Politicas de Saude

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POLÍTICA DE SAÚDE

Unidade 1
Diretor Executivo

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Gerente Editorial

ALESSANDRA FERREIRA

Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA

Autoria

MARIANA MARTINS GARCIA


Mariana Martins Garcia
AUTORIA

Olá! Fiz a faculdade de Farmácia na Universidade Federal


do Paraná, e mestrado em Ciências Farmacêuticas na mesma
instituição, também fiz pós-graduação em Gestão Estratégica
de Organizações de Saúde pela UNICESUMAR. Já atuei
como farmacêutica em farmácia de dispensação, farmácia
hospitalar, prática clínica e manipulação de nutrição parenteral
e quimioterapia e como palestrante em uma indústria de
dermocosméticos. Trabalhei em empresas como Droga Raia,
Hospital da Policia Militar, CEQNEP e Stiefel.

Atualmente sou professora do Instituto Equilibra e


professora convidada na Universidade Positivo, além disso, atuo
Unidade 1

como conteudista para diversas instituições como a Inspirar,


Telesapiens, São Braz, Uniandrade e UniBrasil.

Amo estudar e adquirir novos conhecimentos! Também sou


apaixonada por ensinar, por isso estou aqui. Conte comigo no
que eu puder ajudar e vamos aprender cada vez mais juntos!

4 POLÍTICA DE SAÚDE
Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

ÍCONES
Para o início do
Houver necessidade
desenvolvimento
de apresentar um
de uma nova
novo conceito.
OBJETIVO competência. DEFINIÇÃO

Quando necessárias
As observações
observações ou
escritas tiveram que
complementações
ser priorizadas para
para o seu
NOTA IMPORTANTE você.
conhecimento.

Curiosidades e
Algo precisa ser indagações lúdicas

Unidade 1
melhor explicado ou sobre o tema em
EXPLICANDO detalhado. estudo, se forem
MELHOR VOCÊ SABIA?
necessárias.

Textos, referências Se for preciso acessar


bibliográficas um ou mais sites
e links para para fazer download,
aprofundamento do assistir vídeos, ler
SAIBA MAIS ACESSE
seu conhecimento. textos, ouvir podcast.

Se houver a
necessidade de Quando for preciso
chamar a atenção fazer um resumo
sobre algo a acumulativo das
REFLITA ser refletido ou RESUMINDO últimas abordagens.
discutido.

Quando alguma Quando uma


atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
ATIVIDADES for aplicada. TESTANDO forem explicadas.

POLÍTICA DE SAÚDE 5
Compreender sobre os conceitos de saúde durante a história.... 11
SUMÁRIO

Conceitos de Saúde durante a História.......................................................... 11

Saúde nas civilizações antigas........................................................... 12

Saúde e a Idade Média...................................................................................... 14

O Renascimento e a evolução do conhecimento........................... 16

Iluminismo............................................................................................. 17

A Teoria Bacteriológica....................................................................... 18

Modelo Multicausal.............................................................................. 20

Conceito atual de saúde..................................................................... 23


Unidade 1

Conhecer história da Previdência Social e da saúde coletiva...26

Saúde Coletiva..................................................................................................... 26

História da proteção social............................................................................... 29

Proteção social no Brasil................................................................................... 33

Compreender história das políticas públicas de saúde no


Brasil.......................................................................................... 40

Condição de vida no Brasil durante o período de colônia.......................... 40

Da Proclamação da República até 1930......................................................... 42

Era Vargas............................................................................................................ 46

Da ditadura militar à VIII Conferência Nacional de Saúde.......................... 49

Conhecer a história dos sistemas de saúde de outros países....54

Sistema de Saúde............................................................................................... 54

6 POLÍTICA DE SAÚDE
Modelo universalista........................................................................... 56

Modelo Seguro Social.......................................................................... 56

Sistema de Saúde na Inglaterra....................................................................... 57

Sistema de Saúde na Alemanha...................................................................... 58

Sistema de Saúde em Cuba.............................................................................. 59

Sistema de Saúde nos Estados Unidos da América..................................... 61

Sistema de Saúde no Canadá........................................................................... 64

Unidade 1

POLÍTICA DE SAÚDE 7
Unidade 1

8 POLÍTICA DE SAÚDE
Olá aluno! Nesta produção vamos compreender os
conceitos de saúde e sua evolução com o momento histórico da

APRESENTAÇÃO
humanidade e das civilizações. Vamos ver que a saúde vai muito
além de acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças,
necessita de uma visão holística analisando os determinantes
sociais de saúde. Além disso, você vai entender que a evolução
do conceito de saúde coletiva e de proteção social, caminharam
de forma integrada, pois o foco em todos os casos é o cuidado do
indivíduo como pessoa e pertencente ao coletivo.

Vamos ver também os principais acontecimentos históricos


relacionados à proteção social fundamentais para a elaboração
das Políticas de Saúde até a entrada da saúde na Constituição
como “direito de todos e dever do estado”.

Unidade 1
Por fim, entendendo que Sistema de Saúde é definido pela
OMS como “o conjunto de atividades cujo propósito primeiro é
promover, restaurar e manter a saúde de uma população” vamos
compreender como surgiram e como funcionam os Sistemas de
Saúde em outros países.

Ao longo deste material letivo você vai mergulhar neste


universo!

POLÍTICA DE SAÚDE 9
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é
auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de
OBJETIVOS

aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Compreender sobre os conceitos de saúde durante a


história.

2. Conhecer história da previdência social e da saúde


coletiva.

3. Compreender a história das políticas públicas de saúde


no Brasil.

4. Conhecer a história dos sistemas de saúde de outros


países.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


Unidade 1

conhecimento? Ao trabalho!

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Compreender sobre os
conceitos de saúde durante a
história
Neste material, você irá compreender os conceitos
de saúde de acordo com o momento histórico
da humanidade e das civilizações, bem como a
OBJETIVO importância dos movimentos sanitaristas para
essa evolução de conceito. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá.
Avante!

Conceitos de Saúde durante a


História

Unidade 1
Nas primeiras civilizações a saúde era vista como natural,
não havendo necessidade de explicação, enquanto a doença
era entendida de duas formas: provocada por uma situação
claramente identificada como uma queda ataque de animal entre
outras ou possuía uma causa sobrenatural, não identificada.

Essa visão sobrenatural era devida às limitações em relação


a conhecimentos e recursos tecnológicos e eram tratadas pelos
sacerdotes, muitas vezes pela fé através da “remissão dos
pecados” e pelo isolamento da sociedade.

Mesmo com essa crença no sobrenatural, as civilizações


primitivas possuíam hábitos de proteção contra o adoecimento
como enterrar os dejetos, utilizar água limpa, se abrigar do frio
e do calor intenso, isso através da observação da natureza e da
influência dela sobre as pessoas (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO,
2018).

POLÍTICA DE SAÚDE 11
Por serem ligadas à religião, as doenças eram tratadas pelos
sacerdotes que ajudavam os doentes a encontrar a cura, muitas
vezes pela fé através da “remissão dos pecados” e pelo isolamento
da sociedade. Mesmo com essa crença no sobrenatural, as
civilizações primitivas possuíam hábitos de proteção contra o
adoecimento como enterrar os dejetos, utilizar água limpa, se
abrigar do frio e do calor intenso, isso através da observação da
natureza e da influência dela sobre as pessoas. Vale ressaltar
que essa visão mágica foi suficiente para explicar as doenças por
muitos séculos, como base para as causas do adoecimento do
indivíduo em diversas civilizações, mas com variações de acordo
com a cultura e os costumes (SOLHA, 2014).

Saúde nas civilizações antigas


Unidade 1

Por exemplo, na Grécia, a saúde e a doença eram explicadas


a partir da conclusão após observação atenta do homem, de seus
costumes e sua relação com a natureza.

Podemos destacar os estudos de Hipócrates (Figura 1),


maior representante dessa prática, ele era médico e filósofo
que viveu entre os séculos IV e V a.C. quem escreveu o livro
“Ares, Águas e Lugares” no qual ele relacionava o modo de vida
da população e sua relação com a natureza como resultado de
uma vida saudável ou do adoecimento, além disso, orientava,
de modo prático, como os indivíduos deveriam viver para evitar
o adoecimento: com moderação! Ele defendia que a saúde era
resultado do equilíbrio entre o homem e o meio em que vivia.

12 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 1 - Hipócrates

Unidade 1
Fonte: Wikimedia

Atualmente, vemos que a saúde vai além da


ausência de doença, e compreendemos que há
influência de outros fatores como ambientais e
REFLITA sociais. Percebe como os conceitos de Hipócrates
se enquadram nos conceitos atuais de saúde?

A partir de suas observações sobre o papel da natureza,


Hipócrates influenciou, não apenas a civilização grega, após
serem assimilados pelo Império Romano, dominaram grande
parte Europa entre os séculos I e V a.C. garantindo a salubridade
como podemos observar nas construções que perduram até
hoje (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018).

Em outra parte do mundo, mais precisamente no Oriente,


os conceitos de saúde, de doença e de seus cuidados seguiu em

POLÍTICA DE SAÚDE 13
paralelo à Europa, mas não muito diferente. Na Pérsia (atual Irã),
por exemplo, existiam hospitais que separavam os pacientes
de acordo com os sintomas e o cuidado com a alimentação e
a higiene eram considerados de extrema importância, sendo
realizados por pessoas treinadas para a função. Da mesma
forma que na Grécia, as medidas preventivas como uso de água
potável, escoamento de esgoto (separação dos dejetos) eram
comuns nas grandes cidades.

Saúde e a Idade Média


O conhecimento científico que começou a surgir teve seu
momento de “reclusão” durante a Idade Média, quando a Igreja
se tonou soberana e dominou esse conhecimento de forma que
Unidade 1

toda e qualquer teoria que explicasse sobre qualquer tema da


vida sem referenciar Deus era considerada blasfêmia (MOREIRA,
ARCARI, & COUTINHO, 2018).

Nessa época a organização da população era em feudos,


onde havia um dono da terra, o senhor feudal, e a população
que nela habitava, trabalhava e devia sua vida a esse senhor. O
crescimento dessa população e das cidades foi desordenado com
aglomerações, sem mecanismos mínimos para garantir a higiene
o que possibilitou a proliferação de doenças transmissíveis e das
doenças epidêmicas como a peste bubônica, a varíola e o tifo.

14 POLÍTICA DE SAÚDE
Lembre-se que, nessa época, a doença ainda
era considerada castigo divino resultante da
desobediência às regras da Igreja ou da impureza
IMPORTANTE da alma, e a cura só era possível se fosse da vontade
de Deus. Um exemplo típico são as doenças
mentais que eram consideradas como possessão
demoníaca e essas pessoas eram queimadas em
praça pública para a “purificação” de suas almas
(SOLHA, 2014; MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO,
2018).

No final da Idade Média, algumas medidas sanitárias


começaram a ser tomadas com o objetivo de melhorar a saúde
da população. Nessa época começou a ser estudada a “Teoria
dos Miasmas”, a qual relacionava a transmissão de doenças aos

Unidade 1
“maus ares”, ou seja, as doenças eram transmitidas por gases
e pelo ar, levando os pesquisadores a buscar alternativas para
eliminar a disseminação das doenças (SOLHA, 2014; MOREIRA,
ARCARI, & COUTINHO, 2018).

A peste bubônica é uma doença transmitida pela


pulga do rato e causou a morte de milhares de
pessoas na Idade Média, mas pela Teoria dos
SAIBA MAIS Miasmas, a medicina utilizava os recursos que
considerava corretos. Na visita aos doentes os
médicos utilizavam vestimentas especiais que
cobriam todo o corpo e uma máscara com um
longo “bico” com ervas aromáticas para purificar
o ar considerado contaminado e um bastam para
verificar se o paciente estava vivo.

POLÍTICA DE SAÚDE 15
Figura 2 - Vestimenta dos médicos na Idade Média

Fonte: Freepik
Unidade 1

O Renascimento e a evolução do
conhecimento
Esses paradigmas da Igreja foram rompidos a partir do
século XV com a separação da religião e do poder político, levando
a grandes e importantes mudanças para a sociedade ocidental
incluindo a evolução dos conhecimentos científicos.

Essa parte da história é estudada como “O Renascimento”,


a partir da descoberta de novas civilizações e povos indígenas, a
arte e a ciência evoluíram e os estudos sobre a biologia humana
começaram a se desenvolver rapidamente.

Um grande avanço para a saúde e para a biologia foi a


possibilidade de estudiosos realizarem a dissecação de corpos
humanos sem ser considerado pecado, além do resgate de
vários estudos gregos e islâmicos possibilitando aos estudiosos
da época o conhecimento sobre os órgãos do corpo humano.

16 POLÍTICA DE SAÚDE
Nessa época se comparava o funcionamento do
corpo humano a algumas máquinas o que fez
surgir a ideia de que a doença é um “defeito” da
IMPORTANTE máquina humana, inicialmente sem relação com o
meio externo.

A Teoria dos Miasmas ainda permanecia e foi aprofundada


levando a implementação de códigos sanitários, mas ainda havia
controvérsias sobre a origem da doença, pois alguns estudiosos
acreditavam que a doença era transmitida apenas por contato
e outros que acreditavam que o ambiente social era um dos
principais causadores.

Essa divergência de opinião foi importante para os avanços


do conhecimento, pois levou os estudiosos a buscarem de forma

Unidade 1
ampla a realidade sobre a saúde e a doença. Perceba que a
Teoria dos Miasmas permanecia forte da mesma forma que os
conceitos de saúde de Hipócrates tomavam forma nesse novo
conceito de civilização.

Iluminismo
Na segunda metade do século XVIII, mais precisamente a
partir da Revolução Industrial na Inglaterra, nasceu uma nova
forma de produção de bens de consumo, baseada na produção
em larga escala, uso de tecnologia e emprego de uma grande
quantidade de trabalhadores, deslocando a força de trabalho do
meio rural para as cidades de modo desorganizado. Essa época
é caracterizada por grandes lucros para os empregadores e
péssimas condições de vida para o empregado.

POLÍTICA DE SAÚDE 17
Nesse contexto começou a se relacionar o
adoecimento com as condições de vida do
indivíduo, indo além da medicina, cujo foco era
IMPORTANTE a cura, tendo como intervenções a moradia e
melhor alimentação dos trabalhadores. Nesse
cenário que se desenvolve a Medicina Social, a
qual relacionava o processo de adoecimento com
as condições de vida dos indivíduos e passou a
propor formas de atuação para o controle das
doenças e da mortalidade extrapolando a prática
médica e inserindo intervenções sobre a moradia,
alimentação e medidas sanitárias.

A partir do contraponto superprodução e melhores


condições de trabalho é quando se inicia os protestos e
Unidade 1

movimentos relacionados ao trabalho digno, melhores moradias


e melhores condições de cuidado da saúde. Mas esse tema
vamos abordar melhor mais adiante!

A Teoria Bacteriológica
Apesar de já se conhecer sobre os “germes” antes do
século XIX pouco se podia provar, por isso, muitos pesquisados
estudaram buscando relacioná-los a algumas doenças.

Dentre esses pesquisadores e seus podemos destacar:

• Robert Koch: comprovou a transmissão do antraz.

• Louis Pasteur: junto com sua equipe, descobriram


mecanismos de infecção e formas de prevenção.

• Edward Jenner: desenvolveu a vacina contra a varíola.

• Joseph Lister: propôs uso de fenol como antisséptico


antes das cirurgias.

18 POLÍTICA DE SAÚDE
• Ignaz Semmelweis: associou a febre puerperal ao fato
de os estudantes de medicina saírem das salas de
anatomia para a sala de parto sem lavarem as mãos ou
trocarem de roupa, e recomendou esse procedimento
como estratégia para evitar a infecção.

• Florence Nightingale: recomendou que o ambiente


hospitalar fosse limpo, ventilado e salubre para
proporcionar a recuperação dos pacientes.
Figura 3 – Florence Nightingale

Unidade 1

Fonte: Wikimedia

Florence Nightingale ficou conhecida como “A Dama da


Lamparina” porque andava pelos corredores do hospital com
uma lamparina para cuidar dos seus pacientes. Era apaixonada

POLÍTICA DE SAÚDE 19
por gráficos e trouxe os estudos estatísticos para a saúde,
utilizando o que chamamos hoje de gráficos de pizza. Florence é
um exemplo da força, da inteligência e da coragem de todas as
mulheres!

Essas teorias foram inicialmente contestadas por outros


profissionais e pela própria medicina o que levou esses
estudiosos a buscar comprovações de suas teorias para que
pudessem ser aceitas e, principalmente, que fossem todas as
devidas precauções.

Nesse momento nasceu outra explicação sobre o processo


saúde-doença: a Teoria Bacteriológica colocando a infecção
como única causa das doenças. Essa visão ajudou a identificar
vários agentes patogênicos e a forma de controle e prevenção,
Unidade 1

porém, restringiu o olhar sobre o adoecimento desconsiderando


os demais fatores como os psicossociais e os ambientais.

Modelo Multicausal
Outras teorias começam a surgir quando se percebeu
que a Teoria Bacteriológica não era suficiente para explicar a
complexidade do adoecimento, por isso, em meados do século
XX, outras teorias começaram a surgir, muitas baseadas na
multicausalidade do processo de adoecimentos.

A mais conhecida e utilizada até hoje é a “História Natural


da Doença” proposta por Leavell e Clark, em 1965, pesquisadores
americanos, a qual divide o processo do adoecimento em duas
fases a pré-patogênica (antes do adoecimento) e patogênese
(momento que a doença se instala) (MOREIRA, ARCARI, &
COUTINHO, 2018).

Esse modelo passou a considerar a interação entre agentes,


fatores ambientais e do indivíduo como partes do processo de

20 POLÍTICA DE SAÚDE
adoecimento. Com esse novo conceito os estudos passaram
buscar compreender de que forma os outros fatores podem
influenciar no adoecimento, chegando até os determinantes e
condicionantes sociais de saúde.

Segundo a OMS, os determinantes de saúde são fatores


sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e
comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas
de saúde e seus fatores de risco na população. Você consegue
observar como os determinantes sociais podem influenciar na
saúde do indivíduo?

Esses não podem ser avaliados somente pelas doenças


geradas porque influenciam todas as dimensões do processo de
saúde. Dentre esses fatores estão determinantes da condição de

Unidade 1
saúde estão:

• Condicionantes biológicos: idade, sexo, características


pessoais, herança genética.

• Meio físico: condições geográficas, características


da ocupação humano, fonte de água para consumo,
qualidade dos alimentos e sua disponibilidade,
condições de habitação.

• Meio socioeconômico e cultura: níveis de ocupação e


renda, acesso à educação, ao lazer, graus de liberdade,
relacionamentos interpessoais, acesso aos serviços
voltados para a promoção e recuperação da saúde,
bem como a qualidade dos mesmos.

POLÍTICA DE SAÚDE 21
Figura 4 – Qualidade de vida em família – uma das formas de cuidar dos determinantes
sociais

Fonte: Pixabay

Outro termo que Solha (2014) traz é a expressão


Unidade 1

“Condicionantes de Saúde” que condiciona uma situação a um


determinado fator, por exemplo, apenas homens podem ter
câncer de próstata, por isso sexo é um fator condicionante
para essa doença entre humanos. Mas isso não quer dizer que
todo homem terá câncer de próstata, lembre-se a doença é
multicausal, ou seja, há outros fatores que a influenciam.

Segundo Moreira et al (2018), os valores e os determinantes


e condicionantes da saúde expressam as tendências e
conformações dos hábitos sociais de acordo com diversos
aspectos da sociedade.

Compreendendo que a saúde é multicausal e vem do bem-


estar biopsicossocial, uma forma de avaliar as condições de
saúde do indivíduo é através da avaliação da sua qualidade de
vida que envolve o bem espiritual, físico, psicológico, emocional,
relacionamentos sociais, saúde, educação, poder de compra,
habitação, saneamento básico entre outras circunstancias
da vida. Avaliar os diversos domínios da vida das pessoas

22 POLÍTICA DE SAÚDE
auxilia os pesquisadores a melhorar a vida da população e,
consequentemente, sua condição de saúde.

Conceito atual de saúde


Não tem como falar sobre saúde sem citar a definição
da Organização Mundial de Saúde (OMS), pois essa é a mais
abrangente, definindo que saúde “é o completo bem-estar físico,
social e mental, e não apenas a ausência de doenças”. Perceba
que nesse conceito se insere três dimensões:
• Bem-estar físico: não há apenas a saúde de um órgão,
mas sim do todo, do sistema completo.
• Bem-estar social: é o ajuste às exigências do meio,
fundamentalmente das condições socioeconômicas,
do local onde se vive, da distribuição de riquezas e das

Unidade 1
oportunidades oferecidas ao indivíduo.
• Bem-estar mental: o ser humano precisa estar
bem ajustado às condições de vida dentro do seu
ambiente, com entendimento, equilíbrio, tolerância
e compreensão dos indivíduos, ou seja, a saúde
mental são as respostas psíquicas ajustadas com boa
adaptação.

Após o surgimento de todas essas teorias para explicar o


processo saúde-doença, os pesquisadores perceberam que não
é possível observar apenas um ponto de vista por ser um tema
muito complexo.

Essa nova visão do processo saúde-doença, com o olhar


holístico, sobre o todo, necessita de mudanças nos serviços de
atenção à saúde o que, em muitos países, encontra dificuldades
devido aos conceitos instalados nos profissionais, gestores,
políticos e da própria população na qual o médico ainda é visto
como principal detentor dos conhecimentos para a cura. Esse
novo modelo é chamado de “Conceito Ampliado de Saúde”.

POLÍTICA DE SAÚDE 23
Lembra quando falamos no começo sobre os
cuidados de saúde na antiguidade? Os sacerdotes
eram detentores do conhecimento de cura, com
REFLITA sua base Divina e de fé, eram os únicos capazes de
cuidar dos pacientes, certo? Agora eu te faço uma
pergunta para você pensar: qual a real diferença
entre esse modelo que coloca o sacerdote como
responsável pela cura e o modelo biomédico que
centra essa responsabilidade no médico?

No Brasil, o movimento de saúde a partir da década de 80,


teve a participação da sociedade nas discussões sobre diversas
áreas, entre elas a saúde, e na VIII Conferência Nacional de Saúde
a saúde foi definida da seguinte forma:
Em sentido amplo, a saúde é a resultante das condições
Unidade 1

de alimentação, habitação, educação, renda, meio


ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços
de saúde. Sendo assim é principalmente resultado das
formas de organização social, de produção, as quais
podem gerar grandes desigualdades nos níveis de
vida (BRASIL, 1986, p. 4).

Perceba que essa definição corrobora o “conceito ampliado


de saúde” o qual compreende que para se alcançar a saúde deve-
se existir integração entre os diferentes setores da sociedade de
forma que se articulem políticas amplas não restritas apenas
aos serviços de saúde, como unidades básicas, hospitais entre
outros.

24 POLÍTICA DE SAÚDE
E então? Conseguiu compreender sobre os
conceitos de saúde e sua evolução? Neste tópico
conhecemos a evolução do conceito de saúde,
RESUMINDO além de compreendermos que esses conceitos
estão vinculados ao momento da humanidade de
das civilizações. Pudemos observar, também, que
a saúde vai muito além de acesso à prevenção,
diagnóstico e tratamento de doenças, necessita de
uma visão holística analisando os determinantes
sociais de saúde o que permite realizar intervenções
no sentido de ampliar políticas públicas que
possam reduzir as iniquidades e avançar para
políticas de saúde com mais equidade.

Unidade 1

POLÍTICA DE SAÚDE 25
Conhecer história da
Previdência Social e da saúde
coletiva
Historicamente a evolução do conceito de saúde
coletiva e de proteção social caminharam de
forma integrada, pois o foco em todos os casos é o
OBJETIVO cuidado do indivíduo como pessoa e pertencente
ao coletivo. Por isso, neste tópico vamos conhecer
sobre a história da saúde coletiva e evolução da
previdência social que tem início com a proteção
social. Pronto para começar? Bons estudos!

Saúde Coletiva
Unidade 1

A saúde coletiva é a integração entre as ciências sociais e


as políticas públicas de saúde identificando as variáveis sociais,
econômicas e ambientais que possam influenciar nos cenários de
epidemia de determinada região, através de estudos, análises e
projeções dos dados epidemiológicos e socioeconômicos, sendo
possível observar as necessidades da população e elaborar
políticas para prevenção.

O estudo da saúde coletiva como ciência busca ampliar os


conhecimentos sobre a saúde, a partir de investigações históricas,
sociológicas, antropológicas e epistemológicas.

É muito comum encontrar em algumas literaturas


o conceito de saúde coletiva e de saúde pública
como sinônimos, mas esses conceitos são
SAIBA MAIS diferentes. O primeiro é resultado do movimento
sanitarista, enquanto o segundo está relacionado
com o direito individual e coletivo à manutenção
da saúde.

26 POLÍTICA DE SAÚDE
O surgimento da saúde coletiva teve início a partir do
momento em que a população passa a ser cuidada pelo poder
público o qual contabiliza a população, coleta dados sobre
suas condições de vida e acompanha as taxas de natalidade e
mortalidade, bem como, utiliza as políticas públicas desenvolvidas
pelo Estado para assegurar direito e cidadania a partir de planos,
programas, ações e atividades (BARROS, 1996).

No Brasil a saúde coletiva começou na luta contra a ditadura


estruturando-se com apoio de universidades, movimentos
sindicais, entre outros, tendo como seu primeiro grande
resultado a criação do Sistema Único de Saúde, cujo objetivo
está no auxílio da identificação de variáveis sociais, econômicas
e ambientais que possam influenciar nas epidemias regionais

Unidade 1
(MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018).

Esse movimento sanitarista teve início na década de 70


cuja ideologia buscava a reforma sanitária brasileira de forma
que a saúde deixasse de ser apenas uma questão médica, mas
passasse a ser também uma questão social e política.

A Saúde Coletiva está envolvida com lutas políticas,


ideológicas, teóricas e paradigmáticas que
repercutiram na saúde como um todo, não apenas
IMPORTANTE em seu conceito, mas nas práticas relacionadas
a ela de forma individual e coletiva de acordo
com suas necessidades, direitos humanos e a
democratização da vida social.

Observe que o conceito de Saúde Coletiva vai além da


dimensão do corpo individual, passa-se a observar o indivíduo
como cidadão com direitos e com capacidade de reflexão crítica
sobre como leva a sua vida.

POLÍTICA DE SAÚDE 27
Figura 5 – Saúde Coletiva, cuidado do todo!
Unidade 1

Fonte: Pixabay

O objetivo é evitar a doença e prolongar a vida, melhorar


a qualidade de vida, o exercício da liberdade humana e a busca
da felicidade usando as informações de epidemiologia social,
ciências sociais e desigualdade em saúde, conceitualmente
relacionados as tarefas da saúde pública.

Na saúde pública envolve ações e serviços de caráter


sanitário que tem como objetivo combater e prevenir doenças
ou riscos à saúde da população utilizando os conhecimentos de
saúde e ciências sociais para organizar os serviços de saúde e o
sistema atuando nos fatores do processo saúde/doença com o
intuito de controlar a incidência de doenças através da vigilância
sanitária.

Consegue perceber como a Saúde Coletiva e a Saúde Pública


se desenvolveram e atuam em conjunto para buscar o bem estar
físico, social e psicológico do indivíduo?

28 POLÍTICA DE SAÚDE
Os desafios da saúde pública dentro da saúde coletiva são
imensos como resolver questões mais complexas relacionadas
a saúde como a fome, o meio ambiente, a violência como um
modo social de viver (contra mulher, criança, homossexual, entre
outros), desemprego, instabilidade, competição individual pelo
direito de trabalho como gerador de sofrimentos e de doenças
individuais e coletivas.

História da proteção social


A busca pelo cuidado da saúde acontece desde o momento
que o homem observa a necessidade de proteger sua saúde e
tratar as suas doenças. Dessa forma, o cuidado consigo e com os
demais faz com que o ser humano busque mais conhecimento

Unidade 1
sobre as doenças e as formas de prevenção e tratamento.

A busca do ser humano pela proteção social é muito antiga,


originada na Grécia e a Roma antigas. Nessas civilizações a
proteção social tinha a característica de pater familiae, ou seja,
o patriarca como principal responsável pela proteção dos seus
familiares.

Hoje pensamos em família como a pequena


instituição de pais e filhos, mas naquela época, a
constituição familiar era bem mais ampla, muitas
VOCÊ SABIA? vezes, dentro da mesma casa moravam avós,
irmão, pais, filhos, sobrinhos e os cônjuges de cada
um desses indivíduos, sendo todos comandados
pelo homem mais velho com vigor físico. Os
indivíduos que não tinha essa proteção familiar e
não tinham condições de se sustentar dependiam
de ajuda através da caridade praticada pelos mais
ricos.

POLÍTICA DE SAÚDE 29
Figura 6 - Proteção familiar
Unidade 1

Fonte: Pixabay

O marco em relação a assistência social, foi a Lei dos Pobres


(Poor Relief Act), em 1601, na Inglaterra. Essa Lei regulamentava
a instituição de auxílios e socorros públicos aos que deles
necessitavam, incluindo a cobrança de impostos de caridade,
pago pelos que possuíam terras, repassando esses valores, por
meio dos inspetores nomeados pelos juízes, para as paróquias da
região que passaria, que repassavam para os mais necessitados
(MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018).

Essa tendência de cuidado do menos favorecido, chegou a


França com a Convenção Nacional francesa de 1793 na qual foi
elaborada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Em seu artigo 21 estava escrito sobre o auxílio público como


uma dívida sagrada sendo obrigação da sociedade o amparo aos
cidadãos infelizes sendo obrigação ajudá-los disponibilizando
trabalho aos que poderiam trabalhar e assistência aos
incapacitados.

30 POLÍTICA DE SAÚDE
Percebam que, com o passar do tempo, a proteção
social e assistencial deixa de ser apenas uma
questão de princípio do ser humano e passa a ser
IMPORTANTE institucionalizada.

O fortalecimento das indústrias em busca de lucros e o


abuso desses sob a mão de obra, explorando a necessidade da
população que precisava e se submetia a péssimas condições de
trabalho, levou os empregados a lutarem por melhores condições
de vida e, consequentemente de saúde (SOLHA, 2014).

Alguns empresários buscavam garantir cobertura dos


principais riscos e necessidades de seus empregados, em alguns
casos com moradia e educação mínima para os filhos dos

Unidade 1
trabalhadores, mas esses cuidados eram voltados a manter esses
indivíduos em condições mínimas para conseguir subordiná-los
ao sistema de trabalho existente.
Figura 7 – Cidade durante Revolução Industrial

Fonte: Wikimédia

POLÍTICA DE SAÚDE 31
Por isso o Estado passou a ter a responsabilidade pela
gestão e organização da proteção social, a partir da iniciativa
de trabalhadores independentes que não aceitavam essa
supremacia das indústrias sobre sua existência.

Com a cobertura dos riscos relacionados ao trabalho nas


indústrias, esse trabalho passou a ser mais atraente e população
sem renda começou a se tornar assalariada, o que levou parte
da população rural buscar oportunidade de “crescimento” nas
grandes cidades, tendo como consequência um crescimento
desordenado e precário em relação a condições de limpeza e
moradia.

Em cada país essas mudanças aconteceram em momentos e


características diferentes, de acordo com os regimes de governo
Unidade 1

existentes. Mas em todos o Estado acaba tomando parte desse


cuidado social em amparo a sua população, mesmo que por um
período de adaptação.

A proteção social cujo empregados e empregado-


res contribuem e apenas eles recebem os bene-
fícios é chamado por alguns autores de sistema
VOCÊ SABIA? Bismarckiano de previdência, já o sistema denomi-
nado Beveridgiano tem como característica a uni-
versalidade destinado a todos os cidadãos.

No final da II Guerra Mundial, a cobertura estatal passou


a ser mais abrangente, vai além da assistência à saúde os
empregados conquistaram renda durante a velhice, nos casos
de doença e necessidade de afastamento, benefícios para as
gestantes, entre outras.

A inclusão da garantia de renda em caso de desemprego,


e, em alguns países, a inclusão do cuidado com as crianças,
habitação e até reciclagem da mão de obra desempregada. Em

32 POLÍTICA DE SAÚDE
geral o custeio dessa proteção era tripartite, ou seja, dividida
entre as três partes envolvidas: empregado, empregador e
governo.
Figura 8 – II Guerra Mundial

Unidade 1
Fonte: Pixabay

Proteção social no Brasil


Entendemos como foi a evolução da proteção social no
mundo, no Brasil não foi muito diferente. Vamos voltar um pouco
na história para compreender a proteção social no Brasil

No período colonial vai de 1500 até 1821, com a exploração


do pau-brasil e, posteriormente, o início do ciclo da cana-de-açúcar
não havia saúde pública, pois os escravos eram considerados
mão de obra barata, de fácil substituição, na verdade nem eram
considerados “gente”.

POLÍTICA DE SAÚDE 33
Com essa visão de seres inferiores, os senhores e donos de
escravos não gastavam tempo nem dinheiro com o tratamento
de doenças, uma vez que era mais rentável deixá-los morrer e
comprar outro para substituí-lo do que investir em tratamento
para esses indivíduos.

Além disso, o Brasil era colônia de Portugal e não recebia


investimentos para garantir a saúde dos que aqui moravam, pois,
para a família real, moravam no Brasil apenas índios, escravos
negros, aventureiros e deportados.

Vale lembrar que, naquela época, a cura das doenças


e enfermidades era realizada com base nos conhecimentos
empíricos e nos curandeiros, sendo realizada por pajés, jesuítas
e pelos boticários que percorriam o Brasil, para os indivíduos
Unidade 1

capazes de pagar, alguns médicos vindos de Portugal era suficiente


para suprir essa demanda. Após alguns anos do descobrimento,
surgiram as primeiras Santas Casas de Misericórdia, criadas para
suprir essa necessidade assistencial do país (FREIRE & ARAÚJO,
2015).

Com a chegada da família real e o agravamento de doenças


na população, as famílias mais ricas recebiam assistência de
agentes europeus, e os pobres continuavam sendo isolados e
recebendo apenas cuidados paliativos (MOREIRA, ARCARI, &
COUTINHO, 2018).A proteção social iniciou com as Santas Casas
de Misericórdia fundada pelo padre jesuíta José de Anchieta
e administrada pela igreja Católica. Em 1795, foi criado o
plano Oficial da Marinha para os órfãos e viúvas, podendo ser
considerado a introdução do conceito de pensão por morte.

Nos anos de 1800, foi o início do pensamento sobre


aposentadoria com o Montepio (1808) e a Mongeral (1835),
ambos organizados por servidores públicos e em 1821, Dom
Pedro de Alcântara, publicou um decreto que concedeu aos

34 POLÍTICA DE SAÚDE
mestres e professores a possibilidade de se aposentar, desde
que completassem 30 (trinta) anos de serviço.

Era o início de uma previdência privada, assim, os


indivíduos podiam se associar e contribuir para
um fundo comum, o qual realizava pagamento
IMPORTANTE de benefícios em casos de morte e invalidez, mas
eram exclusivos aos funcionários públicos.

As primeiras medidas sanitárias surgiram no Brasil em


1902, após a proclamação da República (1889) para resolver os
problemas das doenças que se espalhavam rapidamente como
malária, febre-amarela, varíola, peste bubônica, com a nomeação
do médico Oswaldo Cruz para realizar essas medidas.

Dentre as ações, Oswaldo Cruz convocou pessoas para

Unidade 1
realizar as ações que previam invadir as residências e queimar
roupas e colchões sem qualquer explicação, bem como a
vacinação da população. Essas medidas levaram à população
para as ruas o que ficou conhecida como a Revolta da Vacina.
Figura 9 – Revolta da Vacina

Fonte: Wikimedia

POLÍTICA DE SAÚDE 35
Mesmo com toda a controvérsia sobre a forma como foi
feito, em poucos anos ele foi conhecido como figura importante
para a saúde brasileira. Osvaldo Cruz foi responsável pela criação
do Departamento Nacional de Saúde, embrião do Ministério da
Saúde e do Instituto Manguinhos, cujas pesquisas eram voltadas
para a saúde pública, mas esse é um tema para o próximo tópico
(SOLHAb, 2014).

Esse movimento foi importante para dar início a luta da


população pelos seus direitos em relação ao cuidado da saúde e
seus direitos trabalhistas

Por isso podemos dizer que o marco da proteção social


e da previdência no Brasil, aconteceu com Lei Eloy Chaves
em 1923. Nesse Decreto Legislativo foram criadas as Caixas
Unidade 1

de Aposentadorias e Pensões (CAP) para os empregados das


empresas ferroviárias.

A partir dessa, surgem outras leis previdenciárias para


outros setores existindo um CAP para cada empresa a qual
administrava e organizava a participação de seus empregados.

No governo de Getúlio Vargas houve o desenvolvimento


industrial com uma série de medidas de incentivo o qual trouxe
efeitos positivos como a geração de empregos com melhores
condições de trabalhos, com melhorias na organização dos
trabalhadores, criação de sindicatos, além de avanços em
estruturas públicas como transporte, infraestrutura e iluminação.

É no Governo Vargas, em 1930 que aconteceu a unificação


de várias CAPs criando diversos Institutos de Aposentadorias
e Pensões (IAP) de acordo com o tipo de trabalho (marítimos,
comerciários, bancários, entre outros) com a participação do
governo na contribuição e administração pública desses fundos
(MARQUES, PIOLA, & ROA, 2016).

36 POLÍTICA DE SAÚDE
Nessa situação os IAPs já estavam vinculados a autarquias
públicas de âmbito nacional e com a Constituição Federal de
1934, o custeio passou a ser tripartite, inserindo a participação
do Estado além do empregado e do empregador.

Mas foi apenas na Constituição de 1946 que se destacou a


cobertura em casos de invalidez, morte, velhice, maternidade e
doença, e foi inserida a expressão Previdência Social na história
e legislação do país.

Em 1966, aconteceu a unificação dos IAPs com o Decreto-


Lei n. 72, de 21 de novembro, fato que deu origem ao Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS).

Perceba que até aqui a movimentação social estava focada

Unidade 1
na proteção social relacionada a emprego e suas garantias, pois
foi o que iniciou o movimento de proteção social, não apenas no
Brasil, mas no mundo.

Mas nessa mesma época as dificuldades em relação a


assistência médica começaram a ficar evidentes principalmente
após a V Conferência Nacional de Saúde, o que levou a elaboração
da Lei nº 6.229/75 que criou o Sistema Nacional de Saúde (CNS)
definindo as responsabilidades das várias instituições, deixado
para a Previdência Social a assistência individual e curativa,
enquanto os cuidados preventivos e de ação coletiva eram
responsabilidade do Ministério da Saúde e das Secretarias
Estaduais e Municipais de Saúde.

Dessa forma o INPS foi desmembrado ocorrendo a


separação da previdência social, que ficou sob responsabilidade
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Instituto Nacional
de Assistência Medica da Previdência Social (INAMPS), criado
para se responsabilizar pela assistência médica ambulatorial e
hospitalar.

POLÍTICA DE SAÚDE 37
O fim da ditadura militar é um importante marco para a
história do Brasil, tanto na questão política da liberdade de
expressão quando nos avanços de conceitos e conhecimentos
em diversas áreas como saúde e educação.

Com a eleição de Tancredo Neves em 1984, quando ocorrem


grandes alterações e restruturação com a reforma sanitária e a
criação do Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS).

Os serviços médicos privados, que se beneficiaram durante o


militarismo, receberam recursos do governo e foram financiados
com grandes valores. Isso porque em meados da década de 70, o
setor público entrou em crise e o setor privado começou perceber
que prestar serviços apenas para o governo era desvantajoso,
passando por uma reformulação e reestruturação.
Unidade 1

O modelo de atenção à saúde ainda direcionado para uma


parcela da população (classe média e assalariados) procurando
organizar uma nova base estrutural por meio da poupança
desses setores sociais.

Assim é organizado um subsistema de Atenção Médica


Suplementar composta por cinco modalidades assistenciais:
medicina de grupo, cooperativas médicas, autogestão, seguro-
saúde e plano de administração baseadas em contribuições
mensais dos beneficiários tendo como contrapartida a prestação
de determinados serviços.

Esse é o início de planos de saúde rudimentar, mas com


diversos problemas como serviços e benefícios predeterminados,
com prazos de carência, além de determinadas exclusões
como, por exemplo, a não cobertura do tratamento de doenças
infecciosas.

Nessa época a assistência à saúde era exclusiva aos


trabalhadores e seus dependentes, e a população que não tinha

38 POLÍTICA DE SAÚDE
emprego era amparada pelas casas de caridade. Foi apenas com
a Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Saúde que
essa situação começou a mudar. Mas, essas mudanças veremos
mais adiante!

Neste tópico vimos sobre a história da saúde


coletiva, na qual ou o indivíduo tinha condições
de pagar pelo cuidado ou esperava a caridade,
RESUMINDO e como ocorreu a luta e a criação de legislações
para a proteção da saúde dos trabalhadores os
quais começaram a buscar melhores condições
de trabalho e de cuidados da sua saúde. E aí? O
que está achando de conhecer sobre a história da
Previdência Social? Ela que dá início à busca por
melhores condições de saúde e exige do Estado
legislações e atitudes. Mas esse tema ficará para o

Unidade 1
próximo tópico.

POLÍTICA DE SAÚDE 39
Compreender história das
políticas públicas de saúde no
Brasil
Até aqui vimos a evolução de conceitos e marcos
históricos importantes relacionados à proteção
social. Mas ainda não acabou, precisamos
OBJETIVO compreender os acontecimentos que levaram
a elaboração das Políticas de Saúde. Esses
acontecimentos aconteceram junto com os fatos
relacionados à previdência social, por isso, vamos
voltar à época da colônia no Brasil.

Condição de vida no Brasil


Unidade 1

durante o período de colônia


Durante o período que o Brasil foi colônia de Portugal,
nosso país foi explorado sem infraestrutura e a população vivia
em condições precárias.

A economia era pautada no extrativismo, por isso, era


necessária uma estrutura mínima para os portos para que
acontecesse o escoamento da matéria-prima. Por isso o início as
políticas de Saúde Pública no Brasil ficavam restritas ao controle
de doenças nos portos.

40 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 10 – Pau-brasil

Unidade 1
Fonte: Pixabay

Lembre-se que, nessa época, o perfil de adoecimento do


país era de doenças transmissíveis, tanto as originais do país
quanto as importadas de outros países como os europeus e
africanos, as quais dizimaram milhares de indígenas em várias
regiões do país.

Além disso, não existia assistência à saúde, quem tinha


condições trazia médicos da Europa para se tratar, quem não
tinha, procurava a medicina popular, utilizando ervas e/ou
cuidando do espírito, como era o cuidado tradicional da época e
cultural entre os indígenas e escravos africanos.

Nesse contexto que as Santas Casas de Misericórdia entram


em cena. Diferente de como conhecemos hoje, elas não tinham
caráter de hospital, apenas abrigavam os pobres e doentes
mentais, mas não havia um cuidado médico apropriado.

POLÍTICA DE SAÚDE 41
A primeira Santa Casa foi inaugurada no Brasil
em 1543 na cidade de Santos, São Paulo, com o
decorrer dos anos outras foram abertas em outras
VOCÊ SABIA? cidades e eram administradas pela Irmandade de
Misericórdia.

A preocupação com a saúde começou mesmo em 1808 com


a vinda da família real portuguesa e sua comitiva para o Brasil.
Cerca de 15 mil pessoas vieram para o Brasil nessa comitiva.
Eles se espantaram com as condições de higiene e de vida nas
grandes cidades brasileiras.

A vinda dos nobres portugueses e da família real trouxe


grandes melhorias para o Brasil em relação à saúde, com criação
de diversos órgãos públicos a as Escolas de Cirurgia, sendo a
primeira em Salvador e a segunda no Rio de Janeiro.
Unidade 1

A família real portuguesa veio para o Brasil para


fugir de Napoleão Bonaparte, imperador francês,
que ameaçava invadir Portugal, dessa forma
SAIBA MAIS conseguiram se manter independentes, com apoio
da Inglaterra que os ajudou a expulsar as tropas
napoleônicas de Portugal.

A Proclamação da República aconteceu em 1889, o que


tornou o Brasil uma república federativa, com a derrubada da
monarquia e a aclamando Marechal Deodoro da Fonseca, um dos
líderes do Movimento Republicano, como presidente do Brasil.

Da Proclamação da República até


1930
A abolição da escravidão em 1888, estimulou a imigração,
principalmente de europeus pela necessidade de mão de obra
nas fazendas. Nessa época, a cafeicultura era o que sustentava
a economia brasileira junto com produção de leite, por isso a

42 POLÍTICA DE SAÚDE
República, recém instaurada, foi denominada “Café com Leite”,
devido o apoio dos políticos aos grandes fazendeiros.

O Brasil sofria com epidemias como varíola, febre amarela,


peste, entre outras, o que ameaçava a economia. Lembre-se que
com o foco na exportação de café e outros produtos nacionais,
todos por via marítima. Mas como escoar essa produção se
os navios estrangeiros estavam com medo dessas doenças
epidêmicas matarem as tripulações?

Nesse momento entram em cena Oswaldo Cruz, no Rio de


Janeiro e Emílio Ribas em São Paulo. Médicos, com conhecimentos
baseados na Teoria Bacteriológica, desenvolveram um modelo
de intervenção chamado de Campanhista. Apesar dos abusos
nas práticas de saúde, essa intervenção obteve resultados contra

Unidade 1
as epidemias presentes no Brasil. Entre as medidas tomadas
estavam:

• Vacinação obrigatória contra varíola.

• Controle dos ratos.

• Controle dos locais de procriação de mosquitos.

Como já dito, as medidas não eram as mais


adequadas, você sabe quais eram as intervenções?
Por serem doenças transmissíveis o foco era
VOCÊ SABIA? eliminar os pontos de contaminação, por isso
foram destruídos cortiços e casas do centro da
cidade, o que deixou a população sem abrigo, as
quais foram para os morros nascendo, então, as
favelas cariocas.

POLÍTICA DE SAÚDE 43
Figura 11 – Favela
Unidade 1

Fonte: Pixabay

As medidas violentas levam a uma forte reação da população


carioca, sob liderança de militares de oposição do governo, o que
iniciou a “Revolta da Vacina”, em 1904, mas ela foi reprimida com
grande violência e teve eu fim em menos de 48 horas, mas foi
tempo suficiente para entrar para a história da Saúde Pública.

Mas as atividades e ações não foram apenas essas


destacadas. Foram realizadas outras ações importantes como:

• Registro demográfico, para conhecer a composição e os


fatos vitais de importância da população.

• Introdução do laboratório como auxiliar o diagnóstico


etiológico.

• Fabricação organizada de produtos profiláticos para


uso em massa.

44 POLÍTICA DE SAÚDE
Sabe por que essas intervenções foram chamadas
de Campanhistas? Até a década de 1930, a saúde
pública era baseada em campanhas com o
VOCÊ SABIA? apoio da polícia sanitária por isso foi conhecida
como Campanhista, as quais eram voltadas para
problemas de saúde que afetavam a população,
porém motivadas pelos interesses econômicos.

Mas a saúde individual ainda era parecida com o Brasil


colônia, ou seja, os médicos atendiam as pessoas que podiam
pagar e os curandeiros e Santas Casas para os pobres.

Haviam muitos imigrantes o que levou a uma discreta


mudança, pois esses eram trabalhadores que atuavam
politicamente em seus países e compreendiam a importância da
sua união para garantir os seus direitos básicos como acesso à

Unidade 1
moradia e à saúde. Essa organização dos trabalhadores resultou
em diversas greves entre 1915 e 1920 reivindicando trabalho
com carga horária pré-determinada, salário justo, assistência à
saúde e condições de trabalho salubres.

Foi a partir da união de muitas categorias que levou a


formação de fundos financeiros mútuos os quais começaram a
ser utilizados para garantir a assistência médica individual dos
trabalhadores e seus familiares e pensões, em caso de morte e
invalidez, com regras determinadas pelos próprios trabalhadores
em assembleias.

A criação das Caixa de Aposentadoria e Pensão (CAP) foi


determinada pela Lei Elói Chaves, em 1923, a qual inovou e
melhorou os fundos mútuos. Ela determinou que o empregador
também contribuísse com uma porcentagem nesse fundo, por
isso foi considerada como o embrião da Previdência Social no
país.

Aconteceram muitas mudanças no mundo no final dos


anos 1920, como a crise econômica como a quebra da bolsa de
valores de Nova York em 1929, o que levou a desvalorização da

POLÍTICA DE SAÚDE 45
exportação de café, base da economia da época, o que culminou
na Revolução de 1930 no Brasil com o poder provisório nas mãos
de Getúlio Vargas.

Essa revolução aconteceu devido a insatisfação de outros


estados brasileiros diante do governo federal pelo sentimento
de exclusão em relação as tomadas de decisão do Estado, pois,
como já vimos, a “República Café com Leite” beneficiava apenas
uma pequena parte da elite brasileira.

Era Vargas
Entre 1930 e 1945, Getúlio Vargas governou o Brasil de
modo centralizador, ele fechou o Congresso Nacional, perseguir
inimigos políticos e fez alianças com países estrangeiros para
Unidade 1

deportar presos políticos.


Figura 12 – Visita de Getúlio Vargas e Juarez Távora a Salvador após Revolução de 1930

Fonte: Wikimedia

46 POLÍTICA DE SAÚDE
Mesmo assim ficou conhecido como “Pai dos Pobres”
pois sua política populista promulgou a Consolidação das
Leis do Trabalho, desenvolvida pela equipe do governo sem a
participação da sociedade, mas com medidas sociais, mesmo
assim os historiadores descrevem que essas ações eram uma
forma de mascarar e justificar o sistema autoritário que estava
instalado no país.

Lembra-se que os Institutos de Aposentadoria e Pensão


(IAPs) que foram criados a partir da unificação das Caixas
de Aposentadorias e Pensão? Pois bem, o Estado passou a
contribuir financeiramente e, por isso, passou a administrá-
los, o que reduziu a liberdade dos trabalhadores nas tomadas
de decisão. Seus recursos passaram a financiar grandes obras

Unidade 1
públicas além de empréstimos para grupos privados de saúde,
com a justificativa de estar sendo utilizado para a saúde.

Perceba que, até esse momento, a assistência à


saúde era de direito somente aos trabalhadores
participantes dos IAPs e seus familiares, o restante
IMPORTANTE da população dependia da assistência particular
ou hospitais filantrópicos quando não podiam
pagar. O foco do cuidado e da Saúde Pública nesse
período era a preservação da força de trabalho
garantindo o crescimento industrial no País.

O Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) foi criado a


partir de um convênio com os EUA, durante a Segunda Guerra
Mundial, sendo moldado no modelo norte-americano, com foco
em prevenção e atuando nas áreas onde não havia cobertura
dos serviços tradicionais como a Amazônia.

POLÍTICA DE SAÚDE 47
Nessa época, em plena Segunda Guerra Mundial,
a Indonésia era a principal fornecedora de látex
para os EUA, porém se encontrava em uma
REFLITA região constantemente atacada pelos países que
formavam o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) os quais
lutavam contra os EUA e seus Aliados (Inglaterra
URSS e França). A segunda maior produtora de
látex do mundo era a Amazônia, esse material
era essencial para a indústria e para o esforço de
guerra. Agora eu te pergunto: você acredita que
esse convênio do Brasil com os EUA liberando
acesso à Amazônia para esse país teve apenas seu
fundamento no cuidado e na Saúde Pública?

A fase final do governo Vargas foi denominada como


Unidade 1

“desenvolvimentista”, na qual o grande objetivo era a


modernização do país fortalecendo as indústrias e a construção
de estradas para o escoamento dessa produção nacional.

As desigualdades sociais continuaram crescendo


no mesmo ritmo que as indústrias e as
grandes cidades, principalmente pela vinda de
IMPORTANTE trabalhadores do campo para as grandes obras do
governo Vargas. Mas o direito à saúde ainda era
um privilégio para os ricos e os trabalhadores com
carteira de trabalho assinada.

Houve um breve período de liberdade para a discussão


sobre as políticas sociais, mas a assistência à saúde ainda
era focada nas campanhas para os problemas coletivos e a
assistência curativa individual liga aos IAP, ou seja, o foco na mão
de obra da produção e os pobres ainda dependiam da assistência
filantrópica.

Até a década de 60 a assistência à saúde teve como


característica o modelo médico-sanitário com duas vertentes
importantes e distintas:

48 POLÍTICA DE SAÚDE
• Epidemiológica: preocupada em controlar as doenças
em escala coletiva.

• Clínica: baseada na necessidade de recuperar a força


de trabalho, com direito aos cuidados médicos somente
para quem fizesse parte do sistema previdenciário.

Um marco importante desta época foi a 3ª Conferência


Nacional de Saúde, no final de 1963, a qual desenvolveu
vários estudos para a criação de um sistema de saúde. Nessas
discussões dois pontos importantes apareceram: necessidade
de um sistema de saúde para todos os cidadãos, não apenas
para os trabalhadores e a organização descentralizada com
autonomia dos municípios.

Unidade 1
Em contrapartida, o governo abriu mais espaço para os
grupos estrangeiros, incluindo na área da saúde o que levou
a entrada de grupos de medicina privada na administração de
diversos hospitais que foram construídos e equipados com o
dinheiro do Estado.

Além disso, o avanço do comunismo no mundo e as


manifestações por direitos sociais levou a criação de um
ambiente propício para o golpe militar em 1964 com a posse
de João Goulart na presidência e as reformas voltadas para as
políticas sociais.

Da ditadura militar à VIII


Conferência Nacional de Saúde
Com início em março de 1963 e nos anos que seguiram,
esse governo concentrou as decisões de forma autoritária,
realizando alianças e investimentos com instâncias privadas do
País. A Saúde Pública teve baixo investimento, e o foco estava
na aquisição de tecnologias de ponta, tornando a intervenção

POLÍTICA DE SAÚDE 49
em saúde altamente especializada, medicalizada, curativa,
individualizada e, portanto, elitizada.

Enquanto isso, na saúde, os empréstimos a “fundos


perdidos” feitos para a construção de hospitais, dessa forma o
governo pagava duas vezes primeiro ao “emprestar” o dinheiro
que não receberia de volta (por isso fundos perdidos) e, depois,
ao pagar pela assistência prestada à população.

A exclusão de determinados segmentos sociais no


atendimento público de saúde e a crise começaram a tomar
proporções em conjunto com as outras crises decorrentes do
sistema ditador marcada por dificuldades em vários setores
como econômicos, sociais e da saúde.

Essa crise levou os profissionais de saúde a se mobilizarem


a favor de uma assistência à população que não recebiam acesso
Unidade 1

e se uniram com profissionais de outros setores como políticos,


intelectuais, sindicalistas e lideranças populares com um
movimento crítico, elaborando propostas de novas modalidades
de cuidado em saúde, bem como uma nova concepção do
pensar e fazer saúde, mais humana e universal que poderia ser
alcançada através de uma ampla reforma sanitária.

O intenso êxodo rural devido às condições precárias do


trabalho no campo com violência e até escravidão continuou a
inflar as grandes cidades piorando as condições de vida, arrochos
salariais, inflação descontrolada e os serviços de saúde voltados
para poucos.

50 POLÍTICA DE SAÚDE
a Declaração de Alma-ata foi formulada por
ocasião da Conferência Internacional sobre
Cuidados Primários de saúde, entre os dias 6 e
ACESSE 12 de setembro de 1978, afirmando o conceito:
“Saúde é um direito humano fundamental” e
sua garantia deveria ser meta mundial. O que é
reforçado em 1986 com a Primeira Conferência
Internacional sobre Promoção de Saúde, em
Ottawa no Canadá com a Carta de Intenções que
buscou atingir a “Saúde para todos no ano de 2000”.
Quer compreender melhor essas e outras cartas
e conferências importantes que influenciaram a
saúde pública no Brasil? O Ministério da Saúde
publicou o livro “As Cartas da Promoção da Saúde”
que você pode encontrar no link:

Unidade 1
Vale a leitura desse material!

Durante esse período ocorreu a unificação dos IAPs, em


1966 com o Decreto-Lei n. 72, de 21 de novembro, dando origem
ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

Até aqui a movimentação social estava focada na proteção


social relacionada a emprego e suas garantias, mas começaram
a perceber as dificuldades em relação a assistência médica,
por isso, em 1977, foi criado o Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social (INAMPS) e o INPS é modificado e
se torna o atual Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).O fim
da ditadura foi marcado pelo movimento das “Diretas Já” e pela

POLÍTICA DE SAÚDE 51
eleição presidencial de Tancredo Neves, em 1984, o que levou o
setor da saúde sofreu grandes alterações e restruturações com a
reforma sanitária e a criação do Sistema Único Descentralizado de
Saúde (SUDS). Os serviços médicos privados, antes beneficiados
pelo militarismo, passaram a receber recursos públicos e foram
financiados por grandes valores neste período.
Figura 13 – Movimentos sociais pela liberdade
Unidade 1

Fonte: Pixabay

Mas foi apenas em 1986, na VIII Conferência Nacional de


Saúde, que essa proposta foi aceita, inserindo o tema “saúde
como direito de todos” convocando a sociedade, os pensadores
e os profissionais para a discussão. A qual deu base para a
Constituição Federal de 1988 e dentre várias mudanças está o
tema saúde que teve uma seção exclusiva.

Nessa época a Saúde Pública e o conhecimento sobre o


processo saúde-doença estavam sendo estudados em todo o
mundo, incluindo na América Latina, o que serviu como base para
as discussões sobre reforma sanitária e a luta pela modificação
do modelo de saúde brasileiro com a participação comunitária,
regionalização dos serviços existentes, integração do sistema

52 POLÍTICA DE SAÚDE
público-privado e atenção primária como porta de entrada no
sistema de saúde. Mas foi apenas em 1986, na VIII Conferência
Nacional de Saúde, que essa proposta foi aceita, inserindo o
tema “Saúde como direito de todos” convocando a sociedade, os
pensadores e os profissionais para a discussão.

Nossa! Muitos acontecimentos importantes na


história brasileira e mundial e nem chegamos à
criação do SUS! Mas, como você pode perceber,
RESUMINDO todos eles construíram a base de conceitos e
mudanças importantes para a saúde, desde a
vinda da família real, financiamentos desenfreados
para o setor privado, até a entrada da saúde na
Constituição como “direito de todos e dever do
estado”. Gostou de conhecer essa história? Espero
que sim.

Unidade 1

POLÍTICA DE SAÚDE 53
Conhecer a história dos
sistemas de saúde de outros
países
Até aqui vimos vários acontecimentos que levam a
constrição das políticas de saúde, mas vamos dar
uma pausa nela para compreender como surgiram
OBJETIVO e como funcionam os Sistemas de Saúde em outros
países. Pronto para essa jornada?

Sistema de Saúde
Como já ficou claro, a evolução do conceito de saúde
coletiva, de saúde pública e de proteção social caminharam de
Unidade 1

forma integrada, pois o foco em todos os casos é o cuidado do


indivíduo como pessoa e pertencente ao coletivo.

Dentre os diversos movimentos importantes no mundo


podemos citar, a criação do Conselho de Saúde de Londres por
William Petty, em 1687, e a Política Médica sob liderança de V.
Ludwig Seckendorf (1655), W. Thomas Rau (1764) e J. Peter Frank
(1779), na Alemanha. Já na França esse movimento começou
na primeira metade do século XIX com a institucionalização
da Higiene o qual deu origem à Medicina Social, inspirada no
socialismo.

Enquanto na Inglaterra a industrialização agravou as


condições de saúde dos trabalhadores dando início ao Movimento
Sanitarista ou Saúde Pública. O que inspirou, em 1879, os EUA a
criarem um Departamento Nacional de Saúde, desenvolvendo
ações de saneamento para controle de doenças infecciosas.

Vale ressaltar que todos esses movimentos levam à ideia


de saúde coletiva pois observavam as questões sociais, não

54 POLÍTICA DE SAÚDE
apenas a doença e o foco na promoção da saúde. A partir desse
movimento a luta por sistemas de serviços de saúde levou os
governos a desenvolverem sistemas de saúde para atender a sua
população.

A definição de Sistemas de Saúde, segundo a Organização


Mundial de saúde é “o conjunto de atividades cujo propósito
primeiro é promover, restaurar e manter a saúde de uma
população”. Independentemente do tipo os sistemas de saúde
têm como objetivos:

o alcance de um nível ótimo de saúde, distribuído de forma


equitativa;

• a garantia de uma proteção adequada dos riscos para

Unidade 1
os cidadãos;

• o acolhimento humanizado dos cidadãos;

• a garantia da prestação de serviços efetivos e de


qualidade;

• a garantia da prestação de serviços com eficiência.

Os sistemas de saúde são estruturas de atenção à saúde,


auxiliando a identificar as estruturas de saúde com objetivo de
nortear os investimentos, bem como garantir a prevenção de
doenças, e oferta de cuidado aos indivíduos. Segundo Moreira
(2018), os principais componentes dos sistemas de saúde são:
financiamento; força de trabalho; rede de serviços; insumos e
tecnologias; organizações.

Em cada país, a evolução dos sistemas de saúde está


diretamente relacionada com a evolução da proteção social.
Dessa forma, cada país tem seu sistema de saúde, organizado
de acordo com a modalidade de intervenção do governo
no financiamento, na condução da regulação dos setores

POLÍTICA DE SAÚDE 55
assistenciais e na prestação dos serviços de saúde. Vamos
conhecer melhor cada modelo e quais países utilizam.

Modelo universalista
Esse modelo tem caráter universal sendo financiado por
impostos e é baseado no princípio da cidadania, o qual garante
acesso a todos os indivíduos incluindo os que não têm renda.
Não há contribuição de empregadores e empregados de forma
separada, apenas impostos pagos por empresas e população.

A prestação dos serviços de saúde fica sob responsabilidade


do Estado, o qual é proprietário da grande maioria dos hospitais
e ambulatórios e os funcionários tem cargo público. Quando
Unidade 1

esses sistemas são bem estabelecidos, os serviços privados, que


podem existir, acabam sendo contratados pelo próprio serviço
público regulamentando e controlando os custos desse setor.
Dentre os países que possuem esse sistema de saúde estão o
Reino Unido, Espanha, entre outros, incluindo o Brasil.

Nos países socialistas, os sistemas de saúde


também são financiados e centralizados no Estado
com acesso universal, mas não há o setor privado,
SAIBA MAIS por isso, apesar das características semelhantes ao
modelo universalista não é possível compará-lo.

Modelo Seguro Social


Sustentado pela contribuição dos empregadores e dos
empregados, pode também, em alguns casos, contar com
recursos de impostos. Tem origem nas Caixas organizadas
pelos profissionais, assim, a assistência médica fica diretamente
relacionada à capacidade financeira do indivíduo.

56 POLÍTICA DE SAÚDE
Quando se fala em assistência à saúde apenas
para pessoas empregadas, o que passa pela sua
cabeça? Parece desigual? Esse perfil de Sistema
REFLITA de Saúde é comum em países desenvolvidos
como a Alemanha, nos quais praticamente toda
a população está empregada, ou seja, a grande
maioria da população está coberta pelo sistema. E
agora, continua parecendo desigual?

Sistema de Saúde na Inglaterra


O sistema de saúde britânico foi criado em 1948, cujo modelo
é o universalista com atuação preventiva e curativa semelhante
ao SUS do Brasil, foi pioneiro na universalização do acesso a
serviços de saúde e tem como base os princípios de equidade e

Unidade 1
integralidade, mas não tem atendimento dental, oftalmológico e
alguns medicamentos (GUIMARÃES, 2013; FILIPPON, 2016).

Esse sistema originalmente é centrado no médico da


atenção primária (General Practitioner – GP) os quais recebiam
por número de pacientes atendidos. Esses médicos atuavam nos
serviços de ambulatório que atuavam como porta de entrada
para a assistência não emergencial.

O financiamento do sistema de saúde britânico advém


principalmente do setor público, basicamente de impostos, e
uma pequena contribuição do sistema de Seguridade Social
sendo calculado de maneira per capita.

Percebe semelhança com o SUS? A atenção


primária como centro da rede de atenção e porta
de entrada para a assistência e o financiamento
REFLITA vindo basicamente de impostos faz você comparar
o sistema desse país com o SUS? Exatamente, é um
padrão muito comum dos modelos de sistema de
saúde universalistas.

POLÍTICA DE SAÚDE 57
Figura 14 – Hospital da Santa Cruz (“St. Cross Hospital”), Winchester, Inglaterra
Unidade 1

Fonte: Wikicommons

Sistema de Saúde na Alemanha


Na Alemanha há um sistema de saúde corporativo, baseado
em Caixas de Saúde gerenciadas e financiadas por trabalhadores
e empregadores. Nesse sistema é estipulado um valor máximo
aos preços dos medicamentos.

Nesse país uma parcela do imposto sobre cigarros


é direcionada à saúde, o que gerou, entre 2004 e
2008, uma média de 2,34 bilhões de euros ao ano
VOCÊ SABIA? (FERREIRA & MENDES, 2018).

O seguro social garante quase a cobertura plena dos


indivíduos, porém, em 2006 havia entre 80 a 300 mil alemães
sem qualquer tipo de cobertura, por isso a adesão a algum tipo
de seguro se tornou obrigatório, podendo ser privado ou social
(FERREIRA & MENDES, 2018).

58 POLÍTICA DE SAÚDE
Apesar de existir um subsistema privado, o setor público
cobre quase 90% da população que reside no país, não só dentro
do sistema de financiamento de saúde, mas também na política
sanitária alemã.

Essa importância não vem apenas da cobertura da


população em relação aos serviços de saúde, mas também como
entidade de planeamento, condução e controle do sistema de
saúde desse país.

Como vimos, o sistema de proteção social de saúde da


Alemanha está baseado na cobertura obrigatória fundamentado
na contribuição para o seguro social, por isso esse sistema
operacionaliza o princípio de solidariedade: pelo menos para os
indivíduos com rendimentos inferiores ou médios.

Unidade 1
Figura 15 – Knappschaftskrankenhaus, hospital em Dortmund-Brackel, Alemanha

Fonte: Wikimedia

Sistema de Saúde em Cuba


O primeiro sistema de saúde de cobertura universal
e integral das Américas foi criado em Cuba. Ele é regulado,

POLÍTICA DE SAÚDE 59
financiado e administrado exclusivamente pelo Estado. Com
princípios humanistas e de solidariedade, busca a acessibilidade
e serviços gratuitos baseado na prevenção e promoção da saúde
(ROLLO & WEBER, 2018).

Como no Brasil, esse país começa sua história de mudança


com uma assistência à saúde insuficiente. Após a Revolução de
1959 a saúde passou a ser uma prioridade para o governo com
a criação do Sistema Nacional de Saúde (SNS) na década de 60.

Segundo Rollo & Weber (2018, p. 18), atualmente esse


sistema alcançou altos níveis de equidade na distribuição dos
serviços, com total cobertura da população com destaque para
a formação de recursos humanos e a apresentação dos custos
com os serviços de saúde aos usuários através de cartazes com
Unidade 1

o título: “Teu serviço de saúde é gratuito... mas custa”. Com a


finalidade de conscientizar a população sobre os custos e
incentivar a valorização dos serviços.
Figura 16 – Monumento Antonio Maceo em frente a um hospital em Cuba

Fonte: Pixabay

60 POLÍTICA DE SAÚDE
Sistema de Saúde nos Estados
Unidos da América
Costa, 2013 p.158, descreve que em 2010 os custos desse
país com saúde formam mais baixos que de países como Portugal
e França, quando se faz a avaliação per capita.

Esse autor relata ainda que os indicadores de saúde não


são bons, por exemplo quando se observa a taxa de mortalidade
infantil, dentro dos piores índices quando comparados com
países desenvolvidos.

Por ter se baseado no modelo de seguro privado muitos


estudiosos tem uma visão de “amor e ódio” com o sistema desse

Unidade 1
país. Consegue imaginar por que? Perceba que nos Estados
Unidos são utilizadas tecnologia avançada para o cuidado
da saúde, porém, a ineficiência, não universalidade e gastos
excessivos e muitas vezes inútil por parte do Estado. Esses
extremos levam muitos estudiosos de Saúde e Políticas Públicas
terem uma posição contra o sistema, mas compreendendo que
há o uso de inovações na assistência à saúde o que estimula o
estudo e a utilização de tecnologias em saúde em todo o mundo.

Para compreender a instalação desse sistema temos que


compreender a história desse país. Lembre-se que é um país que
lutou pela liberdade e a utiliza em todos os setores como política,
produção e comércio, o que refletiu na forma de estruturação do
sistema de saúde: liberdade de escolha.

Vale ressaltar que essa mesma liberdade leva a autonomia


dos estados, por isso, é possível observar alguns como Havaí
e Califórnia, iniciaram experiências para melhorar os níveis
de universalidade e acessibilidade, porém, sem o resultado
esperado.

POLÍTICA DE SAÚDE 61
Não pense que a população ignora completamente a
necessidade do sistema de saúde universal, muito pelo contrário!
Já na grande depressão (1929) existe a luta pela mudança desse
sistema, muitos presidentes já tentaram realizar essa mudança,
porém, sem muito êxito.

O mais recente foi o presidente Obama que, em março de


2010, após aprovação do Congresso americano, sancionou a lei
que se prevê aumento substancial da cobertura da população e
redução da tendência para crescimento dos custos com a Saúde.
O projeto para a Saúde de Barack Obama e Joe
Biden apela à redução dos custos para que o
sistema de saúde trabalhe para as pessoas e para
as empresas – e não apenas para as companhias de
Unidade 1

seguros. As melhorias ao nível da acessibilidade e


da universalidade assentam em diversos princípios,
dos quais se destacam a garantia da elegibilidade
(pelas companhias de seguros) dos cidadãos,
independentemente do seu historial de saúde, a
garantia da cobertura em cuidados de saúde para
todas as crianças, a atribuição de incentivos fiscais a
quem subscreva seguros de saúde e o alargamento
da elegibilidade no âmbito do Medicaid (COSTA, 2013,
p.160).

O projeto inicial previa a criação de um Seguro Nacional


de Saúde alternativo, porém, foi retirado da votação com a
finalidade de facilitar sua aprovação. Seriam grandes mudanças
e, por consequência, grandes dificuldades de implantação e
aceitação de políticos e até de uma parcela da população.

62 POLÍTICA DE SAÚDE
Uma cultura baseada na democracia e na merito-
cracia, que preza pela liberdade e individualidade,
como inserir um sistema de saúde que faça o in-
REFLITA divíduo dar parte do seu (dinheiro) para cuidar do
outro? Com certeza essa não é uma mudança fácil,
mas, com certeza, essa pequena mudança é um
grande passo para a população do país.

• Com essa reforma, Segundo Costa, 2013 p.160, os


principais aspectos que mudam são

• Extensão da cobertura.

• Redução do défice (nem todos concordam que isto seja


possível).

• Maior atenção dada à promoção da saúde e prevenção

Unidade 1
da doença.

• Eliminação dos copagamentos por parte dos utilizadores


dos subsistemas públicos e incentivo aos privados para
seguirem a mesma orientação.

• Melhoria da eficiência.

• Melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados.

• Reforço da regulação do Estado.

• Melhoria da integração dos subsistemas públicos e


privados.

• Colocação do doente no centro do sistema.

Além disso, outra mudança da reforma está na criação dos


benefits exchanges, que é a organização do mercado de venda
de planos de saúde (National Health Insurance Exchange), o que
levou a baixa dos preços, acessibilidade de pequenas empresas
e cidadãos com rendimentos baixos mas que não são elegíveis

POLÍTICA DE SAÚDE 63
para os programas públicos, portabilidade do seguro e impedir a
rejeição de pessoas com risco de saúde pré-existentes.

Antes de ter sido aprovada a reforma Obama, cerca


de 40 milhões de americanos não tinham qualquer
cobertura para efeitos de saúde.
VOCÊ SABIA?

Essa reforma foi de extrema importância, mas é importante


destacar que é uma reforma social o que não altera a essência da
organização do modelo do sistema de saúde atual.
Figura 17 – Lawrence General Hospital em Lawrence Massachusetts EUA
Unidade 1

Fonte: Wikimedia

Sistema de Saúde no Canadá


Apesar de ser considerado um sistema universal nem
todos os serviços de saúde são cobertos, como saúde bucal,

64 POLÍTICA DE SAÚDE
medicamentos extra-hospitalar e outros profissionais da saúde
como psicólogos, fisioterapeutas, entre outros, de acordo com a
província (estado) (BRANDÃO, 2019).

A atenção básica também é o centro do sistema e porta


de entrada no mesmo, com o profissional médico especialista
em família e enfermeiros atuando diretamente com a população
e com acesso ao médico. Porém a atuação do médico com os
outros profissionais acontece apenas nos hospitais.

O seguro privado atua como complementar ao cuidado da


saúde e atualmente cerca de 80% da população possui algum
tipo de cobertura adicional para quartos privados, despesas
com medicamentos, tratamento odontológico, ou seja, amplia os
cuidados que o próprio sistema de saúde não atende.

Unidade 1
Vale ressaltar que a luta por incluir medicamentos de
maneira mais universal no sistema é antiga e, segundo Brandão
2019 p.3, está se aproximando da realidade.

Nosso país tem um modelo universalista que


abrange mais serviços de saúde que o canadense,
porém o acesso e a infraestrutura ainda são
REFLITA precários. Então pense, é possível comparar
esses dois sistemas? Ter uma posição de qual é
realmente melhor?

POLÍTICA DE SAÚDE 65
Figura 18 – Royal Jubilee Hospital, Victoria, Canadá
REFERÊNCIAS
Unidade 1

Fonte: Wikimedia

Neste tópico, vimos que sistema de saúde é


definido pela OMS como “o conjunto de atividades
cujo propósito primeiro é promover, restaurar e
RESUMINDO manter a saúde de uma população”. Vimos também
os tipos de sistemas existentes no mundo, que vão
desde assistência universal até o modelo privado,
mas perceba que em todos há, pelo menos de
forma indireta, a atuação do Estado. E aí? Gostou
de saber sobre os cuidados em saúde no mundo?

66 POLÍTICA DE SAÚDE
BARROS, E (1996). Política de saúde no Brasil: a universalização
tardia como possibilidade de construção do novo. Ciência & Saúde

REFERÊNCIAS
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POLÍTICA DE SAÚDE 67
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68 POLÍTICA DE SAÚDE

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