Asociedadecapitalista Livro
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SUMÁRIO
1. Apresentação ................................................................................................6
3. Conclusões ...........................................................................................110
4. Bibliografia ...........................................................................................101
6
1. Apresentação
2. A Sociedade Capitalista
2.1. Introdução
1
Além das obras de Marx e Engels citadas ao longo desta introdução e em anexo, para uma
visão geral sobre o processo de conformação do pensamento de Marx e Engels sobre a
Economia Política e a sociedade burguesa é preciso estudar as seguintes obras: LÊNIN, V.I.
As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo. São Paulo: Global, 1979;
Imperialismo, estágio superior do capitalismo. São Paulo: Expressão Popular, 2012; TROTSKY,
Leon. Noventa anos do Manifesto Comunista. In: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto
Comunista. São Paulo: Boitempo,1998; O marxismo de nossa época. In: TROTSKY, Leon. O
Imperialismo e a crise econômica mundial. São Paulo: Sundermann, 2008; LUXEMBURGO,
Rosa. Introdução à Economia Política. São Paulo: Martins Fontes, 1978; A acumulação de
capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985; MANDEL, Ernest. O lugar do marxismo na história.
São Paulo: Xamã, 2001; A formação do pensamento econômico de Karl Marx (de 1843 até a
redação de O Capital). Rio de Janeiro: Zahar, 1968; Introdução ao marxismo. Lisboa: Antídoto,
1978; A crise do capital. São Paulo: Ensaio, 1985; O capitalismo tardio. São Paulo: Abril
Cultural, 1985; Tratado de economía marxista. México: Era, 1969; SWEEZY, Paul M. Teoria do
desenvolvimento capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1962; BARAN, Paul A. A economia política
do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1977; BARAN, P. A. e SWEEZY, P. M. Capitalismo
monopolista. Rio de Janeiro: Zahar, 1974; DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo. Rio de
Janeiro: Zahar, 1976; BUKHARIN, Nicolai. ABC do comunismo. Bauru-SP: Edipro, 2002; A
economia mundial e o Imperialismo. São Paulo: Abril Cultural, 1984; ROSDOLSKY, Roman.
Gênese e estrutura de O Capital de Karl Marx. Rio de Janeiro: Eduerj: Contraponto, 2001;
SALAMA, Pierre e VALIER, Jaques. Uma introdução à economia política. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1975; MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da
transição. São Paulo: Boitempo, 2002; COGGIOLA, Osvaldo. O Capital contra a história:
gênese e estrutura da crise contemporânea. São Paulo: Xamã, 2002; NETTO, José Paulo e
BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006.
10
2
Cf. MARX, Karl. A Miséria da Filosofia. São Paulo: Centauro, 2003, p. 98.
11
7
Idem, pp. 44-45.
8
Idem, p. 41.
9
Idem, pp. 56-57.
15
Sob “pena da ruína total, ela obriga todas as nações a adotarem o modo
burguês de produção, constrange-as a abraçar a chamada civilização, isto é a
se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e
semelhanças”.12 Na verdade, as economias de países de continentes como a
América, a Ásia e a África foram integradas ao mercado mundial capitalista,
desde a sua fase comercial até a época imperialista, dissolvendo ou
submetendo as antigas relações de produção, de troca e de distribuição
existentes, colocando-as sob o signo do capital. Esse processo obedeceu,
evidentemente, à lei do desenvolvimento desigual e combinado.13
A economia capitalista tem como um traço essencial a anarquia da
produção. Significa dizer que o capitalista individual, ou a empresa, só tem
controle sobre a sua produção interna, mas não controla os outros capitalistas,
nem muito menos a economia como um todo. Não se sabe quanto o seu
11
Idem, p. 43.
12
Idem, pp. 43-44.
13
Mais a frente, no prefácio da primeira edição de O Capital, Marx dirá que “O país mais
desenvolvido industrialmente não faz mais que mostrar aos de menor desenvolvimento a
imagem de seu próprio futuro”. Trotsky, analisando essa passagem de O Capital, já em plena
fase imperialista do capitalismo, observa o seguinte: “Esse pensamento não pode ser tomado
literalmente, em circunstância alguma. O crescimento das forças produtivas e o
aprofundamento das incompatibilidades sociais são indubitavelmente o destino que
corresponde a todos os países que tomaram o caminho da evolução burguesa. No entanto, a
desproporção nos “ritmos” e medidas, que sempre se produz na evolução da humanidade, não
somente se faz especialmente aguda sob o capitalismo, mas também dão origem à completa
interdependência da subordinação, a exploração e a opressão entre os países de tipo
econômico diferente. Somente uma minoria de países realizou completamente essa evolução
sistemática e lógica que parte do artesanato e chega à fábrica, passando pela manufatura, que
Marx submeteu a uma análise tão detalhada. O capital comercial, industrial e financeiro invadiu
do exterior os países atrasados, destruindo em parte as formas primitivas da economia nativa e
em parte sujeitando-as ao sistema industrial e banqueiro de Ocidente. Sob o chicote do
imperialismo, as colônias viram-se obrigadas a prescindir das etapas intermediárias, apoiando-
se ao mesmo tempo e artificialmente em um nível ou em outro. O desenvolvimento da Índia
não reproduziu o desenvolvimento da Inglaterra; completou-o. No entanto, para poder
compreender o tipo combinado de desenvolvimento dos países atrasados e dependentes,
como a Índia, é sempre necessário não esquecer o esquema clássico de Marx derivado do
desenvolvimento da Inglaterra. A teoria operária do valor guia igualmente os cálculos dos
especuladores da City de Londres e as transações monetárias nos rincões mais remotos de
17
Hyderabad, exceto que no último caso adquire formas mais singelas e menos astutas”. Cf.
TROTSKY, Leon. O marxismo e nossa época. In: O Imperialismo e a crise econômica mundial.
São Paulo: Sundermann, 2008, pp. 186-187.
14
Idem, p. 45.
18
15
Idem, ibidem.
19
Mas, para isso, não são suficientes as condições objetivas. Elas são a
base para as transformações políticas, sociais e econômicas, mas é preciso a
gestação de condições subjetivas: a consciência de classe e a organização
política da classe revolucionária. No caso do capitalismo, a classe
verdadeiramente revolucionária é o proletariado, por seu papel nas relações de
produção. A classe operária, imersa em condições de vida e trabalho marcadas
pela exploração, é o coveiro do capital, das relações de produção e de
propriedade capitalistas:
18
Idem, p. 48.
19
Idem, p. 51.
21
20
Idem, p. 52.
21
Idem, ibidem. É preciso lembrar que, em 1914, deu-se a maior divisão do movimento
socialista, com a separação entre a socialdemocracia (reformistas, revisionistas) e os
revolucionários comunistas. Líderes socialdemocratas em vários países votaram a favor dos
créditos de guerra para que a burguesia imperialista pudesse travar a Primeira Guerra Mundial
e submeter os países capitalistas atrasados à sua influência econômica e política. Esse fato
anunciou o fim da Segunda Internacional (1889-1914) e antecipou a necessidade de
construção de uma nova internacional, a Terceira Internacional, fundada por V. I. Lênin, em
1919, na Rússia, depois da vitória do proletariado revolucionário na Revolução de Outubro de
1917.
22
primeira vez, a posse do poder político, durante quase dois meses. A Comuna
de Paris demonstrou, especialmente, que “não basta que a classe trabalhadora
se apodere da máquina estatal para fazê-la servir a seus próprios fins” (ver A
Guerra Civil na França; Manifesto do Conselho Geral da Associação
Internacional dos Trabalhadores, de 1871, onde essa ideia é mais desenvolvida).
Além do mais, é evidente que a crítica da literatura socialista mostra-se
deficiente em relação ao presente, porque só chega a 1847; as observações
sobre as relações dos comunistas com os diferentes partidos de oposição (seção
IV), embora em princípio corretas, na prática estão desatualizadas, pois a
situação política modificou-se totalmente e o desenvolvimento histórico fez
desaparecer a maior parte dos partidos ali enumerados.29
32
Sobre o internacionalismo presente no Manifesto Comunista, Trotsky observa: “O
desenvolvimento internacional do capitalismo determina o caráter internacional da revolução
proletária. Uma das primeiras condições para a emancipação da classe operária consiste em
sua ação comum, pelo menos nos países civilizados. O desenvolvimento do capitalismo uniu
de forma tão estreita as diversas partes do nosso planeta, as “civilizadas” e “não-civilizadas”,
que o problema da revolução socialista adquiriu, completa e definitivamente, um caráter
mundial”. Afirmou também: “Os operários não têm pátria. Esta frase do Manifesto foi
frequentemente considerada pelos filisteus como um simples trocadilho de agitação. Na
verdade, ele oferece ao proletariado a única diretriz justa a respeito da “pátria” capitalista”. Cf.
TROTSKY, Leon. Noventa anos do Manifesto Comunista. In: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich.
Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 1998, pp. 162-163.
27
33
MARX, Karl. Trabalho assalariado e capital. São Paulo: Gobal, 1987, p.34.
34
ENGELS, Friedrich. Introdução. In: MARX, Karl. Trabalho assalariado e capital. São Paulo:
Expressão Popular, 2006, p. 27.
29
os operários não têm outra forma de ganhar a vida a não ser com a venda da
sua força de trabalho. Assim, o capitalista troca seu dinheiro pela utilização da
força de trabalho durante uma determinada jornada, por tantas horas de
trabalho.
O primeiro segredo da sociedade burguesa está desvendado. Agora que
sabemos que o capitalista na verdade compra a força de trabalho e não todo o
trabalho realizado pelo trabalhador, é preciso analisar o que a mercadoria força
de trabalho tem de comum com as mercadorias em geral. Toda mercadoria tem
um valor de uso e um valor de troca. O valor de uso é a capacidade de atender
a determinadas necessidades ou utilidades. Toda mercadoria tem um
determinado valor de troca, isto é, pode ser trocada em determinadas
proporções por outras mercadorias ou por dinheiro.
Como isso é possível? É possível porque a mercadoria é produto do
trabalho humano (embora, realçamos, nem todo produto do trabalho humano
seja mercadoria), o seu valor consiste em uma determinada quantidade de
trabalho socialmente necessário para produzi-la. Significa dizer que nem todos
os produtos do trabalho são mercadorias. Alguns são produzidos para o
consumo imediato do produtor ou de sua família e, neste caso, não se trata de
mercadoria, mas simplesmente valor de uso. A mercadoria, diferentemente dos
produtos do trabalho para o consumo imediato do produtor, é produzida para
ser trocada, intercambiada por outros produtos ou por dinheiro. A expressão
em dinheiro do valor de troca da mercadoria chama-se preço. Como diz Marx,
o “valor de troca de uma mercadoria, avaliado em dinheiro, é o que se chama
precisamente o seu preço”.35
Como toda mercadoria, a força de trabalho também tem um valor de uso
e um valor de troca. O valor de uso da mercadoria força de trabalho diz
respeito à sua capacidade de produzir, de transformar a natureza, de extrair
dela bens, enfim, de poder ser utilizada no processo da produção social. O
valor de troca da mercadoria força de trabalho é a quantidade de trabalho
socialmente necessário à produção e reprodução da força de trabalho, ou seja,
a quantidade de produtos necessários à produção e reprodução da força de
trabalho e de sua família.
35
MARX, Karl. Trabalho assalariado e capital. São Paulo: Gobal, 1987, p. 35.
30
essa força vital que ele (o trabalhador) vende a um terceiro para se assegurar
dos meios de vida necessários. A sua atividade vital é para ele, portanto, apenas
um meio para poder existir. Trabalha para viver. Ele nem sequer considera o
trabalho como parte da sua vida, é antes um sacrifício da sua vida. É uma
mercadoria que adjudicou a um terceiro. Por isso, o produto da sua atividade
tampouco é o objetivo da sua atividade. O que o operário produz para si próprio
não é a seda que tece, não é o ouro que extrai das minas, não é o palácio que
constrói. O que ele produz para si próprio é o salário; e a seda, o ouro e o
36
Idem, ibidem.
31
trabalho nem sempre foi trabalho assalariado, isto é, trabalho livre. O escravo
não vendia a sua força de trabalho ao proprietário de escravos, assim como o
boi não vende os seus esforços ao camponês. O escravo é vendido, com a sua
força de trabalho, de uma vez para sempre, ao seu proprietário. É uma
mercadoria que pode passar das mãos de um proprietário para as mãos de
outro. Ele próprio é uma mercadoria, mas a força de trabalho não é uma
mercadoria sua. O servo só vende uma parte de sua força de trabalho. Não é ele
quem recebe um salário do proprietário da terra: ao contrário, é o proprietário da
terra quem recebe dele um tributo.38
E completa:
37
Idem, pp. 36-37.
38
Idem, pp. 37-38.
39
Idem, ibidem.
32
40
Idem, pp. 42-43.
41
Idem, p. 44.
33
os homens não agem apenas sobre a natureza, mas também uns sobre os
outros. Eles somente produzem colaborando entre si de um modo determinado e
trocando entre si as suas atividades. Para produzirem, contraem determinadas
ligações e relações mútuas, e é somente no interior desses vínculos e relações
sociais que se efetua a sua ação sobre a natureza, isto é, que se realiza a
produção.45
44
Falamos é claro da Economia Política clássica (em particular Smith e Ricardo), como Marx a
considerava, uma vez que a Teoria Econômica vulgar, desde a Teoria Marginalista, abandonou
a teoria do valor-trabalho, de modo que, ao contrário dos clássicos, sequer consideram
seriamente o trabalho como produtor da riqueza na sociedade capitalista e tentam de todas as
formas velar o fato de que o trabalho está na base do valor das mercadorias e que os
capitalistas exploram os trabalhadores, extraindo da força de trabalho a mais-valia, isto é, a
fonte do lucro. Para Marx, “a economia política burguesa, isto é, a que vê na ordem capitalista
a configuração definitiva e última da produção social, só pode assumir caráter científico
enquanto a luta de classes permaneça latente ou se revele em manifestações esporádicas”. Cf.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v. I,
2002, p. 23.
45
Idem, p. 46.
35
46
Idem, p. 47.
47
Idem, pp. 47-48.
48
Idem, pp.48-49.
49
Idem, p. 50.
36
50
Idem, p. 55.
51
Idem, p. 56.
52
Idem, p. 58.
38
53
Idem, p. 59.
54
Idem, p. 61.
39
mais barato do que o outro; fazem concorrência uns aos outros quando um
executa o trabalho de 5, 10, 20; é a divisão do trabalho introduzida e
constantemente aumentada pelo capital que obriga os operários a fazer essa
espécie de concorrência.55
não se atrevem a afirmar diretamente que aqueles mesmos operários que foram
despedidos arranjam emprego em novos setores do trabalho. Os fatos contra
essa mentira são demasiado gritantes. Eles, de fato, somente afirmam que, para
outras partes constitutivas da classe operária, por exemplo, para a parte da
jovem geração operária que já estava pronta para entrar no ramo da indústria
desativado, novos meios de ocupação se apresentarão. Esse é, naturalmente,
um grande consolo para os operários desempregados. Não faltarão aos
senhores capitalistas carne e sangue fresco para serem explorados e aos mortos
será determinado que enterrem seus mortos. Isso é mais um consolo que os
burgueses oferecem a si mesmos do que aos operários. Se a classe inteira dos
55
Idem, pp. 63-64.
56
Idem, ibidem.
57
Idem, p. 65.
40
60
Uma parte dos Grundrisse, sobre as sociedades pré-capitalistas, foi publicada em português:
MARX, Karl. Formações econômicas pré-Capitalistas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991. O
texto completo foi publicado recentemente em português: MARX, Karl. Grundrisse. São Paulo,
Boitempo, 2011.
61
MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Junto com
os estudos econômicos, Marx dá continuidade à elaboração de artigos sobre problemas da
conjuntura da época para o New York Daily Tribune e Das Volk.
62
É precisamente no Prefácio à Para a Crítica da Economia Política, que Marx expôs uma
síntese da sua trajetória até a concepção materialista da história que, conforme o próprio autor,
tornou-se o fio condutor de toda a sua obra. Logo de ínicio, Marx expressa os temas que
pretende analisar em sua crítica da economia política: “Examino o sistema da economia
burguesa na seguinte ordem: capital, propriedade, trabalho assalariado; Estado, comércio
exterior, mercado mundial. Sob os três primeiros títulos, estudo as condições econômicas de
existência das três grandes classes nas quais se divide a sociedade burguesa moderna; a
redação dos três outros capítulos é evidente. A primeira seção do primeiro livro, que trata do
capital, compõe-se dos seguintes capítulos: 1. a mercadoria; 2. o dinheiro ou a circulação
simples; 3. o capital em geral. Os dois primeiros capítulos formam o conteúdo do presente
volume” (Idem, p. 43).
63
Idem, p. 31.
42
70
Idem, p. 45-46.
46
72
MARX, Karl. Salário, Preço e Lucro. São Paulo: Expressão Popular, 2006, p. 97.
73
Idem, p. 99.
49
74
Idem, p. 100.
75
Idem, p. 103.
76
Idem, p. 108.
50
77
Idem, p. 110.
78
Idem, p. 111.
51
79
Idem, pp. 113-115.
52
tendência das coisas neste sistema, isso quer dizer que a classe operária deva
renunciar a se defender dos abusos do capital e deva abandonar seus esforços
para aproveitar todas as possibilidades que surgirem de melhorar em parte a
sua situação? Se assim proceder, será transformada em uma massa informe de
homens famintos e arrasados, sem probabilidade de salvação. Creio haver
demonstrado que as lutas da classe operária pelo padrão de salários são
episódios inseparáveis de todo o sistema de trabalho assalariado; que, em 99%
dos casos, seus esforços para elevar os salários não são mais do que esforços
destinados a manter o valor dado do trabalho e que a necessidade de disputar o
seu preço com o capitalista é inerente à situação do operário, que se vê
obrigado a se vender como uma mercadoria. Se em seus conflitos diários com o
capital cedessem covardemente, os operários ficariam, por certo,
desclassificados para empreender outros movimentos de maior envergadura.
Ao mesmo tempo, e ainda abstraindo totalmente a escravização geral que
o sistema de trabalho assalariado implica, a classe operária não deve exagerar,
a seus próprios olhos, o resultado final dessas lutas diárias. Não deve se
esquecer de que luta contra os efeitos, mas não contra as causas desses
efeitos; que luta para retardar o movimento descendente, mas não para mudar
sua direção; que aplica paliativos, mas não cura a enfermindade. Não deve,
portanto, deixar-se absorver exclusivamente por essas inevitáveis lutas de
guerrilhas, provocadas continuamente pelos abusos incessantes do capital ou
pelas flutuações do mercado. A classe operária deve saber que o sistema atual,
mesmo com todas as misérias que lhe são impostas, engendra simultaneamente
as condições materiais e as formas sociais necessárias para uma reconstrução
econômica da sociedade. Em vez deste lema conservador: “Um salário justo por
uma jornada de trabalho justa!”, deverá inscrever na sua bandeira esta divisa
revolucionária: “Abolição do sistema de trabalho assalariado!”.80
Como se sabe, Marx elaborou dois planos – em 1857 e 1866 (ou 1865) –
que deveriam servir de base para sua principal obra econômica. Entre ambos há
um período de nove anos de experimentação e de permanente busca da forma
expositiva adequada. Verifica-se uma progressiva contração do plano inicial e,
ao mesmo tempo, uma ampliação da parte remanescente.
No plano de 1857, o conjunto da obra estava dividido em seis “livros” (ou
“seções” ou “capítulos”). O primeiro deveria versar sobre o capital; o segundo,
sobre a propriedade da terra; o teceiro, sobre o trabalho assalariado; o quarto,
sobre o Estado; o quinto, sobre o comércio exterior; o sexto, sobre o mercado
mundial e as crises. Além disso, Marx pretendia redigir uma introdução que
explicitaria “as determinações gerais e abstratas que estão presentes, em grau
maior ou menor, em todas as sociedades”. Mas, já em fins de 1858 ele desistiu
de fazer essa introdução, pois considerava ruim “antecipar resultados que
deveriam ser demonstrados”.
De acordo com o plano inicial, os três últimos dos seis livros da obra –
sobre o Estado, o comércio exterior e o mercado mundial – seriam apenas
esboçados, limitando-se, como disse o próprio Marx, ameros “traços
fundamentais”. Mesmo assim, a carta dirigida a Kugelmann em 28 de dezembro
de 1862 trata desses livros, o que demonstra que nessa época eles ainda não
tinham sido eliminados do plano geral. Isso veio a ocorrer pouco depois. O
terceiro manuscrito de Marx, redigido em 1864-1865 (manuscrito que serviu de
base para Engels organizar o terceiro tomo de O Capital), já não se refere a
esses livros, relegando-os – pelo menos a um deles, aquele sobre o mercado
mundial – à “continuação que, no devido tempo, daremos à obra”. Assim, já
estaríamos diante de uma restrição do plano inicial.
A segunda restrição diz respeito ao segundo e ao terceiro livros, que
tratariam da propriedade da terra e do trabalho assalariado. Também nesses
casos não se pode ter certeza do momento em que Marx renunciou a escrever
os livros imaginados. Sequer suas anotações para as seções I e III do “Livro
sobre o capital”, datadas de janeiro de 1863 e publicadas posteriormente por
Kautsky, respondem de forma concludente a essa questão. Mas os temas
82
No Brasil, a obra foi publicada em: MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São
Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v. I, 2002; MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Abril
Cultural, col. Os Economistas, 1982. Mais recentemente, uma nova tradução diretamente do
original em alemão foi publicada no Brasil: MARX, Karl. O Capital: Livro I. São Paulo:
Boitempo, 2013. Cf. Também: MARX, Karl. O capital:livro I, capítulo VI (inédito). São Paulo:
Ciências Humanas, 1978.
55
Para Marx, a realidade não é produto das ideias, pelo contrário, as ideias
são forjadas em determinadas condições históricas concretas. Por isso, Marx
parte sempre da realidade concreta, mas não se restringe a ela. Por um
85
Idem, p. 28.
86
Cf. COGGIOLA, Osvaldo. Introdução à teoria econômica marxista. São Paulo: Boitempo,
1998, p. 12.
57
87
MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 14.
88
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v. I,
2002, p. 18.
58
89
Idem, ibidem.
90
NETTO, José Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006, p. 16.
59
92
Idem, pp. 211-212.
61
prima. Por exemplo, o minério extraído depois de ser lavado. Toda matéria-
prima é objeto de trabalho, mas nem todo objeto de trabalho é matéria-prima”. 93
Os meios de trabalho são uma coisa ou complexo de coisas que o
“trabalhador insere entre si mesmo e o objeto de trabalho e lhe serve para
dirigir sua atividade sobre esse objeto”. O processo de trabalho, uma vez
atingindo certo nível de desenvolvimento, exige meios de trabalho já
elaborados. É claro que os homens desenvolveram ao longo das diferentes
formas de sociedades na história, diferentes meios de trabalho, diferentes
instrumentos, com os quais realizavam a atividade de produção de bens para a
subsistência e para a própria produção. Para Marx, o “que distingue as
diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas como, com que meios
de trabalho se faz. Os meios de trabalho servem para medir o desenvolvimento
da força humana de trabalho e, além disso, indicam as condições sociais em
que se realiza o trabalho”.94
Por meio do processo de trabalho, os homens imprimem transformações
nos objetos de trabalho, a partir do seu projeto incial (ou como Marx, diz,
“subordinada a um determinado fim”), por meio dos instrumentos de trabalho.
Como consequência desse processo de trabalho, resultam determinados bens,
indispensáveis à existência social. Resulta daí um produto, “um valor de uso,
um material da natureza adaptado às necessidades humanas através da
mudança de forma. O trabalho está incorporado ao objeto sobre que atuou.
Concretizou-se, e a matéria está trabalhada”. O trabalho que produz valor de
uso, produtos que têm uma determinada utilização ou atendem a uma
necessidade humana, Marx denomina de trabalho útil ou concreto. 95
Essa forma de trabalho, que produz valor de uso, transformando
cotidianamente a natureza e dela extraindo os materiais necessários à
produção por meio dos instrumentos de trabalho (meios de produção), é
inerente à sociabilidade humana:
93
Idem, p. 212.
94
Idem, pp. 213-214.
95
Idem, pp. 214-215.
62
vida humana, sem depender, portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo
antes comum a todas as suas formas sociais.96
nas origens mesmas da Economia Política clássica, a questão do valor (ou seja:
do constitutivo da riqueza social) aparece vinculada ao trabalho. Essa vinculação
surge, já em 1738, em um panfleto de autor desconhecido: o valor de uma
mercadoria “depende da quantidade de trabalho necessário que ela demanda”
(apud J. Bidet, in Labica e Bensussan, 1985: 1.193) – trata-se de noção
generalizada entre os pensadores do século XVIII; é assim que Smith abre o seu
célebre Inquérito das causas da riqueza das nações (conhecido,
resumidamente, como A riqueza das nações), uma das obras que marca o
apogeu da Economia Política clássica: “O trabalho anual de uma nação é o
fundo de que provêm originariamente todos os bens necessários à vida e ao
conforto que a nação anualmente consome, e que consistem sempre ou em
produtos imediatos desse trabalho ou em bens adquiridos às outras nações em
troca deles” (Smith, 1999, I: 99). Dentre todos os economistas clássicos, foi
Ricardo, porém, aquele que mais desenvolveu a chamada teoria do valor-
trabalho: ela ocupa as sete seções que compõem o primeiro capítulo dos seus
Princípios de economia política e tributação, e não é por acaso que o título da
primeira daquelas seções enuncia a tese ricardiana: “O valor de uma
mercadoria, ou a quantidade de qualquer outra pela qual pode ser trocada,
depende da quantidade relativa de trabalho necessário para sua produção […]”.
(Ricardo, 1982:43). Em resumidas contas, essa teoria sustenta que o valor (a
riqueza social) resulta exclusivamente do trabalho. Obviamente, nem tudo que é
valioso para a sociedade resulta do trabalho; pense-se, por exemplo, nos
elementos naturais, sem os quais a vida seria impossível (o oxigênio da
atmosfera) – mas o interesse dos economistas políticos dirigia-se para a
compreensão da riqueza social, tal como ela se apresentava na nascente
sociedade burguesa.97
97
NETTO, José Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006, pp. 48-49.
64
mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por suas
propriedades, satisfaz necessidades humanas, sejal qual for a natureza, a
origem delas, provenham do estômago ou da fantasia. Não importa a maneira
como a coisa satisfaz a necessidade humana, se diretamente, como meio de
subsistência, objeto de consumo, ou indiretamente, como meio de produção.99
102
Idem, p. 60. “Esses produtos passam a representar apenas a força de trabalho humana
gasta em sua produção, o trabalho humano abstrato” (Idem, ibidem). Ou: “Um valor de uso ou
um bem só possui, portanto, valor, porque nele está corporificado, materializado, trabalho
humano abstrato” (Idem, ibidem).
103
Idem, ibidem.
104
Idem, p. 61. Cf. Também BRUSCHI, Valeria et. al. Mais Marx: material de apoio à leitura d
´Capital. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2016, p. 44.
66
105
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v.
I, 2002, p. 62.
106
Idem, p. 64.
107
Idem, p. 66.
67
108
Idem, p. 92-93.
109
Idem, p. 94.
110
Idem, ibidem.
68
111
NETTO, José Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006, p. 125.
71
com a venda das mercadorias se perde com a compra. Era preciso encontrar,
entre as várias mercadorias existentes, uma que fosse capaz de produzir para
além do seu próprio custo. Não teria sentido, para os capitalistas, investir seus
capitais, se, ao final, não pudessem obter algo maior do que o seu investimento
inicial. Essa mercadoria foi encontrada: a força de trabalho.
Na economia capitalista, o dinheiro empregado na compra de
mercadorias (força de trabalho e meios de produção) se destina à produção de
mercadorias novas para a venda e a sua transformação (realização) em
dinheiro, para a acumulação privada pelo capitalista. O lucro e a acumulação
de capital são os objetivos fundamentais da economia capitalista. A fórmula da
produção e reprodução capitalista é: D (dinheiro) – M (mercadorias: força de
trabalho-ft e meios de produção-mp) que, levados ao processo de produção,
resulta em M´ (novas mercadorias, contendo mais-valia produzida pela força de
trabalho) – D´ (realização da mais-valia, na forma de capital-dinheiro). Esse
processo pode ser expresso na fórmula:
113
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v.
I, 2002, p. 218.
114
Idem, p. 219.
73
O capitalista compra a força de trabalho pelo valor diário. Seu valor de uso
lhe pertence durante a jornada de trabalho. Obtém, portanto, o direito de fazer o
trabalhador trabalhar para ele durante um dia de trabalho. Mas que é um dia de
trabalho? Será menor do que um dia natural da vida. Menor de quanto? O
capitalista tem seu próprio ponto de vista sobre esse extremo, a fronteira
necessária da jornada de trabalho. Como capitalista, apenas personifica o
capital. Sua alma é a alma do capital. Mas o capital tem seu próprio impulso
vital, o impulso de valorizar-se, de criar mais-valia, de absorver com sua parte
constante, com os meios de produção, a maior quantidade possível de trabalho
excedente. O capital é trabalho morto que, como um vampiro, se reanima
sugando o trabalho vivo, e, quanto mais o suga, mais forte se torna.115
quatro horas, supondo uma jornada de oito horas diárias), pois foi contratado
para trabalhar por uma jornada de oito horas e não de quatro. O valor criado
nas horas excedentes é apropriado pelo capitalista sem pagar absolutamente
nada ao trabalhador. A mais-valia é constituída na produção social, enquanto a
sua realização, a sua transformação em capital-dinheiro, depende do comércio,
da circulação, da venda das mercadorias. Como diz Marx, deduzindo-se “o
custo das matérias-primas, das máquinas e do salário, o restante do valor da
mercadoria constitui a mais-valia, na qual estão contidos todos os lucros”. 117
Reforçando a análise de Marx, Engels esclarece o que acontece depois
de o operário vender a sua força de trabalho ao capitalista, em troca de um
salário:
117
Idem, p. 11. Canary nos fornece um exemplo interessante: “A produção média da indústria
automobilística, segundo os dados da própria patronal, está hoje (2010) em 2,25 carros por
trabalhador por mês. Arredondemos para 2, apenas para facilitar as contas. Isso significa que,
ao longo de 1 mês, cada trabalhador do setor produz em média 2 carros. Supondo que o valor
médio desses carros, para tomar apenas os mais baratos, seja R$ 24.000,00, cada trabalhador
gera, ao longo de 1 mês, um total de R$ 48.000,00 em novas riquezas antes não existentes.
Suponhamos também que o salário desse trabalhador seja de R$ 2.000,00 e que ele trabalhe,
de fato, apenas 24 dias por mês, pois folga aos domingos e em alguns sábados. Dividindo-se
os R$ 48.000,00 pelos 24 dias em que o trabalhador trabalha, temos exatos R$ 2.000,00. Esse
é, em média, o valor gerado por um trabalhador da indústria automobilística em um único dia
de trabalho. Ou seja, o trabalhador médio de uma montadora produz em um único dia o valor
de seu próprio salário mensal. Mas o contrato “justo e democrático” estabelecido com o patrão
diz que o trabalhador deverá trabalhar não apenas 1 dia, mas sim 24 dias inteiros. Somente
depois disso receberá o seu salário. Isso significa que, em 1 mês, o trabalhador trabalha 1 dia
para pagar o seu salário e os outros 23 dias trabalha absolutamente de graça, sem nenhuma
contrapartida por parte do patrão”. Cf. CANARY, Henrique. O que é ... Conceitos fundamentais
de política, economia e sociedade. São Paulo: Sundermann, 2012, pp. 11-12.
75
120
NETTO, josé Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006, p.144.
77
121
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v.
I, 2002, p. 244. Para facilitar o entendimento do exemplo dado por Marx, é melhor o leitor
utilizar a jornada de 8 horas diárias divididas em 4 horas de trabalho necessário e 4 de trabalho
excendente, tal como o utilizamos mais acima, quando falamos da compra e da venda da força
de trabalho.
122
Idem, p. 366.
123
Cf. COGGIOLA, Osvaldo. Introdução à teoria econômica marxista. São Paulo: Boitempo,
1998, p. 21.
78
Por outro lado, a mais-valia absoluta tem os seus limites, impostos pela
própria constituição física e biológica dos indivíduos. Não é possível, dessa
forma, um prolongamento permanente da jornada de trabalho, para além do
limite físico da sobrevivência do trabalhador. O trabalhador precisa reproduzir a
sua força de trabalho, precisa de repouso, de descanso, de alimentação, ou
seja, o trabalhador precisa de um tempo, na escala das 24 horas do dia, para
dedicar-se a outras coisas que não o trabalho, sob pena do esgotamento físico
da classe operária. Marx resume dessa forma a avidez de lucro dos capitalistas
e os limites do alongamento da jornada de trabalho:
várias fases como cortar o arame, endireitá-lo, afiá-lo, colocar-lhe a cabeça, etc.,
cada uma das quais é executada por um operário diferente. Consequências:
aumento na velocidade e eficiência do trabalho, possibilidade de um maior
controle por parte do patrão, desqualificação do trabalhador e maior
dependência deste em relação ao capitalista. O período de aprendizagem do
ofício se encurta bastante, aumenta a mão de obra no nível de qualificação
exigido, e começam a desparecer as exigências individuais do operário diante do
patrão, de que se queixavam os capitalistas anteriormente.128
128
Idem, p. 26.
129
Idem, p. 27.
83
130
Idem, p. 28.
131
Idem, p. 29.
84
132
Idem, p. 30.
133
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v.
II, 2006, p. 657.
85
134
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l. 1, v.
II, 2006, p. 661.
86
135
Idem, ibidem.
136
Idem, p. 662.
137
Idem, p. 677.
87
138
NETTO, josé Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006, p.125.
139
Idem, pp.126-127. Com as adaptações necessárias ao presente texto.
88
141
NETTO, josé Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006, p.144.
90
exemplo dado por Netto e Braz em seu livro Economia Política: uma introdução
crítica:
Se assim fosse, o capital, nesse ramo, para obtrer mais lucros, se moveria,
numa verdadeira migração (movimento distinto da rotação que já analisamos),
para as empresas mais atrasadas, de mais baixa composição orgânica do
capital: o capitalista proprietário da empresa B trataria, bem depresa, de tornar a
sua empresa igual à A. Todavia, a análise da dinâmica capitalista demonstra e
comprova que não é assim que as coisas se passam – passam-se exatamente
ao contrário.143
142
Idem, p. 145. Com as adaptações necessárias ao presente texto.
143
Idem, ibidem.
91
144
Idem, ibidem.
145
Idem, pp. 145-147. Com as adaptações necessárias ao presente texto.
92
engendra uma tendência ao nivelamento das taxas de lucro. Daí que se tenha
uma taxa média de lucro, que não resulta apenas da exploração a que cada
capitalista particular submete os trabalhadores que subordina e que proporciona
por algum tempo um lucro similar a capitais de mesmo volume investidos em
diferentes ramos da produção. É por isso que a migração de capitais, mesmo
ocorrendo, não compromete a reprodução – comprometeria se essa taxa média
não fosse assegurada pelo próprio movimento total do capital. Mas note o leitor
que, aqui como em todas as outras situações, estamos mencionando a dinâmica
capitalista; isso significa, mais uma vez, que, sendo o movimento a própria
condição para a valorização do capital, os equilíbrios alcançados são sempre
relativos e momentâneos – a taxa média de lucro também varia e está sempre
em modificação.146
147
Idem, pp.153-154. Com as adaptações necessárias ao presente texto.
94
148
MANDEL, Ernest. Iniciação à Teoria Econômica Marxista. In: MANDEL, Ernest, SALAMAS,
Pierre e VALIER, Jacques. Introdução à teoria econômica. São Paulo: Sundemann, 2006, pp.
57-59.
95
Essa expropriação se opera pela ação das leis imanentes à própria produção
capitalista, pela concentração dos capitais. Cada capitalista elimina muitos
outros capitalistas. Ao lado dessa centralização ou da expropriação de muitos
capitalistas por poucos, desenvolve-se, cada vez mais, a forma cooperativa do
processo de trabalho, a aplicação consciente da ciência ao progresso
tecnológico, a exploração planejada do solo, a transformação dos meios de
trabalho em meios que só podem ser utilizados em comum, o emprego
econômico de todos os meios de produção manejados pelo trabalho combinado,
social, o envolvimento de todos os povos na rede do mercado mundial e, com
isso, o caráter internacional do regime capitalista. À medida que diminui o
número de magnatas capitalistas que usurpam e monopolizam todas as
vantagens desse processo de transformação, aumentam a miséria, a opressão,
a escravização, a degradação, a exploração, mas cresce também a revolta da
classe trabalhadora, cada vez mais numerosa, disciplinada, unida e organizada
pelo mecanismo do próprio processo capitalista de produção. O monopólio do
capital passa a entravar o modo de produção que floresceu com ele e sob ele. A
centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho alcançam um
ponto em que se tornam incompatíveis com o envoltório capitalista. O invólucro
rompe-se. Soa a hora final da propriedade privada capitalista. Os expropriadores
são expropriados.149
149
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Civilização Brasileira, l.1, v.I,
2002, pp. 876-877.
96
152
Cf. LÊNIN, V. I. Imperialismo, estágio superior do capitalismo. São Paulo: Expressão
Popular, 2012, pp. 123-124. Consultar também: LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação de
capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985; MANDEL, Ernest. Introdução ao marxismo. Lisboa:
Antídoto, 1978; A crise do capital. São Paulo: Ensaio, 1985; O capitalismo tardio. São Paulo:
Abril Cultural, 1985; Tratado de economía marxista. México: Era, 1969; SWEEZY, Paul M.
Teoria do desenvolvimento capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1962; BARAN, Paul A. A
economia política do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1977; BARAN, P. A. e SWEEZY,
P. M. Capitalismo monopolista. Rio de Janeiro: Zahar, 1974; DOBB, Maurice. A evolução do
capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1976; BUKHARIN, Nicolai. ABC do comunismo. Bauru-SP:
Edipro, 2002; A economia mundial e o Imperialismo. São Paulo: Abril Cultural, 1984;
ROSDOLSKY, Roman. Gênese e estrutura de O Capital de Karl Marx. Rio de Janeiro: Eduerj:
Contraponto, 2001; SALAMA, Pierre e VALIER, Jaques. Uma introdução à economia política.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975; MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a
uma teoria da transição. São Paulo: Boitempo, 2002; COGGIOLA, Osvaldo. O Capital contra a
história: gênese e estrutura da crise contemporânea. São Paulo: Xamã, 2002; NETTO, José
Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006;
BEER, Max. História do socialismo e das lutas sociais. São Paulo: Expressão Popular, 2006;
WILLIAMS, Eric. Capitalismo e Escravidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
99
2.5. Conclusões
2.6. Bibliografia
BRUSCHI, Valeria et. al. Mais Marx: material de apoio à leitura d´Capital. Livro
I. São Paulo: Boitempo, 2016.
BUKHARIN, Nicolai. ABC do comunismo. Bauru-SP: Edipro, 2002.
____. A economia mundial e o Imperialismo. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
CANARY, Henrique. O que é ... Conceitos fundamentais de política, economia
e sociedade. São Paulo: Sundermann, 2012.
COGGIOLA, Osvaldo. Introdução à teoria econômica marxista. São Paulo:
Boitempo, 1998.
____. O Capital contra a história: gênese e estrutura da crise contemporânea.
São Paulo: Xamã, 2002.
DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
ENGELS, Friedrich. Esboço de crítica da economia política. In: ENGELS,
Friedrich. Política. São Paulo: Ática, 1981.
____. Introdução. In: MARX, Karl. Trabalho assalariado e capital. São Paulo:
Expressão Popular, 2006.
____. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo,
2007.
____. Prefácio da quarta edição alemã. In: MARX, Karl. O Capital: livro I: o
processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2017.
ENGELS, LÊNIN e TROTSKY. Breve introdução ao O Capital de Karl Marx.
Brasília: Ícone, 2008.
HARVEY, David. Para entender o capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
LENIN, V. I. As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo. São
Paulo: Global, 1979.
____. Imperialismo, estágio superior do capitalismo. São Paulo: Expressão
Popular, 2012.
____. Imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Centauro, 2005.
LUXEMBURGO, Rosa. Introdução à Economia Política. São Paulo: Martins
Fontes, 1978.
____. A acumulação de capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
____. A sociedade comunista primitiva e sua dissolução. São Paulo: Edições
Iskra, 2015.
MANDEL, Ernest. O lugar do marxismo na história. São Paulo: Xamã, 2001.
_____. A formação do pensamento econômico de Karl Marx (de 1843 até a
redação de O Capital). Rio de Janeiro: Zahar, 1968.
_____. Introdução ao marxismo. Lisboa: Antídoto, 1978.
_____. A crise do capital. São Paulo: Ensaio, 1985.
_____. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1985.
_____. Tratado de economía marxista. México: Era, 1969.
____.. Iniciação à Teoria Econômica Marxista. In: MANDEL, Ernest, SALAMAS,
Pierre e VALIER, Jacques. Introdução à teoria econômica. São Paulo:
Sundemann, 2006.
MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural,
1982.
____. Prefácio à Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural,
1982.
____. Introdução. In: MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. São
Paulo: Abril Cultural, 1982.
102