Recurso Especial SPE Reserva

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR 3º VICE-PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

TJRJ 202100216337 05/04/2021 18:16:00 JDPH - PETIÇÃO ELETRÔNICA Assinada por RAFAEL RIBEIRO SANTORO
GRERJ ELETRÔNICA Nº 80436804496-21

Processo nº 0295949-06.2016.8.19.0001

SPE RESERVA I EMPREENDIMENTO IMOBILIÁIO LTDA.,

devidamente qualificadas nos autos da Apelação Cível em Epígrafe, na qual figura

como Apelante, sendo Apelados JOSE ROGÉRIO MARTINS VIDIGAL E OUTRA, vem,

tempestivamente, tendo em vista o acórdão de fls., acrescido pela decisão dos

Embargos de Declaração de fls., com fulcro nos artigos 105, III, “a”, da CRFB/88 c/c

1.029 e seguintes do CPC, interpor o presente

RECURSO ESPECIAL

o que faz pelos relevantes motivos expostos nas anexas razões, requerendo desde já

que, após as formalidades legais, seja o presente recurso admitido e encaminhado ao

Colendo Superior Tribunal de Justiça para julgamento.

Em adição, requer seja o presente recurso recebido para que seja

cumprido o disposto no art. 1.030, caput, realizando-se a seguir o devido exame de

AV. RIO BRANCO, 122/ 11° ANDAR - CENTRO - RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL - CEP 20040 001
PABX (55.21) 3549-1101
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admissibilidade para posterior remessa a uma das Colendas Turmas julgadoras do

Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Rio de janeiro, 31 de março de 2021.

Rafael Ribeiro Santoro

OAB/RJ 118.994
RAZÕES DE RECORRENTE

RECORRENTE: SPE RESERVA I EMPREENDIMENTO IMOBILIÁIO LTDA

RECORRIDO: JOSE ROGÉRIO MARTINS VIDIGAL E OUTRA

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA,

COLENDA TURMA,

I – DA TEMPESTIVIDADE E PREPARO

A Recorrente tomou ciência do v.acórdão através de publicação

no Diário Oficial do dia 15/03/2021 (segunda-feira). Logo, o prazo recursal se iniciou

no dia 16/03/2021 (sexta-feira) e atingirá seu termo final no dia 05/04/2021

(segunda-feira).

As custas judiciais pertinentes ao Recurso foram recolhidas

conforme GRERJ eletrônica acima numerada, bem como GRU em anexo.

Sendo assim, requer a intimação do Recorrido para apresentar

contrarrazões, e após o exame de sua admissibilidade, a remessa dos autos ao E.

Superior Tribunal de Justiça.

II - INTRODUÇÃO - ART. 1.029, INC. I – “A EXPOSIÇÃO DO FATO E DO

DIREITO”:

Alegam os Apelados, em síntese, que, firmaram com à Apelante

dois Instrumentos Particulares de Promessa de Compra e Venda, tendo por objeto a


aquisição das unidades 401 e 801, bloco 01, do empreendimento “NOVA PENHA

CLUBE CONDOMÍNIO”.

Prosseguem afirmando que cumpriram todas as obrigações

ajustadas no contrato, mas a Apelada teria descumprido o prazo de entrega dos

apartamentos, cuja previsão foi ajustada para maio de 2015, com a possibilidade de

prorrogação por mais 180 dias.

Os Apelados relatam que a entrega das chaves se deu somente

em 18/07/2016, com atraso.

Por conta do que relatam em sua inicial, os Apelados ajuízam

esta demanda indenizatória, na qual postulam:

i) a condenação da parte Apelante ao pagamento de multa

contratual de 2% do valor total de cada imóvel, devido a cada

mês de atraso na entrega dos imóveis, contados a partir de

novembro de 2015;

ii) a condenação da parte Apelante por danos materiais

referentes aos pagamentos de IPTU e condomínio para ambos

os imóveis, antes da entrega das chaves;

iii) lucros cessantes de 0,5% do valor atualizado de cada

imóvel, devido a cada mês de atraso na entrega dos imóveis,

contados de novembro de 2015;

iv) danos morais, mensurado em R$20.000,00 (vinte mil

reais) para cada autor;

Em sua peça de bloqueio, a Apelante pugnou pela improcedência

dos pedidos autorais, tendo em vista que diferentemente do alegado, a parte Apelante
promoveu a tradição do imóvel em perfeitas condições de habitabilidade e dentro do

prazo, não sendo crível, portanto, a alegação de multa por atraso na entrega da

unidade, além de confrontar a suposta alegação de danos morais e emergentes

provenientes do transtorno causado.

Esta é a síntese dos fatos.

III - DA SENTENÇA APELADA

Em que pese toda a documentação probatória anexada aos

autos, o magistrado sentenciante julgou procedente o pleito autoral, condenando a

parte Apelante, nos seguintes termos: (grifos nossos)

‘’(...) JULGO PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO, EXTINGUINDO O

PROCESSO COM RESOLUÇÃO DO MÉRITO DA FORMA DO ART.

487, I DO CPC, para condenar a ré: 1. a pagar aos autores, a

título de danos morais, a quantia de R$5.000,00, totalizando

R$10.000,00, corrigidos a partir desta data e acrescidos de juros

de 1% am a partir da citação; 2.a pagar aos autores o

correspondente a 0,5% sobre o valor do imóvel, por mês de atraso,

desde novembro de 2015 até a data a da efetiva entrega do

imóvel, atualizado desde a data do contrato, acrescido de juros de

1% am a partir da citação; 3.restituir de forma simples os valores

despendidos a título de IPTU e condomínio até a data da entrega,

corrigidos e acrescidos de juros de 1% am a partir de cada

desembolso; Condeno a ré ao pagamento das custas e honorários

que fixo em 10% do valor total da condenação. Ao trânsito, intime-

se na forma do art. 523 do NCPC. Cumpridas as formalidades,

baixa e arquivo. Publique-se. Intimem-se. (...)’’

Contra ao julgado desfavorável, a parte Apelante opôs Embargos

de Declaração visando sanar as omissões que abarcavam a r.sentença, no entanto,

sem êxito, in verbis:


Recebo os embargos, eis que presentes os requisitos do legítimo

exercício do direito. No mérito, pretende o embargante utilizar o

instrumento como substitutivo do recurso cabível. A matéria foi

decidida, inexistindo vício de omissão, contradição ou obscuridade

a ser sanada. Nego provimento, portanto.

Diante do julgamento desfavorável, a Recorrente interpôs

recurso de apelação visando devolver a matéria processual ao Tribunal Fluminense

para reexame, tendo o referido recurso sido distribuído para 27ª Câmara Cível, sob a

relatoria da Desembargadora Jacqueline Lima Montenegro.

No entanto, em sessão de julgamento foi prolatado v.acórdão

negando provimento ao Apelo interposto pela Recorrente, sob o fundamento de que

não teria se confirmada a causa de exclusão de responsabilidade da vendedora, in

verbis:

“APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS IMOBILIÁRIOS. COMPROMISSO

DE COMPRA E VENDA – ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL -

INADIMPLEMENTO – INDENIZAÇÃO. 1. Aplicabilidade do Código

de Defesa do Consumidor. Promitentes-compradores pessoas

naturais, o que os qualifica como destinatários finais. 2. Provada

a inadimplência do compromissário vendedor, configurada está a

falha no serviço, o que justifica a aplicação da cláusula penal

prevista no contrato e a concessão de indenização por danos

morais. 3. Descumprimento contratual por parte do empreendedor

do projeto, que não observou o prazo ajustado para a entrega do

bem. 4. Frustração do recebimento do imóvel, causando angústia,

tristeza e sofrimento, ofendendo a incolumidade psíquica e

gerando, por conseguinte, danos morais a serem compensados.

Quantum indenizatório de R$ 5.000,00, para cada autor,


arbitrado em consonância com a repercussão do dano, a

possibilidade econômica do ofensor. 5. Desprovimento do recurso”.

Contra o v.acórdão desfavorável, a parte Recorrente opôs

Embargos de Declaração com a finalidade de pré-questionar a condenação arbitrada a

título de danos morais, uma vez que a mesma foi lastreada em suposta falha na

prestação de serviço da Incorporadora (descumprimento contratual), sendo certo que

tal entendimento do Tribunal fluminense afronta o entendimento sedimentado pelo

STJ, no julgamento do AgInt no REsp 1.770.525/RO.

É dizer que a jurisprudência das Turmas integrantes da

Segunda Seção deste Tribunal Superior já se manifestaram no sentido de que o

simples inadimplemento contratual, por si só, não acarreta danos morais.

No entanto, inobstante as razões dos aclaratórios, o acórdão

seguiu sem modificações.

Portanto, nota-se que as questões de Direito discutidas no

presente recurso extremo versam sobre a aplicabilidade da norma dos artigos

371 do CPC e 884 do Código Civil de 2002 o que possibilita ao STJ o controle da

inteireza positiva do direito infraconstitucional.

IV - ART. 1.029, II – “A DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO

INTERPOSTO”:

Para todos os efeitos, diz a Recorrente que os requisitos de

admissibilidade do presente recurso estão claramente preenchidos, eis que a decisão

Recorrida foi proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em última

instância, a matéria objeto do recurso foi pré-questionada no acórdão recorrido e

demonstra-se a negativa de vigência à lei federal, assim como a divergência de


interpretação de uma mesma norma federal, o recurso é tempestivo e as custas

foram corretamente recolhidas.

PRIMEIRA PARTE:

Do Pré-questionamento:

Quanto ao requisito do prequestionamento, cabe afirmar que o

órgão jurisdicional local proferiu decisão omissa não se manifestando sobre pontos

cruciais ventilados no apelo interposto pela Recorrente, o que possibilita ao STJ o

controle da inteireza positiva do direito federal.

Cabe ainda afirmar que o órgão jurisdicional local proferiu

manifestação acerca da questão constitucional suscitada nesse recurso, qual seja, a

valoração das provas dos autos, com negativa de vigência ao art. 371 do CPC e

884 do CC, o que possibilita ao STJ o controle da inteireza positiva do direito

constitucional.

V - DAS RAZÕES PARA A MODIFICAÇÃO DA DECISÃO DO TRIBUNAL A QUO

DA MANIFESTA NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART. 371 DO CPC. VALORAÇÃO

DAS PROVAS DOS AUTOS. PROVA DA EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE.

OMISSÃO QUANTO AOS ARGUMENTOS DA APELANTE. FATO EXCLUSIVO DE

TERCEIRO.

Em que pese os d. Magistrados terem exarado o entendimento de

que a Incorporadora não teria se desincumbido de provar o fato impeditivo do direito

dos Recorridos, consistente no inadimplemento da contraprestação financeira

ajustada no contrato de promessa de compra e venda, denota-se pela leitura do

acórdão uma incorreta valoração das provas dos autos.


Visando demonstrar que tal fato importou em negativa de

vigência ao art. 371 do CPC, a Recorrente destaca que nesta lide os Recorridos

aduziram que haviam quitado todos os valores devidos à incorporadora e, mesmo

diante disso, não teriam recebido o imóvel. Em contrapartida, na defesa e razões de

apelação, esta Recorrente expôs que:

(i) Jamais inadimpliu suas obrigações, pois concluiu as obras

do empreendimento – sua obrigação de fazer – muito antes do

prazo ajustado contratualmente;

(ii) Notificou os adquirentes para o cumprimento da

contraprestação financeira e a devida vistoria da unidade

concluída;

(iii) os adquirentes quitaram o saldo do preço da unidade,

MAS NÃO QUITARAM OUTRAS OBRIGAÇÕES DE SUA

INTERIRA RESPONSABILIDADE;

(iv) somente em junho de 2016 os adquirentes quitaram a

última contraprestação financeira por eles assumida;

Contudo, analisando a fundamentação do r. acórdão, percebe-se

houve uma inadvertida valoração das provas constantes dos autos, pois a E. Câmara

Cível supôs que a quitação do saldo do preço de aquisição do imóvel, exclusivamente,

já corresponderia a quitação de toda a obrigação a cargo dos adquirentes, enquanto

que o conjunto fático probatório dos autos demonstra situação oposta, no sentido de

que a liberação da obrigação assumida pelos Recorridos somente se daria se, e

somente se, quitados os pagamentos do preço do apartamento, as taxas de

ligações definitivas e demais despesas inerentes a transação imobiliária.


Veja-se que, no caso dos autos, os Recorridos atrasaram a

quitação da obrigação de dar que lhes cabia, sendo certo que os adquirentes ficaram

em mora, conforme se comprova pelo extrato de pagamento anexados aos autos:

Extrato Unidade 401

Extrato Unidade 801

Com efeito, é imperioso que se dê a correta valoração ao conjunto

fático probatório dos autos, para que a lide seja julgada de forma justa e adequada.

Não há que se perder de vistas que a principal prerrogativa

assegurada às partes pelo art. 371 do CPC traduz-se no DIREITO À ADEQUADA

VALORAÇÃO DA PROVA, ao qual está diretamente relacionado o “Princípio do Livre

Convencimento Motivado”, assim como o que assegura o art. 369 do CPC, ao dispor

que “As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os

moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade

dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do

juiz.”.

Ademais, ao deixar de analisar a exceção do contrato não

cumprido demonstrado pelas provas dos autos, a E. Câmara Cível negou vigência ao

artigo 476 do Código Civil, que reconhece a correlação entre as obrigações recíprocas

dos contratantes.
Importante notar, nesse passo, que a discussão apresentada no

acórdão está pontualmente direcionada à VALORAÇÃO DA PROVA, não ao

revolvimento de material fático probatório.

Nestes termos, a Recorrente demonstra que a fundamentação

vinculada deste Recurso Especial se liga à incorreta valoração da prova, que acarreta

a negativa de vigência do art. 371 do CPC.

Por via de consequência, no julgamento deste recurso, faz-se

necessária a adequação do julgado, mediante a correta observância da norma do

citado artigo do Código de Processo Civil, de modo que se reconheça que a quitação do

saldo do preço de aquisição do imóvel, exclusivamente, NÃO corresponderia a quitação

de toda a obrigação a cargo dos adquirentes.

CONDENAÇÃO A TÍTULO DE DANO MORAL EM AFRONTA AO ENTENDIMENTO

DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO TEOR DO AGINT EM RESP N°

1.770.525/RO

Com devida vênia, o v.acórdão ora guerreado também não bem

no ponto em que manteve a condenação da Recorrente ao pagamento de danos morais

pelo alegado atraso na entrega do apartamento aos Recorridos.

Atentem-se Nobres Ministros, que no caso dos autos não

restaram caracterizados os requisitos autorizadores do acolhimento da pretensão

indenizatória deduzida pelos Recorridos.

Não há que se perder de vistas que a caracterização do dano

extrapatrimonial demanda a demonstração de que os atributos da personalidade de

quem se diz ofendido tenham sido violados. Não basta a mera alegação de que

determinada situação tenha gerado abalo psicológico.


Ademais, a reparação do dano moral deve ser a exceção e não

a regra. Sendo possível a reparação do suposto dano pela fixação de indenização

de cunho material, não há que se cogitar de aplicação de indenização de cunho

extrapatrimonial.

Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral

a dor, vexame, sofrimento ou humilhação, que, fugindo à normalidade, interfira

intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições e

desequilíbrio em seu bem-estar, o que não restou caracterizado no presente caso.

Relembre-se, ainda, o entendimento solidificado neste

Tribunal Superior no sentido de que mero descontentamento ou

descumprimento contratual não legitima a condenação ao pagamento de

indenização por danos morais, por não haver violação à personalidade jurídica de

quem a reclama.

É imperioso que se reconheça que nestes autos não se

caracterizou qualquer ato ilícito capaz de embasar pretensão indenizatória, eis que a

efetiva entrega do apartamento aos Recorridos dependia do cumprimento de certas

obrigações a cargo dos adquirentes e tão logo estas obrigações foram cumpridas, os

consumidores foram imitidos na posse do imóvel.

Ademais, considerando o ínfimo período de “atraso” na imissão

dos Recorridos na posse do apartamento, há que se considerar tal fato como mero

aborrecimento cotidiano, o contratempo próprio da vida em sociedade ou o simples

desconforto, que não configuram dano moral indenizável.

Ainda que desagradáveis eventos que não extrapolam a órbita do

normal e do razoável não causam nenhum dano a direitos da personalidade, nem

produzem ofensa a honra, e, portanto, não merecem reparação pecuniária.


Ainda assim, sobre o tema da caracterização dos danos morais

vale transcrever a lição de MARIA CELINA BODIN DE MORAES1:

“De fato, não será toda e qualquer situação de sofrimento,

tristeza, transtorno ou aborrecimento que ensejará a

reparação, mas apenas aquelas situações graves o

suficiente para afetar a dignidade humana em seus diversos

substratos materiais, já identificados, quais sejam, a igualdade, a

integridade psicofísica, a liberdade e a solidariedade familiar ou

social, no plano extrapatrimonial em sentido estrito.” (Grifos

Nossos)

Assim, somente o dano que afeta a dignidade humana é

capaz de ensejar reparação pecuniária. Seguindo o mesmo entendimento, esclarece

o Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e Professor de Direito Civil da

PUC/SP, JOSÉ OSÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR2:

“Convém lembrar que não é qualquer dano moral que é

indenizável. Os aborrecimentos, percalços, pequenas

ofensas, não geram o dever de indenizar. O nobre instituto

não tem por objetivo amparar a suscetibilidades exageradas e

prestigiar os chatos.” (Grifos Nossos)

No caso em tela, não se configura o dano moral em nenhum

dos dois planos: objetivo ou subjetivo. Não houve qualquer conduta comissiva desta

Recorrente capaz de gerar dano a direitos fundamentais da parte Recorrida e,

também, não se vislumbra dano algum à reputação ou à honra da parte autora sendo,

portanto, indevida e incabível qualquer reparação pecuniária.

1 MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana – uma leitura civil-constitucional dos danos morais,
1ªed., Rio de janeiro: Renovar, 2003, p. 188/189.
2 AZAVEDO JÚNIOR, José Osório. “O dano moral e sua avaliação” in Revista dos Advogados nº7
Exa., o pedido de danos morais no caso em tela, com o devido

respeito, não pode ser interpretado de forma diversa senão uma tentativa do Recorrido

em receber indenização a tal título, sem que haja qualquer fundamento para tanto.

Não basta a simples alegação dos Recorridos de terem suportado

um dano moral, para caracterizar o direito de receber indenização. É fundamental

que se demonstre, de forma inquestionável e segura, em que consiste a lesão, ou

de que maneira a infração veio afetar a sua integridade patrimonial, devendo o

Magistrado aferir realmente a sua ocorrência, sob pena de transformar qualquer

“descontentamento” em fundamento para indenização.

Por fim, vale ressaltar que a Terceira Turma do STJ firmou o

entendimento de que o simples descumprimento contratual não resulta em

danos morais indenizáveis, vejamos o julgado:

“RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS. CIVIL E PROCESSUAL

CIVIL. ADMISSIBILIDADE PELO CPC/1973. ENUNCIADO

ADMINISTRATIVO N2/STJ. PROCESSAMENTO PELO CPC/2015.

CORRETAGEM. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. RITO DOS ARTS

1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015. I – RECURSO ESPECIAL DA

INCORPORADORA. LEGITIMIDADE PASSIVA ‘AD CAUSAM’.

TEORIA DA ASSERÇÃO. PRESCRIÇÃO E CASO FORTUITO.

ALEGAÇÃO GENÉRICA. ÓBICE DA SÚMULA 284/STF. II –

RECURSO ESPECIAL ADESIVO DOS CONSUMIDORES.

INOCORRÊNCIA DE DANO MORAL. ATRASO DA OBRA. CURTO

PERÍODO. MERO INADIMPLEMENTO. INDENIZAÇÃO POR

LUCROS CESSANTES. ÓBICE DA SÚMULA 7/STF. REPETIÇÃO

EM DOBRO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA

211/STJ. III – TESE PARA FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015:

(...)

5.1. Inocorrência de abalo moral indenizável pelo atraso de

alguns meses na conclusão da obra, em razão das

circustâncias do caso concreto”.


(...)

(REsp n. 1.551.968/SP. Relator Ministro Paulo de Tarso

Sanseverino, Segunda Seção,DJe 6/9/2016. Sem grifo no

original)

Realizando o devido cotejo analítico entre a decisão acima

referida e o acórdão proferido pela Câmara Cível do TJRJ, verifica-se o nítido confronto

entre o posicionamento dos Tribunais. Vejamos no quadro comparativo abaixo:

Acórdão do TJRJ Acórdão do STJ

Ementa: Ementa:
APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS. CIVIL E

IMOBILIÁRIOS. COMPROMISSO DE COMPRA E PROCESSUAL CIVIL. ADMISSIBILIDADE PELO

VENDA – ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL - CPC/1973. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N.

INADIMPLEMENTO – INDENIZAÇÃO. 1. 2/STJ. PROCESSAMENTO PELO CPC/2015.

Aplicabilidade do Código de Defesa do CORRETAGEM. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA.

Consumidor. Promitentes-compradores pessoas RITO DOS ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO

naturais, o que os qualifica como destinatários CPC/2015. Documento: 61932127 - EMENTA /

finais. 2. Provada a inadimplência do ACORDÃO - Site certificado - DJe: 06/09/2016

compromissário vendedor, configurada está a Página 1 de 3 Superior Tribunal de Justiça I -

falha no serviço, o que justifica a aplicação da RECURSO ESPECIAL DA INCORPORADORA.

cláusula penal prevista no contrato e a concessão LEGITIMIDADE PASSIVA 'AD CAUSAM'. TEORIA

de indenização por danos morais. 3. DA ASSERÇÃO. PRESCRIÇÃO E CASO

Descumprimento contratual por parte do FORTUITO. ALEGAÇÃO GENÉRICA. ÓBICE DA

empreendedor do projeto, que não observou o SÚMULA 284/STF. II - RECURSO ESPECIAL

prazo ajustado para a entrega do bem. 4. ADESIVO DOS CONSUMIDORES.

Frustração do recebimento do imóvel, causando INOCORRÊNCIA DE DANO MORAL. ATRASO

angústia, tristeza e sofrimento, ofendendo a DA OBRA. CURTO PERÍODO. MERO

incolumidade psíquica e gerando, por conseguinte, INADIMPLEMENTO. INDENIZAÇÃO POR

danos morais a serem compensados. Quantum LUCROS CESSANTES. ÓBICE DA SÚMULA

indenizatório de R$ 5.000,00, para cada autor, 7/STF. REPETIÇÃO EM DOBRO. AUSÊNCIA DE

arbitrado em consonância com a repercussão do PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. III -

dano, a possibilidade econômica do ofensor. 5. TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO

Desprovimento do recurso. CPC/2015: 3.1. Legitimidade passiva 'ad causam'

da incorporadora, na condição de promitente-


vendedora, para responder a demanda em que é

pleiteada pelo promitente-comprador a restituição

dos valores pagos a título de comissão de

corretagem e de taxa de assessoria técnico-

imobiliária, alegando-se prática abusiva na

transferência desses encargos ao consumidor. IV.

RECURSO ESPECIAL DA INCORPORADORA:

4.1. Aplicação da tese ao caso concreto,

rejeitando-se a preliminar de ilegitimidade passiva.

4.2. Incidência do óbice da Súmula 284/STF no

que tange às alegações de prescrição e de caso

fortuito, tendo em vista o caráter genérico das

razões recursais. V. RECURSO ESPECIAL

ADESIVO DOS CONSUMIDORES: 5.1.

Inocorrência de abalo moral indenizável pelo

atraso de alguns meses na conclusão da obra,

em razão das circunstâncias do caso concreto.

5.2. Incidência do óbice da Súmula 7/STJ, no que

tange à pretensão de condenação da

incorporadora ao pagamento de indenização por

lucros cessantes durante o curto período do atraso

na entrega da obra. 5.3. Inadmissível recurso

especial quanto à questão que, a despeito da

oposição de embargos declaratórios, não foi

apreciada pelo Tribunal 'a quo' (Súmula 211/STJ).

5.4. Ausência de prequestionamento da questão

referente à repetição em dobro dos valores da

comissão de corretagem e do serviço de

assessoria imobiliária. VI - RECURSOS

ESPECIAIS DESPROVIDOS.

Trecho do Voto do relator: Trecho do Voto do Relator:


(...) (...)

No que tange aos danos morais, restaram No que tange à indenização por danos morais,

evidenciados, porquanto patente o esta Corte Superior possui entendimento

descumprimento do contrato pela pacífico no sentido de que o mero

incorporadora, sendo inconteste o atraso na inadimplemento contratual não causa, por si

entrega do imóvel. Justificada, portanto, a só, abalo moral indenizável. Nesse sentido,
concessão da verba indenizatória. confiram-se os seguintes julgados, específicos

Ademais, é de conhecimento geral que as sobre inocorrência de abalo moral em virtude de

pessoas investem significativos recursos atraso na entrega de imóvel em construção,

financeiros para aquisição de bem imóvel, litteris: CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO

sendo certo que o atraso da obra gera RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO

apreensão no adquirente, ante o receio de C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.

perder o que economizou e investiu, e frustra a ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL.

expectativa de recebimento do imóvel. ABORRECIMENTO E DISSADOR. EXAME DAS

Quanto ao montante, como é sabido, não há um PREMISSAS FÁTICAS DO ACÓRDÃO

critério legal prédeterminado para arbitramento da RECORRIDO. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA

indenização por danos morais, mas há critérios DO STJ. NÃO INCIDÊNCIA. 1. O simples

indicados pela doutrina e jurisprudência, dentre descumprimento contratual, por si, não é capaz de

eles a capacidade econômica das partes, o gerar danos morais, sendo necessária a existência

objetivo compensatório e, até mesmo, o caráter de uma consequência fática capaz de acarretar

punitivo. dor e sofrimento indenizável pela sua gravidade. 2.

Desse modo, entendo que o valor arbitrado em R$ A Corte local, para reformar a sentença e julgar

5.000,00 (cinco mil reais), para cada autor, atende procedente o pedido de indenização por danos

aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, morais, concluiu que o atraso na entrega do

bem assim às circunstâncias do caso em apreço, imóvel, de aproximadamente 9 (nove) meses, por

devendo ser mantido, levando em conta, ainda, si, frustrou a expectativa do casal de ter um lar,

que o atraso foi de um mês.. (...) – grifos causando, consequentemente, transtornos por não

acrescidos. ter domicílio próprio. Com efeito, o Tribunal de

origem apenas superestimou o desconforto, o

aborrecimento e a frustração da autora, sem

apontar, concretamente, situação excepcional

específica, desvinculada dos normais

aborrecimentos do contratante que não recebe o

imóvel no prazo contratual. 3. A Documento:

61855522 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado

Página 16 de 18 Superior Tribunal de Justiça

orientação adotada na decisão agravada não

esbarra no óbice contido no enunciado n. 7 da

Súmula do STJ, tendo em vista que foram

consideradas, apenas, as premissas fáticas

descritas no acórdão recorrido. 4. Agravo

regimental desprovido. (AgRg no REsp

1.408.540/MA, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS


FERREIRA, QUARTA TURMA, DJe 19/02/2015)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM

RECURSO ESPECIAL. IMÓVEL.

COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA.

ENTREGA. ATRASO. DESCUMPRIMENTO

CONTRATUAL. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA.

PRECEDENTES. 1. Esta Corte tem firmado o

posicionamento de que o mero descumprimento

contratual, caso em que a promitente vendedora

deixa de entregar o imóvel no prazo contratual

injustificadamente, embora possa ensejar

reparação por danos materiais, não acarreta, por

si só, danos morais. 2. Na hipótese dos autos, a

construtora recorrida foi condenada ao

pagamento de danos materiais e morais, sendo

estes últimos fundamentados apenas na

demora na entrega do imóvel, os quais não

são, portanto, devidos. 3. Agravo regimental não

provido. (AgRg no AREsp 570.086/PE, Rel.

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,

TERCEIRA TURMA, DJe 27/10/2015)

(...)

No caso dos autos, porém, o atraso foi mínimo,

de apenas três meses, pois o prazo para

conclusão da obra se encerrara em setembro de

2011 (já computados os seis meses tolerância), e

a efetiva conclusão, com a emissão do habite-se

(cf. fl. 442), veio a ocorrer em dezembro do

mesmo ano. Não há falar, portanto, em abalo

moral indenizável.(...) – grifos acrescidos.

Como se vê, a situação fática de ambos os casos se assemelha,

qual seja, atraso na entrega do imóvel ao promitente comprador, sendo que a solução

aventada nos julgados são diametralmente opostas. Enquanto o STJ entende não
haver fato gerador para a indenização por danos morais, o TJRJ segue posicionamento

contrário.

Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano

moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais

aborrecimentos.

Observa-se ainda que o valor de R$10.000,00 (dez mil reais)

está totalmente em desconformidade com os princípios da razoabilidade e

proporcionalidade, sendo ainda descabido o acolhimento deste pleito.

Claramente o valor fixado na decisão recorrida viola a norma do art. 844 do CC,

por criar uma despropositada situação de enriquecimento sem causa aos

beneficiários da indenização.

Não é crível que os Recorridos tenham suportado tamanho

abalo psicológico pelo simples fato de as chaves do imóvel não terem sido

entregues logo após a conclusão das obras do empreendimento e tenha sido

exigido pela vendedora a quitação da contraprestação devida pelos compradores.

Pelos fundamentos acima alinhados, dúvida não há sobre a

violação acima apontado à norma legal e a dissidência do posicionamento deste E

STJ, o que legitima a modificação do acórdão impugnado para fins de rejeição da

pretensão indenizatória dos Recorridos.

VI - CONCLUSÃO: ART. 1.029, INC. III: “AS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

DA DECISÃO RECORRIDA”

Pelas razões acima apresentadas, faz-se necessário reconhecer,

num primeiro momento, que a 27ª. Câmara Cível do TJRJ negou vigência e/ou

contrariou as normas dos art. 371 e 884 do Código Civil.

VII - DOS PEDIDOS


Pelo exposto, pede a Recorrente que seu recurso seja admitido,

conhecido e provido para que a decisão recorrida seja reformada, com o

reconhecimento da inexistência de atraso na entrega da unidade adquirida pelos

promitentes compradores e, consequentemente, do dever de indenizar por parte da

Recorrente, por medida de rigor ao caso concreto.

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Rio de janeiro, 31 de março de 2021.

Rafael Ribeiro Santoro

OAB/RJ 118.994

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