Viperidae Do Rio Grande Do Sul - 1
Viperidae Do Rio Grande Do Sul - 1
Viperidae Do Rio Grande Do Sul - 1
Objetivo
Discussão
Viperidae consiste em uma grande família, com mais de 300 espécies pelo
mundo; são serpentes de dentição solenóglifa, com presença de fosseta loreal, de
escamas comumente ásperas e cabeças triangulares. No Brasil, é a família
responsável pela maioria dos acidentes graves, devido a seu veneno hemorrágico
(Bothrops) ou paralisante (Crotalus). Além das características do veneno, as
Bothrops se diferenciam de Crotalus pelos padrões coloridos, tipo de hábitat e pela
ponta da cauda, lisa nas primeiras e dotada de uma “guizo” ou “chocalho” nas
segundas. Quanto à distribuição, o primeiro gênero tem preferência por menores
altitudes e temperaturas mais elevadas, enquanto que o segundo predomina nas
serras.
A Bothrops alternatus, ou urutu, é encontrada por todo o Rio Grande do Sul,
e sua picada causa dor intensa e edema no local do ferimento, juntamente com
sangramentos que podem facilmente evoluir para graves casos de hemorragias
internas e derrames, isso devido à grande quantidade de veneno produzida por
suas glândulas - em torno de 380 mg por extração - o que a torna provavelmente a
espécie mais destrutiva. Sua coloração é amarronzada, de manchas dorsolaterais
escuras em forma de ferradura ou gancho com contornos brancos. Seu
comprimento varia de 1 a 1,5 m.
Bothrops jararaca (jararaca comum) é a espécie mais comum do Brasil, e
pode ser encontrada ao norte, nordeste e região central do Rio Grande do Sul,
preferindo áreas arborizadas. Apresentam uma coloração variável, indo dos tons
castanho-claros até coloração quase totalmente preta, com desenhos em forma de
"V" invertido, preto ou castanho escuro. Seu tamanho médio é de cerca de 1 m,
chegando no máximo a 1,5 m. Possui uma alimentação variada, mas suas principais
presas inclui roedores, outras serpentes, lebres, preás e coelhos. Trata-se de uma
espécie com comportamento bastante agressivo e, devido ao seu hábito de subir
em telhados baixos, árvores e arbustos, muitos dos acidentes ocorrem em pomares,
quando o trabalhador está mexendo nos galhos em que a serpente se acomoda.
Enquanto a maioria das espécies aqui citadas ocorre predominantemente na zona
rural, a jararaca-comum se adapta bem à área suburbana e urbana, alimentando-se
de roedores, aves e morcegos que abundam nesse ambiente e, devido à sua
agilidade, ocultando-se em calhas, forros, sob construções e entulho, elemento que
contribui grandemente para o número mais elevado de acidentes envolvendo esta
espécie.
A Bothrops pubescens, ou jararaca-pintada, ocorre em praticamente todo o
estado. De coloração amarronzada com desenhos em forma de trapézio em tons
castanhos, tem porte de pequeno a médio. São animais noturnos, preferem as
áreas abertas dos campos ou a serapilheira das florestas, comumente próximas de
cursos d’água. Alimentam-se de roedores menores, aves e lagartos, e os acidentes
ocorrem quando o ser humano pisa próximo ou sobre a cobra, ou mexe em galhos e
folhagem sob as quais estejam ocultas.
Crotalus durissus (cascavel), por preferir altitudes elevadas e solo pedregoso,
é uma espécie encontrada principalmente na região da Serra, noroeste do estado,
fronteira com Santa Catarina e Centro-sul do estado do Rio Grande do Sul. É uma
espécie caracterizada principalmente pelo guizo/chocalho ao final de sua cauda, o
qual é usado principalmente para alertar sua presença ao mesmo tempo que
ameaça seus predadores. Essa estrutura se forma a partir das trocas de pele, sendo
composta por anéis de pele morta deixados a cada muda: quanto maior o guizo,
mais trocas de pele ocorreram. Contudo, as cascavéis podem perder o guizo, sendo
diagnóstica do gênero sua coloração marrom-amarelada, com losangos mais
escuros dorsolaterais, e linha vertebral pronunciada em castanho-claro. Seu
comprimento pode ultrapassar facilmente 1,60 m.
Acidentes ofídicos sempre carecem de atendimento médico, pois a
diferenciação entre serpente peçonhenta ou não-peçonhenta é feita através da
marca da mordida e, se possível, da análise do animal quando capturado e levado,
ou fotografado. Existem soros específicos para cada gênero, e ocorrências com
serpentes não-peçonhentas exigem antibioticoterapia a fim de evitar graves
infecções. O procedimento padrão no atendimento à vítima consiste em mantê-la
calma, lavar a ferida com água e sabão, manter o membro afetado abaixo da linha
cardíaca (a fim de evitar que o veneno se espalhe rapidamente) e levar o indivíduo o
quanto antes para o hospital.
Torna-se importante salientar que o ser humano não faz parte da cadeia
alimentar das serpentes, e os acidentes ocorrem como um movimento de defesa do
animal. Os ofídios em geral são elementos cruciais em seus ecossistemas,
responsáveis pelo controle de roedores e diversas espécies potencialmente
danosas ao ambiente e mesmo ao ser humano, seja enquanto “pragas” ou como
vetores de doenças. A profilaxia indicada envolve a proteção de mãos e pés ao
trabalhar no campo, ao limpar calhas ou mexer com entulho, e a atenção aos
espaços em geral. Se encontrada uma serpente nos arredores de moradias, a
medida a ser tomada é o contato com o corpo de bombeiros ou polícia ambiental,
para encaminhamento do espécime a local apropriado. Tentar matar ou capturar a
cobra pode acarretar em acidente, além de consistir em crime ambiental.
Conclusão