Coleta de Agua

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 18

COLETA DE ÁGUA: AMOSTRAGEM EM AMBIENTES LÓTICOS

Mayana Silva Bessa Leite1, Flávia Mariani Barros2, Danilo Paulucio da Silva3, Fábio
Welligton Andrade de Jesus4, Stênio Rocha de Carvalho5.
1
Mestranda, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga – Bahia, Brasil
[email protected]
2
Pós-doutora, Docente na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga –
Bahia, Brasil
3
Doutor, Docente na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga –
Bahia, Brasil
4
Mestre, Docente na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga –
Bahia, Brasil
5
Graduando, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga – Bahia, Brasil
Recebido em: 06/05/2013 – Aprovado em: 17/06/2013 – Publicado em: 01/07/2013

RESUMO

A maioria dos rios brasileiros, que são a principal fonte de abastecimento de água
para a população, não possuem sistemas de monitoramento da qualidade da água,
algo preocupante tendo em vista a vasta importância dos recursos hídricos para o
desenvolvimento da vida humana, atividades agrícolas e industriais. A confiabilidade
de um plano de amostragem, para a avaliação da qualidade de um corpo d’água,
depende fundamentalmente, das técnicas de amostragem envolvendo uma seleção
criteriosa dos locais de coleta e o uso correto das técnicas de coleta e sua
preservação. Este trabalho apresenta uma descrição dos principais procedimentos
desde a elaboração do plano de amostragem até a análise dos dados obtidos.
Destina-se a todos os profissionais envolvidos com a pesquisa realizada em corpos
hídricos.
PALAVRAS-CHAVE: Pontos de amostragem, coleta de água, variáveis
limnológicas, bacias hidrográficas.

COLLECTION OF WATER: SAMPLING LOTIC ENVIRONMENTS

ABSTRACT
Most Brazilian rivers, which are the main source of water supply for the population,
do not have systems for monitoring water quality, something disturbing in view of the
vast importance of water resources for the development of human life, agricultural
activities and industrial. The reliability of a sampling plan for assessing the quality of
a water body, depends essentially on sampling techniques involving a judicious
selection of sampling sites and the use of appropriate techniques for collecting and
preservation. This paper presents a description of the procedures from designing the
sampling plan to analyze the data obtained. It is intended for all professionals
involved with the research conducted in water bodies.
KEYWORDS: Sampling points, water collection, variables limnological, watersheds.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2136 2013
INTRODUÇÃO

As atividades humanas são responsáveis pela deterioração da qualidade da


água, e muitas vezes, os mananciais servem de depósito para dejetos indesejáveis
e esgotos. A diversidade de materiais que são carreados até os corpos de água,
como solo (resultante de erosão), defensivos agrícolas utilizados nas lavouras, entre
outros materiais, podem resultar em grandes alterações físicas, químicas e
biológicas das águas, ou seja, alterações em sua qualidade. Dessa forma, reforça-se
a importância do estudo da qualidade dos mananciais considerando que são
fundamentais na produção de alimentos, abastecimento doméstico e geração de
energia (TRENTIN, 2009).
A maioria dos rios brasileiros, que são a principal fonte de abastecimento de
água para a população, não possuem sistemas de monitoramento da qualidade da
água, algo preocupante tendo em vista a vasta importância dos recursos hídricos
para o desenvolvimento da vida humana, atividades agrícolas e industriais. Por isso,
é de fundamental importância o conhecimento do estado das águas, pois este
permite não somente auxiliar na definição dos usos pretendidos como também
avaliar sua qualidade e indicar quais atividades humanas causam ou podem causar
sua degradação (HADDAD, 2007).
As vazões de escoamento são grandes e as variáveis relacionadas à
qualidade da água sofrem contínuas alterações temporais e espaciais em função
das atividades antrópicas na bacia de contribuição. Como o ambiente aquático é
muito instável, é muito relevante a localização correta dos pontos onde almeja-se
coletar amostras de água para sua posterior caracterização.
Do ponto de vista prático, MACEDO (2003) destaca que a coleta de amostras
que visam avaliar a qualidade das águas superficiais tem sido do tipo simples e
coletadas manualmente para posterior análise em laboratório.
As coletas de água são, geralmente, feitas na calha central do rio na
profundidade de 15 a 30 cm (CETESB, 1988). No entanto, em determinados casos,
esse tipo de amostragem pode ser insatisfatório para determinados tipos de estudo.
Nesse sentido, é necessário um estudo mais minucioso da dinâmica das variáveis
limnológicas influenciadas pelo ponto de amostragem.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é revisar os assuntos relacionados à
coleta de água, ressaltando os diferentes tipos de amostragem, visando servir como
base para outros pesquisadores, na localização dos pontos de amostragem e no tipo
de amostra em coletas a serem realizadas em ambientes lóticos.

ASPECTOS GERAIS

BACIAS HIDROGRÁFICAS

No âmbito dos estudos ambientais as bacias hidrográficas são utilizadas


como unidades básicas de planejamento, pois representam a unidade geográfica
que integra as características físicas, humanas e econômicas, constituindo-se em
ecossistemas apropriados para avaliação dos impactos causados pela ação
antrópica que podem causar instabilidades tanto no meio aquático quanto terrestre.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2137 2013
Nessa perspectiva, ROCHA (1999) enfatiza que “a unidade Bacia Hidrográfica já
está definida em Lei como Unidade de área aconselhável para estudos e projetos,
em todo território nacional”.
O termo “manejo de bacias hidrográficas” refere-se à regularização, controle e
manejo dos recursos naturais de uma bacia, com a finalidade de proteção e
aumento de produção das fontes de água. Este manejo visa a interação do uso do
solo, vegetação, água e outros recursos presentes (LIMA, 1986 E BORMANN et al.,
1994).
Segundo BARRELA (2001), a Bacia Hidrográfica pode ser definida como um
conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais
altas do relevo por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam
superficialmente, formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de
nascentes e do lençol freático. Os processos físicos, químicos e biológicos, que
ocorrem nesse ambiente, atuam dentro de um equilíbrio construído durante longos
períodos. Entretanto, com o desenvolvimento populacional e industrial na bacia,
propiciado pela ação do homem, a interação entre estes processos e o ecossistema
sofre ruptura, ao mesmo tempo em que há um aumento na carga de poluentes
carreada para os corpos de água (CLAPHAM et al., 1999).
As mudanças que ocorrem no interior das bacias hidrográficas podem ter
causas naturais, no entanto, o homem tem colaborado, nos últimos anos, como um
acelerador das ações modificadoras e de desequilíbrios da paisagem.
MACEDO et al. (2003) descrevem que nos cursos d’água superficiais pode-se
observar variações quanto às concentrações dos seus constituintes nos diferentes
pontos de uma seção transversal, bem como ao longo do eixo longitudinal de
deslocamento. Além disso, podem ocorrer variações com o tempo num mesmo
ponto de forma aleatória ou cíclica, em decorrência de características das
contribuições antrópicas recebidas ou das variáveis meteorológicas.

POLUIÇÃO DA ÁGUA

Em cada etapa do ciclo hidrológico, a água entra em contato com o meio em


que ela se encontra e, naturalmente, incorpora, em sua composição, elementos
existentes neste. Desta forma, a água que escoa na superfície e no subsolo passa a
ter impurezas orgânicas e inorgânicas, sendo que tais substâncias caracterizam,
qualitativamente, as águas (LARENTIS, 2004).
A saúde ambiental de um corpo de água é afetada pelas atividades humanas
desenvolvidas em suas bacias hidrográficas, incluindo: (1) lançamento de esgotos
domésticos; (2) recepção da água de chuva, que escoa por áreas agrícolas e sobre
solos sujeitos a erosão; (3) recepção de água de chuva proveniente de regiões com
poluição atmosférica como, por exemplo, chuvas ácidas; (4) percolação do chorume
de lixões próximos aos corpos de água; (5) compostos tóxicos oriundos de
pesticidas utilizados na agricultura e no reflorestamento; e (6) águas contaminadas
por xenobióticos, compostos orgânicos resistentes e traços de produtos
farmacêuticos (BERNHARDT, 1990). Todos esses fatores induzem à degradação da
qualidade da água, à perda de diversidade biológica e ao desperdício de recursos
hídricos (STRAŠKRABA & TUNDISI, 2008). Segundo esses mesmos autores, existe
uma forte relação entre o grau de poluição e a densidade populacional advindas da
urbanização, industrialização e desenvolvimento da agricultura em larga escala.
De forma genérica, a poluição das águas decorre da adição de substâncias
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2138 2013
ou de formas de energia que, direta ou indiretamente, alteram as características
físicas, químicas e biológicas do corpo de água, de maneira a prejudicar a utilização
das águas. Segundo TUCCI (1998), as fontes de poluição podem ser atmosféricas,
pontuais, difusas e mistas.
Cada uma das fontes de poluição determina certo grau de poluição no corpo
hídrico atingido, e que é mensurado por meio de características físicas, químicas e
biológicas das impurezas existentes que, por sua vez, são identificadas por variáveis
de qualidade das águas.

VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS

Um programa de monitoramento ecológico pode ser definido como a tentativa


de identificar mudanças nas variáveis bióticas e abióticas de maneira a gerar
propostas de manejo para viabilizar o uso futuro dos recursos existentes
(BARBOSA, 1994). Inserido nesse contexto, o monitoramento limnológico trata
especificamente da qualidade da água dos ecossistemas aquáticos continentais,
incluindo rios e lagos (WETZEL, 2001). Assim, abrange tecnicamente a coleta
periódica associada à análise de dados e informações de qualidade da água para
propósitos de efetivo gerenciamento dos ecossistemas aquáticos (BISNAS, 1990).
Dentre as variáveis de qualidade da água, podem-se destacar a temperatura
(T), o potencial hidrogeniônico (pH), o oxigênio dissolvido (OD), o conteúdo matéria
orgânica (MO) entre outros. A temperatura da água influencia na concentração de
outras variáveis, como OD e MO (PORTO et al., 1991), sendo a radiação solar,
segundo ARCOVA et al. (1993), a principal variável que controla a temperatura da
água de pequenos rios. O pH fornece indícios sobre a qualidade hídrica, o tipo de
solo por onde a água percorreu e indica a acidez ou a alcalinidade da solução
(MATHEUS et al., 1995). O teor de OD expressa a quantidade de oxigênio dissolvido
presente no meio, sendo que a sua concentração está sujeita às variações diária e
sazonal em função da temperatura, da atividade fotossintética, da turbulência da
água e da vazão do rio (PALMA-SILVA, 1999), podendo reduzir-se na presença de
sólidos em suspensão e de substâncias orgânicas biodegradáveis, como esgoto
doméstico, vinhoto e certos resíduos industriais (MATHEUS et al., 1995). A
decomposição da MO nos cursos d’água pode diminuir o teor de OD, bem como o
pH da água, pela liberação de gás carbônico e formação de ácido carbônico a partir
deste (PALHARES et al., 2000).
É importante ressaltar, que, além do conhecido de caráter técnico e
diagnóstico, qualquer análise sobre a importância do monitoramento limnológico
demanda a inclusão da pesquisa científica, a qual pode ser amplamente subsidiada
pelas ações ou mesmo pelos dados desse monitoramento. A pesquisa científica
contribui para tornar as ações para mitigação da degradação ecológica mais
eficientes e viáveis economicamente, pois permite a geração de informação,
recurso-chave de administração na sociedade humana (HENDERSON, 2003).

PLANO DE AMOSTRAGEM

PLANEJAMENTO

O planejamento tem como finalidade determinar as atividades de coleta,


ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2139 2013
preservação, manuseio e transporte das amostras, da forma mais precisa, de modo
a assegurar a obtenção de todas as informações necessárias, com o menor custo
possível.
A confiabilidade de um plano de amostragem, para a avaliação da qualidade de
um corpo d’água, depende fundamentalmente, das técnicas de amostragem
envolvendo uma seleção criteriosa dos locais de coleta e o uso correto das técnicas
de coleta e sua preservação (COIMBRA, 1991). A coleta de amostras para a
determinação da qualidade das águas deve seguir o mesmo padrão de rigor técnico
que as demais etapas de um plano de amostragem, para a obtenção de uma
amostra ou séries de amostras que representem o todo (ARAÚJO et al., 2000).
De acordo com EMBRAPA (2011) um plano de amostragem que apresenta a
sequência do planejamento, implementação e avaliação dos procedimentos de
amostragem, análise laboratorial e análise de dados ambientais, é adequadamente
recomendado da seguinte forma: definição de objetivos e acuracidade; definição do
desenho amostral (local, período e frequência de amostragem); definição dos
métodos e procedimentos analíticos; definição do volume de amostragem; definição
do método de amostragem; definição do método de preservação e de transporte da
amostra; amostragem e coleta de dados em campo, análises laboratoriais e
interpretação dos dados com base no desenho amostral (avaliação de acuracidade
dos dados).
A NBR 9898 (ABNT, 1987), relata que a amostragem de águas superficiais
pode ser feita por coleta manual, respeitando os seguintes procedimentos: com
todos os cuidados de assepsia, remover a tampa do frasco juntamente com o papel
protetor; com uma das mãos segurar o frasco pela base, mergulhando-o
rapidamente com a boca para baixo, a cerca de 15 a 30 cm abaixo da superfície da
água, para evitar a introdução de contaminantes superficiais; direcionar o frasco de
modo que a boca fique em sentido contrário à corrente (observar Figura 1); se o
corpo de água for estático, deve ser criada uma corrente artificial, através da
movimentação do frasco na direção horizontal (sempre para frente); inclinar o frasco
lentamente para cima para permitir a saída do ar e consequente enchimento do
mesmo; após a retirada do frasco do corpo de água, desprezar uma pequena porção
da amostra, deixando um espaço vazio suficiente para permitir uma boa
homogeneização da amostra antes do início da análise; fechar o frasco
imediatamente, fixando o papel protetor ao redor do gargalo, e identificar
adequadamente a amostra (no frasco e na ficha de coleta).

Figura 1. Esquema de como devem ser feitas as amostragens


manualmente em águas superficiais, segundo a NBR
9898 (ABNT, 1987).
Fonte: NBR 9898 (ABNT, 1987) Adaptado.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2140 2013
Nos estudos de qualidade de água em rios, usualmente são utilizados modelos
probabilísticos para a descrição do comportamento estatístico do seu regime
hidrológico. Com essas ferramentas, podem-se obter informações sobre a época
mais adequada para a programação do plano de amostragem da qualidade das
águas. Em geral, a qualidade das águas será mais crítica durante o período das
vazões mínimas, daí a necessidade do conhecimento das probabilidades dessas
descargas críticas. Nestes casos, o evento mínimo considerado pode ser a vazão
mínima do ano, que é o menor valor de descarga média diária que ocorreu no ano
de observação, ou a vazão mínima de período de retorno igual a dez anos e
permanência de sete dias (ARAÚJO, 1977).
O diagnóstico do uso e ocupação do solo na bacia de captação é uma
ferramenta essencial para a identificação dos parâmetros a serem privilegiados em
um programa de monitoramento. Por exemplo, onde existam atividades agrícolas
intensas torna-se essencial a análise de agrotóxicos; em locais com atividade de
garimpo, deverá ser realizado a análise de mercúrio (BRASIL, 2005).

AMOSTRAGEM

Amostragem é o procedimento definido, pelo qual parte de uma substância,


material ou produto é retirada para produzir uma amostra representativa do todo,
para ensaio ou calibração. A amostragem também pode ser requerida pela
especificação apropriada, para a qual a substância, material ou produto é ensaiado
ou calibrado. Em alguns casos (por exemplo: análise forense), a amostra pode não
ser representativa, mas determinada pela disponibilidade NBR17025 (ABNT, 2005).
Na seleção do ponto para retirada das amostras de água, dois aspectos estão
envolvidos: o local dentro do sistema e a posição exata no local escolhido (HYNES,
1970).
Para a localização dos pontos de amostragem, deve-se considerar o objetivo
que se pretende alcançar. Assim, se o objetivo é detectar violação dos padrões de
qualidade, são escolhidos pontos onde a probabilidade de ocorrência destas
violações seja maior. Por outro lado se o principal objetivo consiste em determinar o
dano que a poluição está ocasionando aos seres humanos, à vida aquática e aos
usos do curso de água, devem ser estabelecidos locais de amostragem em torno
do(s) ponto(s) de lançamento. Na prática, é importante que sejam definidos, no
mínimo, dois pontos de amostragem para referência no corpo de água receptor. Um
deve estar localizado imediatamente acima do local de lançamento, livre de sua
interferência, e outro abaixo deste. Todavia, não existe uma regra geral para a
demarcação de pontos de amostragem. Os critérios para sua demarcação assumem
uma feição estratégica ao depender do planejamento, do emprego do conhecimento
e da realidade de campo, para a detecção da vulnerabilidade de área para
demarcação de pontos de amostragem. Neste caso, o bom senso é tão importante
quanto o conhecimento. Contudo, vale ressaltar que as evidências levam ao
raciocínio de que, muitas vezes, para que este diagnóstico tenha êxito e sirva de
suporte à ação destinada à melhoria da qualidade ambiental, é necessária uma
integração multiprofissional NBR 9897 (ABNT, 1987).
Na escolha do local adequado para o programa de amostragem é importante
considerar que a qualidade de um corpo d’água varia conforme o local (espacial) e o
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2141 2013
decorrer do tempo (temporal). Para garantir a homogeneidade e representatividade
do local de amostragem proposto, as ações a serem tomadas devem ser
cuidadosamente planejadas, como descritas: conhecer os objetivos do programa;
levantar os dados existentes na área de influência a ser estudada e proceder a um
reconhecimento da mesma; selecionar possíveis locais de amostragem, examinando
a homogeneidade espacial e temporal; verificar se o programa é economicamente
viável; elaborar plano de amostragem e iniciar o programa de amostragem e
análises (CETESB; ANA, 2011).

AMOSTRAGEM EM RIOS

Qualquer amostragem depende do objetivo da pesquisa à qual se destina. No


entanto, geralmente, amostragem em ambientes lóticos envolve três etapas: medida
de descarga, coleta da fase líquida e coleta da fase sólida (BICUDO, 2004).
Segundo este mesmo autor os ambientes lóticos apresentam características
próprias, que devem, necessariamente, ser levadas em conta durante o
planejamento do programa de amostragem. A primeira, característica dos ambientes
lóticos é a constante movimentação das águas. Essa movimentação gera fluxo
turbulento, que pode levar a distribuição não homogênea tanto da fase líquida
quanto da sólida. Essa característica determina que o programa de amostragem
englobe todas as variações longitudinais e transversais que possam ocorrer no
canal. A segunda característica é que o volume de água dos rios flutua
sazonalmente, portanto, esse tipo de variação também deve ser incluído em um
programa de amostragem.
Os objetivos do programa de coleta de água definem, apenas
aproximadamente, os locais para amostragem. Muitas vezes, de acordo com os
objetivos da coleta é que se definem precisamente os locais de amostragem
(CETESB, 1988). Entretanto, quando os objetivos estabelecidos apontam apenas
para uma indicação geral, como no caso do efeito de um efluente na qualidade de
água de um rio, ou da avaliação da qualidade de água potável fornecida a uma
comunidade, é necessário selecionar cuidadosamente os locais de amostragem
apropriados (CETESB, 1988).
Segundo a NBR 9897 (ABNT, 1987) deve-se evitar amostragem em áreas em
que pode ocorrer a estagnação de água; áreas localizadas próximo à margem
interna de curvas, visto que elas podem não ser representativas e áreas de refluxo
de curso de água.
As coletas de água são, geralmente, feitas na calha central do rio na
profundidade de 15 a 30 cm (CETESB, 1988). Segundo BICUDO (2004), os
elementos dissolvidos encontram-se homogeneamente distribuídos ao longo da
coluna d’água. Assim, o autor afirma que coletas para determinar elementos
dissolvidos são realizadas no meio do canal, pouco abaixo (20 - 30 cm) da linha
d’água, quando a profundidade permitir.
No entanto, a coleta realizada desta forma pode não suprir a necessidade de
estudo para alguns casos específicos. Sendo necessário um estudo mais detalhado
das variáveis de qualidade da água ao longo do perfil transversal de um rio. Isto
pode ser confirmado em um estudo realizado por BARROS (2012) no Rio Turvo Sujo
– MG, onde a autora recomenda uma amostragem a 20 cm de profundidade em
relação à superfície considerando amostra composta por três pontos (esquerdo,
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2142 2013
central e direito) para as variáveis condutividade elétrica, fósforo total dissolvido,
fósforo inorgânico dissolvido, amônio e nitrato; já para as variáveis OD, turbidez, pH,
fósforo total, fósforo inorgânico dissolvido e nitrogênio total, recomenda-se a
amostragem composta por três pontos (superfície, meio e fundo) na coluna central
do curso d’água.
Normalmente, no caso de lançamento ou (descarga), os efluentes não sofrem
uma mistura completa ao entrar em contato com o corpo receptor, por isso as
normas de controle são destinadas aos trechos com distribuição uniforme. A
amostragem em zona de mistura exige estudos mais rigorosos; portanto, o
procedimento a seguir deve ser encarado como uma proposta de normalização
desta amostragem, onde se leva em consideração que: a) na escolha de uma seção
de amostragem deve-se avaliar, a priori, se a distribuição de um determinado
poluente é homogênea; não sendo homogênea, devem ser realizadas amostragens
que permitam definir o valor expectável da concentração na seção; b) se houver
substâncias prejudiciais aos atuais e/ou futuros usos da água na seção amostrada,
deve-se adotar a concentração máxima encontrada como valor representativo desta
seção; c) os parâmetros físicos, químicos e biológicos devem ser tratados
separadamente em relação a amostragem; d) devido à falta de homogeneidade da
mistura as seções transversais do corpo receptor nas seções de amostragem devem
ser examinadas antes de serem incluídas na rotina de amostragem. Para isto,
devem ser feitas amostragens integradas ou a diversas profundidades em vários
setores verticais ao longo da seção, dependendo da largura e profundidade do corpo
receptor NBR 9897 (ABNT, 1987).
Para a definição dos ensaios a serem realizados nas águas superficiais
(bruta) e sedimento e o enquadramento das classes e usos, é fundamental manter-
se atualizado, consultando a legislação vigente nos “sites” das instituições
responsáveis pela sua elaboração e/ou homologação, como ANA (Agência Nacional
de Águas), ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), CONAMA (Conselho
Nacional do Meio Ambiente), IBAMA (Instituto Nacional do Meio Ambiente), SMA
(Secretaria do Meio Ambiente) de cada estado, e critérios internacionais adotados
pela OMS (Organização Mundial de Saúde), USEPA (Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos), Environment Canadá, Comunidade Europeia, entre
outros (CETESB; ANA, 2011).

COLETA E ÍNDICES DE QUALIDADE DA ÁGUA

Os índices de qualidade da água - IQA são bastante úteis para transmitir


informação a respeito da qualidade da água ao público em geral, podendo dar uma
ideia da tendência de evolução desta ao longo do tempo, permitindo comparação
entre diferentes cursos d'água. Os índices de qualidade da água estão associados
ao uso que se deseja para um corpo d'água (PORTO, 1991).
De acordo com a Agência Nacional de Águas - ANA (2009), o IQA é
composto por nove parâmetros, com seus respectivos pesos (w), que foram fixados
em função da sua importância para a conformação global da qualidade da água
(Tabela 1).

ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2143 2013
Tabela 1. Parâmetros de qualidade da água do IQA e respectivo peso
Parâmetro de Qualidade da Água Peso (w)
Oxigênio dissolvido 0,17
Coliformes termotolerantes 0,15
Potencial hidrogeniônico - pH 0,12
Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO5;20 0,10
Temperatura da água 0,10
Nitrogênio total 0,10
Fósforo total 0,10
Turbidez 0,08
Resíduo total 0,08
Fonte: ANA (2009) Adaptado.

Segundo a CETESB (2008) o valor do IQA é calculado pelo produtório


ponderado das qualidades de água correspondentes às variáveis que integram o
índice, como expresso pela equação abaixo:

wi
IQA = ∏ qi
Onde:

IQA: Índice de Qualidade das Águas, um número entre 0 e 100;


qi: qualidade do i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido da
respectiva “curva média de variação de qualidade”, em função de sua concentração
ou medida;
wi: peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1,
atribuído em função da sua importância para a conformação global de qualidade
(Tabela 1).

A partir do cálculo efetuado, pode -se determinar a qualidade das águas


brutas, indicada pelo IQA numa escala de 0 a 100 (Tabela 2).

Tabela 2. Classificação do IQA


Categoria Ponderação
Ótima 79 < IQA ≤ 100
Boa 51 < IQA ≤ 79
Regular 36 < IQA ≤ 51
Ruim 19 < IQA ≤ 36
Péssima IQA ≤ 19
Fonte: CETESB (2008) Adaptado.

Para o cálculo do IQA a coleta de amostras em águas superficiais deve ser


realizada criteriosamente seguindo os procedimentos descritos segundo a CETESB;
ANA (2011): verificar a limpeza dos frascos e dos demais materiais e equipamentos
que serão utilizados para coleta (baldes, garrafas, pipetas etc.); empregar somente
os frascos e as preservações recomendadas para cada tipo de determinação,
verificando se os frascos e reagentes para preservação estão adequados e dentro
do prazo de validade para uso (pode ser verificado no Anexo 1 da CETESB; ANA,
2011); certificar-se que a parte interna dos frascos, assim como as tampas e
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2144 2013
batoques, não sejam tocadas com a mão ou fiquem expostas ao pó, fumaça e outras
impurezas, é importante salientar, que os técnicos responsáveis pela coleta de
amostras não fumem durante a coleta e utilizem uniformes e EPI adequados para
cada tipo de amostragem; fazer a ambientação dos equipamentos de coleta com
água do próprio local; garantir que as amostras líquidas não contenham partículas
grandes, detritos, folhas ou outro tipo de material acidental durante a coleta; coletar
um volume suficiente de amostra para eventual necessidade de se repetir algum tipo
de ensaio no laboratório; fazer todas as determinações de campo em alíquotas de
amostra separadas das que serão enviadas ao laboratório, evitando-se assim o risco
de contaminação; acondicionar em caixas térmicas com gelo as amostras que
exigem refrigeração para sua preservação (observar que as amostras para ensaio
de Oxigênio Dissolvido não devem ser mantidas sob refrigeração), manter registro
de todas as informações de campo, preenchendo uma ficha de coleta por amostra
ou conjunto de amostras da mesma característica e para garantir a integridade da
amostra, não exceder o prazo de validade para a realização das análises físico-
químicas e bacteriológicas em laboratório, onde para cada variável existe um tempo
limite (pode ser observado o Anexo 1 da CETESB; ANA, 2011).

MEDIDA DE DESCARGA OU VAZÃO

De acordo com a NBR 9896 (ABNT, 1993), vazão é o volume de fluido que
passa por unidade de tempo, através da seção transversal de um escoamento. A
medida da vazão é um dos parâmetros mais importantes no estudo de rios, pois
influencia tanto em parâmetros bióticos como abióticos.
A concentração de oxigênio dissolvido é uma das variáveis fortemente
influenciadas pelo volume de água. Em um estudo realizado por BICUDO (2004) no
rio Piracicaba, observou-se que a concentração de oxigênio dissolvido variou
diretamente em função da descarga, ou seja, as maiores concentrações de oxigênio
foram notadas quando ocorreram as maiores vazões e vice-versa.
De acordo com a CETESB; ANA (2011), rios, córregos e ribeirões constituem
canais abertos cujas vazões podem ser determinadas direta ou indiretamente por
vários métodos, podendo-se citar como os principais: volumétricos; com flutuadores;
convencional com molinete hidrométrico; acústico; traçador e com dispositivos de
geometria regular. A medição de vazão em canais abertos considera parâmetros
característicos da seção de interesse, relacionados à geometria da seção: área
molhada, largura superficial, profundidade, dentre outros; e ao escoamento:
distribuição de velocidades da massa líquida na seção.
O método volumétrico consiste em se medir o tempo necessário para o
enchimento de um reservatório de volume conhecido, a vazão será obtida pela
divisão do volume coletado pelo tempo medido. Já a estimativa da velocidade com o
uso de flutuadores é uma alternativa simples e rápida, mas com precisão limitada;
recomenda-se escolher um trecho de curso d’água retilíneo, que apresente margens
paralelas, declividade do leito constante e profundidade uniforme no sentido
longitudinal. Em contrapartida, o método convencional de medição de vazões com
molinete hidrométrico é bastante utilizado e serve de referência aos demais
métodos, consistindo em se determinar a área molhada e a velocidade média na
seção transversal de interesse, obtendo-se a vazão como o produto dessas duas
grandezas (CETESB; ANA 2011).
BICUDO (2004), afirma que para estudos que necessitem de medidas
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2145 2013
eventuais de descarga, pode ser utilizado molinete ou flutuador. Por outro lado,
estudos que necessitem de maior frequência de medida devem utilizar a curva -
chave. Essa curva estabelece uma relação entre altura d’água e descarga. Para
construir essa curva, devem ser realizadas várias medidas de descarga ao longo de
um ano hidrológico, utilizando molinete, e relacioná-las a profundidade medida com
régua disposta próxima às margens dos rios gerando, a partir desses dados uma
curva por meio de regressão.

AMOSTRAGEM EM AMBIENTES CONTAMINADOS

De maneira geral, a amostragem em rios, riachos e pequenos cursos d’água é


feita a montante e a jusante das fontes poluidoras, quando essas existem.
Dependendo do objetivo do estudo, pode-se adicionar pontos de coleta para avaliar
o grau de poluição ou assimilação de carga orgânica ao longo do trecho avaliado,
por exemplo.
A Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos (United States
Environmental Protection Agency - USEPA, 1996) classifica os danos à saúde
humana em quatro níveis. No Quadro 1, a seguir, estão descritos os equipamentos
de proteção requeridos em caso de amostragem em ambientes contaminados.

Quadro 1. Classificação dos danos à saúde humana


EQUIPAMENTOS DE
NÍVEL CONDIÇÕES AMBIENTAIS
PROTEÇÃO REQUERIDOS
Baixa probabilidade de risco –
Corpo e pés protegidos
D nenhum suspeito conhecido
contra riscos não corrosivos.
de veiculação hídrica.
Possíveis riscos de Corpo e pés protegidos, e
C veiculação hídrica, que ainda, máscara de gás
podem ser identificados. apropriada.
Possível faixa de riscos
B Corpo e pés protegidos.
desconhecidos.
Probabilidade alta de doença Roupa especial – “roupa da
desconhecida de veiculação lua” – para impedir a
A
hídrica ou de contato com penetração no corpo e nos
materiais corrosivos. pés.
Fonte: USEPA (1996) Adaptado.

Para o estabelecimento do local, momento e frequência de coleta das


amostras, deve-se definir previamente se o estudo visa a obter uma característica
média, valores máximos ou mínimos, ou a caracterização instantânea de um ponto
do corpo receptor (CETESB; ANA, 2011).

COLETORES

Segundo a NBR 9898 (ABNT, 1987) as amostras líquidas devem ser


estocadas em frascos resistentes, de vidro borossilicato ou de plástico, que sejam
quimicamente inertes e propiciem uma perfeita vedação. Quando os frascos
plásticos forem utilizados, a tampa e o recipiente devem ser do mesmo tipo de
material.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2146 2013
A capacidade dos recipientes varia em função do volume de amostra
necessário para os ensaios a serem efetuados. O frasco geralmente precisa ter
capacidade suficiente para conter a amostra e deixar um espaço que permita uma
boa homogeneização, a menos que o procedimento recomende a coleta com o
frasco totalmente cheio. Normalmente, empregam-se frascos de 250 mL, 500 mL, 1
L e 5 L. Todavia, recipientes com capacidades menores ou maiores podem ser
necessários, de acordo com as determinações a serem realizadas. No caso das
amostras de sedimento, podem ser acondicionadas em potes ou sacos plásticos de
polietileno, potes de vidro de cor âmbar ou papel alumínio e sacos plásticos
reforçados (APHA, 2005).
De acordo com a CETESB; ANA (2011), os recipientes mais utilizados para
coleta e preservação de amostras são os de plástico autoclavável de alta densidade
(polietileno, polipropileno, policarbonato ou outro polímero inerte) e os de vidro com
boca larga (mais ou menos com 4 cm de diâmetro) para facilitar a coleta da amostra
e a limpeza.
Segundo BICUDO (2004), a coleta mais comum é por meio de garrafas do
tipo Niskin ou Van Dorn. Essas garrafas têm por característica principal um
dispositivo que permite que as mesmas sejam fechadas depois de submersas. Após
submersão, um peso, denominado mensageiro, é lançado pela corda em que está
presa a garrafa e, ao atingir um dispositivo na garrafa, faz com que esta seja
fechada.
Conforme a NBR 9898 (ABNT, 1987) é aconselhável reunir em um mesmo
frasco todas as porções de uma amostra necessária a parâmetros cujos métodos
analíticos requeiram a mesma forma de preservação e frascos de mesmas
características, analisados pelo mesmo laboratório. BICUDO (2004) afirma que, na
falta das garrafas do tipo Niskin ou Van Dorn, pode-se utilizar balde plástico comum.
No entanto, comprovadamente, segundo esse mesmo autor, o uso desses
recipientes tende a aerar a amostra, aumentando a concentração de oxigênio
dissolvido.

TRANSPORTE, ARMAZENAGEM E PRESERVAÇÃO DE AMOSTRAS

Uma vez obtidas as amostras a partir dos coletores específicos, torna-se


crucial armazená-las em frascos adequados para cada tipo de determinação
posterior, pois o material do qual o recipiente é feito pode acarretar contaminações
(BICUDO et al., 2004).
Devido à dificuldade em se analisar uma amostra imediatamente após a sua
coleta, a NBR 9898 (ABNT, 1987) relata que se tornam necessárias técnicas de
preservação, tais como controle de pH, adição de reagentes químicos e refrigeração,
que mantenham a amostra praticamente inalterada até o momento de seu exame
em laboratório. De acordo com a CETESB; ANA (2011), as técnicas de preservação,
a seleção adequada dos frascos, e a forma de armazenamento, têm por objetivo
retardar a ação biológica e a alteração dos compostos químicos; reduzir a
volatilidade ou precipitação dos constituintes e os efeitos de adsorção; e/ou
preservar organismos, evitando ou minimizando alterações morfológicas, fisiológicas
e de densidades populacionais, em todas as etapas da amostragem (coleta,
acondicionamento, transporte, armazenamento, até o momento do ensaio).
Uma vez coletada, a amostra deve ser transportada até o laboratório,
garantindo sua integridade e preservação, e no tempo necessário para que sua
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2147 2013
análise ocorra dentro do prazo de validade da preservação. A CETESB; ANA (2011)
recomenda colocar os frascos na caixa de tal modo que fiquem firmes durante o
transporte; nos casos em que se usar gelo para a preservação, cuidar para que os
frascos, ao final do transporte, não fiquem imersos na água formada pela sua fusão,
o que aumentaria muito o risco de contaminação; cobrir a caixa de modo que a sua
tampa exerça leve pressão sobre a tampa dos frascos, impedindo que se destaquem
durante o transporte e evitar a colocação de frascos de uma mesma amostra em
caixas diferentes.

SEGURANÇA NOS TRABALHOS DE CAMPO E ACESSO AOS


PONTOS DE AMOSTRAGEM

Todos os riscos potenciais envolvidos na execução da coleta devem ser


avaliados, estabelecendo-se regras de segurança que preservam a integridade física
do pessoal, evitando-se danos aos materiais, aos equipamentos e às amostras NBR
9898 (ABNT, 1987).
Para que os riscos de acidentes possam ser reduzidos, deve-se alertar e
treinar os técnicos envolvidos, providenciando os equipamentos de proteção
individuais (aventais, botas, luvas, óculos de segurança, capa de chuva, protetor
solar) e coletivos adequados ao trabalho a ser realizado, bem como ter disponível
uma caixa de primeiros socorros (CETESB; ANA, 2011).
Locais de difícil acesso e próximos a pontes, estradas movimentadas e locais
de tráfego intenso de máquinas etc., podem aumentar a probabilidade de acidentes,
muitas vezes evitáveis. Uma ponte, por exemplo, pode constituir-se em caminho
mais fácil para se atingir o meio de um rio e retirar a amostra, na sua maioria, porém,
esses locais são muito movimentados. Por isso, a coleta em pontes deve ser
precedida da colocação de dispositivo de sinalização adequado, que proporcione
proteção contra veículos em transito. Regiões com muita vegetação, nas quais o
acesso aos pontos de coleta seja realizado por meio de trilhas, oferecem maior risco
de picadas de insetos e mordeduras de cobras ou outros animais. Portanto, nesses
locais a atenção deve ser redobrada e deve-se usar vestimenta adequada, como
calças compridas, botas, perneira, chapéu etc. Repelentes para insetos podem ser
utilizados, desde que sejam usadas luvas durante o manuseio das amostras para
ensaios químicos, a fim de evitar a contaminação das mesmas (CESTESB; ANA,
2011).

ANÁLISE DE DADOS

Conforme BICUDO (2004), o conhecimento estatístico deve ser usado pelo


pesquisador da área como meio de externar (pôr em prática) coerentemente sua
atividade científica, jamais como fim ou lei injustificável em seu próprio uso. Como as
demais estruturas do raciocínio cientifico, ele é dinâmico e está em constante
atualização no sentido de buscar alternativas que tornem a prática cientifica, desde o
planejamento de um experimento até a coleta dos dados e sua análise, cada vez
mais eficiente em relação ao processo de tradução do mundo real.
De acordo com a EMBRAPA (2011), o aspecto mais importante do uso da
química analítica é assegurar que os dados e resultados obtidos tenham a melhor
qualidade possível. Isto significa que o analista deve ser capaz de reconhecer
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2148 2013
quando há um defeito no equipamento utilizado e quando há um erro humano e
deve estar seguro de que a leitura de amostras em um equipamento é a mais real
possível. Erros em laboratórios analíticos podem ser de dois tipos: sistemáticos ou
aleatórios. Segundo KENKEL (1994), os erros sistemáticos podem ser provenientes
de contaminação de amostras e reagentes, erros na calibração de instrumentos,
impurezas de reagentes ou da água de diluição, mau funcionamento de
equipamentos, erros nos métodos de amostragem, dissolução incompleta de
amostras, erros nos cálculos, entre outros. Erros aleatórios podem ser humanos ou
inerentes às medidas, como a maneira com que instrumentos são operados e na
leitura de um menisco ou de uma medida.
Contudo, os erros que porventura possam ocorrer no decorrer de um
experimento podem ser minimizados pela repetição de uma medida várias vezes
(replicatas). EMBRAPA (2011) afirma que há dois tipos de incerteza que devem ser
consideradas, acurácia e precisão. Acurácia refere-se a exatidão de uma medida ou
série de medidas, de quanto ela está próxima do valor real, enquanto que precisão
não está necessariamente relacionada à acurácia, mas em como as medidas estão
relacionadas entre si, isto é, a sua capacidade de repetir o mesmo resultado. O autor
ainda afirma que quanto maior é a precisão das medidas, menor o erro aleatório.
O sucesso de um experimento requer avaliação e uso, ainda que informal, de
toda informação a priori que o pesquisador possa ter sobre o objeto de sua
pesquisa. No planejamento, o conhecimento cientifico do pesquisador, o mais
atualizado possível, deve ser sumarizado e questões a serem respondidas têm de
ser claramente afirmadas por intermédio de hipóteses. Segundo BICUDO (2004), em
estudos limnológicos, estas ideias gerais podem ser descritas, por exemplo,
identificando como respostas de interesse medidas biológicas, bioquímicas, físicas,
químicas e outras ligadas ao sistema (aquático) sob estudo, as quais podem muitas
vezes, ser obtidas no local ou em laboratório, por meio da análise de amostras (de
água, de sedimentos e de indivíduos). O autor também afirma que, quanto aos
fatores que influenciam essas medidas, isto é, as fontes de variação conhecidas,
podemos citar componentes espaciais (variação da resposta ao longo de linhas
transversal, longitudinal e profundidade de um reservatório ou rio), temporais
(variação sazonal, mensal, semanal, diária, por exemplo), além de outros fatores
mais específicos, como variações hidrológicas ou climáticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação de variáveis limnológicas de qualidade de água é relevante para a


compreensão da interação dos ecossistemas com o ambiente aquático, de passivos
ambientais e para a proposição de soluções viáveis para esses. O desenvolvimento
de metodologias precisas e seguras, principalmente no que diz respeito ao
procedimento de coleta de amostras, são cada vez mais requeridas a fim de
contribuir para o alcance desses objetivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Portal de qualidade das águas –


Indicadores de qualidade – Índices de qualidade das águas, 2009. Disponível
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2149 2013
em: http://pnqa.ana.gov.br/IndicadoresQA/IndiceQA.aspx. Acesso em: 19 de Junho
de 2013.

APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the


examination of water and wastewater. 19 Ed. New York: APHA, WWA, WPCR,
1995.

ARAÚJO, A. M. Um modelo matemático para simulação e otimização do


controle da qualidade d’água em sistemas fluviais. Tese de M. Sc. Em
Engenharia – COPPE-PEC/UFRJ. Rio de Janeiro, p. 87, 1977.

ARAÚJO, A. M. Um plano de amostragem de qualidade d’água em estuários:


caso do recife. RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos. v. 5. N-4. Out/Dez,
p. 111-120, 2000.

ARCOVA, F.C.S.; CESAR, S.F.; CICCO, V. Qualidade da água e dinâmica de


nutrientes em bacia hidrográfica recoberta por floresta de mata atlântica.
Revista do Instituto Florestal, São Paulo, v.5, n.1, p.1-20, 1993.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9896: Glossário de


Poluição das Águas. Rio de Janeiro, 1993.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9897: planejamento


de amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores - procedimento. Rio
de Janeiro, 1987.

ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÈCNICAS. NBR 9898: preservação e


técnicas de amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores -
Procedimento. Rio de Janeiro, 1987.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Requisitos Gerais


para a competência de laboratórios de ensaio e calibração. NBR ISO/IEC 17025.
Rio de Janeiro; ABNT; 2005.

BARBOSA, F. A. R. Programa brasileiro para conservação e manejo de águas


interiores: síntese das discussões. Acta limnologica brasiliensia, Botucatu, v. 5, n.
1, p. 211-222, jun. 1994.

BARRELA, W. et al. As relações entre as matas ciliares, os rios e os peixes. In:


RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO; H. F. (Ed). Matas ciliares; conservação e
recuperação. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.

BARROS, F. M. et al. Distribuição quantitativa de variáveis de qualidade da


água coletada em diferentes pontos de um perfil transversal do rio turvo sujo
– MG. REVENG. Engenharia na agricultura, Viçosa – MG, v.20 n.1, Janeiro/
Fevereiro, p. 60-69, 2012.

BERNHARDT, H. Control of reservoir water quality. In: Hahn, H.H. & Klute, R.
(eds) Chemical water and wastewater treatment. Springer, Berlin, 1990.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2150 2013
BICUDO, C. E. et al. Amostragem em Limnologia. São Carlos: Rima, 2 ed., 2004.

BISNAS, A. K. monitoramento eficiente de lagos. Shiga: ONU, p. 541, 1990.

BORMANN, B.T.; BROOKES, M.H.; FORD, E.D.; et al. A framework for


sustainable-ecossystem management. Portland: Department of Agriculture, Pacific
Northwest Research Station. (General thechnical report- PNW – GTR – 331), p. 61,
1994.

BRASIL. Ministério da Saúde. Diretriz Nacional do Plano de Amostragem da


vigilância Ambiental em Saúde Relacionada à Qualidade da Água para
Consumo Humano. Brasília, DF, maio de 2005.

CETESB (Companhia de Tecnologia Ambiental do estado de São Paulo). Guia de


coleta e preservação de amostras de água. São Paulo, CETESB, 1988.

CETESB (Companhia de Tecnologia Ambiental do estado de São Paulo). Relatório


de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo. São Paulo: Governo
do Estado de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, p. 540, 2008.

CETESB (Companhia de Tecnologia Ambiental do estado de São Paulo). Guia


nacional de coleta e preservação de amostras: água, sedimento, comunidades
aquáticas e efluentes líquidos. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo;
Organizadores: Carlos Jesus Brandão [et al.]. São Paulo: CETESB; Brasília; ANA,
2011.

CLAPHAM, W.B.; DAVENPORT, T.; HOLLAND, MARJORIE M.; RAST, WALTER;


RYDING, SVEN OLOF; THORNTON, JEFFREY A. In: RYDING, SVEN OLOF;
THORNTON, JEFFREY A.; CLAPHAM, W.B.; GRANAT, L.; HOLLAND, MARJORIE
M.; KELLER, H.M.; LIJKLEMA, L.; LÖFGREN, S.; RAST, WALTER; VERMES, L.
(Eds). Assessment and control of nonpoint source pollution of aquatic
ecosystems: a practical approach. Paris: Unesco e Parthenon Publishing, p. 113 –
216, 1999.

COIMBRA, R. M. Monitoramento da Qualidade da Água, cap. 4 em Hidrologia


Ambiental. Coleção ABRH, v. 3, p. 391- 411, 1991.

EMBRAPA – Manual de procedimentos de amostragem e análise físico-química


de água. Lucilia Maria Parron; Daphne Heloisa de Freitas Muniz; Claudia Mara
Pereira. Embrapa Florestas, 2011.

HADDAD, E. A. Influencia Antrópica na qualidade da água da bacia hidrográfica


do rio São Miguel, Carste do alto São Francisco, MG. 2007. 156 f. Dissertação
(Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2007.

HENDERSON, H. Além da globalização. São Paulo: Cultrix/Amana-Key, p. 184,


2003.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2151 2013
HYNES, H.B.N. The ecology of running waters. 3. ed. Liverpool: University Press,
p. 555, 1970.

KENKEL, J. Analytical Chemistry for technicians. 2. ed. Boca Raton: Lewis


Publishers, p. 541, 1994.

LARENTIS, D. G. Modelagem matemática da qualidade da água em grandes


bacias: sistema Taquari/Antas – RS. 2004. 159 f. Dissertação (Mestrado em
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) - Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2004.

LIMA, W.P. Princípios de hidrologia florestal para o manejo de bacias


hidrográficas. Piracicaba; ESALQ/USP, p. 242, 1986.

MACEDO, Jorge A. B. de. Métodos laboratoriais de analises físico-quimicas e


microbiológicas. 2. ed. Belo Horizonte: Ed. Conselho Regional de Química, 2003.

MATHEUS, C.E.; MORAES, A.J. de; TUNDISI, T.M.; TUNDISI, J.G. Manual de
análises limnológicas. São Carlos: Centro de Recursos Hídricos e Ecologia
Aplicada, USP, p. 62, 1995.

PALMA-SILVA, G.M. Diagnóstico ambiental, qualidade da água e índice de


depuração do Rio Corumbataí – SP. 1999. 155 f. Dissertação (Mestrado em
Manejo Integrado de Recursos) - Centro de Estudos Ambientais, Universidade
Estadual Paulista, Rio Claro, 1999.

PALHARES, J.C.P.; SCANDOLERA, A.J.; LUCAS JÚNIOR, J.; COSTA, A.J. da.
Monitoramento da qualidade da água do Córrego Jaboticabal através de
parâmetros químicos. In: WORKSHOP DE INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES DA
BACIA HODROGRÁFICA DO RIO MOGI GUAÇU, 3., 2000, Porto Ferreira. Anais...
Porto Ferreira: Prefeitura Municipal de Porto Ferreira, p. 43-44, 2000.

PORTO, F.A.; BRANCO, S.M.; LUCA, S.J. Caracterização da qualidade da água.


In: PORTO, R.L.(Org.). Hidrologia ambiental, São Paulo: EDUSP, p.375-390, 1991.

ROCHA, J. S. M. da. Educação ambiental técnica para os ensinos fundamental,


médio e superior. 2ª Ed. Santa Maria: Imprensa Universitária, 1999.

STRAŠKRABA, M. & TUNDISI, J.G. (orgs). Diretrizes para o gerenciamento de


lagos: gerenciamento da qualidade da água de represas. Instituto Internacional
de Ecologia, São Carlos, vol. 9, 2 ed., p. 300, 2008.

TRENTIN, G.; FILHO, W. P. Características Limnológicas no município de


Severiano de Almeida – RS. Revista eletrônica do curso de geografia, Jataí – GO.
n. 12. Jan- jun/2009.

TUCCI, C. E. M. Modelos hidrológicos. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p.669,


1998.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2152 2013
USEPA (United States Environmental Protection Agency). Elements of
biomonitoring. In: Revision to rapid bioassessment protocols for use in
streams and rivers: periphyton, benthic macroinvertebrates and fish.
Washington, p. 1-11, cap. 3, 1996.

WETZEL, R. G. Limnology: lake and river ecosystems. 3. ed. California:


Academic Press, 2001.

ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p.2153 2013

Você também pode gostar