Psicomotricidade

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COMO AUXILIAR O APRIMORAMENTO DA APRENDIZAGEM E

ESTIMULAR AS HABILIDADES COGNITIVAS DAS CRIANÇAS COM


DISTÚRBIOS DE APRENDIZADO?

FAGUNDES, Leila Paula Modesto da Silva1


RU 2819255
Orientadora: ALBRECHT, Ana Rosa Massolin

RESUMO

Muito tem sido discutido como os distúrbios de aprendizagem dificultam o foco e o


desempenho na escola das crianças que apresentam esse padrão comportamental.
Os transtornos de aprendizagem são dificuldades na aptidão do cérebro em
conseguir memorizar ou usar ideias, dificultando a atenção e a performance na vida
acadêmica. A psicomotricidade se preocupa com a interação entre perceber, sentir,
pensar, mover e o comportamento do sujeito, bem como em sua expressão
física. No desenvolvimento psicomotor, são diagnosticados anormalidades,
distúrbios e incapacidades do desenvolvimento cognitivo e motor, e são planejadas,
implementadas e avaliadas medidas terapêuticas e de suporte para amenizar tais
distúrbios. A metodologia utilizada para se chegar aos objetivos propostos optou-se
por uma pesquisa bibliográfica, de caráter qualitativo, levantando-se informações
através de livros impressos, artigos e periódicos, que abordassem a temática. Como
conclusão desta pesquisa, observou-se que o trabalho psicomotor é fundamental
desde os primeiros anos de vida e que as habilidades corporais estão
intrinsecamente relacionadas à aprendizagem em sala de aula.

Palavras-chave: Psicomotricidade. Aprendizagem. Intervenções psicopedagógicas.


Distúrbios. TDAH.

1. INTRODUÇÃO

Os transtornos de aprendizagem são uma adversidade na neuro evolução,


pertinente a bloqueios particulares. Essa situação difícil deve-se a motivos distintos,
podendo estar separados ou juntos. Apenas um parecer e uma interferência precoce
são capazes de guiar um aprendizado pleno. Os transtornos de aprendizagem, tem
uma forte consequência em cima da vida da criança e ao seu redor, em função dos
prejuízos causados em todas as áreas do processo, assim como sua estima. Existe

1Aluna do Centro Universitário Internacional UNINTER. Artigo apresentado como Trabalho de


Conclusão de Curso. 5º semestre – 2021.
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uma disfunção neurológica, que pode envolver prematuridade, lesões no cérebro,


disfunções químicas e fatores hereditários. Pertinente a forma desarmônica que as
atividades mentais se desenvolvem, aparecem divergências entre o potencial e a
execução das tarefas.
Os principais transtornos de aprendizagem são: Discalculia, se manifesta
como dificuldade no aprendizado dos números. Dislexia, se refere a dificuldade na
análise entre fonemas e símbolos gráficos. Disgrafia que se refere a perturbação da
linguagem escrita, e Dislalia, dificuldade em articular e pronunciar algumas palavras.
Outras dificuldades podem estar associadas com os transtornos de aprendizagem, a
mais comum é o (TDAH) transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Apesar de pacientes com TDAH terem características comuns, existe uma
grande variação no comportamento individual, em vários contextos. Muitos dos
pacientes com este diagnóstico, receber críticas excessivas e frequentes.
Lamentavelmente, as pessoas confundem os distúrbios de aprendizado com
comportamentos espontâneos do portador. Os diagnósticos de distúrbios de
aprendizado devem ser realizados com muito cuidado, de preferência por uma
equipe interdisciplinar, com uma investigação bem fundamentada, não se limitando
ao estudo de psicopedagogos e professores, uma vez que o risco de generalização
e precipitações pode ter graves implicações aos estudantes.
Quando falamos acerca da psicomotricidade, compreendemos como uma
série de combinações das funcionalidades psíquicas, intelectuais e motoras, que se
estenderá por todo processo de maturação do indivíduo, abrangendo as funções
corporais e cognitivas de cada um.
Assim sendo, questiona-se sobre a importância do desenvolvimento da
psicomotricidade nas crianças com distúrbios de aprendizagem em idade escolar.
Nesta direção, a pergunta que guiará tal pesquisa será: quais são os
prejuízos que as crianças com distúrbios de aprendizagem nas séries iniciais,
podem ter quando a psicomotricidade é pouco explorada?
Justifica-se este trabalho por acreditar-se que o corpo em movimento das
crianças favorece o desenvolvimento global do aluno, bem como no desempenho da
aprendizagem, tem-se ideia de que a psicomotricidade é importante para o
amadurecimento da criança em seu meio de inserção.
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O item um deste artigo trata da introdução do mesmo, que nos dá um breve


apanhado acerca da temática abordada.
O item dois é o primeiro capítulo da fundamentação teórica e trata da
contextualização da psicomotricidade, bem como seus aspectos evidenciados nos
indivíduos, através dos jogos simbólicos e os benefícios destes para o
desenvolvimento cognitivo da criança.
O item três, segundo capítulo, aborda os casos de distúrbios de
aprendizagem, relacionando-os com a exploração psicomotora defasada.
O item quatro, terceiro capítulo traz uma breve explicação sobre os aspectos
psicomotores e traz sugestões de desenvolvimento dos mesmos.
Para atingir os objetivos propostos, bem como a estruturação deste trabalho,
optou-se pela metodologia de pesquisa bibliográfica, de caráter qualitativo,
orientando-se através de materiais publicados virtualmente e impressos, que
auxiliaram na argumentação e em parte da resolução deste artigo.

2. CONCEITUANDO PSICOMOTRICIDADE E OS BENEFÍCIOS DO JOGO


SIMBÓLICO

Criada por André Lapièrre, a psicomotricidade relacional surge nos anos


setenta como uma prática de expressão de conflitos internos, através do jogo
simbólico, operando com os fatores psicoafetivos e emocionais, a prática é
elaborada como um fator para auxiliar no desenvolvimento social, através da
brincadeira e da ludicidade.
De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade (2009)

Psicomotricidade é a ciência que tem como objetivo de estudo o homem por


meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e
externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o
outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de
maturação, onde o corpo é origem das aquisições cognitivas, afetivas e
orgânicas.

Em outras palavras, a psicomotricidade está diretamente relacionada ao


comando mental do indivíduo, que por fim, comandam suas ações corporais.
A psicomotricidade se desenvolve através dos movimentos, das ações
espontâneas do comportamento corporal da criança, possibilitando a compreensão
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da figura humana auxiliando na formação da personalidade. Cabe ao educador


favorecer um ambiente propício para a criança desenvolver seus aspectos físicos,
mentais, afetivos, sociais e cognitivos, conforme a realidade de cada um.
A psicomotricidade previne dificuldades motoras, estimula o processo
evolutivo normal da criança, que muitas vezes por decorrências do seu
desenvolvimento negativo, acabam ficando com “lacunas” na aprendizagem.
A psicomotricidade, através da estimulação sensorial, trabalha os atrasos
globais do desenvolvimento, o equilíbrio, a motricidade ampla, fina e grossa, a
estruturação espacial e temporal a tonicidade, a coordenação motora, a lateralidade,
as dificuldades na escrita, os déficits de memória, etc.
É fundamental estimular todas as áreas necessárias para o processo ensino e
aprendizagem, para que a criança possa ter um rendimento pleno tanto no ambiente
escolar, quanto fora dele.
O principal benefício da psicomotricidade é auxiliar na prevenção das
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem da criança, proporcionando a
unificação dos aspectos cognitivos, afetivos e sociais do desenvolvimento infantil,
que se expressam nas relações estabelecidas com o espaço, o tempo, os objetos,
às pessoas e com seu corpo. Em outras palavras é como se fosse a “junção entre a
imagem mental e o movimento” (Costa, 2008, p.29).
Há, então, uma necessidade de introduzir a brincadeira e o jogo simbólico
como sustentação da aprendizagem. Trabalhar de forma lúdica é de grande valia
para o profissional da educação.
De acordo com Costa (2005, p.45), a palavra ‘lúdico’ origina-se da palavra em
latim ludus e significa brincadeira/brincar. Aqui podemos incluir as brincadeiras,
jogos (inclusive os simbólicos) e brinquedos. O jogo favorece o divertimento, a
aprendizagem, além de criar regras, temos a interação com os objetos, as diferentes
linguagens expressivas, e a prática pedagógica se torna interessante, pois a criança
aprende brincando, ainda desenvolve suas habilidades motoras.
Rau (2011, p. 31) afirma que:

A ludicidade se define pelas ações do brincar que são organizadas em três


eixos: o jogo, o brinquedo e a brincadeira. Ensinar por meio da ludicidade
faz parte da vida do ser humano e que, por isso, traz referenciais da própria
vida do sujeito.
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Isso quer dizer que a ludicidade envolve aspectos sentimentais, emocionais e


de valores, além do cognitivo e motor. O que é fundamental para o desenvolvimento
integral das crianças com distúrbios de aprendizado.
O cuidar, o brincar e o educar andam juntos, tanto na educação infantil como
nas séries iniciais, cujos eixos norteadores são as interações e as brincadeiras, pois
quando a criança brinca está aprendendo muitas coisas, está a aprender a ser um
ser social, desenvolver relações sociais, aprendendo sobre seu corpo, seus
movimentos e sobre o mundo sensorial, além de desenvolver a área motora
fundamental para seus movimentos e ações.
Até os dois anos, a criança explora a parte sensorial e seus cinco sentidos, é
através das brincadeiras, das observações que as crianças começam a perceber o
mundo e como tudo funciona a seu redor, isso se dá pela imitação, sendo ele o
primeiro processo.
A brincadeira é um direito da criança, pois é uma expressão de liberdade,
uma maneira de tomar suas próprias decisões, poder explorar cores, texturas,
formas, aprender a se movimentar, explorar seu corpo e forma de pensar, porém
temos que deixar os brinquedos ao alcance da criança onde ela possa manusear e
tomar suas decisões explorar seus movimentos, suas percepções, usando seu corpo
representar e perceber quem ela é e quem é o outro. Criar regras, as diferentes
formas de brincar, descobrir diferentes brincadeiras de forma lúdica. Brincando com
as crianças com distúrbios de aprendizado desenvolve-se todas as áreas do
conhecimento. Para isso temos que oferecer formas, áreas para que cada criança
desenvolva suas habilidades em particular.
O brincar é um direito da criança, porém as crianças com distúrbios de
aprendizado devem criar seus projetos de brincadeiras, pois cada criança tem suas
particularidades, os professores por sua vez, apenas mediar as brincadeiras.
Conforme Piaget, devemos dar a oportunidade de a criança se desenvolver em suas
etapas sensoriais e motoras, explorando as percepções, a imaginação, o faz de
conta, o jogo simbólico. É nas brincadeiras que o campo afetivo se desenvolve, cabe
ao professor oferecer mediações com variadas culturas respeitando a diversidade,
cultivando as diferenças; usando variedades de objetos brinquedos, a professora faz
a mediação das brincadeiras, mostrando instrumentos indígenas, africanos,
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italianos, alemães, as diferentes culturas, e que somos diferentes um do outro e que


todos devem ser respeitados. O educar e o brincar acontecem quando se respeita o
interesse da criança; o projeto de cada um, suas intenções. O educar tem que ter
um objetivo próprio e acontece no contexto informal onde se respeita a vontade da
criança, assim ela aprende que é um ser social, a criar amizades, usar seu corpo,
sua linguagem.

3. O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E A RELAÇÃO COM DISTÚRBIOS


DE APRENDIZAGEM

Para que a criança com distúrbios de aprendizado possa aprender os


conteúdos escolares satisfatoriamente, devemos desenvolver os conteúdos de uma
forma não contextualizada, brincando e aprendendo ao mesmo tempo, introduzindo
números, letras, cálculos, medidas utilizando-se de tudo o que está a seu alcance,
sua voz seu corpo, objetos, sempre explorando o espaço usando como ferramenta
principal que é o corpo e seus movimentos. Após explorar tudo isso, podemos entrar
na parte sistemática dos conteúdos, mas sempre que possível, evitar
contextualizações em excesso.
Supondo que os processos sensoriais e motores em geral têm um significado
para o desenvolvimento da criança, não podemos deixar de citar as áreas de
percepção e movimento, que desempenham um papel importante na ‘educação
curativa’. Se os estímulos de movimento e percepção ocorrem quantitativamente e
não qualitativamente em uma medida adequada para o indivíduo, certamente que as
crianças desenvolverão dificuldades na aprendizagem e em seu desenvolvimento
cognitivo.
O ambiente de aprendizagem deve possuir diversos estímulos e processos de
percepção e movimento, estes melhoram os déficits sensório-motores.
Para Carolyn (1999, pág. 156):

Um ambiente é um sistema vivo, em transformação. Mais do que o espaço


físico, inclui o modo como o tempo é estruturado e os papéis que devemos
exercer, condicionando o modo como nos sentimos, pensamos e nos
comportamos, e afetando dramaticamente a qualidade de nossas vidas. O
ambiente funciona contra ou a nosso favor, enquanto conduzimos nossas
vidas.
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Isto é, o ambiente de aprendizagem vai além do espaço físico. É um local que


é estruturado para instigar o desenvolvimento pleno da aprendizagem, bem como,
uma forma de potencializar as relações socioafetivas.
Os ambientes de aprendizagens são estimulantes para o cognitivo, pois se
utilizam da psicomotricidade em suas experiências e relações.
As escolas se tornaram importantes espaços para a experimentação de
vivências sociais, cognitivas e emocional, trazendo novas percepções às
experiências e ao desenvolvimento da criança como um todo.
A psicomotricidade é importante para o aprimoramento da construção do
conhecimento. Não trabalhar a parte psicomotora, pode acarretar danos por sua
pouca exploração.
De acordo com Fonseca (2004, p.105):

[...] o sistema psicomotor humano pode ser concebido como um sistema


complexo integrado por sete fatores psicomotores independentes
(tonicidade, equilíbrio, lateralização, noção do corpo, estruturação espaço-
temporal, praxia global e praxia fina).

Atualmente, a psicomotricidade é trabalhada não se utilizando somente da


parte motora, mas também das áreas afetiva, cognitiva e social, estabelecendo
conexão entre o trabalho da psicomotricidade e os distúrbios de aprendizagem.
Fonseca (p.106) ainda afirma que:

[...] todos os processos mentais, como a percepção, a memória, a cognição


ou a praxia, a linguagem ou o pensamento, bem como aprendizagem
simbólicas da leitura, da escrita ou da matemática, decorrem da
organização funcional do cérebro, que envolve uma constelação de trabalho
que integra três unidades funcionais complexas e hierarquizadas e de
origem sócio-histórica.

Se utilizando desse ponto de vista, observa-se que a psicomotricidade pode


ser, inclusive, responsável pela função da aprendizagem.
O corpo da criança é o seu principal ponto de referência e, nesse sentido,
qualquer aprendizagem, para que seja sustentável e transferível, deve partir primeiro
do corpo e das emoções da criança. As crianças precisam de movimento para
controlar seu corpo, para descobrir o ambiente, para se abrir para os outros, para
afirmar sua personalidade, mas também para experimentar o prazer do movimento.
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As atividades de movimento envolvem todo o ser, interagindo com o meio


emocional, físico e social, estes movimentos ajudam a criança a se estruturar e são
fundamentais no seu desenvolvimento psíquico.

4. ABORDAGENS PSICOPEDAGÓGIAS

Observa-se que as crianças com distúrbios de aprendizado em especial as


com TDAH, em sua maioria, são expostas cada vez mais tempo à televisão e ao
computador (para que os pais tenham um pouco mais de tranquilidade), deixando de
lado as atividades que envolvem o sistema corporal, muitas vezes não
desenvolvendo essa parte cognitiva em sua totalidade.
Por esse viés, a educação psicomotora é muito importante, pois utiliza o
movimento como ferramenta que visa integrar as várias dimensões da pessoa,
sejam elas cognitivas, sociais, emocionais ou físicas, de acordo com a ideia de
desenvolvimento global da pessoa. Essa definição de psicomotricidade traz em si
uma preocupação com o corpo e o movimento.
A psicomotricidade não visa apenas a eficiência motora, mas tenta estruturar
o corpo, permitindo uma interação entre o campo motor e o psíquico da criança.
Este é um desafio para os educadores que trabalham com crianças pequenas.
De acordo com Gozzi et al. (2018, p.04):

A psicomotricidade dentro da intervenção pedagógica exerce grande


influência na vida da criança estimulando-a a conhecer-se como um ser
integral, favorecendo assim o seu desenvolvimento e sua aquisição de
conhecimentos, possibilitando novos caminhos para a superação de
dificuldades de aprendizagem e discutindo para isso a relação entre o
psicomotor e os processos de aprendizagem, com possibilidades de
avançar na superação destes problemas.

Isto quer dizer que o estímulo psicomotor é essencial na vida do indivíduo, em


qualquer área de desenvolvimento, seja ela cognitiva, motora, social ou afetiva.
Jogos e intervenções psicomotoras podem auxiliar a potencialização do
estímulo cerebral das crianças, pois conforme Gonçalves e Gonçalves (2020, p. 71):

Os jogos simbólicos e as brincadeiras promovem o desenvolvimento de


habilidades psicomotoras como o sistema postural, o esquema corporal e a
estruturação espaço-temporal, e, assim, podem apoiar o processo das
aprendizagens escolares. Além disso, os jogos e as brincadeiras são
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experiências que ajudam no desenvolvimento da interação entre os pares,


promovendo a socialização, a autonomia, a resolução de problemas e a
descoberta do meio onde se vive, sendo os primeiros anos de vida da
criança decisivos para uma boa formação das bases do desenvolvimento
futuro.

O ato de brincar faz com que a criança experimente o mundo de diferentes


formas e, através de diferentes objetos e texturas.
Trabalhar, de forma lúdica, a psicomotricidade, requer trabalhos específicos
nas diversas áreas cognitivas, que vão desde o corpo até o cérebro. Exercitar essas
áreas é de suma importância para o desenvolvimento integral do sujeito e, ao
aperfeiçoá-las, a aprendizagem formal torna-se mais viável.
Como sugestão de intervenções psicomotoras, podem-se realizar ações que
visam auxiliar no desenvolvimento do esquema corporal, da lateralidade, das
estruturas espacial e temporal, das coordenações motoras global e fina, das
percepções visual e auditiva, preferencialmente iniciando na educação e se
estendendo durante toda a vida de cada indivíduo.

4.1 ESQUEMA CORPORAL

O esquema corporal vem a ser o principal elemento de desenvolvimento da


criança e é resultante de suas experiências sensoriais e das construções gradativas
de suas vivências corporais. Para Le Boulch (1981, p.74), o esquema corporal se
divide três etapas de desenvolvimento:
• Corpo vivido (0 a 3 anos de idade): a partir de atividades espontâneas, a
criança vai aprendendo, pois se sente integrada ao meio, com o passar do
tempo e o sistema nervoso em processo de amadurecimento, amplia sua rede
de conhecimentos, diferenciando-se do meio.
• Corpo percebido (3 a 7 anos de idade): é o domínio do corpo e a
desvinculação da relação de integração ao meio. Nesta etapa, a criança
começa a perceber as relações espaço-tempo, bem como a sua coordenação
motora vai se aprimorando gradativamente.
• Corpo representado (7 a 12 anos de idade): nesta fase, as referências já se
tornam externas e não tão centradas nos aspectos corporais dos indivíduos.
Há uma maturação significativa nas funções cognitivas e uma estruturação
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considerável no esquema corporal. É nesse período que a criança começa a


adquirir mais autonomia sobre seu corpo, tendo noção das partes que o
compõem.
Para estimular o esquema corporal, são indicadas ações que, como o próprio
nome já diz, trabalham o esquema corporal, como atividades de reconhecimento das
partes do corpo, imitações, saltos, equilíbrio etc.
Compreende-se que a estimulação mal explorada das crianças com distúrbios
de aprendizagem ou, simplesmente, não realizada do esquema corporal pode
acarretar danos do tipo: coordenação motora global deficiente, falta de domínio
sobre o próprio corpo, dificuldade na fala, defasagem na realização de coisas
cotidianas simples, como sentar-se, ficar quieto, ouvir, entre outros.
A exploração adequada do esquema corporal é vital para que a criança possa
se desenvolver nos demais aspectos cognitivos.

4.2 LATERALIDADE

A lateralidade corresponde à parte neurológica dos indivíduos, sendo que há


uma predominância entre os hemisférios cerebrais e, de acordo com o hemisfério
dominante, observa-se se o sujeito será destro (quando o hemisfério esquerdo
predomina em relação ao direito), ambidestro (quando não se tem um predomínio
entre os lados) ou canhoto (quando o hemisfério direito predomina em relação ao
esquerdo).
Sabe-se que a noção espacial está atrelada à lateralidade, entretanto, Meur e
Staes (1991, p.12) afirmam que não se aconselha a “empregar os termos ‘esquerda
e direita’ sem que a lateralidade da criança esteja bem definida”. Com o domínio da
lateralidade, a criança se torna apta à técnica da escrita e, consequentemente,
habilitada cognitivamente para o ensino formal.
Estimula-se a lateralidade com atividades que desenvolvam as noções de
esquerda e direita, cima e embaixo, por cima e por baixo, frente e trás, antes e
depois, além de brincadeiras de bolas e de equilíbrio para que a criança possa se
desafiar, bem como, compreender na prática o conceito de lateralidade.
No que diz respeito às defasagens por exploração incorreta da lateralidade,
ou a falta dela, podemos enumerar a dificuldade em distinguir lados de esquerda e
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direita, complexidade na distinção de letras como p, q, d, b, falta de coordenação


motora fina e direção da grafia, entre outras coisas.

4.3 ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

A organização espacial é aquela que diz respeito à nossa percepção em


relação ao meio em que nos inserimos.
Para David et al. (2015, p.02)

Toda informação relacionada a espaço tem que ser interpretada por meio
do corpo. O conhecimento do corpo é transformado em conhecimento do
espaço, primeiro intuitivamente, depois de forma lógica e conceitual. A
importância de uma noção espacial estável é essencial à vida, na medida
em que é por meio do espaço e das relações espaciais que observamos as
relações entre coisas e objetos.

O corpo, na organização espacial, se torna uma referência para a localização


no meio. Esta habilidade cognitiva também é responsável por desenvolver noção de
delimitação, de formas, de tamanhos, etc., para, futuramente, se exercer a
capacidade de escrita.
Em relação a espaço, podemos defini-lo de três formas que são relacionadas
ao universo, ao tempo e medidas. Isto quer dizer que de noção de espaço de um
indivíduo, vai se expandido na medida em que a criança vai amadurecendo.
A noção de tamanhos, formas, movimentos, qualidades, posições, entre
outras, devem ser exploradas nas atividades. É importante que a criança saiba
diferenciar o que é grande/pequeno, muito/pouco, em cima/embaixo, pois a
exploração defasada desta área pode ocasionar limitações no desenvolvimento do
esquema corporal, sistema de orientação se torna descompassado, acuidade visual
precária, não respeitar os limites da folha na hora da escrita.

4.4 ORGANIZAÇÃO TEMPORAL

Sabe-se que a organização espacial e a temporal estão intimamente


interligadas, pois o sujeito move-se no espaço, guiado pelo tempo.
Compreender a organização temporal é essencial e requer que a criança
aprenda noções de ordem e sucessão (antes, agora, depois), intervalos (diferença
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entre dia, hora, minuto e segundo), tempo ou período (ontem, hoje e amanhã) e, por
fim, ritmo.
Para que haja uma organização temporal devidamente explorada, o sujeito
deve dominar e compreender as relações de ontem, hoje e amanhã, percebendo
sua rotina e o tempo à sua volta.
Boas maneiras de se explorar essa área cognitiva, através da
psicomotricidade são atividades ritmadas, utilizando materiais de percussão, palmas,
etc.
Ao estimular a criança em sua organização temporal, evitam-se as
dificuldades de organização de tempo, as dificuldades na coordenação motora,
desorganização de fatos ocorridos numa sucessão temporal, entre outras disfunções
relacionadas a esta área.

4.5 COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL

A coordenação motora ampla corresponde aos movimentos mais amplos que


não exigem tanta delicadeza na hora de executar alguma atividade. É uma
habilidade que cujo desenvolvimento é estimulado logo na primeira infância, pois é a
partir desta etapa que os movimentos essenciais para o desenvolvimento do
indivíduo são trabalhados, como braços, pernas e abdômen.
De acordo com Bueno (1988, p.52), “somente por meio de uma coordenação
dinâmica adequada a criança consegue estabelecer relações de ação e movimento
que serão o carro-chefe da educação de sua motricidade”.
As formas de se explorar a coordenação motora global são através de
brincadeiras de pular, correr, dançar, dentre outras coisas. Entretanto, a pouca
instigação destes movimentos pode acarretar dificuldades de realizá-los
satisfatoriamente, refletindo-se na aprendizagem em sala de aula.
Ibiapina (2007, p. 02) afirma que:

É através do movimento, que o homem participa do mundo, e através dele,


manifesta suas intenções. O ato motor não é somente uma sucessão de
impulsos fisiológicos, mas sim o modo como o indivíduo se coloca em
relação ao mundo externo, possibilitando assim a expressão de uma
imagem mental.
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Portanto, a coordenação motora ampla vai além do movimento. É ela quem


dá a essência de desenvolvimento do ser humano.

4.6 COORDENAÇÃO MOTORA FINA

A coordenação motora fina é responsável pelos movimentos de músculos


menores como os das mãos, dos pés, da face. É através destes movimentos que a
criança aprende a desenvolver movimentos precisos e conseguem manipular
pequenos objetos, e neste momento, se preparam para a escrita.
Para que haja um trabalho satisfatório de coordenação motora, Ibiapina
(2007, p. 21) afirma que:

[...] é necessário que se tenha um canal de entrada de informação (input), e


um canal de saída para execução (output) dos comandos vindos do
cérebro. O canal input é preenchido pelo sistema receptor, ou seja, os
sentidos visual, tátil, sinestésico, auditivo e vestibular. Enquanto que o canal
output é composto pelo sistema locomotor completo (membros superiores,
membros inferiores e tronco).

Sabe-se que para estimular tais canais, sugerem-se atividades se utilizando


de massinhas de modelar, movimento de pinça (utilizando o indicador e o polegar),
rasgar e amassar papéis, etc.
Em contrapartida, a má estimulação da coordenação motora fina traz pode
trazer uma inadequação do tônus muscular, afetando a escrita e a força empregada
para esta atividade, bem como, colorir e recortar.

4.7 PERCEPÇÃO VISUAL

A percepção visual, como o próprio nome já trata, é a assimilação que diz


respeito a tudo que é apreendido pelos olhos.
Roverssi (2020, p. 06 apud Almeida, 2010) enfatiza que:

As atividades visomotoras ajudam em todo processo de aprendizagem da


criança na escrita, pois é uma forma básica de comunicação da linguagem
para que haja interação de habilidades visomotora e práticas a atividade
gráfica precisa de maturação visomotora. Esse tipo de coordenação está
presente em atividades manuais como a escrita, mas também nas corporais
como chutar uma bola usando os membros inferiores.
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Uma discriminação visual considerada satisfatória auxilia o sujeito no seu


desenvolvimento da visão periférica, na compreensão de distância entre objetos, na
observação do movimento de objetos, na percepção de profundidade, na
compreensão de esquerda e direita, em cima e embaixo.
Atividades sensoriais, encontrar os erros nas figuras (sete erros), com blocos
de montar, de classificação de objetos e jogo da memória, são uma excelente forma
de explorar a percepção visual, desenvolvendo-a da melhor maneira possível.
Entretanto, conforme Oliveira (2007, p. 101) “Uma criança que possua
discriminação visual pobre pode apresentar uma maior incidência na confusão de
letras simétricas como, por exemplo, na forma das letras d e b, n e u, p e q”. Podem,
ainda, apresentar certa confusão no que tange à leitura, lendo, sem se dar conta,
diversas vezes as frases na mesma linha ou, até mesmo, “pulam” linhas durante sua
leitura, desordenando completamente sua linha de raciocínio.

4.8 PERCEPÇÃO AUDITIVA

Assim como a percepção visual, a auditiva também é muito importante para o


desenvolvimento da capacidade de decodificação das letras.
Para Le Boulch (1987, p. 88) ”[...] a criança deve ser capaz de identificar os
sons e ter compreendido a significação da passagem do som ao sinal gráfico”. Isto
quer dizer que a criança terá a capacidade de assimilar o som escutado à grafia da
letra, memorizando e decodificando seus símbolos, e registrá-los adequadamente.
Quando a percepção auditiva for trabalhada inadequadamente, teremos
crianças com dificuldades de assimilar o som à escrita das letras, bem como, não
compreender a grafia de determinadas letras, como aponta Oliveira (1997, p. 103):

[...] troca de F por V; B ou J (foi por voi, ou joi); troca de P por B (ponte por
bonde); troca de CH por J, V (chapa por japa); troca de D por B, ou T (dado
por bado ou tado); troca de T por D (tatu por dadu); troca de S por Z (sonho
por Zonho); troca de C por G (cartaz por gartaz).

Pode-se desenvolver a percepção auditiva ao trabalhar com atividades que


envolvam ritmo, como danças seguindo a música, explorar os sons do próprio corpo,
brincadeiras com estímulos sonoros, entre outros.
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A pouca exploração em alguma área cognitiva, acarreta problemas nas


demais áreas, afetando habilidades essenciais no período escolar.

5. METODOLOGIA

O delineamento da pesquisa se dará através da metodologia de pesquisa


bibliográfica, pois Deslandes et. al (2009, p. 14) afirmam que:

[...] a metodologia incluí simultaneamente a teoria da abordagem (o


método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as
técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade
pessoal e sua sensibilidade).

Ou seja, podemos compreender que é possível, com uma pesquisa de caráter


qualitativo, obter as respostas que se adequarão ao trabalho apresentado, podendo
trazer de maneira satisfatória, resultados que podem ajudar a retorquir objeções
decorrentes do processo de investigação concernente à temática.
Para isso, há a necessidade da busca de informação documental, por que
para Gil (2009, p. 46).

O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da


pesquisa bibliográfica. Apenas cabe considerar que, enquanto na pesquisa
bibliográfica as fontes são constituídas sobretudo por material impresso
localizado nas bibliotecas, na pesquisa documental, as fontes são muito
mais diversificadas e dispersas.

Cabe ressaltar, que a forma de pesquisa será concebida com o intuito de


compreender a forma de ação da psicomotricidade e seus benefícios para o
desenvolvimento pessoal, psíquico, motor e cognitivo das crianças com distúrbios de
aprendizado.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicomotricidade é algo fundamental para o desenvolvimento integral da


criança com distúrbio de aprendizado, treinando seu corpo para a aprendizagem
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formal, ao estimular habilidades como lateralidade, organização espaço-temporal,


percepções visomotoras e a coordenação motora, através da ludicidade e do
movimento.
Portanto, compreende-se que o processo de aprendizagem do indivíduo, está
intimamente ligado ao desenvolvimento de seu corpo, pois se uma área não for bem
estimulada, poderá afetar as demais áreas cognitivas, pois estas estão interligadas
entre si.
A psicomotricidade vem como uma forma de instigar uma aprendizagem
lúdica e prazerosa, através do movimento do corpo e da brincadeira, pois sabe-se
que é através do brincar que a criança desenvolve suas projeções sociais e afetivas.
É através das atividades psicomotoras que a criança vai compreender seu
espaço e reconhecer seu corpo e suas necessidades, expressando-se através
deste.
Conclui-se, portanto que é de extrema importância que existam professores
preparados para lidar com a educação de crianças com distúrbios de aprendizado,
que tenham as técnicas necessárias para desenvolver a criança na sua
integralidade, pois estes estímulos vêm desde a educação infantil e se estendem por
toda a vida do indivíduo.

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