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Erros ortográficos

Erro ortográfico é uma designação já há muito consignada no vocabulário português para referir
falhas na transcrição correta da grafia de uma palavra; transcrição correta é aquela que, num
determinado momento histórico, foi ou está convencionada, o que é o mesmo que afirmar que,
neste período de tempo, obedece a uma norma (…) que evolui (Sousa, 1999, p.65).

O erro ortográfico surge como uma falha da escrita de uma língua e tem vindo a provocar
discussões sobre as abordagens pedagógicas, nomeadamente em Português que, como já vimos,
é um sistema de escrita alfabético que se caracteriza pela sua complexidade quanto à relação do
signo gráfico com o signo linguístico e quanto à univocidade dessa relação.

A linguística e a psicologia apresentam uma diacronia sobre a abordagem das dificuldades dos
alunos, a partir da análise dos erros ortográficos. Se por um lado, o professor pode fundamentar o
erro como algo indesejável, como subproduto reprovável do processo de ensinoaprendizagem,
por outro, pode perspetivá-lo como algo inevitável.

Está presente esta abordagem nas palavras de Pinto (1998), que relembra: o erro, neste caso o
erro ortográfico, apresenta duas leituras. Uma das leituras está relacionada com a visão clássica
da falha e constitui objeto de “censura” com vista a melhores desempenhos de acordo com a
norma ortográfica estabelecida e transmitida aos aprendentes. A outra leitura do erro encontra-se
porventura menos vulgarizada. Trata-se, com efeito, de uma via que nos permite penetrar no
modo como a escrita se pode revelar um objeto em construção a partir dos conhecimentos que a
criança possui no momento. E confere-nos, por isso, a capacidade de acompanhar o processo
inerente ao desenvolvimento do conhecimento (p.142).

Causas dos erros ortográficos

Perera (1984), citado por Azevedo (2000), identifica como causas dos erros em crianças as
seguintes: o facto de as ideias fluírem mais rapidamente do que o seu registo escrito,
ocasionando omissões de palavras, repetições, combinação de dois tipos de estrutura sintática; a
falta de estratégias de releitura durante o processo de composição; a experimentação de novas
construções que não estão ainda totalmente dominadas, como orações relativas e concessivas,
entre as crianças com idade compreendida entre os 9 e os 13 anos; o uso de construções que são
normais a nível da linguagem oral, mas menos aceitável na escrita (p.69).
Gomes (1989), refere as seguintes causas do erro ortográfico: as de natureza psicológica como a
memória, a atenção, a perceção e a lateralidade; as que são derivadas de métodos de leitura
seguidos; as que estão relacionadas com o meio social do aluno (pobreza do vocabulário usado e
hábitos de leitura); as que resultam de um grande contacto com situações predominantemente
orais como conversação, audiovisuais, banda desenhada; as que derivam da complexidade da
própria língua; a interferência de outras línguas (p.93).

Consequentemente podem observar que as causas dos erros são múltiplas, de diferente natureza e
que nem sempre será fácil a sua identificação e ressalva-se a ideia do papel da escola, que para
além de diagnosticar, é o de acompanhar a evolução do processo de apropriação para poder
compreender realmente o que podem significar as dificuldades das crianças.

Estratégias pedagógicas para o tratamento dos erros ortográficos

Para prevenir ou corrigir os erros ortográficos, em termos de estratégias pedagógicas a implementar


junto dos aprendentes, são variadíssimas as propostas que uma panóplia de autores defende, pelo que
me focarei em algumas das estratégias de revelador interesse no processo de investigação.

Para Pinto (1998), é necessário promover exercícios de linguagem em que a criança “aprenda a ouvir, a
reter e a emitir correctamente e em que aprenda a ver, reter, e a reproduzir/transcrever em diferido de
modo exato para minimizar a ocorrência de erros fonéticos” (p.184).

Neste sentido, Rio-Torto (2000), eleva a necessidade de o professor ser cuidadoso com a sua dicção,
para que as palavras sejam pronunciadas com a máxima clareza e correção.

Segundo Barbeiro (2007), as estratégias geralmente consideradas no ensino da ortografia podem ligar-
se a uma orientação corretiva recorrendo à indução, isto é, à apresentação das regras ortográficas com
a pretensão de serem memorizadas ou a uma orientação preventiva propondose ao aluno construir a
regra ortográfica com base na dedução, através da visualização da palavra.

Todavia, o autor evidencia que a aprendizagem da ortografia deve tirar partido de uma correspondência
entre as duas orientações, “não se baseando apenas na memória visual, mas adotando uma perspetiva
multissensorial, que inclui as vertentes visual, auditiva e cinestética, ou seja, relativa ao movimento e
forma das letras”, pelo que apresenta estratégias a aplicar para desenvolver a competência ortográfica
em duas vertentes: vertente integradora e vertente metalinguística.

Referências bibliográficas
Azevedo, F. (2000). Ensinar e aprender a escrever: através e para além do erro. Porto: Porto Editora.

Barbeiro, L. (2007). Aprendizagem da ortografia. Lisboa: ASA

Gomes, A. (1989). A escola e a ortografia. In F. Sequeira, R. Castro & L. Sousa (orgs.), O


EnsinoAprendizagem do Português (pp. 155- 180). Teoria e Práticas. Braga: Universidade do Minho.

Pinto, M. (1998). Saber viver a linguagem. Um Desafio aos Problemas de Literacia. Porto: Porto Editora

Rio-Torto, M. (2000). Para uma pedagogia do erro. In Actas do V Congresso Internacional de Didáctica e
da Literatura. Coimbra: Livraria Almadina, Vol. I, pp. 595-618.

Sousa, O. (1999). Competência Ortográfica e Competências Linguísticas. Lisboa: ISPA

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