Apostila Pré Modernismo
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mobilidade.
Floriano Peixoto) para a República Velha. Tal período,
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Denúncia social de renome na época, foi o único a apoiar a Semana de
Arte Moderna. Proferiu, na primeira noite da Semana,
A maioria das obras do Pré-Modernismo a conferência A Função Estética da Arte Moderna,
apresentam em seu cerne a denúncia da realidade porém demonstrou muito mais uma empolgação
brasileira. As diferenças sociais, o preconceito, o pelos ideais da arte moderna do que propriamente
esquecimento de parte da população, a centraliza- um conhecimento, uma ideia clara do que fosse
ção do poder, a intransigência dos governantes são arte moderna. Faleceu em 1931, na cidade do Rio
revelados sem medo algum. Euclides da Cunha e de Janeiro.
Lima Barreto são exemplos de escritores que, em Suas principais obras são: Canaã (1902) e A
suas obras, revelaram a situação brasileira, e a partir Estética da Vida (1921).
daí construíram sua crítica em relação à sociedade
de sua época. Canaã
O regional Falar sobre a obra de Graça Aranha é falar sobre
Canaã, sua principal criação, classificada como um
Evidencia-se nas obras dessa época, a preo- romance ensaio ou romance de tese. Isso se deve
cupação em definir-se muito bem a região em que aos seguintes fatos:
acontece cada história, tendo como consequência o
•• 1.º os ideais contidos no romance são mais
surgimento de um grande painel do Brasil através
importantes, mais relevantes do que o
de suas diversas regiões. Monteiro Lobato situará
enredo desenvolvido.
suas principais obras na região do Vale da Paraíba;
Euclides, no sertão baiano; Graça Aranha, no Espírito •• 2.º é considerado romance por concentrar
Santo; e Lima Barreto, no Rio de Janeiro. as características convencionais da nar-
rativa longa.
Ficção e realidade •• 3.º há o constante debate de ideias.
Vemos nesse período obras que abordam os fa- O que se observa em Canaã é a confrontação
tos políticos, econômicos e sociais do Brasil. A ficção de posturas tomadas diante de três temas: as teorias
e a realidade se aproximam. Como consequência, acerca do atraso social brasileiro; o papel da imigra-
temos a partir das obras Pré-Modernismo, a “desco- ção; a busca de um sentido para a existência.
berta do verdadeiro Brasil”.
Tais discussões são personificadas nas figuras
dos imigrantes alemães Milkau e Lentz, recém-che-
Autores e obras gados ao interior do estado do Espírito Santo, onde
iriam se fixar e começar uma nova vida. Cada um re-
Os principais autores dessa fase são: Graça presenta uma visão dos imigrantes sobre o Brasil.
Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Milkau prega que o imigrante deve integrar-se à
Lobato, na prosa, e Augusto dos Anjos, na poesia. realidade brasileira tanto de uma perspectiva social
quanto, até mesmo, racial, numa espécie de sonho de
Graça Aranha democracia étnica (Sergius Gonzaga). Percebe-se no
personagem Milkau um tênue socialismo cristão, no
José Pereira da Graça qual vemos a pregação do amor, da solidariedade e
da piedade para com o próximo, isto é, o brasileiro.
Domínio público.
de Letras, rompendo com a mesma em 1924, devido Ao fim da obra, Lentz acaba aderindo às ideias
a seus ideiais modernistas. De todos os intelectuais de Milkau.
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Esse final de Canaã revela uma visão otimista Euclides da Cunha acompanhou a quarta e
do autor em relação ao futuro brasileiro, tendo como última expedição das forças Armadas contra o ar-
grande mote a importância da imigração para o raial de Canudos. O escritor, na função de repórter,
país. chega ao local de batalha como ferrenho apoiador do
governo, porém ao vislumbrar tamanha tragédia e
disparidade de forças que aconteciam naquele local
Euclides da Cunha muda sua perspectiva e vê naquela guerra o símbolo
do abandono do homem do sertão.
Euclides Rodrigues Pi-
menta da Cunha nasceu em Observa-se em Os Sertões a denúncia de um
Domínio público.
Os Sertões
Porém, nessa parte da obra encontramos a
Em 1898, quando pediu baixa das forças arma- grande polêmica de Os Sertões, revelada a partir de
das, passou a viver como engenheiro e jornalista e uma contradição: quando há análises embasadas
acompanhou, na função de repórter correspondente, nas teorias científicas colonialistas do século XIX,
a fase final da Campanha de Canudos (começada Euclides cai em erro, contudo quando faz suas ob-
em 1897). servações pessoais acerca do assunto tratado faz
A partir das reportagens feitas sobre Canudos grande literatura, o que faz de Os Sertões uma das
é que teremos a base da narrativa que constitui Os obras mais importante não só da Literatura Brasileira,
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A Luta
Domínio público.
A Luta é o momento mais dramático da obra
e também o de maior relevância dentro de Os Ser-
tões.
Para escrevê-la, Euclides da Cunha contou com
algumas fontes além da ida à última expedição como
a leitura de textos sobre o acontecimento e entrevis-
tas com participantes da guerra.
Nesta parte, observamos o grande erro come-
tido pelo governo ao mandar tropas para acabarem
com o arraial. Desvela-se, em A Luta, a extrema
violência das forças armadas e também sua difi-
culdade de ação devido ao meio natural hostil em Os prisioneiros de Canudos.
que se encontravam, sendo aliado do sertanejo, já
Domínio público.
adaptado à natureza que o cercava. Nenhum método
tradicional de batalha era eficaz naquele local onde
os “Hércules-Quasímodos” tinham o pleno domínio
do ambiente. Porém, o conhecimento da região não
bastava; os soldados das forças republicanas pos-
suíam pesadíssimo armamento contra os quais os
sertanejos não tinham chances.
Desde o início da guerra já era conhecido o lado
derrotado, entretanto esses bravos lutaram até seu
último homem cair, nunca se entregaram ao inimigo,
que punia-os implacavelmente com a degola. Ao final Corpo de Antônio Conselheiro, chefe místico de Canudos, 13
da contenda, os sobreviventes (pouquíssimos) de dias após o sepultamento.
Canudos eram apenas idosos, mulheres e crianças.
Leia um dos trechos mais tristes e dramáticos de A
Luta. Aspectos formais
Os novos combatentes imaginaram-na [a A obra Os Sertões é simultaneamente ensaio,
guerra] extinta antes de chegarem a Canudos. relato histórico, reportagem e ficção.
Tudo o indicava. Por fim os próprios prisioneiros Apresenta uma linguagem ornamentada, utili-
que chegavam e eram, no fim de tantos meses zando-se de palavras arcaicas, antíteses, hipérbatos
de guerra, os primeiros que apareciam. Notou-se (inversão frasal) e paradoxos. Pode-se afirmar, então,
apenas, sem que se explicasse a singularidade, que no tocante à linguagem, a obra de Euclides apre-
que entre eles não surgia um único homem feito. senta um estilo barroco.
Os vencidos, varonilmente ladeados de escoltas,
eram fragílimos: meia dúzia de mulheres tendo
ao colo crianças engelhadas como fetos, seguidas
Lima Barreto
dos filhos maiores, de seis a dez anos (...)
Afonso Henrique de Lima
Domínio público.
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a escrever em diversos jornais do Rio, publicando Triste Fim de Policarpo Quaresma
crônicas e contos. Levando uma vida de dificuldades
Obra-prima de Lima Barreto, Triste fim de Poli-
e preconceito racial, além de sofrer de alcoolismo,
carpo Quaresma conta a história do funcionário públi-
acaba tendo profundas crises depressivas, sendo
co aposentado Policarpo Quaresma em sua luta pela
internado duas vezes no Hospício Nacional. Morreu
“salvação do Brasil”. Para tanto, propõe ao governo a
em 1922, aos 41 anos, de um colapso cardíaco, em
instituição do tupi-guarani como idioma oficial brasi-
plena miséria e esquecimento. Sua obra viria a ser
leiro; além disso alimenta-se unicamente de comidas
redescoberta somente na década de 1970.
brasileiras, cumprimenta as pessoas chorando, como
As principais obras de Lima Barreto são: Re- um legítimo índio goitacaz, e faz pesquisas que re-
cordações do Escrivão Isaías Caminha (1909); Triste sultam em fracasso sobre o nosso folclore.
Fim de Policarpo Quaresma (1911); Vida e Morte de
A obra é narrada em terceira pessoa (narrador
M. J. Gonzaga (1919); Os Bruzundangas (1923); Clara
onisciente), sendo dividida em três partes. Cada uma
dos Anjos (1924); Cemitério dos Vivos (1957 – edição
dessas partes centra-se em um local.
póstuma).
A primeira acontece no subúrbio carioca, onde
Policarpo lutará pela cultura genuinamente brasileira
Características e acabará sendo desconsiderado pelos outros, sendo
internado num hospício.
A literatura produzida por Lima Barreto destaca-
se por estar desligada dos padrões literários que A segunda parte é o momento em que Quares-
vigoravam em sua época. ma sai da casa de alienados e decide ir viver na roça,
pois tinha a convicção de que, “em se plantando tudo
Um dos aspectos que o diferencia é a preferência
dá” nas mais férteis terras do mundo (as do Brasil).
por personagens representantes das classes mais
Porém, acaba também fracassando e vendo que a re-
baixas da sociedade carioca, a “gente humilde” dos
alidade não era como pensava: além da esterelidade
subúrbios da então capital federal. Temos tocado-
da terra, percebe a má distribuição da mesma.
res de violão (espécies de malandros), funcionários
públicos, jornalistas pobres etc. Aos poderosos (re- A terceira parte é o momento em que abandona
presentadas algumas vezes por figuras históricas), a agricultura para alistar-se nas tropas pró-Floriano.
burgueses, intelectuais reserva a caricatura, no A causa era a Revolta da Armada (1893). Ao final
intento de ridicularizá-los. da revolta, Floriano persegue impiedosamente seus
inimigos, prendendo-os e fuzilando-os. Policarpo es-
Um dos traços mais marcantes de sua obra é
tarrecido com o que o estadista que admirava estava
a aproximação do que é ficcional com o que é real,
fazendo dirige-lhe uma carta fazendo duras críticas,
percebemos que o autor dá uma atenção especial
por esse motivo acaba sendo preso e condenado à
aos fatos históricos e costumes sociais da época.
morte.
Temos em Lima Barreto um cronista dos costumes
da sociedade no início do século XX. Essa obra pode ser classificada como um ro-
mance social que estabelece a seguinte questão:
Quanto à linguagem, percebemos um estilo
até onde vão os limites de uma ideologia? A partir
despreocupado e simples, de ritmo fluente e tom
do fanatismo, da xenofobia de Policarpo Quaresma
coloquial, aproximando-se muito do estilo que seria
(anti-herói), Lima Barreto fará uma severa crítica
usado pelos modernistas de 1922.
ao patriotismo exacerbado e à sangrenta revolução
Florianista.
Obras Observa-se em Triste fim de Policarpo Quares-
ma, a luta entre o ideal e o real, sendo este segundo
Recordações do Escrivão Isaías Caminha o que vence a batalha. O resultado é a melancolia,
Narrado em primeira pessoa, Recordações do a decepção e a desilusão de Policarpo Quaresma,
Escrivão Isaías Caminha conta a história do jovem agora consciente da realidade brasileira e da inuti-
Isaías (filho de uma ex-escrava e de um padre) lidade de seus esforços para tentar fazer um Brasil
que vem do interior tentar a vida na capital. Aos mais brasileiro.
poucos, vai perdendo suas ilusões, ascende porém
socialmente por influência de seu “protetor” Ricardo Iria morrer, quem sabe se naquela noite
Loberant, dono do jornal onde trabalhava. Acaba mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada.
abrindo no interior um cartório onde passará o resto Levara toda ela atrás da miragem de estudar a
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de sua vida, vitorioso economicamente e derrotado pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de
no plano ideológico. contribuir para a sua felicidade e prosperidade.
Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade
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José Bento Monteiro Lobato nasceu no ano de
também; e, agora que estava na velhice, como ela
1882, em Taubaté (estado de São Paulo). Formou-se
o recompensava, como ela o premiava, como ela
na Academia de Direito de São Paulo. Tornou-se
o condecorava? Matando-o. E o que não deixara
promotor e vai exercer a função na cidade de Areias,
de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não
região do Vale da Paraíba. No ano de 1911, herdou a
brincara, não pandegara, não amara – todo esse
fazenda de seu avô, mas não soube administrá-la. Em
lado da existência que parece fugir um pouco
1917, publicou o polêmico e célebre artigo Paranoia
à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não
ou Mistificação, contra a exposição de Anita Malfatti,
provara, ele não experimentara.
demonstrando completo desconhecimento sobre a
Desde dezoito anos que o tal patriotismo arte moderna. Entre 1927 e 1931, viveu nos Estados
lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar Unidos como adido comercial. Volta entusiasmado
inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram com a extração mineral que lá era feita, vendo o gran-
grandes? Pois que fossem... Em que lhe contri- de fator do desenvolvimento daquele país. Em 1931,
buiria para a felicidade saber o nome dos heróis fundou a Companhia de Petróleo do Brasil, que acaba
do Brasil? Em nada... O importante é que ele falindo. Fundou a Editora Monteiro Lobato e Cia. e,
tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas em 1944, a Editora Nacional. Faleceu em 1948.
coisas de tupi, do folk-lore, das suas tentativas Suas principais obras na literatura “geral” (ter-
agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma mo utilizado pelo próprio autor) são: Urupês (contos,
satisfação? Nenhuma! Nenhuma! 1918); Cidades Mortas (contos, 1919); Negrinha (con-
tos, 1920). Na literatura infanto-juvenil: Reinações de
O tupi encontrou a incredulidade geral, o Narizinho (1931); Viagem ao Céu (1932); As Caçadas
riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma de Pedrinho (1933); Geografia de Dona Benta (1935);
decepção. E a agricultura? Nada. As terras não Histórias de Tia Nastácia (1937).
eram ferazes e ela não era fácil como diziam os
livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotis-
mo se fizera combatente, o que achara? Decep- Características e obras
ções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois
ele não a viu combater como feras? Pois não a via A inovação na literatura “geral” de Monteiro
matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. Lobato encontra-se tão-somente na temática: a
A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, decadência das cidadezinhas da antiga região cafei-
um encadeamento de decepções. cultora do Vale da Paraíba que aos poucos vai sendo
abandonada por todos, restando apenas o caboclo;
Contudo, quem sabe se outros que lhe se- tal assunto é tratado na obra Cidades Mortas.
guissem as pegadas não seriam mais felizes? E Outro fator importante na obra de Monteiro
logo respondeu a si mesmo: mas como? Se não se Lobato é a análise do tipo humano característico
fizera comunicar, se nada dissera e não prendera da região, representado na figura de Jeca Tatu.
o seu sonho, dando-lhe corpo e substância? Este é visto primeiramente como um preguiçoso e
indolente; porém, depois toma consciência de que o
comportamento do caboclo deve-se à subnutrição,
Monteiro Lobato marginalização e esquecimento do povo do interior;
encontramos essa análise na obra Urupês.
Domínio público.
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