Apostila Pré Modernismo

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Pré-modernismo
que vai de 1894 a 1930, em grande parte será domi-
nado política e economicamente pelas oligarquias
rurais paulista e mineira, tendo a primeira como
base econômica a produção de café e a segunda a
criação do gado de corte e a produção de leite. Daí a
O Pré-Modernismo compreende um conjunto denominação de “política do café-com-leite”, fazendo
de obras (de diversas características diferentes) referência à influência das duas forças hegemônicas
que não podem mais ser inseridas nas estéticas do brasileiras da época.
século XIX, (como, por exemplo, Realismo, Parnasia- Presencia-se nessa fase um surto urbanístico em
nismo e Simbolismo), mas que também não podem nosso país, o crescimento industrial e o consequente
ser classificadas como modernistas por ainda pos- aumento da classe média com ideais reformistas
suírem resquícios das estéticas citadas. Por isso, o acompanhada por jovens militares que seguiam os
Pré-Modernismo não pode ser classificado como uma preceitos positivistas. Além disso, observa-se a imi-
corrente estética. gração intensificar-se (principalmente a imigração
O Pré-Modernismo engloba as obras que têm italiana nas regiões sul e sudeste).
algo de tradição e algo de ruptura com a tradição. Interessante é que nas primeiras décadas do
Observamos criações híbridas, representativas de novo século que nascia houve no Brasil diversas
uma fase de transição na Literatura brasileira que revoltas sociais, estabelecendo um conflito entre
irá desaguar no Modernismo. as forças conservadoras e as novas forças sociais.
É por esse hibridismo literário que até hoje esse Nos últimos anos do século XIX, temos a Guerra de
período não recebeu um nome específico, tomando Canudos, eternizada nas páginas de Os Sertões, de
emprestado da fase literária posterior – o Modernis- Euclides da Cunha; em 1904 acontece à revolta contra
mo – o nome, acrescentando-se o prefixo de ante- a vacinação obrigatória, idealizada por Oswaldo Cruz
rioridade “pré” para indicar seu caráter ­precursor. (na verdade, uma camuflagem para a reivindicação
Percebe-se, então, que os escritores dessa fase não de melhorias sociais); e em 1910, ocorre a Revolta da
são modernos, porém promovem o rompimento com Chibata, os marinheiros lutavam contra a punição
o tradicional. Tal classificação foi definida pelo crítico com castigos corporais (chibatadas) a que eram
Alceu Amoroso Lima, na década de 1950. submetidos.
Os escritores dessa época vão se aproveitar das
Contexto histórico contradições dessa época em suas obras.

No quadro mundial, temos um clima tenso des-


de o início do neocolonialismo (a disputa de países
Características
europeus por regiões da África e da Ásia). O ponto
culminante desse período será a Primeira Guerra
Mundial. No campo artístico, teremos o surgimento
Mescla de estilos
de diversas vanguardas artísticas, que irão buscar
Observa-se nas obras pré-modernistas res-
novas interpretações sobre a realidade.
quícios culturais do século XIX mesclados com as
No Brasil, temos em 1894, com a posse do novas formas de expressão artísticas do século XX.
Prudente de Moraes – primeiro presidente civil do É transmitida à Literatura a passagem do antigo
nosso país –, a transição da República da Espada imobilismo social para a modernização, símbolo de
(representada pelos marechais Deodoro da Fonseca e
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mobilidade.
Floriano Peixoto) para a República Velha. Tal período,

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Denúncia social de renome na época, foi o único a apoiar a Semana de
Arte Moderna. Proferiu, na primeira noite da Semana,
A maioria das obras do Pré-Modernismo a conferência A Função Estética da Arte Moderna,
apresentam em seu cerne a denúncia da realidade porém demonstrou muito mais uma empolgação
brasileira. As diferenças sociais, o preconceito, o pelos ideais da arte moderna do que propriamente
esquecimento de parte da população, a centraliza- um conhecimento, uma ideia clara do que fosse
ção do poder, a intransigência dos governantes são arte moderna. Faleceu em 1931, na cidade do Rio
revelados sem medo algum. Euclides da Cunha e de Janeiro.
Lima Barreto são exemplos de escritores que, em Suas principais obras são: Canaã (1902) e A
suas obras, revelaram a situação brasileira, e a partir Estética da Vida (1921).
daí construíram sua crítica em relação à sociedade
de sua época. Canaã
O regional Falar sobre a obra de Graça Aranha é falar sobre
Canaã, sua principal criação, classificada como um
Evidencia-se nas obras dessa época, a preo- romance ensaio ou romance de tese. Isso se deve
cupação em definir-se muito bem a região em que aos seguintes fatos:
acontece cada história, tendo como consequência o
•• 1.º os ideais contidos no romance são mais
surgimento de um grande painel do Brasil através
importantes, mais relevantes do que o
de suas diversas regiões. Monteiro Lobato situará
enredo desenvolvido.
suas principais obras na região do Vale da Paraíba;
Euclides, no sertão baiano; Graça Aranha, no Espírito •• 2.º é considerado romance por concentrar
Santo; e Lima Barreto, no Rio de Janeiro. as características convencionais da nar-
rativa longa.
Ficção e realidade •• 3.º há o constante debate de ideias.

Vemos nesse período obras que abordam os fa- O que se observa em Canaã é a confrontação
tos políticos, econômicos e sociais do Brasil. A ficção de posturas tomadas diante de três temas: as teorias
e a realidade se aproximam. Como consequência, acerca do atraso social brasileiro; o papel da imigra-
temos a partir das obras Pré-Modernismo, a “desco- ção; a busca de um sentido para a existência.
berta do verdadeiro Brasil”.
Tais discussões são personificadas nas figuras
dos imigrantes alemães Milkau e Lentz, recém-che-
Autores e obras gados ao interior do estado do Espírito Santo, onde
iriam se fixar e começar uma nova vida. Cada um re-
Os principais autores dessa fase são: Graça presenta uma visão dos imigrantes sobre o Brasil.
Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Milkau prega que o imigrante deve integrar-se à
Lobato, na prosa, e Augusto dos Anjos, na poesia. realidade brasileira tanto de uma perspectiva social
quanto, até mesmo, racial, numa espécie de sonho de
Graça Aranha democracia étnica (Sergius Gonzaga). Percebe-se no
personagem Milkau um tênue socialismo cristão, no
José Pereira da Graça qual vemos a pregação do amor, da solidariedade e
da piedade para com o próximo, isto é, o brasileiro.
Domínio público.

Aranha nasceu em 1868, no


Maranhão. Cursou Direito no O Brasil seria, então, para o alemão Milkau, a
Recife. Após formado, tra- terra prometida, Canaã.
balhou como magistrado no Por outro lado, Lentz representa as ideias colo-
interior do Espírito Santo (de nialistas. Acredita na superioridade da raça ariana e
onde retira as fontes para a vê na mistura de raças, na mestiçagem, um sinônimo
criação de Canaã). Em con- de atraso. Considerava a população um conjunto de
sequência da consagração pessoas inferiores e incapazes, sendo a única possi-
atingida devido ao sucesso de bilidade de progresso do país entregar-se nas mãos
Canaã, torna-se um imortal da Academia Brasileira dos imigrantes alemães.
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de Letras, rompendo com a mesma em 1924, devido Ao fim da obra, Lentz acaba aderindo às ideias
a seus ideiais modernistas. De todos os intelectuais de Milkau.
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Esse final de Canaã revela uma visão otimista Euclides da Cunha acompanhou a quarta e
do autor em relação ao futuro brasileiro, tendo como última expedição das forças Armadas contra o ar-
grande mote a importância da imigração para o raial de Canudos. O escritor, na função de repórter,
país. chega ao local de batalha como ferrenho apoiador do
governo, porém ao vislumbrar tamanha tragédia e
disparidade de forças que aconteciam naquele local
Euclides da Cunha muda sua perspectiva e vê naquela guerra o símbolo
do abandono do homem do sertão.
Euclides Rodrigues Pi-
menta da Cunha nasceu em Observa-se em Os Sertões a denúncia de um
Domínio público.

1866, em Cantagalo, no Estado crime à nação (Massaud Moisés).


do Rio de Janeiro. Torna-se Para escrever essa obra, Euclides baseou-se nas
órfão de mãe prematuramente, ciências da época, todas com uma perspectiva colo-
aos três anos de idade. Tempos nialista (teorias provindas da Europa) e positivista.
depois é matriculado na Escola Seguindo esses preceitos técnicos, divide Os Sertões
Politécnica do Rio, sendo trans- entre três partes muito bem definidas. São elas: A
ferido depois para a Escola Terra, O Homem, A Luta.
Militar, devido a problemas fi-
A Terra
nanceiros de seu pai. Em 1888,
é expulso da Escola Militar por desacatar o ministro Em A Terra, temos o estudo geográfico da região
da Guerra do Império. Forma-se em Engenharia Civil de Canudos, ou seja, do sertão, baseado nas teorias
e após a Proclamação da República é reintegrado às científicas do final do século XIX.
Forças Armadas. Aos trinta anos, reforma-se volun- O meio opressivo é descrito em todos seus
tariamente no posto de capitão. detalhes e acaba por se tornar um dos elementos
Em 1897, torna-se correspondente da guerra de intensificadores da dramaticidade da obra. É mos-
Canudos, no Estado da Bahia, do jornal O Estado de trada uma paisagem uniforme, seca, com vegetação
São Paulo. Presencia os horrores finais da contenda rala e pobre. Esse meio é um dos determinantes do
entre os seguidores de Antônio Conselheiro e as comportamento do sertanejo.
Forças Armadas, vindo a produzir nos quatro anos O Homem
seguintes e publicar em 1902, Os Sertões. Após a
publicação dessa obra, torna-se ainda mais res- Em O Homem, observamos questões sobre a
peitado nos meios intelectuais, entra na Academia mestiçagem e etnia do sertanejo. Euclides vê na
Brasileira de Letras e para o Instituto Histórico e mistura de raças um mal. Tal mescla resultaria em
Geográfico. É convidado por Rio Branco a integrar- seres bestiais, voltados à violência, ao desequilíbrio.
se ao Itamarati. A miscigenação seria uma involução da espécie. Leia
este trecho:
Em 1909, foi assassinado ao tentar lavar sua
honra em confronto com o tenente Dilermano Reis.
Euclides já desconfiava que sua esposa o traía com De sorte que o mestiço – traço de união entre
esse militar e quando ela deu à luz a um filho de ca- as raças – é quase sempre um desequilibrado(...).
belos loiros e olhos azuis confirmou suas suspeitas. E o mestiço – mulato, mameluco ou cafuzo – ,
Suas principais obras são: Os Sertões (1902); menos que um intermediário, é um decaído, sem
Contrastes e Confrontos (1907); e À Margem da His- a energia física dos ascendentes selvagens, sem
tória (1909). a atitude intelectual dos ancestrais superiores.

Os Sertões
Porém, nessa parte da obra encontramos a
Em 1898, quando pediu baixa das forças arma- grande polêmica de Os Sertões, revelada a partir de
das, passou a viver como engenheiro e jornalista e uma contradição: quando há análises embasadas
acompanhou, na função de repórter correspondente, nas teorias científicas colonialistas do século XIX,
a fase final da Campanha de Canudos (começada Euclides cai em erro, contudo quando faz suas ob-
em 1897). servações pessoais acerca do assunto tratado faz
A partir das reportagens feitas sobre Canudos grande literatura, o que faz de Os Sertões uma das
é que teremos a base da narrativa que constitui Os obras mais importante não só da Literatura Brasileira,
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Sertões (escrito entre 1898 e 1901). mas também da cultura do Brasil.

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A Luta

Domínio público.
A Luta é o momento mais dramático da obra
e também o de maior relevância dentro de Os Ser-
tões.
Para escrevê-la, Euclides da Cunha contou com
­algumas fontes além da ida à última expedição como
a leitura de textos sobre o acontecimento e entrevis-
tas com participantes da guerra.
Nesta parte, observamos o grande erro come-
tido pelo governo ao mandar tropas para acabarem
com o arraial. Desvela-se, em A Luta, a extrema
violência das forças armadas e também sua difi-
culdade de ação devido ao meio natural hostil em Os prisioneiros de Canudos.
que se encontravam, sendo aliado do sertanejo, já

Domínio público.
adaptado à natureza que o cercava. Nenhum método
tradicional de batalha era eficaz naquele local onde
os “Hércules-Quasímodos” tinham o pleno domínio
do ambiente. Porém, o conhecimento da região não
bastava; os soldados das forças republicanas pos-
suíam pesadíssimo armamento contra os quais os
sertanejos não tinham chances.
Desde o início da guerra já era conhecido o lado
derrotado, entretanto esses bravos lutaram até seu
último homem cair, nunca se entregaram ao inimigo,
que punia-os implacavelmente com a degola. Ao final Corpo de Antônio Conselheiro, chefe místico de Canudos, 13
da contenda, os sobreviventes (pouquíssimos) de dias após o sepultamento.
Canudos eram apenas idosos, mulheres e crianças.
Leia um dos trechos mais tristes e dramáticos de A
Luta. Aspectos formais
Os novos combatentes imaginaram-na [a A obra Os Sertões é simultaneamente ensaio,
guerra] extinta antes de chegarem a Canudos. relato histórico, reportagem e ficção.
Tudo o indicava. Por fim os próprios prisioneiros Apresenta uma linguagem ornamentada, utili-
que chegavam e eram, no fim de tantos meses zando-se de palavras arcaicas, antíteses, hipérbatos
de guerra, os primeiros que apareciam. Notou-se (inversão frasal) e paradoxos. Pode-se afirmar, então,
apenas, sem que se explicasse a singularidade, que no tocante à linguagem, a obra de Euclides apre-
que entre eles não surgia um único homem feito. senta um estilo barroco.
Os vencidos, varonilmente ladeados de escoltas,
eram fragílimos: meia dúzia de mulheres tendo
ao colo crianças engelhadas como fetos, seguidas
Lima Barreto
dos filhos maiores, de seis a dez anos (...)
Afonso Henrique de Lima
Domínio público.

Um dos pequenos – franzino e cambalean- ­ arreto nasceu no ano de 1881,


B
te – trazia à cabeça, ocultando-a inteiramente no Rio de Janeiro. Filho de uma
porque descia até os ombros, um velho quepe professora primária e um operário
reúno, apanhado no caminho. O quepe, largo e torna-se órfão de mãe precoce-
grande demais, oscilava grotescamente a cada mente. Em 1902, abandona a
passo sobre o busto esmirrado que ele encobria Escola Politécnica onde cursava
por um terço. E alguns espectadores tiveram a engenharia para empregar-se
coragem singular de rir. A criança alçou o rosto, na Diretoria do Expediente da
procurando vê-los. O riso extinguiu-se: a boca era Secretaria da Guerra com o fim
uma chaga aberta de lado a lado por um tiro. de sustentar seu pai que havia
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enlouquecido e sido internado na Colônia dos Alie-


nados. Foi nesse período que Lima Barreto começou

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a escrever em diversos jornais do Rio, publicando Triste Fim de Policarpo Quaresma
crônicas e contos. Levando uma vida de dificuldades
Obra-prima de Lima Barreto, Triste fim de Poli-
e preconceito racial, além de sofrer de alcoolismo,
carpo Quaresma conta a história do funcionário públi-
acaba tendo profundas crises depressivas, sendo
co aposentado Policarpo Quaresma em sua luta pela
internado duas vezes no Hospício Nacional. Morreu
“salvação do Brasil”. Para tanto, propõe ao governo a
em 1922, aos 41 anos, de um colapso cardíaco, em
instituição do tupi-guarani como idioma oficial brasi-
­plena miséria e esquecimento. Sua obra viria a ser
leiro; além disso alimenta-se unicamente de comidas
redescoberta somente na década de 1970.
brasileiras, cumprimenta as pessoas chorando, como
As principais obras de Lima Barreto são: Re- um legítimo índio goitacaz, e faz pesquisas que re-
cordações do Escrivão Isaías Caminha (1909); Triste sultam em fracasso sobre o nosso folclore.
Fim de Policarpo Quaresma (1911); Vida e Morte de
A obra é narrada em terceira pessoa (narrador
M. J. Gonzaga (1919); Os Bruzundangas (1923); Clara
onisciente), sendo dividida em três partes. Cada uma
dos Anjos (1924); Cemitério dos Vivos (1957 – edição
dessas partes centra-se em um local.
póstuma).
A primeira acontece no subúrbio carioca, onde
Policarpo lutará pela cultura genuinamente brasileira
Características e acabará sendo desconsiderado pelos outros, sendo
internado num hospício.
A literatura produzida por Lima Barreto destaca-
se por estar desligada dos padrões literários que A segunda parte é o momento em que Quares-
vigoravam em sua época. ma sai da casa de alienados e decide ir viver na roça,
pois tinha a convicção de que, “em se plantando tudo
Um dos aspectos que o diferencia é a preferência
dá” nas mais férteis terras do mundo (as do Brasil).
por personagens representantes das classes mais
Porém, acaba também fracassando e vendo que a re-
baixas da sociedade carioca, a “gente humilde” dos
alidade não era como pensava: além da esterelidade
subúrbios da então capital federal. Temos tocado-
da terra, percebe a má distribuição da mesma.
res de violão (espécies de malandros), funcionários
públicos, jornalistas pobres etc. Aos poderosos (re- A terceira parte é o momento em que abandona
presentadas algumas vezes por figuras históricas), a agricultura para alistar-se nas tropas pró-Floriano.
burgueses, intelectuais reserva a caricatura, no A causa era a Revolta da Armada (1893). Ao final
intento de ridicularizá-los. da revolta, Floriano persegue impiedosamente seus
inimigos, prendendo-os e fuzilando-os. Policarpo es-
Um dos traços mais marcantes de sua obra é
tarrecido com o que o estadista que admirava estava
a aproximação do que é ficcional com o que é real,
fazendo dirige-lhe uma carta fazendo duras críticas,
percebemos que o autor dá uma atenção especial
por esse motivo acaba sendo preso e condenado à
aos fatos históricos e costumes sociais da época.
morte.
Temos em Lima Barreto um cronista dos costumes
da sociedade no início do século XX. Essa obra pode ser classificada como um ro-
mance social que estabelece a seguinte questão:
Quanto à linguagem, percebemos um estilo
até onde vão os limites de uma ideologia? A partir
despreocupado e simples, de ritmo fluente e tom
do fanatismo, da xenofobia de Policarpo Quaresma
coloquial, aproximando-se muito do estilo que seria
(anti-herói), Lima Barreto fará uma severa crítica
usado pelos modernistas de 1922.
ao patriotismo exacerbado e à sangrenta revolução
Florianista.
Obras Observa-se em Triste fim de Policarpo Quares-
ma, a luta entre o ideal e o real, sendo este segundo
Recordações do Escrivão Isaías Caminha o que vence a batalha. O resultado é a melancolia,
Narrado em primeira pessoa, Recordações do a decepção e a desilusão de Policarpo Quaresma,
Escrivão Isaías Caminha conta a história do jovem agora consciente da realidade brasileira e da inuti-
Isaías (filho de uma ex-escrava e de um padre) lidade de seus esforços para tentar fazer um Brasil
que vem do interior tentar a vida na capital. Aos mais brasileiro.
poucos, vai perdendo suas ilusões, ascende porém
socialmente por influência de seu “protetor” Ricardo Iria morrer, quem sabe se naquela noite
Loberant, dono do jornal onde trabalhava. Acaba mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada.
abrindo no interior um cartório onde passará o resto Levara toda ela atrás da miragem de estudar a
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de sua vida, vitorioso economicamente e derrotado pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de
no plano ideológico. contribuir para a sua felicidade e prosperidade.
Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade
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José Bento Monteiro Lobato nasceu no ano de
também; e, agora que estava na velhice, como ela
1882, em Taubaté (estado de São Paulo). Formou-se
o recompensava, como ela o premiava, como ela
na Academia de Direito de São Paulo. Tornou-se
o condecorava? Matando-o. E o que não deixara
promotor e vai exercer a função na cidade de Areias,
de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não
região do Vale da Paraíba. No ano de 1911, herdou a
brincara, não pandegara, não amara – todo esse
fazenda de seu avô, mas não soube administrá-la. Em
lado da existência que parece fugir um pouco
1917, publicou o polêmico e célebre artigo Paranoia
à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não
ou Mistificação, contra a exposição de Anita Malfatti,
provara, ele não experimentara.
demonstrando completo desconhecimento sobre a
Desde dezoito anos que o tal patriotismo arte moderna. Entre 1927 e 1931, viveu nos Estados
lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar Unidos como adido comercial. Volta entusiasmado
inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram com a extração mineral que lá era feita, vendo o gran-
grandes? Pois que fossem... Em que lhe contri- de fator do desenvolvimento daquele país. Em 1931,
buiria para a felicidade saber o nome dos heróis fundou a Companhia de Petróleo do Brasil, que acaba
do Brasil? Em nada... O importante é que ele falindo. Fundou a Editora Monteiro Lobato e Cia. e,
tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas em 1944, a Editora Nacional. Faleceu em 1948.
coisas de tupi, do folk-lore, das suas tentativas Suas principais obras na literatura “geral” (ter-
agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma mo utilizado pelo próprio autor) são: Urupês (contos,
satisfação? Nenhuma! Nenhuma! 1918); Cidades Mortas (contos, 1919); Negrinha (con-
tos, 1920). Na literatura infanto-juvenil: Reinações de
O tupi encontrou a incredulidade geral, o Narizinho (1931); Viagem ao Céu (1932); As Caçadas
riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma de Pedrinho (1933); Geografia de Dona Benta (1935);
decepção. E a agricultura? Nada. As terras não Histórias de Tia Nastácia (1937).
eram ferazes e ela não era fácil como diziam os
livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotis-
mo se fizera combatente, o que achara? Decep- Características e obras
ções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois
ele não a viu combater como feras? Pois não a via A inovação na literatura “geral” de Monteiro
matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. Lobato encontra-se tão-somente na temática: a
A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, decadência das cidadezinhas da antiga região cafei-
um encadeamento de decepções. cultora do Vale da Paraíba que aos poucos vai sendo
abandonada por todos, restando apenas o caboclo;
Contudo, quem sabe se outros que lhe se- tal assunto é tratado na obra Cidades Mortas.
guissem as pegadas não seriam mais felizes? E Outro fator importante na obra de Monteiro
logo respondeu a si mesmo: mas como? Se não se Lobato é a análise do tipo humano característico
fizera comunicar, se nada dissera e não prendera da região, representado na figura de Jeca Tatu.
o seu sonho, dando-lhe corpo e substância? Este é visto primeiramente como um preguiçoso e
indolente; porém, depois toma consciência de que o
comportamento do caboclo deve-se à subnutrição,
Monteiro Lobato marginalização e esquecimento do povo do interior;
encontramos essa análise na obra Urupês.
Domínio público.

Quanto à técnica narrativa e à linguagem,


mantém-se a tradição realista do conto de final ines-
perado, mais especificamente seguindo os passos do
escritor francês Guy de Maupassant.
Monteiro Lobato é o criador da literatura infan-
to-juvenil brasileira. A característica fundamental de
sua obra voltada a esse público específico é a mescla
de três aspectos: a realidade, a fantasia e o universo
cultural infantil brasileiro (paisagens brasileiras onde
se encontravam, por exemplo, a mula-sem-cabeça
e o saci-pererê). Monteiro Lobato é o responsável
pela “nacionalização do imaginário infantil” (Sergius
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Gonzaga). Utiliza-se de uma linguagem coloquial e


acessível e não apresenta o moralismo da literatura
infanto-juvenil tradicional da época provinda da
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Europa (porém, é importante salientar que não está
Mora, entre feras, sente inevitável
totalmente liberta do moralismo).
Necessidade de também ser fera.

Augusto dos Anjos Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu
no ano de 1884, no interior da Paraíba. Formou-se A mão que afaga é a mesma que apedreja.
na Faculdade de Direito do Recife. Trabalhou como
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
professor algum tempo na Paraíba.Tempos depois,
casou-se e foi para o Rio de Janeiro, onde formou Apedreja essa mão vil que te afaga,
família. Em 1914, mudou-se para Leopoldina, Minas Escarra nessa boca que te beija!
Gerais, morrendo nesse mesmo ano.
Sua única obra é o livro de poemas Eu (1912). Budismo moderno

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte


Temas e características Minha singularíssima pessoa.
Os poemas de Augusto dos Anjos podem Que importa a mim que a bicharia roa
ser classificados como poesia científico-filosófica- Todo o meu coração, depois da morte?!
pessimista.
O cientificismo revela-se pela utilização de Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
termos científicos, estranhos, até então, na poesia Também, das diatomáceas da lagoa
brasileira. Esse é um dos traços que tornam a poe- A criptógama cápsula se esbroa
sia de Augusto dos Anjos uma arte de ruptura com
Ao contato de bronca destra forte!
o passado.
As questões metafísicas, a tendência simbolista Dissolva-se, portanto, minha vida
e uma ânsia pelo cósmico revelam a face filosófico-
Igualmente a uma célula caída
meditativa dos seus versos.
Na aberração de um óvulo infecundo;
No niilismo – princípio filosófico através do
qual a negação é o grau máximo da sabedoria – en- Mas o agregado abstrato das saudades
contramos o traço pessimista na poesia de Augusto Fique batendo nas perpétuas grades
dos Anjos. Do último verso que eu fizer no mundo!
Quanto aos aspectos formais de sua obra temos
a frequente utilização do soneto em decassílabos Psicologia de um vencido
e rima. Além disso, encontramos algumas figuras
de linguagem muito recorrentes em sua obra como Eu, filho do carbono e do amoníaco,
hipérbole, o paroxismo (exaltação máxima de uma Monstro de escuridão e rutilância,
sensação ou sentimento) e a hipérbole. Antecipou Sofro, desde a epigênesis da infância,
também alguns procedimentos vanguardistas como
A influência má dos signos do zodíaco.
coloquialismos e linguagem agressiva, carregada de
termos científicos.
Profundissimamente hipocondríaco,
Vejamos agora alguns de seus poemas mais
Este ambiente me causa repugnância...
conhecidos.
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Versos Íntimos Que se escapa da boca de um cardíaco.

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Já o verme – este operário das ruínas –


Enterro de tua última quimera. Que o sangue podre das carnificinas
Somente a Ingratidão – esta pantera – Come, e à vida em geral declara guerra,
Foi tua companheira inseparável!
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
Acostuma-te à lama que te espera! E há-de deixar-me apenas os cabelos,
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O Homem, que, nesta terra miserável, Na frialdade inorgânica da terra!

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