Logistica - Materiais e Armazenamento Aula 2

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LOGÍSTICA – MATERIAIS E

ARMAZENAMENTO
AULA 2

Profª. Rosinda Angela da Silva


CONVERSA INICIAL

Anteriormente, nós estudamos sobre a administração de materiais com


ênfase na gestão dos estoques. Naquele momento, compreendemos que, se
faltar estoque, pode ocorrer ruptura e, se sobrar, pode ser sinal de desperdício
de recurso financeiro, por isso a busca pelo equilíbrio é fundamental. Atingir o
equilíbrio é um desafio para a maioria dos gestores e há um departamento que
está intrinsicamente envolvido nisto: o setor de compras.
Assim, nesta aula, fixamos como objetivo conhecer algumas
características inerentes ao setor de compras e as atividades que comumente
impactam ou são impactadas por ele, entre elas: Lote Econômico de Compras
(LEC), recebimento de pedido, avaliação, liberação e movimentação de
materiais. Você compreenderá a importância do processo de compras e
movimentação de materiais nas organizações e por que devemos estudá-las.

CONTEXTUALIZANDO

As atividades realizadas pela área de compras de uma organização estão


intrinsicamente ligadas ao desempenho financeiro porque compromete parte dos
recursos financeiros com pagamentos a fornecedores e também impacta na
formação de estoques. Entenda que, para uma empresa produzir bens ou
revender produtos acabados, é preciso que compras sejam realizadas. Sendo
assim, é importante compreender como surgem as necessidades de reposição
de materiais e como funcionam as operações de compras.
Para que as compras aconteçam de forma profissional, ética e otimizada,
os compradores precisam ser constantemente qualificados porque as regras de
mercado mudam com frequência. Se você considera que preço é importante,
saiba que, às vezes, a urgência em obter o item é mais importante do que o
preço, pois depende da criticidade para o processo produtivo ou para abastecer
o mercado.
Com o passar do tempo, inúmeros estudos foram realizados para a
profissionalização do setor de compras e diversos sistemas, metodologias e
ferramentas foram desenvolvidos para que os compradores pudessem realizar
suas atividades cada vez mais com agilidade e competência. No entanto, não
adianta compreender somente o setor de compras, é preciso entender o contexto
em que ele se insere, tipo de produto que é adquirido, como ele deve ser

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recebido na empresa, bem como quais testes da qualidade serão necessários
para aprovar o item comprado e, por fim, como os produtos devem ser
movimentado entre as áreas. Isso justifica dedicarmos esse momento para
estudarmos estes temas e compreendermos como tais atividades podem auxiliar
a empresa e agregar valor ao produto ou serviço que oferece ao seu público-
alvo.

TEMA 1 – COMPRAS/SUPRIMENTOS

Compras é uma atividade de intralogística que faz parte do Setor de


Suprimentos, mas, em alguns casos, você encontrará referência como setor de
compras, setor de suprimentos, setor de aquisição, como sendo tudo a mesma
coisa. Na atualidade, a atividade de compras é reconhecida como uma atividade
essencial para o desempenho de uma organização porque impacta diretamente
na formação de estoques, nos custos de aquisição e no setor de contas a pagar.
No entanto, esse reconhecimento ocorreu somente nas últimas duas ou três
décadas no Brasil, com a chegada das grandes corporações que já possuíam
setores de compras estruturados e com hierarquia para tomada de decisões.
Se você pesquisar na literatura, certamente encontrará muito mais
publicações direcionadas para o setor de vendas do que para o setor de
compras. Uma das hipóteses para esse descompasso é apresentada por
Righetti et al. (2014, p. 16), quando comenta que

Seja no ambiente familiar ou no profissional, sempre alguém fará as


compras. Em uma casa, pode ser um membro da família, ou em uma
pequena empresa, por exemplo, pode ser algum assistente. Assim, a
atividade de compras sempre foi encarada como uma atividade
corriqueira, que pouco agrega para o todo.

Os autores têm razão ao formular essa hipótese porque até cursos,


treinamentos e capacitações para área comercial sempre foram mais
abundantes que para o setor de compras. Entretanto, esse cenário mudou
quando as organizações perceberam que grande parte dos seus recursos
financeiros eram (e ainda são) utilizados para pagar os pedidos gerados pelo
setor de compras. Isso justifica a importância de compreendermos, em linhas
gerais, as principais características, o funcionamento e algumas atividades do
setor de compras.

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1.1 Características dos setores de Compras

As empresas podem optar por manter setores de compras centralizados


e descentralizados. E qual a diferença entre eles?

• Centralizado: todas as necessidades de materiais (os tipos de estoques


que conhecemos anteriormente), bem como serviços e terceirizações, são
adquiridas por um único departamento. Sendo assim, todos os setores de
uma organização são clientes internos do departamento de compras e
direcionam seus pedidos para os compradores, os quais são os
responsáveis pelos processos de compras.

Como benefícios de um setor de compras centralizado, é possível citar:


maior poder de barganha com os fornecedores, pois, uma vez que o volume de
compras é maior, é possível obter maiores descontos e frete por conta do
fornecedor. Por outro lado, o processo de reposição dos itens pode ser mais
demorado devido às negociações, o que exige maior organização por parte dos
setores para não faltar estoque.

• Descentralizado: nesse modelo, cada setor tem autonomia para realizar


suas próprias compras e gerenciar seu próprio orçamento. Tem como
benefício a agilidade da reposição dos produtos, mas, por outro lado,
perdem poder de barganha junto aos fornecedores, obtendo menores
descontos e, muitas vezes, assumindo o custo do frete.
• Híbrido: esse modelo é comumente utilizado por redes varejistas que
possuem diversas lojas e suas compras estratégicas (grandes volumes),
são negociadas com os fornecedores para atender todas as filiais. Já as
compras dos produtos de expediente são realizadas por cada loja,
conforme a necessidade. Isso traz tanto agilidade para repor as
necessidades básicas das unidades, como mantém o poder de barganha
com os fornecedores dos itens críticos/estratégicos.

O setor de compras pode adotar também as seguintes classificações para


os compradores.

• Comprador de material direto: matérias-primas, insumos para


produção, produtos para revenda.

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• Comprador de material indireto: responsável por abastecer a empresa
dos demais itens, como os materiais de expediente, de uso e consumo,
escritório, limpeza, EPIs, entre outros.
• Comprador de ativo imobilizado e ferramentas: responsável por
adquirir máquinas e equipamentos e itens de ferramentaria,
principalmente para industriais ou para compras governamentais.
• Comprador de importados: embora muitas empresas já possuam
setores especializados em importação e exportação (chamados de
Comex), outras ainda mantêm a atividade de importação junto ao setor de
compras.
• Comprador de serviços ou gestão de contratos: essas atividades são
muito importantes para muitas organizações e, por isso, é comum
encontrar compradores especializados nessas atividades.

Os itens aqui mencionados necessitam de negociações diferenciadas, por


isso as grandes organizações possuem vários profissionais envolvidos nos
setores de compras, os quais possuem diversas formações acadêmicas, como
engenharia, administração, logística, processos gerenciais, entre outros.

1.2 Principais atividades realizadas pelo setor de Compras

Se você pensou que a principal atividade do setor de Compras é


“comprar”, você está correto, mas saiba que, até chegar o momento de comprar,
muitas atividades precisam ser planejadas, organizadas e controladas. E, ainda,
elas não finalizam com a emissão do pedido de compras! No Quadro 1 estão
apresentadas as mais corriqueiras.

Quadro 1 – Atividades de compras

Atividades básicas do setor de compras


Prospectar fornecedores: compete ao Realizar cotações: é uma atividade inerente
comprador pró-ativo buscar constantemente ao setor de compras, pois são os
saber quais fornecedores podem fornecer compradores que contatam possíveis
determinados produtos. fornecedores para o levantamento de preços.

Participar do desenvolvimento e Comprar: é a principal atividade do setor, a


homologação de fornecedores: em qual deve ser realizada com base na ética,
algumas empresas, o próprio comprador nas práticas de compliance e sempre
desenvolve e homologa os fornecedores, em buscando melhores condições negociais para
outras, há um responsável ou um grupo de a organização, sem sacrificar o fornecedor. É
colaboradores que faz isso. Indiferente ao a prática conhecida como win-win (ganha-
modelo adotado pela empresa, o comprador ganha).

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deve estar envolvido desde o início do
processo.

Atualizar custos nos sistemas: manter os Negociar: preço, prazo de entrega e


custos atualizados nos sistemas condições de pagamento são os principais
informatizados auxilia tanto a empresa quanto elementos que fazem parte do processo de
o próprio comprador para realizar suas negociação. Os compradores precisam ter
análises de maneira mais rápida e eficiente. qualificação necessária para realizar boas
negociações.

Intermediar negociações técnicas: nem Realizar follow-up: o monitoramento dos


sempre o comprador possui todo o pedidos é tarefa essencial no setor de
conhecimento necessário compras para evitar que a entrega de
produtos atrasem e impactem negativamente
no processo produtivo ou causem ruptura de
gôndola.
Fonte: Silva, 2022.

Em muitas organizações, o setor de compras ainda realiza atividades,


como devoluções, trocas de mercadorias, venda de sucatas, logística reversa de
embalagens, entre outras atividades.

TEMA 2 – LOTE ECONÔMICO DE COMPRAS (LEC)

Você sabia que na maioria das organizações não é o setor de compras


que determina o que comprar, quando comprar e quanto comprar? Sim, é isso
mesmo! E isso ocorre porque a maior parte das empresas de médio e grande
porte comumente possuem um setor responsável pela gestão de materiais, que
também é uma atividade de intralogística responsável por monitorar os estoques
e programar as reposições. A Figura 1 exemplifica algumas dessas situações.

Figura 1 – Situações de reposição


Ordem de
compra

Ordem de
Itens para produção
produção Ordem de
montagem
Gestão de
materiais Ordem para
terceiros

Itens para Ordem de


revenda compra

Fonte: Silva, 2022.

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A Figura 1 evidencia que há diferentes formas de repor os materiais em
uma organização, em que o primeiro caso (itens para produção) representa as
indústrias e as compras de matérias-primas e insumos, e o segundo caso (itens
para revenda) representa os varejistas, em que o grande volume de compras
são de produtos acabados prontos para revenda.
Para repor os itens, o gestor de materiais precisa conhecer as
perspectivas de venda e de produção da empresa para que possa programar as
compras, produção, montagem ou ordem de fabricação para terceirizados, ou
seja, ele precisa saber “o que” comprar. Sendo assim, ele terá contato
constante com a área comercial e marketing que são os responsáveis pela
previsão de vendas e, também, com o encarregado pelo Planejamento,
Programação e Controle da Produção (PPCP), que constrói o Plano Mestre de
Produção o qual determinará “quando” cada matéria-prima precisa chegar na
empresa. Depois do acordo com esses setores, o gestor de materiais estará apto
a programar as compras, informando ao comprador as duas primeiras
premissas: o que comprar e quando comprar. E quanto comprar?
Para responder a essa pergunta, temos que saber que as empresas
utilizam modelos matemáticos sistematizados que consideram as previsões de
vendas, as estatísticas dos últimos períodos e os lotes econômicos de compra e
de fabricação também. Como estamos tratando da gestão de estoques e
armazenagem, conheceremos o Lote Econômico de Compras (LEC), a qual é
uma metodologia útil para comparação das quantidades adquiridas.
O conceito do LEC defende que existe uma quantidade ótima a ser
adquirida em cada pedido, em que os custos diretamente proporcionais e os
custos inversamente proporcionais se equiparam. Por imposições/restrições do
fornecedor ou até mesmo para aproveitar promoções, os compradores compram
mais do que o necessário. Assim, calcula-se o LEC para ter essa quantidade
para comparação. O cálculo é simples e grande parte dos sistemas
informatizados de gestão de estoques já o trazem, no entanto, o gestor necessita
saber quais elementos estão envolvidos na determinação do LEC.

2.1 Calculando o LEC

Para compreender como calcular o LEC, a equação do Quadro 2 será


utilizada:

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Quadro 2 – Equação para calcular o LEC

Equação Elementos

Q = Quantidade do lote
Cp = Custo de preparação (obtenção)
D = Demanda
CA = Custo de armazenagem
i = Taxa de juros correntes
P = Preço que será pago ao fornecedor

OU
***Lembre-se que (CA + i x P) representa o
Custo de Carregamento (Cc), então, pode
aparecer já calculado como Cc***

Fonte: elaborado com base em Martins e Alt, 2006, p. 229.

Para aplicar a equação do LEC, observe o exemplo a seguir adaptado de


Martins e Alt (2006).
A empresa Kaizen apresentou os seguintes dados:

D = Demanda: 40.000 unid./ano;


Cp = Custo de preparação (obtenção, aquisição): R$ 30,00/pedido;
Cc = Custo de carregamento (CA + i x P): R$ 0,30/unid./ano;
Ci = Custo independente (custo fixo): R$ 50,00/ano; e
P = Preço pago ao fornecedor: R$ 0,18 a unidade.

Resolução:

QLEC = 2.828,43 unids./pedido.


*Como o LEC determina o número de peças, recomenda-se o arredondamento
para 2.830 unidades.

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Depois de encontrar o LEC, aplica-se a quantidade encontrada na fórmula
do Custo Total. Os autores recomendam aplicar a fórmula do Custo Total do
Estoque para visualizar o efeito do LEC.

2.2 Calculando o Custo Total para LEC

Depois de encontrar o LEC, aplica-se a quantidade encontrada na fórmula


do Custo Total. Os autores recomendam aplicar a fórmula do Custo Total do
Estoque para visualizar o efeito do LEC, conforme cálculos do Quadro 3.

Quadro 3 – Determinando o Custo Total (CT) dos estoques para LEC

Ações Aplicação

CT = (Ca + i x P) x (Q/2) + Cp x D/Q + Ci + DxP

Calcular o CT CT = (Cc) x (Q/2) + Cp x D/Q + Ci + DxP


para o LEC de
2.828,43 CT = (0,30 x 2.823,43/2) + (30,00 x 40.000/2.828,43) + 50,00 + (40.000 x 0,18)
unidades
CT = (R$ 424,26/ano) + (R$424,26/ano ) + R$ 50,00 + (R$ 7.200,00)

CT = R$ 8.098,52

CT = (Ca + i x P) x (Q/2) + Cp x D/Q + Ci + DxP

Calcular o CT CT = (Cc) x (Q/2) + Cp x D/Q + Ci + DxP


para o LEC de
2.830 CT = (0,30 x 2.830/2) + (30,00 x 40.000/2.830) + 50,00 + (40.000 x 0,18)
unidades
CT = (R$ 424,50/ano) + (R$ 424,03/ano) + R$ 50,00 + (R$ 7.200,00)

CT = R$ 8.098,53

Fonte: elaborado com base em Martins e Alt, 2006, p. 230.

Analisando os valores encontrados no Quadro 3.

a) Inicialmente, foi calculado o LEC e foi encontrada a quantidade de


2.828,43 unidades que, quando calculado o CT, encontrou-se o valor de
R$ 8.098,52.
b) No custo total para o LEC, os custos diretamente proporcionais (R$
424,26/ano) e os custos inversamente proporcionais (R$ 424,26/ano)
ficaram praticamente iguais.
c) Foi recomendado arredondar (o mínimo possível para não descaracterizar
o LEC) para a quantidade de 2.830 unidades que, quando calculado o CT,

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encontrou-se o valor de R$ 8.098,53, ou seja, praticamente não houve
alteração. Logo, pequenos arredondamentos não interferem no LEC.
d) No custo total para o LEC arredondado, os custos diretamente
proporcionais (R$ 424,50/ano) e os custos inversamente proporcionais
(R$ 424,03/ano) também ficaram praticamente iguais.

Supondo que o comprador que calculou esse LEC comparou com a


quantidade que compra habitualmente do fornecedor que são 5.000 peças. Para
ver o efeito no CT, o comprador deve considerar Q = 5.000 e os demais valores
permanecem os mesmos. O quadro 4 traz essa simulação:

Quadro 4 – Custo Total (CT) dos estoques para o lote do fornecedor

Ações Aplicação

CT = (Ca + i x P) x (Q/2) + Cp x D/Q + Ci + DxP

Calcular o CT CT = (Cc) x (Q/2) + Cp x D/Q + Ci + DxP


para lotes de
5.000 CT = (0,30 x 5.000/2) + (30,00 x 40.000/5.000) + 50,00 + (40.000 x 0,18)
unidades
CT = (R$ 750,00/ano) + (R$240,00/ano ) + R$ 50,00 + (R$ 7.200,00)

CT = R$ 8.240,00

Fonte: Silva, 2022.

Embora a diferente do CT não seja muito grande, perceba que os custos


diretamente proporcionais (R$ 750,00/ano) e os custos inversamente
proporcionais (R$ 240,00/ano) não são similares, demonstrando que, ao
comprar 5.000 unidades de cada vez, há um desequilíbrio, ou seja, o custo de
armazenagem aumentará porque parte do lote adquirido ficará em estoque.

TEMA 3 – RECEBIMENTO DE PEDIDOS

Depois que o setor de compras oficializa o pedido com o fornecedor e o


registra no sistema informatizado, todos os setores envolvidos podem acessar
essa informação. Entre esses setores, temos a área de recebimento, a qual
realiza uma importante atividade de intralogística e auxilia na garantia da
qualidade dos produtos que entram no estoque da organização. As atividades
comumente realizadas na área de recebimento, de acordo com Seleme e De
Paula (2019, p. 68), são: “verificação da documentação; descarga; análises

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quantitativa e qualitativa; e classificação e unitização”. Conheceremos as
características dessas atividades a seguir.

3.1 Atividades típicas do recebimento

• Verificação da documentação: esta é a etapa inicial e representa


quando o transportador (que pode ser o próprio fornecedor ou
terceirizado) chega à portaria da empresa para entregar a mercadoria.
Dependendo da empresa, a própria portaria está habilitada a realizar as
verificações iniciais via sistema informatizado, tais como: se o pedido de
compras está cadastrado no sistema, se há uma janela de recebimento
para essa carga, se as informações básicas da nota fiscal estão de acordo
com o pedido, entre outros. Por outro lado, na maioria das empresas, o
recebimento não inicia na portaria, e sim diretamente com os
colaboradores do setor. Neste caso, o colaborador responsável pelo
recebimento fará a comparação entre os dados do pedido e da nota fiscal
do fornecedor. Para isso, o colaborador do recebimento precisa ter certo
conhecimento e identificar, por exemplo, se é uma nota fiscal de vendas,
industrialização, trocas, devoluções, remessa, retorno, reposição de
material faltante, entre outros. Isto porque, dependendo da situação da
nota fiscal, o material recebido terá uma tratativa e será inserido no
estoque da empresa, ou não.
• Descarga: depois de realizada a conferência inicial, o material poderá ser
descarregado. Para isto, é possível utilizar empilhadeiras, paleteiras ou
até mesmo descarregamento manual, pois tudo depende do tipo de
produto e do volume. Algumas empresas possuem docas para
descarregamento e outras não. Assim, os recursos utilizados no
descarregamento variam de acordo com as características dos produtos.
É comum que os produtos descarregados fiquem em área apropriada para
que o colaborador responsável pelo recebimento possa realizar as demais
atividades inerentes ao processo.
• Análises quantitativa e qualitativa: a atividade de recebimento abrange
a conferência quantitativa da carga, em que o colaborador responsável
verifica se a quantidade de volumes ou de produtos estão de acordo com
a nota fiscal do fornecedor e também com o pedido. Além disso, verifica-
se peso, empilhamento máximo, quantidade por fardo, data de validade e
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outros. No ato do recebimento, é realiza também uma análise qualitativa
prévia, em que o colaborador, de posse de um instrumento como um
Check List, avalia alguns elementos da carga recebida, como se a
embalagem não está avariada, molhada, amassada, quebrada, se a
mercadoria não está danificada, entre outras possibilidades. Essa análise
é visual, pois a verificação mais detalhada da qualidade é realizada por
setor específico e será discutido posteriormente.
• Classificação e unitização: quando o material já estiver liberado, ele
será classificado de acordo com suas características e as necessidades
da empresa. Caso o produto recebido seja uma matéria-prima, ele pode
ser encaminhado diretamente para a linha de produção ou para a
estocagem, caso seja utilizado em data posterior. Se for um produto
acabado, ele seguirá para as áreas de vendas dos varejistas ou para seus
depósitos e permanecerá lá até ser movimentado ou vendido. Para
facilitar o processo de manter produtos estocados, sejam matérias-primas
ou produtos para revenda, a unitização das cargas é considerado um
instrumento que viabiliza a movimentação e economiza espaço de
armazenagem. Trataremos disto mais detalhadamente futuramente.

Embora algumas empresas possuam outras atividades nas áreas de


recebimentos, estas são as mais clássicas e já evidenciam que os colaboradores
precisam de certos conhecimentos específicos para a realização delas.

3.2 Métodos de conferência no recebimento

Para que a área de recebimento possa contribuir com a qualidade, é


preciso utilizar métodos apropriados, em que os mais comuns são: conferência
cega e conferência convencional. No método de conferência cega, o colaborador
que fará a conferência não receberá uma cópia da nota fiscal, logo, não saberá
a quantidade de mercadoria que consta nela.
Neste modelo, o colaborador realiza a conferência, principalmente
quantitativa, e transmite a informação ao responsável pela digitação da nota
fiscal, que efetivamente registrará o produto no sistema atualizando o estoque.
Essa conferência pode ser realizada por meio de pesagem em balanças,
contagem de caixas ou peças e, também, com coletor de dados, caso as

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embalagens tenham códigos de barras, e a empresa tenha a tecnologia
necessária para isto.
No outro método, o qual pode ser chamado de convencional, o conferente
tem acesso ao pedido de compras e à nota fiscal. A partir disso, ele conta,
confere os itens e encaminha as informações ao responsável pelo registro. Neste
modelo, o colaborador deve estar bem qualificado e consciente da importância
da sua tarefa, pois, na prática, a empresa depende da sua competência e ética
para realizar a conferência corretamente.

TEMA 4 – AVALIAÇÃO E LIBERAÇÃO DA QUALIDADE

O processo de recebimento somente é concluído quando os itens são


efetivamente liberados para uso ou para venda. Compreenda que, para uma
indústria receber uma matéria-prima defeituosa e só perceber no momento do
uso, pode causar problemas para o processo produtivo. Da mesma forma, se a
empresa for um varejista e perceber que um produto está impróprio para venda
quando já está na área de vendas, isto realmente não é algo muito fácil de
administrar. Por isso, em muitos casos, há a necessidade de o produto ser
avaliado e liberado por um setor comumente conhecido como Controle de
Qualidade (CQ), mas pode ser chamado também de Assessoria da Qualidade,
Garantia da Qualidade, entre outros. Conheceremos algumas características
desse setor aplicadas à atividade de recebimento.

4.1 Avaliação da qualidade

Após o conferente realizar sua atividade, parte do material (ou todo o lote,
depende do criticidade do item) é segregado em área apropriada para aguardar
a avaliação da qualidade, a qual será realizada por um colaborador qualificado.
Essa avaliação será realizada para aferir se os produtos recebidos atendem às
especificações técnicas previamente acordadas entre a empresa cliente e seu
fornecedor. No caso de matérias-primas, lembre-se que impacta diretamente no
produto final, por isso é comum que diversos elementos façam parte da
especificação técnica que os fornecedores precisam atender. Se for matéria-
prima para processamento, como madeira, metal, plástico, couro, papelão, entre
outros, pode ser necessário verificar o dimensional, cor, odor, espessura,
composição química, dureza, maleabilidade, entre tantos outros.

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Para que o fornecedor saiba o que é preciso atender durante o processo
de desenvolvimento e homologação dele, a empresa cliente disponibiliza todas
as informações necessárias para que sejam produzidos lotes pilotos ou amostras
para testes, antes do início do fornecimento. Assim, quando o CQ for avaliar os
produtos recebidos, já sabe exatamente quais parâmetros terá que conferir.
Essa sistemática também se aplica para produtos prontos para revenda,
que é o caso dos varejistas. Isto porque os produtos de produção nacional ou
importados precisam atender alguns requisitos, como do Inmetro (Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), o qual é responsável por
avaliar a conformidade dos produtos que estão à venda para a população.
A título de conhecimento, saiba que o CQ avalia os produtos recebidos
por meio de testes físicos, dimensionais, alguns até destrutivos e também testes
de laboratório. Para isso, utilizam recursos como equipamentos metrológicos
(paquímetros, micrômetros, relógios apalpadores e comparadores, calibradores,
medidores de espessura, esquadros e outros), normas internacionais,
regulamentos técnicos e muitos outros.

4.2 Liberação da qualidade

Depois dos testes e verificações realizadas pelo CQ, o produto pode


seguir dois caminhos: ser liberado ou rejeitado. Produto liberado: o produto
atende as especificações técnicas na totalidade e os testes realizados foram
suficientes para que seja liberado para a linha de produção ou para a área de
vendas. Essa tarefa de liberação exige que sejam emitidos documentos que
permitam a rastreabilidade posterior, se houver necessidade.
Produto rejeitado: caso o produto não atenda às especificações, ele será
considerado não conforme e será rejeitado. Neste caso, o setor de Compras será
envolvido, pois comumente são os compradores que negociam as trocas ou
devoluções com os fornecedores. A rejeição de um produto pode ser parcial ou
total, depende da extensão da não conformidade. Também são gerados
documentos internos para o registro dessa não conformidade, bem como a
tratativa para ele, como troca, reposição, devolução, entre outros.
Neste momento, você se questiona: todas as empresas fazem dessa
forma? Na verdade, não, pois algumas empresas utilizam o conceito de
qualidade assegurada, principalmente aquelas que têm implementado o sistema
Just In Time (JIT), o qual tem como premissa o recebimento de material somente
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no momento do uso. Sendo assim, não há como esperar todo o processo de
recebimento, avaliação quantitativa e qualitativa, pois o produto chegará na
empresa e seguirá diretamente para a linha de produção ou para a área de
vendas. Isto somente é possível por meio de um exaustivo trabalho entre a
empresa cliente e seus fornecedores para que os itens sejam produzidos
exatamente nas especificações acordadas.

TEMA 5 – MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAIS

Depois que o produto está liberado, entra em cena mais uma atividade de
intralogística: a movimentação de materiais, também chamada de transporte
interno, em que os produtos podem ser movimentados diretamente para a linha
de produção, para a área de vendas ou para área de armazenagem.
A movimentação é uma atividade constante nas empresas que utilizam
materiais para produção ou produtos para venda, o que significa que os materiais
são movimentados com frequência, exigindo planejamento para evitar conflitos.
A seguir, serão apresentadas algumas características desses três destinos dos
materiais recebidos.

5.1 Movimentação para linha de produção, área de vendas ou


armazenagem
A movimentação dos materiais na empresa depende do segmento
(indústria, varejo, armazém); do tipo de produto; condição em que ele foi
adquirido, como uso imediato; aproveitamento de promoções; preparação para
períodos sazonais, ou outro.
Se for para uso imediato, no caso de uma matéria-prima, o colaborador
responsável por abastecer as linhas de produção receberá a indicação da
quantidade de material, do momento mais adequado para entregar ou repor o
material e qual linha deve ser abastecida. Como uma indústria pode ter diversas
linhas produzindo ao mesmo tempo, imagine a quantidade de materiais que
podem ser movimentados em um dia de trabalho. No caso do abastecimento de
linhas, é adequado que seja movimentada a quantidade suficiente para atender
o planejamento da produção, evitando a devolução de matérias-primas para o
depósito ao final do dia, o que gera mais movimentação.
Já no caso de um varejista, o material pode seguir diretamente para a
área de vendas e ficar disponível para o cliente, como ocorre nos grandes

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supermercados e lojas de departamento. Neste caso, pense esse tipo de
empresa como “grandes estoques enfeitados/organizados para promover
venda”. Assim, a movimentação ocorre dos bastidores para a área de circulação
de clientes e não pode ocorrer o dia todo, e sim antes dos clientes chegarem à
loja. A quantidade movimentada para as áreas de vendas precisam ser
calculadas para não faltar, evitando um conceito que já conhecemos: a ruptura
de gôndola.
No entanto, se a matéria-prima ou o produto para venda não for para
consumo e uso imediato, ele será movimentado para o espaço de armazenagem,
que pode ser o depósito, o armazém ou um centro de distribuição (CD). Nestes
ambientes, podemos compreender a movimentação de materiais como uma das
principais atividades, porque, nesse tipo de negócio, o objetivo é a gestão de
estoques físicos. Assim, a movimentação de materiais é constante e, em alguns
casos, ocorre 24 horas por dia.
Considerando que a movimentação de materiais faz parte da rotina de
empresas que possuem estoques, é preciso que elas estejam organizadas para
comportar essa atividade, a qual precisa ser realizada de maneira que contemple
eficiência, eficácia e produtividade. Diante disso, o profissional de logística
precisa conhecer os princípios que tornam a movimentação de materiais, uma
atividade eficiente e de qualidade.

5.2 Princípios da movimentação de materiais

A movimentação de materiais ocorrerá sempre que o item precisar mudar


de localização dentro da empresa, seja do almoxarifado para linha de produção,
do depósito para área de vendas, do piso para as prateleiras porta paletes e vice-
versa, para ser inventariado, entre outras possibilidades. Por isso, diversos
estudos já foram realizados para encontrar a forma mais otimizada para isso
acontecer, por exemplo, a proposta adaptada de Gaither e Frazier (2002) que os
autores chamam de princípios, e as leis da movimentação de Francischini e
Gurgel (2012), conforme quadros 5 e 6:

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Quadro 5 – Princípios da movimentação de materiais

Princípios da movimentação de materiais

• Minimizar a quantidade de vezes que um item é movimentado


• A movimentação dos materiais deve ser realizada em fluxo linear
• Investir em dispositivos mecânicos que auxiliem a movimentação de materiais
• Os processos produtivos que serão abastecidos também devem ser organizados de forma
linear
• Aproveitar ao máximo o equipamento de movimentação interna priorizando a carga
completa em cada processo
• O sistema utilizado para movimentação de materiais precisa considerar a ocorrência de
falhas e quebras de equipamentos
• Localizar os estoques buscando minimizar o esforço humano de caminhar, levantar-se,
agachar-se para alcançar o produto
• Itens grandes e pesados devem ser colocados em local de fácil acesso próximos dos
postos de recebimento, uso e expedição

Fonte: elaborado com base em Gaither e Frazier, 2002.

Quadro 6 – Leis da movimentação

Leis da movimentação

• Obediência ao fluxo das operações • Máxima utilização do equipamento


• Mínima distância • Máxima utilização da gravidade
• Mínima manipulação • Método do espaço disponível
• Segurança e satisfação • Método alternativo
• Padronização • Menor custo total
• Flexibilidade

Fonte: elaborado com base em Francischini e Gurgel, 2012.

Os itens citados nos quadros 5 e 6 são apenas alguns elementos


necessários para uma movimentação de materiais eficientes, pois, em alguns
casos, pode haver necessidades específicas uma vez que depende da realidade
de cada organização.

TROCANDO IDEIAS

Você já comprou algum produto pela internet e ficou aguardando


ansiosamente a entrega do produto? Imaginamos que sim. E quando o produto
chegou, por acaso você o recebeu conforme descrito nesta aula? Verificou nota
fiscal, quantidade, peso, volume, preço, questões de qualidade, entre outros?
Estava tudo certo ou houve necessidade de troca ou devolução? Utilize o recurso
do fórum para compartilhar essa experiência com seus colegas de turma.

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NA PRÁTICA

A empresa Kaizen consome aproximadamente 250 mil unidades de um


tipo de etiqueta de BOPP/ano e as adquire por meio do lote mínimo do
fornecedor que é de 15.000 unidades. O novo programador de materiais da
Kaizen, recém-chegado na empresa, necessita conhecer o lote econômico de
compra (LEC) desse item para verificar qual é a situação mais favorável. Utilize
os dados a seguir para calcular LEC e, depois, analise a resposta encontrada.

Custo de armazenagem: R$ 0,43 a unidade/ano.


Custo preparação/obtenção: R$ 74,00.
Taxa de juros corrente: 11% ao ano.
Preço de compra: R$ 0,60 a unidade

Resolução:

Resolução: em outra ocasião.

FINALIZANDO

Esta aula foi dedicada a conhecermos o processo de compras e suas


principais características e atividades. Aprendemos que uma empresa pode
utilizar modelos de compras centralizadas, descentralizadas ou híbridas e que
os compradores podem atuar em áreas específicas, adquirindo diferentes tipos
de produtos. Foi comentado que, na prática, o setor de compras é o elo entre a
empresa cliente e o fornecedor e que somente realiza os pedidos de compras
quando algum setor solicita, ou seja, na maioria dos casos, não é da
competência do setor de compras determinar o que será comprado, quando e
quanto.
Outro conceito interessante que aprendemos foi calcular o Lote
Econômico de Compras e LEC, e entender como comparar com as quantidades
que são compradas na atualidade. Na sequência, estudamos sobre a atividade
de recebimento dos materiais, em que o destaque foi para a conferência dos

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itens para evitar que produtos com defeito adentrem a empresa e sejam
mantidos em estoque. E, por fim, estudamos sobre a movimentação de materiais
e conhecemos alguns dos seus princípios.
Com o estudo desses temas, atingimos o objetivo proposto inicialmente,
que era conhecer algumas características do setor de compras, além de algumas
atividades decorrentes do processo de compras. Sendo assim, desejamos bons
estudos e até a próxima!

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REFERÊNCIAS

FRANCISCHINI, P. G.; GURGEL, F. do A. Administração de materiais e do


patrimônio. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

MARTINS, P. G.; ALT, P. R. C. Administração de materiais e recursos


patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2006.

RIGHETTI, C. C. et al. Compras estratégicas: construa parcerias com


fornecedores e gere valor para seus negócios. São Paulo: Saraiva, 2014.

SELEME, R.; DE PAULA, A. Logística: armazenagem e materiais. Curitiba:


InterSaberes, 2019.

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