Banalidade Do Mal

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS COMUNICAÇÃO E ARTES

FACULDADE DE FILOSOFIA

JOSÉ HELIO DE MORAES LIMA FILHO

TCC: O conceito de banalização do mal na obra "Eichmann em Jerusalém" de


Hannah Arendt

Maceió

2020
2

JOSÉ HELIO DE MORAES LIMA FILHO

TCC: O conceito de banalização do mal na obra "Eichmann em Jerusalém" de


Hannah Arendt

Monografia de graduação apresentada


ao curso de graduação em Filosofia da
Universidade Federal de Alagoas como
requisito parcial para obtenção do grau
de licenciado em filosofia.

Orientadora: Prof. Dra. Cristina Amaro


Viana Meireles

Maceió

2020
3

Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas


Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecário: Marcelino de Carvalho Freitas Neto – CRB-4 – 1767

L732c Lima Filho, José Hélio de Moraes.


O conceito de banalização do mal na obra “Eichmann em Jerusalém” de Hannah Arendt /
José Hélio de Moraes Lima Filho. – 2021.
37 f.

Orientadora: Cristina Amaro Viana Meireles.


Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Filosofia) – Universidade Federal de Alagoas.
Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes. – Maceió, 2020.

Bibliografia: f. 34-37.

1. Arendt, Hannah, 1906-1975. Eichmann em Jerusalém. 2. Mal (Filosofia). 3. Mal, Banalização


do (Filosofia). I. Título.
CDU: 111.84
FOLHA DE APROVAÇÃO

Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes

José Hélio de Moraes Lima Filho

O conceito de banalização do mal na obra “Eichmann em Jerusalém” de Hannah Arendt

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso


de Filosofia do Instituto de Ciências Humanas,
Comunicação e Artes da Universidade Federal de
Alagoas, como requisito parcial para obtenção do
grau de licenciado em Filosofia.

-------------------------------------------------------------------

Prof. Dra. Cristina Amaro Viana Meireles (Orientadora)

BANCA EXAMINADORA

----------------------------------------------------

Prof. Ms. José Urbano de Lima Junior

---------------------------------------------------

Profa. Dra. Juliele Maria Sievers


5

Dedico este texto a minha mãe e minha esposa, Ana e Kelle, que sempre me deram
apoio e me ajudaram a chegar até aqui.
6

AGRADECIMENTOS

A Prof. Dra. Cristina Amaro Viana Meireles por todo apoio e contribuição acadêmica.

A minha família, por tudo.

A todas as pessoas que lutaram e lutam por um ensino gratuito, universal e de qualidade.
7

RESUMO

O objetivo dessa monografia é esclarecer o conceito de banalização do mal na obra


Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal da filósofa Hannah Arendt.
Para atingir tal finalidade, essa monografia irá primeiramente apresentar a estrutura geral
do texto; em segundo lugar, irá apresentar as noções acerca do problema do mal,
visando, por fim, esclarecer o conceito de banalização do mal em Hannah Arendt.

Palavras-chave: Mal. Banalização do mal. Hannah Arendt.


8

ABSTRACT

The purpose of this monograph is to clarify the concept of trivialization of evil in the work
Eichmann in Jerusalem: an account of the banality of evil by the philosopher Hannah
Arendt. To achieve this purpose, this monograph will first present the general structure of
the text; second, it will present the notions about the problem of evil, aiming, finally, to
clarify the concept of trivialization of evil in Hannah Arendt.

Keywords: Evil. Banalization of evil. Hannah Arendt.


9

SUMÁRIO

1. Introdução............................................................................................................................... 10
2. Capítulo um: O problema do mal ........................................................................................... 12
2.1 Sobre o mal natural .............................................................................................................. 12
2.2 Sobre o mal metafísico ........................................................................................................ 14
2.3 Sobre o mal moral ............................................................................................................... 17
3. Capítulo dois: o conceito de banalidade do mal em Arendt ................................................... 20
3.1 A autora, a obra e o ator (Eichmann)................................................................................... 20
3.2 O mal banal não possui o elemento da tentação .................................................................. 21
3.3 O mal banal e a burocracia .................................................................................................. 25
3.4 A ausência de reflexão ......................................................................................................... 28
4. Conclusão .................................................................................................................................. 32
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 34
10

1. Introdução

O problema do mal foi muito discutido ao longo da história da filosofia. Entretanto,


há várias abordagens possíveis acerca do problema do mal. Desde os primeiros filósofos
gregos até os filósofos contemporâneos, pode-se identificar três noções muito
importantes acerca do mal para a filosofia; no entanto, alguns autores contemporâneos
fogem desses debates acerca dos três tipos de mal ao apresentar uma nova face para
essa discussão. Um novo debate é o que trata da "banalização do mal". Essa proposta
foi desenvolvida pela filósofa Hannah Arendt (1906 - 1975) na obra Eichmann em
Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal (1963).

Essa monografia terá dois capítulos. Cada capítulo será usado como base, no qual
será tratado um problema que servirá para o capítulo seguinte, conforme explicitado a
seguir:

No capítulo um será apresentado um recorte temático acerca do problema do mal.


De forma mais específica, serão apresentadas as três abordagens mais comuns acerca
do problema do mal: o mal natural (também conhecido como mal físico), o mal metafísico
e o mal moral. Para isso, alguns filósofos serão utilizados como suporte, mostrando suas
conclusões acerca desses problemas. O capítulo um servirá como base para o capítulo
dois.

No capítulo dois será esclarecido o conceito de "banalização do mal" tratado por


Hannah Arendt na obra Eichmann em Jerusalém. Nessa obra, a autora mostra o
surgimento de uma nova perspectiva acerca do mal, o mal banal. O objetivo do capítulo
é esclarecer a teoria acerca do surgimento e desenvolvimento desse tipo de mal,
abordando noções como a ausência de reflexão e a relação entre o banal e a burocracia;
além de investigar a proposta da autora para resolvê-lo.

Vale ressaltar que não é objetivo desta monografia explicar todos os aspectos
acerca da problemática do mal. Seria demasiadamente pretensioso uma monografia se
propor a tal realização. Existem muitas outras abordagens possíveis para a problemática
11

do mal além da banalização do mal, mas, apesar de serem muito válidas, essas
abordagens não serão tratadas nesta monografia.
12

2. Capítulo um: O problema do mal

O presente capítulo terá como estrutura geral, primeiramente, uma explicação acerca
do mal natural. Em segundo lugar, abordará o problema do mal metafísico. E por último,
mas não menos importante, a problemática do mal moral. O objetivo do capítulo é
esclarecer as três possíveis abordagens acerca do problema filosófico do mal com o
intuito de auxiliar na compreensão do capítulo dois.

2.1 Sobre o mal natural

O mal natural (também conhecido como mal físico) refere-se ao mal que vem da
natureza e atinge o homem. Dentro deste campo pode-se enquadrar vários exemplos: as
doenças - sejam elas, sazonais ou pandêmicas1; as catástrofes naturais - furacões2,
terremotos3, etc. Diferentemente do mal moral, o mal natural não tem um agente
intencional, isto é, ele ocorre sem a intervenção humana.

Sobre a causa do mal Tomás de Aquino4 afirma:

É necessário dizer que o mal, de algum modo, tem causa. O mal é a falta do bem
que naturalmente se deve ter. Ora, que alguma coisa seja privada de sua
disposição devida por natureza, isso não pode provir a são ser de uma causa que
separe de sua disposição. Assim, um corpo pesado não se eleva sem que algo o
impulsione; e um agente não deixa de fazer sua ação senão em razão de um
obstáculo. Ora, ser causa só pode convir a um bem, pois nada poder ser causa

1
Exemplo de doenças sazonais são aquelas que ocorrem periodicamente, como as gripes; e os exemplos
de doenças pandêmicas são as virais de transmissão respiratórias que se espalham muito rapidamente,
como a Covid-19.
2
Um exemplo é o Furacão Katrina que ocorreu em 2005 no sul dos Estados Unidos com uma estimativa
de mais de 1800 mortes e aproximadamente 108 bilhões de dólares em prejuízos financeiros.
3
O Sismo do Haiti, também conhecido como Terremoto do Haiti, foi uma catástrofe natural que ocorreu no
dia 12 de janeiro de 2010 e deixou um saldo de mais de 200 mil mortes.

4
Tomás de Aquino foi um filósofo e teólogo que nasceu no Reino da Sicília (onde hoje localiza-se a Itália),
no ano de 1225 e faleceu no ano de 1274. Sua obra é de grande importância para a filosofia e a religião,
principalmente na tradição conhecida como Escolástica. Além de sua enorme contribuição filosófica e
teológica, ele é venerado pela Igreja Católica como Santo.
13

senão na medida em que é um ente, e todo ente, enquanto tal, é bom. Além disso,
se consideramos as razões específicas das causas, o agente, a forma e o fim
implicam certa perfeição que pertence à razão de bem. Mesmo a matéria,
enquanto é potência para o bem, tem razão de bem. (Tomás de Aquino, 2005, p.
97)

Sobre as formas como o mal é causado, Tomás de Aquino diz:

Para provar isso, é preciso saber que o mal é causado de um modo na ação e de
outro no efeito. Na ação o mal é causado pela deficiência de um dos princípios
da ação, ou do agente principal ou do agente instrumental. Por exemplo, a
deficiência de movimento do animal pode acontecer ou pela fraqueza da
faculdade motora, como nas crianças, ou pela inaptidão do instrumento. como
nos coxos. — O mal é causado em uma coisa. não contudo no efeito próprio do
agente. às vezes pelo poder do agente, e às vezes por deficiência do agente ou
da matéria. O mal é produzido pelo poder ou pela perfeição do agente, quanto à
forma buscada pelo agente segue-se necessariamente a privação de outra forma.
Por exemplo, quanto mais perfeita for a potência do togo, tanto mais
perfeitamente imprimirá sua tonna, assim também tanto mais perfeitamente
destruirá seus contrárias. Daí que o mal e a destruição do ar e da água
provenham da perfeição do fogo. Mas isso é produzido por acidente; pois o fogo
não tende a eliminar a forma da água. mas a induzir sua própria forma; entretanto,
fazendo isso, causa aquilo acidentalmente. — Porém, se houver deficiência no
efeito próprio do fogo, por exemplo, que ele não consiga aquecer. isso provém
ou de uma deficiência da ação. que recai na deficiência do princípio da ação,
como se disse. Ou então provém da má disposição da matéria que não recebe a
ação do fogo. Ora, o fato mesmo de ser deficiente é acidental ao bem, ao qual
por si compete o agir. Isso prova que o mal não tem causa senão por acidente. E
é dessa forma que o bem é causa do mal. (Tomás de Aquino, 2005, p. 98 - 99)

O mal natural não surge da ação humana. Ele surge na natureza e atinge o
homem. Por exemplo: a peste bubônica que ocorreu em meados do século XIV na
Europa, quando uma contaminação em massa causada pela bactéria Yersinia pestis,
conhecida como peste bubônica ou peste negra, dizimou um terço (1/3) da população da
Europa, segundo alguns especialistas. Funcionava assim, pulgas de ratos infectadas pela
bactéria, uma vez em contato com seres humanos, infectava essas pessoas e elas iam
infectando umas às outras. Entretanto, há algumas exceções no caso do mal natural:
caso alguém utilize micro-organismos (antraz, varíola etc.) como armas biológicas, nesse
14

exemplo específico, há um mal vindo da natureza, mas sua causa é a intencionalidade


humana, logo ele será um mal que tem causa no campo moral (que será tratado adiante).

Uma das perguntas mais importantes é se "é possível acabar com o mal natural?".
As respostas são diversas pois os tipos de males naturais também são diversos. Com
relação às catástrofes naturais, até o presente momento não há formas de acabar com
esse tipo de mal, simplesmente, o que os especialistas fazem é tentar mitigar os danos
causados por eles; com relação às enfermidades que acometem os homens por micro-
organismos (bactérias, vírus e fungos) algumas têm cura, como a tuberculose, enquanto
outras ainda não, como a AIDS. Por fim, como dizia o filósofo francês Ricoeur5, deve-se
buscar "uma condição humana em que, sendo suprimida a violência, o enigma do
verdadeiro sofrimento, do irredutível sofrimento, seria posto a nu." (Paul Ricoeur, 2005,
p. 34)

2.2 Sobre o mal metafísico

O mal metafísico refere-se a um tipo de mal que está além da física. Isto é, uma
substância (ou condição, como na proposta de Leibniz6, em que a criação é a condição
que nos deixa entregues à possibilidade do mal no mundo) não palpável e que seria a
essência e princípio ontológico de todos os tipos de males existente no mundo físico:
tanto o mal natural (também conhecido como mal físico), quanto o mal moral. Alguns
filósofos, principalmente os de tradição cristã, são radicalmente opostos à afirmação de
que existe o mal metafísico.

Um dos defensores de que não existe um mal metafísico é Agostinho de Hipona


(354 – 430), como fica evidente na citação "Deus é bom e assombroso e
incomparavelmente preferível a tudo isto. Ele é bom e, por conseguinte, criou boas
coisas. E eis como Ele as rodeia e as enche! Onde está, portanto, o mal?" (AGOSTINHO,

5
Paul Ricoeur (1913 - 2005) foi um importante filósofo francês do século XX (no período pós Segunda
Guerra Mundial). Desenvolveu muitos estudos em áreas como fenomenologia, hermenêutica, dentre
outras.
6
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 - 1716) foi um filósofo e polímata alemão. Fez contribuições significativas
para a filosofia, além disso foi um grande defensor do racionalismo do século XVII.
15

1980, Livro VII, p. 144). Agostinho afirma que Deus é bom e que criou todas as coisas
boas, e que o mal surge à medida que essas coisas se corrompem, ou seja, a parte
corrompida é o próprio mal. Logo, o mal metafísico não existe, tudo o que existe é bom.

Segundo o próprio Agostinho:

Vi claramente que todas as coisas que se corrompem são boas: não se poderiam
corromper se fossem sumamente boas, nem se poderiam corromper se não
fossem boas. Com efeito, se fossem absolutamente boas, seriam incorruptíveis,
e se não tivessem nenhum bem, nada haveria nelas que se corrompesse.

De fato, a corrupção é nociva, e, se não diminuísse o bem, não seria nociva.


Portanto, ou a corrupção nada prejudica — o que não é aceitável — ou todas as
coisas que se corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite dúvida.
Se, porém, fossem privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de existir. Se
existissem e já não pudessem ser alteradas, seriam melhores porque
permaneciam incorruptíveis. Que maior monstruosidade do que afirmar que as
coisas se tornariam melhores com, perder todo o bem. (Agostinho, 1980, Livro
VII, p. 153-154)

Caso exista, o mal metafísico tem origem no campo metafísico, isto é, no campo
que está além do mundo físico. Uma vez que esse tipo de mal seja admitido como real,
mesmo como uma experiência de pensamento, ele ganha um estatuto ontologicamente
semelhante ao bem metafísico. Isto é, assim como há um bem metafísico que é causa e
substância para todos os tipos de bens - essa proposta é muito evidente em Agostinho
de Hipona e Tomás de Aquino: afirmar Deus como o próprio bem, e que toda sua criação
é boa, por consequência -, há também um mal metafísico que é causa e substância de
todos os tipos de males - essa segunda proposta é negada por Agostinho de Hipona7,
pois admitir um mal equivalente a um bem, implicaria em duas consequências: (i) dar
substância ao mal, tornando um ser real; (ii) afirmaria uma lógica maniqueísta, tornando
Deus (que é o bem) equivalente ao seu oponente (que é o mal), isto dissolveria a
afirmação de que Deus é onipotente.

7
Vale ressaltar que quando era jovem, Agostinho de Hipona era adepto do maniqueísmo, após a sua
conversão ele recusou essa concepção de mal. Para mais informações consultar o livro História da Filosofia
Volume 2 de Reale e Antiseri das páginas 81 à 116.
16

Agostinho considera o problema do mal segundo três pontos de vista.

Do ponto de vista metafísico, o mal não existe, mas existem apenas graus
inferiores de ser em relação a Deus, Sumo Bem.

Do ponto de vista moral, o mal nasce da vontade má que, em vez de tender ao


Sumo Bem, tende a bens inferiores.

O mal físico é uma conseqüência do pecado original e todavia pode ter um


significado catártico em vista da salvação. (Reale, Antiseri, 2005, p. 87)

Leibniz (1646 – 1716), por outro lado, afirma a existência do mal metafísico como
uma condição, mas que isso não contradiz a existência puramente boa de Deus:

E quanto à origem do mal, em relação a Deus, fazemos uma apologia de suas


perfeições, que não atesta menos a sua santidade, sua justiça e sua bondade,
do que sua grandeza, seu poder e sua independência. Fazemos ver como tudo
depende dele, que ele concorre para todas as ações das criaturas, que ele até
cria continuamente as criaturas, se assim o quiser, mas que, no entanto, não é o
autor do pecado. Onde também mostramos como se deve conceber a natureza
privativa do mal. Fazemos muito mais; mostramos como o mal tem outra fonte
que não a vontade de Deus e que, por isso, tem-se razão de dizer, no que se
refere ao mal da culpa, que Deus não o quer e que ele apenas o permite. Mas o
que é mais importante, mostramos que Deus podia permitir o pecado e a miséria,
e mesmo concorrer e contribuir para isso, sem prejuízo de sua santidade e de
sua bondade supremas; ainda que absolutamente falando, ele pudesse ter
evitado todos esses males. (Leibniz, 2013 p. 58)

Dentre os tipos de mal, o mal metafísico é o mais difícil de ser examinado pois,
além de não ser possível afirmar com certeza que ele exista (por estar além da
experiência humana), toda experiência acaba sendo, em certa medida, contaminada
pelas percepções humanas. As percepções humanas de cada pessoa podem acabar
gerando conclusões diferentes para os mesmos problemas. Por exemplo, Agostinho de
Hipona afirma que o mal existe, mas não como substância, pois tudo que existe é bem e
se o mal existisse ele seria um bem, pois teria substância e como tudo que tem substância
foi criado por Deus, o mal teria sido criado por Deus.
17

Segundo a teoria agostiniana, só é possível acabar com o mal na medida em que


o nível de corrupção dos entes é reduzido, então, quanto menos corrupção no ente
menos mal há neste. Logo, acabar com a corrupção dos entes, é acabar também com o
mal existente naquele ente.

2.3 Sobre o mal moral

O terceiro (e último) tipo de mal tratado nesta monografia é o mal moral. Ele se
refere a todo tipo de mal que é cometido do homem contra o homem, ele pode ser
individual ou coletivo, voluntário ou não. Por ser específico, isto é, ser pontual em cada
ocasião, torna-se mais fácil identificar o seu autor (aquele que comete o mal) e a sua
vítima (aquela que sofre o mal). Enquanto para Agostinho de Hipona a substância do
homem é inerentemente boa (sendo que o mal ocorre quando o caminho natural dessa
substância é corrompido8), para Kant9, há no homem um resquício do mal radical10. Isto
é, ele tem uma propensão/predisposição ao mal. São suas ações individuais que os
levam à prática do mal. Kant, explica:

Por propensão (propensio) entendo o fundamento subjectivo da possibilidade de


uma inclinação (desejo habitual, concupiscentia), na medida em que ela é
contingente para a humanidade em geral. Distingue-se de uma disposição por
poder, sem dúvida, ser inata; não obstante, é permitido não representá-la como
tal, podendo igualmente pensar-se (quando é boa) como adquirida ou (quando é
má) como contraída pelo próprio homem. – Mas aqui trata-se somente da
inclinação para o mal propriamente dito, isto é, para o mal moral. (Kant, grifos do
autor, 2008, p. 34 - 35)

8
Ver seção anterior sobre o mal metafísico.
9
Immanuel Kant (1724 - 1804) foi um filósofo prussiano. É um dos maiores filósofos da história. Suas
principais contribuições para a filosofia foram nos campos da epistemologia, metafísica e ética.
10
Sobre a definição de mal radical vale à pena ressaltar que “Na filosofia de Kant, a noção de mal radical,
tal como aparece no texto A religião dentro dos limites da simples razão, opera como articulação e
explicação das oscilações no vínculo entre razão e vontade, assim como do conflito entre respeito pela lei
moral e amor-próprio. O mal radical, tal como o concebe Kant, está intimamente relacionado ao problema
da liberdade, mas particularmente também ao que ele julga ser uma predisposição natural do homem a
inclinar-se a ceder às suas apetições.” (Correia, 2005, p. 83)
18

Outros filósofos, diferentemente de Kant, tinham uma concepção utilitarista 11


acerca do problema do mal, na qual identificam o bem como algo útil, algo que traga
felicidade para o maior número de pessoas; logo, o mal é o oposto: uma ação que possa
causar mal a um maior número de pessoas, por exemplo. Ele pode surgir (i) tanto na
ação individual, isto é, uma pessoa causando mal para outra pessoa, como em um
assalto, por exemplo; quanto (ii) na ação coletiva, isto é, um povo causando mal para
outro povo, como quando o governo nazista, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 -
1945), implementou um projeto conhecido como "Solução Final" que tinha por objetivo o
extermínio do povo judeu.

Ao analisar as ações do ponto de vista político, vale ressaltar que, como a própria
Arendt aponta, a culpa acaba quase sempre sendo imputada ao perdedor pelo
vencedor12. Por exemplo, o tribunal que deveria julgar os crimes de guerra acaba por se
tornar o tribunal dos vitoriosos sobre os derrotados, como o caso do tribunal de
Nuremberg, no qual os crimes dos aliados (EUA, França, Inglaterra e URSS) foram
ignorados enquanto que os alemães tiveram seus crimes julgados e os culpados foram
responsabilizados. Além da Arendt, vale apontar o que cita Karl Jaspers no livro A
questão da culpa (1946) no qual ele aponta quatro tipos de culpa: criminal, política, moral
e metafísica.

Desses quatro tipos de culpas, dois são individuais e dependem de ação do


praticante para resolver ou mitigar o problema que causa a culpa, são eles: (i) culpa
criminal, quando alguém comete um crime que infringe a lei. (ii) E a culpa moral, no qual
sou responsável pelas ações que executo, independentemente, se escolhi ou não fazer
essa ação. E os outros dois estão além do árbitro individual, no qual o indivíduo é culpado,
mas as ações não dependem unicamente dele, são eles: (iii) culpa política, na qual um
povo inteiro é corresponsável pelo crime cometido pelo seu Estado. (iv) E a culpa
metafísica, que ocorre quando você sente responsabilidade coletiva pelo fato de outras

11
Utilitarismo é uma teoria filosófica fundamentada principalmente por Jeremy Bentham (1748 - 1832) e
John Stuart Mill (1806 - 1873), que alegava que a noção de bem e de mal é caracterizada pela utilidade da
ação; diferentemente da concepção deontológica de Kant que julgava que o mal deve ser evitado, mesmo
que não cause prejuízo a outras pessoas.
12
Aqui o texto sai do campo moral e entra no campo político.
19

pessoas morrerem enquanto você está vivo, no qual você deveria ter tentando ajudá-la,
mesmo que sem sucesso. (Karl Jaspers, 2018, p. 11)

Voltando ao campo moral, é importante esclarecer se é possível afirmar que há


mal moral sem intencionalidade13. Um exemplo de mal intencional é um assassinato
premeditado, ou seja, um assassinato que foi planejado com antecedência e que não
havia uma necessidade de legítima defesa. No outro espectro há o mal que se
desenvolve sem intencionalidade, alguém que perdeu o controle do carro que conduzia
em pista molhada e acabou por atropelar e matar um casal de idosos que por ali passava;
não havia nessa ação intencionalidade, mas mesmo assim um mal foi cometido. Pode-
se falar em mal moral se não for intencional?14

Nos casos em que há um mal moral individual, por ser geralmente pontual (isto é,
ser específico), há duas possibilidades para o seu tratamento. A primeira ocorre depois
do mal cometido, se for em um assassinato premeditado, punindo o assassino
legalmente, se essa medida não acaba com o mal, ao menos para o vitimador, espera-
se que a punição cause uma pena equivalente ao mal causado por ele (o vitimador). A
segunda ocorre antes do mal acontecer, por exemplo, prendendo o futuro assassino15
enquanto ele ainda está premeditando o assassinato; se ainda não é possível o acusar
do mal de um assassinato, ao menos é possível o acusar do mal de planejar um
assassinato. Nesse segundo caso, não há um mal na ação, mas na intenção de cometer
a ação.

13
Além de tratar o mal a partir de sua relação com a intencionalidade, há também a possibilidade de tratar
o mal a partir de sua raiz, como fez Kant. Na qual "A doutrina do mal radical é então uma tentativa de dar
uma fundamentação filosófica adequada à liberdade moral, e ao mesmo tempo, de tornar possível a
concepção da responsabilidade pelos atos não conformes à lei moral". (CORREIA, 2005, p. 85)
14
No livro O livre-arbítrio Agostinho argumenta que não há mal moral sem um homem que livremente
escolha o mal. Para ele, o mal só entra no mundo através do homem. (Ver Capítulo 1)
15
Como ocorre em trabalhos de investigações policiais no qual a polícia consegue prender os criminosos
antes que eles cometam o crime, na fase de planejamento (anterior a execução do crime).
20

3. Capítulo dois: o conceito de banalidade do mal em Arendt

Este capítulo irá abordar e esclarecer o conceito de "banalidade do mal" tratado


na obra "Eichmann em Jerusalém" (1963) da filósofa Hannah Arendt (1906 - 1975). Ele
será estruturado da seguinte forma: primeiramente será feito um resumo acerca da
autora, da obra e do acusado (Adolf Eichmann) para contextualizar a obra; em segundo
lugar, será esclarecido que o mal banal não possui o elemento da tentação; em terceiro
lugar, será esclarecido a relação entre o mal banal e a burocracia; e por último e mais
importante será abordado a ausência de reflexão no praticante do mal banal.

3.1 A autora, a obra e o ator (Eichmann)

Hannah Arendt (1906 - 1975) é uma filósofa de origem judaica. Residiu na


Alemanha de 1906 a 1933, na França de 1933 a 1941 e nos Estados Unidos de 1941 até
a sua morte, em 1975. É considerada uma das maiores filósofas do século XX. Durante
sua vida esteve em contato com grandes filósofos e recebeu muita influência destes. Os
principais são: Heidegger, Husserl e Jaspers. Sua ascendência judaica, que a obrigou a
fugir da Alemanha nazista em 1933, é muito influente nos seus escritos, por exemplo, em
"Origens do totalitarismo" (1951) no qual a autora procura entender a natureza dos
regimes totalitários, como por exemplo, nazismo e stalinismo, no qual ambos perseguiam
certas minorias. Essa obra gerou grande discussão pois aborda semelhanças entre o
regime nazista e a ditadura stalinista.

Outra obra muito importante de Hannah Arendt é Eichmann em Jerusalém um


relato sobre a banalidade do mal (1963). Originalmente a obra foi escrita em 1961 como
um conjunto de artigos para a revista The New Yorker, na qual Arendt era correspondente
para o julgamento de Adolf Eichmann que ocorreu em Israel no ano de 1961. Na obra a
autora relata a trajetória e as ações de Eichmann na sua escalada por poder até se tornar
um oficial nazista. Arendt procura entender o que levou Eichmann a ser indiferente ao
sofrimento de milhões de vítimas que ele mandava para a morte; para a autora, o que
levou Eichmann a ser indiferente a tanto sofrimento foi uma condição que ela chamou de
21

"banalização do mal", que ocorre quando uma pessoa, através da incapacidade de refletir
sobre suas ações, torna-se indiferente ao mal que é causado ao outro. Esse conceito
(banalização do mal) será melhor esclarecido mais adiante. Mas, antes disso, é
necessário abrir um parágrafo para esclarecer quem foi Eichmann.

Otto Adolf Eichmann, personagem principal da obra "Eichmann em Jerusalém", foi


um tenente-coronel da Alemanha nazista, que nasceu no ano de 1902 e morreu
enforcado em 1962, após ser condenado em um tribunal israelense. A função de
Eichmann consistia na logística de evacuação dos judeus para os diversos campos de
concentração. De um lado, Eichmann nunca matou pessoalmente nenhum judeu, do
outro, enviou milhões de judeus para campos de extermínio, ciente de que eles iriam
morrer. Entretanto, ele sempre se alegou inocente da acusação de contribuição para o
genocídio do povo judeu. Foi analisando essa complexa situação de Eichmann que
Hannah Arendt formulou seu conceito de banalização do mal.

3.2 O mal banal não possui o elemento da tentação

O presente subcapítulo tem o objetivo argumentar que o mal banal, tratado por
Hannah Arendt, não tem o elemento tentador. Nos parágrafos seguintes serão
apresentados os argumentos que Hannah Arendt usou para identificar o mal na esfera
política e coletiva (em oposição da esfera moral e íntima) que sustenta que o mal banal
não tem o elemento da tentação. Além disso, serão apresentados os pontos fortes
(apoiados em comentadores) e as possíveis objeções a esse argumento. Esse processo
de exposição e objeção visa facilitar a compreensão do assunto.

Se, diferentemente de Arendt, for defendido que o mal reside na esfera individual,
isto é, que a prática do mal depende unicamente da ação de cada pessoa, é possível
atribuir algum nível de culpa a Eichmann? Apenas como um exercício de pensamento,
se esse argumento for levado em consideração para analisar as ações de Adolf
Eichmann, é possível que seja correto afirmar que o responsável pelas ações do
Eichmann é ele mesmo. Isso implica que (dentro deste ponto de vista) mesmo que ele
não tivesse poderes para evitar o genocídio do povo judeu, ele tinha o dever moral de
22

não colaborar com este e ainda por cima, de empreender o máximo de esforço possível
para evitá-lo. Olhando por esse ponto de vista e uma vez que esse argumento moral seja
usado para embasar a acusação de Eichmann, é correto afirmar que a condenação dele
foi justa. No entanto, vale ressaltar que este não é o pensamento de Arendt.

Em certa medida, o Reich alemão conseguiu implementar uma revolução moral


que fora impulsionada pelo conflito entre o foro íntimo e as ações coletivas. As leis alemãs
ditavam obrigações que as noções de civilidades condenavam. Enquanto que nos países
civilizados as leis diziam "não matarás!", na Alemanha nazista as leis dizem "matarás!" E
foram essas mudanças que levaram a Alemanha a se tornar um estado criminoso
juntamente com muitos de seus cidadãos. Isto é, as pessoas não tinham tentação em
matar (pecar), não haviam nelas esse desejo de matar que precisa ser contido
(diferentemente do desejo de praticar sexo), o que havia era um estado criminoso, dando
ordens criminosas a seus cidadãos, e o cidadão de bem / cumpridor das leis eram
aqueles que por cumprirem as leis estavam a cometer crimes. Pode-se afirmar que suas
ações eram legais, entretanto, não eram legítimas nem morais. O mal na Alemanha
deixou de ser uma tentação e tornou-se uma ação banal. Arendt é explícita ao afirmar
que:

E assim como a lei de países civilizados pressupõe que a voz da consciência de


todo mundo dita "Não matarás", mesmo que o desejo e os pendores do homem
natural sejam as vezes assassinos, assim a lei da terra de Hitler ditava à
consciência de todos: "Matarás", embora os organizadores dos massacres
soubessem muito bem que o assassinato era contra os desejos e os pendores
normais da maioria das pessoas. No terceiro Reich, o Mal perdera a qualidade
pela qual a maior parte das pessoas o reconhecem - a qualidade da tentação.
muitos alemães e muitos nazistas, provavelmente a esmagadora maioria deles,
deve ter sido tentada a não matar, a não roubar, a não deixar seus vizinhos
partirem para a destruição (pois eles sabiam que os judeus estavam sendo
transportados para a destruição, é claro, embora muitos possam não ter sabido
dos detalhes terríveis), e a não se tornarem cúmplices de todos esses crimes
tirando proveito deles. Mas Deus sabe como eles tinham aprendido a resistir à
tentação. (Arendt, 2013, p. 167)

Não havia em Adolf Eichmann o desejo perverso de matar nem ao menos ódio
aos judeus. Como ele mesmo dizia "(...) nunca matei um judeu, nem um não-judeu -
23

nunca matei nenhum ser humano. Nunca dei uma ordem para matar, fosse um judeu
fosse um não-judeu (...)" (Arendt, 2018, p. 33). Adolf Eichmann não era a pessoa que se
esperava no julgamento; em um crime de tamanha atrocidade, era esperado um
praticante de tamanha atrocidade. Eichmann era mais parecido com os promotores,
juízes, jurados e testemunhas do que com o personagem que se esperava dele: alguém
fanático que agia de livre e espontânea vontade motivado por um ódio constante ao povo
judeu. "Pior ainda, seu caso evidentemente não era de um ódio insano aos judeus, de
um fanático anti-semitismo (...). "Pessoalmente", ele não tinha nada contra os judeus;"
(Arendt, 2013, p. 37).

Um dos analistas declarou ao analisar Eichmann que "seu perfil psicológico, sua
atitude quanto a esposa e filhos, mãe e pai, irmãos, irmãs e amigos, 'não apenas [era]
normal, mas inteiramente desejável'". (Arendt, 2013, p.37)

Essa contradição entre o Eichmann projetado pela acusação (alguém fanático e


odioso) e o Eichmann real (uma pessoa comum, cumpridora das leis) levou Schio, em
seu artigo Hannah Arendt: o mal banal e o julgar, a comentar como funcionava a moral
de Eichmann, agindo sem ódio nem maldade, dentro da burocracia nazista:

[Hannah Arendt] buscou compreender o que levara o funcionário Eichmann a agir


de maneira que os seus atos levavam pessoas humanas para os campos, onde
ou eram privadas dos atributos de humanidade e de cidadania, ou eram
prontamente exterminadas, fazendo-o tornar-se um criminoso. Em outros termos,
o réu Eichmann nada tinha de defeitos morais, inclinações ideológicas, rancores
raciais ou problemas de inteligência, por isso Arendt entendeu que ele possuía
uma “simples” ausência de pensamento; [então, Hannah Arendt, concluiu] que
suas ações demonstravam um novo tipo de “mal”, que ela denominou de “mal
banal”. [...] O mal banal não tem “raízes”, pois ele é sem profundidade, mas atinge
e prejudica as pessoas, que são inocentes, desprotegidas, e sem qualquer
motivo. Além disso, Arendt percebeu que tais práticas do mal não carecem de
situações, épocas ou causas, pois são passíveis de ocorrer em qualquer tempo
e lugar, e pode ser cometido por qualquer pessoa, sem que ela decida, pretenda
ou tenha más intenções. (Schio, 2011, p. 3 - 4)

Partindo do pressuposto de que Arendt está correta, pode-se afirmar que Adolf
Eichmann é responsável por suas ações, mas que não se trata de uma culpa individual;
24

é importante destacar o papel coletivo na manutenção do mal banal que era gerenciado
pela burocracia nazista. Das ordens que partiam da chancelaria do Führer, Adolf Hitler, a
parte que chegava ao especialista em evacuação forçada, Adolf Eichmann, deveria ser
cumprida sem questionamentos. Isto é, enquanto Eichmann cumpria a ordem de evacuar
forçadamente milhares de pessoas de um ponto A para um ponto B, ele apenas via seu
papel na evacuação, mas não parava para refletir que fazia parte de uma engrenagem
criminosa dentro de um estado criminoso e que suas ações facilitavam o extermínio de
milhares de pessoas.

Por outro lado, é possível argumentar que a banalização do mal pode ser utilizada
como justificativa para inocentar pessoas que cometeram crimes em nome dos seus
Estados, mesmo que Arendt nunca tenha feito tal afirmação. Do ponto de vista dessa
argumentação, uma vez que o indivíduo obediente às leis estava sob as ordens de um
Estado, a culpa pelos crimes é do Estado do qual partiu a ordem e não do indivíduo
praticante que, se não tivesse cumprido as ordens que lhe foram dadas, seria
considerado um criminoso por não cumprir as ordens criminosas que lhe foram dadas.
Apesar desse argumento ser frágil, dada as condições favoráveis, ele pode ser aplicado;
como é caso de Paul Tibbets (1915 - 2017), que no dia 6 de agosto de 1945 lançou sob
a cidade de Hiroshima no Japão a Bomba de Hiroshima matando aproximadamente 90
mil pessoas (em sua grande maioria civis), mas como agia sob ordens de um Estado
(vale ressaltar que se tratava de um dos Estados vencedores, os EUA, isso favorece na
absolvição dos crimes), não foi responsabilizado por suas ações. Adolf Eichmann poderia
ser absolvido com o mesmo argumento se fosse um soldado aliado.

Por fim, espera-se que esse subcapítulo 3.2 tenha esclarecido como, para Hannah
Arendt, o mal banal não depende exclusivamente do indivíduo praticante; que no contexto
de Eichmann havia todo um mecanismo (a burocracia nazista) que garantia a
perpetuação do mal; e que, além disso, dentro desse mecanismo era esperado ao
"cidadão de bem" (cumpridor das leis) executar ordens (contribuir com o extermínio do
povo judeu) que ao resto do mundo eram condenáveis.
25

3.3 O mal banal e a burocracia

O presente subcapítulo tem o objetivo apresentar como funcionava a burocracia


nazista na qual Eichmann estava inserido. Com isto pretende-se primeiramente
demonstrar como Eichmann era uma engrenagem dentro de um mecanismo maior; em
segundo lugar mostrar que Adolf Eichmann era descartável, diferentemente do que
tentava argumentar a acusação. Vale ressaltar que não é pretensão desse subcapítulo
inocentar Eichmann nem apresentar todos os fatos que compõem a burocracia nazista.

O primeiro passo é entender "o que é burocracia?" A burocracia pode ser


entendida de diversas maneiras. Desde as definições mais populares (aquilo que atrapa
o funcionamento de um órgão) até às definições mais técnicas (padrões que mantêm os
órgãos em funcionamento independentemente dos membros que o compõem). No geral
utilizaremos a definição de "[...] burocracia [...] da seguinte forma: aparato técnico-
administrativo, formado por profissionais especializados, selecionados segundo critérios
racionais e que se encarregavam de diversas tarefas importantes dentro do sistema16."

Quando a promotoria, liderada por Gideon Hausner (1915 - 1990), tentava imputar
a Adolf Eichmann a culpa por todo o genocídio e em certos momentos até a autoria da
Solução Final, ela o fazia por vários motivos. Em parte, por desinformação, em parte pela
necessidade de encontrar um inimigo (bode expiatório) a quem atribuir a culpa e também
por razões políticas. Mas, o que ficou evidente foi que a burocracia nazista era
completamente desconhecida pela promotoria.17 De Hitler à Eichmann, havia uma vasta
hierarquia que exigia o cumprimento cego às ordens. Essas ordens de massa eram

16
Burocracia - Max Weber e o significado de "burocracia". UOL educação. Disponível em:
<https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/burocracia-max-weber-e-o-significado-de-
burocracia.htm> Acesso em: 12 out. 2020
17
Hannah Arendt constantemente aborda a complexidade da máquina burocrática nazista pois, desta
forma é possível entender o contexto no qual Eichmann estava inserido (ainda que esse contexto não
justifique suas ações). A hierarquia que levava a Eichmann era assim disposta: (1) Hitler (Fuhrer); (2)
Himmler (Subordinado a Hitler); (3) Heydrich (no início) e Kaltenbrunner (depois); (4) Müller - chefe da
Seção IV que chefiava os dois grupos: Subseção IV-A (que cuidava de oponentes políticos) e Subseção
IV-B (que cuidava de oponentes religiosos); (5) Chefe da Subseção IV-B (que segundo Arendt, não tinha
importância para a subordinação e contextualização de Eichmann, pois ele (Eichmann), reportava
diretamente a Müller e Heydrich; (6) Eichmann - chefe da Subseção IV-B-4 (que cuidava dos assuntos
judeus).
26

ampliadas à medida em que chegavam às camadas mais baixas. A máquina nazista não
admita desobediência nem questionamentos (as ocorrências eram sempre ofuscadas e
maquiadas), pois, para que houvesse milhões de assassinados era necessário que
houvesse milhares de assassinos. Um exemplo de obediência cega ocorreu em 1941
quando o chefe de Eichmann, Dr. Stahlecker (1900 - 1942), ordenou o fuzilamento de
250 mil judeus (Arendt, 2013, p. 88). Promover a obediência cega era a melhor forma de
fazer milhares de pessoas cumprirem atos tão abomináveis sem questionamentos.

Mesmo com a burocracia engolindo todos os seus membros, é possível afirmar a


não inocência de Eichmann. Ele é culpado18, mesmo que parcialmente. Vários exemplos
mostram como Eichmann tentava ser um bom cidadão cumpridor das leis, mesmo que
essas leis fossem injustas. Mesmo quando todos a sua volta desistiram, Eichmann
sempre se empenhou pelo êxito da Solução Final. A pergunta que fica é: ele estava
apenas agindo como um fiel cumpridor de ordens ou ele queria o extermínio dos judeus?
Arendt argumenta que talvez não fosse o fanatismo e sim a obediência cega ou
incapacidade de reflexão que levava Eichmann a ser fiel à Solução Final. Por exemplo:
quando Himmler mandou suspender a evacuação de Budapeste, Eichmann ameaçou
mandar um telegrama para o Hitler pedindo novas ordens. Esse telegrama o tribunal
considerou danoso, pois mostrava o quanto Eichmann estava empenhado com o
extermínio dos judeus. (Arendt, 2013, p. 163)

Eichmann nunca se ligou à "ala moderada" e é duvidoso que fosse admitido se


tentasse. Ele não só era muito comprometido (...) [como também era] capaz de
mandar milhões de pessoas para a morte (...). Em Jerusalém, sem regra
nenhuma, falou livremente em "matar", e em "assassinato" e "crimes legalizados
pelo Estado". (Arendt, 2013, p. 162)

18
Se for recorrer aos quatro tipos de culpa de Jaspers, Eichmann teria culpa política, na qual um povo
inteiro é corresponsável pelo crime cometido pelo seu Estado. Para mais informações ver A questão da
culpa de Jaspers.
27

Será que Hannah Arendt está correta? É possível aceitar que Adolf Eichmann era
incapaz de refletir e que, além disso, havia um mecanismo que normatizava a
banalização do mal? Há algumas razões para afirmar que a autora está correta. Primeiro,
quanto a incapacidade de reflexão, existem algumas ocasiões nas quais ficou evidente o
quanto Eichmann estava disposto a tudo para cumprir suas ordens. Quando os judeus
húngaros acharam que os nazistas que trabalham na evacuação da Hungria seriam
corruptos, assim como os nazistas que trabalharam na evacuação da Eslováquia,
Eichmann aceitou o papel de fingir ser corrupto para poder levar adiante suas ordens:
evacuar forçadamente todos os judeus húngaros (Arendt, 2013, p. 217). Em segundo
lugar, quanto ao mecanismo que normatizava a banalização do mal (a burocracia
nazista), há várias ocasiões que confirmam que, apesar de Eichmann ser um funcionário
competente e muito dedicado às suas funções, ainda assim, ele era apenas um
funcionário dentre milhares, apesar do seu trabalho não ser totalmente ordinário, muitas
outras pessoas poderiam assumir suas funções e fazer o mesmo que Eichmann fazia.
Um exemplo é o oficial Kurt Becher (1909 - 1995), que vendia passes para fuga de judeus
húngaros (Arendt, 2013, p. 160), mas antes disso ele comprava suas empresas a custos
baixíssimos para a SS. Um exemplo contrário ocorreu quando Eichmann participou das
negociações nas quais tentou trocar um milhão de judeus por dez mil caminhões (Arendt,
2013, p. 161). De um lado, as ações de Becher apoiavam a causa nazista, mas tinham
fundamentos egoístas (visavam o enriquecimento próprio); do outro lado, as ações de
Eichmann apoiavam a causa nazista e não tinham fundamentos egoístas (visavam
cumprir a ordem pela necessidade da obediência); mas, o ponto de intersecção entre
ambos é que, por razões egoístas ou não, ambos ajudavam a máquina nazista em seu
projeto criminoso de extermínio do povo judeu. Esse é apenas um dos exemplos que
mostra como Eichmann era descartável. Mesmo que não fosse possível encontrar outra
pessoa com as mesmas motivações de Eichmann, ainda assim, era facilmente possível
encontrar outras pessoas com os mesmos talentos.

Mas, além de toda a burocracia nazista que lançava seus quadros em um


mecanismo genocida, o que Adolf Eichmann poderia ter feito para se opor aos crimes do
Reich? Existem algumas opções que ele poderia tentar: (i) se juntar à resistência ou ir
lutar com os aliados, em combates diretos e planejados coletivamente; (ii) sabotar ou
28

atrasar os planos nazistas e quem sabe matar Hitler se tivesse a oportunidade de chegar
perto dele com uma arma, em ações que poderiam ser planejadas individualmente; (iii) e
em última hipótese, ele poderia simplesmente fugir. Entretanto, Adolf Eichmann escolheu
ficar e colaborar com a máquina nazista. Mesmo quando o então o ditador da Hungria,
Almirante Horty (1868 - 1957) ordenou que os nazistas parassem com as deportações,
Eichmann ainda desobedeceu à ordem e conseguiu deportar mais 1500 judeus (Arendt,
2013, p. 221). Vale ressaltar que não é essa a interpretação que Hannah Arendt faz de
Eichmann, mas essa possibilidade das ações de Eichmann terem sido propositais devem
ser mencionadas.

Espera-se que esse subcapítulo tenha mostrado como não havia explicações
simples para a posição de Adolf Eichmann dentro da burocracia nazista; que o sistema
nazista era articulado de uma maneira a tornar seus funcionários, mesmo os mais
dedicados, descartáveis; e que, por fim, a melhor forma de combater esse tipo de estado
criminoso, mesmo que não consiga eliminar, mas pelo menos mitigando seus males, é
agindo de maneira reflexiva (no qual abordaremos mais detalhadamente no próximo
subcapítulo). Isto é, não normatizar crimes coletivos como fora feito na Alemanha nazista.

3.4 A ausência de reflexão

O presente capítulo irá esclarecer o que é a ausência de reflexão e como ela


ocorreu no caso Adolf Eichmann. Para isto, serão apresentados exemplos reais da
própria conduta de Eichmann como membro da SS. Serão também apresentados
argumentos favoráveis e contrários à teoria arendtiana.

Adolf Eichmann não era acéfalo e, no entanto, cumpriu ordens que enojam a
consciência humana; ele não tinha problemas mentais e, no entanto, cumpriu ordens que
por escolha própria ele não teria iniciativa de fazer; ele não era perverso nem odioso, e
ainda assim, colaborou com o assassinato de milhões de pessoas. Então, o que explica
o comportamento de Eichmann? Adolf Eichmann tinha ausência de reflexão e estava
inserido em um Estado criminoso (Terceiro Reich). Hannah Arendt afirma que "Ele
simplesmente nunca percebeu o que estava fazendo" (Arendt, 2013, p. 310), que sua
29

dedicação e colaboração com a máquina de genocídio nazista "foi pura irreflexão"


(Arendt, 2013, p. 311) e que, devido à ausência de motivações diabólicas e perversas, a
ação de Eichmann é banal. As motivações de Eichmann para colaborar com a máquina
nazista e não se sentir culpado partiam de uma linhagem de pensamento na qual ele se
enxergava como um mero cumpridor de leis, um cidadão de bem. Alguém que olha para
o genocídio e pensa "alguém tinha que fazer aquilo" (Arendt, 2013, p. 312).

Sobre os primeiros passos do Eichmann nazista, Hannah Arendt diz:

[Eichmann] não entrou para o partido por convicção nem jamais se deixou
convencer por ele. [Eichmann] declarou no tribunal, “foi como ser engolido pelo
partido contra todas as expectativas e sem decisão prévia. Aconteceu muito
depressa e repentinamente.” [Eichmann] nunca leu o Mein Kampf. Kaltenbrunner
disse para ele: Por que não se filia à ss? E ele respondeu: Por que não? [...]
[Eichmann] deixou de dizer [...] que ele havia sido um jovem ambicioso que não
agüentava mais o emprego de vendedor [...]. O vento o tinha soprado [...] para
dentro de um Movimento sempre em marcha [...] [no qual ele] ainda poderia
construir uma carreira. [...] [Eichmann preferia] ser enforcado como
Obersturmbannführer a. D. (da reserva) do que viver a vida discreta e normal de
vendedor viajante da Companhia de óleo a vácuo. (Arendt, 2013, p. 44 - 45)

Adolf Eichmann acreditava genuinamente que os nazistas iriam criar uma


sociedade "boa". E que essa sociedade, liderada por Adolf Hitler (um homem que galgou
postos de cabo até chegar a ser Führer), extrairia o melhor da raça ariana (Arendt, 2013,
p.142). E o fato de todos a sua volta concordarem com essa visão de mundo, imprimia
em Eichmann a validação suficiente para suas crenças. Quando questionado sobre sua
falta de crítica às suas ações, Eichmann afirmou que não havia vozes contrárias ao senso
comum (Arendt, 2013, p. 144). A acusação tenta provar que haviam essas vozes que
poderiam despertar a consciência de Eichmann. Arendt, por outro lado, afirma que
haviam essas vozes e que, no entanto, elas não eram verdadeiras, logo, não eram
suficientes para despertar o pensamento crítico em Eichmann.

Para a autora a máquina nazista era uma grande engrenagem na qual um sujeito
que não refletia sobre suas ações, como Adolf Eichmann, contribuía para a manutenção
e ampliação de um estado criminoso, e nesse estado o mal se tornou banal, isto é, ele
30

não tinha como origem o ódio ou uma motivação sádica, ele era fruto de ações políticas.
Apesar de não preencher todas as lacunas que compõem uma ditadura, essa definição
mostra como era complicada a situação do indivíduo Eichmann dentro da máquina
nazista. Um dos grandes problemas era que a maioria das pessoas concordavam que o
que ele fazia estava certo, isto é, ele era um "cidadão de bem" construindo uma "boa
sociedade" (Arendt, 2013, p. 142). Como Hitler conseguiu eliminar rapidamente grande
parte de sua oposição, a minoria restante era vista como inimiga dos cidadãos de bem
que queriam construir a sociedade boa. Olhando por um ponto de vista macro: quem
estava certo (a oposição ao regime nazista) era ilegal e quem estava errado (os membros
do regime nazista) era legal. Vale ressaltar que o problema é maior do que uma questão
de legalidade, pois não se trata apenas de uma lei criminosa e sim de um Estado
criminoso.

É consensual do ponto de vista macro que o Estado nazista era criminoso. No


entanto, vale ressaltar que do ponto de vista micro, as ações dos indivíduos são
altamente questionáveis. Mas para isso devemos arguir contrariamente ao
posicionamento de Arendt. Ela afirma que Eichmann de fato sofria de ausência de
reflexão e que como Hans Globke19 e Wilhelm Stuckart20 faziam falsa oposição interna,
eles não eram capazes de esclarecer a consciência de Eichmann21. Mas, e se Eichmann
foi apenas mais um criminoso inescrupuloso que mentia para tentar escapar da pena
morte? E se as contradições de Eichmann não tinham como fruto a sua "memória ruim"
(Arendt, 2013, p. 72) e sim o fato de estar contradizendo-se em suas mentiras? Pode
parecer tendencioso, mas vale a pena ressaltar que Adolf Eichmann, o mesmo a quem
Arendt adjetiva como um homem de memória ruim era a operador logístico do regime
nazista, especialista em evacuação forçada e responsável pelo deslocamento em massa
de milhões de pessoas por todo continente europeu22. Esses fatos não comprovam que

19
Hans Globke (1898 - 1973), foi um advogado alemão e alto funcionário do partido nazista. Ele foi o
formulador da diretiva que exigir que todos deveriam provar que tinham ascendência ariana.
20
Wilhelm Stuckart (1902 - 1953), foi um jurista e alto funcionário do partido nazista. Foi ele quem propôs
o programa de esterilização de todos os meio-judeus na conferência de Wannsee, em vez de exterminá-
los.
21
Para mais informações consultar o livro Eichmann em Jerusalém, páginas 144 e 145.
22
Vale ressaltar que este não é o ponto de vista de Arendt. Essa hipótese foi levantada para mostrar que
havia a possibilidade de Eichmann estar mentindo.
31

a autora estava errada, mas a sua existência deve ser citada para abrir a possibilidade
de um outro olhar sobre o tenente-coronel Adolf Eichmann.

Além disso, e se a todos forem creditados à irreflexão, como saber quem está mentindo?

Este subcapítulo pretendeu esclarecer o argumento arendtiano de que Adolf


Eichmann não era odioso nem perverso, ele era um cidadão específico (um homem que
não refletia sobre suas ações) inserido em um contexto específico (um Estado criminoso).
Também foram apresentadas possibilidades alternativas a esse argumento. A autora é
muito persuasiva em seus argumentos, apesar de não preencher todas as lacunas. Não
foi possível chegar a uma conclusão irrefutável acerca da ausência de reflexão, mas
espera-se que as questões apresentadas tenham sido suficientes para esclarecer o
pensamento de Arendt e demonstrar a complexidade do assunto.
32

4. Conclusão

Após o genocídio judeu que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial (1939 -
1945), os nazistas que não foram mortos, fugiram. Um dos que fugiram foi o tenente-
coronel Adolf Eichmann. Ele conseguiu ficar impune durante quinze anos. Em 1960,
membros do Mossad (o serviço de inteligência de Israel) conseguiram capturá-lo em um
subúrbio de Buenos Aires, na Argentina. Após ser anunciado que ele seria julgado em
Israel, seu julgamento tornou-se famoso em todo o mundo. Os maiores veículos de
comunicação enviaram seus representantes para cobrir o julgamento, um desses
representantes foi a filósofa Hannah Arendt, que ao analisar o réu não viu nem um
homem odioso, nem perverso. Hannah na verdade encontrou um homem comum, até
para os homens comuns. E foi sobre o "julgamento de Eichmann" e a "banalidade do mal"
que Arendt escreveu seu livro e que analisamos nesta monografia.

Na introdução foi apresentado a estrutura geral e o passo a passo que seria


percorrido na monografia; essa estruturalização serviu para facilitar e esclarecer a
compreensão da pesquisa, visando evitar contradições e ambiguidades.

No capítulo um foram apresentadas as três abordagens acerca do mal: o mal


natural (também conhecido como mal físico), o mal metafísico e o mal moral. Para isso
foi utilizado o apoio de grandes filósofos como Agostinho, Arendt, Kant, Leibniz, dentre
outros. Esse capítulo teve como finalidade esclarecer o debate acerca do mal, suas
abordagens e possíveis soluções, visando ajudar na compreensão do capítulo dois.

A abordagem desenvolvida no capítulo dois foi mais específica: visou investigar o


conceito de banalidade do mal em Arendt, para isso o capítulo foi dividido em quatro
partes (i) foi feito um recorte sobre a autora, a obra e o ator (Eichmann); (ii) foi
apresentado que o mal banal não possui o elemento da tentação; (iii) foi demonstrado
como funciona a relação entre o mal banal e a burocracia; e por fim, mas não menos
importante, (iv) foi investigado como funcionava a ausência de reflexão em Adolf
Eichmann.
33

Por fim, a banalização do mal continua sendo um debate caro à filosofia. Arendt
se lançou em um campo novo, disposta a analisar algo inédito na história da humanidade
(a máquina nazista) e sua corajosa busca rendeu frutos para interpretações que vão além
dos clichês. Espera-se que essa monografia tenha sido clara em seus objetivos:
esclarecer os problemas do mal banal tratado por Hannah Arendt. O problema persiste
em aberto e isso possibilitará que a cada lançar de olhos no conceito arendtiano seja
possível manter vivo o debate acerca da banalidade do mal e com isso espera-se evitá-
lo a todo custo.
34

REFERÊNCIAS

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