Artigo 1 - Importância Das Funções Na Engenharia

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MATEMÁTICA NA ENGENHARIA: funções e modelos em telecomunicações

Conference Paper · November 2018

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Cristiane Ruiz Gomes Andréia V. R. Lopes


Federal University of Pará Pontificia Universidad Católica de Valparaíso
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MATEMÁTICA NA ENGENHARIA: funções e modelos em
telecomunicações

Andreia Vanessa Rodrigues Lopes1


Cristiane Ruiz Gomes2

RESUMO

A Matemática com seu poder de síntese e lógica, tornou-se um instrumento necessário na


formulação e compreensão dos conhecimentos físicos envolvidos nas mais diversas áreas.
Sua multiplicidade de atributos que vão desde o desenvolvimento do raciocínio lógico de
uma pessoa até à compreensão de estruturas abstratas permeiam a fundamentação de
diversas áreas do conhecimento. Este trabalho pretende explanar de forma breve sucinta
como a matemática é essencial e imprescindível para a educação e formação profissional
em engenharia, abordando a desde a base até os modelos matemáticos que são
fundamentais na área de telecomunicações. Funções básicas e funções especiais são
abordadas e onde são usadas no cotidiano de um aluno de engenharia. São abordados
dois modelos matemáticos empíricos de rádio propagação, um para TV Digital e outro para
propagação dentro de ambientes internos e que podem servir de base para os estudos da
nova tecnologia de Redes Móveis – 5G.

Palavras-chave: Funções. Modelo Matemático. Telecomunicações. TV Digital. 5G.

INTRODUÇÃO

A matemática é a linguagem da Ciência, por trás dessa afirmação está o


entendimento de que os diversos e variados problemas científicos e tecnológicos
necessitam, para serem adequadamente resolvidos, de uma formulação técnica na
qual a linguagem e os métodos matemáticos desempenham papel importante.
Parte da literatura e de pesquisa matemática está voltada à criação de métodos
que possam ser aplicados a um grande número de situações, e, muitos destes
podem ser utilizados nas mais diferentes áreas do conhecimento, uma vez que a

1
Universidade Federal do Pará – UFPA. E-mail: [email protected]
2
Universidade Federal do Pará – UFPA. E-mail: [email protected]
formulação dos problemas esteja numa linguagem matemática adequada
(OLIVEIRA e TYGEL, 2015).
A matemática permeia várias áreas do conhecimento, dentre elas a Física,
Química, Geologia, Biologia, Engenharias entre outras. Nestas últimas destacamos
neste trabalho aplicações da matemática nas telecomunicações.
A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, 2010) do Ministério do
Trabalho e Emprego, em sua terceira edição, define que a engenharia está situada
no grupo de ocupações cujas atividades principais requerem para seu
desempenho, conhecimentos profissionais de alto nível e experiência em
disciplinas como a Física, a Biologia, além de Ciências Sociais e Humanas. Dentre
suas atividades destacam-se: a de ampliar o acervo de conhecimentos científicos
e intelectuais por meio de pesquisas, aplicarem conceitos e teorias para solução de
problemas ou por meio da educação e ainda, assegurar a difusão sistemática
desses conhecimentos (MIRANDA e LAUDARES, 2011).
Entende-se que, de acordo com as competências e habilidades presentes
nas diretrizes curriculares, a Matemática torna-se indispensável na preparação do
Engenheiro para o trabalho com a tecnologia, auxiliando-o na compreensão da
realidade socioeconômica, política e cultural de seu tempo. A base da engenharia
é a Matemática e não seria possível a formação de um profissional sem sua
utilização como ferramenta de cálculos e como desenvolvimento de raciocínio
(MIRANDA e LAUDARES, 2011) (SIQUEIRA e FIRMINO, 2017).
Este trabalho apresenta, de forma breve, como os conceitos matemáticos
podem ser aplicados nas telecomunicações, desde suas funções básicas até as
mais específicas, mostrar alguns modelos matemáticos e por fim mostrar algumas
técnicas de otimização que utilizam conceitos matemáticos para aproximação de
valores ótimos para determinados coeficientes e/ou parâmetros em modelos de
radiopropagação.
Algumas funções base para a engenharia são mostradas na seção 2; as
funções especiais Gama e de Bessel e as séries de Fourier, são abordadas na
seção 3; dois modelos empíricos para a área de telecomunicação são apresentados
na seção 4 e a seção 5 conclui este trabalho.

FUNÇÕES APLICADAS A ENGENHARIA: Funções Básicas

2
Chamamos de função as expressões que buscam a associação do valor do
argumento 𝒙 a um único valor da função 𝒇(𝒙). Pode-se chamar essa função de
fórmula, relacionamento gráfico entre diagramas com a representação de dois
conjuntos, ou ainda com uma regra de associação. Onde 𝒙 é chamado de domínio
e 𝒇(𝒙) ou 𝒚 de imagem da função (LOPES, 1999).
Machado (1996) conceitua função como segue:
Quando duas grandezas x e y estão relacionadas de tal modo que para
cada valor de x fica determinado um único valor de y, dizemos que y é
uma função de x.
(MACHADO, 1996, p. 69)

Função Exponencial
Funções exponenciais tratam das funções que crescem ou decrescem muito
rapidamente, desempenhando papéis importantes na matemática, física, química e
outras áreas. São caracterizadas como uma extensão do processo de
potencialização para expoentes não inteiros (LOPES, 1999).
A função denominada exponencial possui relação de dependência e sua
principal característica é que a parte variável representada por 𝒙 se encontra no
expoente. A lei de formação de uma função exponencial indica que a base elevada
ao expoente 𝒙 precisa ser maior que 0 e diferente de 1, conforme a seguinte
notação (1).
𝒇: 𝑹 → 𝑹 𝒕𝒂𝒍 𝒒𝒖𝒆 𝒚 = 𝒂𝒙 , 𝒔𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒂 > 𝟏 𝒐𝒖 𝟎 < 𝒂 < 𝟏. (1)
A função exponencial de base 𝒂, 𝒇(𝒙) = 𝒂𝒙 , tem as seguintes propriedades:
 𝒇(𝒙) > 𝟎 para todo 𝒙 ∈ ℝ;
 𝒇(𝒙) é crescente se, e somente se, 𝒂 > 𝟏;
 𝒇(𝒙) é decrescente se, e semente se, 𝟎 < 𝒂 < 𝟏;
 𝒇(𝒙) é injetora;
 𝒇(𝒙) é ilimitada superiormente;
 𝒇(𝒙) é contínua;
 𝒇(𝒙) é sobrejetora;
 𝒇(𝒙) é bijetiva, isto é, possui uma função inversa chamada função
logarítmica 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙.
O gráfico de uma função exponencial permite o estudo de situações que se
enquadram em uma curva de crescimento ou decrescimento, sendo possível

3
analisar as quantidades relacionadas à curva. Em razão dessa propriedade, a
função exponencial é considerada uma importante ferramenta da Matemática,
abrangendo diversas situações cotidianas e contribuindo de forma satisfatória na
obtenção de resultados que exigem uma análise quantitativa e qualitativa. A Fig 1
mostra a curva de uma função exponencial crescente.

Fig. 1. Gráfico da função exponencial 𝒚 = 𝒙/𝟐 .

Funções exponenciais surgem na modelagem de inúmeros problemas, em


circuitos elétricos, reações químicas, desintegração radioativa, crescimento de
populações e outros.

Logaritmos e Função logarítmica


O conceito de logaritmo foi introduzido pelo matemático escocês John Napier
(1550-1617) e aperfeiçoado pelo inglês Henry Briggs (1561-1630). A descoberta
dos logaritmos deveu-se, sobretudo à grande necessidade de simplificar os
cálculos excessivamente trabalhosos para a época, principalmente na área da
astronomia, entre outras. O princípio dos logaritmos baseia-se no fato de algumas
operações serem mais acessíveis do que outras, assim, com a utilização dos
logaritmos podemos transformar multiplicações em somas, divisões em subtrações
e potências em multiplicações (LOPES, 1999). A ideia dos logaritmos é reverter à
operação de exponenciação, isto é, elevar um número a uma potência (EVES
2004).

4
Toda função definida por 𝒇(𝒙) = 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙, com 𝒂 > 𝟎 e 𝒂 ≠ 𝟏, sendo 𝒇: ℝ∗+ →
ℝ é denominada função logarítmica de base 𝒂. Neste tipo de função o domínio é
representado pelo conjunto dos números reais maiores que 0 e o contradomínio, o
conjunto dos reais. Alguns exemplos são mostrados em (2) até (5).
𝒇(𝒙) = 𝐥𝐨𝐠 𝟐 𝒙 (2)
𝒇(𝒙) = 𝐥𝐨𝐠 𝟏/𝟐 𝒙 (3)
𝒇(𝒙) = 𝐥𝐨𝐠 𝟏𝟎 𝒙 (4)
𝒇(𝒙) = 𝐥𝐨𝐠 𝟐 (𝒙 − 𝟏) (5)
Seja 𝒈: ℝ∗+ → ℝ, 𝒂 ∈ ℝ∗+ , com 𝒂 ≠ 𝟏. Temos 𝒙 → 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙 com as
principais propriedades:
 Se 𝒂 > 𝟏 então 𝒈 é estritamente crescente;
 Se 𝟎 < 𝒂 < 𝟏 então 𝒈 é estritamente decrescente;
 Sejam 𝒂 > 𝟏, 𝒙𝟏 , 𝒙𝟐 ∈ ℝ∗+ e supondo que 𝒙𝟏 < 𝒙𝟐 ; considerando
que (6) e (7).
𝒚𝟏 = 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟏 ↔ 𝒂𝒚𝟏 = 𝒙𝟏 (6)
𝒚𝟐 = 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟐 ↔ 𝒂𝒚𝟐 = 𝒙𝟐 (7)
Assim 𝒙𝟏 < 𝒙𝟐 e 𝒂𝒚𝟏 < 𝒂𝒚𝟐 . Como 𝒂 > 𝟏, segue-se que
𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟏 < 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟐 .
 Para 𝒂 > 𝟏, 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟏 < 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟐 → 𝒙𝟏 < 𝒙𝟐 ;
 Para 𝟎 < 𝒂 < 𝟏, 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟏 < 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙𝟐 → 𝒙𝟏 > 𝒙𝟐 ;
 Para 𝒂𝐥𝐨𝐠𝒂 𝒙 = 𝒙, para todo 𝒙 em ℝ+ ;
 Uma vez que 𝒂𝟎 = 𝟏, para todo 𝒂 então 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝟏 = 𝟎;
 Se 𝒚 = 𝐥𝐨𝐠 𝒂 𝒙 (𝒂 > 𝟎, 𝒂 ≠ 𝟏) então pode-se resolver na forma de (8)
a (10):
𝐥𝐨𝐠 𝒂 (𝑨𝑩) = 𝐥𝐨𝐠 𝒂 (𝑨) + 𝐥𝐨𝐠 𝒂 (𝑩) (8)
𝑨 (9)
𝐥𝐨𝐠 𝒂 ( ) = 𝐥𝐨𝐠 𝒂 (𝑨) − 𝐥𝐨𝐠 𝒂 (𝑩)
𝑩
𝐥𝐨𝐠 𝒂 (𝑨𝑷 ) = 𝒑 ∗ 𝐥𝐨𝐠 𝒂 (𝑨) (10)
A Fig 2, apresenta o gráfico da função logarítmica crescente 𝒛 = 𝒂 ∗ 𝒃 + 𝟏𝟎 ∗
𝐥𝐨𝐠 𝟏𝟎 (𝒙). Onde mostra a perda de um sinal qualquer em relação com a distância.

5
Fig. 2. Gráfico da função logarítmica 𝒛 = 𝒂 ∗ 𝒃 + 𝟏𝟎 ∗ 𝐥𝐨𝐠 𝟏𝟎 (𝒙).

Dentre as inúmeras formas de se empregar uma função logarítmica, esse


trabalho vem abordá-la na forma de modelos de propagação voltados para a área
de engenharia de telecomunicações.

Função Polinomial
Em matemática, função polinomial é uma função 𝑷 que pode ser expressa
por (11), onde 𝒏 é um número inteiro não negativo, as variáveis da função são
expressas por (12) e os números de (13) são constantes, chamadas de coeficientes
do polinômio (GUIDORIZZI, 2001).
𝒏
(11)
𝒏 𝒏−𝟏
𝑷(𝒙) = 𝒂𝒏 𝒙 + 𝒂𝒏−𝟏 𝒙 + ⋯ + 𝒂𝟏 𝒙 + 𝒂𝟎 𝒙 = ∑ 𝒂𝒊 𝒙𝒊
𝟏 𝟎

𝒊=𝟎

𝒂𝟎 , 𝒂𝟏 , … , 𝒂𝒏−𝟏 , 𝒂𝒏 (12)
𝒙𝒏 , 𝒙𝒏−𝟏 , … , 𝒙𝟏 , 𝒙𝟎 (13)
Cada função polinomial associa-se a um único polinômio, assim as funções
polinomiais também são chamadas de polinômios. As funções polinomiais podem
ser classificadas quanto ao seu grau, e o grau de uma função polinomial
corresponde ao valor do maior expoente 𝒏 da função 𝑷(𝒙) = ∑𝒏𝒊=𝟎 𝒂𝒊 𝒙𝒊 .
Sejam 𝒇(𝒙) e 𝒈(𝒙) polinômios de graus quaisquer, temos as seguintes leis:
 O grau de 𝒇(𝒙) ∗ 𝒈(𝒙) é a soma do grau de 𝒇(𝒙) e o grau de 𝒈(𝒙);

6
 Se 𝒇(𝒙) e 𝒈(𝒙) têm grau diferente, o grau de 𝒇(𝒙) + 𝒈(𝒙) é igual ao
maior dos dois;
 Se 𝒇(𝒙) e 𝒈(𝒙) têm o mesmo grau, o grau de 𝒇(𝒙) + 𝒈(𝒙) é menor ou
igual ao grau de 𝒇(𝒙);
 Quando 𝒏 = 𝟏 temos funções polinomiais de grau 1 ou funções afim.
Logo 𝑷(𝒙) = 𝒂𝟎 𝒙𝟎 + 𝒂𝟏 𝒙𝟏 = 𝒂𝟎 + 𝒂𝟏 𝒙 e se 𝒂𝟎 = 𝟎, a função é
chamada de função afim linear;
 Quando o maior expoente de 𝒏 = 𝟐, é definida como função
quadrática, seu gráfico é uma parábola e expressa por 𝒇(𝒙) = 𝒂𝒙𝟐 +
𝒃𝒙 + 𝒄;
 É nulo quando todos seus coeficientes forem iguais a 0 e é dita função
constante.

a) 𝒚 = 𝒙 + 𝟓 b) 𝒚 = 𝒙𝟐 + 𝟓

Fig. 3. Gráfico de funções polinomiais de grau 1 e grau 2.

A Fig 3 ilustra 2 gráficos de funções polinomiais, a) de uma função polinomial


de grau 1 e; b) uma função polinomial de grau 2.
Há na família dos polinômios, os polinômios chamados de Polinômios
Especiais, dentre eles estão os Polinômios de Bernstein, Polinômio de Laguerre,
de Newton, de Lagrange e Legendre.
Dentre os diversos usos de polinômios aplicados para engenharia estão o
cálculo de distâncias, cálculo de área e o cálculo do perímetro de figuras planas.

7
FUNÇÕES APLICADAS A ENGENHARIA: Funções Especiais
Nessa seção serão discutidas de forma breve algumas das chamadas funções
especiais da matemática. Em teoria, essas funções compreendem um ramo da
matemática de importância fundamental para cientistas e engenheiros realmente
envolvidos com cálculos matemáticos (OLIVEIRA e TYGEL, 2015).

Função Gama
Uma das mais simples e importantes funções especiais é a função gama, cuja
teoria é um pré-requisito para o estudo de muitas outras funções especiais, entre
elas as funções de Bessel. É uma extensão da função fatorial para o conjunto dos
números reais e complexos, com argumento subtraído em 1. (OLIVEIRA e TYGEL,
2015) (VILCHES, 2010).
Para 𝒙 > 𝟎, a função gama é comumente definida por (14). E esta integral
imprópria converge para todo 𝒙 > 𝟎, e converge uniformemente no intervalo 𝜹 ≤
𝒙 ≤ 𝑳, para quaisquer 𝜹 > 𝟎 e 𝑳 > ∞; portanto 𝚪(𝒙) é contínua para todo 𝒙 > 𝟎.

(14)
𝚪(𝒙) = ∫ 𝒕𝒙−𝟏 ∗ 𝒆−𝒕 𝒅𝒕
𝟎

Atenta-se que a função gama satisfaz a seguinte equação funcional (15) para
todo 𝒙 > 𝟎. E esta observação explica o porquê da função gama ser considerada
uma extensão do fatorial.
𝚪(𝒙 + 𝟏) = 𝒙 ∗ 𝚪(𝒙) (15)
Um exemplo da função gama e sua inversa é apresentado no gráfico da Fig
4.

Fig. 4. Gráfico da função Gama e sua inversa.

8
Função de Bessel
A função de Bessel foi definida pela primeira vez por Daniel Bernoulli e
generalizada por Friedrich Bessel. E são certas soluções da equação diferencial
linear de segunda ordem (16) (OLIVEIRA e TYGEL, 2015).
𝒙𝟐 𝒚′′ + 𝒙𝒚′ + (𝒙𝟐 − 𝒑𝟐 )𝒚 = 𝟎 (16)
Onde 𝒑 é um parâmetro e pode assumir qualquer valor complexo, porém, para
evitar a necessidade de utilização da teoria das funções de variáveis complexas,
restringimos então, os valores de 𝒑 aos reais.
Como a função de Bessel é obtida a partir da solução de uma equação
diferencial de 2ª ordem, esta deve possuir duas soluções linearmente
independentes (FIGUEIREDO, 1997). Neste caso, são denominadas funções de
Bessel de 1ª e de 2ª espécie, sendo a 2ª também conhecida como função de Bessel
Neumann.
O método de Frobenius aplicado à (16) para a construção de soluções da
forma de (17) e supondo ainda, que não há perda de generalidade, 𝒑 ≥ 𝟎, chega-
se a função de Bessel de primeira espécie de ordem 𝒑 em (18). Para 𝒑 = 𝟎.

(17)
𝒚(𝒙) = 𝒙 ∑ 𝒂𝒏 𝒙𝒏
𝒔

𝒏=𝟎

𝒙 𝒑 (−𝟏)𝒏 (𝒙⁄𝟐)𝟐𝒏 (18)
𝑱𝒑 (𝒙) = ( ) ∑
𝟐 𝒏! 𝚪(𝐩 + 𝐧 + 𝟏)
𝒏=𝟎

Se 𝒑 = 𝟎 ou se 𝒑 é um inteiro par, 𝑱𝒑 (𝒙) é uma função par, e que se 𝒑 é um


inteiro ímpar, 𝑱𝒑 (𝒙) é uma função ímpar. Por outro lado, se 𝒑 não é inteiro, em geral
𝑱𝒑 (𝒙) assume valores complexos quando 𝒙 < 𝟎.
Além disso, como os termos da série (18) são funções contínuas das variáveis
𝒙 e 𝒑, a convergência uniforme desta série em ambas as variáveis garante que
𝑱𝒑 (𝒙) depende continuamente de 𝒑 ou seja, uma função analítica de 𝒑.
A função em (19) é denominada função de Bessel de primeira espécie de
ordem −𝒑. Onde, se 𝒑 é um inteiro positivo, 𝒑 = 𝒎, os 𝒎 primeiros termos de (19)
se anulam reduzindo-se a (20) para 𝒎 = 𝟏, 𝟐, 𝟑, …..
Logo, as funções de Bessel de ordem inteira negativa diferem apenas por um
sinal das funções correspondentes de ordem inteira positiva. E (18) e (19) podem
ser combinadas em uma única fórmula (21), onde 𝒑 pode ser positivo ou negativo.

9

𝒙 𝒑 (−𝟏)𝒏 (𝒙⁄𝟐)𝟐𝒏 (19)
𝑱−𝒑 (𝒙) = ( ) ∑
𝟐 𝒏! 𝚪(−𝐩 + 𝐧 + 𝟏)
𝒏=𝟎

𝑱−𝒎 (𝒙) = (−𝟏)𝒎 𝑱𝒎 (𝒙) (20)



𝒙 (−𝟏)𝒏 (𝒙⁄𝟐)𝟐𝒏 (21)
𝑱𝒑 (𝒙) = ( ) 𝒑 ∑
𝟐 𝒏! 𝚪(𝐩 + 𝐧 + 𝟏)
𝒏=𝟎

Se 𝒑 > 𝟎 não é um inteiro, as funções 𝑱𝒑 (𝒙) e 𝑱−𝒑 (𝒙) são linearmente


independentes. Para 𝒙 = 𝟎 a função 𝑱𝒑 (𝒙) se anula ao passo que 𝑱−𝒑 (𝒙) se torna
ilimitada. Portanto para 𝒑 > 𝟎 não-inteiro, a solução geral para a equação de Bessel
é dada por (22). Onde 𝑪𝟏 e 𝑪𝟐 são constantes arbitrárias.
𝒚(𝒙) = 𝑪𝟏 𝑱𝒑 (𝒙) + 𝑪𝟐 𝑱−𝒑 (𝒙) (22)
Quando 𝒑 é um inteiro, as soluções 𝑱𝒑 (𝒙) e 𝑱−𝒑 (𝒙) são linearmente
dependentes. Logo, (22) não é mais uma expressão para a solução geral da
equação de Bessel (18). Para a obtenção de uma expressão para a solução geral
desta equação que seja válida para qualquer valor de 𝒑, é introduzida a função de
Bessel de segunda espécie de ordem 𝒑 (23).
𝑱𝒑 (𝒙)𝒄𝒐𝒔𝒑𝝅 − 𝑱−𝒑 (𝒙) (23)
𝒀𝒑 (𝒙) =
𝒔𝒆𝒏𝒑𝝅
Para qualquer valor de 𝒑 a solução geral da equação de Bessel (18) pode
ser escrita como (24). Onde 𝑪𝟏 e 𝑪𝟐 são constantes arbitrárias.
𝒚(𝒙) = 𝑪𝟏 𝑱𝒑 (𝒙) + 𝑪𝟐 𝒀𝒑 (𝒙) (24)
Para 𝒑 não-inteiro, a validade das equações de Bessel seguem diretamente
da definição de (23) e das relações correspondentes satisfeitas por 𝑱𝒑 (𝒙). Para
valores inteiros de 𝒑 = 𝒎, estas fórmulas são obtidas tomando-se o limite 𝒑 → 𝒎
e observando-se todas as funções envolvidas dependem continuamente de 𝒑.
Assim, (25) mostra a dependência linear de 𝒀𝒎 (𝒙) e 𝒀−𝒎 (𝒙) e reduz o cálculo dos
valores numéricos de 𝒀−𝒎 (𝒙) àqueles de 𝒀𝒎 (𝒙).
A Fig 5 ilustra o gráfico de uma função de Bessel, a) de primeira espécie com
valores de 𝒑 = 𝟎, 𝟏, 𝟐, 𝟑 𝒆 𝟒, b) função de Bessel de segunda espécie, com valores
de 𝒑 = 𝟎, 𝟏, 𝟐, 𝟑 𝒆 𝟒.

10
a) Função de Bessel de 1ª espécie b) Função de Bessel de 2ª espécie

Fig. 5. Gráfico de funções de Bessel de 1ª e 2ª espécies.

As funções de Bessel aparecem frequentemente no estudo dos fenômenos


de propagação de ondas, de condução de calor e de equilíbrio eletrostático em
domínios cilíndricos. Devido a sua imensa importância prática, com aplicações nos
mais diversos campos da física, engenharia e matemática.

a) Exemplo na Engenharia: Equação da Onda.


Uma aplicação direta das funções de Bessel pode ser vista na formulação da
Equação da onda a partir das equações rotacionais de Maxwell. As equações de
Maxwell no domínio do tempo para meios não dispersivos e isotrópicos, são dadas
por (25) e (26) (BALANIS, 1989).
Onde 𝓔 é a intensidade do campo elétrico, 𝓗 a intensidade de campo
magnético, 𝓙𝒊 a densidade de corrente elétrica, 𝓜𝒊 a densidade de corrente
magnética, 𝒒𝒗𝒆 a densidade de carga elétrica, 𝒒𝒗𝒎 a densidade de carga magnética,
𝜺 a permissividade elétrica, 𝝁 a permeabilidade magnética e 𝝈 a condutividade
elétrica.
𝝏𝓗 (25)
𝛁 × 𝓔 = − 𝓜𝒊 − 𝝁
𝝏𝒕
𝝏𝓔 (26)
𝛁 × 𝓗 = 𝓙𝒊 + 𝝈 ∗ 𝓔 + 𝜺
𝝏𝒕
Cuja unidade de (25) é um Faraday e de (26) em Ampère.
Calculando o rotacional e aplicando a Lei de Gauss para (25) tem-se a
equação de onda para o campo elétrico (27).

11
𝝏𝓙𝒊 𝟏 𝝏𝓔 𝝏𝟐 𝓔 (27)
𝛁 𝟐 × 𝓔 = 𝛁 × 𝓜𝒊 + 𝝁 + 𝛁𝒒𝒗𝒆 + 𝝁𝝈 + 𝝁𝜺 𝟐
𝝏𝒕 𝟑 𝝏𝒕 𝝏𝒕
E de maneira análoga, tem-se a equação da onda para o campo magnético
em (28).
𝟏 𝝏𝓜𝒊 𝝏𝓗 𝝏𝟐 𝓗 (28)
𝛁 𝟐 × 𝓗 = −𝛁 × 𝓙𝒊 + 𝝈𝓜𝒊 + 𝛁𝒒𝒗𝒎 + 𝜺 + 𝝁𝝈 + 𝝁𝜺 𝟐
𝝁 𝝏𝒕 𝝏𝒕 𝝏𝒕
Tomando especificamente um meio sem perdas (𝝈 = 𝟎), livre de fontes (𝓙𝒊 =
𝒒𝒗𝒆 = 𝓜𝒊 = 𝒒𝒗𝒎 = 𝟎) e fazendo um tratamento em coordenadas cilíndricas, temos
(29).
̂ 𝝆 ∗ 𝚬𝝆 (𝝆, 𝝓, 𝔃) + 𝚨
𝚬(𝝆, 𝝓, 𝔃) = 𝚨 ̂ 𝝓 ∗ 𝚬𝝓 (𝝆, 𝝓, 𝔃) + 𝚨
̂ 𝔃 ∗ 𝚬𝔃 (𝝆, 𝝓, 𝔃) (29)
Tomando um escalar 𝝍(𝝆, 𝝓, 𝔃) e aplicando o método de separação de
variáveis, tem-se (30).
𝝍(𝝆, 𝝓, 𝔃) = 𝓯(𝝆) ∗ 𝓰(𝝓) ∗ 𝓱(𝔃) (30)
E ao restringir o problema, temos em (31) a equação de Bessel para 𝓯(𝝆).

𝟐
𝒅𝟐 𝓯 𝒅𝓯 (31)
𝝆 𝟐
+ 𝝆 + [(𝜷𝝆 )𝟐 − 𝓶𝟐 ] ∗ 𝓯 = 𝟎
𝒅𝝆 𝒅𝝆
𝟏 𝒅𝟐 𝒈
Sendo − 𝓶𝟐 = 𝒈 𝒅𝝓𝟐 . Simplificando (31), recai-se em uma equação

diferencial de 2ª ordem homogênea vista em (16).

MODELOS MATEMÁTICOS EM ENGENHARIA: Modelos Empíricos para


Ambientes Indoor e Outdoor.
A modelagem matemática pode ser um meio para aproximação entre
matemática e aluno. Em engenharia os modelos matemáticos e/ou determinísticos
tentam, por aproximação, simular o comportamento das ondas eletromagnéticas
durante a propagação em um determinado meio.
No presente trabalho iremos abordar dois modelos empíricos: modelo da
Recomendação ITU-R P.1546-5(09/2013) da International Telecommunication
Union (2013) utilizado para TV Digital e um modelo de propagação para ambiente
indoor na faixa de 10 GHz (LOPES, 2018).

Modelo Empírico da Recomendação ITU-R P.1546-5


Este é um modelo para ambientes outdoor que atua na faixa de 30 MHz até 3
GHz, descreve o método de estimativa de propagação ponto-área para os serviços

12
terrestres e é um dos utilizados para a Tv Digital. Este modelo permite a
determinação da intensidade de campo 𝓔, em dB 𝝁𝟏 , em função da distância. É
representado por (32). Onde 𝒇 é a frequência em MHz.
𝑳𝒃 (𝒅𝑩) = 𝟏𝟑𝟗, 𝟑 + 𝟐𝟎 𝐥𝐨𝐠 𝟏𝟎 (𝒇) − 𝓔 (32)
Para obter 𝓔, usa-se (33), onde (𝒉𝒕𝒆 ) e (𝒉𝒓𝒆 ) são a altura das antenas
transmissoras e receptora, 𝒅 é a distância do transmissor ao receptor em km e 𝒃 é
um fator de correção dependente de (𝒉𝒕𝒆 ).
ℰ = 69,82 − 6,16 log10 (𝑓) + 13,82 log10 (ℎ𝑡𝑒 ) + 𝑎(ℎ𝑟𝑒 ) − (44,9 (33)
− 6,55 log10 (ℎ𝑡𝑒 ))(log10 𝑑)𝑏

Modelo Empírico para a faixa de 10 GHz.


A 5º Geração de Telefonia Móvel operará nas bandas acima de 6 GHz e
dentre os estudos lançados a faixa de 10 GHz é uma das bandas prioritárias para
a implementação do 5G em ambientes internos (indoors) (METIS, 2017).
Nesse contexto, o modelo abordado foi desenvolvido a partir do modelo do
Espaço livre e foi feito a partir de medições em ambientes reais caracterizados
como um corredor e um laboratório de informática (LOPES, 2018). O modelo para
a faixa de 10 GHz é apresentado em (34).
𝑳 = −𝟏𝟎, 𝟐𝟖 + 𝟏𝟐, 𝟖𝟒 𝒍𝒐𝒈𝟏𝟎 (𝒅) + 𝟐𝟎 𝒍𝒐𝒈𝟏𝟎 (𝒇) (34)
Os parâmetros para perda inicial 𝑳𝟎 com valor de -10,28 dB e o expoente de
perda de propagação (PLE ou 𝒏) com valor de 1,28 dB foram definidos a partir da
otimização de parâmetros via método de Mínimos Quadrados Lineares (MLQ).

CONCLUSÃO
O ensino da matemática é muito importante para os cursos na área de exatas,
no caso dos cursos de engenharia e, mais especificamente, no curso de engenharia
de telecomunicações a fundamentação matemática é o alicerce de ensino.
Neste trabalho abordamos como o uso das funções matemáticas está
presente nessa área da engenharia. Tanto de funções básicas, como as polinomiais
que utilizadas nos cálculos de áreas e distâncias; logarítmicas, que são utilizadas
na formulação de modelos; exponenciais que se enquadram em curvas de
crescimento e decrescimento. Como nas funções especiais, que estão aplicadas
diretamente na equação da onda como no caso da função de Bessel; e o uso da

13
função gama, cuja teoria é pré-requisito para as funções de Bessel. Assim como
também mostraram dois modelos de radiopropagação para ambiente outdoor,
modelo da Recomendação ITU-R P.1546-5 utilizado para TV Digital; e o modelo
indoor para faixa de 10 GHz, onde pode ser utilizado para o estudo da propagação
do sinal em ambientes internos na 5ª Geração de Telefonia Móvel – 5G.

REFERÊNCIAS

BALANIS. A.C. Advanced Engeneering Eletromagnetics. Nova York: John Wiley


& Sons. 1989. 981 p.

EVES, H. Introdução à História da Matemática. Campinas: Unicamp, 2004. 843


p.

FIGUEIREDO. D. G .de; NEVES, A. F. Equações Diferenciais Aplicadas. Rio de


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