Teorias Educação

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TEORIAS

DA EDUCAÇÃO
AUTORAS:
Cíntia Moralles Camillo
Liziany Müller Medeiros
EDUCAÇÃO DO CAMPO

TEORIAS DA EDUCAÇÃO
AUTORAS
Cíntia Moralles Camillo
Liziany Muller Medeiros

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Santa Maria | RS
2018
©Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE.
Este caderno foi elaborado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional da
Universidade Federal de Santa Maria para os cursos da UAB.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


Michel Temer

MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Mendonça Filho

PRESIDENTE DA CAPES
Abilio A. Baeta Neves

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA


REITOR
Paulo Afonso Burmann

VICE-REITOR
Luciano Schuch

PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO
Frank Leonardo Casado

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO
Martha Bohrer Adaime

COORDENADOR DE PLANEJAMENTO ACADÊMICO E DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Jerônimo Siqueira Tybusch

COORDENADORA DO CURSO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO


Profª. Carmen Rejane Flores Wizniewsky

NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL


DIRETOR DO NTE
Paulo Roberto Colusso

COORDENADOR UAB
Reisoli Bender Filho

COORDENADOR ADJUNTO UAB


Paulo Roberto Colusso
NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL
DIRETOR DO NTE
Paulo Roberto Colusso

ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO
Cíntia Moralles Camillo
Liziany Müller Medeiros

REVISÃO LINGUÍSTICA
Camila Marchesan Cargnelutti
Maurício Sena

APOIO PEDAGÓGICO
Carmen Eloísa Berlote Brenner
Caroline da Silva dos Santos
Keila de Oliveira Urrutia

EQUIPE DE DESIGN
Carlo Pozzobon de Moraes – Ilustrações
Juliana Facco Segalla – Diagramação
Matheus Tanuri Pascotini – Capa e Ilustrações
Raquel Bottino Pivetta – Diagramação

PROJETO GRÁFICO
Ana Letícia Oliveira do Amaral

C183t Camillo, Cíntia Moralles


Teorias da educação [recurso eletrônico] / Cíntia Moralles Camillo,
Liziany Müller Medeiros. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.
1 e-book : il.

Este caderno foi elaborado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional


da Universidade Federal de Santa Maria para os cursos da UAB
Acima do título: Educação do campo
ISBN 978-85-8341-227-4

1. Educação 2. Educação – Teoria I. Medeiros, Liziany Müller


II. Universidade Aberta do Brasil III. Universidade Federal de Santa
Maria. Núcleo de Tecnologia Educacional IV. Título.

CDU 37.01

Ficha catalográfica elaborada por Alenir Goularte - CRB-10/990


Biblioteca Central da UFSM

Ministério da
Educação
APRESENTAÇÃO
O lá sejam todos bem-vindos à Disciplina de Teorias da Educação!

Figura 1– Teorias da Educação

Fonte: Autoras.

A teoria da educação estuda a educação como instrumento de equalização social


e superação da marginalidade. Sociedade é concebida como harmoniosa. A mar-
ginalidade é um fenômeno acidental que afeta individualmente um número maior
ou menor de membros da sociedade.
Para tanto este material tem como objetivo subsidiar teoricamente a disciplina
de Teorias da Educação, reconhecendo suas principais características, relacionan-
do-as com as suas respectivas práticas pedagógicas conforme o contexto sócio-
-histórico. Refletindo sobre as matrizes filosóficas e epistêmicas do pensamento
pedagógico brasileiro, analisando a noção de educação moderna e o nascimento
das ciências da educação.
Tendo como objetivos também, apresentar as competências, habilidades e ati-
tudes que o educando deve ter ao final do curso da disciplina, entender a história
das ideias pedagógicas em sua diversidade de teses e de visões, como forma de
possibilitar a construção do conhecimento teórico sobre a educação, compreender a
evolução do pensamento pedagógico brasileiro a partir da identificação, classificação
e periodização das principais concepções educacionais; identificar as principais
teorias contemporâneas em educação, entendendo por teoria da educação toda e
qualquer reflexão sobre a educação que inclua uma análise dos problemas e das
propostas de mudança.
O saber docente não é formado apenas da prática, sendo também nutrido pelas
teorias da educação. Mediante esta afirmação fica claro que, a teoria tem importância
fundamental, ao nos apropriarmos de fundamentação teórica nos beneficiamos de
variados pontos de vista para uma tomada de decisão dentro de uma ação contex-
tualizada, adquirindo perspectivas de julgamento para compreender os diversos
contextos do cotidiano. A interação entre saberes gera o desenvolvimento de uma
prática pedagógica autônoma e emancipatória.
Vale lembrarmos que um bom educador não se constitui apenas de teoria, em-
bora ela tenha sua importância. Um educador vai se formando na relação teoria e
prática, em que acredita-se que é a partir da ação e da reflexão que o educador se
constrói enquanto indivíduo em pleno estado de mudança. O educador somente
poderá ensinar quando aprender e, para isso, é preciso ter conhecimento, que é
adquirido com diálogo, troca de experiências e pesquisa científica.
Ao analisarmos as práticas pedagógicas, cabe-nos inquietarmos com a sepa-
ração que existe entre a teoria e a prática, cria-se então um círculo vicioso onde
constatamos que a formação docente é construída antes e durante o caminho
profissional do docente, e que se faz também no social onde a formação docente
depende tanto das teorias, quanto das práticas desenvolvidas no contexto escolar.

Assim, este material está dividido da seguinte maneira:

Na primeira unidade estaremos abordando sobre a gênese, historiografia das ma-


trizes filosóficas e epistêmicas do pensamento pedagógico brasileiro, transcorrendo
pelo século XIX: o século da pedagogia; o século XX até os anos 50. “Escolas Novas”
e ideologia da educação; a segunda metade do século XX: ciências da educação e
empenho mundial da pedagogia; as ideias pedagógicas no Brasil entre 1969 e 2001;
a educação na ruptura política para a continuidade socioeconômica.
Na segunda unidade nos debruçaremos nos estudos da pedagogia tecnicista,
concepção analítica e visão crítico-reprodutivista; ensaios contra-hegemônicos: as
pedagogias críticas buscando (re) orientar a prática educativa; o neoprodutivismo
e suas variantes neoescolanovismo, neoconstrutivismo e neotecnicismo.
Na terceira unidade faremos algumas reflexões em torno da educação moderna,
educação contemporânea e o nascimento das ciências da educação, transcorrendo
sobre o behaviorismo e a abordagem científica do ensino; o cognitivismo e suas
implicações pedagógicas; Jean Piaget e o construtivismo na educação; Lev Vygotsky
e o socioconstrutivismo na educação. Na quarta e última unidade, estudaremos
as teorias contemporâneas da educação; natureza e definição e ciência moderna
ao novo senso comum.
Este material didático busca localizar num campo científico vasto da teoria da
educação, nas unidades mencionadas acima, o melhor resultado a fim de auxiliar
você, futuro educador, em sua prática pedagógica diária.

Desejamos a todos(as) um ótimo aprendizado!


ENTENDA OS ÍCONES

1 ATEnção: faz uma chamada ao leitor sobre um assunto,


abordado no texto, que merece destaque pela relevância.

2 interatividade: aponta recursos disponíveis na internet


(sites, vídeos, jogos, artigos, objetos de aprendizagem) que
auxiliam na compreensão do conteúdo da disciplina.

3 saiba mais: traz sugestões de conhecimentos relacionados


ao tema abordado, facilitando a aprendizagem do aluno.

4 termo do glossário: indica definição mais detalhada de


um termo, palavra ou expressão utilizada no texto.
SUMÁRIO
▷ APRESENTAÇÃO ·5

▷ UNIDADE 1 – GÊNESE, HISTORIOGRAFIA


DAS MATRIZES FILOSÓFICAS ·10

Introdução ·12
1.1 O século XIX: o século da pedagogia ·13
1.2 O século XX até os anos 50. “Escolas Novas”
e ideologia da educação ·22
1.3 A segunda metade do século XX: ciências da educação e
empenho mundial da pedagogia ·28
1.4 As ideias pedagógicas no Brasil entre 1969 e 2001 ·32
1.5 A educação na ruptura política para a
continuidade socioeconômica ·39

▷ UNIDADE 2 – A PEDAGOGIA E AS BASES EPISTÊMICAS ·43

Introdução ·45
2.1 Pedagogia tecnicista, concepção analítica
e visão crítico-reprodutivista (1969-1980) ·46
2.2 Ensaios contra-hegemônicos: as pedagogias críticas
buscando (re) orientar a prática educativa (1980-1991) ·57
2.3 O neoprodutivismo e suas variantes: neoescolanovismo,
neoconstrutivismo, neotecnicismo (1991-2001) ·62

▷ UNIDADE 3 – O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO ·64

Introdução ·66
3.1 O behaviorismo e a abordagem científica do ensino ·67
3.2 O cognitivismo e suas implicações pedagógicas ·75
3.3 Jean Piaget e o construtivismo na educação ·81
3.4 Lev Vygotsky e o socioconstrutivismo na educação ·91

▷ UNIDADE 4 – TEORIAS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA ·101

Introdução ·103
4.1 Teorias contemporâneas da educação:
natureza e definição ·104
4.2 Da ciência moderna ao novo senso comum ·111
▷ CONSIDERAÇÕES FINAIS ·116

▷ ATIVIDADES DE REFLEXÃO OU FIXAÇÃO ·117

▷ REFERÊNCIAS ·120

▷ APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES ·127


1 GÊNESE,
HISTORIOGRAFIA
DAS MATRIZES
FILOSÓFICAS
INTRODUÇÃO
A Educação qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do co-
nhecimento posta em prática. Paulo Freire

C
aracterísticas da educação contemporânea; a época contemporânea e a
identidade social da pedagogia; educação e ideologia; novos sujeitos edu-
cativos; instrução e trabalho; a escola e as reformas; o saber pedagógico:
ciência, política e filosofia; todas essas passagens fazem parte do período da gênese,
historiografia das matrizes filosóficas e epistêmicas do pensamento pedagógico
brasileiro que iremos abordar nesta unidade de ensino.
No século XIX, o século da pedagogia foi marcado por conflitos ideológicos,
modelos formativos, saberes da educação. A burguesia e povo travaram fortes en-
traves entre ideologias pedagógicas e conflitos educativos. A pedagogia romântica
de Pestalozzi, Schiller e Fröbel, bem como as pedagogias de Hegel e de Herbart,
tiveram fortes influências no século XIX. Marcos importantes como a sociedade
industrial e educação: entre positivismo e socialismo, assim como o positivismo e
pedagogia na França, na Inglaterra e na Itália também marcam essa fase que sobre
outrem são imensos e estarão sempre interligados.
No século XX até os anos 50, as escolas novas, as ideologias da educação, as
transformações educativas, a renovação da escola e a pedagogia ativista, marca-
ram o século. O pragmatismo, o instrumentalismo e o crescimento científico da
pedagogia, bem como o surgimento da educação e a pedagogia nos países não
europeus, foram fatos marcantes neste período.
Na segunda metade do século XX, ciências da educação e empenho mundial da
pedagogia, assim como às ciências da educação como um problema em aberto, a
Guerra fria, a pedagogia cognitiva, primando pela instrução e tecnologias educativas
e a escola do pós-guerra até hoje; foram marcos desse tempo.
Outro marco muito importante, na educação no Brasil, foi a ruptura política para
a continuidade socioeconômica. O Estado, o regime político e o desenvolvimento
no Brasil pós-1930, a criação da Escola Superior de Guerra (ESG) e a doutrina da
interdependência, bem como o desfecho da contradição do modelo econômico
versus ideologia política, relacionado com o regime militar.
Ao findar da unidade espera-se que você tenha compreensão das teorias expostas
e possa relacioná-las, com aspectos vivenciados no seu dia a dia ou dos espaços
educacionais que estão presentes na sua rotina diária, e que você seja capaz de
refletir o processo de ensinar e aprender.

12 ·
1.1
O SÉCULO XIX: O SÉCULO
DA PEDAGOGIA
O século XIX, de acordo com Francisco Cambi, é o século da pedagogia, momento
emblemático da luta de classes (entre burguesia e proletariado), que envolveu so-
ciedade, cultura, economia e política, conforme Figura 2. Esta situação acarretou
uma radicalização das ideias pedagógicas e educativas, consolidando-as como
ferramentas de controle social e do “projeto político e da própria gestão do poder
(social e político)” (CAMBI, 1999, p. 407).

3 saiba mais: Burguesia – a burguesia é a classe social que está do


lado oposto do proletariado, é a classe social, do regime capitalista,
que abrange todos os grupos ou indivíduos cujos interesses
se identificam com os dos possuidores de capital, ou seja, dos
comerciantes, industriais, banqueiros, os proprietários de terras,
os possuidores de riqueza e dos meios de produção.
Proletariado – é a classe dos proletários, é a classe dos operários,
constituída de indivíduos que se caracterizam pela sua condição
permanente de assalariados e pelos seus modos de vida e atitudes
decorrentes de tal situação.

Figura 2 – Esquema do momento emblemático da luta de classe

Luta de Classes

Burguesia Proletariado

Sociedade Cultura Economia Política

Fonte: Autoras.

Com o surgimento da revolução industrial e o desenvolvimento econômico e social,


teve início uma mobilização social, vindo a delinear o perfil da burguesia. Essas
transições ocorridas “numa sociedade economicamente e politicamente turbulenta,
estão ideologicamente impregnadas também na sua cultura. Nessa conjuntura, o ato
de educar se torna um mecanismo de controle (para a burguesia) e de emancipação
social (para o povo)” (CAMBI, 1999, p.492).

educação do campo | Teorias da Educação · 13


3 saiba mais: A Revolução industrial foi um conjunto de mudanças
que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal
particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho
artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas.

No cenário da educação, esse atrito entre classes deu vazão ao surgimento de


pedagogias diferenciadas, com modelos e orientações diversas sempre altamente
imbuídas em todas as vertentes e etapas da pedagogia do século XIX (SAVIANI, 1997).
É dentro desse contexto que a ideia de liberdade defendida por pensadores como
Pestalozzi, Fichte e Fröbel (Cambi, 1999), conforme Quadro 1, se torna o indicador
sociopolítico e, por conseguinte, ideológico da educação.

2 interatividade: Pedagogia Diferenciada: http://www.apagina.


pt/?aba=7&cat=542&doc=14893&mid=2
Pestalozzi e a revolução da educação brasileira: https://www.
cartacapital.com.br/blogs/vanguardas-do-conhecimento/
pestalozzi-e-a-revolucao-da-educacao-brasileira
Johann Gottlieb Fichte – Pensamentos e Reflexões: http://
paxprofundis.org/livros/fichte/fichte.htm

Quadro 1 – Ideologias sobre a pedagogia do século XIX, na visão de Pestalozzi, Fichte e Fröbel

PARADIGMAS

14 ·
Fonte: Adaptado de Cambi (1999).

Em conformidade com Manacorda (2001) é neste contexto delineado por obstáculos


políticos e sociais que se desenvolve mudanças no pensar didático e pedagógico entre
iniciativas da burguesia (conservadora) e os anseios do proletariado (que buscavam
mudanças). O autor ainda evidencia que este duelo influencia todas as esferas e níveis
da educação, desde a instrução até as escolas infantis, elementares e secundárias.
Essa constatação entrelaça ainda o problema referente aos conteúdos e ao método,
que estão condicionados ao progresso das ciências. Assim, na evolução histórica
do período, estão implícitas mudanças oriundas das experiências vividas durante
o mesmo na sua aplicabilidade.
Além disso, Andrade et al. (2012) nos diz que:

O acesso à instrução, a atribuição da responsabilidade do esta-


do e a separação da mesma em relação à igreja se configuram
como aspectos importantes no desenvolvimento educativo dos
Oitocentos. Essas tensões aludem a relação entre educação e
sociedade, indicando que o debate pedagógico estava intima-
mente ligado ao conflito sociopolítico, e ambos resultados de
contradições e causadores de outras ainda por vir. (ANDRADE
et al., 2012, p. 178)

2 interatividade: A Educação nos Oitocentos


http://falandosobreahistoriadaesducacao.blogspot.com.
br/2015/06/a-educacao-no-oitocentos.html
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS
http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/
viewFile/4389/3311>

De acordo com Cambi (1999, p. 410), “entre positivismo e socialismo, a ideologização


da pedagogia torna-se ainda mais forte e, sobretudo, mais explícita”. Ainda segun-
do ele a pedagogia é herdeira da sociologia, assumindo a tendência de socializar
o homem de acordo com modelos funcionais para uma determinada sociedade.
Em contrapartida, no segundo caso a pedagogia é desnudada no seu teor
ideológico da liberdade. A tônica dessas evidências está inserida, portanto, nos

educação do campo | Teorias da Educação · 15


processos de “ideologização” expostos por Cambi (1999), que também aponta que
tal situação é oriunda da posição central da educação no reordenamento social
dos grupos e classes sociais.
Conforme o ponto de vista de Cambi (1999), vê-se que essa questão da ideologia
constitui um aspecto importante e central da pedagogia do século XIX. A rigor, o
autor declara que “estamos diante de uma pedagogia bastante crítica em relação
às ideologias e às estruturas da sociedade moderna” (1999, p. 412).
Outro ponto essencial na afirmação da pedagogia nos Oitocentos é sua reformu-
lação enquanto saber científico e a reorganização técnica da escola como instituição.
Em vista disso, Cambi (1999, p. 414) resume o século XIX como “bastante rico em
modelos formativos, em teorizações pedagógicas, em compromisso educativo e
reformismo escolar, em vista justamente de um crescimento social a realizar-se
da maneira menos conflituosa possível e da forma mais geral”.
Mais ainda, é característica resistente da pedagogia no século XIX, o embate
teórico e a contribuição de pensadores como Hegel – historicista, e Herbart – rea-
lista, conforme Quadro 2, avessos ao romantismo de Pestalozzi, Schiller e Fröbel.

3 saiba mais: Historicismo, também conhecido como Historismo,


afirma que há uma sucessão orgânica da evolução, e que as
condições e peculiaridades locais influenciam os resultados de
uma forma decisiva.
Historicismo: http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-
geral/historicismo

Quadro 2 – Contribuições de Hegel e Herbart para a pedagogia do século XIX

16 ·
Fonte: Adaptado de Cambi (1999).

A pluralidade de ideias e teorias caracteriza o pensamento pedagógico, em várias


partes do mundo, vinculado às particularidades do contexto a qual pertence. Na
Inglaterra, França, Alemanha, Itália, conforme Figura 3, a atividade pedagógica
educativa foi posta em prática, expondo em diversos níveis as relações entre
educação, sociedade e política.

Figura 3 – Países em que a atividade pedagógica educativa foi posta em prática

Fonte: Adaptada pelas autoras Domínio Público/Marcada como reutilização e disponível para modi-
ficação. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial#/media/File:Cou-
ntries_of_Europe-pt2.svg>. Acesso em: 09/07/2018.

educação do campo | Teorias da Educação · 17


Cambi (1999) nos diz que os Oitocentos foram marcados com a consolidação da
sociedade industrial na Europa. Conforme apontamos acima, os diversos países
europeus vivenciaram transições e alternâncias em padrões particulares para cada
um. Embora com intensidades diferentes, a Europa atravessou “um processo de
redefinição dos objetivos e dos instrumentos da pedagogia” (CAMBI, 1999, p. 465).
A propagação das tendências psicológicas, sociológicas e científicas conduziu
por diversas vezes o enfoque dado à atividade educativa e pedagógica, logo, são
concedidos novos papéis de atuação social e político, assumindo a finalidade de
formação do cidadão embasada em preceitos cientificistas (MONROE, 1979).
A relação entre educação e a industrialização da sociedade se dá no contraste
entre o socialismo e o positivismo. Conforme já mencionamos anteriormente, a
contraposição entre burguesia e proletariado esboça a dicotomia entre o positi-
vismo e o socialismo, representado na Figura 4. Assim para Cambi (1999), esses
dois modelos representam o conflito entre classes que está no cerne da sociedade
industrial. Logo, a pedagogia veste-se das interpretações destas duas correntes,
mudando seu enfoque de acordo com as referências de cada uma.

4 termo do glossário: dicotomia é a divisão de um elemento


em duas partes, em geral contrárias, como a noite e o dia, o bem
e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno etc.

Figura 4 – Contraposição entre burguesia e proletariado

Burguesia Proletariado

Dicotomia

Positivismo Socialismo

Fonte: Autoras

Iskandar e Leal (2002) apontam que as mudanças nos questionamentos educati-


vos e pedagógicos fizeram com que o positivismo e o socialismo mudassem suas
configurações de abordagens. Ainda segundo os autores, a discussão e o debate da
pesquisa pedagógica impelem em um nível variado e diverso, onde seus modelos
explicativos, métodos e objetivos estão ordenados de acordo com o ambiente so-
cioeconômico e histórico, conforme Figura 5.

18 ·
Figura 5 – Abordagens educativas pedagógicas

Positivismo Socialismo

Ascensão
Social

Pesquisa
Pedagógica

Modelos Explicativos Métodos Objetivos

Contexto socioeconômico
e histórico

Fonte: Autoras

A propagação do positivismo pela Europa ungiu correntes heterogêneas na In-


glaterra, Itália e França, vindo a funcionar como incubadora de abordagens e a
criar novas perspectivas, difundindo o positivismo pela Europa (SANTOS, 2012).
Logo, percebe-se que a evolução das teorias e práticas educativas e pedagógicas
estavam em sintonia com as características de cada país, porém, resguardaram-se
semelhança que convergiam para instituí-las enquanto ciência.

3 saiba mais: mistura é um sistema formado por duas ou mais


substâncias puras, chamadas componentes. As misturas podem
ser classificadas em homogêneas e heterogêneas. A diferença entre
elas é que a mistura homogênea é uma solução que apresenta
uma única fase enquanto a heterogênea pode apresentar duas
ou mais fases.

A evidência e a participação desses países europeus dentro da conjuntura inter-


nacional no século XIX, muito se deve por eles terem se destacado nesse período
na parte pedagógica e educativa.
Colocada à prova pela aplicação de suas ideias e procedimentos, a pedagogia e a
educação foram modelando-se de forma a estabelecer a importância da instrução;
• Delimitar os parâmetros que regem os conteúdos escolares;
• Observar as dinâmicas sociais de modo a alinhar seus objetivos e adequar as
estruturas e os programas escolares.
Ao longo do século XIX, para Saviani (2007) a pedagogia moderna modela-se e
começa a atuar junto com a organização de instituições voltadas para a educação,
assim, a estruturação de um sistema e sua administração da instituição-escola sofre
uma reavaliação da sua prática didática.

educação do campo | Teorias da Educação · 19


Eis que, esse processo de desenvolvimento vem a assemelhar-se com à evolução
das abordagens, teorias e práticas educativas. Cambi (1999, p. 492) aponta que
houve “um crescimento social da escola, um desenvolvimento na sua organização,
um papel político mais forte.”
Outro aspecto relevante da pedagogia no século XIX é o surgimento da pedago-
gia científica e da experimental. Para Cambi (1999, p. 498) “esse acontecimento é
enriquecedor por promoverem uma cisma com a filosofia e a política, ao mesmo
tempo em que as relacionam com a fisiologia, antropologia e psicologia”. Tal prática
proporciona à pedagogia a renovação dos seus conteúdos e métodos, fazendo uso
do paradigma científico, indutivo e experimental, conforme o Quadro 3.
Quadro 3 – Conceitos de paradigma científico, indutivo e experimental

PARADIGMAS CONCEITOS

Segundo Kuhn, os “paradigmas são as realizações


científicas universalmente reconhecidas que, durante
algum tempo, fornecem problemas e soluções mode-
Paradigma Científico
lares para uma comunidade de praticantes de uma
ciência” (Kuhn, 1991,p.13).

O aprendizado indutivo é um processo de aquisição de


conhecimento pela extração de inferências indutivas
Paradigma Indutivo
de um educador ou fatos providos pelo ambiente. Esta
é uma das mais comuns formas de aprendizado.

Ocorre por uma determinada investigação, necessi-


Paradigma Experimental tando de métodos e de uma causa, constituindo assim,
o caminho para chegar ao que se quer saber.

Fonte: Adaptado de Kuhn (1991).

Por fim, podemos por meio do estudo sobre o século XIX, discorrer que ele foi
norteado por uma série de tensões e crises. Conforme foi dito anteriormente,
as convulsões implicadas pelos atritos entre burguesia e proletariado atingem
seu clímax e colaboram para o surgimento das bipolarizações (esquerda, direita,
internacionalismo e colonialismo, e etc.). Também neste cenário se dá uma série
de renovações no âmbito da cultura, influenciando em um distanciamento das
correntes defendidas ao longo dos Oitocentos: Idealismo, positivismo, entre outros.

3 saiba mais: ao idealismo da primeira metade do século XIX se


segue o positivismo, que ocupa, mais ou menos, a segunda
metade do mesmo século, espalhado em todo o mundo civilizado.

20 ·
O positivismo representa uma reação contra o apriorismo, o
formalismo, o idealismo, exigindo maior respeito para a
experiência e os dados positivos.

A pedagogia e a educação se encontram envolvidas nessa agitação cultural, resultado


de séculos de indisposições, atritos e mudanças nos diferentes estratos da sociedade.
Todo esse contexto em ebulição é condição determinante para o surgimento e a
constante renovação das correntes educativas e pedagógicas.

2 interatividade: Filme Educação Século XIX – https://www.


youtube.com/watch?v=dM3QVib5iMM

educação do campo | Teorias da Educação · 21


1.2
O SÉCULO XX ATÉ OS ANOS 50.
“ESCOLAS NOVAS” E IDEOLOGIA
DA EDUCAÇÃO
Para Cambi (1999), as escolas novas no século XX, inspiradas em ideais de partici-
pação ativa na vida social e política, juntamente com suas propostas radicais de
transformação, rompiam com aquele antigo ideal de educação formal, disciplinar,
do tipo positivista. Chamou-se este novo ato de educar de pedagogia ativista, que
detinha este propósito liberal.

2 interatividade: pedagogia ativista – http://pedagogiaativista.


blogspot.com.br/

Ainda na visão de Cambi (1999), a difusão destas escolas se deu de forma predo-
minante na Europa ocidental e nos Estados Unidos, que se basearam, a priori, na
criança para reformar os métodos e técnicas utilizados pelos educadores nas escolas,
além disso, o estabelecimento de ideais, com os quais as crianças são instruídas
muito além da instituição e do ambiente familiar. Assim, propondo mudanças no
aprendizado, em que a criança deve ter contato com o meio social, práticas inte-
lectuais (conhecimento/teorias/fundamento), fazendo disso uma simbiose para
o melhor sistema de aprendizado.
Esta questão é discutida inicialmente na Inglaterra, segue para a França, Ale-
manha, Itália, Áustria, Espanha, entre outros. Nas pesquisas de Cambi (1999), as
escolas novas e as novas ideologias de educação se repercutiram de canto a canto
no mundo, percorrendo longos caminhos e não passando desapercebida por uma
variedade de autores, assim, ganharam grandes proporções até os dias atuais.
Consequentemente, constatamos que este vasto percurso da educação pro-
moveu diversificadas visões em relação ao campo educacional, assim são citados
diversos autores de extrema contribuição para esta propagação, que obtiveram em
comum o objeto de estudo, renovação pedagógica, propostas das escolas novas e
o estudo da criança. Porém, se utilizaram de metodologias independentes, que os
diferenciavam e os destacavam em maior ou menor proporção.
Consideramos assim, importante salientar Cecil Reddie, conforme Figura 6,
que fundamentava no ensino mudanças necessárias para que, o indivíduo se tor-
nasse adequado às regras da sociedade moderna. Para isso (Cambi, 1999, p. 515)
afirma que “a instituição formal, a escola, deve tornar-se um mundo real e prático,
associando a capacidade intelectual, energia, força física, agilidade e habilidade
manual. A fim de formar um cidadão capaz de cumprir com todas as exigências da
sociedade e os objetivos da vida”.

22 ·
Figura 6 – O filósofo e educador Cecil Reddie

Dr Cecil Reddie
(1858 - 1932)

Cria em 1889 a primeira escola nova, na Inglater-


ra, chamada Abbotsholme, que traz por denomi-
nação justamente essa, “New School”. Seu
propósito era reformar a educação dos clássicos
colégios ingleses, que detinham caráteracadêmi-
co e clássico, disciplinas rígidas, baseada na
competição individual, abandono de atividades
manuais e de matérias científicas e técnicas.
(LUZURIAGA, 1987, p. 230)

Fonte: Adaptado de Luzuriaga (1987).

Segundo Souza (2011), Cambi em seus estudos e pesquisas nos esclarece não só a
grande importância da função escolar para a formação do educando, no sentido
epistemológico e moral do mesmo, partindo da ideia de que se torna necessário
estarmos sempre em dialética assim como o universo, como é tanto quanto neces-
sário modificarmos por completo, ou pelo menos tentar modificar. É necessário
modificar e modernizar as instituições, as relações entre educador e educando,
assim como, de modo geral, indivíduo-sociedade.
Dessa forma Souza nos diz que:

É necessário um trabalho árduo e contínuo, para que a pre-


paração das novas gerações seja feita de maneira satisfatória,
tornando o homem mais conhecedor de si e preparado o su-
ficiente para lhe dar com a realidade. Ratificando, portanto, o
que é exposto mais acima, a escola deve tornar-se um mundo
real e prático. (SOUZA, 2011, s/p.)

Mas Souza (2011) também acredita que o papel do educador torna-se cada vez
mais desafiador, no sentido de tentar inovar suas aulas, suas metodologias e mais
além, buscando novas práticas, levando para o contexto escolar algo que provoque
e desperte o educando para os estudos.
Outro aspecto que acredita-se relevante é lembrado por Cambi (1999), quando
destaca as propostas de socialização e de ativa colaboração entre os próprios indi-
víduos, nas escolas fundadas por Edmond Demolins, conforme Figura 7.
Assim, estes processos de ações comunicativas devem sim ser amplamente
incentivados pelos indivíduos e pelas instituições escolares para a organização da
vida comum, com propósito de vida harmônica entre os meios, que até nos diver-
gem, e os indivíduos que acabam por se integrar no contexto social.

educação do campo | Teorias da Educação · 23


Figura 7 – O filósofo, sociólogo e educador Edmond Demolins

Edmond Demolins
(1852 - 1907)

Sociólogo francês, inspirador na frança, por


provocar um movimento com a obra “Em que
consiste a superioridade dos anglo-saxões?”
publicada em 1897; e fundador da “École des
Roches”. (LUZURIAGA, 1987, p. 233)

Fonte: Adaptado de Luzuriaga (1987).

Desta forma para Souza:

O trabalho também é um instrumento importante para a cons-


trução gradativa do homem, livrando-o da ociosidade em meio
à prática experimental como para as relações interpessoais, com
aquele propósito de socialização. Por isso, é sempre de grande
relevância salientar que as novas instituições inovem também
neste sentido, de elaboração de atividades grupais, realização
de práticas e teorias no ensino, mas sempre incentivando o
trabalho coletivo. (SOUZA, 2011, s/p.)

O idealismo se intera com suas novas teorias pedagógicas, "capazes de repensar


de modo novo e radical a identidade e o papel cultural e político da pedagogia"
(CAMBI, 1999, p.534).
A pedagogia no século XX é reestruturada e renovada no que se refere ao seu pla-
no teórico, conforme Figura 8, fazendo assim, surgir um novo modelo pedagógico
onde a filosofia e a ciência, principalmente como pesquisa experimental ganham
espaço. Portanto, educação nova consiste em uma "corrente que trata de mudar o
rumo da educação tradicional, intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e
ativo" (LUZURIAGA, 1987, p. 227).

Figura 8 – Pedagogia reestruturada e renovada no século XX

Pedagogia

Filosofia Ciência

Pesquisa Experimental

Fonte: Autoras.

24 ·
O filósofo e educador John Dewey se tornou um grande nome devido às suas
propostas a cerca de uma teoria empírica, e sua pedagogia caracterizada por um
pragmatismo associado entre as teorias e as práticas.

3 saiba mais: pragmatismo – corrente de ideias que prega que a


validade de uma doutrina é determinada pelo seu bom êxito
prático aplicado ao movimento filosófico norte-americano
baseado em ideias de Charles Sanders Peirce (1839-1914) e William
James (1842-1910).

Figura 9 – O filósofo e educador John Dewey

Ele foi o maior pedagogo do século XX, o seu


pensamento pedagógico foi o mais amplo
possível, trabalhou a educação nova de forma
crítica, delineando suas deficiências, e comple-
xa por isso. (CAMBI, 1999)
O filósofo norte-americano defendia a demo-
cracia e a liberdade de pensamento como
instrumentos para a maturação emocional e
intelectual das crianças. A experiência educati-
va é, para Dewey, reflexiva, resultando em
novos conhecimentos.
John Dewey
(1859 - 1952)

Fonte: Adaptado de Cambi (1999).

Segundo Larroyo (1989), em suas referências também constata-se a educação nova, a


partir da criação das escolas novas, que superaram as escolas memoristas e livrescas
com seu conceito intelectualista da educação. As escolas novas se manifestaram
promovendo importantes transformações sociais, mediante trabalhos manuais e
técnicos, assim, elas tornaram-se órgão de coordenação de toda obra educativa,
favoreceram a pedagogia experimental, os estudos da criança e a comprovação
objetiva do trabalho escolar, entre outros.

2 interatividade: especificando a validade do estudo sobre


memorialistas através do uso da teoria da consciência histórica.
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300879525_
ARQUIVO_textoanpuh.pdf

Larroyo (1989), lembra-nos que mesmo com o surgimento das escolas novas do
século XIX/XX, estas não foram as primeiras instituições docentes criadas com este
propósito de renovar a educação. Ele cita diversas escolas em sua pesquisa que ha-
viam se manifestado para este fim, porém, se preocupou em estudar as instituições
mais atuais sobre este assunto.
As escolas novas que obtiveram êxito em seus ensaios, para tais modificações

educação do campo | Teorias da Educação · 25


educacionais, tinham objetivos em comum e propunham, além das transformações
radicais e progressistas da educação, o princípio de liberdade da criança e do adoles-
cente em contato com a vida, com o meio social fora e mesmo do ambiente familiar.

2 interatividade: Educação: Método Renovado


https://www.infoescola.com/pedagogia/educacao-metodo-
renovado/

Assim, foi criado o chamado boarding house (Veja a Figura 10), onde a educação de
grupos de alunos vivendo em casas separadas seria de extrema importância na ajuda
da construção de um ser voltado para a sociedade, que tivesse uma visão de mundo
abrangente, sem falar no processo de integração do indivíduo ao meio, devido a isto
tornava-se cada vez mais contundente a perspectiva de acabar com os internatos
da época. Desta forma, a citação abaixo bem justifica o que expomos acima. "As
mais importantes características das últimas escolas era a ideia de educação em
comunidade sobre a base de um regime autônomo pelo qual se governavam mestres
e alunos". (LARROYO, 1989, p.718)

Figura 10 – Boarding House

Fonte: NTE/UFSM.

Contudo, considera-se que a educação nova com sua proposta emancipatória, de


preparar o indivíduo desde cedo para a vida em sociedade através dos processos
de socialização, de tentativa de igualdade entre os membros, inclusos dentro de
uma proposta democrática, tem acarretado melhoras para o contexto educacional.

26 ·
Esta nova roupagem das escolas vem promovendo uma redefinição na pedago-
gia tornando os processos educativos mais articulados, as finalidades pedagógicas
destinadas a formar cidadãos críticos e conscientes, as instituições educativas es-
timuladoras do desenvolvimento e dos ideais formativos, sendo desta forma total-
mente contrária quele modelo de pedagogia tradicional, de educação conteudista,
conforme Quadro 4.

quadro 4 – Ideias das escolas tradicionais e nova.

Fonte: Autoras.

Conclui-se então, que a educação nova veio de forma a transformar o pensamento


dos próprios indivíduos de maneira a ser um grande ponto de partida para trans-
formar não somente o campo educacional, mas também a sociedade. É a partir de
uma junção destes aspectos sociais que ocorrerá o desenvolvimento do meio social,
a evolução das técnicas, da modernidade e as transformações educativas.

educação do campo | Teorias da Educação · 27


1.3
A SEGUNDA METADE DO SÉCULO
XX: CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
E EMPENHO MUNDIAL DA
PEDAGOGIA
Na segunda metade do século XX, a pedagogia passou por uma grande transfor-
mação, impondo-se em âmbito mundial, redefinindo a sua identidade, renovando
seus limites e deslocado o seu eixo epistemológico. A pedagogia logo passa a ser
uma Ciência da Educação, de um saber único e fechado para um saber aberto e
amplo (CAMBI, 1999). Representado na Figura 11 a seguir.

3 saiba mais: Epistemologia (do grego


nhecimento científico, ciência;
[episteme]: co-
[logos]: discurso, estudo
de) é o ramo da filosofia que trata da natureza, etapas e limites
do conhecimento humano, especialmente nas relações que se
estabelecem entre o sujeito e o objeto do conhecimento.

Figura 11 – Pedagogia uma ciência da educação

Pedagogia Ciência da Educação

Saber único e fechado Saber amplo e aberto

Fonte: Autoras.

Tratou-se de uma revolução do saber educativo, colocando um ponto final ao


retrocesso da pedagogia, o qual não era mais possível regredir no tempo. Com a
sociedade cada vez mais dinâmica, se fez necessário a busca e aperfeiçoamento do
indivíduo inovado, com formação técnica e aberto para novos saberes, capazes de
enfrentar uma sociedade em evolução tecnológica, sociais e culturais. Porém, para
formar esse ser é necessário um novo saber pedagógico, com novas experimen-
tações, mais empírico, problemático e que esteja aberto a novos conhecimentos.

Mas como definir essa passagem?

Segundo Cambi (1999) a pedagogia definiu-se assim:


• Com o declínio da pedagogia, como saber unitário da educação;

28 ·
• Com a afirmação de muitas disciplinas auxiliares construtivas do saber pe-
dagógico;
• Com o exercício de um controle reflexivo sobre a multiplicidade de saberes,
em geral, com a filosofia desenvolvendo um papel político, social e cultural.

A pedagogia ainda pode ser definida conforme a Figura 12

Figura 12 – Definição de Pedagogia

Pedagogia

Pedagogia aberta Disciplinas Auxiliares Multiplicidade


e ampla de Saberes

Fonte: Autoras.

Logo, após a pedagogia entrar em crise ela passou a ter saberes especializados, rees-
crevendo sua identidade, desaparecendo o saber que hora era filosófico e hora era
científico. Agregando de modo pragmático ou normativo as diversas contribuições
filosóficas e/ou científicas, coordenando-as de maneira coerente, fazendo valer
assim a educação que levava o nome de pedagogia.

4 termo do glossário: Pragmático – que contém considerações


de ordem prática; prático, realista, objetivo.
Normativo – relativo a norma ('regra', 'preceito').

Porém, segundo Cambi:

Esse saber desaparece com o único referente da educação e


dos seus problemas, mas não é eliminado, se deslocando para
o terreno da reflexão epistemológica e histórica em torno de
tais problemas e se põe doravante depois/além das ciências da
educação, redefinindo-se como filosofia da educação. (CAMBI,
1999, p. 596)

4 termo do glossário: Doravante – de agora em diante; em


direção ao futuro.

Portanto, a filosofia da educação é um setor que é único, talvez o mais fundamental


do saber pedagógico, assim, não pode competir ou invadir a ciência da educação,
da mesma forma, a filosofia da educação tem os seus métodos e objetivos próprios.
Cambi (1999) defende que a pedagogia está hoje transcrita em grande parte nas
ciências da educação e só partindo dela que se pode enfrentar os problemas que
a educação enfrenta.

educação do campo | Teorias da Educação · 29


A ciência, logo vem compor o leque das ciências da educação ou também co-
nhecida e chamada por enciclopédia pedagógica, conforme Figura 13.

Figura 13 – Conceito de ciência da educação

Ciências Ciências da Educação ou Enciclopédia Pedagógica

Constituídos por todos os saberes especializados


e autonomamente estabelecidos, dando conta de
enfrentar uma sociedade que possui conceitos e
tradições e que precisam e devem aprender
técnicas.

Fonte: Autoras.

E o que muda? O saber pedagógico, que vem se configurando como um saber


hipercomplexo, constituído de muitos elementos, levando a reflexão e também
sendo capaz de ser levado a uma autorreflexão. Segundo Cambi (1999) a hiper-
complexidade é:
• Dada pelo ato de modificar, ampliar e aumentar setores que o compõem;
• Pelo entusiasmo de seus vínculos;
• Metacontrole que deve ser ativado no discurso de transformações e dinamismo.

Cambi (1999) também nos fala da importância da centralidade da reflexão filo-


sófica, conforme Figura 14, que se dispõe como fronteira imprescindível de toda
a compreensão pedagógica.

Figura 14 – Centralidade da Reflexão Filosófica

Rigorização lógico científica


Epistemologia
e filosófica do discurso

Escolha de valores guia


Axiologia para a elaboração pedagógica
e educativa

Fonte: Adaptado de Cambi (1999).

A filosofia da educação, exerce um papel importante na pedagogia, mas certamente


não é ela que vai resolver os problemas e nem indicar soluções.
Ainda para Cambi (1999) essa passagem da pedagogia às ciências da educação é
um caminho sem retorno, visto que, é impossível pensar nos problemas educativos

30 ·
na forma tradicional, ligado a um saber pragmático e normativo ao mesmo tempo.
Para o autor a pedagogia foi reescrita em termos empíricos, articulando sobre várias
ciências e que sobre tudo predispôs um saber tecnicamente mais eficaz, pensando
na experiência e pela experiência, vivendo uma estreita relação com a prática.

3 saiba mais: empírico é um fato que se apoia somente em ex-


periências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e
métodos científicos. Empírico é aquele conhecimento adquirido
durante toda a vida, no dia-a-dia, que não tem comprovação
científica nenhuma.

educação do campo | Teorias da Educação · 31


1.4
AS IDEIAS PEDAGÓGICAS NO
BRASIL ENTRE 1969 E 2001
Nesta subunidade abordaremos sobre as ideias pedagógicas no Brasil entre os anos
de 1969 a 2001, para tanto a Figura 15 ilustra os principais tópicos abordados no
decorrer deste estudo.

Figura 15 – A ideias pedagógicas no Brasil entre 1969 e 2001

Fonte: Autoras.

Este período da pedagogia no Brasil entre 1969 e 2001, subdivide-se em três mo-
mentos, os quais veremos a seguir.

Primeiro Período
O primeiro período está relacionado entre 1969 e 1980. Onde é debatido inten-
samente a pedagogia tecnicista, explicado melhor na Figura 16. Eis que, começa-se
discutindo a questão a partir do movimento editorial, logo em seguida, aprofunda-
-se a análise ao examinar o papel desempenhado por Valnir Chagas nas reformas
educacionais empreendidas pela ditadura militar e ao caracterizar a concepção
pedagógica tecnicista (ALVEZ, 2008).

2 interatividade: OS ESTUDOS SOCIAIS E A REFORMA DE ENSINO


DE 1º E 2º GRAUS: A “DOUTRINA DO NÚCLEO COMUM”: http://www.
snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1439700335_ARQUIVO_
OSESTUDOSSOCIAISEAREFORMADEENSINODE1E2GRAUS.pdf
Valnir Chagas: http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/me4717.pdf

32 ·
Figura 16 – Pedagogia Tecnicista

Pedagogia Tecnista
É uma linha de ensino, adotada por volta de 1970,
que privilegiava excessivamente a tecnologia educa-
cional e transformava educadores e educandos em
meros executores e receptores de projetos elabora-
dos de forma autoritária e sem qualquer vínculo com
o contexto social a que se destinavam. Além de
apresentar características autoritárias, a pedagogia
tecnicista pode ser considerada não-dialógica, ou
seja, ao aluno cabe assimilar passivamente os conte-
údos transmitidos pelo educador. Essa pedagogia
difere da progressista que privilegia a formação de
cidadãos participativos e conscientes da sociedade
em que vivem.

Fonte: Adaptado de Menezes e Santos (2001).

Segundo Saviani:

No pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos prin-


cípios de racionalidade, eficiência e produtividade, a pedagogia
tecnicista advoga a reordenação do processo educativo de ma-
neira que o torne objetivo e operacional. De modo semelhante
ao que ocorreu no trabalho fabril, pretende-se a objetivação do
trabalho pedagógico. (SAVIANI, 2007, p. 379)

A questão conclui-se com o exame da visão crítico-reprodutivista, que pretendeu


"fazer a crítica da educação dominante, pondo em evidência as funções reais da
política educacional que, entretanto, eram acobertadas pelo discurso político-pe-
dagógico oficial" (SAVIANI, 2007 p. 390). O qual foram expostas as ideias básicas de
seus inspiradores, Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet, além de Althusser, e
indicadas as obras de Luiz Antonio Cunha e Bárbara Freitag que, no Brasil, expres-
saram essa tendência (SAVIANI, 2007).

2 interatividade: a escola segundo BOURDIEU e PASSERON https://


carolcampos.wordpress.com/2009/08/12/a-escola-segundo-
bourdieu-e-passeron/

Entrevista com Christian Baudelot e Roger Establet: http://www.scielo.


br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702008000100009

Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado – Louis Althusser: uma


resenha: http://colunastortas.com.br/2017/06/19/ideologia-e-
aparelhos-ideologicos-de-estado-louis-althusser-uma-resenha/

educação do campo | Teorias da Educação · 33


O DESENVOLVIMENTO MEANDROSO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
ENTRE O ESTADO E O MERCADO: http://www.scielo.br/pdf/es/
v28n100/a0928100.pdf

Bárbara Freitag e Sérgio Paulo Rouanet 18 Agosto 2014 – Vídeo


YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=DJiXI0ahDJ8

Segundo Período
O segundo momento envolve o período que se desenrola entre 1980 e 1991,
devota-se ao estudo das experiências pedagógicas iniciadas pelas pedagogias críti-
cas, daí o subtítulo ensaios contra hegemônicos. No conjunto, descreve as formas
assumidas pelas mobilizações de educadores, pela organização política no campo
educacional, bem como pela circulação das ideias pedagógicas (ALVEZ, 2008).

3 saiba mais: Pedagogia Crítica – a Pedagogia crítica é uma filosofia


educacional descrita por Henry Giroux como um movimento
educacional, guiado por paixão e princípio, para ajudar estu-
dantes a desenvolverem consciência de liberdade, reconhecer
tendências autoritárias, e conectar o conhecimento ao poder e
à habilidade de tomar atitudes construtivas.

Hegemônico – a supremacia de um povo sobre outros, seja


através da introdução de sua cultura ou por meios militares.
Conceito foi formulado por Antonio Gramsci para descrever o
tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra,
particularmente da burguesia sobre o proletariado e outras
classes de trabalhadores.

2 interatividade: TEORIAS PEDAGÓGICAS CONTRA-HEGEMÔNICAS


NO BRASIL: http://e-revista.unioeste.br/index.php/ideacao/
article/view/4465

No Quadro 5 apresenta-se as entidades com suas respectivas siglas, surgidas no


processo de luta dos educadores (ALVEZ, 2008).
Quadro 5 – Entidades criadas no período de 1980 a 1991.

ENTIDADE SIGLA

Associação Nacional de Educação ANDE

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação ANPED

Centro de Estudos Educação e Sociedade CEDES

Confederação de Professores do Brasil CPB


34 ·

Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação CNTE


Centro de Estudos Educação e Sociedade CEDES

Confederação de Professores do Brasil CPB

Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação CNTE

Associação Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior ANDES

Federação de Sindicatos de Trabalhadores de Universidades Brasileiras FASUBRA

Central Única dos Trabalhadores CUT

Fonte: Adaptado de Alvez (2008).

Dessa forma, houve o fortalecimento dessas entidades, bem como o fortalecimento


também da produção científica comprometida com "a construção de uma escola
pública de qualidade" e a sua difusão (SAVIANI, 2002, p. 402).
Assim Saviani, refere-se à produção científica como:

A criação de revistas científicas por muitas dessas organizações


emergentes e aos eventos científicos promovidos por algumas
delas. São os casos, por exemplo, das revistas da ANDE, do CEDES
e da ANPEd. São os casos, também, das Conferências Brasileiras
de Educação (CBE), promovidas entre 1980 e 1991 por essas três
entidades, e das reuniões anuais da ANPEd. (SAVIANI, 2002, p. 402).

Em Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina, desde 1982,
tornou-se necessário reconhecer as intensas mobilizações dos educadores na dé-
cada de 1980, logo precisou-se reconhecer a importância das medidas de política
educacional tomadas por governos de oposição (ALVEZ, 2008). Mesmo que tenham
sido marcadas pela descontinuidade, essas medidas "devem ser contabilizadas
como ganhos da década perdida'" (SAVIANI, 2002, p. 405).
Contudo, são ressaltadas as pedagogias da educação popular, que em suas
análises substituíam a categoria "classe" pela categoria "povo" e concebiam "a
autonomia popular de uma forma um tanto metafísica", descolada de "condições
histórico-políticas determinadas" (SAVIANI, 2002, p. 413-414).

2 interatividade: Saviani – Pós-Graduação, Pedagogia


e Movimentos Sociais na luta pela Educação Popular:
https://www.youtube.com/watch?v=6BfmCA9S22U

Na gestão do Partido dos Trabalhadores (PT), a educação ganhou lugar elevado e


importante. Foram declaradas e reveladas também, as "pedagogias da prática",
inspiradas em princípios anarquistas, cujos principais interlocutores são Oder
José dos Santos, Miguel Gonzáles Arroyo e Maurício Tragtenberg. Recebe menção,

educação do campo | Teorias da Educação · 35


igualmente, a "pedagogia crítico-social dos conteúdos", formulada por José Carlos
Libâneo (ALVEZ, 2008).
Assim, para Saviani (2002, p. 416), mesmo reconhecendo outros resultados na
pedagogia “inspira-se diretamente em Georges Snyders que sustenta a primazia
dos conteúdos como critério para distinguir as pedagogias entre si, logo para distin-
guir uma pedagogia progressista ou de esquerda de uma pedagogia conservadora,
reacionária ou fascista”.

2 interatividade: Contribuições de Georges Snyders para


a pedagogia universitária: http://www.scielo.br/pdf/ep/
v43n2/1517-9702-ep-S1517-9702201605141169.pdf
Georges Snyders: em busca da alegria na escola: https://periodicos.
ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/10528/10074

Logo, Saviani (2002) analisa a pedagogia histórico-crítica, resumindo sua própria


concepção e sua proposta de educação para a contemporaneidade. Vindo a estudar
as origens dessa concepção, situando-as em escritos do início da década de 1980,
e seu desenvolvimento até consolidar-se na forma de primeiras aproximações
em 1991 (SAVANI, 2002).

2 interatividade: DERMEVAL SAVIANI – a pedagogia histórico-


crítica: https://www.youtube.com/watch?v=13ojrNgMChk

Saviani (2002) resume sua forma de entender a "pedagogia histórico-crítica" da


seguinte forma:

[...] a pedagogia histórico-crítica é tributária da concepção dialé-


tica, especificamente na versão do materialismo histórico, tendo
fortes afinidades, no que se refere às suas bases psicológicas,
com a psicologia histórico-cultural desenvolvida pela Escola
de Vigotski. A educação é entendida como o ato de produzir,
direta e indiretamente, em cada indivíduo singular, a humani-
dade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto
dos homens. Em outros termos, isso significa que a educação
é entendida como mediação no seio da prática social global.
A prática social põe-se, portanto, como o ponto de partida e o
ponto de chegada da prática educativa. Daí ocorre um método
pedagógico que parte da prática social em que o professor e aluno
se encontram igualmente inseridos, ocupando, porém, posições
distintas, condição para que travem uma relação fecunda na
compreensão e no encaminhamento da solução dos problemas
postos pela prática social. Aos momentos intermediários do mé-
todo cabe identificar as questões suscitadas pela prática social
(problematização), dispor os instrumentos teóricos e práticos
para a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar

36 ·
sua incorporação como elementos integrantes da própria vida
dos educandos (catarse). (SAVIANI, 2002, p. 420)

Por fim, ele acentua que sua proposta, além de manter-se na condição de forma
de resistência à onda neoconservadora, vem recebendo contribuições de outros
estudiosos, entre os quais cita João Luiz Gasparin, Antonio Carlos Hidalgo Geral-
do, Suze Gomes Scalcon, César Sátiro dos Santos e Ana Carolina Galvão Marsiglia
(SAVIANI, 2002, p. 402).

3 saiba mais: neoconservadora: tendência política de direi-


ta surgida nos Estados Unidos da América na segunda meta-
de do século XX, que advoga a defesa do mercadolivre capita-
lista e a proteção assertiva dos interesses externos do Estado,
inclusive através de meios militares.

2 interatividade: NEOCONSERVADORISMO, EDUCAÇÃO E PRIVAÇÃO


DE DIREITOS: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-73302017000400865

Terceiro Período
O último período ocorreu entre 1991 e 2001, esta fase foi tida como decorrente
da transição do fordismo para o toyotismo. Assim, as ideias pedagógicas no Brasil
expressam-se no neoprodutivismo, nova versão da teoria do capital humano, o que
acaba lançando a pedagogia da exclusão (ALVEZ, 2008).

3 saiba mais: termo criado por Henry Ford, em 1914, refere-se aos
sistemas de produção em massa (linha de produção).

O Toyotismo – também conhecido como acumulação flexível – é


um modelo de produção industrial idealizado por Eiji Toyoda
(1913-2013) e difundido pelo mundo a partir da década de 1970
após a sua aplicação pela fábrica da Toyota, empresa japonesa
que se despontou como uma das maiores empresas do mundo.

Neoprodutivismo – no que tange à Educação as bases econô-


mico-pedagógicas estão situadas naquilo que muitos chamam
de neoprodutivismo. O neoprodutivismo é o conceito que dá
ênfase às capacidades e competências que cada pessoa deve
adquirir no mercado educacional para assim galgar melhor
posição no mercado de trabalho.

2 interatividade: DA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO ÀS PEDAGOGIAS


DA EXCLUSÃO: UM BREVE BALANÇO CRÍTICO: http://www.scielo.
br/pdf/es/v30n107/12.pdf

educação do campo | Teorias da Educação · 37


Ainda segundo Alvez (2008, s/p.) “enquanto orientação pedagógica, o neoescolano-
vismo recupera a bandeira do aprender a aprender e o neoconstrutivismo reordena
a concepção psicológica do aprender como atividade construtiva do educando”.

4 termo do glossário: neoescolanovismo – enfatiza uma educação


que deve ser desenvolvida ao longo da vida para responder aos
desafios de uma realidade social em rápida transformação.

Neoconstrutivismo – possui elo com a teoria do educador


reflexivo e com a pedagogia das competências, trabalhando
sobre as realidades, os índices perceptivos e os sinais motores.
Candido (2011)

Com isso, segudo Alvez (2008), o Estado proporciona uma forma de organização
às escolas na tentativa de buscar e atingir o máximo de resultados com os recursos
destinados à educação.
Para tanto, segundo Araújo (1998), são mobilizados instrumentos como:

• Pedagogia da qualidade total – novo modo (empresarial) de organização da


educação escolar;
• Pedagogia corporativa – atuação do pedagogo além dos muros das escolas.

Saviani (2008) apropria-se de duas expressões analíticas para ilustrar o resulta-


do dessas iniciativas: exclusão includente e inclusão excludente. Logo, podemos
defini-las como:
Exclusão includente: acontece na área do mercado de traba-
lho, por meio de ações que levam à exclusão do trabalhador
do trabalho formal, e reincluídos na informalidade ou na
submissão e exploração. O trabalhador é, então, exonerado,
perdendo todos os seus direitos previdenciários e trabalhistas,
e excluído, volta a ser incluído de forma subalterna e precária,
ou seja, num mercado informal.
Inclusão excludente: acontece no campo pedagógico-escolar,
por meio da inclusão de alunos em cursos de diversas modalida-
des e níveis, porém sem qualidade para torná-los aptos a atuar
no mercado de trabalho. Exemplos disso são cursos rápidos e
supletivos que se preocupam em apenas formar simples empre-
gáveis para o mercado de trabalho. Diante da exigibilidade do
mercado trabalhista, esses indivíduos acabam sendo excluídos
da cadeia produtiva. (SAVIANI, 2008, s/p.)

Contudo, como discorre Saviani (2008) é necessário que a educação reestruture


suas práticas pedagógicas, de modo a não atender aos interesses do capitalismo
dominante opressor, mas atender à formação integral do ser humano preparando
o educando para a vida trabalhista e social.

38 ·
1.5
A EDUCAÇÃO NA RUPTURA
POLÍTICA PARA A CONTINUIDADE
SOCIOECONÔMICA
O que traz a ideia da ruptura foi a Revolução de 1964, momento decisivo para a
história das ideias pedagógicas no Brasil em 1969 (SAVIANI, 2013). Podemos perante
o exposto perguntar:

– Houve mesmo a ruptura?


– Se sim, em que nível e em que grau se deu essa ruptura?
– Quais foram as implicações para a educação e as ideias pedagógicas?

Bom, iremos responder essas perguntas seguindo os estudos da obra “História


das Ideias Pedagógicas no Brasil” de Saviani (2013).
Como já vimos anteriormente, as ideias pedagógicas no Brasil desenvolveram-se
baseadas em uma estrutura material (industrialização) com uma crescente urba-
nização. “O modelo que orientou esse processo de industrialização chamou-se de
substituição de importações” (SAVIANI, 2013, p.350), assim, se o país estava integrado
em um sistema de produção mundial, logo ele é capitalista!

3 saiba mais: sistema capitalista – são características clássicas


do capitalismo: Propriedade privada: consiste no sistema pro-
dutivo vinculado à propriedade individual. Lucro: é o principal
objetivo capitalista, proveniente do resultado da acumulação
de capital.

Enquanto o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) elaborava a ideologia do


nacionalismo desenvolvimentista, também tinhamos a Escola Superior de Guerra
(ESG) brasileira, nos moldes americano, sendo que inclusive para implantar a escola
no Brasil foi enviado uma missão militar especificamente para tal.

2 interatividade: INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS BRASILEIROS


(ISEB): http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-
tematico/instituto-superior-de-estudos-brasileiros-iseb

O membro mais ilustre e mais influente da ESG foi o General Golbery do Couto e
Silva, conforme Figura 17, ele nasceu no Rio Grande do Sul, em 1911 e veio a falecer
em 1987 em São Paulo.

educação do campo | Teorias da Educação · 39


Figura 17 – General Golbery do Couto e Silva

Fonte: NTE/UFSM.

2 interatividade: Golbery do Couto e Silva – http://www.


fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/silva-
golberi-do-couto-e

A ESG distintamente da ISEB formulava a doutrina da interdependência, o processo


de industrialização, que seguia seu curso impulsionado pelo Governo de Kubitschek,
conseguia pacificar a política dando curso às franquias democráticas (VIANA, 2017).
Bom, houve ruptura? Em que nível e grau? Sim, houve ruptura, que se deu no
nível político e não no âmbito socioeconômico, ao contrário do que se pensa a
ruptura política foi necessária para preservar a ordem socioeconômica, segue o
esquema na Figura 18.
Figura 18 – A educação na ruptura política para a continuidade socioeconômica

Ruptura Não Socioeconômico

Sim

Político

Fonte: Autoras.

40 ·
Não havendo ruptura, conforme Figura 19, mas continuidade do plano socioe-
conômico, entende-se segundo Saviani (2013) que tenha havido continuidade
também na educação. O que veio a refletir na legislação que instituiu as reformas
do ensino baixadas pela ditadura. Revogando assim, os primeiros títulos da Lei de
Diretrizes e Bases (LDB nº 4.024, 20 de dezembro de 1961). Onde foram alteradas
as bases organizacionais, ajustando a educação aos reclames postos pelo modelo
econômico do capitalismo de mercado associado dependente, articulado com a
doutrina da interdependência.

Figura 19 – Continuidade do Plano Socioeconômico

Ruptura Não

Educação LDB

Socieconômico

Fonte: Autoras.

E quais foram as implicações para a educação e as ideias pedagógicas?


O ano de 1969 é o marco de uma nova etapa para a educação, entrando em
vigor a reforma universitária, instituída pela Lei 5.540, igualmente foi aprovado
juntamente a Parecer 77/69 regulamentando a implantação da pós-graduação.
E no campo pedagógico, foi também em 1969 que deu a aprovação do Parecer
252, que introduziu as habilitações técnicas no curso de pedagogia. Com a apro-
vação da Lei 5.692 de 1971, buscou-se entender a tendência produtivista a todas
escolas do Brasil, por meio da pedagogia tecnicista, convertida em pedagogia oficial,
esquematizado na Figura 20.

educação do campo | Teorias da Educação · 41


Figura 20 – Esquema dos ideais pedagógicos

Lei 5.540

1969 Parecer 77/69 Pós-graduação

Reforma Universitária

Parecer 252

Pedagogia

Habilitação Técnica Lei 5.692

1971

Pedagogia
Tecnicista
Pedagogia
Oficial

Fonte: Autoras.

Na década de 90 pensava-se na visão produtivista, com ênfase na qualidade social da


educação que marcou os projetos de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) na Câmara Federal, constituindo na referência para o Projeto Darcy Ribeiro.

3 saiba mais: a concepção pedagógica produtivista postula que


a educação é um bem de produção e não apenas um bem de
consumo. Tem, pois, importância decisiva no processo de de-
senvolvimento econômico.

2 interatividade: Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em


Educação – http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
40362017000300585&script=sci_abstract&tlng=pt

42 ·
2A PEDAGOGIA E AS
BASES EPISTÊMICAS
44 ·
INTRODUÇÃO

A
pedagogia tecnicista, concepção analítica e visão crítico-reprodutivista
(1969-1980), juntamente com as reformas do ensino, concepção pedagógica
tecnicista, concepção analítica e a visão crítico-reprodutivista, marcaram
o período de 1969 a 1980.
Logo após os ensaios contra-hegemônicos, as pedagogias críticas buscando
orientar a prática educativa (1980-1991), as organizações e mobilização do cam-
po educacional, circulação das ideias pedagógicas e as chamadas pedagogias da
“educação popular”, pedagogias da prática, pedagogia crítico-social dos conteúdos
e pedagogia histórico-crítica, com sua teoria dominante foram grandes marcos na
história da educação.
O neoprodutivismo e suas variantes como o neoescolanovismo, o neoconstru-
tivismo, o neotecnicismo entre 1991 e 2001, marcaram a reconversão produtiva,
neoprodutivismo e a “pedagogia da exclusão”. Assim, as bases didático-pedagógicas:
o “aprender a aprender” e sua dispersão pelos diferentes espaços sociais (neoes-
colanovismo) e as bases psicopedagógicas: a reorientação das atividades constru-
tivas da criança (neoconstrutivismo) e a “pedagogia das competências”, as bases
pedagógico-administrativas: a reorganização das escolas e redefinição do papel do
Estado (neotecnicismo) foram marcos importantes na pedagogia neste período.
Nesse sentido, o objetivo desta unidade é precisamente revisar as principais
contribuições para a educação de cada perspectiva teórica aqui apresentada. Espe-
ra-se que ao final desta unidade você consiga identificar nas práticas pedagógicas
dos educadores, e inclusive na sua, os traços das teorias aqui estudadas.

educação do campo | Teorias da Educação · 45


2.1
PEDAGOGIA TECNICISTA,
CONCEPÇÃO ANALÍTICA E VISÃO
CRÍTICO-REPRODUTIVISTA
(1969-1980)
Nesta subunidade veremos eixos norteadores da pedagogia tecnicista, concomitan-
temente ao avanço e predomínio da pedagogia tecnicista se desenvolveu também a
concepção analítica de filosofia da educação. Na década de 70, junto à presença da
concepção analítica e a predominância da tendência tecnicista, surgiram estudos
empenhados em fazer crítica da educação dominante, na Figura 21 é apresentado
pela “tempestade de ideias” os principais contextos estudados nesta subunidade.

2 interatividade: Pedagogia Tecnicista, Concepção analítica


e visão crítico-reprodutivista – https://www.youtube.com/
watch?v=zKsshDmBdqo

Figura 21 – Pedagogia tecnicista, concepção analítica e visão crítico-reprodutivista (1969-1980)

Fonte: Autoras.

2.1.1 Pedagogia tecnicista


O surgimento da pedagogia tecnicista na segunda metade do século XX, nos Estados
Unidos, somente chega ao Brasil entre as décadas de 60 e 70, inspirada nas teorias
behavioristas da aprendizagem (ASSIS, 2011).

2 interatividade: A pedagogia tecnicista e a organização do


sistema de ensino brasileiro: https://periodicos.sbu.unicamp.
br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8644737
PEDAGOGIA TECNICISTA: https://www.youtube.com/
watch?v=noUPM629SW4

46 ·
Ainda segundo Assis (2011) esta pedagogia deparava-se com o modelo capita-
lista, fazendo parte de sua engrenagem, objetivando dentro deste sistema construir
sujeitos competentes para o mercado de trabalho.
Segundo Saviani:

A partir do pressuposto da neutralidade científica e inspirada


nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, a
pedagogia tecnicista advogou a reordenação do processo edu-
cativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional. De modo
semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril, pretendeu-se
a objetivação do trabalho pedagógico. Buscou-se, então, com
base em justificativas teóricas derivadas da corrente filosófico-
-psicológica do behaviorismo, planejar a educação de modo
a dotá-la de uma organização racional capaz de minimizar
as interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua
eficiência. Se na pedagogia tradicional a iniciativa cabia ao
educador e se na pedagogia nova a iniciativa deslocou-se para o
educando, na pedagogia tecnicista o elemento principal passou
a ser a organização racional dos meios, ocupando o educador
e o educando posição secundária. A organização do processo
converteu-se na garantia da eficiência, compensando e corri-
gindo as deficiências do educador e maximizando os efeitos de
sua intervenção. (SAVIANI, 2013, p.382).

O educador e o educando não eram valorizados, mas sim a tecnologia, a indústria,


o capital. Também nessa época o educador torna-se especialista, responsável por
"passar" ao aluno verdades científicas incontestáveis. Ou seja, a escola não traba-
lhava a reflexão e criticidade nos educandos.
Esta proposta foi utilizada no período do regime militar do país, onde era ne-
cessário formar mão-de-obra para o mercado de trabalho. Assim, temos o formato
behaviorista de ensino, onde eram utilizados estímulos, reforços negativos e po-
sitivos para se obter a resposta desejada, moldando o comportamento do sujeito,
de forma a controlar a conduta individual. Era ensinado apenas o necessário para
que os indivíduos pudessem atuar de maneira prática em seus trabalhos.

3 saiba mais: o Behaviorismo – do termo inglês behaviour ou do ame-


ricano behavior, significando conduta, comportamento – é um con-
ceito generalizado que engloba as mais paradoxais teorias sobre o
comportamento, dentro da Psicologia. Estas linhas de pensamento
só têm em comum o interesse por este tema e a certeza de que é
possível criar uma ciência que o estude, pois suas concepções são
as mais divergentes, inclusive no que diz respeito ao significado da
palavra ‘comportamento’. Os ramos principais desta teoria são o
Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical.

educação do campo | Teorias da Educação · 47


2 interatividade: Behaviorismo – https://www.infoescola.com/
psicologia/behaviorismo/

No Quadro 06 a seguir, é discorrido sobre os princípios básicos da pedagogia tecnicista.

quadro 06 – Princípios básicos da pedagogia tecnicista

PRINCÍPIOS

Os conteúdos estavam embasados na objetividade do conheci-


Conteúdos mento e os métodos eram programados passo-a-passo, com uso
de livros didáticos, principalmente.

O diálogo entre educador e educando era apenas técnica, com o


Diálogo intuito de transmitir o conhecimento de maneira eficaz.

A avaliação estava pautada na verificação formal, analisando a


Avaliação
realização dos objetivos propostos.

Fonte: Adaptado de Assis (2011).

3 saiba mais: as diretrizes da Pedagogia Tecnicista foram defini-


doras do texto de nossa 1ª LDB n. 4024/61 (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1961), em
um embate de ideias e projetos que a fizeram tramitar por 15
anos (1946-1961).Feitoza (2008).

Ainda nos dias atuais, segundo Saviani (2007), a pedagogia tecnicista é exercida em
muitas escolas e cursos diversos, onde nota-se uma utilização frequente de manuais
didáticos, vindo a permanecer o caráter instrumental e técnico.

2.1.2 Concepção Analítica

Com o avanço da pedagogia tecnicista desenvolveu-se também a concepção ana-


lítica de filosofia da educação, para Saviani (2013) isso é explicável porque ambas
possuem relação.
Porém, ele também acredita que não se pode afirmar que a pedagogia tecnicista
se inspira na concepção analítica, já que deriva dela. Visto que para a concepção
analítica a filosofia pertence a outra ordem de conhecimento. Tratando-se de um
conhecimento de segundo grau, não tendo como objetivo a realidade, mas a lin-
guagem que exterioriza sobre a realidade, conforme Figura 22.

48 ·
Figura 22 – Definindo concepção analítica

Concepção analítica Conhecimento 2° Grau


1° Grau
linguagem

realidade

realidade

Fonte: Autoras

Saviani (2013, p. 234) ainda discorre que a “concepção analítica refere-se à clareza e
consistência dos enunciados relativos aos fenômenos e não aos próprios fenômenos”.

3 saiba mais: a afinidade entre a pedagogia tecnicista e a concepção


analítica situa-se não no plano das consequências, mas sim no
plano dos pressupostos. Porém, ambas se baseiam nos mesmos
pressupostos da objetividade, racionalidade e neutralidade.

Conforme Almeida a filosofia analítica e continental é caracterizada como:

A filosofia analítica desenvolvida ao longo do século XX, caracte-


riza-se como sendo um extenso e vasto campo de atuação, com
natureza de fazer filosofia, requintando a metodologia filosófica
e instaurando uma nova forma de conduzi-la. Portanto influente
em países de língua inglesa e na tradição filosófica ligada a eles, a
filosofia analítica, ficou conhecida como "filosofia continental",
baseando-se principalmete em autores europeus de direciona-
mento existencialista ou fenomenológico. No Brasil a tradição
filosófica se divide entre duas correntes, a filosofia analítica e
continental. (ALMEIDA, 2014, p. 31)

3 saiba mais: filosofia continental é uma expressão criada ori-


ginalmente pelos filósofos analíticos anglófonos (falantes da
língua inglesa), principalmente estadunidenses e britânicos, para
descrever várias tradições filosóficas procedentes da Europa con-
tinental, principalmente da Alemanha e da França. Disponível
em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_continental

É muito importante deixarmos claro a diferença entre as duas filosofias, conforme


Quadro 07, pois elas tomaram rumos distintos não só em assuntos abordados, mas
na metodologia por elas utilizada.

educação do campo | Teorias da Educação · 49


QUADRO 07 – Conceito de filosofia analítica e continental

FILOSOFIA PRINCÍPIOS

A filosofia analítica refere-se àqueles filósofos que tomam


por objetivo desenvolver argumentos lógicos e deduzir
fatos com clareza e precisão. Esse tipo de filosofia se identi-
fica com a clareza matemática e científica em seus
argumentos. A distinção entre filosofia analítica e conti-
nental começou a ser defendida na época de importantes
filósofos como Gottlob Frege, Bertrand Russell, Ludwig
Filosofia Analítica
Wittgenstein e G.E. Moor, quando estes queriam inaugurar
um novo método de filosofia baseado nas técnicas de
lógica formal desenvolvidas por Frege e Russell. O funda-
mento dessa técnica é uma definição clara dos termos
utilizados (o que é “verdade”? o que é “vida”?) e o desenvol-
vimento de premissas e concluses derivadas desses termos
para resolver clássicos problemas na filosofia.

A filosofia continental se distingue devido ao estilo (mais


literário, romântico e reflexivo, menos analítico e menos
dependente da lógica formal) ou às abordagens (culturais,
políticas, sobre a situação humana e seu significado). A
filosofia continental também era e é mais autoconsciente
da influência da história e da cultura sobre a interpretação
Filosofia Continental
humana. Apesar do nome “continental”, referindo-se ao
continente europeu, esse nome é um tanto enganoso, já
que os primeiros filósofos considerados continentais
incluem Hegel, Schopenhauer, Kierkegaard, Marx, Nietzs-
che, Husserl, Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, Gadamer,
Horkheimer, Adorno, Marcuse, Habermas e Foucault.

Fonte: Adaptado de Assis (2017).

2 interatividade: diferença entre filosofia analítica e continental


https://marinagarner.wixsite.com/filosofiadareligiao/single-
post/2017/02/14/Filosofia-anal%C3%ADtica-e-filosofia-
continental-qual-a-diferen%C3%A7a

Além da lógica formal clássica, a filosofia analítica conta hoje também com a lógica
modal, que trata dos casos de modalidades, sendo as principais: possibilidade,
necessidade, probabilidade e impossibilidade, conforme D'AGOSTINI (2002, p.45).

2 interatividade: lógica modal – https://www.infoescola.com/


filosofia/logica-modal/

50 ·
Segundo D'Agostini (2002, p. 280) apud Maciel (2016, s/p.) entre as áreas mais
exploradas por filósofos analíticos estão:
• Filosofia da mente e ciência cognitiva;
• ética, incluindo a de meta-ética;
• ética normativa e ética aplicada;
• religião;
• filosofia política, particularmente questões acerca do libertarianismo;
• liberalismo e comunitarismo;
• filosofia da ciência, com subáreas para todas as ciências naturais existentes
atualmente, bem como para a história da ciência;
• metafísica, que embora rejeitada no início do século XX, foi retomada por
filósofos como David Armstrong e David Lewis, que desenvolveram teorias
sofisticadas em diversos tópicos da metafísica, como universais, causalidade,
objetos abstratos, necessidade e possibilidade;
• filosofia da linguagem;
• epistemologia; e estética.

2.1.3 Visão crítico-reprodutivista

Na mesma década de 70 com a predominância da pedagogia tecnicista e a presença


da concepção analítica, surgiram estudos com o propósito de criticar a educação
dominante, chamando a atenção para a política educacional. A pós-graduação
instalada no regime militar sob ótica da pedagogia tecnicista foi fruto de críticas.
Ela surgiu tendo referência o binômio “segurança e desenvolvimento, pensada
como instrumento pedagógico para a viabilização das metas traçadas no Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND)” (SAVIANI 2013, p. 392). Para tanto ainda foi
arquitetado o “Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG) articulado ao Plano Básico
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT) e ao Plano Setorial de Educação
e Cultura (PSEC)”, Saviani (2013, p. 233), com o objetivo da pós-graduação formar
educandos com alto nível de conhecimento, no campo científico e tecnológico,
com a finalidade de impulsionar a economia do país.
Ainda segundo Saviani (2007) a organização da pós-graduação baseou-se na
experiência dos Estados Unidos, de autoria de Newton Sucupira que a conceituou.
Logo, os programas de pós-graduação foram fortemente marcados pela pedagogia
tecnicista. Na Figura 23 relata a importância de Luiz Antônio Constant Rodrigues
da Cunha sobre o estrangeirismo.

2 interatividade: Newton Sucupira, a pós-graduação


e a universidade: http://books.scielo.org/id/4r/pdf/
boaventura-9788523208936-09.pdf

educação do campo | Teorias da Educação · 51


figura 23 – O estrangeirismo segundo Luiz Antônio

Luiz Antônio Constant Rodrigues da Cunha


(1943)

Em 1978, identificou, a prevalência espontânea do


estrangeirismo, na sua versão norte-americana e,
em decorrência, do economicismo, do computa-
cionismo, do tecnicismo e do sistemismo

Fonte: Adaptado de Cunha (1978).

Conforme vimos a estrutura da pós-graduação foi inspirada no modelo americano,


o espírito da implantação dos programas foi em parte influenciado pelos europeus,
principalmente pela Europa Continental. Logo, com o modelo americano e a influ-
ência teórica europeia, a pós-graduação no Brasil acabou produzindo um modelo
novo. Segundo Saviani (2013) este modelo é superior àqueles que lhe deram origem.
Assim, a pós-graduação, refletindo as contradições da sociedade brasileira, acabou
constituindo-se num espaço importante para o desenvolvimento de uma tendência
crítica, gerando estudos consistentes e significativos sobre a educação (SAVIANI, 2013).
Simultaneamente a tendência tecnicista, que ocorreu durante as décadas de
60 e 70, diversos intelectuais franceses (oriundos principalmente das ciências so-
ciais) chegaram praticamente na mesma conclusão: “[...] à ideia da função equali-
zadora da escola era ingênua, porque, em vez de democratizar, a escola reproduz as
diferenças sociais, perpetua o status de uma instituição altamente discriminatória
e repressiva” (ARANHA, 2006, p. 252 apud MAIA; VEIGA, 2017, s/p.).

2.1.3.1 Bourdieu e Passeron: a violência simbólica

2 interatividade: Pierre Bourdier – Violência Simbólica: https://


www.youtube.com/watch?v=pVr9QmAG7mk
Violência Simbólica: https://www.youtube.com/
watch?v=7qEjQOWk4kw

Pierre Bourdieu (Figura 24) e Jean-Claude Passeron (Figura 25), autores franceses
escreveram duas obras importantes: Os Herdeiros (1964) e A Reprodução (1970).
Nestes escritos, encontramos severas críticas à instituição escolar ao analisar esta
cultura a partir dos condicionantes sociais, concluindo pela total dependência da
escola em relação à sociedade.

52 ·
Figura 24 – Pierre Bourdieu

Pierre Bourdieu

Nascido na cidade de Denguin, França, no dia


primeiro de agosto de 1930, Pierre Félix Bourdieu
era proveniente de uma família campesina. Ao
completar seus estudos básicos, mudou-se para
Paris, onde estudou na Faculdade de Letras aos 21
anos de idade. Em 1954, Pierre Bourdieu formou-
-se em Filosofia e iniciou sua vida profissional
como professor em Moulins. Sua carreira sofreu
interrupção em função do serviço militar obriga-
tório que o enviou para a Argélia. Aproveitando-se
do deslocamento, assumiu o cargo de professor
na Faculdade de Letras da capital do país, Argel.

Fonte: Adaptado de Info Escola. Disponível em: <https://www.infoescola.com/biografias/pierre-


-bourdieu/>. Acesso em: 12/07/2018.

Figura 25 – Jean-Claude Passeron

Jean-Claude Passeron

Educador de sociologia da École des


hautes études en siences sociales.
Escreveu em parceria com Pierre
Bourdieu a obra La reproduction,
publicada em 1970.

Fonte: IData. Disponível em: <http://idata.over-blog.com/4/13/32/22/passeron.png>. Acesso em:


13/07/2018.

Tanto Bourdieu como Passeron desfazem a ideia da autonomia absoluta do sis-


tema escolar, em que a escola está na mesma direção que a sociedade (ARANHA,
2006). Assim, os autores chamam essas particularidades de: violência simbólica,
escondida através de uma neutralidade pedagógica.
Para Aranha a violência simbólica significa:

A violência simbólica leva as pessoas a agir e a pensar por imposi-


ção, sem se darem conta dessa coação. Nesse sentido, a cultura e
os sistemas simbólicos em geral podem se tornar instrumentos de
poder quando legitimam a ordem vigente e tornam homogêneo
o comportamento social. (ARANHA, 2006, p. 252)

Portanto, a escola transforma-se em “[...] instrumento de violência simbólica, já que,

educação do campo | Teorias da Educação · 53


reproduz os privilégios existentes na sociedade e beneficia os socialmente favore-
cidos, reservando o sucesso aqueles cujas famílias pertencem à classe dominante,
ou seja, os herdeiros do sistema vigente” (ARANHA, 2006, p. 253).
Segundo Aranha a educação e os hábitos privilegiam a criança na escola, logo:

Os hábitos são inculcados desde a infância por um trabalho


pedagógico realizado primeiro pela família e, posteriormente,
pela escola, de modo que as normas de conduta que a sociedade
espera de cada indivíduo sejam interiorizadas por ele. Ora a
educação familiar das crianças vindas das classes privilegiadas
é muito próxima daquela que receberão na escola, isto é, seus
hábitos familiares são semelhantes aos hábitos e ritos escolares.
São crianças acostumadas a viagens, visitas a museus, contato
com livros, discussões, além de ter o domínio da linguagem que
é adotada na escola. (ARANHA, 2006, p. 253).

Torna-se bastante frequente a explicação de que as desigualdades com relação ao


sucesso escolar resultam de “desigualdades naturais”. Logo, o sucesso dos educan-
dos decorre de dotes naturais, qualidades inerentes, mérito pessoal, entre outros.

2.1.3.1 Althusser: a escola como aparelho ideológico do Estado

Para Louis Althusser filósofo francês, conforme Figura 26, a escola não deve ser
isolada da sociedade e sim fazer parte dela, com isso ele desenvolve a noção de
aparelho ideológico do Estado, em que a escola tem que reproduzir uma ideologia
dominante, e ao mesmo tempo ensinar o saber prático.

2 interatividade: Althusser, Louis – https://www.marxists.org/


portugues/dicionario/verbetes/a/althusser.htm

Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado – Louis Althusser:


uma resenha: http://colunastortas.com.br/2017/06/19/
ideologia-e-aparelhos-ideologicos-de-estado-louis-althusser-
uma-resenha/

Althusser, Louis – https://www.marxists.org/portugues/


dicionario/verbetes/a/althusser.htm

54 ·
Figura 26 – Louis Althusser

Louis Althusser
(1918 - 1990)

A principal contribuição que Althusser deu à teoria


marxista foi a crítica ao economicismo e ao huma-
nismo que denominavam as leituras de Marx.
Demonstrando a irremediável ruptura entre Hegel
e Marx, Althusser oferece uma nova periodização
da obra marxiana, distinguindo um período de
juventude, ainda ideológico, não marxista, um
período de maturação, no qual Marx formula o
corpo conceitual de sua teoria, mas ainda em parte
prisioneiro da ideologia burguesa, e o período da maturidade, em que a teoria do
materialismo histórico é fundada em bases científicas rigorosas. Assim, por meio do
conceito de corte epistemológico, Althusser deixa ver na própria constituição da teoria
marxista a emergência da problemática científica do interior do campo da ideologia e
em luta com ele.

fonte: Site Marxists. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/a/


althusser.htm>. Acesso em: 13/07/2018.

A noção de ideologia representa: o conjunto de ideias da classe dominante esten-


dido à classe dominada e que visa a manutenção da dominação. Por meio da “[...]
ideologia, a exploração é mascarada e os valores da burguesia passam a ser consi-
derados universais, não mais valores de determinada classe, impedindo o pensar
do trabalhador” (ARANHA, 2006, p. 254 apud NIKEL, 2014).

2 interatividade: Althusser: sobre a Ideologia – http://


colunastortas.com.br/2014/11/13/althusser-sobre-a-ideologia/

Para o autor Althusser (s/a) apud Aranha (2006, p.225):

A classe trabalhadora é marginalizada quando a escola não ofe-


rece chances iguais para todos, mas, ao contrário, determina de
antemão a reprodução da divisão das classes sociais. Além disso,
pela abrangência de sua ação, inculca a ideologia dominante e
impede a expressão dos anseios da classe dominada.

Assim para Althusser (s/a) apud Nikel (2014) a crença na qual o Estado trabalha
para o bem comum, não é uma verdade. Um exemplo bem claro disso é a justiça
em nossa sociedade. Nem todos são punidos da mesma forma, já que, quem legisla
e aplica a lei é a classe dominante.

educação do campo | Teorias da Educação · 55


2.1.3.3 Baudelot e Establet: a escola dualista

Os franceses Roger Establet e Christian Baudelot, Figura 29, escreveram em 1971 “A


escola capitalista na França”. Um dos pontos interessantes trata-se da crítica que
os autores fizeram aos seus compatriotas Bourdieu e Passeron. O livro observa a
contradição real entre classe dominante e classe dominada e leva em conta a força
latente da ideologia do proletariado (ARANHA, 2006).

2 interatividade: as classes sociais no pensamento de Karl Marx:


http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/as-classes-sociais-no-
pensamento-karl-marx.htm

Figura 27 – Roger Establet e Christian Baudelot

Fonte: NTE/UFSM.

Para Establet e Baudelot vivemos em uma sociedade dividida em classes, não é


possível haver uma escola única, existindo na verdade duas escolas totalmente di-
ferentes: a secundária superior (SS) e a primária profissional (PP), que corresponde
a divisão da sociedade proletária e burguesa (NIKEL, 2014).

2 interatividade: burgueses x proletariado – https://


serantropofagia.wordpress.com/2012/05/11/
burgueses-x-proletariado/

Ainda segundo Nikel (2014) desde o começo dos tempos, os filhos dos proletaria-
dos são destinados a não atingir níveis de ensino superior, sendo encaminhados
para atividades manuais. Logo, segundo ele, a escola, tem a função de reproduzir
as divisões sociais já existentes.
Assim, observa-se que a escola reafirma a divisão entre trabalho intelectual e
trabalho manual, já que nessa dicotomia repousa a possibilidade material da ma-
nutenção da estrutura capitalista.
Distinto de Bourdieu e Passeron, para Establet e Baudelot o proletariado possui
convicções próprias, que se ocasiona fora da escola, nas mais variadas organizações
de operários (ARANHA, 2006 apud NIKEL, 2014).

56 ·
2.2
ENSAIOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:
AS PEDAGOGIAS CRÍTICAS
BUSCANDO (RE) ORIENTAR A
PRÁTICA EDUCATIVA (1980-1991)
Importante salientarmos que as teorias crítico-reprodutivas, como já estudamos,
operam uma crítica forte à hegemonia instalada na sociedade capitalista, neste
sentido elas participam do movimento contra-hegemônico (SAVIANI, 2013).
Teorias crítico-reprodutivas “elas são teorias sobre educação e não teorias da edu-
cação” conforme (SAVIANI, 2013, p.63).

1 ATEnção: toda pedagogia é teoria da educação, porém, nem


toda teoria da educação é pedagogia.

A pedagogia busca equacionar, de alguma maneira o problema da relação entre


educador-educando, de modo geral, ou, no caso específico da escola, sempre bus-
cando orientar o processo de ensino e aprendizagem.
Seguindo o pensamento e estudos de Saviani (2013) iremos abordar e identificar
as formulações contra-hegemônicas ou as pedagogias de esquerda.
Com o processo de abertura democrática, eis que um conjunto de fatores que
marcaram a década de 1980 como um momento privilegiado para a emersão de
propostas pedagógicas contra-hegemônicas, conforme esquema na Figura 28.

Figura 28 – Fatores marcantes para a proposta pedagógica contra-hegemônica.

Partidos de Oposição
Ascensão prefeituras

Abertura
Democrática

Eleições diretas Produção científica

Governo Federal Mobilização


dos educadores

Conferências
dos Educadores

Fonte: Autoras.

educação do campo | Teorias da Educação · 57


Saviani (2013) porém, nos diz que há dois aspectos que operam com fatores limitativos:
• Caráter de transição;
• Heterogeneidade dos participantes e das próprias propostas.

4 termo do glossário: significado de Heterogeneidade –


Característica do que é heterogêneo, sem uniformidade,
coerência e/ou correspondência: o meio urbano apresentava
maior heterogeneidade social. Particularidade do que é
composto por partes distintas; inomogeneidade.

Transição é uma palavra ambígua, podendo significar transição para a democracia


como transição que é feita à democracia. Mas transição significa, passagem, movi-
mento, logo ficamos pensando então o que significa essa transição “democrática”?
Respondendo à pergunta podemos notar que existe um sentindo sociológico
de ambiguidade, os grupos dominantes, a burguesia, utilizavam-se da transição
democrática como uma forma de preservação dos seus próprios privilégios. Já os
grupos dominados, veem a transição democrática como libertação. Logo, a transi-
ção só pode ser feita por ruptura decorrente de luta por uma forma de democracia.
Deste modo, as ideias contra-hegemônicas também continham certa ambigui-
dade, indo desde os liberais progressistas até os radicais anarquistas, passando
pela concepção libertadora e por uma preocupação com uma fundamentação
marxista (SAVIANI, 2013).
Snyders (1974) afirma que as propostas contra-hegemônicas seriam a expressão
“pedagogia de esquerda” e não “pedagogia marxista ou revolucionária”. Logo, Saviani
também concorda com Snyders com a denominação de pedagogia de esquerda.

2.2.1 Pedagogias da educação popular,


Pedagogia da prática e Pedagogia crítico-social
dos conteúdos
Primeiramente iremos abordar a pedagogia da educação popular, posteriormente
veremos a pedagogia da prática e para finalizar essa subunidade iremos dar uma
breve esplanada sobre a pedagogia crítico-social dos conteúdos.

2 interatividade: o pensamento de Paulo Freire na


trajetória da Educação Popular – http://www.seer.ufv.br/
seer/educacaoemperspectiva/index.php/ppgeufv/article/
view/196/70

Antes de abordarmos sobre educação popular, precisamos definir o termo “popular”.


Conforme Kautscher popular é:

A concepção mais comum que se observa, inclusive nos dicio-


nários, é de “popular” como sendo algo do povo, para o povo,

58 ·
que atende às necessidades do povo. Usaremos a concepção de
Paulo Freire, entendendo “popular” como sinônimo de oprimido,
aquele que vive sem as condições elementares para o exercício de
sua cidadania e que está fora da posse e uso dos bens materiais
produzidos socialmente. Assim, podemos definir a Educação
Popular como uma teoria de conhecimento referenciada na
realidade, com metodologias incentivadoras à participação e
ao empoderamento das pessoas permeado por uma base po-
lítica estimuladora de transformações sociais e orientado por
anseios humanos de liberdade, justiça, igualdade e felicidade.
(KAUTSCHER, 2010, s/p.)

Para Paulo Freire a educação popular pode ser aplicada em qualquer lugar e em
qualquer momento, onde o educador busca criar, incentivar, mediar a construção do
conhecimento, na Figura 29 a seguir, Paulo Freire se refere a ensinar e aprender como:

Figura 29 – Ensinar e aprender por Paulo Freire

Fonte: NTE/UFSM.

Segundo Brandão (1986), os educadores pensam a educação em domínios restritos:


a universidade, o ensino fundamental, o ensino médio, a alfabetização, a educação
de jovens e adultos.
Muitas vezes a educação acaba por tomar domínios restritos, determinados
socialmente, quando deveriam atender às necessidades do contexto, do cotidiano
do aluno, enfim, da cultura do educando.
Para pensar em Educação Popular é necessário, portanto, repensar a educa-
ção, quando se fala no panorama social, é a condição da permanente recriação
da própria cultura sendo. Por isso, a razão da dominação da cultura entre outros.
Porém, no panorama individual a educação é a condição de criação do indivíduo,
é a relação de saber das trocas entre pessoas, logo, aprender é formar-se pessoa a
partir do organismo, realizando a passagem da natureza à cultura (BRANDÃO, 1986
apud KAUTSCHER, 2010, s/p.).

educação do campo | Teorias da Educação · 59


3 saiba mais: a Educação Popular é um método de educação que
valoriza os saberes prévios do povo e suas realidades culturais
na construção de novos saberes.

2 interatividade: o que é Educação Popular? – http://www.


protestoverde.com.br/o-que-e-educacao-popular/
Educação e Transformação – https://www.youtube.com/
watch?v=60c1RapBN7U

Contudo, para Brandão (1986) apud Kautscher (2010)

Houve primeiro um saber de todos que se tornou sábio e eru-


dito e que, por oposição, estabelece como popular o saber do
consenso onde se originou, tratando o erudito como a forma
própria, centralizada e associada a especialistas da educação
enquanto vê o popular como o conhecimento difuso, interior da
vida subalterna. (BRANDÃO, 1986, apud KAUTSCHER, 2010, s/p.)

Logo, um saber da comunidade torna-se o saber das frações (classes, grupos,


povos, tribos) subalternas da sociedade desigual. Em um primeiro e longínquo
sentido, as formas – imersas ou não em outras práticas sociais, por meio das quais
o saber das classes populares ou das comunidades sem classes é transferido entre
grupos ou pessoas, formando-se assim, a educação popular. (BRANDÃO, 1986, apud
KAUTSCHER, 2010, s/p.)
Inspirando-se na concepção libertadora de Paulo Freire e nas ideias libertárias
construtivistas, a pedagogia da prática surgiu como proposta em consonância com
os princípios anarquistas, trabalhando com o conceito de classe.
A pedagogia da prática busca no educando o seu convívio com a sociedade, a
vivência deste. Articulando-se politicamente com os interesses das camadas popu-
lares, buscando solucionar de forma prática os problemas educacionais, colocando
em prática as ações.
As propostas da pedagogia crítico-social foram desenvolvidas no Brasil, por
Dermeval Saviani, o qual se baseia em vários autores, como: Marx, Grasmci, Kosik,
Snyders, entre outros. Segundo Aranha (1996) junto a Saviani outros educadores
apareceram a favor da pedagogia crítico-social, dos quais destaca-se José C. Libâ-
neo, Carlos R. J. Cury e Guiomar N. de Mello.
Segundo Aranha, a Pedagogia Crítico-social dos conteúdos, ou, como também
é conhecida, a Pedagogia Histórica-crítica, busca:

Construir uma teoria pedagógica a partir da compreensão de


nossa realidade histórica e social, a fim de tornar possível o papel
mediador da educação no processo de transformação social. Não
que a educação possa por si só produzir a democratização da so-
ciedade, mas a mudança se faz de forma mediatizada, ou seja, por
meio da transformação das consciências. (ARANHA, 1996, p. 216)

60 ·
Percebe-se na fundamentação desta pedagogia uma preocupação com a transformação
social, partindo da compreensão da realidade, das vivências sociais do sujeito, onde
busca-se entender não como algo que acontece naturalmente, mas sim construído
de forma cultural.

educação do campo | Teorias da Educação · 61


2.3
O NEOPRODUTIVISMO E SUAS
VARIANTES: NEOESCOLANOVISMO,
NEOCONSTRUTIVISMO,
NEOTECNICISMO (1991-2001)
Precisamos primeiramente entender o que é neoprodutivismo, neoescolanovismo
e neoconstrutivismo iremos recordar porque já foi estudado; e neotecnicismo.

2 interatividade: O NEOPRODUTIVISMO E SUAS VARIANTES:


http://emilenemesquita.blogspot.com.br/2015/06/o-
neoprodutivismo-e-suas-variantes.html

O NEOPRODUTIVISMO E SUAS VARIANTES: NEO-ESCOLANOVISMO,


NEOCONSTRUTIVISMO, NEOTECNICISMO (1991-2001): http://
lespedagogia.blogspot.com.br/2009/11/o-neoprodutivismo-
e-suas-variantes-neo.html

NEOTECNICISMO PEDAGÓGICO E AS NOVAS DEMANDAS PARA A


EDUCAÇÃO ESCOLAR: http://www2.unucseh.ueg.br/ceped/
edipe/anais/vedipefinal/pdf/gt13/co%20grafica/Elson%20
Marcolino%20da%20Silva.pdf

Para Saviani (2013) não é fácil caracterizar uma nova fase de ideias pedagógicas,
marcadas por descentramento e desconstrução de ideias anteriores. Para ele é di-
fícil definir positivamente as ideias que passam a circular já nos anos de 1980 e que
se tornam hegemônicas na década de 1990. Por isso as referências encontram-se
nos movimentos que as precedem, onde sua denominação antepõem prefixos do
tipo “pós” ou “neo”.
Reconversão produtiva, neoprodutivismo é a pedagogia da exclusão
Diante da crise econômica, intelectuais da burguesia reformavam o discurso
ideológico na educação escolar como instrumento para redução do desemprego.
Segundo Silva (2015) a teoria do capital humano assumia outro sentido agora,
onde cada indivíduo deverá exercer sua capacidade de escolha visando a adquirir
os meios que lhe permitiam ser competitivo no mercado de trabalho. Privatizava-se
o fracasso e o sucesso de cada um, em uma sociedade marcada pelas desigualdades
de classes. Neste período a ordem econômica denominada pós-fordista e pós-ke-
ynesiano, pressupõe que não há lugar para todos.
No neoescolanovismo o lema aprender a aprender remete ao núcleo das ideias
pedagógicas escolanovistas, onde é deslocado o eixo do processo educativo do
aspecto lógico para o psicológico dos conteúdos e para os métodos (SILVA, 2015),
Assim, configurou-se uma estrutura pedagógica, onde o mais importante não

62 ·
é ensinar e nem mesmo aprender, e sim, assimilar determinados conhecimentos.
Contudo, o importante é aprender a aprender, isto é, aprender a estudar, a buscar
conhecimentos, a lidar com a situação nova; e o papel do educador deixa de ser o
aquele que ensinava para ser o de auxiliar o educando em seu próprio processo de
aprendizagem (SILVA, 2015).
A retórica neoconstrutivista defende a proposição de formação de um educador
reflexivo, que valoriza os seres do cotidiano, centradas na experiência do dia a dia.
As bases da pedagogia tecnicista são os princípios da racionalidade técnica, efi-
ciência e produtividade, das quais de corolário relativo a obtenção do máximo de
resultados com o mínimo de gastos.

4 termo do glossário: proposição que deriva, em um


encadeamento dedutivo, de uma asserção precedente,
produzindo um acréscimo de conhecimento por meio da
explicitação de aspectos que, no enunciado anterior, se
mantinham latentes ou obscuros.

O empenho em introduzir a pedagogia das competências nas escolas e nas


empresas moveu-se pelo intento de ajustar o perfil dos indivíduos, como trabalha-
dores e como cidadãos. Eis que, o conjunto de regras do neotecnicismo defende a
valorização dos mecanismos de mercado, o apelo à iniciativa privada e as organi-
zações não-governamentais, a redução do tamanho do estado e das iniciativas do
setor público. Tendência de considerar a escola como empresa, descaracterizando
as universidades e a diversificação de modelos respalda na abertura de faculdades
e cursos guiados fundamentalmente pelos interesses do mercado.
Saviani (2013), como já mencionamos, diz que definir e qualificar cada etapa
deste período da educação e da pedagogia no Brasil não é uma tarefa simples,
logo, ele conclui que as ideias pedagógicas da última década no século XX expres-
sam-se no neoprodutivismo, nova versão da teoria do capital humano que surge
em consequência das transformações materiais que marcaram a passagem do
fordismo ao toyotismo, determinando uma orientação educativa que expressa na
pedagogia da exclusão. Muito importante salientarmos o neoescolnovismo retorna
o lema aprender a aprender como orientação pedagógica, essa reordena, pelo ne-
oconstrutivismo a concepção psicológica do sentido de aprender, como atividade
construtiva do educando.

educação do campo | Teorias da Educação · 63


3 O NASCIMENTO DAS
CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
educação do campo | Teorias da Educação · 65
INTRODUÇÃO

N
esta unidade de ensino estaremos abordando sobre o nascimento das
ciências da educação.
Em conformidade com Gadotti:

Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a grandes


mudanças tanto no campo socioeconômico e político quanto
no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ainda não se tem ideia
clara do que deverá representar, para todos nós, a globaliza-
ção capitalista da economia, das comunicações e da cultura. As
transformações tecnológicas tornaram possível o surgimento
da era da informação. (GADOTTI, 2000, s/p)

Dissertaremos a seguir sobre o behaviorismo e a abordagem científica do ensino,


traçando um panorama do behaviorismo, suas raízes. As contribuições do beha-
viorismo para o ensino e a aprendizagem em contexto escolar. A individualização
do ensino. A crítica e a refutação do behaviorismo. As críticas provenientes das
ciências cognitivas.
O cognitivismo e suas implicações pedagógicas; a importância de Jean Piaget
e o construtivismo na educação.
Lev Vygotsky e o socioconstrutivismo na educação, perspectiva histórico-cul-
tural de Vygotsky, a psicologia vygotskiana e o pensamento educativo de Vygotsky.
A influência do socioconstrutivismo vygotskiano na pedagogia e na didática; a
síntese e comparação: o construtivismo e o socioconstrutivismo na educação, são
de suma importância nessas últimas décadas.
Espera-se que, ao longo da unidade, você possa entender os conceitos sobre
o nascimento das ciências da educação, bem como, fazer uma relação com suas
vivências diárias e com a prática pedagógica desenvolvida nas escolas.

Um bom estudo a todos!

66 ·
3.1
O BEHAVIORISMO E A ABORDAGEM
CIENTÍFICA DO ENSINO
Primeiramente se faz necessário definir o que é behaviorismo:

Behaviorismo (do inglês Behavior = Comportamento) é o conjunto de abor-


dagens que propõe o comportamento como objeto de estudo da psicologia.

Na segunda metade do século XX a ciência já não comportava as mesmas con-


cepções, fez-se necessário uma profunda reavaliação incluindo a psicologia, como
conceituado na Figura 30. O funcionalismo foi de caráter mais evolucionário dentro
dessa necessidade, pois os líderes (filósofos, psicólogos, educadores, pensadores)
não desejavam mudar o passado escrito, mas sim buscar uma nova psicologia qual
abordasse estímulos e respostas; o comportamental, onde houvesse bases obser-
váveis e passivas de descrições objetivas ou, resumindo, uma psicologia científica.

2 interatividade: o que é psicologia comportamental?


http://www.sbie.com.br/o-que-e-psicologia-comportamental/

4 termo do glossário: psicologia comportamental é um ramo


de atuação dos profissionais da psicologia o qual dá ênfase às
interações entre as emoções, pensamentos, comportamento
e estados fisiológicos. Caracteriza-se por postular a não-
existência da mente, tendo uma concepção monista do ser-
humano (LOPES, 2014).

Figura 30 – Conceituando psicologia

Psicologia

Psic logia

Alma Estudo
(atividade mental)

Fonte: Autoras.

educação do campo | Teorias da Educação · 67


O principal líder do movimento da nova teoria foi John B. Watson, que rejeitava
todo e qualquer conceito mentalista, assim como as introspecções a respeito da
existência da consciência eram para ele, irrelevantes.
Segue a Figura 31 onde é relatado uma breve história da vida de John B. Watson.

Figura 31 – História de John B. Watson

John B. Watson
(1878 - 1958)

John B. Watson cresceu na Carolina do Sul. Embora


mais tarde ele se descreveu como um estudante
pobre, entrou na Universidade Furman com 16
anos. Depois de se formar cinco anos mais tarde,
com um grau de mestre, ele começou a estudar
psicologia na Universidade de Chicago. Watson
recebeu seu Ph.D. em psicologia em 1903.

Fonte: Adaptado de Psico Ativo. Disponível em: <http://psicoativo.com/2016/04/john-b-watson-


-biografia-experimentos-behaviorismo.html.>. Acesso em: 16/07/2018

Os estudos de Remor apontam que para Watson:

A psicologia deveria ser puramente objetiva, uma ciência natural


e experimental, investigando o comportamento tanto humano
quanto animal. Essa reflexão é importante salientar, visto que
uma das metas dessa corrente é a previsão e controle do com-
portamento de modo geral. As ideias do behavior já haviam
sendo desenvolvidas aos poucos, ou seja, não foi exatamente
criada por Watson, mas sim organizada e formalizada por ele.
(REMOR, 2016, s/p.)

No Quadro 08 são apresentados os três conceitos principais segundo Remor (2016).

Quadro 08 – Ideias behavioristas organizadas e formalizadas por Watson

Conceitos principais Ideias behavioristas organizadas


e formalizadas por Watson

Pautada apenas no enfoque do visível, audível e palpá-


vel. Essa visão materialista parece fazer enxergar ao
humano como de fato uma máquina, onde a ideia de
Watson se aplica ao compará-lo em meios de funciona-
Tradição filosófica mento; apresentando determinado estímulo emocio-
objetivista e mecanicista nal ou condicional é possível obter uma resposta previ-
sível. Um exemplo prático deste é encontrado no
marketing, quando a propaganda de tal X usa os pontos
fracos do Y para criar uma insatisfação e assim se
68 · mostrar mais adequado que o adversário.

Principal antecessor do programa de Watson, foi utiliza-


Watson se aplica ao compará-lo em meios de funciona-
Tradição filosófica mento; apresentando determinado estímulo emocio-
objetivista e mecanicista nal ou condicional é possível obter uma resposta previ-
sível. Um exemplo prático deste é encontrado no
marketing, quando a propaganda de tal X usa os pontos
fracos do Y para criar uma insatisfação e assim se
mostrar mais adequado que o adversário.

Principal antecessor do programa de Watson, foi utiliza-


da durante a primeira década do século XX e foi resul-
tante da teoria evolucionista, uma tentativa de demons-
trar: (1) a existência da mente em organismos inferiores;
(2) a continuidade da mente animal e humana.
A psicologia animal Seguindo essa linha, Pavlov com seu trabalho sobre
aprendizagem e transferência de ideias subjetivas para
eventos psicológicos quantificáveis e objetivos, propor-
cionou a oportunidade um método de estudo para
controle e modificação do comportamento. Esse
método consiste no condicionamento.

É a psicologia que mais apresenta objetividade apesar de


não ser totalmente objetiva. Aos poucos sua estrutura foi
se tornando adepta das ideias onde não devia se limitar
apenas ao estudo da consciência. Com isso a estrutura
A psicologia funcional
de Watson foi ganhando importância ao propor então o
comportamentalismo que acabou conversando muito
bem com algumas dessas ideias predecessoras como de
Walter Pillsburry e William Montague.

Fonte: Adaptado de Filosofia do Cotidiano. Disponível em: < http://filosofiadocotidiano.org/beha-


viorismo-na-educacao/>. Acesso em: 16/07/2018.

3
saiba mais: Ivan Petrovich Pavlov foi um fisiologista
russo conhecido principalmente pelo seu trabalho no
condicionamento clássico. Foi premiado com o Nobel de
Fisiologia ou Medicina de 1904, por suas descobertas sobre
os processos digestivos de animais.

2 interatividade: Walter Pillsburry – https://translate.google.


com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.cyberus.
ca/~pballan/Pillfina.htm&prev=search

Ainda segundo Remor (2016, s/p.), Watson procurando ajustar métodos e aperfeiçoar
a natureza científica à necessidade “insistiu que era preciso limitar-se ao estudo
objetivo do comportamento com métodos de investigação rígidos”. Logo, ele então
incluiu a observação pelos métodos, conforme Quadro 09.

educação do campo | Teorias da Educação · 69


Quadro 09 – Observações pelos métodos de Watson

Métodos Observações pelos métodos

Os métodos de teste já eram adotados anteriormente,


mas Watson porpôs tratar os resultados dos testes
como amostragens do comportamento, e não como
indicadores das qualidades mentais, para ele, o teste
Método de teste não media a inteligência nem a personalidade, ao
contrário, simplismente media as respostas do indiví-
duo à situação do estímulo de ser submetido ao teste.

A questão do relato verbal foi ainda mais controversa.


Como Watson rejeitava tão claramente a introspecção,
o uso do relato verbal no laboratório deixava uma
abertura às críticas. Alguns psicólogos consideraram o
Método de relato verbal
ato comprometedor, afirmando ter Watson introduzi-
do a introspecção pela porta dos fundos, depois de tê-la
enxotado pela da frente.

O método do reflexo condicionado foi adotado em 1915,


dois anos depois da fundação formal do behaviorismo.
Os métodos de condicionamento eram poucos usados,
Método de reflexo no entanto, Watson foi responsável pela sua ampla
condicionado aplicação na pesquisa psicológica americana. Ele
contou ao psicólogo Ernest Hilgard por ter se interessa-
do muito pelos reflexos condicionados ao estudar o
trabalho de Bekhterev, embora mais tarde também
creditasse a Pavlov esse interesse (Hilgard, 1994).

Fonte: Adaptado de Psicosophia. Disponível em: <https://sites.google.com/site/pisicosophia/beha-


viorismo/os-metodos-do-behaviorismo-de-watson>. Acesso em: 16/07/2018.

Mas porque Watson aceitara o relato verbal?

Porque apesar da repulsa pela introspecção, ele não pode ignorar os trabalhos
realizados pelos psicofísicos com o uso da introspecção. Para tanto, sugeriu que as
reações orais, por serem observáveis, seriam consideráveis para o behaviorismo,
assim como qualquer tipo de retorno motriz.
Para Watson (1930, p.6) "Falar é fazer – ou seja, comportar-se. Falar aberta-
mente ou para nós mesmos (pensar) é um comportamento tão objetivo quanto
jogar beisebol (WATSON, 1930, p. 6.)”.
Segundo Remor (2016) a adoção do método do relato verbal no behaviorismo foi
muito questionada pelos adversários de Watson naquela época, ele foi acusado de
fazer um jogo de palavras, de estar oferecendo apenas uma mudança semântica.

70 ·
Logo, para o autor, ele se defendia rebatendo e concordando com que os relatos
verbais talvez não fossem precisos e, portanto, não seriam os substitutos adequados
da observação objetiva.
Contudo, ainda conforme Remor (2016), restringia o seu uso para as ocorrências em
que pudessem ser verificadas, assim como os relatos verbais não-verificáveis, como o
pensamento sem imagens e os relatos dos estados de sentimento, seriam descartados.
Watson chamou muito a atenção do mundo da psicologia ao afirmar que distúr-
bios emocionais em adultos são provocações das respostas de condicionamentos
estabelecias ainda na infância (REMOR, 2016). Ou seja, para ele, um programa de
condicionamento adequado na infância caberia por evitar adultos desequilibrados.
“Para tal, o Caso Albert foi essencial, apesar da rápida disseminação das ideias.
Watson levou algum tempo para que as mesmas se consolidassem de fato na psicologia,
constituindo assim a primeira fase do behaviorismo comportamental” (REMOR, 2016).

2 interatividade: Caso Albert – Experimento: http://pepsic.


bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2010000200022

Caso Albert – O "Pequeno Albert" de Watson (legendado):


https://www.youtube.com/watch?v=g4gmwQ0vw0A

Como vimos Watson foi o precursor e o pai da psicologia comportamental, porém,


aproximadamente entre 1930 e 1960 englobando trabalhos de Tolman, Hull e Skin-
ner, conforme Quadro 10, o behaviorismo sofre mudanças. Buscando elevar o
conceito do behaviorismo eles se juntaram para estudar a aprendizagem, os com-
portamentos entendidos pelas leis do condicionamento e o princípio do opera-
cionismo. Assim, o behaviorismo chama-se Neobehaviorismo.

Quadro 10 – Biografia de Tolman, Hull e Skinner

PSICÓLOGOS BIOGRAFIA

Edward C. Tolman
(1886 - 1959)

Após a graduação do ensino médio em 1907 e do


Instituto de Tecnologia de Massachusetts em 1911,
ele estudou psicologia em Harvard até 1915. Nessa
época, ele se familiarizou com duas abordagens
emergentes de psicologia experimental: psicologia
da Gestalt e behaviorismo. Essas duas abordagens
informariam todo o seu trabalho como psicólogo.
Em 1915, Tolman recebeu seu Ph.D.

Foi um influente psicólogo norte-americano.


Estudou nas Universidades de Michigan e Wiscon-
sin. Doutorou-se nesta última em 1918 onde foi
educação do campo | Teorias da Educação · 71
professor até 1929. Inspirando-se em Pavlov e
Watson desenvolveu as concepções behavioristas
clássicas fazendo intervir variáveis intermédias entre
da Gestalt e behaviorismo. Essas duas abordagens
informariam todo o seu trabalho como psicólogo.
Em 1915, Tolman recebeu seu Ph.D.

Foi um influente psicólogo norte-americano.


Estudou nas Universidades de Michigan e Wiscon-
sin. Doutorou-se nesta última em 1918 onde foi
professor até 1929. Inspirando-se em Pavlov e
Watson desenvolveu as concepções behavioristas
clássicas fazendo intervir variáveis intermédias entre
o estímulo e a resposta. Considerava que no proces-
so de aprendizagem a variável intermédia seria a
motivação. A sua concepção poderia ser expressa
pela fórmula: Potencial de Reação = (Força do hábito
x Impulso x Motivação) – Inibição. A aprendizagem
Clark Hull seria assim um processo resultante de uma cadeia de
(1884 - 1952) condicionamentos em que o reforço, motivação,
(encarado como a redução das necessidades)
desempenha um papel fundamental. Assim não
poderia haver aprendizagem sem motivação.

Conduziu trabalhos pioneiros em psicologia experi-


mental e foi o propositor do behaviorismo radical,
abordagem que busca entender o comportamento
em função das inter-relações entre a filogenética, o
ambiente (cultura) e a história de vida do suposto
indivíduo. A base do trabalho de Skinner refere-se a
compreensão do comportamento humano através
do comportamento operante. O trabalho de Skinner
é o complemento e o coroamento de uma escola
psicológica. Skinner adotava práticas experimentais
derivadas de física e outras ciências.
Burrhus Frederic Skinner Outros importante estudos do autor referem-se ao
(1904 - 1990) comportamento verbal humano e a aprendizagem.

Fonte: Adaptado de Science. Disponível em: <http://science.jrank.org/pages/8448/Behaviorism-


-Neobehaviorism-1930-1955.html>. Acesso em: 16/07/2018.

3.1.1 Skinner na educação: razões da prática


Para Matos (1995) Skinner surge na reformulação da filosofia behaviorista, propondo
algumas mudanças – o behaviorismo deste autor ficou conhecido com behaviorismo
radical. Ainda segundo o autor, na explicação da escolha do termo radical já se pode
tirar as principais respostas e desfechos do que Skinner aconselha para essa filosofia.
Matos afirma que o termo radical:

Foi empregado em dois sentidos: por negar radicalmente (i.e.,


negar absolutamente) a existência de algo que escapa ao mun-
do físico, isto é, que não tenha uma existência identificável no
espaço e no tempo (como a mente, a consciência e a cognição);

72 ·
e por radicalmente aceitar (i.e., aceitar integralmente) todos os
fenômenos comportamentais. (MATOS, 1995, p. 31)

Pode-se perceber que o behaviorismo radical adota uma postura diferenciada em


relação ao que deve ser observado por uma posição behaviorista. Outro ponto
de diferença exposto por Skinner é a aceitação da auto-observação – este apenas
questiona a fidedignidade dessa informação. Skinner (2006) afirma que uma pes-
soa pode observar o funcionamento do seu corpo, o que não garante que esteja
fazendo uma descrição da fisiologia do mesmo e tampouco que explique a causa
do seu comportamento. Ainda fez parte da obra desse autor a corroboração da
importância da busca pela causalidade dos comportamentos e valorizou, ainda
mais, o estudo do ambiente.
É importante mencionar que Skinner desenvolveu o conceito de Comportamento
Operante, hoje é este o cerne principal da Análise do Comportamento. Este conceito
consiste num comportamento voluntário, no qual as consequências determinam
a sua probabilidade de ocorrência (SKINNER, 2003).
Até o momento abordamos uma linha quase histórica sobre esta corrente na
psicologia, pontuando autores e teorias, mas, ainda não chegamos ao ponto edu-
cacional. Porém, Skinner (2003) veio a mudar esse panorama, podemos dizer que
ele era mais flexível e até mesmo mais humano em relação aos outros, mesmo apli-
cando o behavior; que parece ser uma ideia quase oposta. É aí que nasce a grandeza
da aplicação de seus estudos dentro do contexto escolar. A estrutura que Skinner
(2003) desenvolveu, não ignorava o sujeito, pelo contrário, sua teoria mesmo que
repleta de métodos não excluía a essência social, ela incluía-se na mesma.
Para Skinner (2003) é a família que atua como agência educacional ao ensinar
a criança andar, falar, comer e vestir-se. Se utiliza reforçadores primários, como
alimentos disponíveis e também de reforçadores condicionados como atenção,
aprovação entre outros desde que o mesmo se adeque e seja um membro útil de
acordo com tal cultura que permeia. Ou seja, fora do núcleo familiar também há
muitas formas de se receber instruções, de forma casual por membros da comuni-
dade e grupos semelhantes àquelas do controle ético que definem certo ou errado.

1 ATEnção: educar é estabelecer comportamentos que serão


vantajosos para o indivíduo em um tempo futuro, isso
porque a educação dá ênfase à aquisição do comportamento
em lugar de sua manutenção. Skinner (2003 p. 437-438)
Teorias da Aprendizagem.

Em consonância com Skinner (2005), pode-se dizer que a aprendizagem está


sempre em alternância em relação à viabilidade da resposta, e que devemos distinguir
as condições sob as quais ocorre. Também é importante ressaltar que o mesmo autor
garante ainda que a execução de um comportamento é essencial, mas não é isso
que afirma a existência de uma aprendizagem. Logo, se faz necessário que se saiba
a natureza do comportamento, bem como, entenda-se o seu método de obtenção.
Logo, o foco que os estudiosos e pesquisadores devem ter não é nas ações que
os sujeitos emitem em si, mas sim as contingências do qual o comportamento é

educação do campo | Teorias da Educação · 73


função (SKiNNER, 2005). Tentando explanar e explicar melhor sua ideia, Skinner
(1972) expõe que são três as variáveis que integram as chamadas contingências de
reforço, sob as quais há aprendizagem:

(1) a ocasião em que o comportamento ocorre;


(2) o próprio comportamento;
(3) as consequências do comportamento.

Ainda, para Skinner (2005), um dos grandes problemas do ensino na contem-


poraneidade está em criar condições favoráveis para as consequências do com-
portamento, ainda para que este seja efetivamente reforçado é importante que a
consequência esteja associada em um breve tempo com a resposta emitida pelo
organismo.
A preocupação de Skinner (2005) com um trabalho individual que seja coorde-
nado pelo próprio sujeito mostra que, diferentemente do que se divulga em muitos
materiais didáticos, este autor considera a subjetividade de cada indivíduo. Fica
evidenciado, então, que a teoria de Skinner (2005) não só aponta para um trabalho
individualizado, como também indica formas de fazê-lo
Skinner (2005) ainda considerou o educador como um dos principais elementos
para a aprendizagem dos sujeitos. Esta ideia se torna ainda mais explicita quan-
do o autor diz que “ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem; quem é ensinado
aprende mais rapidamente do que quem não é” (SKINNER, 1972, p. 4). Para o autor
o papel que o educador possuí é indispensável para uma aprendizagem eficiente.

74 ·
3.2
O COGNITIVISMO E SUAS
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS
A Figura 32 é representada por meio de um esquema definindo a palavra cognição.

Figura 32 – Definição de cognição

Cognitione Cognição

Aquisição de um
conhecimento por
meio da percepção

Fonte: Autoras.

Segundo Teixeira (2015, s/p.) “cognição é o conjunto dos processos mentais usados
no pensamento, na percepção e na classificação, reconhecimento e compreensão,
para o julgamento por meio do raciocínio, para o aprendizado de determinados
sistemas e soluções de problemas”. De uma maneira mais simples podemos dizer
que cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda
informação captada, por intermédio dos cinco sentidos que estão relacionados com
a percepção do meio interno e externo, são o olfato, paladar, visão, audição e tato.
O modo que o questionamento e a abordagem cognitivista da aprendizagem
divergem do ponto de vista do comportamentalista, se dá pelo fato de destacar a
complexidade inerente a este processo e de se centrar nos processos mentais que
ocorrem para que a aprendizagem tenha lugar (MIZUKAMI, 1986).
Contudo para os cognitivistas a aprendizagem é estruturada e idealizada como
um processo de aquisição de esquemas de resposta e de adaptações sucessivas ao
meio, conforme Figura 33.

Figura 33 – Aprendizagem para os cognitivistas

Cognitivistas Aprendizagem

Esquemas de respostas

Adaptações sucessivas ao meio

Fonte: Autoras.

educação do campo | Teorias da Educação · 75


Quando falamos de aprendizagem têm de ocorrer uma mudança da estrutura
cognitiva do sujeito, na forma como ele percebe, seleciona e organiza os objetos e
os acontecimentos e nos significados que lhes atribui.
A capacidade de aprender novos conceitos depende do conhecimento prévio
e das estruturas cognitivas já existentes no indivíduo e as novas informações que
o indivíduo recebe são relacionadas umas com as outras e provocam alterações
cognitivas na estrutura já existente.
Na concepção cognitivista a motivação é um elemento de grande importância
no processo de aprendizagem. O que leva um indivíduo a aprender são sobretudo
as suas necessidades internas, a sua curiosidade e as suas expectativas.

4 termo do glossário: A motivação é um fenômeno


intrínseco, interno ao sujeito, e voluntário, sendo possível
estimular o desejo de aprender através do apelo à curiosidade,
à autonomia (INÁCIO, 2007)

3.2.1 Implicações Pedagógicas

Com o passar de décadas vários filósofos e teóricos desenvolveram contribuições


atendendo à complexidade dos processos cognitivos, porém, nunca nenhum teó-
rico finalizou nenhuma teoria, mas eles conseguiram chegar a várias concepções
diferentes dentro das teorias cognitivas.
No Quadro 11 são apresentados os principais teóricos David Ausubel e Robert
Gagné das implicações pedagógicas.

Quadro 11 – Principais teóricos das implicações pedagógicas

PRINCIPAIS TEÓRICOS

David Ausubel
(1918 - 2008)

O pesquisador norte-americano David Paul Ausubel


dizia que, quanto mais sabemos, mais aprendemos.
Famoso por ter proposto o conceito de aprendiza-
gem significativa – que encerra a série Teoria Passa-
da a Limpo –, ele é contundente na abertura do livro
Psicologia Educacional: “O fator isolado mais
importante que influencia o aprendizado é aquilo
que o aprendiz já conhece” (Moreira e Masini, 2001).

Robert Gagné
(1916 - 2002)

Psicólogo e pedagogo, desenvolveu uma teoria


voltada para a descrição das condições que favore-
76 · cem a aprendizagem de uma capacidade específi-
ca, e não propriamente uma teoria da aprendiza-
gem ( a explicação de como as pessoas aprendem).
Psicologia Educacional: “O fator isolado mais
importante que influencia o aprendizado é aquilo
que o aprendiz já conhece” (Moreira e Masini, 2001).

Robert Gagné
(1916 - 2002)

Psicólogo e pedagogo, desenvolveu uma teoria


voltada para a descrição das condições que favore-
cem a aprendizagem de uma capacidade específi-
ca, e não propriamente uma teoria da aprendiza-
gem ( a explicação de como as pessoas aprendem).

Fonte: Adaptado de Moreira e Masini (2001). Disponível em: <https://elearning.iefp.pt/pluginfile.


php/49579/mod_scorm/content/0/teo01/05teo01f.htm>. Acesso em: 16/07/2018.

DAVID AUSUBEL
A teoria de Ausubel baseou-se na visão cognitivista, que é aprendizagem, organiza-
ção e integração de material na estrutura cognitiva do indivíduo. Segundo Moreira
(1997) para Ausubel a aprendizagem significativa no processo de ensino necessita
fazer algum sentido para o educando e, nesse processo, a informação deverá inte-
ragir e ancorar-se nos conceitos relevantes já existentes na estrutura do educando.
A teoria da aprendizagem significativa, elaborada por Ausubel conforme Moreira
et al. (1997), foi definida como o processo que gera uma nova informação relacio-
nando-se com o aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. A
Estrutura cognitiva é uma estrutura hierárquica de conceitos que são abstrações
da experiência do indivíduo (MOREIRA et al., 1997).
Para Moreira (2008) novas ideias e informações são aprendidas e retidas na
medida em que existem pontos de ancoragem. Logo, para o autor, a aprendizagem
significativa ocorre quando uma nova informação aporta-se em conceitos relevantes
preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende, na Figura 34 é apresentado
a estrutura cognitiva.

Figura 34 – Estrutura Cognitiva

Ideias amplas
e inclusivas

Estrutura Reconciliação
Integrativa
Cognitiva

Informações
específicas
Fonte: Autoras.

educação do campo | Teorias da Educação · 77


“Aprendizagem implica em modificações na estrutura cognitiva e não só acréscimos”
(MOREIRA, 1997, p.12). Ainda segundo o autor à medida em que a aprendizagem
significativa ocorre, conceitos são desenvolvidos, elaborados e diferenciados em
decorrência de sucessivas interações:

Diferenciação progressiva – As ideias mais gerais e mais inclusivas da disciplina


devem ser apresentadas no início, para depois irem sendo progressivamente dife-
renciadas. Em termos de detalhe e especificidade é mais fácil para o ser humano
captar aspectos diferenciados, de um todo mais inclusivo previamente aprendido,
do que chegar ao todo a partir de suas partes diferenciadas.
Reconciliação integrativa – Explorar relações entre ideias, apontar similaridades
e diferenças importantes, reconciliar discrepâncias reais ou aparentes. O conteúdo
deve, não só proporcionar a diferenciação progressiva, mas também: explorar,
explicitamente, relações entre proposições e conceitos, chamar atenção para dife-
renças e similaridades importantes e reconciliar inconsistências reais ou aparentes.
A programação do material instrucional deve contemplar também a exploração
de relações entre ideias.

ROBERT GAGNÉ
Gagné considera a aprendizagem como uma mudança interior e tenta integrar
os conceitos básicos das teorias cognitivas e comportamentais (NASCIMENTO, 2011).
Segundo ele, esta teoria convenciona que existem diferentes tipos ou níveis de
aprendizado. A importância destas classificações é que cada tipo requer diferentes
tipos de instrução.

2 interatividade: Teorias de Aprendizagem – Gagné


http://teoriasaprendizagemgagne.blogspot.com.br/

Gagné identifica cinco categorias de aprendizagem conforme Figura 35, segundo


(FERNANDES, 2015).

Figura 35 – Cinco Categorias de aprendizagem de Gagné

informação verbal

habilidades intelectuais

habilidades intelectuais

habilidades motoras

Atitudes

Fonte: Autoras.

78 ·
Sabe-se que condições internas e externas diferenciadas são essenciais para cada
tipo de aprendizado. Gagné (1987) exemplifica, para que as estratégias cognitivas
sejam aprendidas é preciso que exista uma chance para se praticar o desenvol-
vimento de novas soluções para os problemas. Para aprender atitudes, a pessoa
precisa ser exposta a um modelo verossímil de papel, ou a argumentos persuasivos.

4 termo do glossário: Verossímil – que parece verdadeiro.


Persuasivo é aquele alguém que possui a capacidade, a
habilidade ou o dom de persuadir, ou seja, de convencer outra
pessoa a acreditar em determinado fato, argumento, hipótese,
teoria ou qualquer que seja a vertente. Toda pessoa persuasiva
é também alguém convincente. Em outras palavras, persuasivo
nada mais é do que um adjetivo da palavra persuasão.

Segundo Fernandes (2015) Gagné sugere que tarefas de aprendizado para habilidades
intelectuais podem ser organizadas em hierarquia, de acordo com a complexidade,
conforme Figura 36.

Figura 36 – Tarefas de aprendizado segundo Gagné

reconhecimento de estímulo

geração de resposta

seguir procedimentos

uso da terminologia

discriminações

formação de conceito

aplicação e regras

resolução e problemas

Fonte: Adaptado de Fernandes (2015).

Fernandes (2015) também defende que a hierarquia é importante para detectar os


pré-requisitos que devem ser realizados a fim de tornar mais fácil o aprendizado em
cada um dos níveis, fornecendo, assim, uma base sólida para a sequência de instrução.
A teoria, conforme Fernandes (2015) propõe nove eventos de instrução e pro-
cessos cognitivos correspondentes, conforme Quadro 12.

educação do campo | Teorias da Educação · 79


Quadro 12 – Eventos de instruções e processos cognitivos

EVENTOS INSTRUÇÕES

Recepção Obter atenção

Expectativa Informar o objetivo para os aprendizes

Recuperação Estimular a lembrança do aprendizado anterior

Percepção Seletiva Apresentar o estímulo

Código semântico Fornecer orientação de aprendizado

Resposta Elicitar performance

Reforço Fornecer feedback

Recuperação Avaliar o desempenho

Generalização Aumentar a retenção e a transferência

Fonte: Adaptado de Elearning Portugal. Disponível em: <https://elearning.iefp.pt/pluginfile.


php/49579/mod_scorm/content/0/teo01/05teo01.htm.>. Acesso em 16/07/2018.

Logo, tais eventos servem para satisfazer ou fornecer as condições necessárias


para o aprendizado e servir como base para criar instruções e selecionar os meios
apropriados para que ocorra a aprendizagem (GAGNÉ, 1987).
Na Figura 37 é apresentado um esquema que resume este capítulo sobre cog-
nitivismo e aprendizagem.

Figura 37 – Cognitivismo e aprendizagem

Diferenças interindividuais Cognitivismo

Aprendizagem
do significado Aprendizagem Processo interno

atribuir um significado Novas estruturas


cognitivas

experiências anteriores Reconstrução da estrutura


cognitiva existente

Fonte: Autoras.

80 ·
3.3
JEAN PIAGET E O CONSTRUTIVISMO
NA EDUCAÇÃO
A Figura 40 apresenta Jean Piaget (1896-1980), suíço, formado em Biologia e que se
dedicou a estudos na Psicologia voltados à Educação, trouxe enormes contribui-
ções para as Ciências Humanas, pela elaboração da teoria cognitiva da aprendiza-
gem, a partir de suas pesquisas sobre o desenvolvimento biológico do indivíduo ao
longo das fases iniciais da sua vida – criança e adolescência (FERNANDES, 2018).

3 saiba mais: Cognitivo é uma expressão que está relacionada


com o processo de aquisição de conhecimento (cognição).
A cognição envolve fatores diversos como o pensamento, a
linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que
fazem parte do desenvolvimento intelectual.

Figura 38 – Jean Piaget

Fonte: NTE/UFSM.

No Brasil, a partir da metade do século XX, começaram a surgir novas teorias nas
áreas da psicologia educacional. Piaget e Vygotsky (veremos a seguir) ambos pais
da psicologia cognitiva vigente, propõem que o conhecimento é edificado em
contextos naturais de interação social, estruturados culturalmente (ARGENTO, s/a).
Para Argento (s/a) cada educando constrói seu próprio aprendizado numa or-
dem de dentro para fora baseado em experiências de fundo psicológico. Para ela
os teóricos desta abordagem procuram explicar o comportamento do ser humano
na esperança que o sujeito e o objeto interajam em um processo que resulta na
construção e reconstrução de estruturas cognitivas.

educação do campo | Teorias da Educação · 81


Segundo Coutinho e Moreira:

Piaget acrescenta mudanças fundamentais à posição de Kant,


em relação ao conhecimento, na medida em que em seu sistema
não existe nenhuma categoria de entendimento “a priori”. As
noções de tempo, espaço e a logicidade de raciocínio são cons-
truídas pelo indivíduo através da ação em trocas dialéticas com
o meio. – Vygotsky e os outros teóricos russos enfatizam o papel
dos determinantes socioculturais na formação das estruturas
comportamentais. (COUTINHO; MOREIRA, 1991, p. 23)

Conforme Carretero (1997) o construtivismo sustenta a ideia de que o indivíduo,


tanto nos aspectos cognitivos quanto sociais do comportamento como nos afetivos,
não é um mero produto do ambiente nem um simples resultado de suas disposi-
ções internas, mas, sim, uma construção própria que vai se produzindo, dia a dia,
como resultado da interação entre esses dois fatores. Em consequência, segundo
a posição construtivista, o conhecimento não é uma cópia da realidade, mas, sim,
uma construção do ser humano.
Segundo ainda Carretero (1997), Piaget além de estudar a gênese da inteligência
deixou escritos aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos.
Desde muito cedo Jean Piaget demonstrou sua capacidade de observação, já com
onze anos percebeu um melro albino em uma praça de sua cidade, essa observação
gerou seu primeiro trabalho científico. Formado em Biologia, Piaget, interessou-se
por pesquisar sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos,
dando assim, o nome da sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida
como estudo dos mecanismos de formação do conhecimento lógico – tais como
as noções de tempo, espaço, objeto, causalidade etc. – e da gênese (nascimento) e
a evolução do conhecimento humano.

2 interatividade: Melro Albino – https://www.geralforum.


com/board/showthread.php/569285-melros-albinos-ou-
parcialmente-albinos

3 saiba mais: A Epistemologia Genética é a teoria desenvolvida


por Jean Piaget, e consiste numa síntese das teorias então
existentes, o apriorismo e o empirismo.

Para Piaget (1996) apud Tafner (2008) o comportamento dos seres humanos não
é instintivo ou natural, nem resultado de condicionamentos. Para ele o compor-
tamento é construído numa interação entre o meio em que se vive e o indivíduo.
A teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada
como uma visão interacionista do desenvolvimento. Para Piaget (1975) apud Fossile
(2010) a inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está
relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras
palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo.

82 ·
Segundo Fossile (2010) Piaget na sua concepção, considera quatro fatores como
essenciais para o desenvolvimento cognitivo da criança, conforme Figura 39:

Figura 39 – Os quatros fatores essenciais para o desenvolvimento cognitivo da criança

De experiências Interações
Biológico e de exercícios sociais Equilibração

relacionado ao é obtido na ação se desenvolve por relacionado à


crescimento orgânico da criança sobre meio da linguagem adaptação ao meio
e à maturação do os objetos e da educação e/ou às situações
sistema nervoso

Fonte: Adaptado de Fossile (2010).

Ao afirmar que o conhecimento resulta da construção que cada indivíduo busca


e constrói, o construtivismo vem a nos mostrar o quanto o educador é uma peça
importante no processo de ensino e aprendizagem. Logo, a aprendizagem não pode
ser entendida como consequência ou uma decorrência do desenvolvimento do
educando, mas sim como o peculiar desenvolvimento do educando (FOSSILE, 2010).

3.3.1 Assimilação, acomodação e equilibração


Quando ocorre a interação da criança com o mundo que a cerca, Piaget diz que a
criança está atuando, mudando a realidade em que ela vive. Logo, para que isso
ocorra, é necessário que a criança desenvolva um esquema de ação.
Só por meio do esquema de ação que a criança estabelece e distingue a ação,
para que esta seja posta em prática. É uma estratégia desenvolvida, onde a criança
possa se ajustar às mudanças ocorridas no seu ambiente. Assim sendo, surgem me-
canismos necessários à elaboração de novos esquemas: assimilação, acomodação
e equilibração (FOSSILE, 2010). Conforme Figura 40 a seguir.

Figura 40 – Mecanismos de assimilação, acomodação e equilibração

Assimilação Acomodação

Equilibração

Fonte: Autoras.

educação do campo | Teorias da Educação · 83


No Quadro 13 apresenta-se os conceitos das ações: assimilação, acomodação e
equilibração.

Quadro 13 – Conceitos de assimilação, acomodação e equilibração.

AÇÕES CONCEITOS

Na assimilação são incorporados os dados exteriores às


organizações mentais do indivíduo. Por exemplo quando
uma criança tem novas experiências (ouve ou vê alguma
Assimilação coisa nova) ela tenta adaptar esses novos estímulos às
estruturas cognitivas que já possui. Isto significa que a
criança terá de adaptar esses estímulos às suas organiza-
ções cognitivas, que já possuía até aquele momento.

Acontece quando a criança não consegue assimilar um


novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura cogni-
tiva que assimile a nova informação e mfunção das
Acomodação
particularidades desse novo estímulo. Dá-se uma
transformação dos esquemas mentais do sujeito por
influência da incorporação dos dados do meio.

A autorregulação entre a assimilação e a acomodação


permite a adaptação do indivíduo ao meio e assim
Equilibração
desenvolver o seu pensamento de forma a ficar cada
vez mais complexo.

Fonte: Autoras.

3.3.2 Pensamento e Linguagem

Para Piaget apud Miranda e Senra (2012, p. 92), “a linguagem não é suficiente para
explicar o pensamento, uma vez que este tem raízes na ação e nos mecanismos
sensório-motores”. Ainda segundo os autores a origem do pensamento é anterior à
linguagem (e independente dela), logo, ela é uma construção da inteligência e tem
origem no estágio sensório-motor, quando se inicia a função simbólica. Na figura
41 é feito uma nuvem de palavras com as principais “palavras” que representam o
pensamento e a linguagem visto neste subcapítulo.

84 ·
Figura 41 – Nuvem de palavras (Pensamento e Linguagem)

Fonte: Autoras.

Piaget apud Miranda e Senra (2012, p.98) afirmam que as “estruturas de linguagem
não são concedidas pelo meio ambiente, mas sim pelo nascimento e desenvolvidas
no dia a dia”. Magalhães afirma que o desenvolvimento da linguagem é um processo
de equilibração progressiva: “uma permanente passagem de um estágio de menor
equilíbrio para outro” (MAGALHÃES, 2007, s/p).
Denominando a fala privada de “fala egocêntrica”, Piaget considera que a função
simbólica não está desenvolvida por completo (MIRANDA; SENRA, 2012).

2 interatividade: Diferentes tendências em pesquisas sobre


a fala egocêntrica: análise de produções brasileiras – http://
www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/
viewFile/6296/8851

3.3.3 Aprendizagem escolar e a teoria piagetiana


A aprendizagem é a modificação da experiência resultante do comportamento no
sentido restrito (específico) aprender que alguma coisa se chama "sol", "cachor-
ro", ou no sentido amplo "aprender a estruturar todos os objetos no universo em
sistemas hierárquicos de classificação" (KAMII, 1991, p.22). Na Figura 42 vemos um
exemplo de aprendizagem de forma restrita.

Figura 42 – Aprendizagem escolar e a teoria piagetiana

Fonte: NTE/UFSM.

educação do campo | Teorias da Educação · 85


Para Belonsi (2009) o desenvolvimento e aprendizagem estão interligados entre si,
sendo assim, a aprendizagem de operações, fatos, ações, procedimentos práticos
ou leis físicas dependem do nível cognitivo do sujeito, quer dizer, que o grau de
desenvolvimento é determinante e torna inexequível uma nova aquisição a um
indivíduo que não está capacitado para ela, porque a compreensão de problemas
somente é possível no momento evolutivo adequado.

3 saiba mais: Operação – ação interiorizada que alcançou


o nível operatório mediante reconstruções sucessivas de
complexidade crescente (equilibração majorante).

4 termo do glossário: Inexequível – que não pode ser


executado, realizado ou cumprido; irrealizável.

Ainda para Belonsi (2009) ao definir-se as fases de desenvolvimento da inteligência


é necessário analisar o fato de que o indivíduo adquire novos conhecimentos ou
estratégias de sobrevivência, de entendimento e perspectiva da realidade. A com-
preensão deste processo é fundamental para que os educadores possam também
compreender com quem estão trabalhando e quem estão educando (BELONSI, 2009).
Conforme Lima (1980) o educador não pode esperar que a obra de Jean Piaget
ofereça uma didática específica sobre como desenvolver a inteligência do educan-
do, ele nos expõe e discorre sobre cada fase de desenvolvimento, apresentando
características e possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições.
Conhecendo essas possibilidades, estimula educadores a oferecer estímulos
adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo, para tanto Lima nos diz que:

Aceitar o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta


revolução no processo escolar (o professor transforma-se numa
espécie de ‘técnico do time de futebol’, perdendo seu ar de ator
no palco). Quem quiser segui-lo tem de modificar, fundamen-
talmente, comportamentos consagrados, milenarmente (aliás,
é assim que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se uma
arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas
e sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’... aí não
está havendo uma escola piagetiana! (LIMA, 1980, p. 131)

As teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para a psicologia do


desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a antropologia, além de
permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas.
Piaget situa o problema epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma inte-
ração entre o sujeito e o objeto, e segundo Dolle (1974, p.52) "essa dialética resolve
todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem
estrutura, estruturalistas sem gênese, entre outros; e permite seguir fases sucessivas
da construção progressiva do conhecimento”.

86 ·
3.3.4 O Educador
Ao optarmos por trabalhar com o Construtivismo, Figura 43, devemos antes de
mais nada conhecer as concepções que uma criança tem da língua escrita. Coe-
rentemente, sabe-se que a compreensão da criança é diferente da compreensão
dos adultos, ficando a cargo do educador entender esse processo. Cabe também
ao educador resgatar na criança as conquistas já realizadas por elas, objetivando
estimular seu conhecimento e assimilação.

Figura 43 – O Educador e o Construtivismo

Fonte: NTE/UFSM.

Os educadores da Educação Infantil devem entender as ideias, iniciativas, feituras


da criança e saber respeitá-las, vendo-as como construções autênticas e legitimas,
a fim de estimular o construtivismo (NUNES, 1990).
Para tanto, o educador deve criar desafios para seus educandos em contextos
que façam sentido para eles, estimulando a criticidade, a pesquisa, a discussão,
o debate (FOSSILE, 2010).

3.3.5 O ambiente alfabetizador

O construtivismo é um defensor de que as crianças da Educação Infantil devem


ter contato com a língua escrita, onde o educador, ao ler para a criança, pro-
porcionará a esta a percepção da leitura em si, e com isso, adquira interesse em
escrever, para tanto a leitura e a escrita devem estar sempre presentes no contexto
alfabetizador (NUNES, 1990).
Após essa evidenciação, torna-se mais fácil e evidente as ideias que a criança
tem de escrita e leitura. Todos “os processos que ocasionam mudanças nas con-
cepções infantis devem ser ligados aos conflitos gerados pela interação sujeito-

educação do campo | Teorias da Educação · 87


-objeto” (NUNES, 1990).
Para Fossile (2010, s/p.) “a sala de aula deve ser enriquecida com atividades que
englobem discussão, reflexão e tomada de decisões; os alunos são os responsáveis
pela defesa, pela justificativa e pelas ideias”.

3.3.6 Sala de aula tradicional x sala de aula


construtivista
Sabe-se que a teoria behaviorista popularizada por Skinner, como já estudamos
anteriormente, continua conduzindo a maioria das práticas educacionais. Por mais
de um quarto de século, as escolas e os educandos estabeleceram objetivos e metas.
Por outro lado, os pesquisadores cognitivistas afirmam que a melhor maneira de
aprender é construindo o seu próprio conhecimento, contrastando com as salas
de aulas behavioristas.
No Quadro 14 a seguir, foi feito um breve resumo indicando as diferenças entre
a sala de aula tradicional e a sala de aula construtivista com o intuito de ajudar a
melhor visualizar as diferenças entre as teorias.

Quadro 14 – Sala de aula tradicional x sala de aula construtivista

Sala de aula Sala de aula


TRADICIONAL CONSTRUTIVISTA

O currículo é apresentado das partes para o O currículo é apresentado do todo para as


todo, com ênfase nas habilidades básicas. partes, com ênfase nos conceitos gerais.

O seguimento rigoroso do currículo preestabe- Busca pelas questões levantadas pelos alunos
lecido é altamente valorizado. é altamente valorizada.

As atividades curriculares baseiam-se funda- As atividades baseiam-se em fontes primá-


mentalmente em livros texto e de exercícios. rias de dados e materiais manipuláveis

Os estudantes são vistos como “tábulas rasas” Os estudantes são vistos como pensadores
sobre as quais a informação é impressa. com teorias emergentes sobre o mundo.

Os professores geralmente comportam-se de Os professores geralmente comportam-se de


uma maneira didaticamente adequada, maneira interativa, mediante o ambiente para
disseminando informações aos estudantes. estudantes. [“Um guia ao lado”].
[“Um sábio sobre o palco”].

O professor busca as respostas corretas para O professor busca os pontos de vista dos
validar a aprendizagem. estudantes para entender seus conceitos
presentes para uso nas lições subsequentes.

Avaliação da aprendizagem é vista como Avaliação da aprendizagem esta interligada


separada do ensino e ocorre, quase que ao ensino e ocorre através da observação do
totalmente, através de testes. professor sobre o trabalho dos estudantes.

Estudantes trabalham fundamentalmente Estudantes trabalham fundamentalmente


sozinhos. em grupos.

Fonte: Autoras.

88 ·
3.3.7 Os estágios de desenvolvimento
“O ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas
é antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a
continuar a se desenvolver depois da escola”.
(Jean Piaget)

O educador Jean Piaget ao descrever a aprendizagem, tem um prisma diferente


do que normalmente se atribui à esta palavra, separando o processo cognitivo
inteligente em duas palavras: aprendizagem e desenvolvimento.
Segundo Macedo (1994), ao referir-se à aprendizagem, Piaget faz menção à
aquisição de uma resposta particular, aprendida em função da experiência, obtida
de forma sistemática ou não. Para ele a medida que o desenvolvimento seria uma
aprendizagem de fato, o principal responsável por esta formação seriam os saberes,
a inteligência e as competências. Piaget (1975), quando propõe sua teoria sobre o
desenvolvimento da criança, relata-a, basicamente, em 4 estágios, que ele próprio
chama de fases de transição:

Sensório-motor (0 – 2 anos);
Pré-operatório (2 – 7 anos);
Operatório-concreto (7 – 12 anos);
Operatório Lógico-Formal (12 – 16 anos).

No Quadro 15 é descrito os 4 estágios que Piaget chama de fases de transcrição.

Quadro 15 – Os 4 estágios de Piaget sobre o desenvolvimento da criança

ESTÁGIOS DESCRIÇÃO

Ocorre entre 0 e 2 anos de idade. Tudo se dá pelas sensa-


ções e pelos movimentos da criança, o que coopera para
que ela desenvolva seus primeiros esquemas de ação.
Aparecem os reflexos básicos dos bebês, que mudam
Sensório-motor
conforme a maturação do sistema nervoso e a interação
com o meio. Ainda não estão envolvidos representações
mentais e pensamentos.

Ocorre entre 2 e 7 anos de idade. A criança começa a


desenvolver sua capacidade simbólica, não dependen-
do exclusivamente de suas sensações e movimentos.
Passa a distinguir o significante (imagem/palavra/sím-
bolo) do significado (conceito). Exemplo: a criança, ao
ver a mãe com uma bolsa, compreende que ela sairá de
casa. Ainda n~]ao compreende a reversibilidade -
Pré-operatório
compreende que 6+1=7, mas não compreende que
7-1=6. Tem pensamento animista (dá vida aos seres
inanimados), pensamentos egocêntricos (particulares
da realidade), raciocínio transdutivo – raciocício
particular (banana verde causa dor de barriga, então
abacate verde também causa dor de barriga).

Ocorre entre 7 e 12 anos de idade. A criança começa a


pensar de forma lógica; no entanto, ainda precisa do
educação do campo | Teorias da Educação
auxílio da realidade concreta. Consegue desenvolver o· 89
pensamento reversível. Sai o pensamento transdutivo e
começa o pensamento indutivo – interioriza a ação ou a
previsão do resultado que vai do particular para o geral.
inanimados), pensamentos egocêntricos (particulares
da realidade), raciocínio transdutivo – raciocício
particular (banana verde causa dor de barriga, então
abacate verde também causa dor de barriga).

Ocorre entre 7 e 12 anos de idade. A criança começa a


pensar de forma lógica; no entanto, ainda precisa do
auxílio da realidade concreta. Consegue desenvolver o
pensamento reversível. Sai o pensamento transdutivo e
começa o pensamento indutivo – interioriza a ação ou a
previsão do resultado que vai do particular para o geral.
Operatório concreto
Abandona o pensamento egocêntrico e passa a pensar o
mundo de forma sociável. Dessa forma, percebe que
existem regras para todos e tenta compreender o pensa-
mento dos outros, ao mesmo tempo que procura
transmitir seu próprio pensamento.

Ocorre entre 12 e 16 anos. Encontramos nessa fase um


adolescente, que utiliza o raciocínio hipotético-deduti-
vo, elabora e testa suas hipóteses, alcança a abstração,
Operatório lógico-formal entende que a linguagem é de importância extrema,
pois com ela poderá formular hipóteses e realizar
pesquisas.

Fonte: Adaptado de Piaget (1975).

90 ·
3.4
LEV VYGOTSKY E O
SOCIOCONSTRUTIVISMO
NA EDUCAÇÃO
Lev Vygotsky nasceu em 1896 na Bielo-Rússia, de família judia, a Figura 46 refere-se
a imagem de Vygotsky. No ano de 1918 formou-se em Direito pela Universidade de
Moscou, casando-se aos 28 anos, vindo a falecer em 1934. Enquanto Lev cursava
Direito também estudava e cursava os cursos de História e Filosofia.
Alicerçado a partir de suas experiências através da formação de educadores,
dedicou-se ao estudo dos distúrbios de aprendizagem e de linguagem, das diversas
formas de deficiências congênitas e adquiridas, vindo a graduar-se em Medicina,
fundando o laboratório de psicologia da Escola de Professores de Gomel, ministrando
várias palestras que posteriormente foram publicadas no livro Psicologia Pedagógica
no ano de 1926 (OLIVEIRA, 1993).

Figura 44 – Imagem de Lev Vygotsky

Fonte: NTE/UFSM.

2 interatividade: Lev Vygotsky – https://www.youtube.com/


watch?v=YK9ZNf_-1t4

educação do campo | Teorias da Educação · 91


Sua carreira iniciou-se muito cedo, com apenas 21 anos, após a Revolução Russa,
e já nesta época preocupava-se com questões que se referiam à Pedagogia. Em
1922, Vigotsky, publicou um estudo sobre os métodos de ensino da literatura nas
escolas secundárias, demonstrando grande interesse pela psicologia acadêmica a
partir de trabalhos envolvendo problemas de crianças com defeitos congênitos,
tais como: cegueira, retardo mental severo, surdez entre outras nos quais dedicaria
anos de estudos, buscando oportunidades de compreensão dos processos mentais
humanos, sendo este o centro do seu projeto de pesquisa, contribuindo de forma
significante para a educação (COELHO; PISONI, 2012).

3.4.1 Teoria vygotskiana

2 interatividade: Conceito e Teoria de Lev Vygotsky


https://www.youtube.com/watch?v=h0iaWCQLIiw

Para Vygotsky a criança nasce apenas com as funções psicológicas fundamentais


e relevantes “somente a partir do aprendizado da cultura, estas funções transfor-
mam-se em funções psicológicas superiores, sendo estas o controle consciente
do comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em relação às
características do momento e do espaço presente” (COELHO; PISONI, 2012, p. 145).
Ainda segundo as autoras, a evolução do psiquismo humano é sempre interposto
pelo outro que indica, delimita e atribui significados à existência e realidade.
Segundo Coelho e Pisoni:

Dessa forma membros imaturos da espécie humana vão aos


poucos se apropriando dos modos de funcionamento psico-
lógicos, comportamento e cultura. Neste caso podemos citar a
importância da inclusão de fato, onde as crianças com alguma
deficiência interajam com crianças que estejam com desenvolvi-
mento além, realizando a troca de saberes e experiências, onde
ambos passam a aprender junto. (COELHO; PISONI, 2012, p.146)

Lev Vygotsky empenhou-se com teses dentro de seus estudos e pesquisas nas quais
são possíveis descrever a relação indivíduo/sociedade, afirmando que as caracterís-
ticas humanas não estão presentes desde que o indivíduo nasce, nem são também
resultados das influências do meio externo, representado no Quadro 16. Estas teses
são consequências das relações homem e sociedade, quando o homem converte o
meio na busca de atender suas necessidades básicas, ele transforma-se a si mesmo.

92 ·
Quadro 16 – Teses que descrevem a relação indivíduo/sociedade de Lev Vygotsky

TESE CARACTERÍSTICAS

Vigotsky defende a educação inclusiva e acessibilidade para todos.


Devido ao processo criativo que envolve o domínio da natureza, o
emprego de ferramentas e instrumentos, o homem pode ter uma ação
indireta, planejada tendo ou não deficiência. Pessoa com deficiência
auditiva, visuais, e outras podem ter um alto nível de desenvolvimento, a
escola deve permitir que dominem depois superem seus saberes do
1º Tese cotidiano. As crianças cegas podem alcançar o mesmo desenvolvimento
de uma criança normal, só que de modo diferente, por outra via, é muito
importante para o pedagogo conhecer essa peculiaridade, é a lei da
compensação. O limite biológico não é o que determina o não desenvol-
vimento do surdo, cego. A sociedade sim é quem vem criando estes
limites para que os deficientes não se desenvolvam totalmente.

Refere-se à origem cultural das funções psíquicas que se originam nas


relações do indivíduo e seu contexto social e cultural. Isso mostra que a
cultura é parte constitutiva da natureza humana, o desenvolvimento
mental humano não é passivo, nem tão pouco independente do desen-
volvimento histórico e das formas sociais da vida. O desenvolvimento
mental da criança é um processo contínuo de aquisições, desenvolvi-
mento intelectual e linguístico relacionado à fala interior e pensamento.
Impondo estruturas superiores, ao saber de novos conceitos evita-se que
2º Tese a criança tenha que reestruturar todos os conceitos que já possui.
vygotsky tinha como objetivo constatar como as funções psicológicas,
tais como memória, a atenção, a percepção e o pensamento aparecem
primeiro na forma primária para, posteriormente, aparecerem em
formas superiores. Assim é possível perceber a importante distinção
realizada entre as funções elementares (comuns aos animais e aos
humanos) e as funções psicológicas superiores (especificamente vincu-
lada aos humanos).

Refere-se à base biológica do funcionamento psicológico o cérebro é o


órgão principal da atividade mental, sendo entendido como um sistema
3º Tese aberto, cuja estrutura e funcionamento são moldados ao longo da
história, podendo mudar sem que ajam transformações físicas no órgão.

Faz referência à característica mediação presente em toda a vida


humana em que usamos técnicas e signos para fazermos mediação entre
seres humanos e estes com o mundo. A linguagem é um signo mediador
por excelência por isso Vygotsky a confere um papel de destaque no
processo de pensamento. Sendo está uma capacidade exclusiva da
humanidade. Através da fala podemos organizar as atividades práticas e
das funções psicológicas. As pesquisas de Vygotsky foram realizadas com
4º Tese a criança na fase em que começa a desenvolver a fala, pois se acreditava
que a prática, ou seja, na coletividade que a pessoa se aproveita da
linguagem e dos objetos físicos disponíveis em sua cultura, promovendo
assim seu desenvolvimento, dando ênfase aos conhecimentos histórico-
-cultural, conhecimentos produzidos e já existentes em seu cotidiano.

Fonte: Autoras.

educação do campo | Teorias da Educação · 93


3.4.2 Pensamento e Linguagem

2 interatividade: PENSAMENTO E LINGUAGEM – Lev Vygotsky


https://www.youtube.com/watch?v=FZfG7KD2yes

Vygotsky afirma que o desenvolvimento da linguagem implica no desenvolvimento


do pensamento, por meio das palavras o pensamento ganha existência (MIRANDA;
SENRA, 2012). Para Vigotsky (1987, p.129) “A linguagem age decisivamente na estru-
tura do pensamento e é ferramenta básica para a construção de conhecimentos”,
intervindo no desenvolvimento intelectual da criança desde seu nascimento. “A
linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem
a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento” (FOSSILE, 2010, p.71).
A seguir a Figura 45 ilustra o pensamento, a linguagem e a construção do saber
na teoria vygotskiana.

Figura 45 – Pensamento, Linguagem e construção do saber

Fonte: Domínio Público. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/crian%C3%A7a-desenho-colo-


rir-2958176/>. Acesso em: 16/07/2018.

É importante dar voz às crianças, deixando que elas exercitem seus pensamentos,
suas vontades. Nós, educadores, não devemos cerceá-las, devemos ouvi-las e agir
como mediadores, auxiliando também em sua construção intelectual (ROMERO, 2015).
Vygotsky (1987) afirma que a linguagem possui duas funções básicas: intercâm-
bio social e pensamento generalizante.
A função de intercâmbio social é bem visível nos bebês, uma vez que con-
seguem, por meio de gestos, expressões e sons, demonstrar seus sentimentos,
desejos e necessidades.
A função de pensamento generalizante pode ser exemplificada quando falamos,
por exemplo, a palavra boi. Independentemente de ter visto de perto algum boi ou
de comer ou não sua carne, nosso pensamento classifica tal palavra na categoria

94 ·
animais e nos remete à sua imagem.
Dentre as manifestações da linguagem encontramos também a fala privada – é
a fala consigo mesmo. Vygotsky (1987) a considera uma ligação entre linguagem
e pensamento, já que, conforme a fala privada se desenvolve, a criança torna-se
capaz de orientar e dominar ações (MIRANDA; SENRA, 2012).
Os pilares básicos do pensamento de Vygotsky apud Stadler et al. (2004):
1. “As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da
atividade cerebral”. O cérebro é um sistema aberto, pois é mutável. Suas estruturas
são moldadas ao longo da história do homem e de seu desenvolvimento individual;
2. O funcionamento psicológico tem como base as relações sociais, dentro de
um contexto histórico;
3. A cultura é parte essencial do processo de construção da natureza humana;
4. A relação homem-mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.
Entre o homem e o mundo existem elementos mediadores – ferramentas auxiliares
da atividade humana.
Para Vygotsky as funções psicológicas superiores (ações e pensamentos inteli-
gentes que só encontramos no homem, como pensar, refletir, organizar, categorizar,
generalizar, entre outros) são construídas ao longo da história social do homem”
(STADLER et al., 2004)

3.4.3 A mediação para Vygotsky

2 interatividade: Vygotsky e o conceito de aprendizagem


mediada – https://novaescola.org.br/conteudo/274/vygotsky-
e-o-conceito-de-aprendizagem-mediada
Mediação simbólica no desenvolvimento humano, uma visão
sócio-histórica – http://professorloureiro.com/vygotsky-
mediacao-simbolica-no-desenvolvimento-humano-uma-
visao-socio-historica/

Para Vygotsky as pessoas não tem um contato direto com objetos e sim uma me-
diação, por meio de um conhecimento ou por uma experiência, logo, ele defende
a sua teoria como sócio construtivista, em que a interação é mediada por várias
relações, vindo a se diferenciar do construtivismo, em que o indivíduo age sem
desvios indo direto ao objetivo (MAGALHÃES, 2007).
“A mediação, conceito central de sua obra, é a intervenção de um elemento
intermediário em uma relação, logo, para Vygotsky, existem dois elementos me-
diadores: os instrumentos e os signos. Ambos oferecem suporte para a ação do
homem no mundo” (STADLER et al., 2004, s/p.). Esta relação está representada na
Figura 46, a seguir.
Stadler et al. (2004, s/p.) esclarece que “instrumento é todo objeto (externo)
criado pelo homem com a intenção de facilitar seu trabalho e sua sobrevivência,
enquanto os signos são instrumentos psicológicos (internos), que auxiliam o ho-
mem diretamente nos processos internos”.

educação do campo | Teorias da Educação · 95


Figura 46 – Elementos mediadores para Vygotsky

Elementos mediadores

Instrumentos Signos

Ação do homem
Fonte: Autoras.

Quando o indivíduo cria uma lista para ir ao mercado, conforme Figura 47, está
criando signos, ou seja, instrumentos psicológicos que o auxiliarão, mais tarde, na
realização da ação (compras no mercado).

Figura 47 – A importância de criar signos

Fonte: Domínio Público. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/carrinho-de-compras-compras-


-sapo-1080968/. Acesso em: 16/07/2018.

As representações da realidade e a linguagem são sistemas simbólicos que fazem


a mediação do indivíduo com o mundo. É o próprio grupo cultural quem fornece
as representações e o sistema simbólico, ao interagir com o outro, o indivíduo vai
interiorizando as formas culturalmente construídas, as mesmas que possibilitam
as relações sociais.

96 ·
3.4.4 Zonas de desenvolvimento
Vygotsky, em sua teoria sócio construtivista, afirma que sempre que há um tipo de
troca (relação) existe aprendizagem, para ele o homem não é um ser passivo, visto
que é um ser que, ao criar cultura, cria a si mesmo (STADLER et al., 2004).

2 interatividade: VYGOTSKY E AS ZONAS DE DESENVOLVIMENTO


https://www.youtube.com/watch?v=I4hI_r5Vb2s
Construtivismo em Vygotsky: https://www.youtube.com/
watch?v=cN0VsFSECfM

Como afirmar, então, que uma criança só adquire conhecimento quando passa a
frequentar a escola?

Para Vygotsky é fora do contexto escolar que a criança desenvolve seu potencial,
sim, com todas as trocas estabelecidas, também quanto ao desenvolvimento da
língua escrita, ele não diminui a importância do ambiente escolar, pois acredita
que quando a criança se familiariza com o mundo escolar ocorre algo fundamen-
talmente novo em seu desenvolvimento: a criança sai da sua zona de desenvolvi-
mento real e passa, com auxílio do educador ou outro mediador, para a zona de
desenvolvimento potencial – caracterizando a zona de desenvolvimento proximal,
conforme Figura 48 (MAGALHÃES, 2007).

Figura 48 – Zona de Desenvolvimento Proximal

Fonte: NTE/UFSM.

A zona de desenvolvimento real refere-se à etapa em que a criança soluciona os


problemas de forma independente, sozinha; a zona de desenvolvimento potencial
refere-se à etapa em que a criança está pronta para compreensão de problemas mais
complexos, mas ainda necessitando da ajuda de um mediador (STADLER et al., 2004).
A zona de desenvolvimento proximal é uma representação que serve para ex-
plicar como ocorre a aprendizagem, cumprindo o papel da distância entre o nível
real e nível potencial da criança (MAGALHÃES, 2007).

educação do campo | Teorias da Educação · 97


3.4.5 A escrita e o ambiente escolar
Como já sabemos Vygotsky, no início de seus estudos, discute a interação entre o
desenvolvimento e aprendizagem, afirma que o aprendizado da criança se inicia
antes mesmo dessa ingressar-se na escola, o que refere-se também ao próprio
processo de aprendizagem da língua escrita.

Durante os primeiros anos de seu desenvolvimento, antes de


atingir a idade escolar, a criança já aprendeu e assimilou um
certo número de técnicas que prepara o caminho para a escrita,
técnicas que a capacitam e que tornaram incomensuravelmente
mais fácil aprender o conceito e a técnica da escrita. (LURIA,
1988, p. 143-145).

A escrita é um produto cultural, construído historicamente, que vai além do domínio


da grafia, na Figura 49 os lápis estão representando a escrita, que “é um sistema de
representação simbólica da realidade, a qual medeia a relação dos homens com o
mundo” (RESENDE, 2009, s/p.).

Figura 49 – Escrita: representação simbólica da realidade

Fonte: Domínio Público. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/l%C3%A1pis-escrita-crian%-


C3%A7a-ergonomia-781181/>. Acesso em: 16/07/2018.

Para Vygotsky apud Resende (2009) a forma como as escolas realizam o processo da
escrita, é completamente errado, criticando o ato mecânico, onde o educador exigi
que as crianças desenhem as letras e construam palavras sem ensinar a linguagem
escrita (RESENDE, 2009). Sendo assim, para ele, é ignorado os aspectos psíquicos
da criança, ainda segundo o autor Vygotsky defende que, para escrever, as crianças
devem entender a linguagem falada; sua incursão na escrita ocorrerá quando elas
perceberem que podem também desenhar o que se fala, Figura 50.
“A primeira tarefa de uma investigação científica é revelar essa pré-história da

98 ·
linguagem escrita; mostrar o que leva as crianças a escrever; mostrar os pontos
importantes pelos quais passa esse desenvolvimento pré-histórico e qual a sua
relação com o aprendizado escolar” (VYGOTSKY, 1998, p. 141).
Figura 50 – Crianças desenhando o que se fala segundo a teoria de Vygostsky

Fonte: NTE/UFSM

Neste sentido para ele a escrita é um sistema de representação simbólica da realidade, a


qual proporciona ao homem se relacionar com o mundo. Ainda para Vygotsky (1989) a
escrita é um processo histórico, por isso devemos entender o processo de escrita em sua
gênese, antes da criança ingressar na escola e submeter-se ao ensino sistemático da lin-
guagem escrita, entendendo o caminho que ela percorre para aprender a ler e a escrever.

4 termo do glossário: Gênese – origem e desenvolvimento dos seres.

O ambiente de ensino deve ser estimulador e favorável, em que o educador deve


ser paciente e afetuoso com o educando, além de buscar conhecê-los, o meio em
que vivem, as relações que estabelecem nesse meio e compreender o que seus
educandos já sabem, já adquiriram. É de extrema importância que o educador
alfabetize letrando, ou seja, ensinando a ler e a escrever no contexto das práticas
sociais. Dessa forma, a aprendizagem poderá ser significativa e satisfatória, com-
pletando o ciclo de desenvolvimento do aluno (RESENDE, 2009).
Vygotsky (1989) deixa claro que é contra uma “pedagogia diretiva e autoritária”,

educação do campo | Teorias da Educação · 99


para ele a intervenção no desenvolvimento da criança tem maior preocupação
com o meio cultural e as relações entre os indivíduos. Para Resende (2009), Vygot-
sky em sua teoria sócio construtivista, é a favor da reelaboração e reconstrução
do conhecimento.

2 interatividade: PEDAGOGIA DIRETIVA E SEU PRESSUPOSTO


EPISTEMOLÓGICO – http://wellingtonbarcelos.blogspot.com.
br/2010/09/pedagogia-diretiva-e-seu-pressuposto.html

100 ·
4
TEORIAS DA EDUCAÇÃO
CONTEMPORÂNEA
102 ·
INTRODUÇÃO

V
ive-se num período em que, de toda a parte, surgem interrogações acerca das
orientações a dar à educação. Surgindo também aquele ponto de interroga-
ção acerca da natureza das mudanças educativas. Que teoria de educação
devemos escolher para seguir? Qual devemos aplicar e acreditar para nossas vidas
e para nossas práticas educativas na escola?
Libâneo, Santos e Saviani em seus estudos pensam ser certo dizer que:

As teorias modernas da educação são aquelas gestadas em plena


modernidade, quando a ideia de uma formação geral para todos
toma lugar na reflexão pedagógica. Comênio lança em 1657 o
lema do “ensinar tudo a todos” e, não por acaso, é considerado o
arauto da educação moderna. O movimento iluminista do século
XVIII fortalece essa ideia de formação geral, válida para todos
os homens, como condição de emancipação e esclarecimento.
As teorias pedagógicas modernas estão ligadas, assim, a acon-
tecimentos cruciais como a Reforma Protestante, o Iluminismo,
a Revolução Francesa, a formação dos Estados Nacionais, a
industrialização. (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 6)

Logo, seguindo os pensamentos dos estudiosos, pesquisadores e educadores


como Libâneo, Santos e Saviani, nesta quarta e última unidade estudaremos as
teorias contemporâneas da educação, natureza e definição, assim como os modelos,
os paradigmas, as filosofias, serão estudadas nessa unidade. Abordaremos também
a crise epistemológica dos paradigmas dominantes e o paradigma emergente.
Espera-se que, ao longo da unidade, você possa entender os conceitos e teo-
rias que sustentam as teorias da educação contemporânea, bem como, fazer uma
relação com suas vivências diárias e com a prática pedagógica desenvolvida no
contexto escolar.

Um bom estudo a todos!

educação do campo | Teorias da Educação · 103


4.1
TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
DA EDUCAÇÃO: NATUREZA E
DEFINIÇÃO
Libâneo, Santos e Saviani (2005) em seus estudos dizem que as teorias contemporâ-
neas da educação são aquelas gestadas em plena modernidade, quando a ideia de
uma formação geral para todos toma lugar na reflexão pedagógica, e assim começa-
mos o estudo sobre as teorias contemporâneas da educação: natureza e definição.
Comênio, Figura 51, lança em 1657 o lema do “ensinar tudo a todos” e, não
por acaso, é considerado o embaixador da educação moderna (FERRARI, 2008). O
movimento iluminista do século XVIII fortalece essa ideia de formação geral, válida
para todos os homens, como condição de emancipação e esclarecimento (LIBÂNEO;
SANTOS; SAVIANI, 2005).no ano de 1926 (OLIVEIRA, 1993).

Figura 51 – Comênio “ensinar tudo a todos”

Comênio, o pai da didática moderna


(1592 - 1670)

O filósofo tcheco combateu o sistema medieval,


defendeu o ensino de “tudo para todos” e foi o
primeiro teórico a respeitar a inteligência e os
sentimentos da criança. A obra mais importante de
Comênio, Didactica Magna, marca o início da
sistematização da pedagogia e da didática no
Ocidente. A obra, à qual o autor se dedicou ao longo
de sua vida, tinha grande ambição. Comênio chama
sua didática de ‘magna’ porque ele não queria uma
obra restrita, localizada.

Fonte: Adaptado de Ferrari (2008).

“As teorias pedagógicas modernas estão ligadas a acontecimentos cruciais como a


Reforma Protestante, o Iluminismo, a Revolução Francesa, a formação dos Estados
Nacionais, a industrialização” (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 04).
Os Pedagogos como Pestalozzi, Kant, Herbart, Froebel, Durkheim, Dewey, vão
estabelecendo teorias sobre a prática educativa sempre consolidadas na manutenção
de uma ordem social mais estável, garantidas pela racionalidade e pelo progresso
em todos os campos, especialmente na ciência (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005).
Ainda conforme Libâneo, Santos e Saviani:

São teorias fincadas nas ideias de natureza humana universal,


de autonomia do sujeito, de educabilidade humana, de emanci-
pação humana pela razão, libertação da ignorância e do obscu-
rantismo pelo saber. Especificamente na pedagogia, o discurso

104 ·
iluminista acentua o papel da formação geral, o poder da razão
no processo formativo, a capacidade do ser humano de gerir seu
próprio destino, de ter autodomínio, de comprometer-se com
o destino da história em função de ideais. (LIBÂNEO; SANTOS;
SAVIANI, 2005, p. 04-05).

Na contemporaneidade as teorias da educação encontram-se em várias versões,


com as mais variadas abordagens, indo das mais tradicionais às mais avançadas,
conforme se situem em relação aos seus temas básicos.
Libâneo, Santos e Saviani (2005, p.06) indicam algumas dessas abordagens:
• a natureza do ato educativo;
• a relação entre sociedade e educação;
• os objetivos e conteúdo da formação;
• as formas institucionalizadas de ensino;
• a relação educativa.

Na literatura internacional e nacional podemos ainda encontrar algumas clas-


sificações das teorias da educação, ora chamadas de tendências ou correntes, ora
de paradigmas, conforme Figura 52.

Figura 53 – Classificações de teorias da educação

tendências correntes

Teorias da
Educação

paradigmas
Fonte: Autoras.

Segundo Libâneo, Santos e Saviani (2005, p. 21) as teorias apresentam como ca-
racterísticas em comum:

• Acentuação do poder da razão, isto é, da atividade racional, científica, tec-


nológica, enquanto objeto de conhecimento que leva as pessoas a pensarem
com autonomia e objetividade, contra todas as formas de ignorância e arbi-
trariedade;

educação do campo | Teorias da Educação · 105


• Conhecimentos e modos de ação, deduzidos de uma cultura universal obje-
tiva, precisam ser comunicados às novas gerações e recriados em função da
continuidade dessa cultura;
• Os seres humanos possuem uma natureza humana básica, postulando-se a
partir daí direitos básicos universais;
• Os educadores são representantes legítimos dessa cultura e cabe-lhes ajudar
os educandos a internalizarem valores universais, tais como racionalidade,
autoconsciência, autonomia, liberdade, seja pela intervenção pedagógica
direta seja pelo esclarecimento de valores em âmbito pessoal.

A partir desse conjunto de ideais, as pedagogias dos tempos atuais adquiriram


suas identidades, formulando distintos entendimentos sobre as formas de conhe-
cimento, função da ciência, conceito de liberdade, sem, todavia, renunciar à ideia
de criação de uma sociedade racional (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005).
Ainda segundo Libâneo, Santos e Saviani:

Uma herança comum dessas teorias, vista pelos críticos como


negativa, é que em nome da razão e da ciência se abafa o senti-
mento, a imaginação, a subjetividade e, até a liberdade, à medida
que a razão se institui como instrumento de dominação sobre
os seres humanos. Nesse sentido, a questão problemática na
racionalidade instrumental é a separação entre razão e sujeito,
entre o mundo científico e tecnológico e o mundo da subjeti-
vidade. (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 07).

Ainda, outra questão que gera muitos problemas e embates, segundo Libâneo,
Santos e Saviani (2005), refere-se às consequências da grande acumulação de
conhecimentos científicos e técnicos produzidos pelos tempos modernos, entre
elas, as disciplinas isoladas e fragmentadas, com isso, provocando a dissociação
da cultura, da economia, da política, do sistema de valores e da personalidade.
Para Libâneo, Santos e Saviani (2005) algumas correntes modernas da educação
buscam separar seus discursos face às transformações que marcam os dias atuais,
o momento histórico presente tem recebido várias denominações, como:

• sociedade pós-moderna;
• pós-industrial;
• pós-mercantil;
• sociedade do conhecimento.

Porém, Libâneo, Santos e Saviani (2005) preferem utilizar o termo pós-moderna,


pontuando alguns traços gerais que caracterizam essa condição, sintetizando su-
gestões de vários autores como: Giroux, McLaren, Giddens, Silva e Rouanet. Segue
os traços indicados pelos autores:

• Mudanças no processo de produção industrial ligadas aos avanços científicos


e tecnológicos, mudanças no perfil da força de trabalho, intelectualização do

106 ·
processo produtivo;
• Novas tecnologias da comunicação e informação, ampliação e difusão da
informação, novas formas de produção, circulação e consumo da cultura,
colapso da divisão entre realidade e imagem, arte e vida;
• Mudanças nas formas de fazer política: descrédito nas formas mais convencio-
nais e emergência de novos movimentos e sujeitos sociais, novas identidades
sociais e culturais;
• Mudanças nos paradigmas do conhecimento, sustentando a não separação
entre sujeito e objeto, a construção social do conhecimento, o caráter não-
-absolutizado da ciência, a acentuação da linguagem;
• Rejeição dos grandes sistemas teóricos de referência e de ideias-força formu-
ladas na tradição filosófica ocidental tais como a natureza humana essencial,
a ideia de um destino humano coletivo e de que podemos ter ideais que
justificam nossa ação, a ideia de totalidade social. Em troca, o que há são
ações específicas de sujeitos individuais ou grupos particulares, existências
particulares e locais.

Os autores ainda mencionam alguns aspectos que o pensamento e a condição


pós-moderna trazem para a educação, em contrapartida aos que foram mencio-
nados anteriormente como traços da pedagogia moderna.

• Acentuar a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de


sua cultura, capazes de desejo e imaginação, de assumir seu papel de prota-
gonistas na construção da sociedade e do conhecimento;
• Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo, os indivíduos e a
sociedade progridem à medida que se empenham em alcançar seus próprios
objetivos.
• Não há cultura dominante, todas as culturas têm valor igual. Os sujeitos devem
resistir às formas de homogeneização e dominação cultural;
• É preciso buscar critérios de restabelecimento da unidade do conhecimento
e das práticas sociais que a modernidade fragmentou, por meio do princípio
da integração, onde os saberes eliminem suas fronteiras e comuniquem-se
entre si;
• Não há uma natureza humana universal, os sujeitos são construídos social-
mente e vão formando sua identidade, de modo a recuperar sua condição
de construtores de sua vida pessoal e seu papel transformador, isto é, sujeito
pessoal e sujeito da sociedade;
• Os educadores devem ajudar os estudantes a construírem seus próprios
conceitos, a partir de suas vivências e culturas. Os valores a serem cultivados
dentro de grupos particulares são a diversidade, a tolerância, a liberdade, a
criatividade, as emoções, a intuição.

Essas características apresentadas, vem ao encontro de vários princípios das


teorias pedagógicas modernas, mas, ao mesmo tempo, instigam uma prepon-
deração e o repensar crítico desses princípios. Giroux (1993) sugere que a crítica
pós-moderna precisa ser examinada pelos educadores e que ela pode dar uma

educação do campo | Teorias da Educação · 107


importante contribuição à pedagogia crítica, porém, McLaren (1993, p. 57) indica
três contribuições do pensamento pós-moderno para uma Pedagogia Crítica:
• Uma reavaliação dos paradigmas teóricos de referência que até hoje tem
norteado a produção do conhecimento, especialmente o legado da tradição
iluminista;
• Uma sistematização, uma ordenação, das explicações de fenômenos novos
que surgem na sociedade: o espetáculo, o efêmero, o modismo, a cultura do
consumo, a emergência de novos sujeitos sociais, etc.;
• Um mapeamento das transformações que vão ocorrendo no mundo con-
temporâneo (e que caracterizam a chamada "condição pós-moderna") para
aguçar a consciência dos que se propõem a manter-se dentro de um posi-
cionamento crítico.

Com isso, faz-nos pensar, existem tendências contemporâneas no ensino de


alguma forma influenciadas pelo pensamento pós-moderno?
Segundo Libâneo, Santos e Saviani:

Certamente sim, elas existem e aos poucos vão ocupando espaços


na prática de professores embora, como de costume, com fortes
traços de reducionismo ou modismo. Algumas dessas correntes
são esforços teóricos de releitura das teorias modernas, outras
afiliam-se explicitamente ao pensamento pós-moderno focadas
na escola e no trabalho dos professores, enquanto que outras
utilizam-se do discurso pós-moderno sem interesse nenhum
em chegar a propostas concretas para a sala de aula e para o
trabalho de professor, ao contrário, propõem-se a desmontar
as propostas existentes. (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 09).

Há notórias resistências a tentativas de classificação das teorias pedagógicas, boa


parte delas compreensíveis. Vários segmentos de intelectuais que se situam no
âmbito do pensamento pós-moderno podem alegar, dentro de seus quadros de
referência, que as classificações seguem exatamente o figurino da modernidade,
da classificação de conhecimentos, do fechamento em campos disciplinares (LI-
BÂNEO; SANTOS, 2005).
Nesse caso, as classificações seriam, portanto, reducionismos, simplificações,
fragmentações. Em outra orientação, dir-se-á que os campos científicos em geral
firmam-se muito por conta de legitimação das concepções por meio de disputa de
poder (LIBÂNEO; SANTOS, 2005).
Ainda segundo os autores, há ainda posições que deliberadamente defendem
o hibridismo cultural. Na verdade, as classificações sempre existiram, indepen-
dentemente das críticas que lhes são feitas, elas pertencem sim a certa tradição da
racionalidade científica. Eles também apresentam o esboço de um quadro geral das
correntes pedagógicas contemporâneas, proposto a seguir, conforme Quadro 17.

108 ·
Quadro 17 – Correntes pedagógicas contemporâneas

CORRENTES MODALIDADES

Ensino de excelência
Racional-tecnológica
Ensino Tecnológico

Neocognivistas Construtivismo pós-piagetiano

Sociologia crítica do currículo


Sociocríticas
Teoria histórico-cultural
Teoria sociocultural
Teoria sócio cognitiva
Teoria da ação comunicativa

Holismo
Teoria da Complexidade
Holísticas Teoria naturalista do conhecimento Ecopedagogia
Conhecimento em rede

Pós-estruturalismo
Pós-modernas Neo-pragmatismo

Fonte: Adaptado de Libâneo, Santos e Saviani (2005)

Iremos brevemente abordar cada corrente, visto no Quadro 17 conforme, Libâneo,


Santos e Saviani (2005).
Corrente racional-tecnológica – Corresponde à concepção que tem sido de-
signada de neotecnicismo, associada a uma pedagogia a serviço da formação para
o sistema produtivo, em que subtende-se a formulação de objetivos e conteúdos,
padrões de desempenho, competências e habilidades com base em critérios cien-
tíficos e técnicos.
Corrente neocognitivista – Nesta corrente, incluem-se, novos aportes ao es-
tudo da aprendizagem, do desenvolvimento, da cognição e da inteligência. Tais
abordagens cognitivas referem-se a estudos relacionados à utilização de técnicas
como o uso de computadores. Objetivando buscar inovações a fim de avançar na
investigação sobre os processos psicológicos e a cognição.
Teorias sociocríticas – As teorias sociocríticas tendem a concepção de educação
como compreensão da realidade para transformá-la, visando a construção de novas
relações sociais para superação de desigualdades sociais e econômicas.
Correntes holísticas – São correntes de diferentes vertentes teóricas, que têm
como principal aspecto uma visão “holística” da realidade como uma totalidade
de integração entre o todo e as partes, porém buscando compreender a dinâmica
e os processos dessa integração de forma diferente.
Correntes pós-modernas – Essas correntes tentam fugir da denominação de

educação do campo | Teorias da Educação · 109


pedagogias, porém, boa parte das publicações de autores e pesquisadores brasileiros
produzem neste campo da educação, um campo mais científico da educação. Assim,
essas correntes se constituem a partir das críticas às concepções globalizantes do
destino humano e da sociedade, as metanarrativas, assentadas na razão, na ciência,
no progresso, na autonomia individual.

110 ·
4.2
DA CIÊNCIA MODERNA AO NOVO
SENSO COMUM
2 interatividade: XXII SNEF – UMA NOVA CIÊNCIA PARA UM
NOVO SENSO COMUM – PROF. MARCELO GERMANO: https://
www.youtube.com/watch?v=-dbqudJECrE

Para compreendermos melhor este item da unidade 2, precisamos primeiramente


saber o que é senso comum? Pode-se dizer que

[...]senso comum é um saber que nasce da experiência quotidia-


na, da vida que o homem leva em sociedade. É um saber informal,
simples e superficial, que ocorre de uma forma espontânea, por
meio do contato com outras pessoas, com as situações e com os
objetos que nos rodeiam (DOCIO et al., 2009, p.11).

2 interatividade: senso comum – https://www.todamateria.


com.br/senso-comum/

4 termo do glossário: o Senso Comum é a soma dos


saberes do cotidiano e é formado a partir de hábitos, crenças,
preconceitos e tradições. Na filosofia, o termo é utilizado para
explicar as interpretações feitas pelos indivíduos à realidade
que os cercam sem estudos prévios ou provas científicas.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/senso-comum/

Conforme Tardif (2010) um dos projetos intelectuais do século XX foi a criação


de uma ciência da educação, ou seja, uma análise científica dos eixos de ensino
e aprendizagem. Tal projeto foi assumido pela psicologia que se impôs como
fundamento epistemológico para a constituição de uma pedagogia científica.

2 interatividade: Livro – A Pedagogia: https://vascheffer.files.


wordpress.com/2013/10/a_pedagogia-gauthier-e-tardif.pdf

O autor ainda restringe, nesse aspecto, a interpretação do termo ciência da educa-


ção à psicologia e à psicopedagogia enquanto que o termo ciências da educação
é reservado ao feixe de saberes modernos, em particular, às ciências sociais e
humanas que fornecem o aporte para a análise da educação, bem como as suas
diversas disciplinas científicas ou técnicas tais como a avaliação, a didática ou a
administração escolar.

educação do campo | Teorias da Educação · 111


4 termo do glossário: A Psicopedagogia é a área de
conhecimento, atuação e pesquisa que lida com o processo
de aprendizagem humana, visando o apoio aos indivíduos
e aos grupos envolvidos neste processo, na perspectiva
da diversidade e da inclusão. Associação Brasileira de
Psicopedagogia (2008)

Tardif (2010, p. 364) destaca que a ciência aparece como a grande solucionadora dos
problemas humanos “um remédio universal contra todos os males, a começar pela
ignorância, passando pela crítica das crenças tradicionais, superando as opiniões
do senso comum para atingir um conhecimento rigoroso, sistemático, universal,
concreto e correto”. Isto significa que todas as dimensões do homem passam a ser
estudadas sob o enfoque das ciências que pretendem mensurá-lo, particularmente,
as ciências humanas. Este fato é resultado de uma longa história, com elementos
despontados entre os três últimos séculos: “o projeto moderno de fundar uma ciência
da educação germina lentamente no século XVIII, sob a influência de Rousseau, do
racionalismo das Luzes, do empirismo inglês e do progresso da ciência e depois,
em meados do século XIX, das ciências da vida” (TARDIF, 2010, p. 360).
De acordo com Nogueira:

É importante precisar que no século XVIII os filósofos ilumi-


nistas propagavam a soberania da razão como paradigma
do homem moderno. Mas Rousseau aparece contrastando
essa visão de mundo. Ele criticou o racionalismo por causa
do processo que dele deriva: a desnaturalização do homem
que se torna mais forte tanto com o ideal cientificista quanto
pelo positivismo os quais postulam a supremacia da ciência.
Apenas a ciência é possuidora da verdade do homem, sem
a qual ele não pode alcançar a plenitude do saber. Qualquer
outra fonte de saber seja filosófica ou teológica, por exemplo,
é terminantemente desconsiderada. (NOGUEIRA, 2012, p. 28)

3 saiba mais: O Iluminismo surgiu na França do século XVII


e propunha o domínio do pensamento racional sobre o
teocentrismo (Deus no centro de todas as explicações) que
predominava na Europa desde a época Medieval. De acordo
com os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha
o propósito de jogar luzes nas trevas em que se encontrava
grande parte da humanidade. Fizeram também uma forte
crítica ao absolutismo ao defenderem a liberdade econômica,
política e social.

Para Gauthier (s/ano) uma das funções da ciência será a crítica da tradição em geral,
pois em nome da ciência se ergue verdades sobre todos os tipos de tradição sejam
eles religiosos, morais ou jurídicos. O que não for fundamentado, racionalmente,
tende a tornar-se sinônimo de duvidoso e obsoleto.

112 ·
3 saiba mais: para Gauthier, a pedagogia nova expõe a
criança no cerne de seus interesses, em vista disso, ela deve
“transmitir” a cultura tendo como pressuposto as forças vitais
da criança, permitindo assim, o seu pleno desenvolvimento.
Isto significa que a prática educativa será pautada em valores
subjetivos e não mais em valores objetivos quais sejam o
verdadeiro, o belo e o bem. Então, educar não é mais um
movimento do exterior para o interior como na pedagogia
tradicional, mas do interior para o exterior. Isto implica que
o desenvolvimento das forças imanentes da criança: seus
desejos, sentimentos, sua criatividade passa a ser permitidos.
Além de ser possuidora de uma energia vital e criadora, a
criança tem necessidades e interesses. Nesse caso, para a
pedagogia nova é fundamental que tanto o ensino como a
aprendizagem girem em torno dessas “realidades”. Isto implica
que todo o programa pedagógico seja determinado por essas
“categorias” em nível de estrutura e conteúdo.

No que tange à tradição pedagógica, em específico, ocorre um movimento de


crítica por parte da pedagogia nova “aos Irmãos das Escolas Cristãs, aos educadores
Jesuítas e aos Mestres da Escola Mútua por causa da forma de ensino considerada
antiquada” (GAUTHIER, p. 194-195). Nesse caso, segundo ele, ainda no século XIX
se ensinava utilizando o mesmo método do século XVII, apesar das adaptações
realizadas. Por outro lado, “os partidários da pedagogia nova denunciavam esse
saber sedimentado historicamente e transmitido na prática, pela imitação, o que
correspondia a um ato de ensinar mecânico” (GAUTHIER, s/ano, p. 186).
Toda crítica à pedagogia tradicional se balizou na ciência moderna e seus pro-
cedimentos. Tais modos de proceder perpassam pela verificação das hipóteses
levantadas pelo cientista, pela refutação das conjecturas, pela correção dos seus
erros e pela corroboração de verdades. A partir do século XVIII, a ciência se conso-
lidou e ganhou relevância no final do século XIX.

4 termo do glossário: balizar – marcar, demarcar.


Refutação – ação de refutar; contestação.
Conjectura – Uma conjectura é uma ideia, fórmula ou
frase, a qual não foi provada ser verdadeira, baseada em
suposições ou ideias com fundamento não verificado. As
conjecturas utilizadas como prova de resultados matemáticos
recebem o nome de hipóteses.

Nas palavras de Gauthier (s/ano, p. 187):

Conhecemos a influência que terá a doutrina positivista de Au-


guste Comte (1798 – 1857). Este afirma que a humanidade passa
por um certo número de estágios na sua evolução. Primeiro, um
estágio teológico, caracterizado pela explicação sobrenatural dos

educação do campo | Teorias da Educação · 113


fenômenos; depois um estágio metafísico, em que as entidades
sobrenaturais como Deus são substituídas por conceitos abstra-
tos da mesma natureza; finalmente um estágio positivo, em que
os humanos, renunciando as antigas explicações, descobrem
pela observação e pelo raciocínio científico as leis que regem
o real. A ciência segundo Comte é o estágio mais avançado da
evolução da humanidade.

Contudo, vários autores defenderão a cientificidade da pedagogia (GAUTHIER, s/


ano), assim, a superação da pedagogia tradicional somente será efetivada pelo viés
da fundamentação científica da nova pedagogia, implicando que ela deverá passar
pelos estágios da observação e da experimentação.
Assim, pode-se constatar que o século XIX foi marcado por uma literatura im-
pactante na formação do espírito científico contemporâneo. Dois exemplos são
importantes: a biologia e a obra de Darwin,
Por sua vez, a obra de Claude Bernard, Introdução ao estudo da medicina experi-
mental publicada em 1865, na qual o autor define as normas de observação para a re-
alização de uma medicina experimental. Em outras palavras, é instituída uma análise
científica e natural do homem, tido por animal como todos os outros e não como um ser
à parte. Nesse caso, o ente humano é concebido ideologicamente como um fenômeno
natural, cujo estudo será da competência das ciências da natureza e dos seus métodos.

2 interatividade: MEDICINA, MEDICINA EXPERIMENTAL E ÉTICA


EM PESQUISAS – http://www.condutamedica.com.br/artigos.
asp?id=78&mostrarEditorial=S

Logo, a ciência humana que aplicará os métodos e os procedimentos será a psico-


logia. De acordo com Tardif:

[...] é o desenvolvimento da psicologia experimental, em fins do


século XIX, que fornece à educação a sua primeira base científica.
A psicologia experimental se inspira em trabalhos de psicofísica
experimental dedicados à percepção, à sensação e ao influxo
nervoso, realizados por Weber, Helmholtz, Fechner e Wundt,
entre outros. Todos esses trabalhos têm por fim estabelecer uma
correlação entre os processos psicológicos e mecanismos físicos,
corporais, materiais, neurológicos ou outros. (TARDIF, 2010, p. 360)

Simultaneamente, ao findar-se o século XIX, formou-se a pedagogia experimental,


assim denominada devido ao seu paralelismo com a psicologia experimental que
tinha por finalidade atingir aspectos objetivos e mensuráveis da experiência edu-
cacional (NOGUEIRA, 2012).

2 interatividade: Pedagogia Experimental


http://www.procrie.com.br/2016/11/20/pedagogia-
experimental-2-24047

114 ·
Essas experimentações serão realizadas por meio de testes psicológicos de apren-
dizagem e seus instrumentos. Nas palavras de Plaisance e Vergnaud:

É impossível falar em psicologia da educação sem lembrar os


testes, pois eles ocuparam lugar importante no trabalho dos
psicólogos profissionais e boa parte dos trabalhos de pesquisa da
primeira metade do século XX consistiu em elaborar provas tão
confiáveis quanto possível para medir as aptidões das crianças,
seus conhecimentos, seu desenvolvimento, seu temperamento.
(PLAISANCE; VERGNAUD, 2003, p.63)

Os testes psicológicos, juntamente com seus instrumentos, definem o conjunto


de modelos quantitativos que servirão de base para uma descrição e classificação
das crianças, conforme Tardif:

Eles fornecerão mais tarde à pedagogia uma base científica e


técnica. No espaço de vinte anos, vê-se constituir [...] trabalhos
de Watson (1913), de Guthrie (1921) e de B.F Skinner (1930), uma
ciência da aprendizagem com fundamento experimental, acom-
panhada de uma técnica de modificação de comportamento,
capaz de servir de base para uma pedagogia “científica” aplicá-
vel à crianças normais ou com dificuldades de aprendizagem.
(TARDIF, 2010, p. 361)

António Nóvoa relata que o momento da pedagogia experimental foi preparado


por intermédio de alguns autores como: o pedagogo e psicólogo Alfred Binet (1857-
1911), em Paris, com a invenção do primeiro teste de inteligência; o neurologista e
psicólogo do desenvolvimento infantil Édouard Claparède (1873-1940), em Genebra;
e o pedagogo experimental Raymond Buyse (1889-1974), em Bruxelas.
No auge da modernidade, após a autonomia das ciências particulares em relação
à filosofia, a pedagogia se transformou em ciência da educação. Ela se tornou um
“lugar comum” dos cientistas, particularmente, da área de humanas. Mas será de
um modo explícito um domínio da psicologia.

educação do campo | Teorias da Educação · 115


CONSIDERAÇÕES FINAIS

N
o transcorrer desta disciplina pode-se fazer um breve apanhado geral
sobre a teoria da educação, bem como na primeira unidade discorrer
sobre a Gênese, historiografia das matrizes filosóficas e epistêmicas do
pensamento pedagógico brasileiro, transcorrendo pelo século XIX: o século da
pedagogia; o século XX até os anos 50: “Escolas Novas” e ideologia da educação; a
segunda metade do século XX: ciências da educação e empenho mundial da pe-
dagogia; as ideias pedagógicas no Brasil entre 1969 e 2001; a educação na ruptura
política para a continuidade socioeconômica. Na segunda unidade vimos sobre
a pedagogia tecnicista, concepção analítica e visão crítico-reprodutivista; ensaios
contra-hegemônicos: as pedagogias críticas buscando (re)orientar a prática educa-
tiva; o neoprodutivismo e suas variantes neoescolanovismo, neoconstrutivismo e
neotecnicismo. Já na terceira unidade abordou-se o behaviorismo e a abordagem
científica do ensino; o cognitivismo e suas implicações pedagógicas; Jean Piaget e
o construtivismo na educação; Lev Vygotsky. Na quarta e última unidade fizemos
um apanhado da teoria do socioconstrutivismo na educação; teorias contemporâ-
neas da educação: natureza e definição e ciência moderna ao novo senso comum.
Logo, com o estudo sobre as teorias da educação podemos refletir sobre as ma-
trizes filosóficas e epistêmicas do pensamento pedagógico brasileiro, analisando
a noção de educação moderna e o nascimento das ciências da educação. Por fim,
espera-se que você tenha subsídios de entender os diferentes aspectos ligados as
teorias da educação e possa fazer uso em sua prática escolar, a fim de tornar-se
um processo de ensino e aprendizagem agradável e aprazível.

116 ·
ATIVIDADES DE REFLEXÃO
OU FIXAÇÃO
1. O saber pedagógico-educativo esteve representado principalmente na Inglaterra,
França, Alemanha e Itália. Essa predominância se deve, também, ao destaque e
participação que tais países obtiveram dentro da conjuntura internacional durante
o século XIX. Devidamente posta à prova pela aplicação de suas ideias e procedi-
mentos, a pedagogia e a educação foram modelando-se de forma a estabelecer a
importância da instrução, como decorreu esse processo?

2. No decorrer do século XIX, a pedagogia moderna opera em conjunto com a or-


ganização de instituições voltadas para a educação, assim, a estruturação de um
sistema e sua administração da instituição-escola sofre uma reavaliação da sua
prática didática, explique com suas palavras como correu essa reavaliação.

3. Conceitue pedagogia científica.

4. Conceitue de paradigma científico, indutivo e experimental.

5. No Brasil, o movimento da Escola Nova só começou na década de 1920, com


diversas reformas esparsas do ensino público. Suas ideias expressaram-se de ma-
neira clara em 1932, no Manifesto dos Pioneiros da educação nova, cujos principais
signatários foram Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho.
A Escola Nova trouxe conceitos e práticas inovadoras com relação à escola tra-
dicional. Uma de suas principais características é:

a) reconhecer que todo aluno tem a capacidade de aprender e neste sentido o


educador é o responsável final pelo processo de aprendizagem dos alunos.
b) considerar que o aluno traz poucos conhecimentos para a escola e neste
sentido o educador deve planejar sua aula de maneira detalhada.
c)possibilitar que o aluno entre em contato com diversas técnicas de produção
de conhecimento, para que possam ser desenvolvidas habilidades procedimentais.
d) considerar o aluno como centro do processo educativo, sendo o educador o
facilitador das aprendizagens a serem desenvolvidas pelos alunos.
e) proporcionar conhecimento profissionalizante a todos os alunos para integrar
a instituição educativa à sociedade.

6. Diferencie os ideais da Nova Escola da Escola Tradicional.

7. Conceitue Ciência da Educação.

educação do campo | Teorias da Educação · 117


8. O saber pedagógico, que vem se configurando como um saber hipercomplexo,
constituído de muitos elementos, levando a reflexão e também sendo capaz de ser
levado a uma autorreflexão. Logo a hipercomplexidade é:

9. O período da pedagogia no Brasil entre 1969 e 2001, subdivide-se em três


momentos, quais são? Conceitue cada um deles.

10. Com a ruptura política, quais foram as implicações para a educação e as


ideias pedagógicas?

11. Porque a psicologia comportamental se diferenciava da teoria das anteriores?

12. Para Skinner (1972) o grande foco dos estudiosos da aprendizagem não
devem ser as ações que os indivíduos emitem em si, mas sim as contingências do
qual o comportamento é função. Tentando elucidar sua ideia, ele expõe que três
são as variáveis que compõem as chamadas contingências de reforço, sob as quais
há aprendizagem:

13. À medida em que a aprendizagem significativa ocorre, conceitos são de-


senvolvidos, elaborados e diferenciados em decorrência de sucessivas interações,
quais são elas?

14. O que é o construtivismo? Em que se distingue a pedagogia construtivista,


em linhas gerais?

15. Qual é o papel do educador no construtivismo e em que difere do ensino


tradicional?

16. Conceitue as ações: assimilação, acomodação e equilibração.

17. Os estudos de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo lançam luz


sobre o modo pelo qual as crianças percebem o mundo ao seu redor nas diferen-
tes idades e estágios. Considerando o estágio pré-operatório, segundo a teoria de
Piaget, analise as características a seguir.

I. Animismo: atribuição de sentimentos humanos aos objetos;


II. Conservação: compreensão de que a quantidade permanece a mesma quando
a aparência muda;
III. Egocentrismo: incapacidade de se colocar na posição de outra pessoa.

É (são) característica(s) do estágio pré-operatório:


a) I, II e III;
b) somente I e II;
c) somente I e III;
d) somente II e III;
e) somente II.

118 ·
18. Para Piaget, o estágio sensório-motor se caracteriza por ocorrer:
a) do nascimento aos 2 anos, havendo progressão de simples ações reflexas para
o processamento simbólico;
b) a partir dos 2 anos, havendo aprendizado através da habituação, do condi-
cionamento operante e da imitação;
c) entre 2 e 6 anos, com uso de palavras e números para representação do mundo
em uma perspectiva subjetiva;
d) entre 7 e 11 anos, com entendimento e aplicação das operações lógicas às
experiências do aqui e agora;
e) a partir da adolescência, com uso do pensamento abstrato, especulação hi-
potética e raciocínio dedutivo.

19. Quais são os pilares básicos do pensamento de Vygotsky?

20. Algumas correntes modernas da educação buscam rearticular seus discursos


face às transformações que marcam a contemporaneidade. O momento histórico
presente tem recebido várias denominações quais são elas?

educação do campo | Teorias da Educação · 119


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126 ·
APRESENTAÇÃO DAS
PROFESSORAS RESPONSÁVEIS
PELA ORGANIZAÇÃO
DO MATERIAL DIDÁTICO

Cíntia Moralles Camillo


Mestranda no Curso de Tecnologias Educacionais em Rede – UFSM
Pesquisadora e Bolsista pelo Laboratório de Mediações Culturais e Sociais
(LabMESC) – UFSM
Bolsista voluntária no Curso de Educação do Campo – UFSM
Monitora no Curso de Educação do Campo – UFSM
Licenciada em Matemática – FURG
Especialista em Educação a Distância– UNOPAR
Especialista em Estatística e Modelagem Quantitativa – UFSM
Graduanda em Bacharelado em Estatística – UFSM

Liziany Müller Medeiros


Possui Bacharelado em Zootecnia (2004) e Licenciatura Plena no Programa Es-
pecial de Graduação de Formação de Professores para a Educação Profissional de
Professores (2011) ambas pela Universidade Federal de Santa Maria, Mestrado (2006)
Doutorado (2009) pelo Programa de Pós-graduação em Agronomia na Uni-
versidade Federal de Santa Maria, Pós-doutorado em Zootecnia no Programa de
Pós-Graduação em Zootecnia na Universidade Federal de Santa Maria (2011)
Atualmente é professora Adjunta 4, responsável pelo Laboratório Mediações
Sociais e Culturais – Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural – Cen-
tro de Ciências Rurais – UFSM, Professora e Coordenadora Adjunta e de Tutoria do
Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Aberta do Brasil/
UFSM, Professora e Orientadora do Curso de Especialização em Tecnologia de
Informação e Comunicação da Universidade Aberta do Brasil/UFSM, Professora
do Curso de Especialização em Agricultura Familiar Camponesa e Educação do
campo – Residência Agrária, Professora e Orientadora do PPGTER – Programa de
Pós-Graduação em Tecnologias Educacionais em Rede nível Mestrado da Univer-
sidade Federal de Santa Maria.

educação do campo | Teorias da Educação · 127

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