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Tenho Sede

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TENHO SEDE,

MINHA ALMA TEM DE SEDE DE DEUS" (SI 62,2)

"Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo" (SI 41,3).
Todos nós temos sede de Deus, do Deus vivo, que dá sentido à nossa vida. Só
em Deus a aridez da nossa existência pode ser transformada e nossa sede saciada.
Todos nós temos carencias que, se não forem cuidadas, podem comprometer a
qualidade da nossa vida e missão. O enigma da esfinge diz: "Decifra-me ou te devoro".
E preciso decifrar nossa sede e conhecer nossos desejos. E preciso lidar com a sede e
os desejos da nossa alma, que se manifestam na afetividade e sexualidade, na busca
pelo poder e pelo dinheiro, na autoafimação para ser reconhecido. Sede e desejos que
exercem força sobre nós. Cuidar dos nossos desejos ou procurar saciar nossa sede é
um exercicio, um aprendizado para ir a fonte buscar a água verdadeira que restaura
nossas forças, torna fecunda a aridez do nosso coração e nos devolve ao eixo da vida
que é Deus. O problema é que, não raramente,
buscamos saciar nossa sede na fonte errada. O profeta Jeremias diz: "Meu povo trocou
a sua Glória pelo que não vale nada. Espantai-vos disso, ó céus, horrorizai-vos e abalai-
vos profundamente - oráculo do Senhor. Porgue meu povo me abandonou, a fonte da
água viva, para cavar cisternas, cisternas furadas, que não podem conter água" (cf. Jr
2.11-13). Será que estamos "cavando cisternas furadas"?- Sem um processo contínuo
de conversão e de fé, não há esperança de um futuro para nós. E necessário descer ao
profundo de nós mesmos e beber na fonte que é Deus em nós. Mudar de vida é uma
necessidade que se nos impõe para nos conformar a Jesus Cristo. Onde buscamos
saciar essa nossa sede'? Deixem0-nos iluminar pelo encontro de Jesus com a
samaritana. O texto de João 4,1-42 traz alguns aspectos que nos tocam a todos:

1. "Jesus deixou a Judéia e retornou à Galiléia. Era preciso passar pela Samaria" (4,3-4).
O retorno à Galiléia nos remete a Jesus que realiza a sua missão no meio dos pobres e
tem preferência por eles. Nós, redentoristas, precisamos sempre retornar "à Galiléia"
se queremos ser fiéis ao nosso carismae espiritualidade (CC. 1.3.4.5). Seria mesmo
"preciso passar pela Samaria"? A resposta a esta pergunta fica por conta da
criatividade teológica de cada um de nós. No entanto, havia a possibilidade de ir pelo
caminho que passa pela 1Transjordânia, mais longo e que evitava o contato com os
samaritanos. O caminho mais curto e seguro era o da
Samaria. Ao escolher passar pela Samaria, Jesus indica que a sua presença e missão de
salvação deve romper barreiras e alcançar a todos. Jesus é portador da ação salvífica
do Pai Misericordioso que está sempre à procura do homem: Quando ouviram a voz
do Senhor Deus, que andava pelo jardim à brisa da tarde, o homemeamulher
esconderam-se da face do Senhor Deus, por entre as árvores do jardim. Mas o Senhor
Deus chamou o homem e disse-lhe: 'Onde estás?" (Gn 3,8-9). Desde aquele momento
até hoje, Deus Misericordioso vem ao encontro do homem e chama-0: "Onde estás?"
Jesus mesmo disse que veio ao mundo para chamar os pecadores e procurar o que
estava perdido (cf. Mt 9,13; Lc 19,10). Os redentoristas precisam escolher o caminho
mais curto e seguro que Ihes garante ser fiéis à razão de ser da própria Congregação:
"Evangelizar os homens mais abandonados, especialmente os pobres". Este caminho
leva à realidade "dos feridos, cansados e abatidos" que necessitam saciar a sede de
vida e salvação (CC. 14.15.16). Estamos ouvindo a voz do Senhor que nos chamae nos
envia? Ou, com medo, nos escondemos do Senhor e fazemo-nos de surdos à voz do
Senhor e ao clamor dos feridos? Onde nos escondemos? - Onde é "Samaria" para nós,
hoje?

2. “Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta do meio-dia"
(4.6). A fadiga/cansaço que Jesus sentia era por causa da longa caminhada, por tanta
gente atendida, por tantos pobres, pelo sofrimento de muitos, pela resistência dos
chefes do povo que não se convertiam e não acreditavam no Reino de Deus que
chegou, pelos discípulos que eram lentos para entender a proposta do Reino de Deus..
E nós? Estamos fatigados/cansados? Em que consiste o nosso cansaço?
- Senhor, que no meu cansaço outros encontrem descanso..”
" Jesus sentou-se... Aqui, não é 'sentar-se como um mestre e nem é 'sentar-se
evocando a realeza ou a glória de estar à direita de Deus. Aqui, Jesus sentou-se para
descansar e para pedir. Não é só o homem que é mendigo de Deus. Em Jesus, Deus
também se apresenta como mendigo do homem. Este é um icone a desvelar no nosso
coração. Simone Weil desenhava-o assim: 'Deus espera como um mendigo [..], imóvel
e silencioso, diante de qualquer um que Ihe estenda um bocado de pão. O tempo é a
espera de Deus que mendiga o nosso amor" (Cardeal Tolentino). Em Jesus, Deus
Misericordioso quer compartilhar da vida do homem para saciar sua sede e fome e
dar-lhe descanso (cf. Ap 3,19-20; Mt 11,28). E nós? Estamos sentados onde? Por que e
para que? Acomodados e satisfeitos? Sentados como príncipes no presbitério?
Sentados numa sala como empresários? Sentados para acolher, ouvir, aconselhar,
orientar e dialogar? Levantamo-nos para servir ou preferimos permanecer sentados
para ser servidos? (cf. Jo 13,1.4-5.12-15.17). “Era por volta do meio-dia.” O Cardeal
Tolentino comenta que “só compreendemos verdadeiramente o diálogo de Jesus com
a samaritana – e conosco- se tivermos diante dos olhos o dom sem limites que Jesus
faz de si na cruz. Em ambas as situações, no poço de Jacó (cf. Jo 4,6) e no tribunal de
Pilatos (cf. Jo 19,13-14), Jesus está sentado e o sol marca o meio-dia, a hora sexta. E a
hora central do dia, o ponto que determina à passagem de uma parte a outra da
jornada. O meio do tempo assinalando um antese um depois. O meio do caminho ou a
encruzilhada da vida. Não apenas a indicação de uma mudança cronológica, mas a
figuração da passagem que Jesus protagoniza e inscreve em nós. Ele que nos leva do
tempo da história ao tempo da salvação. Por isso, mesmo que o relógio marque outras
horas, muitas vezes na nossa vida é meio-dia. O instante exato que agora estamos é
meio-dia. Sempre que acedemos ao convite para uma Viagem interior é meio-dia.
Sempre que nascemos e renascemos no encontro com a Palavra é meio-dia. Sempre
que nos dispomos à escuta profunda da nossa sede é meio-dia. Sempre que nos
abeiramos da fonte em silencio e esperança, sem mais. No entusiasmo do riso ou no
desamparo de tantas noites e lágrimas, quando sentimos estar descendo uma íngreme
escada sem corrimão: pode ser meio-dia.
Na tarefa que nos obsidia e absorve e na pausa que nos devolve a nós mesmos: pode
ser meio-dia. Nos gestos e para lá dos gestos. Sempre que deixamos que Jesus nos
dessedente, é certamente meio-dia.” - Você tem acolhido a "hora de Deus" na sua
vida e tem percebido, com sabedoria, o momento de fazer a travessia para a outra
margem", para outra etapa da sua vida e missão? Que sede é esta que não deixa você
acolher com alegria e gratidão "a hora de Deus? Desapego. Disponibilidade. Liberdade
interior.
3. Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe disse: Dá-me de beber!'
Diz-lhe, então a samaritana: Como, sendo judeu, tu me pedes de beber,a mim que sou
samaritana?" Jesus lhe respondeu: 'Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te
diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva.- Jesus sentado à
beira daquele poço, percebe no gesto rotineiro da mulher a urgência de aproximar de
um outro poço: o coração humano sedento de "água viva, o dom de Deus". Somente
Jesus pode fazer-nos “descer para beber no próprio poço". A iniciativa de Jesus
promove um encontro através do diálogo que expõe a sede. Trata-se do amor de Deus
à procura do ser humano sedento e ferido. Para saciar a sede da pessoa, ele pede de
beber. A delicadeza de Deus que é Amor,manifesta-se na carência e fragilidade de
"Jesus que se fez servo obediente até a morte de cruz, assumindo nossos pecados para
saciar nossa sede e curar nossas feridas" (cf. Fp 2,6-11; Hb 4,14-16; Mt 8,16-17). Ao
pedir de beber, Jesus manifesta o desejo de beber, isto é, compartilhar da nossa
história sedenta de redenção. Ele quer visitar as profundezas do nosso ser e curar
nossas feridas. Deus sabe onde existencialmente estamos e sempre vem ao nosso
encontro. Deus quer fazer-nos beber do dom - da graça - dele que está dentro de nós e
que jorra, isto é, nos leva para a vida eterna. Jesus nos leva a fazer essa experiência da
graça de Deus que age poderosamente desde o profundo de nós mesmos. Jesus nos
liberta do engano de "cavar cisternas que não podem dar água para saciar nossa sede"
(cf. Jr 2,13).

4. "Ela disse: “Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde,
pois, tiras essa água viva? Es, porventura, maior que nosso pai Jacó, que nos deu esse
poço... ?” - A mulher samaritana estava tão acostumada com a sua vida e condição que
não tinha outra perspectiva faltava-lhe um horizonte que lhe desse novo sentido e
esperança de vida. É trágica a vida de uma alma acostumada! A samaritana resistia a si
mesma e preferia o autoengano. Criava obstáculos e desculpas para impedir que o
outro entrasse na sua vida: "Nāo tens vasilha e o poço é profundo, isto é, não tem
jeito! Uma pessoa arraigada nos seus costumes tem dificuldade para abrir-se ao novo,
perde a capacidade de maravilhar-se diante do inédito e do mistério: "Es, porventura,
maior que nosso pai Jacó? Diante dela estava alguém que é maior que Jacó, maior que
Jonas e Salomão, maior que João Batista, mas ela ainda não havia aberto o coração e
os olhos. Do mesmo jeito daquela mulher - comenta o cardeal Tolentino - "também
nós desconfiamos das possibilidades de Deus. E esse é o verdadeiro problema. Não é
não acreditarmos que Deus é o Senhor da história: é duvidarmos que Deus seja o
Senhor da nossa história e, por isso, possa recriar nosso mundo interior e reconfigurar
nossa existência."

5. Jesus não se dá por vencido. Deus nos ama com amor eterno e não desiste de nós.
Por isso, Jesus insiste que ele, somente ele, é capaz de saciar a sede mais profunda do
ser humano com uma água que jorra para a vida eterna." A mulher fica entusiasmada
com a possibilidade de não sentir mais sede e de não ter mais que buscar água no
poço de Jacó. Jesus, porém, é desconcertante! Quem quiser saciar a sede com o dom
de Deus, tem que fazer a experiência de converter-se, descendo ao mais profundo do
próprio poço, isto é, do coração, para encarar a verdade de Si mesmo e reconhecer
seus limites e pecados. Não é livre quem cultua ídolos e anda atrás de *outros amores"
para saciar sua sede ou preencher o vazio existencial: "(...), pois tivestes cinco maridos
e o que agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade." Diante da verdade de si
mesma, a mulher abre-se à conversão e começa um caminho de fé, isto é, de
conhecimento e adesão a Jesus.
Primeiro, ela o reconhece como um profeta (v. 19). Jesus insiste para que ela creia e se
abra para "adorar em espirito e verdade" (vv. 21-24). No segundo momento ela
expressa sua esperança na vinda de um Messias (v. 25). No terceiro passo é que Jesus
se revela, pois a iniciativa é sempre de Deus que ama primeiro (v. 26). A samaritana
rendeu-se ao amor de Deuse "deixou seu cântaro", numa referência a sua conversão e
pôs-se a caminho para anunciar a todos a alegre notícia de ter sido encontrada pelo
Cristo (vv. 28-30). Tocada pelo amor que liberta e salva, ela se deixa mover pela fé para
testemunhar Jesus Cristo. A alegria do evangelho despertao desejo de encontrar Jesus,
aquele que é capaz de saciar a sede mais profunda do ser humano. Nós que fomos
alcançados por Cristo e bebemos na fonte do evangelho, temos a missão de anunciar e
testemunhar, a todas as pessoas, que encontramos o Senhor, aquele que dá um
sentido novo à nossa vida (cf. Mt 28,18- 20; Jo 1,14; 1Jo 1,1-3; Rm 10,17; 1Cor 9,16; Jo
4,39-40). "Muitos creram por causa da palavra e do testemunho da mulher" (vv. 39-
40), o que indica a urgência de ter missionários convictos da fé que professam e
disponíveis para anunciar e testemunhar o evangelho de Jesus Cristo (cf. C. 20). E
fundamental que cada um faça o seu encontro pessoal com Jesus Cristo mediante a fé
e a escuta da Palavra, para que seja um autêntico mensageiro da salvação que vem
através de Jesus:
"Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à
mulher: Já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e
sabemos que esse é verdadeiramente o Salvador do mundo" (vv. 41-42).

"A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que 'não se
começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro
com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com
isso, um na orientação decisiva" (DA 12). Portanto, "conhecer a Jesus Cristo pela fé é
nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa
que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher" (DA 18).
Rezemos com Santo Afonso: "Senhor, não quero viver senão para querer-te. De
que me vale a vida e de que me serve ganhar o mundo todo se perco essa
oportunidade de amar-te? Que poderei amar fora de ti, amado Redentor, tu que
entregaste a vida por mim Quero viver somente para corresponder a teu amor.
Quando eu ouvir falar em presépio, cruz, eucaristia, que teu Espírito vivificador suscite
em meu coração um imenso desejo de fazer grandes coisas por ti. Amém.
ÒMaria, Mãe de Deus e nossa mãe, tu foste a rainha dos santos, a alegria dos
Justos e a esperança de nossos antepassados. Dá-nos a beber da água viva que brota
de ti por obra do Espírito Santo para a salvação do mundo. Maria, causa de nossa
alegria, roga por todos nós. Amém". (Visitas ao Santíssimo Sacramento)

Pe. Fábio Bento da Costa, C.Ss.R.


- José Tolentino Mendonça - Elogio da Sede, Paulinas

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