Ebook Da Unidade 3 - Bioquimica Aplicada A Nutrição

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Bioquímica

Humana Aplicada
à Nutrição
Prof.ª M.ª Jordanna Santos Monteiro

Unidade 03

Proteinas e
metabolismo
energético
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autora
JORDANNA SANTOS MONTEIRO
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
A autora
PROF.ª M.ª JORDANNA SANTOS MONTEIRO

Olá. Meu nome é Prof.ª M.ª Jordanna Santos Monteiro. Sou formada
em Nutrição pela Universidade de Brasília, sou também Mestre em Nutrição
Humana pela Universidade de Brasília, com uma experiência técnico-
profissional na área de nutrição e dietética de mais de 1 ano. Sou técnica
em Nutrição e Dietética da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Além
disso, fui docente da Faculdade Sena Aires da disciplina Nutrição Humana.
Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela
Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho.
Conte comigo!
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro-
jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de
aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado sobre o tema em
ou detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Compreendendo o que são proteínas ..............................12
Importância das proteinas .................................................12
Conceito ..........................................................................14
Aminoácidos......................................................................14
Estrutura de aminoácidos.........................................14
Classificação físico-química dos aminoácidos .........15
Classificação nutricional dos aminoácidos...............16
Estrutura de proteína..........................................................17
Estrutura primária...................................................17
Parâmetros nutricionais das proteinas ...............................18
Necessidades proteicas............................................18
Balanço de nitrogênio........................................................18
Digestão e absorção das proteinas......................................19
Digestão das proteínas da dieta...............................19
Necessidade e eficácia da digestão de proteínas....19
Órgãos envolvidos na digestão de proteínas.........19
Digestão de proteínas no estômago......................20
Precursores enzimáticos pancreáticos...................21
Secreção de precursores enzimáticos do suco
pancreáticos............................................................21
Ativação de pró-enzimas pancreáticas no intestino
delgado ...................................................................22
Peptidases dos microvilosidades intestinais..........23
Absorção intestinal de aminoácidos e oligopeptidos..........23
Etapas da absorção intestinal de produtos de digestão
de proteínas.............................................................23
Metabolismo de aminoácidos no enterócito.............24
Fermentação de proteínas no cólon..........................24
Enzimas ...........................................................................25
Importância das enzimas....................................................25
Terminologia e definições..................................................26
Mecanismo geral de catálise ..............................................27
Grupos prótese, cofatores e coenzimas..............................28
Grupos protéticos....................................................28
Co-fatores e vitaminas hidrossoluveis ...............................29
Metabolismo dos carboidratos ........................................31
Metabolismo dos carboidratos ..........................................31
Glicólise.................................................................33
Destinos de piruvato...........................................................36
Ciclo do ácido cítrico ou ciclo de krebs ...........................38
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 9

03
UNIDADE

CARBOIDRATOS E LIPIDIOS
10 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

INTRODUÇÃO
Você sabia que a Bioquímica Humana Aplicada a Nutrição é
uma das mais importantes áreas da nutrição, ela é responsável pelo
entendimento de como o metabolismo enérgico e dos nutrientes atua na
saúde humana e como esse está associado as desordens metabólicas,
possibilitando o aumento das Doenças Crônicas não Transmissíveis.
Dessa forma, a Nutrição atua como medicina preventiva, e a bioquímica
como ferramenta para melhor compreensão da atuação do alimento e
suas substâncias na saúde humana. Portanto, a Bioquímica é disciplina
primordial para pratica do nutricionista ou profissional de saúde, seja o
que irá atuar em pratica clínica, hospitalar, funcional, esportiva ou em
gestão de produção de refeições. Entendeu? Ao longo desta unidade
letiva você vai mergulhar neste universo!
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:
• Compreender o que são proteínas
• Saber como ocorre as atividades enzimáticas e coenzimas
• Compreender o mecanismo de ação da quebra de glicose(glicólise)
• Saber como ocorre o ciclo de Krebs
O câncer é uma doença muito complexa, por isso exige muita
dedicação para conhece-la. Então? Preparado para uma viagem sem volta
rumo ao conhecimento? Ao trabalho!
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao
conhecimento? Ao trabalho!
12 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

Compreendendo o que são proteínas

OBJETIVO
Ao término deste capítulo você será capaz de entender
como atuam as proteínas. Isto será fundamental para
o exercício de sua profissão. Os nutricionistas são os
únicos profissionais aptos para prescrever uma dieta, e as
proteínas exercem diversas funções sejam como enzimas,
hormônios, função estrutural e entre outras. Eles são um
dos principais grupos energéticos e eles são a chave para
compreensão das reações metabólicas no corpo humano.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Importância das proteinas


De acordo com sua origem, as proteínas alimentares podem ser
animais ou vegetais. As proteínas animais são encontradas na carne,
peixe, aves, ovos e laticínios, enquanto as proteínas vegetais estão nas
nozes, soja, legumes, cogumelos e certos cereais, como o gérmen de
trigo. O conteúdo de proteínas é geralmente mais alto em alimentos
de origem animal, por exemplo, existem cerca de 22% de proteínas na
carne de frango e apenas 2,5% em batatas. No entanto, existem alguns
alimentos vegetais com um teor considerável de proteínas, como
as leguminosas (feijões, grãos de bico, soja e etc), onde o teor pode
exceder os 20%.
As proteínas desempenham diferentes funções biológicas,
pois são os instrumentos moleculares através dos quais a informação
genética é expressa. Abaixo estão as principais funções biológicas
realizadas por elas.
As enzimas são proteínas que atuam como catalisadores
bioquímicos. As proteínas promovem a proteção imunológica, pois as
proteínas conhecidas coletivamente como imunoglobulinas constituem
a primeira barreira de defesa dos organismos contra infecções de origem
bacteriana ou viral.
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 13

No transporte e armazenamento celular, muitos íons e moléculas


pequenas são transportadas e armazenadas por proteínas específicas.
Assim como existem proteínas que facilitam o transporte de materiais
através das membranas celulares, atuando no transporte entre membranas.
Muitos hormônios, como a insulina, são proteínas. As proteínas
estruturais fornecem suporte mecânico, formando também, em alguns
casos, suas conchas externas. Os movimentos coordenados de certos
conjuntos de proteínas realizam contração muscular e permitem a
motilidade celular.
A resposta das células nervosas a estímulos específicos depende
da presença de receptores de proteínas. O controle sequencial da
expressão da informação genética é essencial para o crescimento e
diferenciação das células, função também realizada pelas proteínas.
O citoesqueleto das células é composto de proteínas. As
proteínas, além de sua função, também podem ser classificadas por sua
estrutura em dois grandes grupos: globulares e fibrosas. Nas proteínas
globulares, a cadeia ou cadeias polipeptídicas são dobradas de forma
muito compacta, adotando formas esféricas, as proteínas globulares são
normalmente solúveis em sistemas aquosos e se difundem facilmente,
e muitas delas desempenham uma função móvel ou dinâmica.
As proteínas fibrosas são insolúveis em água e são moléculas
finas e alongadas, com cadeias polipeptídicas estendidas ao longo de
um eixo. A maioria das proteínas fibrosas desempenha um papel protetor
ou estrutural. As proteínas podem ser formadas por uma única cadeia
polipeptídica ou por várias cadeias polipeptídicas, para que também
possam ser classificadas como proteínas monoméricas ou oligoméricas.
Muitas proteínas são formadas apenas por polímeros de
aminoácidos e não possuem grupos de outra natureza, eles são
chamados de proteínas simples. No entanto, outros tipos de proteínas,
sujeitas à hidrólise, liberam outros compostos químicos, além dos
aminoácidos; eles são chamados de proteínas conjugadas. A porção
não aminoácido encontrada em uma proteína conjugada é geralmente
chamada de grupo protético, que desempenha um papel importante
em sua função biológica. As proteínas conjugadas são classificadas de
acordo com a natureza química do seu grupo protético.
14 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

Conceito
As proteínas diferem dos carboidratos e lipídios pois possuem
nitrogênio. As proteínas são polímeros lineares de aminoácidos,
compostos de carbono (C), oxigênio (O), hidrogênio (H), nitrogênio (N) e
uma menor proporção de enxofre (S).

Aminoácidos
As proteínas são polímeros de aminoácidos. Se uma proteína é
hidrolisada sob condições cuidadosamente controladas, em sua maioria
são liberados até vinte tipos de aminoácidos. A sequência desses
aminoácidos na proteína é o que determina sua estrutura tridimensional
e, por ter vinte aminoácidos diferentes, podemos ter uma grande
diversidade de estruturas proteicas. De fato, a conformação e função, de
uma proteína são determinadas pelos aminoácidos que a compõem e
pela sequência na qual eles se unem para formar a cadeia polipeptídica.

Estrutura de aminoácidos
Aminoácidos são compostos que possuem um grupo carboxila
(–COOH) e um grupo amino (–NH2) ligado ao mesmo átomo de carbono,
conhecido como carbono alfa (a). Esse carbono a também é ligado a
uma cadeia lateral (–R) que os diferencia um do outro. Eles respondem à
fórmula geral apresentada na Figura 1.

Figura 1: Estrutura geral de um aminoácido


Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 15

Classificação físico-química dos aminoácidos


As cadeias laterais ou grupos R dos aminoácidos diferem em sua
estrutura, tamanho e carga elétrica, e determinam suas propriedades
físico-químicas, como sua solubilidade e comportamento na cadeia
polipeptídica. Os aminoácidos são classificados de acordo com a
polaridade do grupo R, em duas grandes categorias: aminoácidos
apolares (grupo R hidrofóbico) e aminoácidos polares (grupo R hidrofílico).
Os aminoácidos apolares possuem grupos R formados de
cadeias orgânicas com caráter hidrocarboneto que não interagem
com a água. Geralmente, tem uma localização interna na molécula de
proteína. Pertencem ao grupo: glicina, alanina, valina, leucina, isoleucina,
metionina, prolina e fenialalanina e triptofano.
Os aminoácidos polares são os que possuem nas cadeias laterais
grupos com carga elétrica liquida ou grupos com cargas resíduas que
os capacitam a interagir com a água. Em sua maioria, são encontrados
na superfície da molécula proteica. Estes aminoácidos são subdivididos
em três categorias, de acordo com sua carga apresentada pelo grupo
R em soluções neutras: aminoácidos básicos, se a carga for positiva,
aminoácidos ácidos se a carga for negativa, e aminoácidos polares sem
carga, se a cadeia lateral não apresentar carga liquida. Os aminoácidos
básicos são lisina arginina e histidina. Os aminoácidos ácidos são os
dicarboxilicos: asparato e glutamato. Os aminoácidos polares sem carga
são serina, teonina e tirosina, com um grupo hidroxila na cadeia lateral,
asparagina e glutamina, com um grupo amida, e a cistina com um grupo
sulfidrila.

SAIBA MAIS
O intestino exerce importante função imunológica, pois
possui a barreira intestinal, o sistema imune (tecido linfóide
associado ao intestino - GALT, plasmócitos, linfócitos,
imunoglobulinas) e a microflora.
16 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

A microbiota intestinal regula vários aspectos do sistema imune


inato e adaptativo, protegendo o hospedeiro de patógenos invasores.
A colonização intestinal tem papel importante na estimulação do
desenvolvimento do sistema imune, incluindo o GALT, síntese e
secreção de Ig-A e geração da resposta da célula T helper. Entretanto,
o desequilíbrio de sua composição (disbiose) tem sido associado à
susceptibilidade a infecções e desordens imunes, quando ocorre um
predomínio das bactérias patogênicas sobre as bactérias benéficas
(ALMEIDA et al., 2008; SANZ et al., 2008).
A glutamina, aminoácido condicionalmente essencial é o principal
combustível para o rápido retorno do sistema celular como o epitélio do
trato gastrointestinal. Estudo realizado por Souza et al (1987) demonstrou
que a suplementação de 30 gramas de glutamina melhor modulação
da composição bacteriana do intestino de indivíduos obesos e em
sobrepeso, diminuindo assim o risco de infecções.

Classificação nutricional dos aminoácidos


A síntese de proteínas exige a presença de todos os aminoácidos
necessários durante o processo. Os aminoácidos quimicamente são
ácidos carboxílicos com um grupo amino ligado ao carbono alfa. Assim
como já mencionados todos os aminoácidos possuem essa estrutura
básica. O carbono alfa é um carbono quiral e seus isômeros podem ser
formados. O isômero L é o funcional no corpo humano.
Vários aminoácidos podem ser sintetizados a partir de “esqueletos”
de carbono produzidos como intermediários nas principais vias
metabólicas por um processo chamado transaminação, que adiciona um
grupo amino a um outro aminoácido, sem realmente produzir um grupo
amino livre. A transaminação é um processo importante, permitindo a
produção de aminoácidos não essenciais a partir de aminoácidos não
essenciais a partir dos intermediários metabólicos enquanto utiliza
grupos animo livres, não estando, assim, disponíveis para produção
de amônia toxica. Por outro lado, os aminoácidos são chamados de
essenciais quando possuem esqueletos de carbono que os não é capaz
de ser sintetizado pelos seres humanos. Assim sendo os aminoácidos
essenciais devem ser obtidos através da dieta.
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 17

Estrutura de proteína
A estrutura das proteínas é complexa, de modo a facilitar seu
estudo, diferentes níveis de organização foram estabelecidos:
Estrutura primária: refere-se à sequência de aminoácidos que
formam a proteína.
Estrutura secundária: refere-se à disposição repetitiva e regular
do esqueleto polipeptídico; esse nível de estrutura também é chamado
de grupo linear.
Estrutura super-secundária: refere-se à formação de agregados
físicos preferenciais de estruturas secundárias.
Estrutura terciária: refere-se à estrutura tridimensional da proteína
globular.
Estrutura quaternária ou agregados proteicos: corresponde ao
nível de complexidade máxima e resulta da associação de diferentes
cadeias polipeptídicas para formar

Estrutura primária
A estrutura primária das proteínas refere-se exclusivamente à
sequência de aminoácidos que compõem a proteína. Embora essa
estrutura não se refira à sua conformação espacial, nela encontram-se
todas as informações relacionadas à proteína nativa e, consequentemente,
a elucidação da sequência é uma etapa indispensável para especificar as
bases estruturais de sua função biológica. A sequência de aminoácidos
da proteína é dada no sentido N-terminal a C-terminal (N → C).
As características estruturais dos grupos laterais R influenciam a
estrutura tridimensional das proteínas. Cada aminoácido tem uma certa
cadeia lateral com propriedades únicas e desempenhando um certo
papel em uma determinada posição da estrutura da proteína, uma vez
que a estrutura da proteína depende tanto da tendência de hidratar
as cadeias polares quanto iônicas, como cadeias não polares para se
associarem, mas não à água (efeito hidrofóbico).
18 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

Parâmetros nutricionais das proteinas

Necessidades proteicas
A quantidade diária recomendada pela OMS (Organização
Mundial da Saúde) e pela FAO para adultos é de 0,8 g de proteína por
kg de peso corporal por dia. Um suprimento muito baixo de proteínas
prejudica os processos de regeneração e síntese de proteínas. Do ponto
de vista energético, as proteínas alimentares não representam mais de
12 a 15% das necessidades diárias do homem adulto. Obviamente, as
reais necessidades de proteína em adultos ou atletas muito ativos são
maiores. Assim, em atletas de endurance, as necessidades são dobradas
(até 1,5 g de proteína por kg de peso corporal) e em atletas durante o
treinamento de força com pesos, atinge 2,5 g/kg de peso corporal.

Balanço de nitrogênio
As proteínas apresentam grande quantidade do nitrogênio, visto
ele é parte integrante dos aminoácidos que as constituem. Por sua vez,
a principal fonte de nitrogênio na dieta são as proteínas presentes nos
alimentos. Deve-se entender que, diferentemente dos carboidratos
e gorduras, o excesso de proteína na dieta não se acumula no corpo
como reserva. Nesta situação, a eliminação do nitrogênio da uréia na
urina aumenta. O balanço de nitrogênio é a diferença entre a ingestão
de nitrogênio (preferencialmente na forma de proteínas) e sua excreção
como proteínas nas fezes e como uréia e amônia na urina e no suor.
No homem adulto normal, existe um verdadeiro equilíbrio de
nitrogênio, porque esse equilíbrio é zero, equalizando as quantidades
de nitrogênio ingeridas e eliminadas. Para os cálculos, deve-se levar em
consideração que 6,25 g de proteína são equivalentes a 1 g de nitrogênio,
que o nitrogênio da uréia na urina é a principal forma de eliminação e
que as perdas não urinárias de nitrogênio representam cerca de 2 g por
dia (estimar as perdas diárias de nitrogênio não-urético em cerca de 4 g).
A massa total de proteínas é mantida no estado nitrogenado do
adulto, embora as proteínas teciduais sejam substituídas a uma taxa
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 19

variável: é rápida na mucosa intestinal ou no fígado (3-4 dias) e muito


mais lenta em outros tecidos, como músculo ou colágeno no tecido
conjuntivo ou osso.
Diferentemente dos adultos, em crianças e adolescentes o
balanço de nitrogênio é positivo (maior que zero), enquanto na velhice é
negativo (menor que zero), porque a quantidade de nitrogênio ingerido
é maior ou menor que a eliminada, respectivamente.

Digestão e absorção das proteinas


Digestão das proteínas da dieta

Necessidade e eficácia da digestão de proteínas


O corpo não pode incorporar diretamente as proteínas dos
alimentos no conjunto de proteínas presentes nos tecidos e fluidos
corporais. É necessário decompô-los em suas unidades estruturais,
os aminoácidos, através do processo de digestão, para que possam
ser absorvidos pelo trato intestinal e transportados para as células dos
diferentes órgãos e tecidos. Somente por um curto período após o
nascimento, o ser humano é capaz de absorver polipeptídeos intactos.
O processo de digestão é influenciado por proteínas exógenas
(alimentos) e endógenas (enzimas e outras proteínas das secreções
digestivas, proteínas das células epiteliais eliminadas na renovação
celular). Isso envolve diariamente 70-100 g de proteínas da dieta e 35-
200 g de proteínas endógenas que são digeridas e absorvidas com
grande eficiência, uma vez que apenas 6-12 g de proteínas (equivalente
a 1-2 g de nitrogênio) são removidos diariamente pelas fezes.

Órgãos envolvidos na digestão de proteínas


Ao contrário de outros macronutrientes, especialmente
carboidratos, as proteínas não sofrem digestão enzimática na boca.
No entanto, durante a mastigação e a mistura do bolo alimentar com
a saliva, aumenta-se a área de superfície exposta as proteínas para
20 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

posterior digestão. Existem três órgãos responsáveis pela digestão de


proteínas: estômago, intestino delgado e pâncreas.
A desnaturação e a hidrólise parcial de proteínas são realizadas no
estômago. O processo de decomposição completa (ou quase completa)
em aminoácidos individuais ocorre finalmente no intestino delgado
com intervenção direta do pâncreas. O papel principal na hidrólise é
exercido pelo ácido clorídrico (HCl) gástrico e por toda uma série de
enzimas digestivas de origem gastrointestinal e pancreática. Uma
propriedade importante de muitos deles é que eles são sintetizados
como precursores inativos e devem perder parte de sua sequência de
aminoácidos para dar origem a enzimas ativas.

Digestão de proteínas no estômago


Ao atingir o estômago, as proteínas da dieta ficam desnaturadas
devido ao pH fortemente ácido causado pelo HCl. Isso é liberado pelas
células parietais ou oxíticas do epitélio gástrico e fornece um valor de
pH próximo a 1,5. Como consequência, as proteínas são implantadas,
permitindo um ataque enzimático eficiente. Esse papel é desempenhado
pela pepsina, uma enzima atípica por ter um pH ideal compatível com
a forte acidez do estômago e, por esse motivo, não sofre desnaturação.
A pepsina é sintetizada como precursora, pepsinogênio, nas
principais células da mucosa gástrica (existem dois tipos, pepsinógenos
A e B). Através de um processo de autocatálise pela própria pepsina
ativa ou por autoativação (reação intramolecular) a um pH inferior a 5, um
peptídeo de cerca de 50 aminoácidos é liberado a partir da extremidade
amino terminal, revelando o local ativo. Esse peptídeo permanece
ligado à pepsina e atua como um inibidor até que seja degradado pela
enzima ou quando o pH cai abaixo de 2. A combinação dos processos de
autoativação e autocatálise é um mecanismo exponencial.
Como a pepsina contem ácido aspártico em seu local ativo,
a pepsina é uma aspartil protease pertencente ao grupo carboxil
proteases. A pepsina A (a mais importante) é uma endopeptidase que
hidrolisa as ligações peptídicas de proteínas localizadas atrás dos
aminoácidos aromáticos tirosina e fenilalanina ou vários aminoácidos
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 21

neutros, especialmente leucina. O resultado é uma digestão parcial


que fornece polipeptídeos e alguns aminoácidos livres. Esses produtos
são responsáveis pela liberação de colecistoquinina no duodeno. Além
disso, alguns aminoácidos e pequenos peptídeos estimulam a secreção
de gastrina na mucosa gástrica. Esse hormônio é importante porque
estimula a liberação de HCl e pepsinogênio.
É interessante mencionar que, com a mastigação dos alimentos
ou mesmo com o pensamento do ato de comer, a gastrina é liberada no
estômago. Um caso particular é o de bebês que produzem no estômago
a fermentação da renina. É derivado de um precursor inativo, o pró-
fermentador Lab, que é transformado pela ação do HCl. Tem um pH
ideal ainda mais baixo que a pepsina e atua principalmente na caseína
do leite, coagulando-a de modo a impedir que ela entre rapidamente
no duodeno e escape da digestão gástrica. É um processo importante,
pois a caseína do leite (na verdade um conjunto de diferentes tipos de
caseínas) constitui 45% da proteína total presente no leite humano e até
83% no leite de vaca.
Nos adultos, a digestão de proteínas no estômago não é
importante quantitativamente. Estima-se que apenas 10-15% da proteína
total da dieta seja digerida nesse nível. No entanto, seu significado é
que facilita o início da fase de digestão pancreática com o estímulo da
secreção de colecistoquinina.

Precursores enzimáticos pancreáticos

Secreção de precursores enzimáticos do suco pancreáticos


A maior parte do processo de proteólise da digestão ocorre no
duodeno, pela ação conjunta de uma série de enzimas sintetizadas no
pâncreas como precursores enzimáticos ou pró-enzimas. De fato, a
ativação de pró-enzimas pancreáticas envolve a perda de uma parte de
sua estrutura que protegeu o centro ativo e impediu sua ação. Assim,
o corpo garante que esse conjunto de enzimas tão agressivas atue de
maneira localizada no lúmen do intestino delgado, onde é necessário
digerir as proteínas da dieta.
22 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

A chegada à primeira seção do intestino delgado de peptídeos


e alguns aminoácidos, como triptofano e fenilalanina, especialmente
como parte do quimo gástrico, leva à secreção de colecistoquinina
pelas células endócrinas presentes no epitélio do duodeno e do jejuno
proximal.
Células acinares do pâncreas, responsáveis pela formação do
componente enzimático do suco pancreático, possuem receptores para
a colecistoquinina, para que reconheçam esse hormônio e o resultado
seja a secreção precursores pancreáticos. A secretina, outro hormônio da
mucosa duodenal e do jejuno proximal, se comporta como um agonista
fraco das células acinares pancreáticas. No entanto, aumenta o efeito da
colecistoquinina nesse nível.
A secretina é liberada pela chegada de ácido ao duodeno e
estimula as células epiteliais dos ductos pancreáticos, liberando o
componente aquoso rico em bicarbonato que se forma parte do suco
pancreático e contribuindo para a neutralização do pH.

Ativação de pró-enzimas pancreáticas no intestino delgado


Os ductos pancreáticos convergem em um ducto principal
que drena o pâncreas e atinge o duodeno ao longo do ducto biliar
comum. Nesta primeira seção do intestino, são derramadas as pró-
enzimas presentes no suco pancreático, em cuja ativação por proteólise
desempenha um papel iniciador para a enteropeptidase (anteriormente
chamada enterocinase). A enteropeptidase é liberada pelo epitélio
duodenal em resposta a uma ação parácrina do colecistoquinina.
A enteropeptidase cliva um oligopeptídeo de seis aminoácidos na
extremidade amino terminal do tripsinogênio, formando tripsina ativa.
A tripsina continua, por um lado, ativando sua própria formação por
autocatálise e, por outro, a de outras enzimas proteolíticas, clivando os
precursores enzimáticos correspondentes.
Assim, a quimotripsina é obtida a partir de quimotripsinogênio,
carboxipeptidases A e B de suas procarboxipeptidases e elastase de
proelastase. O processo de ativação dos precursores enzimáticos não
ocorre no próprio pâncreas porque, como mecanismo de proteção,
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 23

sintetiza um inibidor de tripsina. É um pequeno peptídeo que bloqueia


a ação de qualquer quantidade de tripsina liberada precipitadamente
nesse órgão ou no ducto pancreático e que pode iniciar sua digestão. Na
pancreatite aguda, os precursores enzimáticos são ativados no próprio
pâncreas e ocorre a necrose tecidual correspondente.

Peptidases dos microvilosidades intestinais


Na superfície luminal dos enterócitos existe uma grande presença
de peptidases que degradam oligopeptídeos derivados de proteínas da
dieta para liberar aminoácidos, dipeptídeos e tripeptídeos que já podem
ser absorvidos. Essas enzimas de borda em escova dos enterócitos são:
aminopeptidases, que liberam o aminoácido a partir da extremidade
amino terminal do oligopeptídeo; dipeptidases e tripeptidases, que
hidrolisam dipeptídeos e tripeptídeos; e dipeptidil aminopeptidases,
que liberam um dipeptídeo na extremidade amino terminal da cadeia
peptídica. Após digestão concertada por proteases do lúmen intestinal e
microvilosidades, os produtos correspondentes já são absorvíveis pela
célula intestinal.

Absorção intestinal de aminoácidos e


oligopeptidos
Etapas da absorção intestinal de produtos de
digestão de proteínas
Os produtos da digestão proteica são absorvidos no jejuno e,
principalmente, no íleo, embora a histidina seja absorvida adequadamente
no estômago por ter histidina descarboxilase nesse nível. Podem ser
distinguidos três estágios:
1. Absorção de aminoácidos, dipeptídeos e tripeptídeos.
2. Transformações intracelulares pelo metabolismo do nitrogênio
dos enterócitos.
3. Transporte de aminoácidos através da membrana basolateral.
24 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

Os enterócitos concentram ativamente os aminoácidos no interior,


de onde passam através da difusão facilitada através da membrana
até os capilares sanguíneos presentes no interior das vilosidades. O
movimento de entrada no enterócito é geralmente um transporte ativo,
contra gradiente de concentração, que não para de atrair atenção, visto
que os níveis de aminoácidos no plasma sanguíneo são geralmente
inferiores aos atingidos no lúmen intestinal.

Metabolismo de aminoácidos no enterócito


Os aminoácidos das proteínas da dieta não deixam o enterócito
inteiramente no sangue portal, pois servem em parte para sintetizar
proteínas ou metabolizar para produzir energia. Assim, cerca de 10% dos
aminoácidos absorvidos participam da renovação protéica relacionada
à rápida descamação do epitélio intestinal e sua substituição, além da
síntese de proteínas de secreção. Nesse sentido, a atrofia do epitélio
intestinal é notável em pacientes submetidos à nutrição parenteral.
Boa parte dos aminoácidos absorvidos passa por processos de
interconversão no enterócito, de modo que diferentes formas moleculares
atingem a circulação entero-hepática. É o caso da glutamina, da dieta e
do plasma, que produz nitrogênio amida para uso na síntese de bases
puricas. Por outro lado, o glutamato e o aspartato passam principalmente
por um processo de transaminação com piruvato, de modo que a alanina
é o aminoácido que passa para o sangue portal. De fato, como esses
dois aminoácidos dicarboxílicos atuam como neurotransmissores, eles
podem ser tóxicos para o cérebro se deixarem o intestino na corrente
sanguínea em quantidades significativas, porque são mal capturados
pelo fígado.

Fermentação de proteínas no cólon


A eficiência da digestão e absorção de proteínas é muito alta e
94% pode ser alcançada. De fato, apenas alguns gramas de proteína
são eliminados diariamente pelas fezes, com base em sua qualidade
biológica e nas alterações que os alimentos podem ter sofrido nos
processos tecnológicos aos quais foram submetidos.
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 25

Atingem o cólon humano da ordem de 5 a 20 g por dia de proteínas


que têm origem nos alimentos (1 a 12 g) e nas secreções pancreáticas
e gastrointestinais (4-8 g). A flora intestinal presente ali realiza a
fermentação de boa parte delas, causando produtos como: gases (H2,
CO2) que são eliminados no ar expirado e como flatulência; NH3, aminas
e fenóis que passam para o ambiente interno ou são eliminados na urina
e nas fezes; ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato, butirato),
que são incorporados ao ambiente interno ou removidos pelas fezes; ou
ácidos graxos ramificados, que são absorvidos pelo ambiente interno.

Enzimas
Importância das enzimas
A maioria das reações químicas que ocorrem no nosso corpo está
interligada funcionalmente, para que constituam um sistema ordenado,
intrínseco à matéria viva. Se essas reações fossem realizadas no tubo de
ensaio, grande parte delas precisaria de condições de pH e temperatura
muito distantes das fisiológicas, para que não pudessem ser realizadas a
menos que tivessem catalisadores específicos, as enzimas. Embora até
recentemente se considerasse que todas as enzimas eram de natureza
proteica e, na verdade, são na maioria dos casos, observou-se que
elas também são de outra natureza, como vários RNAs ou ribozimas,
que possuem funções catalíticas e, portanto, também devem ser
consideradas enzimas.
As enzimas controlam a natureza e a velocidade das reações, e
intervêm tanto em processos espontâneos (exergônico) como em não
espontâneos (endergônico). Por sua vez, o acoplamento das diferentes
reações enzimáticas permite ao organismo alcançar uma composição
constante, apesar de sua transformação contínua; isto é, o estado
estacionário.
26 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

Terminologia e definições
As enzimas catalisam a conversão de um ou mais compostos
(substratos) em um ou mais produtos. As enzimas não modificam
a constante de equilíbrio ou as características termodinâmicas das
reações, mas fazem com que a reação se aproxime do equilíbrio mais
rapidamente. Ou seja, eles afetam bastante a velocidade da reação,
que pode atingir aumentos na presença de enzimas de até 106 ou
até mais. Por sua vez, como outros catalisadores, as enzimas não são
consumidas ou alteradas como resultado de sua participação em uma
reação. No entanto, diferentemente dos catalisadores inorgânicos, as
enzimas são muito específicas, tanto em termos do tipo de reação que
catalisam quanto da natureza do substrato ou substratos em que atuam.
Além disso, diferentemente dos catalisadores inorgânicos, as enzimas
podem ser reguladas, além de alcançar um estado estável em relação
às mudanças que ocorrem em seu ambiente, devem conservar energia
e seus componentes essencial.
Para realizar sua ação catalítica, a enzima precisa interagir com
o substrato, para que se ligue temporariamente à enzima no chamado
local de ligação ao substrato, que é composto de alguns aminoácidos
da enzima. Assim, é alcançada a abordagem física do substrato para
os aminoácidos da enzima envolvida no processo catalítico, que são
encontrados no chamado local catalítico. Todo o local de ligação ao
substrato e o local catalítico da enzima constituem o local ativo.
A apoenzima corresponde apenas à parte protéica da enzima.
Para desempenhar sua função catalítica, a enzima normalmente precisa
de outros grupos ou componentes não proteicos, de modo que a
apoenzima sozinha normalmente não possui atividade. Entre incluem as
seguintes partes:
Grupos protéticos: são componentes não proteicos que estão
fortemente ligados à apoenzima, como íons metálicos. A associação do
grupo protético à apoenzima resulta na chamada holoenzima, que nada
mais é do que a enzima ativa. De fato, geralmente, quando se fala de
uma enzima, é feita referência à holoenzima, sem indicação da natureza
do seu grupo protético.
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 27

Cofatores: são componentes orgânicos ou inorgânicos que se


ligam à enzima apenas temporariamente e eles também incluem íons
metálicos. Coenzimas, de natureza orgânica; sua presença no ambiente
de reação é necessária para a enzima possa ter atividade catalítica.
Existem também enzimas que possuem um local diferente do ativo,
o chamado sítio alostérico, onde pequenas moléculas se ligam, efetores
alostéricos, que modificam a configuração espacial da enzima, alterando
sua eficácia catalítica (ativando ou inibindo). Essas enzimas são as chamadas
enzimas alostéricas, que têm características estruturais e funcionais muito
particulares, e desempenham um papel essencial no controle do metabolismo.

Mecanismo geral de catálise


A eficácia catalítica das enzimas depende tanto da capacidade
de se ligar especificamente ao substrato quanto da presença de grupos
catalíticos no local ativo. Em qualquer reação química, mesmo na ausência
de um catalisador inorgânico ou uma enzima, um composto deve atingir
uma configuração de energia desfavorável a ser transformada.
Isso significa que um composto com um certo nível de energia
(estado inicial) deve atingir um nível de energia mais alto (estado
intermediário ou de transição) para ser transformado em um produto,
com um nível de energia final (estado final), que normalmente é menor
que o inicial. A formação do estado intermediário representa uma barreira
energética (energia de ativação), que deve ser fornecida pelo ambiente
para que a reação ocorra. Na prática, a energia de ativação de reações
químicas comuns é obtida através de uma variação da temperatura,
mudanças no pH ou outras mudanças físicas.
Os catalisadores conseguem diminuir a energia de ativação
necessária para que uma reação química passe; isto é, eles fornecem
uma rota de reação alternativa, que requer menos energia. Dessa
forma, um catalisador consegue reduzir a energia do estado transição
sem alterar a mudança de energia da reação. No caso de catalisadores
inorgânicos, é necessária uma entrada de energia normalmente na
forma de calor para que a reação ocorra. Além disso, a maioria desses
catalisadores é inespecífica e acelera uma ampla variedade de reações.
28 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

Grupos prótese, cofatores e coenzimas


Muitas enzimas catalisam apenas a transformação do substrato
na presença de um cofator não proteico, que participa diretamente
na ligação do substrato ou na catálise. Esses cofatores são grupos
protéticos, cofatores e coenzimas, que estendem as capacidades
catalíticas das enzimas sobre o número limitado de grupos funcionais
presentes nas cadeias laterais dos aminoácidos.

Grupos protéticos
Os grupos protéticos são caracterizados por estar intimamente
associado à estrutura proteica das enzimas por junções covalentes ou
não covalentes. Entre eles estão íons metálicos e compostos orgânicos,
com fosfato de piridoxal, mononucleotídeo de flavina (FMN), flavina
dinucleotídeo de adenina (FAD), pirofosfato de tiamina e biotina, que
são consideradas coenzimas, que serão apresentadas no terceiro tópico
dessa unidade.
Os metais de transição (por exemplo, Fe2+, Cu2, Zn2+) são aqueles
que geralmente participam da catálise enzimática, graças às suas
estruturas eletrônicas. Existem íons metálicos que participam de reações
de redução de óxido e normalmente estão associados a outros grupos
protéticos, como hemoglobina heme ou complexos ferro-enxofre que
participam da cadeia respiratória. Os íons metálicos fornecem ao sistema
um grande número de cargas positivas, que são especialmente úteis
para a união de pequenas moléculas, sendo bons aceitadores de pares
eletrônicos e agindo como compostos eletrolíticos eficazes.
Por sua vez, graças às suas valências, esses íons metálicos podem
interagir com dois ou mais ligantes, ajudando o substrato a se orientar
no local ativo da enzima, estimulando a catálise. Além disso, como os
metais de transição têm dois ou mais estados de valência, eles podem
atuar como mediadores nas reações de redução da oxidação.
Um exemplo de como um íon metálico atua como cofator em uma
reação enzimática é encontrado na anidrase carbônica, que depende do
Zn2+ e catalisa a reação a seguir
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 29

Co-fatores e vitaminas hidrossoluveis


Para realizar sua ação catalítica, muitas enzimas precisam de
moléculas de natureza orgânica e baixo peso molecular, chamadas
coenzimas. Sua participação no processo catalítico pode ser realizada de
duas maneiras diferentes: primeiro, a coenzima tem uma afinidade com
a enzima semelhante à do substrato e, de fato, pode ser considerado
um segundo substrato da reação; e segundo, a coenzima está ligada
covalentemente ao local ativo da enzima, ou em um local próximo a ela,
participando ativamente do processo catalítico. Há também casos em
que a coenzima desempenha um papel intermediário entre esses dois
extremos.
Quando a coenzima atua como um co-substrato, as alterações
que ocorrem em sua estrutura no decorrer da reação são opostas às
que ocorrem no substrato, para que o processo possa ser generalizado
da seguinte forma:

Onde o composto DG seria o substrato, que atuaria como uma


molécula doadora (D) do grupo (G), que é transferida para a coenzima
(CoE), e o produto da reação seria a molécula D. Um exemplo desse tipo de
O desempenho é o da lactato desidrogenase, que catalisa a oxidação do
lactato em piruvato usando como coenzima NAD+, que na reação é reduzida:

Também existem situações em que a coenzima participa como


transportador intermediário em um sistema de reação, facilitando a
transferência do grupo correspondente para um aceitador final. Um
exemplo dessas reações é o catalisado pelas transaminases, nas quais
o fosfato piridoxal (coenzima) participa da transferência do grupo amino
de um aminoácido para um a-cetoácido para dar origem ao aminoácido
do alfa-cetoácido e do alfa-cetoácido do aminoácido.
30 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

A maioria das coenzimas é derivada de vitaminas, que são


compostos orgânicos necessários em pequenas quantidades para
uma ampla variedade de processos bioquímicos e que geralmente não
podem ser sintetizados pelo organismo, portanto são obtidaspela dieta.
A tabela 1 apresenta uma lista de vitaminas, com indicação de
suas funções, doença desencadeada em situações de deficiência, forma
coenzimática e reações ou processos metabólicos dos quais participam.

Tabela 1: vitaminas, funções e formas das coenzimas

Vitamina Funções e lugares Doenças pela Forma co-en- Reação/processo


aonde participa deficiência zimática e ativa que participa

Piruvato-y Dano neuronal Descar-


α-cetoglutarato periférico boxilações
deshidrogenase, (beribéri) ou Tiamina piro- e trans-
Tiamina(B1) transcetolase, lesões no sistema fosfato ferência de
e regula canais nervoso central grupos
Cl- na transmissão (síndrome aldeído
Wernicke-
nervosa. Korssakoff)

Reações Lesões no canto


de oxido da boca e nos
redução; lábios. Dermatites FAD Sistemas redox
Riboflavina(B2) grupo seborreica e FMN
prostético de flovo-
proteínas
Metabolismo Transferência
de aminoácidos Alterações Piridoxal de grupos
e glicogênio; no metabolismo fosfato amino,
Piridoxina(B6) modula a ação dos aminoácidos. cofator da
dos hormônios glicogênio
esteroides Convulsões fosforilase

Reações de oxido Pelagra. Dermatite


Ácido Nicotínico redução, regulação fotossensível. Psi-
(niacina) intracelular d cálcio coses depressiva NAD e NADP Sistemas redox
e sinalização celular
Síntese e metabo- Dano no sistema
Ácido pantatênico lismo dos ácidos nervoso periférico Coenzima A Transferência de
graxos (síndrome do pe grupos acilo
ardente)
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 31

Reações de gli- Alteração no


cogêneses metabolismo de
Biotina e lipogêneses; hidrocarbonetos e Biocitina Carboxilações
regulação do lipídios. Dermatite
ciclo celular
Transferência de Anemia mega- Ácido tetrahidro- Transferencia de
Ácido Fólico fragmentos de um loblástica folico grupos de um
carbono carbono

Metabolismo dos carboidratos


Metabolismo dos carboidratos
A homeostase glicídica no corpo é mantida à custa de três
principais vias metabólicas: glicólise, que consiste no uso de glicose
pelos tecidos; gluconeogênese(síntese); e metabolismo do glicogênio,
responsável pelo acúmulo de glicose e sua liberação. A glicólise e o
ciclo do ácido cítrico serão descritos nesta unidade. As demais reações
metabólicas e dos demais macronutrientes serão tratadas na unidade 4.
As necessidades de glicose variam de um tecido para outro.
Existem alguns, como tecido nervoso, nos quais a glicose é o substrato
majoritário, e outros, como os eritrócitos, nos quais é absolutamente
essencial. A glicólise inclui essencialmente reações de transformação
da glicose à formação de piruvato, que ocorrem no citoplasma
celular. O destino metabólico desse piruvato é variável e depende da
disponibilidade de oxigênio, que também determina a atividade da via
e até seu objetivo metabólico. De fato, considera-se que, precisamente
de acordo com essa disponibilidade de oxigênio e o funcionamento da
cadeia respiratória, a glicólise pode ser anaeróbica ou aeróbica.
No caso dos eritrócitos, a glicólise é anaeróbica, pois carecem de
mitocôndrias, e o piruvato formado como produto final da via deve ser
reduzido a lactato, para sair da célula. No entanto, para obter a oxidação
completa da glicose até a formação de CO2 e H2O, é necessário oxigênio
(glicólise aeróbica) e o piruvato formado na glicólise deve entrar nas
mitocôndrias e ser metabolizado através da oxidação pelo complexo
enzimatico da piruvato desidrogenase e do ciclo do ácido cítrico.
32 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

A glicólise não é apenas a principal via do metabolismo da glicose,


mas também de outros carboidratos derivados da dieta, como frutose e
galactose. Por sua vez, a glicólise anaeróbica adquire uma relevância
especial como contribuição do ATP em certos tecidos e, principalmente,
no músculo esquelético, que pode continuar exercendo sua atividade
mesmo em situações de escassez de oxigênio. Entretanto, esse não é
o caso do músculo cardíaco, que requer continuamente um suprimento
adequado de oxigênio, e sua atividade glicolítica, além de aeróbica, é
realizada com baixa atividade.
Ao contrário - embora não inversa - da glicólise, é realizada
a gliconeogênese, que por definição é a síntese de glicose a partir
de precursores não glicídicos. Se a gliconeogênese é considerada
como a síntese de glicose a partir do piruvato, sua primeira reação é
intramitocondrial, enquanto o restante do caminho ocorre no citoplasma.
No citoplasma, a gliconeogênese compartilha algumas reações com as
da glicólise, embora também tenha reações específicas que ocorrem
quando uma dessas vias é ativada e a outra é inibida, e vice-versa.
Diferentemente da glicólise que ocorre em todos os tecidos, a
gliconeogênese ocorre quase que exclusivamente no fígado e no córtex
renal. A gliconeogênese é essencial no suprimento de glicose quando
o corpo não possui carboidratos suficientes derivados da dieta ou das
reservas de glicogênio. De fato, a incapacidade de realizar gliconeogênese
é letal, pois tecidos que dependem da chegada contínua de glicose,
como é o caso do tecido nervoso e dos eritrócitos, eles respondem
drasticamente à deficiência de glicose. De fato, hipoglicemia produz
um distúrbio cerebral, que pode levar ao coma e terminar com a morte
do paciente. Por outro lado, a gliconeogênese permite a eliminação do
lactato derivado da atividade glicolítica dos músculos e eritrócitos, do
glicerol derivado da lipólise do tecido adiposo.
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 33

Glicólise
Glicólise é o conjunto de reações que transformam glicose em
piruvato, que ocorrem no citoplasma. O primeiro passo dessa via requer
a captação de glicose da circulação para o interior da célula. Esse
processo é realizado em favor do gradiente de concentração e através
de transportadores chamados GLUT, que são bidirecionais. Até agora, um
total de 14 GLUTs foram descritos, que diferem em suas características
estruturais, funcionais e cinéticas. Na tabela 2. a localização e a função
dos GLUTs mais importantes estão resumidas. Alguns tecidos, como
o fígado e as células beta pancreáticas, possuem GLUT-2 e a entrada
de glicose depende apenas do gradiente de concentração. Em outros
tecidos, como músculo esquelético, coração e tecido adiposo, que têm
GLUT-4, a captação de glicose depende da insulina.

Tabela 2- Características dos principais transportadores de glicose

Nome Distribuição Funções


Eritrócitos, barreira hema- Responsável pela captação basal
GLUT 1 toencefálica, cólon,placenta, de glicose em todas as células.
tecidos fetais
Células tubulares do rim, células Transportador bidirecional para
GLUT 2 epiteliais do intestino, células rápida coleta e coleta. No intesti-
beta beta pancreáticas, fígado no, transporta glicose, galactose
e frutose
Transportador de alta afinidade
GLUT 3 Neurônios, placenta, rim por glicose, mesmo quando suas
concentrações são baixas
GLUT 4 Tecido adiposo, músculos Regulado pela insulina,
esqueléticos e cardíacos responsável pela captação de
glicose estimulada por insulina
Intestino delgado, testículos, rim, Absorção intestinal de glicose
GLUT 5 músculo esquelético, e frutose

cérebro

Dependente de íons sódio. Trans-


portador unidirecional
SGLT 1 Intestino delgado e rim glicose ativa (dependente de
ATP), o que facilita
seu transporte contra gradiente
de concentração
34 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

Figura 2: Cascata metabólica da glicólise


Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 35

A Figura 2 mostra a ação das enzimas que participam da


glicólise. Uma vez que a glicose está dentro da célula, o primeiro
passo é a fosforilação às custas do ATP, em uma reação catalisada
pela hexoquinase, com a formação de glicose 6-fosfato. A hexoquinase
possui uma alta afinidade pela glicose, transformando rapidamente a
glicose em glicose-6-fosfato, facilitada a manutenção do gradiente de
glicose no interior da célula.
No caso do fígado, em condições normais, a hexoquinase se
encontra saturada pela glicose, de modo que a enzima atua a uma
taxa constante na formação de glicose 6-fosfato. As células hepáticas
também dispõem da glucocinase, que é uma isoenzima da hexoquinase
com baixa afinidade do que as concentrações intracelulares de glicose.
Precisamente por esse motivo, o fígado captura a glicose da circulação
quando seus níveis aumentam um pouco, como ocorre após as
refeições, facilitando a formação de glicose 6-fosfato, mesmo que as
necessidades de glicólise sejam excedidas. De fato, o glicose 6-fosfato
é um metabólito intermediário de diferentes vias metabólicas, uma vez
que, além da glicólise, também participa da gliconogênese, síntese e
degradação do glicogênio (glicogênio e glicogenólise, respectivamente)
e a via de Pentose fosfato.
Na glicólise, a glicose- 6-fosfato é transformada em frutose-
6-fosfato por meio da fosfohexose isomerase, implicando na
isomerização da aldose-cetose, que funciona de forma reversível. A
próxima reação da glicólise é praticamente irreversível e é catalisada
pela fosfofructoquinase-1. Nesta reação, 1,6-bifosfato de frutose é
formada. Essa enzima é induzível e suscetível ao controle alostérico, de
modo que desempenha um papel importante na regulação global da
glicólise, como será descrito mais adiante. Através da ação da frutose
1,6-bifosfato aldolase, a frutose 1,6-bifosfato é clivada em duas trioses
fosforiladas, gliceraldeído 3-fosfato e di-hidroxiacetona fosfato. Essas
duas trioses fosforilados são interconversíveis pela ação catalítica da
fosfotriase isomerase, embora a glicólise continue no nível do fosfato
de gliceraldeído 3. Este composto é oxidado e fosforilado usando NAD+
e fosfato inorgânico (Pi) pela gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase
(G3PDH), formando 1,3-bisfosfoglicerato.
36 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

G3PDH é um tetrâmero com grupos –SH inibidos pelo iodoacetato,


que se liga a –SH, inibindo assim a glicólise. O 1,3-bisfosfoglicerato
contém uma ligação rica em energia que, quando liberada na próxima
reação, catalisada pela fosfoglicerato quinase, é usada para a fosforilação
de um ADP que forma ATP no nível do substrato e o 3-fosfoglicerato.
Nesta reação, o arseniato pode exercer uma ação tóxica, pois compete
com o fosfato inorgânico formando 1-arsênico 3-fosfoglicerato, que
hidrolisa espontaneamente em 3-fosfoglicerato, sem formação de ATP.
Através de uma fosfoglicerato mutase, o 3-fosfoglicerato
é isomerizado em 2-fosfoglicerato. Na próxima reação, catalisada
pela enolase, o 2-fosfoglicerato é desidratado, dando origem ao
fosfoenolpiruvato, que contém uma ligação rica em energia. A enolase
é inibida pelo fluoreto, e essa propriedade é usada para inibir a glicólise
nos eritrócitos quando o sangue é coletado para análise em laboratório.
Deve-se notar também que as reações de glicólise da clivagem do
1,6-bifosfato de frutose nas duas s trioses fosforiladas a essa reação
catalisada pela enolase são reversíveis e recebem a designação genérica
de reações reversíveis do triosefosfato. A última reação da glicólise é
praticamente irreversível e é catalisada pela piruvato-quinase. Nele, o
fosfoenolpiruvato produz seu fosfato para um ADP, que é transformado
em ATP em outra fosforilação no nível do substrato, dando origem ao
piruvato com configuração de enol, que se transforma espontaneamente
em sua configuração de cetona.

Destinos de piruvato
Quando não há chance de o piruvato entrar nas mitocôndrias para
oxidação, como eritrócitos ou falta de oxigênio (anaerobiose), o NADH
+ H+ formado na glicólise não pode ser reoxidado através da cadeia
respiratória. Sob essas condições, o piruvato é diretamente reduzido ao
lactato às custas de NADH + H+ no próprio citosol, pela ação catalítica
da lactato desidrogenase (fig. 2). Dessa maneira, a reoxidação efetiva do
NADH+ H+ permite que a glicólise continue a funcionar de maneira muito
eficaz às custas do NAD+ formado.
A formação de lactato através da glicólise anaeróbica adquire
especial relevância no músculo esquelético, onde as necessidades de
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 37

ATP podem ser maiores que as quantidades que podem ser formadas
pela disponibilidade de oxigênio para a cadeia respiratória e pela
fosforilação oxidativa. Existem situações em que o lactato formado no
citoplasma entra diretamente nas mitocôndrias, onde é oxidado ao
piruvato também pela lactato desidrogenase. Esse processo assume
uma forma de entrada do potencial de redução do citosol na mitocôndria
para uso posterior pela cadeia respiratória, semelhante aos lançamentos
de fosfato de glicerol e malato
Existem também outros tecidos, como tecido nervoso, trato
gastrointestinal, retina, medula renal e pele, que dependem da atividade
glicolítica como principal fonte de energia e, portanto, também formam
lactato. No entanto, em outros tecidos, como fígado, rim e coração,
que capturam lactato da circulação, em condições aeróbicas, eles o
oxidam em piruvato, que pode ser completamente oxidado dentro das
mitocôndrias para a formação de acetil CoA e sua entrada no ciclo do
ácido cítrico. O ciclo do ácido cítrico será apresentado no último tópico
dessa unidade
Sob condições anaeróbicas, a estequiometria da glicólise até a
formação de L-lactato é a seguinte:
Glicose + 2ATP+NAD++ 2Pi + 4ADP+2NADH+2H+
2 Lactato + 2ADP+2NADH+2H++4ATP +2NAD++2H2O
Simplificando a reação se apresenta da seguinte forma:
Glicose + 2Pi + 2ADP →- 2 Lactato +2ATP +2H2O
Consequentemente, o rendimento total da glicólise anaeróbica é
2ATP, uma vez que dois dos quatro ATP gerados em sua última fase são
usados para atender ao gasto inicial de dois ATP em reações catalisadas
pela hexoquinase e fosfofructoquinase-1.
No caso da glicólise aeróbica, sua estequiometria geral é:
Glicose + 2Pi + 2ADP+2NAD+ - 2 Piruvato + 2ATP +2NADH+2H+
+2H2O

Assim, como na glicólise anaeróbica, são geradas duas moléculas


de ATP, mas, neste caso, também são geradas duas moléculas de NADH
+ H+ e duas de piruvato. Através do transporte de malato-aspartato,
esses dois NADH + H+ podem transferir seus elétrons para a cadeia
38 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

respiratória, que através do seu acoplamento à fosforilação oxidativa


originam aproximadamente 2 × 3 ATP nas mitocôndrias.
A partir da oxidação de cada molécula de piruvato intramitocondrial,
é gerado um NADH + H+, que pode fornecer outros três ATP, além de
um acetil-CoA, que através do ciclo do ácido cítrico pode gerar 12
ATP. Assim, o desempenho geral da glicólise aeróbia, considerando
a oxidação completa de uma molécula de glicose em CO2 e água, e
levando em consideração que para cada NADH + H+ oxidado na cadeia
respiratória e seu acoplamento à fosforilação aproximadamente três
ATPs são formados, é o seguinte:

Ciclo do ácido cítrico ou ciclo de krebs


O piruvato obtido da glicose origina o radical acetil presente
na acetil-CoA mitocondrial. Além da glicose, vários aminoácidos
produzem piruvato e portanto, acetil coA ao serem degradados.
Outros aminoácidos e ácidos graxos obtém acetil coA sem a formação
intermediária de piruvato. A acetil CoA é o ponto de convergência do
metabolismo degradativo de carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos.
Completando o catabolismo (hidrolise ou quebra) destes compostos a
acetil CoA qualquer seja sua origem será totalmente oxidada a CO2 pelo
ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico com concomitante produção de
coezimas reduzidas. Paralelo a essa oxidação, o ciclo de Krebs produz
um grande número de compostos utilizados como precursores para
biossínteses (Marzzoco & Torres; 2012).
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 39

Figura 3: Esquema do ciclo de Krebs

O conjunto de reações que participam diretamente do ciclo é


mostrado na figura 3, com indicação de enzimas, coenzimas e nome dos
ácidos que participam dele.
No início do ciclo ocorre a condensação de acetil CoA e
oxaloacetato, formando citrato, uma reação catalisada pela citrato
sintase. O citrato é isomerizado a isocitrato, por ação da aconitase, com
a formação intermediaria de cis aconitato. A isocitrato desidrogenase
promove a oxidação de isocitrato a alfa cetoglutarato, com a redução
de NAD+ e liberação de CO2. O alfa cetoglutarato é então transformado
a succinil-CoA, reação catalisada pelo complexo alfa cetoglutarato
desidrogenase. O complexo alfa cetoglutarato desidrogenase é um
complexo enzimático com mecanismo na reação semelhante ao
40 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

complexo piruvato desidrogenase. Trata-se em ambos os casos,


da descarboxilaçao oxidativa de um alfa cetoácido (pirutato ou alfa
cetoglutarato) com redução de NAD+ e ligação do radical remanescente
a coenzima A, com a participação de TPP, ácido lipóico e FAD; esta
reação, portanto, também libera CO2 e reduz NAD+.
Nos rins e fígado, dois tecidos onde ocorre a gliconeogênese,
existem duas isozimas da succinato tioquinase, uma que utiliza ADP e a
outra que utiliza GDP (guanosina difosfato) na síntese de GTP, que, pela
ação de um nucleosídeo difosfato A quinase pode transferir seu terceiro
grupo fosfórico para o ADP, com formação de ATP. A enzima succinil-
CoA sintetase catalisa a transformação de succinil-CoA a succinato,
em uma reação que forma GTP (guanosina trifosfato), a partir de GDP
(guanosina difosfato) e fosfato (Pi). O GTP tem o mesmo nível energético
do ATP, assim, a formação de GTP equivale a formação de ATP: o GTP
pode transferir um grupo fosfato ao ADP, produzindo ATP e regenerando
GDP, por ação da nucleosidio difosfato quinase.
Nestes dois tecidos, a reação catalisada pela succinato tioquinase
envolve uma interação entre o ciclo do ácido cítrico e o uso de
oxaloacetato para a gliconeogênese. No restante dos tecidos, a única
isoenzima da succinato tioquinase depende da ADP.
Na próxima reação, o succinato é desidrogenado pela succinato
desidrogenase com a formação de fumarato. Essa enzima é encontrada
na membrana interna das mitocôndrias e contém FAD e o complexo
proteico com centro de ferro e enxofre (Fe: S). Na reação, forma-se o
FADH2, que é usado diretamente na redução da ubiquinona na cadeia
respiratória. A succinato desidrogenase é inibida competitivamente pelo
malonato, cuja estrutura é semelhante à do succinato. O fumarato é
hidratado pela ação do fumarato, resultando na formação de malato,
que, pela ação da malato desidrogenase, perde dois prótons para
a redução de uma molécula NAD+ e oxaloacetato. O equilíbrio dessa
reação catalisada pela malato desidrogenase favorece a formação de
malato, mas é normalmente deslocada para a direita devido à perda de
oxaloacetato pela gliconeogênese nos tecidos gliconeogênicos ou sua
transformação em aspartato por transaminação e reoxidação do NADH +
H+ através da cadeia respiratória. A maior parte das reações do ciclo de
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 41

Krebs é reversível. O ciclo de Krebs depende da cadeia de transporte de


elétrons para reoxidaçao de oxidação.
42 Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição

BIBLIOGRAFIA
 SHILS, ME. et al. Nutrição Moderna na saúde e na doença. 10ª
edição. 2009.

KRAUSE, MV, MAHAN L. Alimentos, nutrição e dietoterapia. Roca,


12ª edição. 2010.

 MARZZOCO A, TORRES BB. Bioquímica Básica, Rio de Janeiro,


RJ: Guanabara Koohan,p.3-10, 1999.
Bioquímica Humana Aplicada à Nutrição 43

Bioquímica Humana
Aplicada à Nutrição
Prof.ª M.ª Jordanna Santos Monteiro

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