A Abordagem Da Neuropsicopedagogia No Tratamento Do TDAH

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A abordagem da neuropsicopedagogia no tratamento do TDAH: Tipo Desatento

Roberta Peres¹

RESUMO: O estudo das estruturas cerebrais é fundamental para a


compreensão da relação entre o sistema nervoso e o comportamento humano.
Esse constitui o foco central dos objetivos de estudo da neuropsicopedagogia.
A partir do estudo dos mecanismos cerebrais, aliado à psicologia cognitiva e à
pedagogia, compreendem-se as questões de comportamento do indivíduo
direcionadas à aprendizagem. O presente artigo tem como objetivos o breve
estudo da abordagem da neuropsicopedagogia no tratamento do TDAH. Para
isso, o trabalho em questão será dividido em três partes: O que é
aprendizagem?, O estudo do cérebro, e TDAH: desafios e abordagens a partir
da neuropsicopedagogia.

PALAVRAS-CHAVE: Ciência. Cérebro. Comportamento. Distúrbio.

INTRODUCÃO

O cérebro humano é um órgão fascinante, responsável por coordenar os


comportamentos e personalidades dos indivíduos. Ele é responsável pelas
funções fisiológicas do corpo além de cuidar das questões relacionadas à
cognição. O processo de aprendizagem envolve inevitavelmente as funções
cerebrais, as quais processam o material aprendido de acordo com sua forma
de aprendizagem.
Durante esse processo, algumas pessoas podem ter dificuldades
variadas relacionadas, por exemplo, à atenção, à capacidade de decodificar
palavras, ou até mesmo de conseguir atribuir sentido à elas. Essas dificuldades
podem gerar determinados distúrbios, se se apresentam de maneira frequente
e se ocasionar danos ao cotidiano do indivíduo.
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O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- TDAH é objetivo de


estudo de especialistas do mundo todo. Sena & Neto (2007, p.21) define o
TDAH como:

A dificuldade de prestar atenção a detalhes ou errar por


descuido em atividades escolares ou de trabalho; dificuldade
para manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas; parecer
não escutar quando lhe dirigem a palavra; não seguir
instruções e não terminar tarefas escolares, domésticas ou
deveres profissionais; dificuldade em organizar tarefas e
atividades (...)

Algumas áreas de pesquisa relacionadas à aprendizagem se debruçam


no estudo do cérebro e sua relação com os mecanismos envolvidos no
processo de desenvolvimento humano. É fundamental portanto, compreender
os objetivos e meandros em torno das diversas ciências responsáveis pela
investigação do processo de ensino e aprendizagem e quais os desafios
decorrentes dele.
A neuropsicopedagogia tem, portanto, o objetivo de investigar o
funcionamento do cérebro humano, atrelado à aprendizagem, e juntamente
com outras áreas do conhecimento como a psicologia cognitiva e a pedagogia,
analisar os mecanismos presentes no processo de desenvolvimento do
indivíduo.
Logo, além de entender os objetivos das diversas áreas, dentre elas a
neuropsicopedagogia, faz-se necessário analisar o fenômeno da aprendizagem
em sim, a partir das principais teorias das literaturas especializadas. Por isso, o
presente trabalho irá tratar de apresentar os principais conceitos em torno da
aprendizagem, apresentar a relação entre o estudo do cérebro e a
neuropsicopedagogia, e os desafios em torno do TDAH tendo como base de
analise a neuropsicopedagogia.
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1. O QUE É APRENDIZAGEM?

Muitos são os estudos relacionados à aprendizagem, distribuídos em


diversas correntes epistemológicas. Essas correntes se ancoram em várias
áreas de pesquisa como a psicologia cognitiva, a psicopedagogia e a
neuropsicopedagogia, cujos objetivos são o estudo do cérebro humano, do
comportamento, e do desenvolvimento cognitivo dos indivíduos.
Apesar da amplitude de linhas de pesquisa, é possível definir,
inicialmente, a aprendizagem como um processo complexo e contínuo em que
cada sujeito possui seu próprio ritmo de desenvolvimento.
É importante também ressaltar que a aprendizagem, por ser um
processo longo, complexo e dinâmico, não se limita ao espaço escolar. Ela se
dá durante todo o desenvolvimento humano, das mais variadas formas.
Ou seja, a aprendizagem é determinada também pelo nível de interação
entre os seres humanos, e sua relação com o meio em que vivem.
Então, sendo um processo essencial e inerente à vivencia humana, uma
criança, ao interagir com outros indivíduos, absorve novos conhecimentos
desde seu nascimento, e durante seu desenvolvimento, consegue atribuir
sentido aos aprendizados cotidianos. Por isso, é fundamental a interação social
e com o meio para impulsionar esse processo.
Sob a ótica da corrente teórica empirista, de acordo com Agnela Giusta
(1985, p. 26):

O conceito de aprendizagem emergiu das investigações


empiristas em Psicologia, ou seja, de investigações levadas a
termo com base no pressuposto de que todo conhecimento
provém da experiência. Isso significa afirmar o primado
absoluto do objeto e considerar o sujeito como uma tabula
rasa, uma cera mole, cujas impressões do mundo, formadas
pelos órgãos dos sentidos, são associadas umas às outras,
dando lugar ao conhecimento. O conhecimento é, portanto,
uma cadeia de ideias atomisticamente formada a partir do
registro dos fatos e se reduz a uma simples cópia do real.
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De acordo com a corrente empirista, os sujeitos são como tábulas rasas,


ou seja, nascem esvaziados de quaisquer conhecimentos e durante sua vida,
suas experiências cotidianas com o outro e com o meio, vão formando “uma
cadeia de ideias”.
Outra corrente teórica importante é a interacionista, e tem como nome
importante Piaget. Segundo essa corrente, os sujeitos agem diretamente no
meio social e dele (e da interação com outros indivíduos) tira os conhecimentos
para seu desenvolvimento.
Para Vygotsky (1993), a aprendizagem está relacionada com a
dimensão social do indivíduo durante seu desenvolvimento. O teórico parte do
funcionamento do cérebro humano para a construção de seus postulados e
afirma que o comportamento dos indivíduos e todos os aspectos relacionados a
isso são construídos a partir das funções psicológicas superiores.
Segundo Bock (1999, p.124):

Para Vigotsky, a aprendizagem sempre inclui a relação entre


as pessoas. A relação do indivíduo com o mundo está sempre
mediada pelo outro. Não há como aprender e aprender o
mundo se não tivermos o outro, aquele que nos fornece os
significados que permitem pensar o mundo a nossa volta.

Assim, de acordo com a concepção de Vygostky acerca da


aprendizagem, é através da troca de ideias e experiências que os indivíduos se
desenvolvem. Na interação com o outro e com o meio que as pessoas
constroem suas personalidades, comportamentos, ideologias sobre o mundo
que as cerca, etc.
O papel da educação formal, por meio de instituições como a escola, é
mediar o conhecimento ainda não aprendido, partindo dos conhecimentos já
adquiridos pela criança durante sua vida.
Entretanto, por ser um processo complexo e distinto para cada sujeito,
alguns problemas podem ocorrer durante o desenvolvimento da aquisição de
conhecimentos, em quaisquer etapas da vida. Esse fenômeno denomina-se
dificuldade de aprendizagem.
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Muitas vezes o que se chama dificuldade de aprendizagem é


basicamente dificuldade de ensino ou “distúrbio de
escolaridade”. O distúrbio de escolaridade depende
basicamente da motivação. Cada indivíduo aprende de uma
forma diferente, conforme seu canal perceptivo preferencial. O
que se vê normalmente é uma criança desestimulada,
achando-se “burra”, sofrendo, os pais sofrendo, pressionando a
criança e a escola, pulando de escola em escola, e esta
pressionando a criança e os pais, todos insatisfeitos.
(ZACHARIAS, 2005, p.197)

A partir da citação acima é possível perceber a importância da escola


como mediadora dos conflitos e desafios decorrentes das dificuldades de
aprendizagem. É na escola, durante a aprendizagem formal, que os indivíduos
podem manifestar as dificuldades relacionadas à atenção, falta de motivação,
excesso de irritabilidade, de agitação em sala de aula, etc.
É importante ressaltar que existe distinção entre distúrbio de
aprendizagem e dificuldade de aprendizagem ou dificuldade escolar. A
dificuldade de aprendizagem se refere à inadaptação ao ambiente escolar. O
distúrbio de aprendizagem está vinculado ao comportamento da criança,
podendo apresentar ou não hiperatividade, ou outras características
conhecidas.
2. O ESTUDO DO CÉREBRO

O cérebro é um órgão complexo que faz parte do Sistema Nervoso


Central (SNC), composto por milhões de neurônios interligados, cuja função
coordenar a grande maioria das funções cerebrais e corporais.
Dentre as funções atribuídas ao cérebro, destaca-se: controlar a
temperatura corporal, a pressão arterial, a respiração, a frequência cardíaca,
etc.; receber e processar as informações através dos sentidos (ver, ouvir, tocar,
;provar e cheirar), controlar os movimentos, controlar as emoções, pensar,
raciocinar e controlar as funções cognitivas mais avançadas (memória,
aprendizagem, percepção, funções executivas, etc.
No Sistema Nervoso Central encontra-se a plasticidade neural,
capacidade do SNC de transformar as capacidades morfológicas e funcionais
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em decorrência das alterações do ambiente externo. Ela ocorre em três


estágios: aprendizagem, desenvolvimento e depois de lesões.
No estágio de desenvolvimento do indivíduo, há o processo de
diferenciação celular, e em seguida, a formação de neurônios que se deslocam
para os locais adequados e estabelecem conexões entre si. O processo de
maturação do Sistema Nervoso Central se inicia durante o desenvolvimento
fetal e continua após o nascimento do bebê.
O estágio de aprendizagem refere-se ao processo de aquisição de
conhecimentos, sentidos e conceitos durante toda a vida do indivíduo. No
cérebro, o processo de aprendizagem interfere diretamente no funcionamento
das células cerebrais e no estabelecimento das conexões dos neurônios.
Em relação ao estágio de aprendizagem, sabe-se que existem
condições biológicas para efetiva-lo. Uma das condições essenciais para a
aprendizagem é a maturação biológica, que se refere à capacidade ou não de
uma pessoa, em qualquer fase da vida, de executar atividades e tarefas. Outra
condição importante está relacionada à integridade dos órgãos dos sentidos,
como as condições do ambiente externo, capacidade de reagir a situações,
padrões de comportamento, etc.

3. TDAH:DESAFIOS E ABORDAGENS A PARTIR DA


NEUROPSICOPEDAGOGIA

O TDAH adquiriu maturidade como transtorno e tema de


estudo científico sendo amplamente aceito pelos profissionais
pediátricos e da saúde mental como uma deficiência legítima
do desenvolvimento. Atualmente, ele é um dos transtornos da
infância mais estudados[...] (BARKLEY, 2008, p.115)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH, é uma


condição orgânica, tendo como principais características, dificuldade de ter
foco de atenção para executar atividades cotidianas ou direcionadas,
dificuldade ou incapacidade em controlar a agitação e da impulsividade (no
caso da Hiperatividade).
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Em relação à Hiperatividade, estudos especializados em TDAH


demonstram que apesar da interação direta entre o TDAH e a Hiperatividade,
nem todos os casos do transtorno em questão ocasionam ausência do controle
da agitação.
Existem alguns sintomas característicos do TDAH considerados pelos
especialistas durante o diagnostico de crianças ou adultos:

Módulo A: Sintomas de desatenção (eles devem ocorrer


frequentemente): • Frequentemente deixa de prestar atenção a
detalhes ou comete erros por descuido em atividades
escolares, trabalho ou outras; • Tem dificuldades para manter a
atenção em tarefas ou atividades lúdicas; • Parece não escutar
quando lhe dirigem a palavra; • Não segue instruções nem
termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres
profissionais; • Tem dificuldade para organizar tarefas e
atividades; • Evita envolver-se em tarefas que exijam esforço
mental constante; • Perde coisas necessárias para tarefas ou
atividades; • É freqüentemente distraído por estímulos alheios à
tarefa; • Apresenta esquecimento em atividades diárias. (DSM.
1994.p 267)

Em relação à Hiperatividade e também de Impulsividade, que se


manifesta em alguns casos. Os principais sintomas são:

Módulo B: – Seis (ou mais) sintomas de


hiperatividade/impulsividade: Hiperatividade: • Freqüentemente
agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira; • Abandona
sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais
se espera que permaneça sentado; • Corre ou escala em
demasia, em situações nas quais isso é inapropriado; • Tem
dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em
atividades de lazer; • Está freqüentemente “a mil” ou “a todo
vapor”; • Fala em demasia. (DSM. 1994.p 267)

Em relação às possíveis causas do TDAH, muitos estudos apontam para


a possibilidade de ser de origem genética ou biológica. Além disso, estima-se
que alguns fatores oriundos do ambiente externo podem levar ao aparecimento
do transtorno;
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I. Causas genéticas -

o comportamento dos pais, aflitos e agitados, pode


proporcionar que uma criança tenha Hiperatividade, e esta
criança, mesmo não existindo outros membros da família com
TDAH, pode desencadear problemas comportamentais em
outros membros, pela difícil convivência e pelo ambiente
caótico que geram. (GAIÃO e BARBOSA, et al, p.15, 2005)

II. Causas biológicas -

1.Altos níveis de chumbo no sangue produzem transtornos


cognitivos e comportamentais em algumas crianças, estando
estes associados a maior risco de comportamento hiperativo e
desatenção. (BARKLEY, 2002)
2.Criancas que experimentam perdas ou separações precoces
apresentavam sintomas característicos deste transtorno, como
descrevem Arnold e Jensen (1999). Os estressores sociais
devem contribuir de alguma forma para o desenvolvimento ou
gravidade dos sintomas, já que os sintomas de TDAH são
intensificados por estresse, por situações não-estruturadas, e
por exigências complexas por desempenho.
3.Substancias ingeridas na gravidez: Barkley (2002) descreve
que crianças nascidas de mães alcoolistas apresentam maior
risco de problemas de comportamento com hiperatividade e
falta de atenção, e até mesmo com TDAH clínico. As mães
podem ser responsáveis diretas pelo desenvolvimento do
TDAH em seus filhos, pelo hábito de fumar e álcool,
submetendo-o a ingerirem as substancias que causam prejuízo
à saúde e podem também ser causadoras de TDAH.
(BARBOSA, et al, p.16, 2005)

TIPOS DE TDAH

Os tipos de TDAH, de acordo com o Instituto Paulista de Déficit de


Atenção-IPDA são classificados em hiperativo-impulsivo, compulsivo e
desatento. O tipo hiperativo-impulsivo se expressa através de inquietação em
diversas situações sociais, tais como, mexer excessivamente as os membros
do corpo como braços e pernas; realizar várias atividades ao mesmo tempo;
apresentar tendência ao vicio de diversos aspectos; impaciência, instabilidade
de humor, etc. O tipo compulsivo apresentar sintomas combinados de
hiperatividade, desatenção e impulsividade.
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O tipo desatento, foco do presente estudo, se manifesta em crianças e


adultos através de desvios de atenção em tarefas cotidianas e/ou escolares por
quaisquer interferências externas, mesmo que mínimas. Em decorrência disso,
as pessoas acometidas pelo tipo desatento pode cometer erros pela falta de
atenção a detalhes.
Além disso, outras características relacionadas à falta/baixa atenção aos
detalhes podem se manifestar. A dificuldade de concentração em situações
formais como palestras, conferencias ou aulas escolares, a dispersão em
conversas em grupo, a dificuldade em seguir instruções e regras, a dar
continuidade às tarefas, etc., são características recorrentes para os indivíduos
que sofrem de desatenção.
Um fato relevante sobre o tipo desatento do TDAH é a constatação, por
parte de pesquisadores da área, de que o individuo que apresenta apenas um
dos sintomas, especialmente de tipo desatento, provavelmente não possui
TDAH, mas sim outro problema relacionado à aprendizagem.

Para se dizer que alguém tem a forma predominante


desatenta, é necessário apresentar pelo menos seis dos nove
sintomas daquele módulo. No caso da forma predominante
hiperativa, e necessário apresentar pelo menos seis dos
sintomas. Na forma combinada, é preciso apresentar pelo
menos seis sintomas de cada um dos dois módulos. (MATTOS,
2004, p.33).

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO TDAH

[...] deverá envolver um estudo clínico detalhado, uma


avaliação comportamental completa, que pode ser dividida em
cinco etapas:avaliação com os pais ou responsáveis, avaliação
da escola, avaliações complementares, aplicação
complementar de escalas padronizadas para o TDAH e
avaliação da criança/adolescente. (TEIXEIRA, 2011, p.128)
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O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- TDAH, por não


possuir marcadores biológicos, de acordo com a Academia Americana de
Psiquiatria e a Organização Mundial de Saúde, necessita de uma avaliação
clinica para a determinação de um diagnostico preciso. Esse diagnóstico clínico
é baseado nas características de comportamento tais como desatenção ou
hiperatividade, ou se ambas estão presentes na mesma intensidade.
Além das características predominantes no comportamento, faz-se
necessário atentar para o histórico familiar, visto que esse é considerado um
fator importante para determinar ou não a presença de um transtorno.
Assim, o diagnóstico clinico envolve, resumidamente, três etapas: a)
avaliação com a família; b) avaliação da escola; c) avaliações adicionais; d)
aplicação de escalas padronizadas para o TDAH; e) avaliação da criança ou
adulto.

Na etapa I é realizada uma entrevista com os pais, sem a


presença da criança, para que eles tenham a liberdade de
expor suas queixas, preocupações, angustias e dúvidas. A
avaliação com os pais deve abranger uma história detalhada
de todo o desenvolvimento da criança ou adolescente, desde a
história gestacional da mãe. Na etapa II da avaliação
diagnóstica será solicitada uma avaliação escolar, tendo em
vista que a escola é o local onde, geralmente, o paciente passa
maior parte do tempo, sob os olhares atentos dos professores
e coordenadores pedagógicos. . Na etapa III outras avaliações
podem ser solicitadas, caso o sujeito esteja sendo
acompanhado por outros profissionais, como por exemplo:
psicólogos, fonoaudiólogos, professores (futebol, natação, judô,
arte), terapeutas ,psicopedagogos, entre outros. Esses
profissionais podem oferecer informações muito valiosas para
complementar a avaliação comportamental. A etapa IV constitui
a aplicação complementar de escalas padronizadas para o
TDAH, que, segundo a Associação Psiquiátrica Americana e a
Organização Mundial de Saúde, são critérios padronizados
utilizados para auxiliar na investigação dos sintomas do TDAH.
Esses sintomas são basicamente divididos em dois grupos:
sintomas de desatenção e sintomas de
hiperatividade/impulsividade. Na etapa V constitui a avaliação
direta com o paciente. Nesse momento, contando com todas as
informações oferecidas pelos pais ou responsáveis, pela
escola, pelos demais profissionais e pelas escalas
padronizadas, a criança ou adolescente será avaliada. Sua
capacidade e habilidade de comunicação, interação social,
atenção, memória, pensamento, inteligência, linguagem,
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afetividade e humor serão investigados. (TEIXEIRA, 2011,


p.53)

A respeito do tratamento do TDAH, a Associação Americana de


Pediatria determina como objetivo do tratamento do transtorno a melhora do
funcionamento cognitivo e comportamental da criança ou do adulto.
Além disso, a descoberta de histórico de transtorno de aprendizagem na
família auxilia no tratamento da criança, pois permite tratar, dentre outras
coisas, os elementos inerentes ao meio externo.
Uma forma de tratamento amplamente debatida entre os especialistas é
de tipo medicamentoso. Foi realizada uma pesquisa nos Estados Unidos, com
o intuito de resolver as polemicas em torno do uso de medicamentos para o
tratamento do TDAH. Essa pesquisa, realizada com 579 crianças, se deu da
seguinte maneira:

Um grupo de crianças receberia apenas o medicamento


estimulante como forma de tratamento. Um segundo grupo
receberia apenas o acompanhamento psicoterapeuta
comportamental. Um terceiro grupo receberia medicamento e
acompanhamento psicoterapeuta comportamental e o quarto
grupo receberia o chamado tratamento comunitário. Nesse
último, as crianças eram acompanhadas por médicos não
especialistas e normalmente recebiam dosagens de
medicamentos consideradas baixas pelos pesquisadores, além
de não receberem informações psicoeducacionais sobre o
transtorno. Os resultados publicados há dez anos revelaram
que todas as crianças apresentaram alguma melhora nos
sintomas, entretanto, o tratamento medicamentoso se mostrou
mais eficaz quando acompanhado às outras opções
terapêuticas. Além disso, uma análise posterior, após dois anos
do início do estudo, identificou que os pacientes medicados
continuavam apresentando melhores resultados quando
comparados aos outros grupos. (CAMARA, 2012, p.40)

De acordo com Camara (2012, p.40), acerca dos resultados da


pesquisa:
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O resultado do MTA não desqualifica as outras estratégias de


tratamento, mas aponta a medicação como principal meio de
tratamento para o transtorno do TDAH. O estudo valoriza
também a importância do tratamento em conjunto com a
utilização de técnicas comportamentais e medidas
psicoeducativas. Sendo assim, o tratamento do TDAH deve
envolver uma abordagem multidisciplinar associando o uso de
medicamentos a intervenções psicoeducativas e
psicoterápicas.

Ainda, segundo Teixeira (2011, p.113):

A medicação recomendada para o TDAH são os estimulantes.


O medicamento estimulante é rapidamente absorvido após a
ingestão oral e age diretamente no cérebro, aumentando as
concentrações de dopamina e noradrenalina, duas substâncias
chamadas de neurotransmissores e que estão diminuídas no
cérebro dos portadores de TDAH.

CONSIDERACÕES FINAIS

O processo de ensino e aprendizagem requer grandes investimentos em


pesquisas e estudos voltados para a investigação de elementos de diversas
áreas do conhecimento. A neuropsicopedagogia, como área de estudo,
representa a possibilidade de compreender o funcionamento do cérebro
relacionando-o à aprendizagem.
Todos os indivíduos adquirem conhecimento ao longo da vida. Desde os
primeiros instantes de experiência com o mundo é possível assimilar novos
conhecimentos e novas maneiras de lidar com outros indivíduos. Daí a
importância da interação com os sujeitos sociais e com o meio social em que
se vive.
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Além das interações cotidianas, o espaço escolar também representa


parte fundamental para o desenvolvimento humano. Diversas correntes
teóricas relacionadas à educação dissertam acerca do papel da escola no
desenvolvimento da criança e da responsabilidade dos professores e demais
profissionais da educação nesse processo.
Apesar dos inúmeros esforços que o processo de ensino e
aprendizagem exige, é fundamental compreender que cada indivíduo possui
sua maneira de vivenciar o mundo a sua volta e de adquirir conhecimento.
Durante essa etapa, algumas dificuldades de aprendizagem podem se
manifestar das mais distintas formas.
Por isso, faz-se necessário a atenção aos problemas cotidianos
enfrentados pelas crianças, e também adultos, para que se possa identificar os
possíveis distúrbios e, com isso, melhorar a relação dos indivíduos com o
aprendizado.

REFERÊNCIAS

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São Paulo: Casa do Psicólogo, 1ª edição, 2005.

BARKLEY, Russell A. Transtorno de déficit de Atenção/Hiperatividade.


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14

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ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE. Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Medianeira, 2012

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Porto Alegre. Artmed Editora, 2002

GONCALVES, C.S. O TDAH (TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENCÃO E


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PSICOPEDAGÓGICA. Universidade Cândido Mendes, Niterói, 2010.

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15

ZACHARIAS. O QUE SÃO REALMENTE DIFICULDADES DE


APRENDIZAGEM?, 2005. Disponível em
http:/www.centrorefeducacional.pro.br/adificeis.htm. acesso/ 02/02/2018.

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