos, visto que ela está relacionada com a consistência do projétil, do
cartucho, do armamento, do acionamento do gatilho, variação de velocidade da boca
do cano e variação do vento.

BALÍSTICA EXTERNA PARA ESPINGARDAS

A balística externa se preocupa com a previsibilidade da trajetória de um


projétil singular, porém a grande maioria dos cartuchos utilizados nas espingardas são
formados por múltiplas esferas. Os projéteis esféricos apresentam uma perda de
velocidade 7x maior que em projéteis alongados, motivo pelo qual o alcance é
reduzido drasticamente. Em decorrência da geometria de uma esfera, há uma
formação de um esteira maior, o que gera um arrasto muito maior do que corpos
alongados.

Outro ponto relevante é que os projéteis múltiplos são constituídos de chumbo


basicamente, material com grande ductibilidade e, por isso, sofrem bastante
deformações, apesar da bucha servir para absorver parte da energia e amenizar a
deformação. Os projéteis esféricos deformados têm sua trajetória desviada.
Normalmente, os cartuchos no calibre 12 ga apresentam uma carga de 24g a
40g de chumbo, o que representa, por exemplo 400 esferas no chumbo 7 ½, 32
esferas no 3T e 9 esferas no SG.
Esse tipo de projétil descarta o uso de raiamento no interior do cano, visto que
não faz sentido dar rotação, e consequentemente gerar estabilidade (manter a ponta
pra frente), em uma esfera. Entretanto, existem projéteis singulares chamados balotes,
como o knock down, foster, knock hex e o sabot.

Alguns tipos de balotes apresentam sulcos na sua estrutura para fazer as


vezes do raiamento, porém não é gerada uma taxa de rotação suficiente para que o
projétil desenvolva estabilidade giroscópica. O que mantém a trajetória com ponta para
frente é a estabilidade estática, pois a base e interior ocos do balote fazem com que a
ponta do projétil seja a parte mais pesada, levando o CG para frente.
Destaca-se que o diâmetro interno do cano de uma espingarda no calibre 12 ga
é de aproximadamente 18,5mm, o que faz com que alguns balotes nem cheguem a
encostar nas paredes o caso, sendo função da bucha a vedação e aproveitamento dos
gases oriundos do disparo.
Apesar de ser raro de achar informações, a fabricante de munições Federal
apresenta no seu portifólio o balote 12 ga Truball Rifled Slug, que possui uma bucha e
esfera plástica junto do projétil de 438gr e tem uma velocidade de boca de cano de
1700 fps (518m/s), cujo CB é 0,063. O fabricante informa que é capaz de se fazer um
grupamento de 1,4” a 50jds 93,5cm a 46m). Com os dados fornecidos, é possível
elaborar a tabela da curva balística do projétil. Considerando que é uma arma longa, a
200m o projétil sofrerá um desvio de queda de 1m aproximadamente.
O choke das espingardas, que é o estrangulamento na boca do cano, é
definido pela balística externa, visto que é considerado o percentual de acerto de
projéteis em um alvo de 75cm a 35m, independentemente do tipo do cartucho. Sua
principal função não é aumentar o alcance do disparo, o choke serve para fechar mais
o grupamento dos projéteis a uma distância maior.
A dispersão dos projéteis deve ser considerada, ainda mais quando analisado
o contexto de uso policial ou de defesa do armamento, a fim de se evitar danos
colaterais. Em distâncias de até 15m a 20m aproximadamente, boa parte dos projéteis
múltiplos ainda acertam o alvo, sendo uma dispersão aceitável. Após essas distâncias,
a dispersão aumento e, consequentemente, o risco de efeitos colaterais, sendo mais
indicado o uso de balotes para garantir uma trajetória mais previsível. Via de regra,
espingardas para uso policial e de defesa apresentam choke cilíndrico, justamente
para uso de balotes, pois chokes mais estrangulados podem danificar ou destruir o
armamento quando utilizados balotes.
Além da dispersão radial, há também uma dispersão axial, ou seja, alguns
projéteis atingirão o alvo primeiro que outros, ou seja, em momentos diferentes. Em
inglês, dá-se o nome a essa dispersão de shot string. A dispersão axial é relevante
para atividades como a caça, onde o alvo está em movimento, pois se a dispersão
axial longa, apenas uma parte dos projéteis atingirá o alvo em deslocamento.
A fim de minimizar a dispersão axial, alguns métodos de avaliação com alvos
em movimento foram desenvolvidos. Os primeiros testes eram realizados com
veículos puxando alvos com velocidades pré determinadas, evoluindo para testes com
tambores rotativos com velocidades conhecidas e por fotografia atualmente.
A bucha nos cartuchos de espingarda, além da função de separaração do
propelente dos projéteis, são responsáveis pela vedação de gases no interior do cano
e pelo amortecimento para redução da deformação dos projéteis. Reitera-se que
projéteis deformados não apresentarão uma trajetória previsível, aumentando a
dispersão e baixando os acertos no alvo.
Conforme o Informativo Técnico n° 38 da CBC, alcance máximo (ângulo de
35°) para os cartuchos de espingarda calibre 12 ga seria: a) chumbo 3, 5 e 7 de 100m;
b) chumbo 1 de 240m; c) chumbo 3T de 300m; e d) chumbo SG de 500m. Ao seu
turno, o alcance útil indicado no informatico, considerando a energia suficiente para
abater uma caça (aves com 1,3kg a 1,5kg) seria: a) chumbo 7 de 30m; b) chumbo 5 de
60m; c) chumbo 3 de 90m; e d) chumbo 1 de 120m.
Nesse sentido, quando se trata de alvos em movimento, deve ser considerado
o avanço do alvo. Por exemplo, na hipótese de um alvo a 50m com deslocamento
perpendicular, utilizando o balote Federal teríamos um avanço de 2,25m para aves
(velocidade de 20m/s) e de 1,24m para javalis (11m/s).

Em síntese, em relação á balística externa em espingardas, temos que: a) uso


de balotes é indicado até 150m aproximadamente; b) dispersão radial a depender do
choke e do tamanho e da dureza das esferas (deformação aumenta a dispersão); c)
dispersão axial (shot string) de acordo com a carga de bagos, diâmetro do cano e
choke; d) tipo de alvo, sendo calculado o avanço nos alvos em movimento para
compensar a dispersão axial; e e) as funções da bucha para um melhor agrupamento
e menor deformação dos bagos.

PROBLEMAS RALACIONADOS A ESTABILIDADE E TRAJETÓRIA DE


PROJÉTEIS

Um dos problemas que pode ocorrer é a presença de irregularidade no corpo


dos projéteis. Um projétil balanceado apresenta o seu centro de massa localizado no
eixo geométrico, o qual coincidirá com o eixo de rotação. Por outro lado, um projétil
desbalanceado, seja por defeito superficial na jaqueta ou bolha interna, apresentará
uma alteração no centro de massa, de forma que o eixo geométrico não estará
alinhado com o eixo de rotação, podendo afetar a eficiencia do projétil.
O tipo de raiamento do armamento, convencional ou poligonal, é capaz de
alterar o CB do projétil, visto que o raiamento convencional apresenta marcas bem
definidas no corpo do projétil, enquanto o raiamento poligonal deixa marcas menos
definidas. Pessões muito altas são capazes de gerar deformações excessivas em
razão do raiamento, inclusive com deslizamento superficial da jaqueta. Tais
deformações são visiveis em disparos a longas distãncias,

Outra situação que pode acontecer é a uma dispersão grande a curta distância
e projéteis de pistola tombando. Tais fenomenos podem ser ocasionados em função
de irregularidades na base dos projéteis.
Destaca-se que irregularidades na base do projétil tendem a gerar problemas
muito mais graves, como a dispersão e tombamento, do que aqueles presentes na
ponta do projétil. Entretanto, as irregularidades nas pontas dos projéteis também
devem ser evitas, e são muito comuns nos projéteis do tipo soft point, onde a ponta do
projétil é de chumbo exposto. A irregularidade na ponta do projétil pode ocasionar uma
diminuição de 10% na velocidade de 50% no CB. Como solução, alguns fabricantes
utilizam uma ponta de polímero, que permite que o projétil mantenha seu CB mais alto
e tenha um comportamento similar àqueles de ponta macia ou oca (expansivos).

Destaca-se que irregularidades no interior do cano também podem


desestabilizar o projétil, aumentado a dispersão e tombamento precoce, inclusive em
fuzis. Uma situação hipotética que pode gerar uma irregularidade no interior do cano é
um projétil que ficou preso e foi abalroado por um segundo disparo sem o atirador
perceber, gerando um estufamento em determinada parte do cano. O disparo da arma
de fogo com parte ou boca do cano dentro da água pode gerar o estufamento ou
inutilização do cano, em função do calço hidráulico. Esse estufamento irá
comprometer a trajetória do projétil.

O desgate do cano também diminui bastante a eficiencia do conjunto em


relação à balística externa. Um artigo analisou a variação do desgate no interior do
cano em 4 momento distintos, sendo realizados 6000 tiros. Verificou-se que houve um
desgaste muito maior no 1/4 do cano, quando comparado com o 4/4 e que nos 50%
finais do cano o desgaste foi muito menor do que próximo da câmara, pois é onde
estão concentradas as maiores pressões, temperaturas e tensoes mecânicas do
engaste do projétil ao raiamento. Esse desgaste acentuado causa um raiamento mais
“raso” (diminuição da altura dos ressaltos), aumento do diametro interno do cano,
redução de velocidade na boca do cano e da pressão na câmara, maior
desalinhamento inicial do projétil e maior frequência de oscilação da ponta.
Irregularidades na câmara podem ser ocasionadas em decorrência de um
processo de fabricação falho, seja pelo desalinhamento câmara-cano, pela entrada no
cano irregular ou pelo projétil estar desalinhado no estojo.

A limpeza e temperatura do cano também podem influenciar na trajetória do


projétil, seja por resíduos de queima de propelente e de jaqueta depositados no
interior do cano, seja por dilatação do cano em razão do calor de disparos sucessivos.

AVALIAÇÃO DE GRUPAMENTOS, MOA E MRAD

Primeiramente, deve ser definido os conceitos de acurácia e de precisão.


Acurácia é sinonimo de exatidão, ou seja, acertar um ou mais tiros no alvo exatamente
no local onde o atirador desejava. Precisão está relacionada à consistência, à
repetição dos resultados, determinando o tamanho do grupamento de multiplos
disparo, não tendo relação com o ponto de visada.
O ideal é que o atirador se condicione a conseguir um grupamento fechado, ou
seja, uma boa precisão, ainda que não tenha uma boa acurácia, pois, nesse caso,
pode ser apenas um detalhe de ajuste do aparelho de pontaria (clicar).
Um assunto que deve ser abordado é o termo MOA, que significa minute of
angle / minuto de ângulo, uma medida angular de 1°/60. Essa medida angular está
relacionada à distância do alvo e é oriunda da trigonometria, sendo 1 MOA é igual a
3cm (arredondamento para 2,91cm) a 100m ou 1” (arredondamento para 1,0472
polegadas) a 100jds.

Atualmente, a maioria dos red dots possuem relagem em MOA, motivo pelo
qual é importante saber dessa proporção de 1 MOA = 3cm a 100m, o que reduz o
consumo de munição na hora da clicagem.
Outra unidade de medida que é utilizada na clicagem de aparelhos de pontaria
o mRad ou mili radiano, que também é oriundo da trigonometria. A maioria das lunetas
utilizam o mRad como medida angular para clicagem, onde cada clique de 0,1 mRad
equivale a 1cm de deslocamento na distãncia de 100m.

Em se tratando de lunetas, é necessário saber quais são as suas partes: a)


lente ocular é aquela pela qual o atirador irá olhar; b) lente objetiva: pode apresentar
diversos diâmetros, quanto maior a lente objetiva, mais luz entra na luneta (maior é
melhor em ambientes de baixa luminosidade; c) ajuste lateral (R): regulagem que
desloca o ponto de impacto para a direita; d) ajuste vertical (UP): regulagem que
desloca o ponto de impacto para cima; e) ajuste de foco: regula o foco de acordo com
a distância; e f) ajuste de potência: geralmente é um anel junto da lente ocular, que
amplia a imagem.

O retículo da luneta é a referência sobreposta no campo de visão do atirador,


podendo ser de vários formatos, como o Mil Dot (pontos arredondados - mais comum)
ou TMR (riscos). Os formatos servem para fornecer ao atirador uma escala visual em
milésimos, que coincide com o mRad.
O ajuste da luneta é feito por meio do cálculo das variações das quedas nos
eixos X e Y, podendo ser utilizadas as medidas em MOA ou mRad.
O ajuste técnico é aquele realizado para novas distâncias além daquela que o
aparelho estava inicialmente zerado, utilizando a tabela balística do armamento. Por
exemplo, em um conjunto zerado para 300m, para realizar disparos em um alvo a
400m, o atirador deverá clicar -3,8 MOA, girando a torre de ajuste vertical cima até
3,75 MOA, Se o disparo no mesmo conjunto for a 200m, o juste técnico será de 3,2,
girando a torre para baixo até 3,25 MOA, pois o projétil ainda estará na trajetória
positiva (ascenção).
Se o aparelho de pontaria utilizar o sistema miliradiano ou mRad, basta o
atirador utilizar a tabela respectiva coluna, realizando o ajuste técnico da mesma
forma.

Outra forma de ajustar a luneta para novas distâncias diferentes do zero é


realizar o ajuste tático, ou seja, fazendo a visada acima do alvo na proporção da
queda, com a utilização de uma nova referência no retículo. O atirador, ao inves que
realizar ajustes nas torres da luneta, utiliza as marcações em milésimo do retículo para
compensar o desvio do alvo na nova distância a partir das definições da tabela
balística.
Atualmente, existem lunetas mais modernas como SKMR3 que possuem, além
das marcações de ajuste de altura do disparo, uma escala triangular com vários
pontos alternativos de visada para compensações laterais para ajuste do vento ou
deslocamento lateral do alvo.

CONFECÇÃO DE TABELAS BALÍSTICAS

O modo mais prático é utilizar programas ou aplicativos para a confecção das


tabelas balísticas. Alguns exemplos para aplicativos no celular são o Strelok, Lapua
Ballistics e da fabricante Hornady, porém também são disponibilizados sites que
geram as tabelas, como os das fabricantes Hornady, Federal e Berger, além do
programa de computador Sierra Infinity V.7.
Inicialmente, para a confecção de uma tabela balística, é necessário determinar
os dados que serão lançados no sistema, como as características do projétil,
características do armamento e condições ambientais. Em relação ao projétil, em
geral, é necessário: a) o comprimento; b) diâmetro (calibre real); c) massa; d) CB e
função (G1 ou G7); e e) velocidade de boca de cano (teste com cronógrafo, não o
indicado em tabela pelo fabricante, pois a velocidade é obtida por provete). Quanto ao
armamento, devem ser considerados: a) distãncia de zeragem; b) altura do aparelho
de pontaria de pontaria (eixo do cano até o eixo da luneta ou da massa de mira ou do
centro do red dot); c) clicagem / luneta (1/4 de MOA ou 0,1 mRad); e d) passo de
raiamento (em razão do spin drift / desvio lateral a maiores distâncias). Por fim, no
quesito do ambiente, os dados são: a) temperatura, pressão e umidade (definem a
densidade do ar); b) vento (direção e velocidade); c) distância do tiro; d) ângulo do tiro;
e) latitude (para considerar o efeito coriolis); f) direção do disparo; g) movimento do
alvo; e h) condições na zeragem e atuais.
Após o lançamento dos dados e geração da tabela balística, deve o atirador
comparar os resultados indicados pelo program com aqueles obtidos durantes testes
de tiro, refazendo ou não a tabela.
Página inicial do app Lapua Ballistics Após escolher o armamento ou
para celular editar um novo modelo, o atirador
inicia o preenchimento indicando o
passo de raiamento em polegadas,
a distância do eixo do cano para o
eixo do sistema de pontaria e
quanto representa cada clique no
sistema de pontaria (1/4 de MOA
ou 0,1 mRad)
Na seção Reticle, é possível editar O app Lapua Ballistics permite
um modelo para a luneta que o escolher o cartucho ou o projétil
atirador irá utilizar, indicando o que será utilizado no armamento
numero de linhas e a unidade de dentre as opções pré cadastradas
medida, para fins de compensação pelo fabricante (o que garante um
tática na hora dos disparos melhor aproveitamento dos dados)
ou fazer uma customização
indicando o modelo (G1 ou G7), CB
e massa do projétil
O dado a ser indicado em Sight-in Seleção ou não da aplicação do
VO é a velocidade inicial do projétil efeito coriolis, bem como da
aferida no armamento que o variação da temperatura do
atirador irá utilizar. O app permite a propelente (maior temperatura
utilização do GPS do celular para gera maior velocidade inicial),
preenchimento dos dados podendo ser indicadas velocidades
ambientais a partir de site de conforme variações de
meteorologia temperaturas (atirador deve ter
feito essas medições previamente),
além da incidência do spin drift
(desvio lateral pela rotação do
projétil)
Após salvar, o app irá retornar para Clicando nas três linhas no canto
a página inicial, já com os dados superior esquerdo, abrirá um
indicados anteriormente. menu, onde as três opções da
calculadora devem estar
selecionadas.
Para o uso do app, o atirador É possível fazer a indicação e ajuste
indicará a distância do disparo do cantonamento do armamento,
(p.ex.: 250m), a velocidade quando é necessário fazer a
(conhecida ou estimada) e a direção inclinação da arma para o disparo
(p.ex.: 3h) do vento e o ângulo do
disparo. O app irá indicar a
quantidade de cliques necessários
para o ajuste de altura e
lateralidade
O clique na janela dos ajudes irá A segunda tela do app é para ajuste
expandir as informações da temperatura
apresentadas para melhor
visualização, indicando os valores
em MOA e mRad
A terceira tela do app é para ajuste A quarta tela do app é para ajuste
do efeito coriolis, usando a da direção e velocidade da
localização de GPS do celular, e movimentação do alvo
adireção do tiro
A quinta tela do app serve para A segunda tela abaixo é importante
resumir e alterar as informações por que demonstra a compensação
lançadas até então tática, indicando no retículo o novo
ponto de visada após alterar a
distância do tiro
A terceira tela abaixo permite a A quarta tela abaixo permite a
comparação dos dados de até três demonstração do point-blank range
configurações de armamentos, a partir da indicação do zero do
indicando os valores de queda e armamento e do tamanho da zona
lateralidade, sendo possível vital a ser atingida, podendo ser
exportas os dados ajustado o zero para o MRD (most
recommended distance), ou seja, a
distância mais recomendada para a
zeragem do armamento (p.ex.:
zeragem a 200m com zona vital de
10cm, não atingirá a zona vital
entre 70m a 150m, retornando a
atingir até 230m aproximadamente)
A quinta e a sexta telas abaixo demonstram a trajetória do projétil e a
velocidade respectivamente
A penúltima tela abaixo permite a geração da tabela balística em si do conjunto
analisado, mostrando os desvios e outras informações destacadas como
distância de zeragem (sight-in range), o valor máximo de altura (max ord), a
distância do tiro (shooting range) e o ponto que a velocidade passou a ser
subsônica (subsonic point)
A ultima tela abaixo mostra o alcance
máximo do conjunto a 28° e nas
condições indicadas

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