Seguranca Do Paciente Na Assistencia Farmaceutica
Seguranca Do Paciente Na Assistencia Farmaceutica
Seguranca Do Paciente Na Assistencia Farmaceutica
Sumário
Módulo 1 – Escopo da assistência farmacêutica .............................................................. 2
1.1 Contextualizando a assistência farmacêutica ......................................................... 2
1.2 O ciclo da assistência farmacêutica ........................................................................ 5
Módulo 2 – A segurança do paciente e a assistência farmacêutica................................. 6
2.1 Interfaces da assistência farmacêutica e segurança do paciente .......................... 6
2.2 Panorama de eventos adversos relacionados a medicamentos em hospitais ..... 18
2.3 Diretrizes da assistência farmacêutica ................................................................. 21
Módulo 3 – Estratégias para aumentar a segurança na assistência farmacêutica ........ 23
3.1 Farmacovigilância ................................................................................................. 23
3.1.1 Planejamento ..................................................................................................... 25
3.1.2 Execução ............................................................................................................ 26
3.1.3 Monitoramento ................................................................................................. 32
3.1.4 Vigilância ............................................................................................................ 33
3.2 Estratégias para uso seguro de medicamentos .................................................... 34
3.3 Como distinguir e manejar situações de risco ao paciente? ................................ 37
3.4 Como manejar medicamentos potencialmente perigosos? Priorizando ações ... 38
Módulo 4 – Atuação multiprofissional na assistência farmacêutica.............................. 44
4.1 O papel da equipe multiprofissional na assistência farmacêutica ....................... 44
4.2 Ferramentas para uma prática segura multidisciplinar (prescritor, farmácia,
enfermagem, nutrição, fisioterapia...) ........................................................................ 46
Módulo 5 – Sistematização ............................................................................................ 48
5.1 Resumo do curso .................................................................................................. 48
Referências ..................................................................................................................... 49
Módulo 1 – Escopo da assistência farmacêutica
1.1 Contextualizando a assistência farmacêutica
RESUMINDO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos
acontece quando nossos pacientes recebem os medicamentos que necessitam
clinicamente, em doses ajustadas às individualidades, por um período de tempo
adequado e com custo reduzido tanto para o paciente quanto para a comunidade
(OMS, 1987).
Para entendermos melhor a importância do uso racional dos medicamentos para
a segurança do paciente, mergulharemos no mundo da assistência farmacêutica.
Conheça o ciclo logístico completo da assistência farmacêutica (REMONDI e
GROCHOCKI, 2015).
Assistência Farmacêutica
A assistência farmacêutica nada mais é que todo o conjunto de ações que são
necessárias para promover, proteger e recuperar a saúde de um indivíduo ou de
um coletivo e, para isso, neste momento, vamos olhar para o medicamento como
a peça fundamental desse quebra-cabeça (OPAS; OMS, 2015; BRASIL, 2014).
O nosso objetivo é que o paciente faça uso do medicamento que ele precisa e de
forma correta. O medicamento é a peça estratégica nesse processo, e, assim, é
necessário entender todas as etapas da assistência farmacêutica até alcançarmos
esse resultado (BRASIL, 2004). Essas etapas são conhecidas como o ciclo da
assistência farmacêutica, que consiste na reunião dos processos necessários para
que o medicamento chegue ao paciente com qualidade e segurança (BRASIL, 2010;
LEITE et al., 2016).
Desperte as ideias! Tente imaginar tudo que o profissional de saúde deve fazer
para que o medicamento chegue ao paciente de forma segura para o uso!
Gestão de estoque
A gestão de estoque influencia a boa prática da assistência farmacêutica.
Profissionais que praticam a prescrição e a administração de medicamentos são
fundamentais no auxílio do controle. E sabe por quê? Pois os registros relacionados ao
uso de medicamentos são fundamentais: é através do fluxo de abastecimento e do
consumo que é possível realizar o planejamento do estoque. Se eu não sei o que está
sendo consumido, como posso saber que estou precisando? (CONASS, 2011; PEREIRA,
2016; DIEHL et al., 2016)
Ou seja, na prática, funciona da seguinte forma: quando não é feito um registro
ou ele é feito de forma incorreta ou ainda quando são realizadas “reservas” de estoque
na unidade, dificulta reconhecer o real consumo de uma instituição ou de uma
unidade específica, interferindo diretamente na programação de compra. Isso serve
para qualquer item de consumo. Qual o resultado disso? Sabe aquelas faltas? Pois é,
quando um serviço de abastecimento não recebe essas informações, não há como
prever o consumo e o perfil de uso dos medicamentos, resultando nas faltas ou até
mesmo em problemas de distribuição, como processos burocráticos ou morosidade
no acesso ao produto (PEREIRA, 2016; DIEHL et al., 2016).
Novamente, estamos falando em risco de faltas e problemas relacionados à
programação de compras. Agora você consegue ver como é sensível e interdependente
de processos para que um serviço consiga manter seu estoque de forma racional, capaz
de fornecer os medicamentos, mas sem causar prejuízos (PEREIRA, 2016).
Protocolos clínicos e esquemas terapêuticos padronizados
Além dos registros, as instituições contam com protocolos clínicos e esquemas
terapêuticos padronizados. Esses documentos auxiliam tanto na melhor efetividade do
tratamento – afinal, foram elaborados através de estudos epidemiológicos e baseados
em evidências científicas -, como também orientam os serviços de abastecimento na
programação e aquisição de itens. O objetivo de seguir diretrizes e protocolos é realizar
o uso racional de tecnologias, incluindo medicamentos, sempre priorizando o melhor
cuidado ao paciente (PEREIRA, 2016; BRASIL, 2016; CONITEC, 2020).
Solicitação e aquisição
Quando você está a serviço de uma instituição de saúde, é muito importante
compreender os mecanismos de como ela organiza, por exemplo, os fluxos de
solicitações, que interferem diretamente na aquisição de produtos. A aquisição de
medicamentos pode acontecer de formas diferentes e isso influencia não somente em
como programar o estoque e o seu consumo na instituição, mas também em como você
programa o seu dia a dia com a terapêutica dos pacientes (PEREIRA, 2016; DIEHL et al.,
2016).
Procure saber como funciona, em seu serviço, o processo de solicitação, pois,
dependendo do processo de compra e o local em que a instituição se localiza, o
medicamento pode levar mais tempo até chegar ao abastecimento. Lembre-se também
que processos de compra imediatas ou urgentes acabam sendo dispendiosos e menos
vantajosos financeiramente e, por isso, é muito importante a organização, a
padronização e a integração de toda a equipe no planejamento de uso dos
medicamentos (CONASS, 2011; PEREIRA, 2016; DIEHL et al., 2016).
Interferem no planejamento: se os estoques não estão nos locais corretos, não há como
prever financiamento nem realizar uma boa gestão de estoque, o que geralmente
acarreta faltas de medicamentos ou mesmo desperdícios (VALERY, 1989; PINTO, 2016).
Uma reflexão importante é que nem todo erro gera dano, porém igualmente resulta
em aumento de custos para o sistema de saúde. São muitos os estudos sobre erros
nos processos relacionados aos medicamentos, alguns preocupados em avaliar danos,
outros apenas em levantar dados de erros, porém são apresentados de forma
segregada e, por vezes, com dados coletados com metodologia inadequada (KEERS et
al., 2013; WALSH et al., 2017; ASSIRI et al., 2018).
A OMS coloca que os erros relacionados aos medicamentos são uma das
principais causas de danos que podemos prevenir nos sistemas de saúde. Também
refere que há grande discrepância na segurança relacionada ao uso de medicamentos
entre países de alta, média e baixa renda (OMS, 2017).
É sabido que os erros relacionados a medicamentos estão mais presentes em
situações de maior complexidade clínica e tecnológica, como no caso de pacientes
internados em hospitais, que correm maior risco do que pacientes ambulatoriais (OMS,
2017).
Os principais fatores relacionados a erros de medicamentos são:
Além disso, os processos de prescrição, transcrição, dispensação,
administração e monitoramento são considerados críticos, sendo
que a administração de medicamentos é a etapa que apresenta
maior frequência de erros (KEERS et al., 2013; OMS, 2017).
Quando você identifica, avalia e atua sobre um problema que seu paciente
apresente relacionado ao uso de um medicamento, você contribui para a
segurança e para e efetividade do tratamento. Isso também é usar racionalmente
um medicamento (OPAS, 2011; SBRAFH 2017).
O que isso significa? Que todos nossos reportes de reações adversas são
analisados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e também enviados para um
banco mundial de dados de reações adversas. O Brasil está, dessa forma, contribuindo
mundialmente, junto com outros 130 países, para o melhor conhecimento sobre as
reações que os medicamentos causam, tornando mais rápidas as respostas diante de
situações de alerta. Em 2018, somaram-se 16,8 milhões de notificações de reações
adversas (ANVISA, 2017; UMC, 2018).
3.1.1 Planejamento
3.1.2 Execução
Peso, idade, sexo e breve histórico clínico - Peso, idade, sexo e breve histórico clínico
(quando pertinente). A identificação do paciente é necessária nos casos de investigação
de eventos adversos e reações adversas, assim é possível acompanhar a evolução do
caso.
Natureza, localização e intensidade - Natureza, localização e intensidade, data de início
dos sinais e sintomas, evolução e desfecho, estado de saúde antes da administração do
medicamento, comorbidades e antecedentes familiares relevantes.
Medicamento suspeito - Incluir o medicamento suspeito e todos os demais
medicamentos utilizados pelo paciente, incluindo automedicação: nomes, doses, via de
administração e datas de início e término do uso. Assim, além de investigar a possível
causa, também se avaliam interações medicamentosas, por exemplo.
Dados complementares - Dados complementares para a notificação, como fatores de
risco, diagnóstico, evolução clínica, exames laboratoriais, informações sobre a
suspensão ou reexposição ao medicamento suspeito.
É uma ferramenta que busca por eventos adversos por meio de “gatilhos”
baseados em pontos de prevalência amostrais que indicam uma possível
ocorrência que deve ser investigada. A ferramenta foi desenvolvida para
identificar eventos adversos relacionados a assistência à saúde, porém sua
aplicação também permite avaliar o uso de medicamentos (GRIFFIN; RESAR,
2009; ROZICH et al., 2003).
Terceiro passo - O passo três somente será coletado se for identificado algum dano em
potencial no passo dois. Nesse momento, uma equipe é necessária para avaliar o evento
adverso, sendo composta por um enfermeiro, um farmacêutico e um médico. O dano é
classificado, a condução do incidente é realizada e as medidas cabíveis, tomadas.
3.1.3 Monitoramento
3.1.4 Vigilância
Vigilância
É importante sempre iniciar a estruturação de acordo com uma priorização, seja ela
de riscos de danos ou do público atendido de acordo com a frequência
(hipertensos, renais crônicos, insuficiência cardíaca, oncologia, etc.). Isso
demonstra a importância de avaliar o público-alvo antes de desenvolver métodos
informatizados com esse objetivo (IRIZARRY et al., 2015).
Atividade reflexiva
Confira abaixo a relação das situações abaixo com as suas respectivas classificações.
A partir disso, é necessário avaliar também quais são os maiores fatores de risco
para eventos adversos. Pacientes hospitalares, crianças e idosos, pacientes com injúria
renal e/ou hepática têm elevadas chances de serem envolvidos em eventos adversos.
Doses e vias erradas e falhas no cumprimento da terapêutica são situações esperadas
nesses casos, o que direciona para trabalhos em planos de prevenção para essa
população (OMS, 2017).
Antitrombóticos:
Anticoagulantes (ex.: varfarina, heparina não fracionada e heparinas de baixo peso
molecular) Anticoagulantes orais diretos e inibidores do fator Xa (ex.: dabigatrana,
rivaroxabana, apixabana, edoxabana, fondaparinux)
Inibidores diretos da trombina (ex.: dabigatrana)
Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa (ex.: tirofibana)
Trombolíticos (ex.: alteplase, tenecteplase, estreptoquinase)
CLASSES TERAPÊUTICAS
Sedativos de uso oral de ação mínima ou moderada, para crianças (ex.: midazolam,
cetamina - forma parenteral)
Soluções cardioplégicas
MEDICAMENTOS ESPECÍFICOS
EPINEFrina subcutânea
Ocitocina endovenosa
Prometazina injetável
As etapas que compõem o ciclo devem seguir uma sequência lógica para
atendermos à demanda solicitada. Como foi apresentado anteriormente, há uma
interrelação entre:
Ações dos profissionais da saúde que estão presentes no dia a dia de trabalho
impactam diretamente no bom funcionamento das etapas do ciclo, mesmo elas
acontecendo em setores específicos, como a farmácia hospitalar (OPAS; OMS, 2015).
4.2 Ferramentas para uma prática segura multidisciplinar (prescritor, farmácia,
enfermagem, nutrição, fisioterapia...)
Quando falamos em fatores para adesão, eles são muitos, mas, por exemplo, um
comprimido que seja muito grande para deglutição já reduz a chance do paciente
ser aderente ao tratamento.
Módulo 5 – Sistematização
5.1 Resumo do curso
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGIL NCIA SANITÁRIA (Brasil). Assistência Segura: Uma Reflexão
Teórica Aplicada à Prática. Brasília, DF, 2017.
ASSIRI, G. A.; SHEBL, N. A.; MAHMOUD, M. A.; ALOUDAH, N.; GRANT, E.; ALJADHEY, H.;
SHEIKH, A. What is the epidemiology of medication errors, error-related adverse events
and risk factors for errors in adults managed in community care contexts? A systematic
review of the international literature. BMJ Open, v. 8, n. 5, e019101, 2018.
BERGER, Z.; FLICKINGER, T. E.; PFOH, E.; , MARTINEZ, K. A.; DY, S. M. Promoting
engagement by patients and families to reduce adverse events in acute care settings: a
systematic review. BMJ Qual Saf, v. 23, n.7, p. 548-55, 2014.
DAVIS, R. E.; SEVDALIS, N.; VINCENT, C. A. Patient involvement in patient safety: the
health-care professional's perspective. J Patient Saf, v. 8, n. 4, p.182-8, 2012.
DOS REIS, M. A. S.; GABRIEL, C. S.; ZANETTI, A. C. B.; BERNARDES, A.; LAUS, A. M.;
PEREIRA, L. R. L. Medicamentos potencialmente perigosos: identificação de riscos e
barreiras de prevenção de erros em terapia intensiva. Texto Contexto Enferm, v. 27, n.
2, e5710016, 2018.
GRIFFIN, F.A.; RESAR, R.K. IHI Global Trigger Tool for Measuring Adverse Events. IHI
Innovation Series white paper. Massachusetts, 2ª ed., 2009.
IRIZARRY, T.; DEVITO DABBS, A.; CURRAN, C. R. Patient Portals and Patient Engagement:
A State of the Science Review. J Med Internet Res, v. 17, n. 6, e148, 2015.
KIM, J. M., SUAREZ-CUERVO, C.; BERGER, Z. et al. Evaluation of Patient and Family
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2018.
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LEITE, N. S.; SOARES L.; MENDES S. J.; VILVERT, A. F.; SCHNEIDER, L. M. C. Assistência
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