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Coisasde Homens

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O GRUPO PROJETOS DE LEITURA desenvolve várias atividades

e projetos de incentivo à leitura em todo o Brasil. São ações


em escolas públicas, praças públicas, parques, ônibus metrô,
aeroportos, hospitais e doação de livros para instituições
filantrópicas.
Em mais uma ação para facilitar o acesso à leitura, os livros do
escritor Laé de Souza, utilizados nos projetos do grupo, são
disponibilizados, gratuitamente, em pdf.

Projetos
de
Leitura

Autor - Laé de Souza

LEITURA
NÃO TEM
IDADE
Autor: Laé de Souza
O desagradabilíssimo tema do adultério e o batido tema do amor
podem transformar-se, na mão de um bom escritor, em
momentos de prazer literário e percepção (humorística e/ou
filosófica) do que é o ser humano “este monstro incompreensível”,
como dizia Pascal.
O bom escritor é, aqui, Laé de Souza, cujas crônicas falam sobre
muitas coisas de homens e mulheres e, volta e meia, do problema
crônico da vida amorosa: a traição.
Traiçãozinha ou traição da grossa, assedio ou escapadinha, a
mulher do amigo, a vizinha, noitadas ou pulinhos de muro, Laé
investiga com ironia e um sorriso condescendente a humana
fraqueza. Driblando a baixaria, dispensa as descrições vulgares
e atenta para o comportamento humano com a nobreza dos
moralistas bem-humorados.
Mas, reconhecida a obsessão principal, vemos que o livro vai por
aí afora e, frequentado por personagens com nomes sublimes,
extravagantes (Garibaldini, Tibúrcia, Altanésio e outras pérolas),
fala também de politica, de esporte, de loucura, de família, de
dinheiro e tudo aquilo que nós, pessoas comuns, reconhecemos
nossos temas de conversa, fofoca e reflexão.
Sim, este Nelson Rodrigues light, que caiu em nossas mãos,
também diz como a vida é. E a vida é isso aí!

Gabriel Perissé
COISAS
DE HOMEM
&
COISAS
DE MULHER

Laé de Souza
crônicas

26ª edição
2018
Copyright 8 Laé de Souza
Dados Internacionais de Controle (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Souza, Laé de
Coisas de Homem & Coisas de Mulher
Crônicas / Laé de Souza - 26ª edição - São Paulo - SP
Editora Ecoarte, 2018

ISBN: 978-85-87588-25-8

1. Crônicas brasileiras I. Título.


02-0143 CDD-869.935

Índice para catálogo sistemático:

1. Crônicas: Século 20: Literatura brasileira - 869.935


2. Século 20: Crônicas: Literatura brasileira - 869.935

Assessoria Editorial
G2R Comunicação
Capa
Sidney Guerra
Ilustração
Rucke
Fotografia
Nivaldo Amorim
Revisão
João Batista Alvarenga
À
Marlúcia,
companheira e esposa.

Ao
Fábio e Patrícia,
filhos e amigos.

Aos
Amigos.

5
6
ÍNDICE
Enfim, só .......................................................... 09
Adultério ............................................................. 12
Ano que vem ........................................................ 15
Assédio sexual .................................................. 17
O vendedor de bonecas ......................................... 20
Com o Feio, não ................................................... 22
Cartas sobre o Feio.............................................. 25
Como curtir o carnaval (sem a mulher) ................. 27
Carta do Bartô....................................................... 29
Segunda carta do Bartô ......................................... 31
Uma carta não entregue ........................................ 33
Deixado por uma mulher ...................................... 35
No salão de danças .............................................. 37
O desconfiado .................................................... 39
Desconfiança .................................................... 42
Do diário de uma mulher ...................................... 44
A mulher do Diolindo ............................................ 46
A arte de ser homossexual ................................. 49
Ainda, homossexualidade .................................. 52
A mulher certa ................................................. 54
A mulher de um amigo....................................... 57
Pescaria do Altanésio ............................................ 60
Duas preces ....................................................... 63
RC/00 ................................................................. 65
Traição da Rita ....................................................... 68
Será o Benedito? .............................................................. 70
Traição .......................................................................... 72
Procura-se uma mulher .................................................. 75
Zaroio ........................................................................... 77
Mudança da Justiniana ................................................... 80

7
Coisas da vida ................................................................. 82
Traiçãozinha ................................................................. 83
Coisas do Natal ............................................................... 86
Volúpia ......................................................................... 88
Como conquistar sua mulher ........................................... 90
Glossário ....................................................................... 92
Projetos de Leitura ........................................................... 94
Obras do Autor ............................................................... 95

Nota: Nas páginas 92 e 93 constam algumas palavras com


seus significados (Vocabulário) para melhor compreensão
dos textos.

8
ENFIM, sÓ
Depois de uma discussão mais acalorada, ela mesma
tomou a iniciativa da separação. Sempre aceitou tudo
passivamente, serviente ao extremo e, às vezes, acreditando
em coisas inacreditáveis. Mas, chegou o momento de dar
o grito de liberdade.
Após a saída dele, tarde da noite, ligou para sua
amiga e confidente, a quem sempre contou todas as
lamúrias, para anunciar sua decisão. Ela, que sempre
fora fina, baixou o nível e mandou que ele juntasse suas
coisas e caísse fora. Que fosse para aonde quisesse. Casa
da cunhada, da sogra, problema dele. E outra, que levasse
os filhos junto. Ficariam um tempo com cada um e que
começasse com a vez dele.
Pela primeira vez bebericava sozinha um uísque no
sofá e, entre um gole e outro, ligava para as amigas em
plena alegria sem se importar com o horário. Encontrou
solidariedade e palavras de “conte comigo” em quase
todas, o que lhe deu mais firmeza para empunhar a
bandeira da independência. Desconsiderou uma ou outra
que achou muito avanço de sua parte tomar tal decisão,
pressentindo que, certamente, aquela amizade já estava
encerrada.
Pela manhã, mesmo com a cabeça pesada, começou
as mudanças no apartamento. Mandou pintar a sala de
lilás, cor que ele detestava, mas ela adorava (será?), o quarto
de azul-anil, trocou os móveis de posição, doou a cama de
casal para uma instituição de caridade e comprou uma de
solteiro, encaixotou os livros, escova de dentes, sapatos e
outros pertences dele e mandou entregar na casa da sogra.

9
Depois de tudo arrumado do seu jeito, respirava
aliviada. Enfim, só. Só? Agora se lembrava que
tinha acabado tudo e que, no dia seguinte, não havia
compromisso. Podia acordar às dez horas, pois não tinha
para quem fazer café, não tinha que ensinar crianças
a escovar os dentes, não tinha filhos para levar ao
médico, não tinha que controlar telefonemas ou agendar
compromissos. Sentiu um vazio por dentro. Afligiu-se com
a falta do levar e buscar as crianças na escola, de esperar o
marido chegar e resmungar do atraso do jantar, de discutir
sobre para aonde ir nas próximas férias, dos reclamos dele
por ela fumar na mesa...
Durante vários dias, passeou pelos shoppings,
conheceu vários salões de baile, salas de cinema e chegou
a participar de reuniões feministas. Aquela viagem que

10
ele impediu com mil argumentos que ela fizesse sozinha,
desta vez, aconteceu e fez questão de que ele soubesse. Só
que não sentiu tanto prazer, o que escondeu dele, e faz
segredo até hoje.
Num daqueles nostálgicos dias de chuva a que todos
nós estamos sujeitos, acanhadamente deu uma ligada para
ver como ele estava. Entre um papo e outro, em pouco
tempo estavam pintando de novo o apartamento com
uma cor mais neutra e comprando cama nova, de casal.
Numa boa.

11
ADULTÉRIO
Casos amorosos podem ocorrer na vida, tanto do
homem quanto da mulher. Alguns por acidente, outros,
por sem-vergonhice mesmo! Archimedes era daqueles
que estava sempre correndo atrás de um rabo de saia e
sempre de novo amor. Boa pinta e de conversa bonita,
entrava e saía das encrencas que arrumava com facilidade.
Desculpas mil para romper, desde o amor que murchou
ao arrependimento pela traição à sua mulher.
A coisa caminhava muito bem, até que apareceu
a Justina. A cada justificativa, ela tinha uma proposta
e o romance já estava indo longe demais. Para a viagem
inesperada, pela doença da velha mãe, no interior do Pará,
ela ofereceu-se para acompanhá-lo e se propôs a ajudar
com seus conhecimentos de enfermagem. Na desculpa de
que já não era mais o mesmo, ela indicou e até preparou
chás de catuaba, moqueca de marisco mapé e ainda se
prontificou a fazer um curso com uma professora que
havia visto na TV, mestra em esquentar relacionamentos
de casais.
Na conversa de sentimentos de remorso pelos
momentos de felicidade furtados de sua esposa, que estava
sempre sozinha e carente, ela explicava como experiente
conhecedora, repetindo as palavras do grande filósofo seu
amigo Chico Galinha, que a vida era uma só e que devia
ser gozada plenamente. “O sofrimento é coisa da cabeça.
Se estiver alegre, a tua felicidade também alegrará a alma
da tua mulher, Archimedes.”
Vendo que a coisa não tinha jeito, teve a ideia de
falar para Justina que o negócio dele agora era Cristo.
Estava fechado com a Universal e tinha de acabar com
12
todos os pecados da sua vida. Justina, cansada daquela
lenga-lenga, propôs uma despedida. Embora Archimedes
se negasse, ela insistia: “Uma só, e pronto.” Ele aceitou.
A contragosto, concordou. Não lhe saíam do
pensamento os últimos acontecimentos. A garota do
Espírito Santo que implorou por um último encontro com
o namorado e cortou-lhe o pingolim. O caso do construtor
de Tietê que teve o pênis decepado pela companheira e,
inclusive, ao que parece, envergonhado, fugiu do hospital.
Fora os casos ocorridos no exterior e os abafados. A coisa
estava virando moda e ele não podia vacilar.
No motel, enquanto a fulana despia-se toda sensual,
Archimedes, de olhos fechados desconjurava. Sequer
desabotoou a camisa e, de Bíblia na mão, gritava para que
a pecadora abandonasse o caminho da perdição. Em voz
alta, lia o Levítico 18.20; 20.10, Deuteronômio 22.22,
Hebreus 13.4. De nada adiantou. Justina, que já tinha
frequentado uma igreja, arrancou-lhe a Bíblia da mão e,
lendo João 8.3-11, falou-lhe sobre o perdão da adúltera e

13
que ninguém era isento de pecado. Aos gritos, ele pedia que
dela se afastasse o espírito do mal e declamava o decorado
Êxodo 20.14: “Está na Lei, não cometerás adultério.”
O plano deu certo; mas, ao que se sabe, a notícia
da doidice do Archimedes se espalhou e nenhuma mulher
quer saber mais de conversa com o sujeito. Justina, coitada,
com aquelas coisas na cabeça, converteu-se e frequenta
uma conhecida igreja, porém, é sempre tratada com
desconfiança pelas irmãs, principalmente quando estão
todas de olhos quase fechados e de mãos dadas pedindo
as graças de Deus.

14
ANO qUE vEM
Tem coisas chatas que precisamos fazer e outras que
precisamos deixar de fazer, mas vamos empurrando para
depois e, com a aproximação do final do ano, firmamos o
propósito de começar vida nova no ano seguinte. Com o
iniciar do ano, vou dar novos rumos à minha vida. No dia
31, posso me empanturrar e beber até cair, mas a partir
do dia primeiro, regime alimentar, abstemia (quase total)
e postura de anjo.
São poucas coisas e, com certeza, vou conseguir:

1) Parar de fumar e, como meus amigos ex-fumantes,


fazer campanha contra o fumo;
2) Recusar convites para churrascos, festas de aniversário,
casamentos e comemorações;
3) Fugir de encontros com amigos para chopadas e
cervejadas e resistir firme às gozações (quando passar
em frente à Cachaçaria, vou virar a cara);
4) Fazer cooper todos os dias e espantar com firmeza a
preguiça na hora de levantar;
5) Vencer a irritabilidade e perdoar os inimigos;
6) Fazer aquele tratamento médico do começo ao fim
sem interrupções;
7) Recusar-me a tomar remédios por indicação de amigos
e parentes;
8) Participar ativamente das cerimônias religiosas do bairro
e rezar, pelo menos, um Pai-Nosso antes de dormir;
9) Deixar de pegar tanto no pé do meu filho e de brigar
com minha mulher (mesmo quando ela vier com

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insinuações descabidas);
10) Parar de torcer para aquele time que só me tem dado
sofrimento;
11) Ser tranquilo no trânsito e nem esquentar com
fechadas e xingos;
12) Iniciar a tão protelada reforma da casa;
13) Ler aqueles livros que estão separados (faz tempo);
14) Responder às cartas recebidas;
15) Organizar, de vez, toda aquela papelada do escritório;
16) Resolver aquele probleminha da escritura da casa;
17) Não discutir nem lançar indiretas para minha sogra;
18) Fazer feiras todo sábado sem reclamar. E ainda me
oferecer para as compras de mercado;
19) Tirar férias e fazer a tão sonhada viagem pelas praias
do Nordeste;
20) Não trair minha mulher e até bloquear pensamentos
maliciosos (vou resistir a todas as tentações. Desta
vez, é para valer);
21) Não deixar, como nos anos anteriores, para iniciar
essas coisas no ano que vem.
Desejo que os leitores desta crônica também
consigam realizar a sua lista, principalmente em relação
àqueles anseios que se aproximam do espírito natalino.

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ASSÉDIO sEXUAL
Nos tempos atuais, corre-se grande risco, quando
uma simples paquera pode ser interpretada como assédio
sexual, com direito à vítima de “ação de indenização” por
danos morais. O problema é que, geralmente, a coisa toma
uma dimensão maior com a publicidade, fazendo a vítima
ser mais vítima e o incriminado ser mais vilão ainda, sendo
recriminado com veemência mesmo pelos homens que,
quer queira, quer não, já deram uma paqueradinha ainda
que descompromissada.
O Mike Tyson, que cumpriu pena pelo crime e viu-se
acusado novamente de assédio, certamente deixará de
frequentar boates e casas noturnas.
O Luxemburgo foi acusado de assédio, se bem
que, para mim, do jeito que a coisa foi contada, pela
distinta senhora, o ato se apresenta mais como tentativa
de estupro do que assédio, pois segundo ela, o treinador,
após insinuar-se, tentou agarrá-la. Chamar uma manicura
para fazer o trabalho em seu quarto, sem dúvida, é expor-
-se a risco. Por isso, Casa de Massagem só frequento com
uma pessoa ao lado, como testemunha de que a mulher
praticou seu ofício sem ser molestada.
Tempos atrás, um médico foi filmado, no momento
do exercício de suas funções de ortopedista. Para examinar
o joelho de uma paciente-repórter, mandou que ela
se despisse. Ficando a paciente só de calcinhas e com
um avental aberto nas costas, ele, por trás, em cena
constrangedora, foi acusado de boliná-la. Questionar que
a moça insinuou-se e estimulou a ação é problema da
defesa e não nos compete, principalmente pelo excesso,

17
mas deve ser considerado.
Recordo-me, com saudade, das várias cantadas na
Ritinha para conseguir grandes noitadas, ao que não me
arriscaria hoje. E, certamente, com uma só ela não iria.
Das flores enviadas para Claudine com discreto cartão, dos
olhares melosos para Dirce, dos cumprimentos com beijos
longos e insinuantes na Carol, dos constantes elogios aos
cabelos da Marlene, e outras, e outras que deram certo.
Coisas do passado. É preferível ser chamado de bobo por
não perceber “bolas” de uma mulher, a responder por

18
um processo e ser apontado como desavergonhado. Essa
tendência inibe e, se solteiro fosse, não teria coragem de
convidar minha própria mulher para um início de namoro.
Diante dos acontecimentos, criei certas precauções
que, embora contra a minha natureza, procuro seguir:
não convido uma mulher para dançar por mais de uma
vez, não olho em seus olhos ou para suas pernas, evito
entrar sozinho em elevador cheio; se der carona, ela tem
que sentar no banco de trás, não me dou a gentilezas que
prenunciem exageradas, não convido nenhuma mulher
para tomar um sorvete ou um chope e recuso convites.
Claro que, por conta disso, deixaram de ocorrer romances
e histórias de amor. Mas, também, tem uma: se levar
cantada de alguma, deixo de lado meus princípios, faço
alarde e denuncio por assédio porque, daqui para frente,
os direitos são iguais.

19
O vENDEDOR
DE BONECAS

A beleza feminina, sem dúvida, abre caminho e


facilita negociações. Determinados ramos utilizam-se do
expediente com relativo sucesso.
Há pouco tempo, um amigo que já andava
endividado confessou-me ter adquirido um veículo novo
a prestações, por não conseguir fugir aos argumentos
e, principalmente, à beleza de uma vendedora. E já anda
quase enrascado com um consórcio.
Guilhermindo, vendedor de seguros, de quem o
chefe, um machista nato, sempre chamava a atenção e lhe
mostrava a planilha de vendas da colega, ferindo os brios
do infeliz, sob os argumentos de como permitia que uma
mulher o ultrapassasse em volume de negócios.
Ramiro, estabelecido com escritório de cobranças
de cheques sem fundos, trocou todo o seu departamento
jurídico por formosas donzelas que, após uma semana
de treinamento, saíram a campo em busca dos emitentes
dos “voadores”, que hoje são recebidos com acréscimos,
sem muita dificuldade (com raríssimas exceções) e sem
a emissão de um grande número de correspondências e
intermináveis batalhas jurídicas.
No ramo de brinquedos, seguindo a tendência do
mercado, é que Juju utilizou-se do expediente. Como esse
segmento não é tão volumoso em vendas, apesar dos seus
preços altos, não há como contratar terceiros. Assim, a

20
coisa funciona na base da economia familiar e a sua linda
mulher é quem oferece o produto. Enquanto o coitado
carrega sacolas cheias, ela vai dois metros à frente como
que numa passarela, exibindo sua beleza e o mostruário
com uma dúzia de bonecas. Não há como evitar de olhar ou
até de aproximar-se para, pelo menos, consultar os preços.
Mulheres acompanhadas dos maridos ou namorados os
arrastam para longe, fugindo como o diabo foge da cruz.
Fecham a cara e se ligam nos olhares dos acompanhantes
que, mesmo disfarçadamente, sempre dão uma olhadela.
Creia, não dá para resistir, mesmo sob o risco de levar um
beliscão ou uma bolsada da mulher.
Do meu lado, uma mulher vermelha de raiva, falava
ao marido: “Me respeite. Quando estiver sozinho, faça
suas cachorradas, mas quando eu estiver junto, exijo ser
respeitada.” E o fulano, envergonhado, tentava disfarçar.
Senhores sisudos olham de soslaio e muitos adquirem
as tais bonecas. Os que só olham e recusam a oferta do
produto, são intimidados pelo forte Juju que adverte: “Se
não quer, então, pare de olhar.” Eu mesmo comprei duas,
após demorada escolha e consulta à opinião da vendedora
sobre a cor do vestido da boneca. E foi suave ouvir sua voz:
“Juju, pega duas deste modelo para o cavalheiro.” Meu
amigo, o tal endividado, queria comprar todo o estoque
e foi duro convencê-lo a levar apenas vinte, sob forte
argumentação minha ao seu ouvido de que a situação
econômica dele anda mal.
Segundo comentários, Juju está na região. Se,
eventualmente, seu marido chegar em casa com algumas
bonecas de vestidinho bordado para lhe dar de presente,
fique ligada e pode ter certeza de que a dupla está
negociando na cidade.

21
COM O FEIO, NÃO
Embora se ouçam vários chavões, como “A beleza
não é fundamental”, “O que vale é a beleza interior”,
ela abre caminho e muitas pessoas já tiveram sua
oportunidade em função da beleza. Como candidata a
uma vaga, mesmo que o cargo não seja de modelo, a mais
bonita, com certeza, já sai com vantagem. Não se pode
negar que, alguma vez, já demos um “empurrãozinho”
ou até intercedemos em favor de alguma beldade só para
receber um sorriso.
O motivo do convite para um jantar feito àquela
linda vendedora, não obstante eu acreditar que tinha como
meta principal o negócio e secundário a sua beleza, não
poderia ser contestado com firmeza, se essa ordem fosse
invertida.
Mas, a beleza também tem as suas desvantagens.
Uma mulher bonita é mais observada, mais vigiada,
conquista fácil inimizade de outras mulheres e fica muito
exposta a comentários maldosos, em sua maioria, sem
fundamentos. Se entrar em um lugar acompanhado de
uma, não só ela, mas você também é objeto de avaliação.
Mulheres torcem o nariz e vigiam os olhares de seus pares.
Algumas chegam a chutar por debaixo da mesa, outras,
mais declaradas, brigam mesmo. Já vi muitos casais se
retirarem de restaurantes, apressadamente, quando uma
mulher muito bonita instala-se em uma mesa próxima
a deles.
Homens o olham e você sente a pergunta em
seus olhos: por que está acompanhado de uma mulher

22
daquelas? Aproveite, porque não é sempre que se é invejado.
As mulheres bonitas carregam uma tendência muito maior
de ser vigiadas (inclusive o seu olhar) pelo parceiro que, de
forma egoísta, quer monopolizar a beleza.
Uma linda amiga já sofreu muito com cenas de
ciúme doentio do seu marido. No trânsito, foi ameaçada
de morte diversas vezes, só por olhar para o carro ao
lado. Eu mesmo já presenciei e, sinceramente, pedi a
Deus que não atendesse aos seus pedidos de se tornar feia

23
e ser feliz. Várias vezes, ouvi as lamúrias do meu amigo,
dizendo sentir que era traído. Em suas bebedeiras, chorava
e afirmava que não merecia mulher tão bela, com o que
eu sempre concordava.
Homem bonito (existem muitos) é problema
também. Principalmente para a mulher que está em sua
companhia. É muito mais observada pelas mulheres do que
quando ocorre o contrário. Se ele é daquele tipo convicto de
sua beleza e que gosta de esnobar, então, coitada dela! O
Máximo era assim. Lindo até no nome. A coitada da mulher
rastejava e se humilhava suplicando por um simples olhar,
o que ele fazia com ar de superioridade. Nas brigas, quase
sempre por ciúmes, ela perguntava: “Casou comigo, por
quê?” Sinceramente, nem ele sabia responder.
Um dia, ao chegar em casa, encontrou o bilhete sobre
a mesa. Aliás, parecia mais um telegrama: “Hoje, tenho
quem me faz feliz. Esqueça-me.” Procurou, bisbilhotou,
até que descobriu que a mulher fugira com o Feio. Foi alvo
de conversas e gozações. Recordou-se de que o tal estava
sempre por perto e sorria, quando ele, o Máximo, gozava
de sua feiura. Não acreditava que ele, no esplendor de sua
beleza, fosse traído logo pelo Feio. Ficou por uns dias a
pensar na fuga da mulher, até que endoidou. Pirou de vez
o cara. Juro! Você ainda vai cruzar com o tal lindo por aí
dizendo: “Com o Feio, não, com o Feio não...”

24
CARTAS
sOBRE O FEIO

Da crônica publicada, na semana passada, sobre o


Feio recebi algumas correspondências muito interessantes.
Uma, de um sujeito que se diz lindo e que concorda
com os comentários, pois sofre assédio e é observado em
demasia, quando entra em algum lugar com uma parceira,
pois ainda não encontrou uma mulher que se equipare
à sua beleza para que formem um par perfeito. Acredito,
porque realmente existem homens assim. Exageradamente
lindos.
Recebi outra de um rapaz, ao que me parece muito
distinto, convencido de sua feiura (inclusive enviou foto,
pelo que não posso discordar de seu convencimento), que
diz ter recebido um alento, ao ler o caso, posto que atingira
o pico da desesperança de encontrar alguém, já que, por
mais feio que fosse o Feio, não poderia ser mais do que
ele. Além do que, passou a ser percebido pelas mulheres.
Carrega a minha crônica como um troféu e, sempre que
é molestado ou gozado pelo seu aspecto, saca-a do bolso,
forçando o brincalhão a ler. E afirma, ainda, que está tendo
resultado positivo com uma xerox deixada, discretamente,
perto de alguma garota que é do seu interesse.
Chegou-me uma carta do verdadeiro Feio. O tal
da história. Dizendo-me que leu a crônica pelo jornal
Periscópio e que, embora espelhe a verdade, da maneira
como foi descrita fica a impressão de que é ele um cafajeste

25
e a mulher uma qualquer.
Feio, quero deixar claro que está longe de mim
tal intenção. Tomei conhecimento dos fatos pelo Zaroio.
Aliás, Feio, muitos dos casos narrados por mim foram
confidenciados pelo Zaroio, resultantes de sua larga
vivência em todas as classes sociais. Sei muito bem que a
paixão da mulher do Máximo por você não surgiu de uma
hora para outra. Foi fruto de servidão de sua parte e, mais
ainda, de não ter se inibido, quando foi pisoteado e gozado,
inúmeras vezes, por sua feiura, pelo lindo Máximo. Que
diversas vezes, incansavelmente, enxugou as lágrimas
daquela mulher que implorava por um gesto qualquer de
ternura do marido que, superior em sua beleza, a ignorava.
E que, de repente, ela começou a perceber que você estava
presente, em todos os momentos, consolando-a. E, num
instante de desespero, aconteceu o primeiro beijo. E ela
percebeu que você, embora não fosse lindo, tinha tudo
para fazê-la feliz, o que acredito esteja ocorrendo em toda
plenitude.
O bilhete deixado para o belo Máximo, eu o vi. O
Zaroio me mostrou e, pela floreada caligrafia, sua distinta
concubina, com todo o respeito, deve ser uma linda mulher.
As palavras, poucas, mas duras: “Hoje, tenho quem me
faz feliz. Esqueça-me.”, modificaram por completo a vida
do Máximo, que perdeu o juízo. E, também, com certeza
a sua, pois hoje você desfruta momentos de felicidade
junto a uma grande mulher.

26
COMO cURTIR
O cARNAVAL (sem a mulher)

Com a aproximação da festa, muitos se


perguntam: “Como achar uma desculpa para passar,
pelo menos até o meio-dia da quarta-feira de cinzas, longe
de casa?” Até o Zaroio, criador de planos e golpes, embora
não seja sua área, já foi consultado e, vez ou outra, para
um amigo mais chegado dá uma dica. Evidente, como é
do seu feitio, não sem antes fazer um estudo psicológico
detalhado do casal. Porque, cada caso é um caso, como diz
o amigo. Há que saber se a mulher é do tipo que acredita
em tudo (existe a que faz que acredita), se é desconfiada,
enfim, todo o perfil. Geralmente, não cobra a consulta.
Não tem como. Quanto valeria a preciosa informação?
No ano passado, Cidão aplicou uma conversa de
retiro espiritual. Que estava se sentindo cheio de pecados
e precisava se aproximar de Deus. Seguiu os conselhos do
Zaroio, exibindo a ficha de inscrição e até pagou um sujeito
que fez o tal retiro em seu lugar, para não deixar a turma
à sua procura pelo não comparecimento. Mas, deu com
os burros n’água e acabou chegando ao conhecimento da
mulher, que exigiu que ele pedisse perdão de joelhos. Em
contrapartida, contaram-lhe que a mulher também deu
seus pulos num baile de carnaval, durante sua viagem, pelo
que levou uns sopapos. Que só não foram maiores porque
lhe omitiram que, lá pelas tantas, ela com o Serjão deram
aquela conhecida “fugidinha” e, segundo as más línguas,
quando retornaram estavam com cara de escabreados.

27
Doutor Calado, com aquele seu jeito sério, reclamou
dos plantões que lhe arranjaram, fruto de perseguição
política, de início de governo, e de sua manifesta queda
pela oposição. E a mulher dizia: “Não lhe falei que ficasse
fora da política, que você não leva jeito e, ainda, como tudo
que faz na vida, só vai para o lado errado? Agora, taí!”
Ninguém acreditou, quando um maldito cinegrafista
da Globo deu um close no Calado só de sunga e com
uma morena de seios pintados, numa linda coreografia,
arrasando no carnaval de rua. A mulher até ligou para o
hospital para confirmar se era mesmo o marido. Chegou a
xingar a recepcionista que reclamara da insistência, dizendo
que se ela não acreditava que o doutor Calado não estava
no plantão, que fosse conferir. Quando o coitado chegou
em casa, na quarta-feira, todo cansado do “trabalho”, foi
aquela recepção. A filha, que andava às voltas e até tinha
passado o carnaval acampada com um roqueiro esquisito,
dava uma de moralista e, aos prantos, chamava o pai de
sem-vergonha. O pior é que este ano foi mesmo escalado
para o plantão. Porém, a mulher já avisou que vai junto
e não vai arredar pé da recepção, onde a cada hora ele vai
ter de se apresentar.
Juliano está em dúvida se vai a uma pescaria, meio
desconfiado com o incentivo da mulher, que nunca foi de
concordar com suas saídas. De qualquer forma, já avisou
que vai levar o celular e, a cada meia hora, vai ligar para
casa, ao que a fulana retrucou: “Mas, só até às vinte e três,
porque também tenho direito de dormir.”
Quem tiver alguma ideia, que se ligue em todos
os detalhes. De qualquer forma, eu, como detesto festas,
vou passar trabalhando lá pelos lados do Rio. E, como não
sou machista e acho que a mulher tem direito a descanso,
acabei de deixá-la no sítio dos seus pais, em Kiprokó, onde
matará as saudades da mãe e lembrará do seu tempo de
mateira, tomando café torrado na hora e moído no pilão.

28
CARTA DO BARTÔ
Se bem que tivesse prometido para hoje a crônica
sobre o Feio, por questão de urgência, publico esta carta
recebida:
Não que a desconfiança seja grande, mas por
diversas vezes me veio em pensamento que, pela cabeça
da minha mulher não passam ideias lá muito boas, depois
que mudou para cá o vizinho do número 797.
As compras, que eram mensais, agora são feitas
aos picadinhos. Dirige-se à quitanda pelo menos quatro
vezes por dia, fora as idas ao açougue e tudo passando na
porta do 797.
Outro dia, flagrei-a dando tchauzinho, não acreditei
que tenha sido para mim (embora ela tenha jurado), pois
nunca fez isso em tantos anos.
Tanto tempo morando nessa rua, só agora ela
resolveu fazer amizade com a vizinha de frente ao 797 e,
vira e mexe, está lá em bate-papos. E o fulano não sai da
janela, debruçado como se fosse uma candinha. Reclamei
levemente, certa vez em que o tal, quando ela vinha da
feira, prontificou-se a trazer o carrinho até a porta de casa,
numa gentileza sem limites. Falei para ela: - Só faltava ele
querer colocar as frutas e legumes na gaveta da geladeira!
- ao que ela respondeu que meu coração estava muito
endurecido e longe da solidariedade. E ainda ofendeu-me,
levemente, dizendo que pelas mentes deturpadas só passam
coisas ruins.
A calçada de casa nunca foi tão lavada, como
nos últimos tempos, prova disso é a conta de água que
aumentou demasiadamente. Um dia desses, até pensei em

29
dar fim ou rasgar aquele short insinuante e provocante que
ela costuma usar. Mas, refletindo, concluí que não é por aí.
Diversas noites, fingindo dormir (quem não tem
insônia ante a possibilidade de perder a mulher amada?),
peguei-a diante do espelho usando creme de beleza e
enrijecedor de seios, fora a massagem nas pernas com
produto de combate à flacidez e celulite. Tudo isso me leva
a crer que tem coisa na cabeça dessa mulher.
Terços rezados de joelhos e promessas que juro
pagar, até agora não deram resultado. E antes que o mal
cresça e aconteça o irreparável, venho implorar, por meio
desta coluna, às pessoas de bem que, comigo, numa
corrente de oração, rezem para tirar dos pensamentos
da minha mulher, se por acaso existir, qualquer pequeno
desejo de traição e para que ela enxergue somente a mim.
Ou, então, caso isso seja impossível, para fazer mudar para
bem longe o infeliz do número 797.

Bartô

30
SEGUNDA CARTA
DO BARTÔ

Em razão de ter recebido nova carta do Bartô


dirigida aos leitores da coluna, deixo de trazer a história
do Desconfiado que, descompromissado de data, prometo
publicar a qualquer momento.

Volto a escrever para esta coluna para agradecer e


pedir que cessem as orações no sentido de tirar da cabeça
da minha mulher ideias malucas e a visível queda pelo
vizinho do 797. Creio que tenha demorado a me decidir
pelo pedido de ajuda e que apenas minhas rezas e promessas
foram insuficientes, uma vez que ela fugiu e, segundo
comentários dos vizinhos, com o tal sujeito. O que pode
ser, pois não o tenho visto e sua casa já está fechada há
dois dias. E olhe que tenho passado em frente, por diversas
vezes, num vaivém como que alucinado, observando
atentamente.
Aqueles mais piedosos, que continuem orando,
agora pela felicidade dela e resignação minha.
Aproveito para mandar um recado para minha
querida mulher: “Jô, toda a culpa foi minha, talvez não
tenha te amado como merecias. Me fizeste feliz e nem
reparei se também eras. Sabes que me fazes muita falta,
porém, não quero que sintas que seja uma maneira de pedir
que voltes. Longe disso. Que o meu sofrimento seja em
troca da tua felicidade que, com certeza, terás, pois bem que

31
mereces. O fulano, por mais que eu lhe tenha ódio, viverá
momentos inesquecíveis e felizes, pois ao teu lado não
poderá ser diferente. E, se em algum momento ele te fizer
chorar, farei com que pague caro pelas tuas lágrimas.
Sei que sofreste, ao partir, sem ao menos me dar um beijo
de despedida. Mas me livraste do constrangimento de
implorar para que não fosses, chorar na tua frente ou até
tentar te fazer mudar de pensamentos, por piedade, o que
certamente nos faria infelizes por toda a vida.
Se algum dia quiseres retornar, serás recebida com
muito carinho e tenha certeza de que nunca ousarei
mencionar o ocorrido com menosprezo, mas sim te
valorizando pela tua demonstração de coragem na busca
da felicidade. Teu lugar, em nossa casa e em meu coração,
nunca será ocupado por outra mulher. Mas, que isso não
seja motivo para teu arrependimento, pois maior que o
meu desejo de te possuir está o meu amor e a vontade de
que sejas feliz. Se precisares, conte comigo, mesmo que seja
afastando, definitivamente, a possibilidade de tê-la de volta.
Jô, continuo regando nosso jardim. As flores
parecem mais vivas e aquela nossa rosa perto do portão
se abriu.
Não se preocupe comigo. Eu me cuido.

Teu , sempre teu,


Bartô

32
UMA CARTA
NÃO ENTREGUE

Querida Jô

Escrevo esta carta para que, um dia, num momento


de coragem, te entregue perfumada como está,
acompanhada de um beijo de amizade.
Jô, longe de mim ter ódio de ti por escolher o risco
da liberdade e a incerteza do voo sem vislumbrar o
horizonte. Seria ingratidão em demasia deixar de agradecer
os tantos prazeres que me deste e seria extremamente
mesquinho não querer compartilhar-te, além de egoísmo
querer reter-te, submetendo-te a me fazer feliz, embora,
por várias vezes, loucamente assim tenha pensado, quando
teus desejos eram outros que não os meus.
Nunca tenhas remorso, pois jamais pensei que fosse
obrigação ou dever teu continuar a me dar amor. Se não
tivesse contigo cruzado, certamente em minha passagem
por este caminho, nunca teria sentido o prazer máximo
ou sequer imaginado que viesse a existir. Onde quer que
estejas, provavelmente estarás mais ocupada em fazer
alguém feliz do que em sê-lo, pois pela própria natureza
te é inerente transmitir alegria e amor e entregar-te. Que
o meu sofrimento nunca seja motivo para diminuir tua
alegria. Bem sabes que, depois de ti, nenhuma mulher
conseguirá me preencher e, certamente, maior do que a
tristeza de te perder seria a de não ter te conhecido.

33
Conte comigo sem nenhum receio, mesmo que com isso
eu espante, de vez, a esperança da tua volta. Saiba que tu
foste a coisa mais linda que passou por minha vida e que
continuo vivendo. E, ainda, que guardo comigo a lição que
me ensinaste de viver, intensamente, os momentos e nunca
imaginar a incoerência de ter ódio por quem já se amou.
O amor que sinto será revelado e demonstrado apenas
se assim o quiseres. Continuo regando aquela tua roseira
vermelha que murchou, por uns tempos, mas já está
abrindo outra linda flor.
Teu sempre, sempre amigo em qualquer circunstância.

Bartô

34
DEIXADO
POR UMA MULHER
De vez em quando, como resultado de uma
crônica, surgem uma carta, um bilhete, uma mensagem
pela Internet ou ao vivo, como foi a crítica que recebi do
Jessinei sobre as cartas do Bartô. Segundo ele, trazer a
público uma demonstração de fragilidade é rebaixar-se,
demasiadamente, e atinge de forma geral o sexo masculino,
o que ele não pode admitir. Um homem aceitar que a
mulher o abandone e, ainda, torcer para que ela seja
feliz é demais, e não pode passar pela cabeça de nenhum
homem de bem. Escutei passivamente os seus reclamos,
que presumo se excederam por conta dos chopes e prometi
que daria a resposta.
Claro, Jessinei que, dentro de uma mentalidade
ainda retrógrada, não se pode aceitar que a mulher tenha
vontades, desejos e ainda que decida sobre a sua própria
vida. Ao homem é facultado querer que a fêmea fique ao
seu lado ou abandoná-la, quando bem entender, mas a ela
é proibido ao menos pensar nessa possibilidade. Quando
abandonada, em geral trocada por uma mais moça e jeitosa
(não condeno o amor pela beleza), em medidas extremas, a
mulher vai aos faniquitos e, em alguns excessos à baixaria,
sendo raras, as vezes, em que parte para atitudes mais
graves. Mas o homem, dentro do seu suposto direito de
dominador, não pode aceitar que a mulher o abandone.
Acha que, no mínimo, ela tem de levar uma sova que deixe
marcas para que se arrependa de tal comportamento. E
se foi para ir viver com outro, o tal também se arrisca
porque foi cúmplice da possibilidade da mulher amar mais

35
uma vez.
Para ser sincero, Jessinei, eu acho que você aplaudiu,
quando um marido tentou matar sua mulher no Shopping
Eldorado em São Paulo. Ela queria separar-se e ele não
aceitava. Você deve ter sofrido quando ele, não conseguindo
matá-la, matou-se. Deve ter achado que fez bem um
outro de Diadema que, vivendo a angústia da separação
(quem não fica com aquilo martelando na cabeça?), na
madrugada, como se fosse um ladrão, arrombou a porta,
arrastou a ex-mulher e o amante para fora, executando-
-os a tiros. E, ainda, não satisfeito, esmagou a sua cabeça
com uma pedra. Deve ter encarado como normal a notícia
de um outro que matou a mulher que o abandonara a
machadadas. Você deve ser do tipo que comunga com a
ultrapassada teoria de defesa da honra, que já fez com que
muitos homens continuassem em liberdade, após terem
assassinado uma mulher.
Está certo que, de vez em quando, a mulher também
apronta uma. Já tivemos notícia de mulher que matou por
amor ou até cortou o Bráulio do marido ou namorado, o
que é condenável, pois cada um tem direito de decidir sobre
seu destino e não se pode extirpar a esperança da felicidade.
Embora a mulher tenha conquistado direitos, a mim
não espanta que um tal Gilberto “Sorriso” (pasmem!),
técnico de um time de futebol feminino, tenha dito que
as mulheres têm raciocínio lento. Mentalidades como essa,
voltadas mais para uma cultura machista do que para a
realidade, fazem com que diminua a esperança da nossa
geração obter a plena liberdade da mulher.
Bartô, continue desejando a felicidade de sua
ex-mulher, mesmo que seja com outro, desprendido do
sentimento de posse, numa demonstração de amor, porque
você, como poucos, já está em outro século. A você Jessinei,
aquele abraço...

36
NO SALÃO
DE DANÇAS

Ermenegildo é o sujeito que toda mulher desejaria


como marido. Não reclama de nada, faz todos os gostos
e vontades, desde cuidar dos filhos nas crises de choro
até pagar os carnês de impensadas compras no crediário.
Exigente apenas no trato que deve ser dado à sua roupa
de uso nos fins de semana. A calça branca precisa estar
impecavelmente passada, a camisa bem engomada e o
sapato bem engraxado, serviço que é feito pelo seu filho,
Baixinho, em troca de umas balas Juquinha, nas manhãs
quase-tardes dos domingos, quando acompanha o pai para
um bate-papo e alguns tragos no Bar do Magrão.
Nas noites de sexta a domingo, com certeza,
Ermenegildo poderá ser encontrado no Bailão, geralmente
acompanhado da mulher. Mas, vez ou outra, a sogra,
com uma desculpa qualquer (elas sempre arrumam uma),
recusa-se a cuidar das crianças e ele acaba indo sozinho
ao baile, para alegria das mulheres dançarinas. O tal é
um pé de valsa e grande passista, não perdendo uma só
música. Mesmo no intervalo, o descanso é dos músicos,
pois ele, ao som de um disco na vitrola, desliza pelo salão
demonstrando sua habilidade.
E foi no Bailão que conheci também outros
frequentadores assíduos. Mirtes, que a pedido da vizinha
que detesta barulho, como um favor, acompanha seu
marido aos bailes. O que é motivo de cochichos das irmãs

37
Manegal, que observam tudo e dirigem seus olhares
severos, quando ela descansa sua cabeça no ombro do Joca.
Paulão, que passa a noite inteira sentado como que
colado à cadeira e toma quase um engradado de cerveja,
enquanto sua mulher, ao seu lado, balança-se e ensaia
passos sozinha. Ao aproximar-se de um cavalheiro
desavisado, ela vira-se de costas, como quem não vê, para
evitar cenas de ciúmes do marido.
Carlão, que diz à mulher que está frequentando
reuniões dos alcoólatras anônimos, todos os finais de
semana, e anda sempre em companhia de Dorinha. Ela
sai de casa com uma Bíblia e diz ao marido que vai para
a Universal e, às vezes, arriscando-se, até insiste para que
ele a acompanhe.
Didi, que ensaia passos curtos e desritmados,
deixando até damas experientes perdidas, chegando mesmo
a travar como se estivesse robotizado, perdendo até para
o Japonês, no seu ritmo louco de samba. Inventor de
floreados esquisitos, seus ensinamentos constrangem as
dançarinas e horrorizam os professores.
Marta que, contrariando os princípios da dança,
embora tenha tomado umas aulinhas com meu amigo
professor Virgílio, frequentado as escolas Cavacchini e
rapidamente passado pela J.C.Viola, não aceita comando do
cavalheiro. Quem dançar com ela terá de ceder ao seu estilo
e segui-la para aonde quiser ir, sob pena de ser chamado
de machista e deixado em pleno salão.
Peninha que, mesmo sem qualquer molejo, arrisca-se
a entrar no samba. De perna dura, mexe-se todo, ao dar um
passo, mas percebe-se que a música já está dentro dele.
Além de outros, com e sem dramas e conflitos,
dançarinos e pés de chumbo, mas todos com objetivo de
alegrar-se e sentir a arte da dança de salão.

38
O DESCONFIADO

Ediliando nunca foi de ficar xeretando, porém,


observava que, de uns tempos para cá, a mulher andava
se perfumando mais, se enchendo de anéis e se vestindo na
moda. Procurava desviar o pensamento, mas, às vezes, não
dava para dominar e era um tormento que chegava a lhe
tirar o sono. Várias vezes acordou à noite com desculpa de
ir ao banheiro e, na ansiedade, ia até a cozinha consumir
um danone ou um pedaço de bolo e custava a pegar de
novo no sono. Percebeu que ela se acostumou a sair e, por
diversas vezes, controlou o horário, mas a demora era
tal que dava para fazer muitas coisas erradas e não tinha
como não lhe passar más ideias pela cabeça.
Quando questionada, a mulher ora lhe respondia
com evasivas, ora dava respostas malcriadas, que ele
matutava, no seu canto, que a coisa não era certa e que ela
estava escondendo safadeza. Tanto assim que ele resolveu
investigar.
Por duas vezes, fingiu ir trabalhar e espreitou o dia
inteiro, sem que a mulher saísse de casa. Num sábado à
tarde, ela saiu dizendo que ia dar uma volta pelo shopping
e até o convidou, mas ele achou que aquele convite era
de “agá” e, fingindo displicência, recusou. Seguiu-a, e ela
foi mesmo ao shopping. Noutro dia, dizendo que ia com
um grupo de amigas distribuir comida para os pobres,
saiu rapidamente e até aonde ele a seguiu (sentiu medo
de entrar na favela), ao que tudo indicava, ela estava
mesmo fazendo caridade. Numa noite, disse que ia para
a missa e novamente o convidou; mas ele, que nunca foi

39
de frequentar igrejas, recusou. Contudo, em observações,
constatou que a mulher realmente entrou na igreja e de
lá só saiu, quando terminou a missa.
No dia seguinte, disse que ia fazer visitas de
caridade, num ritual que há meses praticava, depois que
começou a se reunir com o tal grupo de amigas que se
propunha a ajudar os pobres. Ediliando questionou ainda
que se era para fazer caridade a pobres e descamisados, por
que se embelezar tanto? Isto a deixou irritada e com cara
de abismada pela desconfiança. Por fim, saiu e ele atrás
espionando. Entrou numa casa e demorou, num tempo que
dava para o coitado do Ediliando perder o juízo. Após fumar
três cigarros, não se aguentado mais, dirigiu-se à casa e
bateu com a força de quem estava disposto a briga e até
à morte, se preciso. A mulher saiu acompanhada de uma
velhinha e demonstrou espanto ao ver o marido. Passou-
-lhe uma descompostura e falou-lhe uns desaforos, toda
cheia de razão.Ediliando, envergonhado, pediu perdão pela

40
desconfiança e beijou a mão da velhinha que o abençoou e
lhe falou que se desse por feliz e agradecesse a Deus por ter
tão generosa mulher. Ediliando, com o coração feliz, saiu
arrependido de tanta maldade que lhe passou pela cachola,
enquanto lá dentro, sua mulher, num calafrio, jogou-se
na cama e o neto beijou a vovozinha agradecido por ter-lhe
salvo a vida e poder continuar com aquele romance que
era a sua razão de viver.

41
DESCONFIANÇA
A coisa inicia-se quando ocorrem comportamentos
fora da normalidade. O fulano que sempre foi fechadão,
começa a dar uns sorrisinhos, esboçando felicidade. Ela
reclama de uma dor de cabeça insistente, para a qual não
há remédio que dê jeito, tem sono constante, evita estar
a sós com ele e foge das carícias.
Sempre que a mulher se veste com mais beleza e
se trata mais, nem passa pela cabeça do parceiro que ela
andou lendo livros de como conquistar o marido ou de
como levantar o astral. Encafifa-se que tem coisa e não
há quem tire. Aí, inicia-se uma maratona pela descoberta
da verdade que, por mais evidências e mais séria que seja
a mulher, ele nunca acreditará que foi só sua própria
imaginação. Poderá até perdoar, mas conscientizar-se de
que errou, nunca. Ele já não dorme direito. E quem poderá
dormir, sabendo que a mulher anda com os pensamentos
em outro e que, às vezes, nem se imagina quem é? Este é
outro ponto fundamental e que tira a tranquilidade: saber
quem é o outro. Mesmo que se tenha certeza, quer-se um
flagra ou, pelo menos, uma confissão. Vários expedientes
são usados. Já vi muitos perderem dias de serviço seguindo
a mulher.
Afinal, de que vale um emprego, quando se está
perdendo a companheira? Revirar bolsas em busca de
telefone ou frases de amor rabiscadas em papéis e guardados
com carinho; ler diários (algumas arriscam-se a escrever
suas histórias e casos); tentar ler seus pensamentos; correr
terreiros de umbanda em consultas a pais de santo para
ouvir se tem sentido a sua desconfiança.
42
Outros, cansados de nada descobrir, resolvem pela
contratação de um detetive particular para apurar a verdade
e o cafajeste que ousou destruir seu lar. Muito utilizada é
a escuta telefônica. Eu jamais ousaria ouvir uma gravação
sem que a pessoa que estivesse sendo gravada soubesse.
É grande o risco de estarem falando mal de você. Mesmo
que não se descubra traição, as mulheres costumam trocar
confidências e fazem muito uso do telefone. Reclamam dos
seus maridos, falam de galanteios recebidos. Já vi muitas
falarem o diabo do marido só para tirar da outra olhares
melosos que ela percebeu serem dirigidos ao fulano.
E quem não sabe o porquê das coisas, acaba levando
a sério e, às vezes, complicando um relacionamento.
Lidinalva, piranha de primeira linha, ao perceber um
grampo, elogiava o marido ao telefone e confidenciava a
“amigas” fidelidade até a morte, o que lhe valeu muito e
fez com que seu marido cortasse relações com amigos que
insinuavam traição de sua mulher.
A desconfiança faz sofrer, portanto, saiba que nem
sempre as evidências correspondem à verdade. Certo amigo
costuma, para se livrar do incômodo de interrupções
e, quando o assunto exige, trancar-se num motel com
a secretária para trabalhar. Conhecendo o fulano, eu
acredito, mas, com certeza, a mulher vai ter pelo menos
uma leve suspeita. Tem gente que só de sonhar que o
parceiro traiu, pensa que os anjos lhe mandaram um
recado e já acorda esbofeteando. Mas, a coisa não acontece
assim tão fácil.

43
DO DIÁRIO
DE UMA MULHER

Juliano esbravejava. Mataria a mulher de qualquer


jeito, não importava se as consequências fossem o ódio dos
filhos, praga da sogra, cadeia. Ele se vingaria da traição.
Onde já se viu abandoná-lo sem mais nem menos para ir
viver com outro?! E o fulano também ia levar a pior para
aprender a respeitar o lar alheio.
Ferdinando e Marilda, casal sempre apaziguador,
acostumado a colocar panos quentes nas brigas dos
amigos, trataram de marcar uma reunião com os dois
para que, frente a frente, resolvessem o impasse. Se bem
que, como dissera Nando para a mulher, conhecendo
o ciumento do Juliano, a coisa não ia se resolver com
facilidade e Ditinha tinha ido longe demais, de forma que
a parada era dura. O fulano, a contragosto, aceitou que
Ditinha fosse àquela reunião, sentindo uma pontinha de
ciúmes daquele encontro com o “ex”. Custou a aceitar seus
argumentos de que não convinha acompanhá-la.
Entre xingamentos e ameaças de surrá-la, o que
obrigou Nando a segurar Juliano, embora Ditinha
mandasse soltá-lo para ver se ele tinha coragem mesmo,
iniciou-se a reunião.
De nada adiantaram os pedidos do casal para que
Ditinha deixasse de bobagem e retornasse ao lar, o que
Juliano aceitaria em consideração aos amigos. Descartada
a reconciliação, Juliano, entre grito e choro, reclamava por

44
ela ter feito aquilo sem ao menos preparar-lhe o espírito.
“Ledo engano”, dizia ela. “Por várias vezes lhe avisei.
Lembra daquele churrasco, quando eu choramingava,
enquanto você indiferente se empanturrava de carne?
Daquela festa do chope em que você se embebedava e
ria com seus amigos enquanto eu tomava um guaraná
num canto, sozinha? Cheguei a falar-lhe que as coisas
estavam se complicando, e você nem aí. Fui mais clara
ainda naquela pizzaria, onde tomei também vários copos
de cerveja (e você nem percebeu que eu bebia) para me
encorajar e contar-lhe minha decisão. Enquanto eu, séria
e temerosa, contava-lhe que já não lhe tinha o mesmo
amor, que começava a me apaixonar por outro e, muito
provavelmente, iria viver com ele, você só se preocupava
em comer pedaços da pizza, reclamar ao garçom pela falta
de sal, do ponto do gelo da cerveja e em paquerar a moça
sentada na mesa em frente. Quando saíamos e eu afirmava
que queria terminar tudo sem brigas, você se virou para
olhar mais uma vez a moça e, agora tenho certeza, nem
me escutava. Antes, algumas vezes, já tinha deixado você
perceber e em outras fui direta, mas como sempre, você
nunca me ouviu.”
Nando respirou fundo e Juliano deixou correr uma
lágrima, sentindo que perdera uma grande mulher.

45
A MULHER
DO DIOLINDO

Não é de hoje que esta mulher vem dando dor de


cabeça ao Diolindo. Já nos tempos de namoro, quando
ele vinha se preparando para o casamento, no final do
ano, contabilizando receber o seu salário de ajudante de
marceneiro junto com o décimo terceiro para dar entrada
nos móveis, ela fez desmanchar todos os planos com uma
gravidez inesperada. Tencionava preparar terreno e chamar
o patrão para ser padrinho de casamento e, no mínimo,
ser presenteado com uma geladeira, mas, sem tempo, foi
tudo por água abaixo.
Foi confiar em tabela, deu no que deu. O pior é que
ela saiu alardeando, aos quatro cantos, e a sua tia Genilda
chamou os dois na conversa, proibindo chás e quaisquer
outros métodos abortivos, sob pena de infernizar a vida
dele. Não adiantou dizer que seria melhor aguardar um
pouco, com uma promoção próxima, ele, como oficial
marceneiro, estaria em melhores condições para criar
um filho. A velha quase não falava, enervada diante do
atrevimento e deixava claro que, se por acaso passasse pela
cabeça do mancebo qualquer pensamento de escapulir, era
bom que se lembrasse que o pai da moça era nordestino
de sangue quente, acostumado a não levar desaforos para
casa e que fora duro convencê-lo a não fazer uma loucura,
o que não estava descartado de todo.
Tiveram de fazer um casamento às pressas e morar

46
em um quarto nos fundos da casa dos pais dela. Além da
dívida dos móveis, tinha ainda de aguentar a sisudez do
sogro que ficou uns tempos sem lhe olhar na cara, como
se a culpa fosse só dele. E ainda os mandos e desmandos da
sogra que invadia sua casa à hora que bem lhe aprouvesse.
Nascido o moleque, a mulher cismou de voltar a
estudar. Uma intranquilidade para Diolindo que, após
discussões e cenas de ciúmes, teve de ceder. Mas deixou bem
claro que não gostava da ideia de mulher casada estudar.
Meio desconfiado, ia buscar a mulher todos os dias,
no colégio, e reclamava mais ainda nos dias de chuva. A
mãe de Diolindo cochichava, nas fofocas familiares, que
a moça nunca fora de gostar de estudo, certamente, se
estava agora com essa vontade toda, era só para deixar a
trabalheira de cuidar do filho para a mãe dela e infernizar
mais ainda a vida do seu filho. Também, é pouco para ele.
Quem mandou não seguir seus conselhos. Sempre lhe
avisara que aquela moça ainda ia lhe aprontar alguma.
Há pouco tempo, ela veio com a conversa de que
o relacionamento estava em início de crise e que, para
combater o tédio, precisavam de uma viagem a dois, sem
filho, para fazerem a lua de mel que não tiveram, quando
do casamento. Insistiu e infernizou tanto que Diolindo
acabou cedendo. Na viagem de sete dias que fizeram a
Camboriú, divertiu-se no mar, é verdade, mas não viu
nenhum amor renovado e, ainda, teve de trabalhar uns
bons tempos em horas extras para pagar as prestações do
pacote da Turistur.
Outro dia, a fulana, veio com uma história
contando que estava com ideia de comemorar o aniversário
de casamento com um churrasco para os amigos e vizinhos
e que já estavam todos convidados. Quando ela falou que
já tinha encomendado a carne e a bebida, Diolindo, que
sempre fora de aguentar firme, cedeu ao impulso e deu-

47
-lhe uma sova. Daquelas que, às vezes, passa pela nossa
cabeça aplicar. O que fez a mulher cancelar rapidinho o
tal churrasco e aprender que se deve consultar o marido
antes de realizar as vontades.

48
A ARTE DE SER
HOMOSSEXUAL

Vivemos tempos em que, supostamente, é aceita


pela sociedade a opção pela preferência sexual. Conquanto
o homossexualismo ainda seja encontrado, nos dicionários,
como desvio de conduta sexual, modernamente não é
este o entendimento. É evidente que uma maioria resiste
e critica a liberação. E que outra parte simula concordar,
escondendo o preconceito.
A vida em comum entre seres do mesmo sexo não
pode ser encarada como final dos tempos. E chegará o dia
em que não será mais motivo de cutucões ou galhofa a
demonstração de carinho em plena rua entre dois homens
ou duas mulheres. Mesmo porque a História nos mostra
exemplos de figuras do passado com tendência a paixões
pelo mesmo sexo. Recentemente, aventou-se a hipótese de
Zumbi ter sido gay, o que foi contestado com veemência
pelos seus admiradores, como se isso fosse um desprestígio
ou mancha ao herói negro. Fiquei confuso quando,
num bate-papo descompromissado, um gay contestou a
possibilidade. Não tive coragem de perguntar se achava que
pensar assim era desmerecer Zumbi. Claro que já vimos
muitos gays se esconderem por meio de demonstrações de
rudeza e força. Todavia, deixo claro que nada posso afirmar
e nem pretendo, aqui, investigar a preferência sexual do
Grande Homem.
Se noutros tempos era difícil assumir, não podemos

49
deixar de observar que ainda hoje é um gesto de coragem
a manifestação de opção sexual de um homem por outro e
de uma mulher por outra. Não são raros os casos de amor
secreto e de vários que viveram sozinhos e envergonhados
dos seus desejos. Está certo que não se apregoa o ridículo,
mas não se pode ver com assombro uma postura de
naturalidade na busca de uma satisfação pessoal. Óbvio
que se tiver como objetivo algum cargo de destaque, pelo
menos por hora, é bom que se resguarde e não assuma

50
publicamente.
Embora tenha surgido, na televisão, um casal
tentando derrubar dois preconceitos ao mesmo tempo -
homossexualismo e cor - muito lindo, mas para novela. Na
vida real, não é só fazer o enxoval e ir viver junto. É difícil
desde alugar o apartamento até fazer o chá de cozinha.
A própria lista de convidados é complicada de se preparar
e muitos, com certeza, deixarão de comparecer, mesmo
porque nem todos os seus amigos são homossexuais
ou aceitam de bom grado a situação e, com certeza,
encontrará, no meio deles, algum que fará de tudo para
não se consumar o tal casamento.
Declarar-se ou não, vai depender de cada um ver
se chegou o momento certo. Afinal, tenho percebido que
a sensibilidade dos gays chega a superar a de muitas
mulheres. E, mesmo em novos tempos, ser homossexual
continua sendo uma arte que não está ao alcance de todos.
Antes de criticar, reflita sobre a possibilidade de ser
ou ter alguém assim próximo, ascendente, descendente
ou colateral. Além do que, uma propensão ou desejos
bloqueados podem explodir a qualquer momento e você
poderá empunhar a bandeira e aliar-se a uma luta que
está longe do fim.

51
AINDA,
HOMOSSEXUALIDADE

Da última crônica “A arte de ser homossexual”, por


pouco, muito pouco, não digo: “É brincadeira, esqueçam
e pronto.” Fui abordado, recebi insinuações e até uma
cantada.
Um fulano achou que não é justo defender
interesses pessoais e vir estimular que o gay se declare.
Não quis nem saber de conversa de novos tempos, e
eu que me contivesse. Um amigo ameaçou cortar o
relacionamento, temendo que se presuma a existência de
um “caso” camuflado entre nós. E quase exigiu que eu me
retratasse. Um homossexual assumido me cumprimentou
no meio de todo mundo: “Aí colega, vai firme que você
tem o apoio da nossa classe.” Uma fulana com quem eu
estava na paquera e com o namoro quase por acontecer, de
repente, virou-me a cara e se recusa a me cumprimentar.
Não quis nem saber de satisfações e foi clara ao dizer que,
quanto mais eu falasse, mais me complicaria. Por conta
disso, também deixei de receber presente do dia dos pais
e percebi que, no almoço, era observado de frente pelos
filhos e de soslaio pelas filhas e, ainda, vi umas duas vezes
minha mulher choramingando num canto. No bar, percebi
que era apontado e, pela orelha ardendo, o cochicho era
sobre mim, tanto é que um senhor, de longe, me fez sinal
oferecendo um uísque e me deu uma piscada. De um
amigo da Bahia, recebi uma carta com formulário para

52
entrar no Movimento Gay e, por telefone, proposta para
presidir uma subseção. O patrão me deu uma chamada,
achando que não ficava bem e poderia influenciar o seu
negócio. Foi claro, se eu quiser dar bandeira que arranje
outro emprego porque lá, não.
Por outro lado, também apareceram coisas
positivas: uns dois ou três se encorajaram e resolveram
assumir. Diolindo me confirmou que depois de ler a
crônica, chegou em casa, reuniu toda a família (mulher
e filhos) e se declarou homossexual, nem ligando para os
chiliques da mulher, os murros do filho e ainda se alegrou
com a cara de assombro da sogra. Assobiando Boemia,
reuniu seus pertences, jogou a roupa na mala e foi morar,
provisoriamente, numa pensão, até que seu “namorado”,
que pediu um tempo, também resolvesse declarar para
a família sua paixão por ele. Alguns ficaram inquietos,
tiveram rompantes de assumir, mas na hora H faltou
coragem, o que é natural.
Um tal, que andava desconfiado de que eu tinha
um caso com a sua mulher, deu-se por satisfeito e riu de
ter imaginado tal disparate. “O cara é gay e eu querendo
dar-lhe um pega por estar muito de papo com a minha
mulher! Decerto que estão falando de pinturas, penteados,
cremes e poesia.” Em contrapartida, tem um outro que
se enfezou mais e achou que é artimanha e cena para
confundir o adversário e alardeou que, quer seja verdade
ou não, vai me dar uma sova.
Tudo isso, não para desdizer ou declarar-me
heterossexual ou machão, mas apenas confirmar que,
realmente, para assumir a condição de gay, ainda que com
toda a evolução do século, o homem ou a mulher “come
o pão que o diabo amassou.”

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A MULHER CERTA
Claudomiro, sentado na cama, fazia uma
retrospectiva. Agora, casado há três meses, pensava nas
mulheres que namorou. De algumas, prestes a contrair
núpcias, desistiu. Rita, para quem responde até hoje um
processo de indenização moral, por tê-la deixado em
pleno altar, numa espera sem fim. Também, a culpa fora
dela mesma, pois, só nos últimos dias de namoro, é que
descobriu sua frieza. Adelaide, muito bonita, tinha o grave
defeito de, após a refeição, chupar os dentes para retirar
os restos de comida que se alojavam em alguma fresta.
Podia ser no restaurante, na frente de ministro, presidente,
não importava.
A (*), era o nome. Motivo de chacota entre os amigos.
Por uns tempos, tudo bem, mas ouvir aquele nome por
toda a vida, era demais. Lúcia era a voz. De boca fechada,
era uma beleza; mas, quando começava a falar, doíam os
ouvidos. Dolores, uma loirona de atrair olhares desejosos,
contrariando o estereótipo, era inteligente demais. Sabia
de tudo e não tinha nada de que se fosse falar que ela não
dominasse. Muitos homens não suportam que sua mulher
saiba mais do que ele. Claudomiro ficava deste “tamainho”
perto dela. Gildete era gastona demais. Já, nos tempos
de namoro, exigia presentes dos bons e frequentar os
melhores restaurantes. E todas as datas tinham de ter uma
“lembrancinha”. Dia que se conheceram, dos namorados,
das crianças, da secretária, dos professores (embora ela só
(*) Deixo de mencionar o nome por ser minha amiga e conhecer
os seus problemas psicológicos.

54
tivesse o diploma), da mulher e mais e mais. Parecia que
fazia parte da associação dos comerciantes.
Bruna era a memória. Não conseguia se lembrar
de nada. Até o nome dele, de vez em quando, dava um
branco e o chamava de Coisa ou então Bem. Andava com
papelzinho em tudo quanto era lugar com anotações
que, geralmente, perdia. Vanilda, a cultura. Desconhecia
qualquer assunto. E dava risada da sua santa ignorância,
como se fosse uma glória. “Eu que não vou quebrar minha
cachola com essas coisas”, dizia ela em gargalhadas. Nunca
ouviu falar em Stanislavski, Máximo Gorki, Maquiavel
ou Freud. Dinorá tinha aquela verruga entre os seios que
parecia um terceiro. De roupas, tudo bem, mas despida,
parecia coisa do outro mundo.
Acertou em cheio ao se casar com Tibúrcia. Fala
fluentemente inglês, francês, espanhol e, ainda, arranha
55
alemão. Conhece vários assuntos e evita tocar naqueles que
ele desconhece. Nas raras discussões, xinga-o em alemão,
que ele não domina, e ele a xinga em japonês, que ela não
entende. Mulher doce e sensual. Só na hora de dormir é
que ele tem de usar um aparelho auricular para não ouvir
os seus roncos, mas tudo bem.

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A MULHER
DE UM AMIGO

Apaixonar-se ou desejar a mulher de um amigo,


não é nenhuma novidade. Roberto Carlos, há quase um
quarto de século, já cantava estar amando loucamente
a namoradinha de um amigo. Só que amava de forma
discreta e, segundo a canção, sentia-se constrangido e fazia
de tudo para que os dois não soubessem. Mas, não é o
que sempre ocorre. Quem já não se sentiu observada
por um amigo do marido ou namorado ou até já foi
paquerada por um mais saliente?
Não se deve confundir com desejo aqueles olhares
fixos que determinadas pessoas têm por vício e que
dirigem a qualquer outra, independente de sexo ou beleza.
Agora, quando se percebe, claramente, que a intenção é
assediar, situações diversas podem ocorrer, desde chamar
o sujeito e passar-lhe um pito até estimular a paixão.
É verdade que vai depender de cada um e do momento.
Mesmo que a mulher seja das que gostam, não vai querer
perder tempo e arriscar-se com o que não valha a pena,
portanto, se o sujeito é daqueles que não lhe acende
o espírito, corta-lhe a asa de imediato. Já vi casos de
encostar o Dom Juan, na parede, e contar para o marido
a espécie de amigo que ele tem. Muitas vezes, a coisa que
começa com olhares apaixonados, a princípio desviados
e depois correspondidos, roçar de pés por baixo da mesa,
cumprimentos efusivos e longos, estende-se a encontros

57
furtivos e uniões estáveis. Há mulheres que ficam no “não
sei, não é certo, não é do meu feitio” e enrolam anos e anos
sem conclusão alguma. A que não quer nada, o sujeito
insiste e ela fica na situação embaraçosa de recusar sempre
e, ainda, evitar que o marido perceba a investida indiscreta
do fulano. Existem também aquelas que nunca aceitaram
e jamais aceitarão qualquer proposta indecente. Questão
de princípio e cultura religiosa. Tem a que, embora não lhe
agrade, aceita só para se vingar do marido que paquerou,
com sucesso, uma amiga sua no passado ou, então, pelo
seu comportamento, está a merecer uma lição. A que sem
querer chegar à situação comprometedora, deixa acontecer
para ter razão de sentir a alegria de uma nova paixão. Só
que há de se cuidar, porque ninguém é bobo e percebe-se
quando a felicidade é por um novo amor.
E, quando a mulher percebe que o seu marido,

58
que nunca foi de lhe presentear, começa a agradar o casal
amigo com presentes e lembranças, mesmo que simples
e de pouco valor e, disfarçadamente, vez ou outra só
para a mulher... Umas dão corda para ver se pegam um
flagrante, outras já partem para a briga e o tal se defende
como pode, desde achar absurda a imaginação da mulher,
até ameaçar-lhe dar uns sopapos pela ofensa.
De qualquer forma, não é de se viver preocupado
com tudo isso, pois já não basta viver vigiando estranhos,
agora, também amigos, já é demais!

59
PESCARIA
DO ALTANÉSIO

Altanésio, que sempre gostou de aprontar e


principalmente farrear, alegrou-se quando recebeu o
convite do Tico para uma pescaria. Aceitou de pronto
sem consultar Dirolinda, sua mulher. Convencê-la de
que a coisa era séria e que só iria gente direita, não foi
fácil. Principalmente porque já passavam pela cabeça dele
noitadas maravilhosas regadas a uísque e show de lindas
mulheres. Tanto fez e emburrou a cara, por uns três
dias, que não deixou outra alternativa a Dirolinda, senão
deixá-lo ir. Quem conhece Altanésio sabe que, quando ele
põe uma coisa na cachola, não há quem tire. Persuade de
qualquer jeito, embora tenha aquela cara de safado que não
engana ninguém. E a coitada da Dirolinda conhece muito
bem o sujeito, mas fazer o quê? “Vai com Deus Altanésio,
mas juízo”, disse ela tristonha. Enquanto o sem-vergonha
respondeu com cara de ressentido: “Mas que desconfiança
é essa, Linda?”
Arrumadas todas as tralhas, tarefa que ficou por
conta dos companheiros, Altanésio cuidou de suas coisas.
Desodorante, barbeador, perfume, xampu, condicionador,
escova de sapatos e roupas bem arrumadas, sem esquecer,
é claro, de uma meio surrada. Diante do olhar suspeito da
mulher, foi logo cortando qualquer insinuação, rebatendo
com dureza: “Tu não tá querendo, só porque vou pro
meio do mato, que eu vá que nem mendigo. Tu sabe que

60
eu sempre gosto de andar nos trinques.” Ficou meio sem
rumo, quando a mulher lhe perguntou o nome do rio
em que iria pescar, mas como sempre, jeitoso, saiu com
a desculpa de que o mais importante é que lá tinha cada
peixe que dava gosto. Dirolinda fez de conta que acreditou
e até ajudou a colocar as coisas na bolsa de viagem.
Altanésio, quando viu as coisas preparadas para a
pescaria, já sentiu que a turma estava indo mesmo com
o intuito de pescar. Quando cochichou com o Tico sua
intenção de badernar, nas noites, percebeu o fora que tinha
dado. Deixar de pescar, para sair perdendo noite de sono
com bagunça, é coisa de doido, ainda mais que, na semana
passada, um pessoal tinha pescado um dourado desse
tamanho. “Vai me desculpar Altanésio, mas não vai dar.”
Ainda mais que estava junto seu Doniro, homem sério, e
só de perceber que estava passando essa molecagem pela
cabeça dele, a coisa poderia se complicar e, com certeza,
as mulheres ficariam sabendo. Tanto fez, conversa com
um, com outro, que conseguiu convencer a turma a dar
um fogo no seu Doniro, no último dia da pescaria, para
saírem na cidade e dar uma zoada pelas boates. Os dias
de pescaria foram um tédio para Altanésio. Cansou de
tanto limpar peixe. Ficar com molinete na mão esperando
um peixe não era coisa para ele. O que ainda confortava
era saber que estava chegando o dia da grande farra que,
conforme informações sondadas com moradores, prometia
ser brilhante.
Na manhã do grande dia, como não estava nem
aí com a pescaria, ofereceu-se para ir à cidade comprar
cerveja. Deu uma ligada para casa e estranhou que a
Dirolinda não estivesse chorosa, nem brava. Ao contrário,
até estimulou uma esticada na pescaria. Coçou a cabeça
e aquilo não lhe saiu da mente. E da cidade até o rio os
pensamentos o atormentaram, tanto que resolveu encerrar

61
a pescaria. Embora os amigos insistissem e o seu Doniro
já estivesse embriagado, não quis saber da noitada e caiu
na estrada com destino à sua casa. Chegou de surpresa e
achou esquisito encontrar Dirolinda, que nunca fora de
beber, bem trajada e bebericando um uísque. Também fez
de conta que engoliu as desculpas, mas ficou convencido
de que, ao contrário dele, ela se divertiu e muito na sua
ausência.

62
DUAS PRECES

PRECE DE UMA MULHER

Senhor,
Tu que és bondoso e tens poder, ouve-me e atende
aos meus pedidos:
Que o meu marido esteja sempre pronto a atender
os meus desejos, mesmo os mais absurdos; que esteja
sempre interessado e atento ao que falo, mesmo que sejam
comentários fúteis sobre vizinhos ou parentes; que nas
discussões familiares e, principalmente com os filhos,
sempre esteja do meu lado e me dê razão, mesmo que
eu não tenha; que atenda sempre aos meus pedidos de
depósito em minha conta bancária sem questionar; que
não reclame dos presentes que “damos” à minha família;
que não implique mais com aquela minha amiga; que
renuncie ao seu jogo de futebol, nas tardes de sábado, para
ir a um passeio comigo ao zoológico ou ao cinema; que me
leve a assistir ao show da velha Jovem Guarda no Olímpia;
que não faça elogios a nenhuma senhora e, se possível, que
não tenha olhos para enxergar nenhuma outra mulher;
que me dê de presente um carro novo para que aquela
minha “amiga” fique com água na boca e louca de inveja.
Além disso, Senhor, que ele nunca me adivinhe os
pensamentos e que eu tire da cabeça aquele fulano, que Tu
sabes quem é. Mas, se é para minha felicidade, que aconteça
logo e que seja um segredo só nosso. Meu, Teu e dele.
Olha pela humanidade, protege-me ainda de tudo
quanto é ruim, principalmente de olho gordo, amém!
63
PRECE DE UM HOMEM

Deus,
Que os pensamentos do patrão sejam sempre
desviados da vontade de me demitir; que o tempo passe
rápido, para que eu termine logo de pagar os 25 anos
de prestações do BNH; que meus filhos sejam ajuizados,
não deem trabalho, na escola, e não sejam como fui na
adolescência; que minha mulher acredite sempre em
mim, mesmo nas coisas impossíveis de se acreditar; que
ela não fique com olhares de interrogação e não faça
perguntas indiscretas, quando chego tarde ou quando
encontra uma simples marca de batom em minha camisa;
que compreenda a natureza machista do homem de ter
necessidades de conquistar e viver novos amores; que
acredite que a minha precoce impotência é tudo culpa da
situação econômica pela qual passa o país e me atinge;
que nunca, jamais, eu tenha a infelicidade de ser morto em
condições tão misteriosas quanto o PC e, ainda mais, ao
lado de uma “namorada”; que aquela bela senhora deixe
de lado princípios tolos e se arremesse aos meus braços;
que sempre que eu esteja ao lado de uma linda mulher,
seja visto por alguns amigos que não guardam segredo e,
especialmente, por alguns inimigos. Que assim seja, amém!

64
RC/00

Desde a semana passada, Edinéia vinha avisando


a todos os moradores sobre a exclusividade da TV na
terça-feira. Nada de som e pedidos no horário do RC/96 -
reprise. A filha mais nova, sempre rebelde e contestadora,
argumentou que ela já tinha assistido, no fim do ano,
e inclusive tinha gravado. “Não importa, vou assistir e
gravar de novo. Faço todos os gostos de vocês, mas este
não”, respondeu Edinéia. Tudo resolvido, inclusive vinham
umas amigas também do fã-clube do Rei para assistir
juntas.
Na hora, as emoções de sempre, como se fosse a
primeira vez que estivessem vendo aquilo. Roberto, sempre
lindo e romântico. A plateia sentia o nó na garganta,
quando ele chamava, como sempre, o seu amigo de fé e
irmão, o Tremendão Erasmo Carlos. O marido de Edinéia,
num canto da sala (fora permitida a presença, desde que
não palpitasse e ficasse de longe), resmungou: “Esses dois,
não sei não”, insinuando maldosamente. Edinéia respondeu
de supetão em defesa do Rei e ligou-se na TV. Na hora da
canção dos óculos, enquanto as senhoras gritavam: “Lindo,
lindo”, o seu Aniquelando quase foi posto para fora,
quando enciumado argumentou que o cantor que tinha
hotéis, construtora e outros negócios, decerto, também,
tinha alguma rede de ótica.
Edinéia continuava em seus sonhos e amor
platônico, pensando que a carta que tinha enviado ao Rei
dera resultado, pois, a cada ano, ele em seu disco colocava
uma homenagem às mulheres que, como ela, nunca foram

65
notadas. As baixinhas, gordinhas, de óculos. As amigas,
entre risos, comentavam que ela tinha até trocado de
óculos, usando agora um azul maior e mais imponente,
necessário à sua miopia de 6,5 graus. Ela já meio alta,
por conta dos uísques, dizia: “Se ele seguir a minha carta,
o ano que vem vai homenagear as mulheres que usam
dentadura.” E cantarolava um refrão: “Você com seu jeito
sensual, não se acanhe, que usar dentadura é natural. No
RC/97, 98 e 99 é surpresa, vocês só vão saber na hora.
Mas, no ano 2000, no RC/00, se formos todos vivos,
vocês vão ver o rei louvando as mulheres feias. Aí, sim,
vai ser a nossa vez de estar em evidência. Observadas e
paqueradas.” Aniquelando pigarreou forte para que o papo
não se alongasse naquela linha.
Quando Roberto começou a cantar “Mulher de 40”,
a turma na sala dançava e cantava junto. E juntas elas
também puseram para fora, aos empurrões, o Aniquelando
que estava palpitando demais. E Edinéia vibrava: “É minha
carta, é minha carta.”
A entrada do novo filho do Rei foi emocionante.
Edinéia dizia: “Isto sim que é papel de homem, olhe como

66
os olhos e o nariz parecem os do pai!” E todas elas, alegres,
também se embalavam na “Estrada de Santos”.
Acabou o programa. Mas, em conversas sobre o
passado do Rei, continuaram ouvindo uns discos antigos
para matar a saudade, pouco ligando para o Aniquelando
que batia na porta e reclamava do horário.

67
TRAIÇÃO DA RITA

Zeca, como fazia normalmente, deu uma parada


no boteco do Magrão para tomar uma. Sentindo que
a danada tinha lhe pego de jeito, resolveu ir para casa.
Bateu na porta, mas precisou esmurrar para que Rita
viesse abrir. Da janela semiaberta, percebeu um vulto que
pulava o muro. Praguejou, começou a gritar e deu meia
volta, retornando ao bar para pegar o revólver que lhe
tinha oferecido o Capoeira, por um preço camarada, um
pouco antes.
De posse do três oitão, veio alardeando pela rua
que ia matar a sem-vergonha. “Onde já se viu trair um
trabalhador que, se não está no serviço nem em casa, pode
ir ao Bar do Magrão que, com certeza, está lá. Agora, vir
com essa cachorrada. Vai ter de morrer.” Entra com tudo,
fechando a porta. Rita, que nunca tinha visto Zeca daquele
jeito, berra pedindo socorro e, da janela do sobrado, vê
uma multidão que se aglomera, mas ninguém se atreve a
invadir a casa e tirar o revólver da mão do traído.
Ligam para o 190 e, em poucos minutos, ouve-se
sirene de bombeiro, polícia, equipe de resgate e polícia de elite
no local. Posicionam-se. Dois vão pelo telhado, um outro
embaixo faz mira, quando o casal se aproxima da janela
com o cano do revólver encostado na cabeça da mulher.
Dona Crotilde pega seu terço e começa a rezar, pedindo
que a coisa não acabe em morte. Pé Grande, vendedor de
jogo do bicho, não perde chance, transforma-se em dono
de banca e faz um bolão sobre o resultado, com apostas
ao preço de cinco reais com as seguintes opções: a polícia

68
mata Zeca; erra e mata Rita; mata os dois ou Zeca mata
a mulher e sai ileso.
Na multidão, Corisco comenta que já havia
notado que Rita tinha subido um pouco a bainha da
saia para mostrar um pouco mais as pernas e que
andava exagerando no batom vermelho. Guilhermando,
primeiranista de Direito, repreende o tagarela, dizendo que
o momento não é oportuno para colocar o povo contra a
mulher, mesmo porque aquilo era argumento a ser usado
em júri, na defesa do Zeca, dependendo do desfecho. E se
fosse ele o advogado (tentaria ser pelo menos assistente),
convocaria Corisco como testemunha. Satisfeito, por
chamar a atenção para si, calou-se. Uma senhora que
ouviu a conversa, metida a feminista, saiu em defesa da
Rita. Os homens dão suas escapadinhas à vontade e a
coitada da mulher, numa pulada de cerca, é apedrejada,
linchada e até morta. Tonhão, marido da fulana, olhou
feio; mas, pela primeira vez, deixou barato, porque
qualquer atrito, com o lugar cheio de polícia e com sua
folha corrida, sobraria para ele.
Finalmente, a polícia invade a casa, encontra o
vilão deitado no chão roncando, a mulher sentada num
canto chorando. Tudo resolvido, a polícia saiu à procura
do Capoeira para saber onde conseguiu a arma. A
multidão se espalha, contrariada com o resultado. No
bolão, ninguém ganhou, sendo que Pé Grande decidiu que
o valor da aposta ficaria para a casa.
Pela manhã, Rita jura para Zeca que ele viu demais
pelo efeito da bebida e ele pede perdão pela palhaçada,
enquanto Corisco, no bar, confirma: “Pelo jeito da mulher,
tem traição, mas a coisa só dói no começo, depois sara.”

69
SERÁ o BENEDITO?

Não se trata de referência ao livro do Mário Prata


ou ao dito popular, mas ao que matutava Alaina. O que
teria passado pela cabeça ou quais seriam as razões para
a senadora Benedita da Silva apresentar um projeto de
lei punindo o assédio sexual? Alaina, que já vinha se
queixando de raras cantadas conquanto se pintasse, usasse
vestes ousadas e mudasse o seu visual, para conquistar
corações, revoltou-se com a notícia. Numa comitiva, fará
uma viagem para Brasília tendo em mãos um extenso
abaixo-assinado de aliadas, pedindo que não passe pela
Câmara dos Deputados o tal projeto. Assinado inclusive
por mulheres bonitas e paqueradas, com a observação
de que se esclareça bem o que é o assédio. Deixar de ser
observada, ou convidada para tomar um chope ou até de
receber olhares insinuantes, pode ser um terror para uma
mulher.
Dizia, no preâmbulo dirigido aos deputados, que a
senadora carioca, certamente, deve saber do gingado e do
espírito malicioso do brasileiro que, mesmo não querendo
em verdade assediar sexualmente, solta galanteios e
elogios. O que pode ter feito algumas damas corarem,
mas também crescerem interiormente, principalmente
em alguns momentos de depressão, em que é preciso
sentir-se desejadas. Além de que, as mulheres brasileiras
sabem muito bem se defender das cantadas e afastar os
que não lhes interessam.
Já pensou Senadora, o que é ficar em uma
danceteria sem que ninguém a convide para um drinque

70
ou para dançar? As coisas já não andam lá muito boas
para o nosso lado, imagine agora com uma lei dessas. Será
que vamos ter de engrossar a lista dos “Disque namoro”
ou serão criadas áreas, onde será permitido ser paquerada
sem risco de o paquerador ser processado?
Evidente que é inaceitável importunar e,
grosseiramente, coagir alguém, seja homem ou mulher, à
prática de ato libidinoso ou conjunção carnal. Mas, deve-se
cuidar para que não vire moda, e que as mulheres não se
aproveitem para sair difamando ou exigindo abertura de
inquéritos para apurar crimes inexistentes. Observamos,
ainda, que não se pode trazer ao estilo brasileiro leis
estrangeiras de personalidades frias.
Alaina pensava se já havia chegado ao conhecimento
do Adenalino aquele tal projeto. O fulano que sempre esteve
nos planos dela e, embora lhe desse umas olhadas como
quem quer coisa, nunca teve coragem de se manifestar.
Com esta então, poderia ela tirar o cavalo da chuva porque
ele se trancaria de vez.
Até Crotilde, que se gabava de ser a mais conquistada
e badalada do bairro, assombrou-se diante das palavras
de Alaina de que corria o risco de nunca mais levar uma
cantada e ver-se impelida a ser a parte ativa na paquera.
O que certamente a faria ser mais falada ainda na boca
do povo. E ela sabia muito bem (espetava Alaina) como é
que era chamada pela vizinhança. Crotilde arregalou os
seus olhos azuis e assinou correndo o abaixo-assinado,
trazendo ainda duas amigas de farra para enfileirar a lista.
Por aqui, por elas e por nós, ficamos torcendo para
que Alaina e sua comitiva tenham sucesso em Brasília.

71
TRAIÇÃO

Enedina andava encafifada com o comportamento


do seu marido. De uns tempos para cá, cuidava-se demais.
Por diversas vezes, pegou-o diante do espelho caprichando
no penteado e perfumando-se. Escolhia com demora as
roupas, reparava se estavam bem passadas e até combinava
a cor das meias com a da calça. Sapatos sempre bem
lustrados, unhas bem cuidadas. Antes de sair, ia várias
vezes admirar-se e arrumar-se.
Ernani, que sempre chegara em casa no horário,
agora era dado a atrasos e, quando era questionado, vinha
com colocações evasivas, quando não com respostas
brutas, coisa que nunca foi dele. Até aí, tudo bem e
perfeitamente suportável, dizia para a amiga, mas faltar
aos deveres do casamento já era demais. Tinha coisa e ela
iria descobrir. Era capaz de matar os dois e suicidar-se.
A calcinha preta esquecida, no porta-luvas do
carro dele, foi a gota d’água. Era muito descaramento.
Em dúvida se partia para o escândalo, arrebentando a
cara do sujeito, ou dissimulava para pegar no flagrante.
Aconselhada pela Ditinha, resolveu investigar para
descobrir quem era a amante e quebrar os dois no pau.
Foi quando resolveu contratar os serviços profissionais
do Water, detetive particular, que lhe assegurou descobrir
em pouco tempo quem era a fulana e fazer um relatório
completo do caso.
Endividou-se um pouco para pagar pelos serviços,
mas quem se preocupa com dívidas numa horas dessas?
Afinal, amigas são para ajudar as outras.

72
Independente disso, ela continuava vigiando e
procurando coisas. Enervava-se com o perfume borrifado
no carro e mais ainda com o descuido dele, quando
encontrava alguma coisa como um brinco caído e um par
de meia-calça no porta-malas. Pelo visto, a fulana gostava
de cores extravagantes, pois achara um biquíni vermelhão
embrulhado para presente nas coisas dele.
Entrou no escritório do Water com o coração
batendo e cobrando: “Fala logo quem é ela.” Ainda mais que
desconfiava de uma “amiga” meio fresca e com manequim
igual ao da tal calcinha.
Com as fotos nas mãos e ao som da gravação de
uma voz melosa que desconhecia nele, chorou. A pose do
Ernani de calcinha preta e enrolado naquele corpo másculo
era demais para ela. Se fosse outra, ainda era aceitável e
discutível. Mas, entregar-se a outro, era muita traição.
Como fora idiota e não percebera, quando ele fazia as unhas

73
duas vezes por semana, uma vez por mês fazia limpeza
de pele, estava sempre passando creme nas mãos, o trato
com as sobrancelhas, perguntas sobre produtos de beleza
e enrijecimento?
Ernani assumiu de vez e montou casa com o fulano
e, às vezes, sem qualquer constrangimento, é visto de
mãos dadas com o namorado em passeios. Enedina, que
ainda passa pelo vexame de ser apontada em restaurantes
e percebe cochichos, arrepende-se de ter cutucado no que
estava quieto. Agora, ela sempre aconselha as amigas a
nunca investigarem vida do marido e nem ligar se, por
acaso, encontrarem alguma peça íntima nas coisas dele.
No que acho que está certíssima.

74
PROCURA-SE
UMA MULHER

Cansado de tanto ouvir a mesma ladainha, de


ser mandado embora de casa, resolvi criar vergonha e,
orgulhosamente, avisar para a Tirolinda que iria arrumar
minhas coisas e procurar um outro canto. Ela caiu de pau:
“Eu sabia que qualquer dia você iria aprontar uma dessas.
Estava esperando uma oportunidade e, com certeza, vai
se amigar com alguma vagabunda. Não falei que tinha
coisa?” Contra-argumentei que era ela mesma quem estava
me enxotando e que, toda vez que eu chegava com umas
a mais, ela vinha com brigas e xingos. Onde já se viu?
Mulher que se preza e dá valor ao marido não apronta
dessas. “Vou e não me venha com choradeiras.”
Enquanto aos tropeços arrumava minha tralha
numa mala, a danada resmungava e desenterrava defunto,
bebericando um uísque, não estava nem aí com minhas
insinuações de que ela também iria se embebedar. Pensei
que ela fosse fazer escândalo, ameaçar me matar, esconder
as chaves. Qual nada. Filosofava. Sabe que eu nunca
tinha percebido que a Tirolinda se ligava em certas coisas
e percebia outras? Falou-me umas poucas e boas. Mas a
última, a saideira, foi doída e me deixou até meio encucado.
Com lágrimas nos olhos, numa voz doce: “Quantas vezes
rezei para que fosse tratada por você como se fosse uma
estranha. Como você é terno e trata com carinho e respeito
os estranhos. Eu que era tua, desejava ardentemente ser

75
vista por ti como se não fosse. E pensava com meus botões,
Armerindo, que raiva embutida é essa que ele tem de mim
e se manifesta no trato e na impaciência?”
Juro que tive de me segurar para não desfazer a
mala e chorar junto. Enfim, hoje já refeito, sem qualquer
rancor ou mágoa das mulheres, procuro uma, porém,
antes de iniciar qualquer namoro e avaliação de qualquer
pretendente, já mostro uma pequena lista de predicados
necessários:
- Asseada e de bons conhecimentos culinários;
- Que não reclame nunca das minhas chegadas
tarde, bêbado ou lúcido, e nem venha com olhares de peixe
morto;
- Que não implique, quando eu quiser sair
desacompanhado, mesmo bem arrumado e nos fins de
semana;
- Que não vistorie meus bolsos e nem ausculte meus
telefonemas. Que quando eu quiser, venha e quando não,
durma;
- Que não me envolva nos problemas familiares e
muito menos psicológicos de amigos e empregada.
Tirolinda ficou sabendo e entre raiva e graça,
gargalhou a valer. Mas, não adianta rir Tirolinda, porque
vou te mostrar que ainda tem mulher querendo ser feliz.
Mulheres que um tempinho atrás não era difícil de se
encontrar.
Eu vou achar.

76
ZAROIO

Sujeito baixo, com leve desvio na visão, vestido


sempre a rigor, não importa onde se encontre. Mesmo nos
morros e favelas está ele com sua maneira imponente de
se vestir. O apelido foi colocado pelo Maluco Beleza que
é exemplar criador de alcunhas. Tem gente que até evita se
encontrar com o Maluco Beleza, porque seus apelidos são
daqueles que pegam mesmo. Em consideração ao amigo,
respeita o original e corrige qualquer engraçadinho e
metido a sábio que o chame por Zarolho.
Desde que conheço o Zaroio, suas atividades estão
ligadas à criação de crimes. Insuperável idealizador de
planos, sempre cheio de encomendas, nunca o vi reclamar
de crise. Por questão de ética, não participa da execução de
nenhum e guarda segredo absoluto sobre seus mandantes,
que são do conhecimento só do assistente Cambito.
Orgulha-se dos seus projetos serem sempre de sucesso,
exceto aqueles em que os executantes tenham, por conta
própria, alterado seus traçados. Sabendo que os executores
estão agindo de forma diversa do indicado, abandona o
caso, sem dar mais qualquer palpite, deixando o fulano
cuidar por seu inteiro risco. Grandes e noticiados crimes de
autoria desconhecida passaram pela sua prancheta e seu
PC 486 DX4. Crimes bobos e pequenos foram criados para
fazer favor a algum amigo ou ajudar algum estelionatário
em baixo astral, os quais, geralmente, são produzidos e
aplicados no dia a dia.
O caso do Queixada foi encomendado, mas com
gente grande no meio, porque o pobre Queixada não tinha

77
grana para bancar sozinho. Para idealizar uma nova
igreja, treinar testemunhos e transformar o cabeça dura
do Queixada no pastor Genaro foram necessários três anos
de exercício e prática, possível só mesmo para o Zaroio.
E o plano é para findar em dez anos com lucro alto para
todo mundo.
Não o via há mais de três anos. Não é à toa que
reclamou do meu sumiço.
É do Zaroio também o plano da “paquera de risco”
que foi praticada, em primeira mão, pelo mesmo Queixada,
com a Sandrinha. Num shopping qualquer, uma bela
se finge de casada e se deixa paquerar por um sujeito

78
acompanhado de sua mulher. Numa chance, passa-lhe
o telefone e fica no aguardo da ligação que, geralmente,
ocorre. Depois de muita dor de consciência, ela trai pela
primeira vez. Um dia, o marido ciumento “descobre” tudo
e o galã é obrigado a montar apartamento e manter o
status da madame por longo tempo, sob pena de chegar
o caso ao conhecimento da família. Por estas e por outras
é que, aconselhado pelo Zaroio, se vejo aliança, na mão
esquerda, não paquero mulher, principalmente se eu estiver
perto da minha.
Com certeza, no lançamento deste livro estará
circulando solitário e vestido a rigor, com sua gravata
borboleta, bebericando, observando e saindo sem alarde.

79
MUDANÇA
DA JUSTINIANA

Justiniana era o que se podia chamar de mulher


brava. Bastava o coitado do Quindinho querer se
manifestar, para levar seus pitos. Controlava, desde os
poucos amigos que ele possuía, até os seus pensamentos,
pois tinham de prevalecer os dela. E ai do Quindinho,
caso se manifestasse contrariamente às ideias dela. Não
importava onde estivesse e na frente de quem, que ele
levava broncas, sem direito a revide. De tudo tinha de lhe
dar satisfação e, segundo comentários maldosos, se não
houvesse permissão da mulher, nem ao jogo de truco na
praça ele iria. Passeios ou uma cervejada, à noite, com
amigos, nem pensar. Do serviço para casa e da casa para o
serviço, sem direito a atrasos injustificados. Tremia e temia,
ao que fico a imaginar como seriam os seus momentos de
privacidade em parceria.
Num belo dia, cansado de ser feito de gato e sapato
e incentivado por amigos (amigos ajudam a decidir),
resolveu gritar e aceitar, sem qualquer reserva, a decisão
da mulher de que ele abandonasse de vez o lar. Você vai
ver o que é bom, dizia ela. Tudo que ele vinha remoendo,
nos últimos dias, e planejando fazer no momento da
separação, não teve coragem. Vinha alimentando a ideia de
falar umas verdades, enfrentar com dureza a fera e se ela
respondesse (e ele iria fazer tudo para que ela retrucasse),
ele aplicaria uma sova que estava engasgada na vontade

80
há muito tempo. Teve desejo, mas não teve coragem de
virar-se, quando já saindo, ela gritou em voz estridente:
“Você vai voltar rastejando e pedindo pelo amor de Deus
para que o aceite de volta e aí, vai ser do meu jeito.”
Mas, com o passar do tempo, Justiniana percebeu
que Quindinho não ia mais voltar, mesmo porque já
andava enrabichado com uma pernambucana. Foi, a partir
daí, que ela resolveu mudar de comportamento. Nunca
é tarde para ser feliz, dizia. Ficou com a voz mais macia,
cheia de gentilezas. Resolveu fazer um curso de dança, para
o que contratou os serviços profissionais de um personal
trainer e vinha avançando, vez que, no passado, era ela
quem conduzia na dança e determinava o ritmo; agora, já
se deixava levar e respondia pacientemente aos comandos
do cavalheiro. Dancei com ela umas duas vezes e percebi
que estava mais cadenciada e flexível. Ensaiei uns passos
estranhos e ela aceitou, numa boa, e sorriu numa pisada no
seu pé. Percebi que era outra e, numa conversa informal,
sugeri ao Quindinho um retorno com possibilidades de
felicidade, o que foi descartado. Mas, como sempre tem
alguém sozinho e quem procura sempre acha, surgiu na
vida da Justiniana o Armenegildo e o romance, ao que
tudo indica, vai bem.
No momento em que a amiga que sempre a
aconselhou, quando casada com o Quindinho, sabendo
do seu novo amor, chegou com a conversa de que fosse
durona e não deixasse o cara dominá-la, o sangue ferveu.
Por sorte, Justiniana estava levando a sério o seu novo
comportamento, o que a impediu de voar nos cabelos da
fulana, mas não deixou de lhe insinuar inveja e xingá-la de
feminista sem rumo, jogando-lhe, ainda, na cara a culpa
dos tempos em que sofreu na solidão e a perda do grande
marido que era o Quindinho.

81
COISAS DA VIDA

Zizelanda, sentada na calçada, enrolada numa


coberta esfarrapada, com sua perna cheia de feridas e não
menos o coração, sentiu inveja de uma coruja que, dias
atrás, ao ser atingida por uma linha de cerol foi socorrida,
cuidada de tudo quanto é jeito e até foi chorada, quando
morreu. Instigou a inveja no Beletinho, prestes a morrer de
fome e que implora, no seu dia a dia, restos de comida, sem
se importar com validade vencida ou cheiros esquisitos,
apontando-lhe a matéria de como vivem os animais de
estimação de muita gente. A luta de todo o mundo pela
preservação e vida dos animais. E com desdém, brincava:
“E um animalzinho lindo como tu, embora sujinho e
desdentado, bicho-menino, aí, sem eira nem beira, doente
de fome e sem ter quem se interesse.”

Antonio Carlos Magalhães, quando governador


da Bahia, indenizou turistas estrangeiros que foram
assaltados em Salvador. No Rio, turistas estrangeiros
serão indenizados por roubo. E nós, pobres brasileiros,
quando roubados também não temos direito a um
ressarcimentozinho, não? Se a moda pega, podem criar
um imposto para indenizar turistas roubados no Brasil.

Anúncio possível e provável nos próximos dias:


Precisa-se urgente de motorista que assine declaração de
estar dirigindo veículo que cometeu infração grave (7
pontos). Paga-se bem.

82
TRAIÇÃOZINHA
Sizelando foi encostado na parede. Sentiu que o
assunto era sério, quando ela chegou, e ele, sentado na sala,
lendo o jornal, foi interrompido, coisa jamais permitida.
Apesar de Clementina ser sempre de dramatizar as situações,
ele pressentiu que tinha razões para também se encucar.
“Quero falar com você agora.” Ao encostar seu jornal, ela
chamou a empregada e mandou que levasse as crianças
para a casa da sua mãe e aguardasse ser chamada de volta.
Sizelando já estava se irritando com aquela interrupção da
leitura, mas diante do quadro, achou por bem ficar quieto.
Depois de tudo arrumado, ela abriu sua bolsa e, quase a
enfiar-lhe pelos olhos, apontava um relatório do detetive
que contratara para lhe vigiar os passos.
Entre choro de raiva e xingos, amaldiçoava o
dia em que se unira a um cafajeste capaz de trair uma
mulher honesta e dedicada ao lar como ela. E lia: “Marieta,
Justiniana, Claudinete, Martina, Suzete...” Sizelando, sem
nada responder, pediu licença para se servir de um uísque
e tomou uma dose num gole só. A mulher ameaçava
quebrar-lhe a cara, antes que ele desocupasse a casa, o
que deveria fazer de imediato, sob pena de ter jogadas
suas roupas na rua. Ele pediu que ela se acalmasse por
um instante e o escutasse. Claro que não era de se desejar
que ela aceitasse aquilo, passivamente, mas também não
era de se desesperar e querer agredi-lo. “Quantas são aí?
Quinze, dezesseis? Faltam mais, Clementina. Muito mais.
E você deveria se sentir ofendida e trocada se fosse uma
só. Se eu estivesse indo atrás de uma outra mulher, uma

83
única, estaria amando outra, com o risco de abandonar-te
e ter um outro lar. Uma só, certamente, estaria exigindo de
mim que escolhesse entre ela e você, e eu teria de escolher.
Que traição desenfreada é esta com mais de não sei quantas
mulheres? Não quero dizer que não sou canalha, mas antes
de bandido, doente. Sim, porque fui ludibriado pelos olhos
melosos e de cor de cereja de Martina, derreti-me nos lábios
carnudos e avermelhados da Claudinete, embriaguei-me
ao admirar os seios sensuais da Marieta, desejei o corpo
bem formado da Mariana, cedi ao impulso de tocar e
pentear os cabelos da Marta, não resisti ao sorriso alegre
e descontraído da Rosalina, não consegui soltar as mãos
suaves da Cremilda, ao jeito triste e de abandono da Noeli,
entreguei-me à conversa mole e descabida da Francisca,
e muitos outros motivos que me fizeram aproximar e
até ficar, por uns momentos, com alguma mulher. Na
minha cabeça, pergunto: que mal há nisso? O desejo não
é pecado? E aumenta muito o pecado e a pena concretizar
o que se desejou? Quando menino ainda, pensamentos
maus passavam pela minha cabeça e eu me penitenciava
por eles, mesmo sem tê-los concretizado. Estava metido

84
em mim que por pensamentos se peca. Eu não conseguia
afastar os pensamentos pecaminosos. E quem resiste e
domina os seus sonhos, sonhando apenas o que quer
e o que é moralmente bom? Errei e, humildemente de
joelhos, peço-te perdão, por ter comigo esta doença de
uma traiçãozinha vez ou outra, mas que, nem por isso,
diminui meu amor por você. Juro que nunca trocaria
você por nenhuma delas e você é a mulher que eu amo.”
Correu a primeira lágrima. E os dois choravam,
enquanto ela o fazia jurar que não a trairia mais, embora
ele soubesse que aquela jura era de mentirinha e que a sua
doença não tinha cura.

85
COISAS DO NATAL
Não há como impedir que se repitam todos os
anos os meus pedidos e esperanças de mudanças no ano
seguinte.
No trabalho, o jantar de confraternização com as
mesmas conversas de desejos de progressos individuais e
da empresa. O discurso do diretor (depois de uns uísques),
falando da importância social da sua empresa que,
embora pequena, contribui na luta contra o desemprego
e para o progresso do país. E que confia no empenho de
todos, no ano seguinte, para melhoria geral. O Edilando,
como sempre, toma a palavra para agradecer ao patrão a
oportunidade de estarem ali reunidos e pede a Deus que os
negócios sejam favoráveis à empresa, no novo ano, além
de saúde para todos os presentes.
Dilermando continua lançando olhares melosos
e insinuações para Clotilde e poderia até ser denunciado
por assédio, não fosse a moça (embora comprometida) lhe
sorrir e, visivelmente, dar esperanças de aceitar sua oferta
de carona que, ao que tudo indica, este ano acontece. Os
cochichos das companheiras com dor de cotovelo também
se repetem.
No prédio, como sempre, a coleta de dinheiro para
o lixeiro é um arraso. Individualmente, é vergonhoso,
imagine entregar o presente como coletivo! Enoquinho deu
um real e pediu o troco. E os condôminos ainda ficam de
olho para ver como vai ser o Natal do síndico. Qualquer
anomalia é desconfiança de desvio de verba da caixinha
do lixeiro. Mas se cuida, viu, doutor Euclidiano que, no

86
ano que vem, vou ser síndico e aí a coisa é comigo. Vou
publicar a lista com os valores recebidos e teus cinquenta
centavos vão encabeçar a lista.
Em casa, pode anotar que vai ser igual. Aquele meu
cunhado vai chegar de cara cheia, resultado de encontro
com amigos. O outro, depois de uns goles, vai brigar com
a mulher, que não vai deixar por menos e vai dizer tudo
o que segurou durante o ano. Aquele sobrinho vai ligar
um rock nas alturas, chamar a mãe de careta, quando ela
pedir para trocar por uma música mais lenta e vai acabar
prevalecendo a vontade dele. O menorzinho vai cair no
berreiro para abrir o presente antes da meia-noite e a mãe,
que para beber à vontade, deixou de tomar seu Gardenal,
vai dar-lhe uns sopapos (bem merecidos e satisfazendo
meus desejos reprimidos).
O marido vai chamar-lhe a atenção e se desencadeará
outra briga de casal. Minha sogra lançará seus lamentos
pelo desprezo dos filhos e falta de educação dos netos, coisa
que nunca admitiu nos filhos que sempre a respeitaram e
se intimidavam diante de um simples olhar. Aquela minha
cunhada vai estar com um namorado novo. Certamente,
um tipo esquisito. Eu, vou estar no meu canto, tomando
todas com a desculpa de ficar anestesiado e nem ligar
para tudo que está ocorrendo nesta noite de harmonia e
aproximação com Deus.
Dona Floriana, cristã fervorosa, como nos Natais
anteriores, puxará o canto e fará uma oração, agradecendo
o ano que se finda e pedindo dias melhores para o que se
aproxima, embora tenha consciência de que, neste ano,
ela definhou mais e as coisas lhe foram piores, o que vem
ocorrendo ano após ano e que, no próximo, ao que tudo
indica, isso vá continuar. Mas, nem por isso reclama ou
deixa de acreditar em Deus, e que as coisas pelas quais
ela passa são uma provação e a recompensa serão dias
maravilhosos, numa outra vida.

87
VOLÚPIA
Já estavam casados há muito tempo. Ele esbanjava
carinho e afagava-lhe os cabelos, enquanto ela desejava
um beijo ardente e apaixonado como nos tempos de
namoro. Falava-lhe de assuntos concretos e seguros, mas
ela pensava em riscos e extravagâncias. Levava-a para
passear pelos campos, falava-lhe sobre a beleza da vida, o
enigma e o simbolismo de Deus em todas as coisas e ela
pensava em pecados e diabruras. Por mais que tentasse,
ela não conseguia acompanhar seus pensamentos, que se
modificaram com o tempo. Preferia o barulho, conversas
fúteis e descompromissadas àqueles pensamentos
profundos e silêncio mortal.
Por diversas vezes, respondeu, afirmativamente,
sem ao menos ouvir o que ele tinha dito. E ele, mesmo
quando percebia, numa altivez suprema, não reclamava.
E pelo jeito dele lhe falar e acariciar, não deixava nenhuma
esperança de que viesse a ser diferente. Mesmo quando se
oferecia toda coquete e sensual, ele não percebia, ou não
queria. E ela pensava na distância a separá-los. Ela estava
na terra, e ele no céu.
Enfim, criou coragem e resolveu levar a sério uma
aventura impensada. Separou-se para juntar-se a um rapaz
um pouco mais velho que seu filho. Enfrentou todas as
adversidades, desde a recriminação da mãe, revolta da filha,
virada de cara e gracejos. Contrapôs-se aos conselhos de
coerência e juízo. Em algumas amigas percebeu espanto
e inveja pelo desafio. Em muitas mulheres percebeu
olhares desejosos e confusos. Viveu inesquecíveis noitadas
regadas a bebida, danças e risos. Beijos apaixonados em
88
plena rua com a loucura dos amantes. Por várias vezes,
amanheceram na praia, após embriagar-se de bebida e de
amor. No carnaval, pulou todas as noites, divertiu-se a
valer e, como se não bastasse, na quarta-feira de cinzas,
estava dançando no encontro dos trios elétricos na Praça
Castro Alves, em Salvador, com um minúsculo biquíni
azul. Ele não censurava suas vontades e doidices, ao
contrário, acompanhava-a e estimulava seus excessos e
excentricidades.
Viveram momentos alegres e descompromissados
até que, sem perceber, ela começou a vigiar-lhe os passos, os
olhos e tentava adivinhar seus pensamentos. Aos poucos,
tentava roubá-lo dos amigos, trazendo-o para um mundo
só seu. Encafifava-se em pensamentos embaralhados e
desconfiava dos olhares e beijos fraternos em alguma
amiga da filha ou nela própria. Sofria nos momentos em
que ele não tinha os mesmos desejos que ela. Foi violenta
e desumana quando, querendo levar a vida muito a sério,
resolveu romper, dando fim a um romance que tinha tudo
para ser uma longa e linda história de amor.

89
COMO CONQUISTAR
SUA MULHER

Constata-se, via de regra, a convivência diminuindo


ou esfriando os impulsos, entretanto, não causa espanto
que o mesmo homem apático, em relação à sua mulher,
morra de desejos e possa até cometer asneiras e loucuras
por uma outra. E, ainda, que a sua própria mulher seja
objeto de desejo de outros. Isto não quer dizer que todo
homem que não quer nada com a sua mulher esteja
predisposto a procurar outra, mas o natural é a necessidade
de parceria e a busca desta. Pensando nisso, foi que resolvi
levantar a bandeira, buscando companheiros para juntar
ideias e lançar as regras de como conquistar a sua própria
mulher.
Perguntei-me: como um amor que era um grande
oceano, transformou-se num braço de mar, virou um
pequeno riacho e hoje é apenas um tênue fio d’água visível
somente por quem tem a vista muito apurada?
Percebi que não mais elogiava o seu rebolado
cadenciado, desestimulando toda a sua sensualidade, que
foi uma das razões do nosso início de namoro.
Notei que censurava sempre a sua saia acima dos
joelhos e a proibia de usar roupa justa, que a deixava num
estilo modelo e chamava a atenção. Se fosse outra mulher,
eu acharia lindo.
Observei que os seus comentários não eram por
mim ouvidos e não levava suas ideias em consideração
para minhas tomadas de decisão. E pior. Ela quase já não

90
tinha ideias e pensamentos próprios. Pelo menos não os
expressava a mim.
Foi aí, e olhando-a como se fosse uma estranha
que precisaria ser conquistada, que passei a elogiar seus
cabelos, seu corpo e seu sorriso.
Ela estranhou, e os amigos também, quando
a convidei, sem o tom imperativo da pergunta, a
acompanhar-me ao cinema e pedi-lhe que usasse aquela
saia. Ela não esperava e derreteu-se no escurinho do
cinema, quando lhe acariciei as pernas um pouco acima
dos joelhos, o que foi estímulo para um beijo demorado e
com sabor de início de namoro.
Ela se surpreendeu quando, numa tarde, telefonei-
lhe no emprego e propus que alegasse uma dor de cabeça
para sair e que escapássemos para um passeio pelo parque.
Quando lhe fiz um convite para viver momentos de amor,
num motel, ela achou que eu estava endoidando, mas
embarcou na loucura também.
Minha mãe confidenciou que achava que eu não
estava muito bem da cabeça quando, à meia-noite de uma
noite fria, a acordei para olhar as crianças para irmos a
uma danceteria. E saímos a sorrir, enquanto ela balançava
a cabeça preocupada com aquele comportamento de
enamorados.
Quando numa reunião de fim de semana, num
momento de silêncio, falei-lhe que seus olhos estavam com
um brilho atraente e nos beijamos de forma ardente, amigos
me chamaram num canto e falaram que aquilo era coisa de
se fazer com amante, enquanto as mulheres questionavam
que mandinga ela fez para o marido cair por ela.
É difícil cortejar o que se acha que tem direito, mas
já tem uns dois amigos que engatinham no esquema de
conquistar a própria mulher e já pensam em fundar um
clube para o qual aceitam sugestões de nome.

91
Glossário

Aberração - Defeito, distorção.


Alarde - Ostentação, exibicionismo.
Alento - Coragem, ânimo.
Apático – Indiferente; que denota falta de energia, indolente.
Artimanha - Artifício astucioso; ardil, manha.
Assédio - Insistência importuna, propostas, pretensões.
Beldade - Mulher bela.
Brio - Sentimento da própria dignidade; ânimo, coragem,
valentia.
Circunstância - Situação, estado ou condição de coisa(s) ou
pessoa(s), em determinado momento.
Close – Primeiro plano de uma imagem.
Crasso - Grosseiro, rude, bronco.
Decrépito - Muito idoso, ou muito enfraquecido e desgasta-
do fisicamente.
Desatinado - Falto de tino; fora de si; louco, estouvado.
Desdém - Desprezo com orgulho; altivez, arrogância.
Efusivo – Expansivo; comunicativo.
Encafifar – Teimar, cismar.
Enrubecer - Tornar vermelho ou corado.
Escabreado - Zangado, irritado, desconfiado, retraído, ressa-
biado.
Esnobe - Exacerbado sentimento de superioridade.
Estereótipo - Lugar-comum; clichê, chavão.
Eutanásia - Prática, sem amparo legal, pela qual se busca
abreviar, sem dor ou sofrimento, a vida de um doente reco-
nhecidamente incurável.
Evasiva - Desculpa ardilosa; subterfúgio, escapatória.
Evidência - Certeza manifesta; que não oferece dúvida.
Excentricidades - Extravagâncias, esquisitices.
Exímio - Distinto, eminente, excelente.
Êxtase - Arrebatamento íntimo; enlevo, arroubo, encanto.
Floreado - Fazer figura no salão de dança; fazer vista; bri-
lhar.

92
Fresta - Abertura estreita na parede; fenda.
Galanteio - Atenções amorosas; fineza, namoro.
Galhofa - Gracejo, risada, zombaria.
Hímen - Prega formada pela membrana mucosa da vagina.
Ileso - São e salvo.
Indulto - Perdão, graça, desculpa.
Íngreme - Difícil de subir; que tem forte declive; abrupto.
Júbilo - Grande contentamento; alegria intensa.
Mancebo – Rapaz, jovem.
Metódico - Que tem, ou em que há método; comedido, pru-
dente.
Molinete – Parafuso.
Palmatória - Tábua de madeira com a qual se davam golpes
nas mãos para castigar.
Paulatinamente - Feito aos poucos; lentamente.
Perspicácia - Agudeza de espírito; fineza, senso de observa-
ção.
Persuadir – Convencer, induzir, aconselhar.
Pigarro - Embaraço na garganta que produz um ruído ca-
racterístico.
Platônico – Amor Puro; idealizado.
Preâmbulo - Palavras ou atos que precedem as coisas defini-
tivas.
Precoce - Prematuro, antecipado; temporão.
Sacrilégio - Ação digna de censura ou reparação; ato conde-
nável.
Sinuoso - Manhoso, astucioso, ardiloso.
Sopesar - Levar em conta; avaliar; considerar.
Supetão - De súbito; de repente; repentinamente, imprevista-
mente.
Retrógrado - Que é contrário ao progresso.
Retrospectiva - Observação, ou análise, de tempos ou coisas
passadas.
Sisudo – Sério; grave.
Soslaio - Olhar de lado, obliquamente.
Tralhas – Objetos usados em pescarias.
Veemência - Eloquência comovente; grande energia; vigor.
Vislumbrar - suposição, hipótese.
Volúpia - Grande prazer dos sentidos; grande prazer sexual.

93
Chegamos ao vigésimo ano do Grupo Projetos de Leitura que
iniciou as suas atividades de incentivo à leitura em 1998, com o
projeto Encontro com o Escritor. A partir daí vários projetos foram
criados e desenvolvidas diversas atividades de incentivo à leitura
com a proposta de desmistificar o slogan “brasileiro não gosta de
ler” e contribuir para a formação de um Brasil Leitor. Esta foi a
força motriz que levou o escritor, cronista e dramaturgo Laé de
Souza a criar, entre outros, os projetos de leitura Ler é Bom, Ex-
perimente!, Lendo na Escola, Leitura no Parque,Viajando na
Leitura e Dose de Leitura.
No projeto Ler é Bom, Experimente! são doados lotes de 38
a 114 livros a cada escola participante. Os alunos desenvolvem
atividades de leitura e criação de textos e no final é publicado uma
coletânea com os melhores textos produzidos pelos estudantes.
Já participaram do projeto escolas de todos os Estados do Brasil.
O projeto Leitura no Parque tem como objetivo proporcionar
entretenimento e incentivar o hábito da leitura em parques públicos.
O trabalho consiste no empréstimo das obras de autoria do cronista
aos visitantes de diversos espaços abertos em São Paulo.
O projeto Viajando na Leitura visa oferecer leitura a usuários
de transportes públicos e é realizado em terminais rodoviários de
ônibus, aeroportos e estações do metrô, com a proposta que após
a leitura o livro seja “esquecido” em outro local público.
O projeto Dose de Leitura é realizado em parceria com hos-
pitais e direcionado aos pacientes e acompanhantes. São doados
aos hospitais um carrinho expositor das obras e um lote de livros.
O projeto Caravana da Leitura consiste na venda de livros, a
preço simbólico, para estudantes e ao público em geral, nas praças
públicas de várias cidades, com a presença do autor e em parceria
com as Secretarias de Educação, de Cultura e de Turismo dos
municípios.

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Obras do Autor

- Quinho
- Radar, o cãozinho
- Bia e a sua gatinha Pammy
- Quem sou eu
- Minha história
- Quinho e o seu cãozinho - Um cãozinho especial
- Quinho e o seu cãozinho - Novos amigos
- Quinho e o seu cãozinho - Férias na fazenda
- Quinho e o seu cãozinho - Acampamento escoteiro
- Nick e o passarinho falante
- Sofia - Ser solidário é dez
- Nick e Bia na Floresta Encantada
- Acontece... (impressão regular e em braile)
- Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braile)
- Espiando o mundo pela fechadura (impressão regular e em
braile)
- Acredite se quiser! (impressão regular e em braile)

95
E-mail
[email protected]

Conheça os projetos

Ler é Bom, Experimente!


Minha Escola Lê
Lendo na Escola
Leitura no Parque
Viajando na Leitura
Dose de Leitura
Caravana da Leitura
Minha Cidade Lê
Leitura não tem Idade

no site:
www.projetosdeleitura.com.br

E-mail: [email protected]
(11) 2743-9491 – 2743-8400
WhatsApp: (11) 95272-9775
Facebook: facebook.com/projetosdeleitura
Sobre o Autor

Jequieense, radicado em São Paulo há mais de 40 anos, Laé de Souza


é cronista, dramaturgo, produtor cultural, bacharel em Direito e
Administração de Empresas, escritor de livros dirigidos ao público
infantil, juvenil e adulto. Autor de vários projetos de incentivo à leitura
e coordenador do Grupo Projetos de Leitura há mais de vinte anos.
Peças teatrais: Noite de variedades, Casa dos Conflitos, Os Rebeldes,
Viravolta na vida e Minha linda Ró.
Obras publicadas: Nos bastidores do cotidiano, Acredite se quiser!,
Acontece.... e Espiando o mundo pela fechadura (impressão regular
e em braile), Coisas de homem & coisas de mulher, a série infantil
Quinho e o seu cãozinho Radar, Nick e Bia na floresta encantada
(bilingue), dentre outros.
Projetos culturais: Ler é Bom, Experimente!, Caravana da Leitura, Dose
de Leitura, Viajando na Leitura, Leitura no Parque, Leitura não tem
Idade, Lendo na Escola.
Outras ações: Ao longo de sua carreira, Laé de Souza vem
desenvolvendo várias ações de incentivo à leitura em todo o país:
doação de livros de sua autoria oara estudantes de escolas da rede
pública, ONGs, hospitais, usuários de transportes coletivos, palestras
para professores e estudantes, caravanas e oficinas literárias,
distribuição de livros em casas, praças e parques públicos, edição anual
de um livro com textos produzidos por estudantes participantes dos
seus projetos de leitura.

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