Análise Da Morfometria E Do Uso E Cobertura Da Terra Da Microbacia Do Córrego Ipaneminha de Baixo, Sorocaba/Sp

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ANÁLISE DA MORFOMETRIA E DO USO E COBERTURA DA TERRA DA


MICROBACIA DO CÓRREGO IPANEMINHA DE BAIXO, SOROCABA/SP

Article in Floresta · January 2017


DOI: 10.5380/rf.v46i4.45809

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2 authors, including:

Kelly Cristina Tonello


Universidade Federal de São Carlos
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ANÁLISE DA MORFOMETRIA E DO USO E COBERTURA DA TERRA
DA MICROBACIA DO CÓRREGO IPANEMINHA DE BAIXO,
SOROCABA, SP

Mariana Santos Leal1*, Kelly Cristina Tonello2


1*
Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis, Sorocaba, São Paulo,
Brasil - [email protected]
2
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Ambientais, Sorocaba, São Paulo, Brasil - [email protected]

Recebido para publicação: 18/03/2016 – Aceito para publicação: 28/09/2016

Resumo
A bacia hidrográfica é considerada uma unidade de planejamento e gestão tornando-se importante o
conhecimento de suas características, tanto físicas quanto de uso e cobertura da terra, uma vez que estas
influenciam sua dinâmica hidrológica. Deste modo, este trabalho teve por objetivo a caracterização da
morfometria e do uso e cobertura da terra da microbacia do córrego Ipaneminha de Baixo em Sorocaba, SP.
A morfometria foi realizada por meio de parâmetros geométricos, de relevo e drenagem enquanto que o uso e
cobertura da terra foram obtidos através de interpretação visual de uma imagem digital orbital e vetorização
em tela das classes, sendo que ambas as análises foram realizadas em um Sistema de Informação Geográfica.
De acordo com a morfometria da microbacia pôde-se perceber que ela apresenta características físicas
favoráveis à conservação da água, no entanto as áreas de preservação permanente encontraram-se com déficit
de vegetação nativa em relação ao estabelecido por legislação. A microbacia está sendo ocupada
predominantemente por plantio de citrus, culturas temporárias e pastagem, porém a vegetação nativa também
está presente na forma de fragmentos dispersos.
Palavras-chave: Processos hidrológicos; área de preservação permanente; geomorfologia.

Abstract
Morphometry and land use and cover analysis of Ipaneminha de Baixo watershed, Sorocaba, SP. A watershed is
considered a planning and management unit, consequently it is important to know their characteristics, both
physical and use and land cover, as these influence their dynamic hydrological. Thus, this study aimed to
characterize the morphometry and the use and land cover of the Ipaneminha de Baixo watershed in Sorocaba, SP.
For the morphometric evaluation were considered geometric, relief and drainage parameters, while the use and land
cover was obtained through visual interpretation of an orbital digital image and vectorization screen of classes, and
both analyzes were performed in a Geographic Information System. According to morphometry could be seen that
the watershed presents physical characteristics favorable for the water conservation, however the permanent
preservation areas have a native vegetation deficit. The watershed has been occupied predominantly by citrus
plantations, temporary crops and pasture, but the native vegetation is also present as fragments.
Keywords: Hydrological processes; permanent preservation area; geomorphology.

INTRODUÇÃO

Uma bacia hidrográfica, limitada pelo divisor de águas ou divisor topográfico, abrange toda a área de
captação natural da água da chuva e proporciona escoamento superficial para o canal principal e seus tributários
(LIMA, 2008). De acordo com a Lei Federal no. 9.433 de 1997, a bacia hidrográfica deve ser considerada a
unidade de planejamento e gestão de Recursos Hídricos. Sendo assim, é importante conhecer as suas
características, tanto físicas quanto de uso e cobertura do solo, que influenciam a sua dinâmica hidrológica.
O deflúvio, infiltração, escoamento superficial e evapotranspiração são, por exemplo, alguns processos
influenciados pelas características físicas e biológicas da bacia hidrográfica (TONELLO et al., 2006) Fatores como
cobertura vegetal, geologia, topografia, clima e principalmente o manejo de solo influenciam diretamente a qualidade e
quantidade de água na bacia (ARCOVA et al., 1998), que também podem ser alteradas pelo desmatamento, uso
indiscriminado de agroquímicos ou excessiva exploração dos recursos naturais (PINTO et al., 2004).
As características físicas, especialmente aquelas associadas ao relevo, à forma e à rede de drenagem,
estão altamente relacionadas ao tempo e velocidade de escoamento da água, o que vai incidir em maior ou menor
infiltração da água no solo. De acordo com a descrição física da bacia é possível saber qual a suscetibilidade da
mesma quanto ao risco de cheia, escoamento superficial e processos erosivos, dando uma indicação de como
deve ser o manejo da bacia para que ela possa proporcionar maior infiltração da água no solo.

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Para que a bacia funcione como um ambiente permeável, onde a água infiltre e percole até o lençol
freático, o solo deve estar corretamente ocupado de acordo com as características de cada sítio. Assim, a bacia é
capaz de captar a água das chuvas, armazená-la e cedê-la aos poucos por meio das nascentes durante todo o ano.
Por sua vez, as informações obtidas a partir de um diagnóstico sobre o uso e cobertura do solo,
principalmente nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), são úteis para nortear as ações de manejo da bacia,
pois a partir delas é possível verificar como a bacia está sendo manejada e sua possível consequência na
produção de água.
A ocupação das APPs pela agropecuária e expansão urbana é crescente e tem causado intensa
degradação ambiental (FREITAS et al., 2013). A proteção dessas áreas está estabelecida na Lei Federal no.
12.651/12 devido à extrema importância que apresentam. Elas atuam na facilitação da infiltração de água no solo
e do abastecimento do lençol freático, na manutenção da qualidade e quantidade da água e podem servir como
obstáculo ao escoamento superficial de partículas e sedimentos, que por sua vez, causam poluição e
assoreamento dos recursos hídricos (LIMA; ZAKIA, 2004).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi caracterizar a morfometria da microbacia hidrográfica do
córrego Ipaneminha de Baixo, assim como do uso e cobertura da terra, principalmente nas áreas de preservação
permanente, de forma a subsidiar ações que promovam o seu adequado manejo e a conservação da água.

MATERIAL E MÉTODOS

A microbacia do Córrego Ipaneminha de Baixo está localizada no município de Sorocaba, SP, sendo
contribuinte do Rio Ipanema, integrante do sistema de abastecimento da bacia hidrográfica do Rio Sorocaba. A
área de estudo está entre as coordenadas 23o32’- 23° 34’ S e 47º31’ - 47° 30’ W.
O município de Sorocaba está localizado no interior de São Paulo a 90 quilômetros da capital. Com uma
área de, aproximadamente, 456 Km² e população de 644.919 habitantes (IBGE, 2016), o município enfrenta um
rápido crescimento demográfico, o que exige do poder público cuidados e gestão equilibrada para manutenção
da qualidade de vida à população.
Sorocaba é caracterizada como área de tensão ecológica, onde originalmente encontra-se a Floresta
Ombrófila Densa e Mista, Floresta Estacional Semidecidual e Cerrado. De acordo com Köppen, o clima da
região é classificado como Cwa (temperado seco e quente com verão quente), com temperatura anual média de
22,1 ºC. A altitude média é de 580 m e a precipitação anual é de 1311,2 mm (CEPAGRI, 2015).
A região está localizada na transição do Planalto Atlântico para a Bacia Sedimentar do Paraná, no início
da unidade geomorfológica conhecida como Depressão Periférica Paulista, sendo, portanto situada em rebordo
de maciço antigo. O relevo é composto por litologias sedimentares paleozóicas de arenitos e siltitos e formas
mais rugosas ligadas ao embasamento cristalino como corpos graníticos e quartzíticos (VILLELA, 2011).
Quanto às classes de solo, as de Argissolos e Latossolos predominam, embora ocorra também
Cambissolos, Neossolos litólicos e Gleissolos em algumas porções do município (OLIVEIRA et al, 1999).
Para a análise morfométrica foi utilizada uma carta planialtimétrica do Instituto Geográfico e Cartográfico
do Estado de São Paulo (IGC) na escala 1:10.000, folha SF-23-Y-C-IV-2-NE-D, Fazenda São Marcos. Toda a base
de dados e os parâmetros morfométricos (Tabela 1) foram analisados no programa ArcMap 10.1.

Tabela 1. Parâmetros morfométricos e seus respectivos métodos de obtenção.


Table 1. Morphometric parameters and their methods of obtaining.
Parâmetro morfométrico Método Referência
Is=L/dv, onde L é o comprimento do curso d’água principal
Índice de sinuosidade (Is) Horton (1945)
(km) e dv é a distância vetorial do canal principal (km)
Kf=A/Le², onde A é a área da bacia (km²) e Le é o
Fator de forma (Kf) Horton (1932)
comprimento do eixo da bacia (km)
Kc = 0,28*P/√A, onde P é o perímetro da bacia (km) e A é a
Coeficiente de compacidade (Kc) Vilela e Matos (1975)
área da bacia (km²)
Ic=12,57*A/P², onde A é a área da bacia (km²) e P é o
Índice de circularidade (Ic) Strahler (1964)
perímetro da bacia (km)
Classificação feita com base em critérios geométricos:
Padrão de drenagem Horton (1945)
Dendrítico, treliça, retangular, paralelo, radial e anelar
Δa=H–h, onde H é altitude máxima (m) e h altitude mínima
Amplitude altimétrica (Δa) Lima (2008)
(m)
Obtida através do modelo numérico do terreno em ambiente Menezes et al. (2014)
Declividade
de Sistema de Informação Geográfica Embrapa (1979)
É definida de acordo com a face de exposição da foz da bacia
a umas dessas possíveis direções: Norte (0-360o), Nordeste
Orientação da bacia Tonello (2006)
(45o), Leste (90o), Sudeste (135o), Sul (180o), Sudoeste
(215o), Oeste (270o) e Noroeste (315o)
Rr=Δa/L, onde Δa é a amplitude altimétrica (km) e L é o
Razão de relevo (Rr) Schumm (1956)
comprimento do curso d’água principal (km)

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Cursos d’água com apenas um segmento são considerados de
Ordem do curso d´água 1ª ordem. A junção de dois segmentos de 1ª ordem gera um Strahler (1957)
segmento de 2ª ordem e assim sucessivamente
Gc=H/L*100, onde H é altitude máxima (km) e L é o
Gradiente do canal principal (Gc) Horton (1945)
comprimento do curso d’água principal (km)
Dd = Lt/A, onde Lt é comprimento total dos cursos d’água
Densidade de drenagem (Dd) Horton (1932)
(km) e A é a área da bacia (km²)
Dh = n/A, onde n é o número de cursos d’água e A é a área
Densidade hidrográfica (Dh) Horton (1945)
da bacia (km²)
Coeficiente de manutenção (Cm) Cm=1/Dd, onde Dd é a densidade de drenagem Schumm (1956)
Extensão do percurso superficial Eps=1/2*Dd, onde Dd é a densidade de drenagem Horton (1945)

Para a análise do uso e cobertura da terra foi utilizada uma imagem digital Rapideye do ano de 2013
(MMA, 2015).
A delimitação das classes foi obtida por meio de vetorização em tela, no programa ArcMap 10.1, após a
interpretação visual do uso e cobertura. As classes identificadas foram as seguintes: vegetação nativa, corpo
d’água, estradas, rodovia, citrus, malha urbana, área edificada, pastagem, cultura temporária, área úmida, pinus e
loteamento (IBGE, 2013).
Antes de se verificar o uso e cobertura nas áreas de preservação permanente foi criado um buffer
seguindo a Lei Federal nº. 12.651/12, onde a APP ao redor das nascentes teve um raio de 50 metros e largura de
50 m ao redor das acumulações naturais ou artificiais de água com mais de 1 ha enquanto que nas margens dos
cursos d’água ela apresentou largura de 30 metros.
Cabe ressaltar que caso haja áreas com uso consolidado nas APPs nos imóveis rurais de até quatro
módulos fiscais, a faixa a ser restaurada será menor, variando de acordo com o tamanho da propriedade, sendo
que no município de Sorocaba um módulo fiscal corresponde a 12 hectares (INCRA, 2013).

RESULTADOS

Morfometria
A área de estudo (Figura 1) apresentou padrão de drenagem dendrítico e grau de ramificação de 3a. ordem.
A partir do cálculo da área (A) e do perímetro (P) da microbacia, do comprimento dos cursos d’água (Lt) e
do eixo da microbacia (Le) foi possível obter os demais parâmetros morfométricos, apresentados na tabela 2.
A microbacia apresentou um índice de sinuosidade de 1,07; um indicador que infere sobre o quão
retilíneo ou sinuoso é o curso d’água principal.
A análise da forma da bacia dependeu dos parâmetros: índice de circularidade, que neste caso foi de
0,63; fator de forma que foi de 0,34 e coeficiente de compacidade que foi de 1,25. Portanto, ao analisar-se
conjuntamente esses parâmetros chegou-se a conclusão que a microbacia apresenta forma oblonga/ovalada
segundo classificação sugerida por Nardini et al. (2013).

Figura 1. Microbacia Ipaneminha de Baixo, Sorocaba, SP.


Figure 1. Ipaneminha de Baixo watershed, Sorocaba, SP.
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Tabela 2. Características morfométricas da microbacia Ipaneminha de Baixo, Sorocaba, SP.
Table 2. Morphometric characteristics of the Ipaneminha de Baixo watershed, Sorocaba, SP.
Parâmetro morfométrico Valor
Área A 5,77 km²
Perímetro P 10,70 km
Comprimento do eixo da bacia Le 4,120 km
Geometria

Índice de sinuosidade Is 1,07


Fator de forma Kf 0,34
Coeficiente de compacidade Kc 1,25
Índice de circularidade Ic 0,63
Padrão de drenagem - Dendrítico
Altitude mínima h 580 m
Altitude média Hm 624 m
Altitude máxima H 668 m
Amplitude altimétrica - 88 m
Relevo

Declividade mínima - 0,068 %


Declividade média Dm 8,45%
Declividade máxima - 30,21%
Orientação - Norte
Razão de relevo Rr 0,02
Ordem da bacia - 3a.
Número de canais n 18
Rede de drenagem

Gradiente do canal principal Gc 15,6%


Densidade de drenagem Dd 2,60 km/km²
Densidade hidrográfica Dh 3,82 canais/km²
Coeficiente de manutenção Cm 0,38 km²/km
Extensão do percurso superficial Eps 1,3 km
Comprimento do curso d’água principal L 4,282 km
Comprimento total dos cursos d’água Lt 14,934 km

Com relação às características de relevo a microbacia apresentou declividade média de 8,5%, sendo
caracterizada com relevo predominantemente ondulado, onde 12,3% do terreno foram classificados como plano;
35,8% suave ondulado; 50,6% ondulado; 1,3% forte ondulado. A altitude variou de 580 a 668 metros resultando
em altitude média de 624 m e amplitude altimétrica de 88 metros. A face de exposição da foz da microbacia foi à
orientação norte.
A razão de relevo que pode ser classificada em baixa (0 a 0,1), média (0,11 a 0,30) e alta (0,31 a 0,60),
neste caso (0,02) foi considerada baixa. O gradiente do canal principal foi de 15,6%, apontando uma baixa
declividade do curso d’água principal.
A densidade de drenagem, 2,60 km/km², pode ser considerada como média, pois segundo Villela e
Mattos (1975) o valor deste parâmetro varia de 0,5 Km/Km², em bacias com baixa drenagem, a 3,5 ou mais, nas
bacias excepcionalmente bem drenadas.
A densidade hidrográfica foi de 3,82 canais/km² e de acordo com o coeficiente de manutenção obtido é
preciso no mínimo 0,38 km² para manter um quilômetro de curso d’água.
A extensão do percurso superficial, que representa a distância média percorrida pela água da chuva
antes de encontrar um curso d’água, foi de 1,3 km.

Uso e cobertura da terra


Em termos de ocupação da terra, há predominância na microbacia de citrus e culturas temporárias e, que
juntas totalizam cerca de 40% da área, enquanto que as pastagens estão presentes em aproximadamente 20% da
área total (Figura 2, Tabela 3). A cobertura do solo por vegetação nativa é de 116,89 ha, o que representa 20% da
área de estudo. Na microbacia também se encontra um loteamento de 45,99 ha e uma malha urbana de 15,59 ha.
As áreas de preservação permanente dos corpos d’água contabilizam cerca de 100 ha e estão sendo
principalmente ocupadas por vegetação nativa, seguida de citrus, pastagem e cultura temporária.

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(a) (b)
Figura 2. Uso e cobertura da terra na microbacia do Ipaneminha de Baixo, Sorocaba, SP (a) e da área de
preservação permanente (b).
Figure 2. Use and land cover in the Ipaneminha de Baixo watershed, Sorocaba, SP (a) and the permanent
preservation area (b).

Tabela 3. Área, em hectares, ocupada por cada categoria de uso e cobertura da terra da microbacia do
Ipaneminha de Baixo, Sorocaba, SP e das áreas de preservação permanente (APP).
Table 3. Area, in hectares, occupied by each category of use and land cover of Ipaneminha de Baixo
watershed, Sorocaba, SP and permanent preservation areas (APP).
Microbacia APP
Categorias e uso e cobertura da terra Área (ha) % Área (ha) %
Vegetação Nativa 116,89 20,26 43,11 41,83
Loteamento 45,99 7,97 0,59 0,57
Corpo d’água 13,89 2,41 2,32 2,25
Estrada de terra 9,13 1,58 2,58 2,50
Estrada pavimentada 1,46 0,25 0,14 0,13
Rodovia SP-264 8,11 1,40 0,24 0,23
Citrus 135,03 23,40 19,10 18,53
Malha urbana 15,59 2,70 1,57 1,52
Área edificada 5,18 0,89 0,29 0,28
Pastagem 107,76 18,68 12,99 12,60
Cultura temporária 98,04 17,00 13,03 12,64
Área úmida 19,14 3,33 6,91 6,71
Pinus 0,87 0,15 0,22 0,21
Total 577,00 100 103,06 100

DISCUSSÃO

Morfometria
Considera-se que, quanto mais ramificada for a rede, mais eficiente será o sistema de drenagem
(TONELLO, et al., 2006).
A carga de sedimentos, a compartimentação litológica, a estruturação geológica e a declividade dos
canais, segundo Horton (1945), influenciam a sinuosidade (Is). Quando o Is possui valor próximo a 1,0 os canais
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apresentam tendência retilínea e tendem a ser tortuosos com valores superiores a 2,0; enquanto que os valores
intermediários indicam formas transicionais (SCHUMM; LICHTY, 1963). O Is encontrado nesse estudo foi
muito próximo a 1,0 apontando a tendência retilínea, o que pode implicar em maior velocidade da água, maior
carreamento e menor acúmulo de sedimentos no canal principal (ANTONELLI; THOMAZ, 2007).
A forma de uma bacia hidrográfica está relacionada ao tempo de concentração, ou seja, tempo que a
água do ponto mais remoto leva para chegar à foz da mesma. Quanto menor o valor do fator de forma mais
alongada tende ser a bacia (LIMA, 2008). Segundo Villela e Mattos (1975), uma bacia com o fator de forma
baixo, como o valor encontrado para a microbacia em estudo (Tabela 2), é menos sujeita a enchentes que outra
de mesmo tamanho, porém com fator de forma distinto.
Com um coeficiente de compacidade próximo a 1,0 a bacia se aproxima de uma forma circular, caso
contrário a forma da bacia é mais alongada (VILLELA; MATTOS, 1975). Neste caso, o resultado indica que a
bacia se aproxima de uma forma mais alongada.
No caso do Ic também quanto mais próximo de 1,0 mais circular é a bacia (LIMA, 2008), assim o Ic
encontrado corrobora com uma forma mais próxima da alongada e maior tempo de concentração da água.
O fato da microbacia ter sido classificada com formato oblongo/ovalado indica que a mesma tem uma
tendência baixa/mediana a enchentes, em condições normais de pluviosidade anual. Em estudo semelhante
realizado por Pinheiro (2011) na microbacia do córrego Ipaneminha, também afluente do Rio Ipanema, os
valores dos índices relacionados à forma foram muito próximos aos deste estudo.
A declividade também está relacionada ao tempo de concentração da água na bacia, influenciando assim
o tempo em que a água da chuva demora a alcançar a rede de drenagem. Quanto maior o tempo de concentração,
devido a menor declividade do terreno, maior a chance de infiltração da água no solo, o que vai depender
também do uso e cobertura da terra (LIMA, 2008). Pinheiro (2011) e Antoneli e Thomaz (2007) também
encontraram valores de declividade média muito próximos ao encontrado nesta microbacia, 8,2% e 8,0%
respectivamente.
O baixo valor de razão de relevo obtido indica que o rio tem uma baixa razão entre o componente
vertical (amplitude altimétrica) e horizontal (comprimento) e quanto menor o valor menos acidentado é o relevo
predominante na região. Menezes et al. (2014) obtiveram o mesmo valor de razão de relevo para a bacia do
Ribeirão Vermelho, MG.
O gradiente do canal principal expressa em porcentagem a relação entre a cota máxima e o
comprimento do canal principal. A bacia do Arroio Boa Vista, PR analisada por Antoneli e Thomaz (2007)
apresentou gradiente de 15%, próximo ao do presente estudo.
Analisando esses dois últimos parâmetros percebe-se que o canal principal, assim como a bacia,
apresenta baixa declividade o que proporciona um escoamento superficial mais lento e menor pressão de erosão.
Valores baixos de densidade de drenagem estão geralmente associados a regiões de solos mais
permeáveis, possibilitando que a infiltração seja mais eficiente (LIMA, 2008). Valor semelhante foi encontrado
por Silva e Tonello (2014) na bacia do Ribeirão dos Pinheirinhos em Brotas, SP. Pinheiro et al. (2011) ao
estudar uma microbacia com valores aproximados de área e declividade média observou uma densidade de
drenagem inferior (1,86 km/km²).
O valor encontrado para a extensão do percurso superficial mostra que a microbacia possui grande
distância de escoamento, o que acarreta em maior tempo de concentração da água, diminuindo assim a tendência
de erosão já que a declividade também é baixa (NARDINI, 2013).
Após analisar os resultados encontrados (a forma oblonga/ovalada com tendência mediana a enchentes,
o relevo caracterizado como ondulado e a baixa declividade apresentada pelo canal principal) percebeu-se que
esses aspectos são positivos em termos de infiltração, já que quanto menor a declividade maior o tempo de
concentração da água e maior a chance da água infiltrar no solo.

Uso e cobertura da terra


A baixa declividade do terreno favorece o cultivo de espécies agrícolas (CORSEUIL; CAMPOS, 2007),
representadas nessa região por culturas temporárias e citrus, que juntas somaram quase 50% da microbacia,
apontando uma tendência agrícola na área de estudo.
A vegetação nativa está representada por fragmentos dispersos na microbacia sendo que o maior
fragmento pertence ao loteamento.
O loteamento em questão está localizado na região de cabeceira da microbacia e como o solo encontra-
se descoberto pode ocorrer processos erosivos e assoreamento das nascentes e corpos d’água.
As áreas de preservação permanente dos corpos d’água não estão sendo ocupadas somente por vegetação
nativa, no entanto, de acordo com a Lei Federal nº. 12.651/12 toda a área considerada de preservação permanente
deve estar coberta por vegetação nativa, havendo, portanto, um déficit de vegetação, a qual deve ser restaurada.

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As áreas compostas por estradas, rodovia, malha urbana, edificações, loteamento podem apresentar
infiltração de água no solo reduzida, em comparação às áreas ocupadas por vegetação, já que a cobertura vegetal
diminui o escoamento superficial e favorece a infiltração da água no solo (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990).
Portanto é de fundamental importância o planejamento do uso e cobertura da terra baseado nas
características locais para que a microbacia se comporte como uma área conservadora de solo e água, onde os
usos e a cobertura da terra sejam compatíveis com sua aptidão e que práticas conservacionistas de solo sejam
implantadas.

CONCLUSÃO

As análises permitiram concluir que:


 A microbacia apresentou características morfométricas favoráveis ao processo de infiltração da água no solo
e se manejada de maneira correta é uma área importante para a conservação de água.
 As culturas temporárias e o citrus somaram cerca de 40% do uso total da microbacia, as pastagens e a
vegetação nativa estavam presentes em aproximadamente 20% da área total, cada uma.
 Nas áreas de preservação permanente que não estavam cobertas por vegetação nativa, como indicado na
legislação, é necessária portanto a restauração da vegetação nativa.

AGRADECIMENTO

Bolsa de financiamento CAPES.

REFERÊNCIAS

ANTONELI, V.; THOMAZ, E. L. Caracterização do meio físico da bacia do Arroio Boa Vista - Guamiranga-
PR. Caminhos da Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 21, p. 46-58, 2007.
ARCOVA, F. C. S.; CESAR, S. F.; CICCO, V. Qualidade da água em microbacias recobertas por floresta de
Mata Atlântica, Cunha, SP. Revista do Instituto Florestal, v. 10, n. 2, p. 185-196, 1998.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990. 335 p.
BRASIL. Lei Federal no. 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria
o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
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