Daniela C
Daniela C
Daniela C
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Mestrado
Área de Concentração: Psicologia Aplicada
UBERLÂNDIA
2008
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UBERLÂNDIA
2008
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
CDU: 159.964.2
Membros:
__________________________________________________________
Prof.ª Dra. Ana Beatriz Freire – UFRJ
___________________________________________________________
Prof.ª Dra. Anamaria Silva Neves – UFU
___________________________________________________________
Prof.ª Dra. Neiry Primo Alessi – USP/RP
AGRADECIMENTOS
À minha família, em especial aos meus Pais, por se dedicarem tanto, vocês me fazem
ser uma pessoa melhor, muito obrigada pelo amor, carinho e apoio de sempre.
Ao prefeito Marcos e toda a sua equipe Elisa, Ivana, Dr. João, Cínthia, Tiziane, Sueli,
Ao professor João Luiz, mestre e amigo, pelo voto de confiança, apoio e carinho
dedicado.
SUMÁRIO
Resumo....................................................................................................................................viii
Abstract......................................................................................................................................ix
CAPÍTULO I...........................................................................................................................01
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................03
1.1 A Questão da Saúde Mental Infantil..............................................................................07
1.2 Transtornos que Acometem o Desenvolvimento Infantil..............................................11
1.3 Estudo de Sinais Indicadores de Sofrimento Psíquico na Primeira Infância.................15
1.4 Identificação e Intervenção Precoces.............................................................................26
1.5 Técnica de Observação da Relação Mãe-Bebê-Família e o Processo de Intervenção
Conjunta Pais-Filhos............................................................................................................28
CAPÍTULO II.........................................................................................................................39
2. OBJETIVOS.........................................................................................................................41
2.1 Objetivo Geral................................................................................................................41
2.2 Objetivos específicos......................................................................................................41
CAPÍTULO III........................................................................................................................43
3. METODOLOGIA.................................................................................................................45
3.1 A Investigação Psicanalítica...........................................................................................48
3.2 Pirajuba: a Cidade..........................................................................................................51
3.3 A Pesquisa......................................................................................................................55
3.3.1 A Prospecção: o processo de identificação precoce..............................................56
3.3.2 O Processo de Intervenção.....................................................................................68
CAPÍTULO IV........................................................................................................................77
4. RESULTADOS.....................................................................................................................79
4.1 Análise dos Resultados...................................................................................................79
4.2 Algumas Considerações.................................................................................................87
4.3 Os Sujeitos da Pesquisa..................................................................................................88
4.4 Apresentação dos Casos Selecionados...........................................................................89
vii
CAPÍTULO V........................................................................................................................125
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................127
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................133
ANEXOS................................................................................................................................139
viii
RESUMO
O presente trabalho é fruto de uma pesquisa que teve como objetivo propor uma
estratégia de ação em Saúde Mental para a primeira infância, a partir do dimensionamento da
relevância do trabalho de identificação e intervenção precoces de sinais de risco de sofrimento
psíquico entre crianças de zero a três anos. Para realizarmos essa Prospecção, utilizamos um
instrumento denominado “Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento Infantil” e
contamos com o apoio da equipe do Programa Saúde da Família do município de Pirajuba-
MG, com população total de aproximadamente 3.000 habitantes. A aplicação do Instrumento
foi realizada junto aos pais/responsáveis das 136 crianças, que correspondem a 4,53% da
população geral, independentemente do estado geral de saúde das mesmas. Após a aplicação e
análise do instrumento, podemos destacar que cerca de 14,7% das crianças apresentavam
algum sinal de risco de sofrimento psíquico, sendo necessário o encaminhamento das mesmas
aos atendimentos pertinentes. Esse mapeamento nos permite reafirmar a necessidade de
diretrizes que priorizem a Saúde Mental Infantil, frente à prevalência cada vez maior e mais
precoce de sofrimento psíquico na infância. Engajados com a questão da saúde e
reconhecendo a urgência e necessidade de criarmos estratégias e dispositivos de
acompanhamento e acolhimento, criamos uma rede de suporte e sustentabilidade, a partir de
recursos inerentes a cada situação. Essa rede foi tecida e estruturada a partir de três
direcionamentos: a) a desconstrução da função reparadora; b) o enfoque na “clínica” do laço
pais/criança; c) o reconhecimento da criança como sujeito. Dessa forma, desenvolvemos um
trabalho de acompanhamento junto a quatro crianças que apresentavam sinais indicadores de
risco de sofrimento psíquico utilizando da técnica de Intervenção Conjunta Pais-Filhos e do
método psicanalítico-interpretativo. Partindo dessa experiência, visamos suscitar
questionamentos e discussões sobre como enfrentar a questão do sofrimento psíquico de
primeira infância, estabelecendo reflexões sobre as possíveis inter-relações entre a Psicanálise
e Saúde Pública.
ABSTRACT
The present work is fruit of a research that had as objective to propose an action
strategy in Mental Health for the first childhood, starting from the dimension of the relevance
of the identification work and precocious intervention of signs of risk of psychic suffering
among children range zero to three years old. In order to accomplish that search, we used an
instrument denominated "Record of Attendance of the Infantile Development" and we
counted with the support from the team of the ‘Health Family Program’ of the municipal
district of Pirajuba-MG, with total population of approximately 3.000 inhabitants. The
application of the Instrument was accomplished the 136 children' s parents/responsible, that
correspond to 4,53% of the general population, close to independently of the general state of
health of the same ones. After the application and analysis of the instrument, we can detach
that about 14,7% of the children presented some sign of risk of psychic suffering, being
necessary the direction of the same ones to the pertinent services. That mapping allows us
reaffirming the need of guidelines that you/they prioritize the Infantile Mental Health, front to
the prevalence every larger and more precocious of psychic suffering in the childhood.
Engaged with the subject of the health and recognizing the urgency and need of creating
strategies and attendance devices and reception, we formed a support net and sustainability,
starting from inherent resources to each situation. That net was woven and structured starting
from three directions: the) the deconstruction of the reparative logic; b) the focus in the
"clinic" of the bow parents/child; c) the child' s recognition as subject. In that way, we
developed an attendance work close to four children that presented indicative signs of risk of
psychic suffering using of the technique of Intervention United Parent-children and of the
psychoanalytic-interpretative method. Leaving of that experience, we sought to raise
questions and discussions on how to face the subject of the psychic suffering of first
childhood, establishing reflections about the possible interrelations between the
Psychoanalysis and Public Health.
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO
semelhante.
(OMS, 2001), os transtornos mentais são comuns durante a infância e a adolescência, porém a
O Diretor Geral de Saúde dos Estados Unidos (DHHS, 2001) afirmou que o país está
passando por uma crise na saúde mental dos lactentes, crianças e adolescentes. Segundo tal
relatório, embora uma de cada dez crianças sofra doença mental suficientemente grave para
causar certo nível de prejuízo, menos de uma em cinco recebe o tratamento necessário.
A situação não é diferente, podendo ser até menos satisfatória, nos países em
psíquico grave, quando existente, segue, em sua maioria, um modelo farmacoterápico, por
conduta de internação nem sempre se faz necessária (Carvalho, 1995 apud Paravidini, 2002).
4
Para Paravidini (2002) essas condições parecem refletir a visão adultomórfica que
ainda vigora nas práticas institucionais públicas com crianças em estado de sofrimento
psíquico, a despeito das significativas mudanças que vêm ocorrendo, nos últimos 20 anos,
frente aos novos programas de atendimento a pacientes adultos com quadros mentais graves e
No campo das políticas públicas de saúde, encontramos situação semelhante, uma vez
complexidade dos problemas da infância, como se vê nos seguintes relatórios: Relatório Final
Mental (1992); Relatório Final da III Conferência Nacional de Saúde Mental (2001);
eficazes e diretrizes que priorizem a Saúde Mental Infantil, frente à prevalência cada vez
necessidade dessas crianças, faz-se urgente levar a cabo pesquisas que identifiquem a
De acordo com Paravidini (2002), essa proposição esbarra na dificuldade que permeia
plano diagnóstico e terapêutico, ainda nos deparamos com situações na prática clínica em que
evita-se diagnosticar uma criança como autista, psicótica ou depressiva, seja por uma questão
de cuidado em não rotular o ser infantil, seja pela insuficiência de meios técnicos
situações podem estar respondendo a uma atitude de não reconhecer o sofrimento mental
infantil como um problema científico e social que merece intervenções próprias e diferenciais,
Para o referido autor, essas crianças, freqüentemente, acabam percorrendo uma série
assistência na maioria dos casos, acabam sendo colocadas em longas filas de espera,
número crescente por pais de crianças com idade cada vez menor.
índice de um indivíduo com autismo para cada 1.000 nascimentos, e cerca de mais de quatro
O aumento na identificação dos indivíduos com TIDs renovou a urgência com que os
pesquisadores em todo o mundo estão se esforçando para explanar suas causas e desenvolver
tratamentos mais eficazes. Essa prevalência nos alerta para a necessidade de desenvolvermos
significativas.
incomodam, questionando-se sobre o que pode estar acontecendo com seus filhos ou com o
desenvolvimento deles. Na maioria das vezes, os relatos sobre a preocupação dos pais em
relação ao comportamento social e às brincadeiras de seu filho datam dos primeiros dois anos
linguagem. Em geral, esses são os principais fatores que levam os pais a buscarem ajuda
especializada.
Apesar disso, Paravidini (2002) alega que essas crianças, em sua maioria, ficam de
certa forma retidas nas planilhas de atendimentos clínicos gerais, sem que sejam
direcionar nossos esforços no sentido de propor uma estratégia de ação em Saúde Mental
apresentam sinais indicadores de risco de sofrimento psíquico. E, a partir da coleta dos dados,
infância.
identificação e intervenção precoces, que vai ao encontro de uma das formulações que
vicejam no campo da Saúde Mental, por meio da qual podemos pensar que “se uma criança,
em seus primeiros anos de vida, puder ser aliviada do peso de seus primeiros sintomas, antes
7
da fixação ou do deslocamento dos mesmos, ela estaria em melhores condições para enfrentar
acompanhado da evidência de que ainda há muito a ser feito em direção à construção efetiva
Messias (2004) afirma que, nas crianças, os ‘nomes’ da exclusão, às vezes, soam
Isso se torna evidente, ao olharmos para a questão da saúde mental infantil, na qual
nos deparamos com uma grande quantidade de crianças vivendo nos chamados “abrigos para
‘proteção’ e do ‘cuidado’. Para Couto (2004), esses “abrigos para deficientes” são verdadeiros
métodos pedagógicos de controle de sua conduta ou, ainda, a uma medicação excessiva, com
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conseqüências devastadoras. Couto (2004) nos apresenta a realidade de uma clientela infanto-
juvenil incluída nos programas de saúde mental, que parece reeditar o viés higiênico-
determina a formação de dispositivos mais pedagógicos que clínicos. Como resultado, aponta-
deficiente e desadaptada, sim; louca não – diz respeito à desconsideração de que uma criança
possa portar o enigma da loucura. Tributar a uma criança a condição de uma existência
particular louca exige um duro exercício de rompimento com os ideais que na modernidade
sustentaram sua inclusão diferenciada e valorizada na cena social: a infância como o tempo da
sem angústias. Incluir a loucura como uma das possíveis condições de existência da criança,
silenciosas, mas efetivas de exclusão frente às quais não se podem mais adiar os
enfrentamentos necessários.
Construir uma direção pública para o atendimento em saúde mental não é uma tarefa
política pública de saúde mental integrada e eficaz, é preciso reconhecermos a criança como
um sujeito capaz de constituir uma ordem própria de existência, portadora de uma dimensão
portanto legítimas, de lidar com seu mal-estar e suas angústias, implicando-se no que lhe
acontece, sendo atravessada por ‘enigmas’ e tendo que lidar com eles como lhe for possível.
Apesar desse esboço geral das características mais significativas da saúde mental
pública infantil, não podemos negar que, algo se move em direção a uma atenção mais
integrada. Como é o caso da constituição de espaços coletivos de reflexão que tem como
objetivo estabelecer, pelo eixo da saúde mental, a construção de uma rede de atendimento
capaz de fazer frente à pluralidade das demandas em seus diversos níveis de complexidade e o
estabelecimento de diretrizes técnicas, conceituais, clínicas e políticas para direção das ações
da saúde mental) responsáveis pela atenção à criança e ao adolescente (III CNSM, 2001).
desenvolvido pela área técnica da saúde mental do Ministério da Saúde, foi a elaboração de
proposições e ações dirigidas a essa clientela. Em 2002, pela Portaria 336/2002, foram criadas
representações federadas dos campos da saúde, educação, cultura, justiça, assistência social,
Considerado como um dispositivo privilegiado de gestão pública, esse Fórum busca responder
Brasília, uma das pautas discutidas foi a necessidade de elaboração e execução de ações no
Diante disso, podemos afirmar que algo está se movendo nesse cenário nacional,
apesar de ser necessário, ainda, realizar muito, para que haja uma mudança no modo de ver e
É nesse sentido que buscamos, por meio desta pesquisa, propor uma estratégia de ação
infantil.
Mercadante et al. (2006), demonstram um número cada vez maior de transtornos que
classe de distúrbios da socialização com início precoce e curso crônico, que possuem um
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Developmental Disorders – PDD), inclui tanto alguns subtipos mais claros e identificáveis,
DSM1 IV) são conhecidos como autismo atípico (Transtornos Gerais não especificados do
Há pouco menos de uma década, trabalhava-se com uma noção de que o Autismo
5:10.000 crianças, com predomínio em indivíduos do sexo masculino (3:1 ou 4:1). Essa baixa
condição de prevalência, sua raridade, era considerada um dos motivos que dificultavam a
realização do processo diagnóstico por profissionais que não fossem especialistas na área,
fatos parecem, senão surpreendentes, no mínimo apontam para uma situação bem distinta da
Fleming (1999), em seu artigo O autismo está crescendo?, afirma enfaticamente que o
autismo não é raro e sustenta sua colocação em alguns dados estatísticos: de acordo com o
Centro de Controle de Doença e Prevenção (CDC), nos Estados Unidos 1:500 crianças é
afetada pela desordem, sendo a maioria delas, meninos. Em algumas regiões dos Estados
Unidos, bem como do Reino Unido, por razões ainda não compreendidas, este grau de
1
DSM IV refere-se à quarta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders.
2
APA sigla utilizada para a American Psychiatric Association.
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prevalência é ainda maior, chegando a ser mais de uma para cada 150 crianças.
estado da Califórnia (dois municípios), 150 novos casos são incluídos para receberem
Em outro artigo, Bogo (2000 apud Paravidini, 2006) partindo da premissa de que
embora não existam dúvidas de que o autismo é de origem genética, interroga se o meio
ambiente pode também estar implicado nesta questão. Segundo o CDC, em uma cidade
chamada Brick Township (New Jersey), o número de casos de autismo alcança níveis nunca
antes observados: prevalência de 4:1000 e de 6,7:1000 para casos que apresentam alguma
dos pais destas crianças diagnosticadas, o problema é ainda pior, pois o levantamento não
mostra que se a média é de 6,7:1000, desdobrando-se em dois grupos etários, os índices são
Em um levantamento divulgado por Nash (apud Paravidini, 2006) uma em cada 150
crianças com 10 anos ou menos pode ser afetada pelo autismo infantil ou por formas
correlatas, perfazendo um total de 300 mil crianças somente nos Estados Unidos.
maio de 2006 – temos o índice de um indivíduo com autismo para cada 1.000 nascimentos, e
cerca de mais de quatro com TID-SOE a cada 1.000 nascimentos (Klin; Mercadante et al.,
2006). Se visualizarmos essa incidência de modo global, os índices nos apontam para cerca de
mais de cinco indivíduos para cada 1.000 nascimentos com TIDs (Autismo e TID-SOE), o
que perfaz cerca de 1:200 indivíduos, ou mais, cerca de 1:150 indivíduos apresentando TIDs,
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com que os pesquisadores em todo o mundo estão se esforçando para elucidar suas causas e
De acordo com Paravidini (2006), estas mudanças nos índices podem estar
relacionadas a uma definição mais abrangente do Autismo Infantil e demais TIDs, tal como
diagnósticas. No entanto, para o autor, o avanço numérico é tão alarmante que tais
explicações parecem ser insuficientes, frente ao quê uma questão permanece: o que está
Com a evolução da ciência e o fácil acesso aos parâmetros das melhores práticas, os
indivíduos com TIDs devem receber o melhor que as ciências médicas têm para oferecer
onde quer que eles estejam, com tratamentos eficazes, em substituição às crenças que não
Multissistêmico do Desenvolvimento...
presença está cada vez mais freqüente na clínica cotidiana devido a maior incidência desses
possam tecer “fios de sentidos e afetos” (Rocha, 1997 apud Paravidini, 1998), na interação
O bater de mãos (flapping) e outras estereotipias, assim como alguns dos rituais de uma
criança autista com evidente prejuízo intelectual, são exatamente os mesmos de outra criança
com capacidades cognitivas bastante sofisticadas. Dessa forma, a busca incessante para
decifrar os vários mistérios com os quais o profissional se depara exige tanto abertura de
espírito, flexibilidade e rigor quanto à criação de um campo de observação que permita uma
Não sabemos se estamos lidando com formas clínicas diversas ou com um spectrum,
por prejuízos básicos na interação social, na comunicação verbal e não verbal e por padrões
São comportamentos sociais esperados em crianças pequenas: olhar para a face; reagir
ao som da voz humana com sorriso ou atenção concentrada; responder a seu próprio nome a
partir do cinco meses e, logo depois, dirigir o olhar aos objetos de atenção do adulto próximo.
escolares com autismo, com retardo mental e sem nenhuma patologia, conclui-se que a
de-conta.
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controle esfincteriano, particularmente, com controle fecal, com retenção de fezes e/ou recusa
(APA, 1994).
ou objetos duros, que podem ser carregados por longo tempo. Mais raramente, trata-se de um
animal de pelúcia.
Nos tempos atuais, a forte preferência por vídeos infantis é bastante característica. As
crianças podem passar horas assistindo aos mesmos filmes e controlando com o controle
remoto as partes que querem ver ou que pretendem pular (Dawson & Meltzoff, 1998).
Geissmann e Geissmann (1993) e Mazet e Stoleru, (1990), citados por Paravidini (2002):
endireitar nem se agarrar, não manifesta prazer, parecendo muito indiferente à situação e
As anomalias do olhar
crianças parecem querer olhar através das pessoas ou varrer o horizonte não parando
sobre coisa alguma (“olhar periférico”). A criança em risco de psicotização pode também
b) A ausência de choro entre os seis e doze meses por ocasião do afastamento da mãe ou
Fobias maciças
processo de psicotização no início do segundo ano. São fobias a certos barulhos e objetos
a) Transtornos alimentares:
São distúrbios mais precoces, podendo ser uma falha na sucção, anorexia, vômitos,
b) Transtornos do sono:
Trata-se de insônias precoces que sobrevêm desde o terceiro mês. Podem ser de dois
c) Transtornos esfincterianos:
matérias fecais.
As estereotipias
São intrigantes por sua repetição imutável. São comuns: jogos de mãos diante dos olhos,
que podem se complicar mais tarde com batimentos dos braços como se fossem asas; de
uma volta sobre si mesma; e de trazer junto do rosto objetos que são logo cheirados.
Esses estereótipos têm como características não cessarem ao contato com o adulto e de
tomar cada vez mais tempo das atividades com os mordentes, guizos, etc.
mole, doce, no qual a criança investe e tem prazer em conservar consigo mesma. No que
concerne à criança autista, uma das possibilidades é ela nunca ter tido um objeto
privilegiado com estas características. Quando a criança traz consigo algum objeto, este é,
comumente ‘duro’, sendo utilizado em função desta sensação de dureza que oferece e não
Incapacidade de brincar
Este sinal aparece um pouco mais tardiamente no decurso do segundo ano. É um ponto
importante por ser facilmente observado. Para Winnicott (1952, p. 385): “[...] trata-se de um
se do jogo saudável pela falta de um início e de um fim, pelo grau de controle mágico, pela
de cada criança, bem como observar a qualidade dos sinais de risco, sua intensidade
expostos por Geissmann e Geissmann (1993) e Mazet e Stoleru (1990, apud Paravidini,
continência do objeto, sendo uma defesa frente às angústias primitivas como cair sem
I - REAÇÃO DE EVITAÇÃO
- É indiferente à separação;
- Evita o contato olhos nos olhos; vira a cabeça para não olhar nos olhos;
- Olhar periférico;
B. Tranqüilidade particular:
- Hipotonia;
- Dá a impressão de surdez;
- Dificuldade de sucção;
- Anorexia;
A. Usa objetos duros que provêem sensações ao corpo, giram, apertam, enroscam.
- Hipertonia;
- Insônia agitada;
- Agressão e auto-agressão.
B. Figuras de sensação:
Autores como Lamour e Barraco (1998, citados por Tavares, 2004), utilizando-se de
estudos e observações com bebês menores de 18 meses, que tinham sido expostos a falhas
descrevem:
Na criança:
- estados psicóticos;
- condutas aditivas;
- neuroses graves;
- distúrbios do comportamento;
então, não dos sintomas por si só, mas, sim, da dificuldade ou perturbação no laço afetivo-
Com isso, podemos perceber como os sinais de sofrimento psíquico da criança podem
ser discretos e o quanto esses sinais dizem respeito principalmente a toda a esfera relacional e
colo, o que faz com que os contatos entre mãe e bebê fiquem cada vez mais raros. Na esfera
relacional, a ausência de interações lúdicas e vocais por parte da mãe faz com que ela
responda, raramente, às vocalizações de seu bebê, o que compromete a relação, as trocas entre
mãe-criança.
bebê como parceiro “ativo”. Eles definem: “as interações como o conjunto dos fenômenos
Dentre todos esses indicadores de sinais de risco de sofrimento psíquico, fica evidente,
e concordamos com Paravidini (2002), ao afirmar que existem três vetores considerados como
anteriormente descritos podem ser catalogados, segundo cada um deles: o olhar, o corpo e a
palavra.
aos contatos visuais e reações diante do olhar do Outro, com destaque ao estágio do
O corpo diz respeito ao modo como a criança se posiciona frente à sua imagem
A palavra inclui as manifestações vocais do bebê e sua relação com o Outro inseridos
sujeito psíquico, como também ao que fracassa, ou melhor, o que não se instaura no
bebê/criança vai dar sinal, notícia de que algo no laço, no enlace com esse Outro não vai bem.
superação pode não ser tão majestoso assim. Pode sofrer, enfear-se, angustiar-se, mutilar-se,
ter horror ao contato, recusar o olhar e o carinho que lhe são dirigidos, inquietar-se e também
inquietar. Essa criança enigmática modifica os ideais, subverte o imaginário cultural, mas nos
convoca, a todos, ao desafio de delas cuidar, tratar e com elas coexistir. É com base nesse
públicas de saúde.
Tomaremos como referencial, para esta pesquisa, os sinais aqui descritos que se fazem
Infantil”, desenvolvido por Paravidini (2002). Este Instrumento será utilizado como um
psicanalítico para a realização da pesquisa bem como para a análise dos resultados
encontrados.
26
Acreditamos ser importante destacar que, na saúde mental infantil, temos que
interdisciplinar com bebês e crianças pequenas e fala da importância da escolha dos nomes. A
autora define inicialmente “estimulação precoce como a clínica com bebês e pequenas
importância, na clínica com bebês, da interlocução com os diversos campos do saber, mesmo
que nossa escolha e nossa escuta estejam operando a partir do corte epistemológico da
psicanálise:
Podemos afirmar que esta pesquisa marca uma diferença nessa clínica: uma
intervenção que não seja apenas ‘estimulação’ e uma clínica que não se preocupe apenas com
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a ‘prevenção’ que o termo ‘precoce’ insinua, mas que atente, também, para a escuta no tempo
necessário.
Sabemos, pela clínica, que não se trata disso; e que qualquer tentativa de intervir sem que haja
de um sintoma, uma vez que não é possível prever o que um acontecimento desencadeará
num sujeito.
Por outro lado, esta abordagem não exclui o fato de que uma escuta atenta pode
organizar um lugar para a significância que tal acontecimento toma para um sujeito. Nesse
sentido, os atendimentos realizados com crianças pequenas e bebês mostram que algo pode
ser feito nesse tempo, em que já acontecem problemas que merecem ser escutados na clínica.
Como dito, esta pesquisa vai ao encontro de uma das formulações presentes no campo
da Saúde Mental, por meio da qual pode-se pensar que intervenções precoces em crianças
com sinais indicadores de sofrimento psíquico, possibilitariam melhores condições para que
mãe-bebê para a formação de psicanalistas de criança. Para Bick (1967), a psicanálise é parte
do mundo real e da sociedade, podendo ser ensinada a partir da história natural da vida, a
Bick propôs a prática clínica da observação de bebês, como um dos requisitos para o
formação firma um acordo com os pais de observar o bebê – semanalmente, com duração de
aproximadamente uma hora –, durante seus dois primeiros anos de vida, em sua própria
com o bebê, ou qualquer atitude que impeça o aluno de se posicionar como observador. Após
a observação, o estudante redige um texto com o maior número de detalhes possível sobre a
contexto clínico, que envolve o tornar consciente o inconsciente e lidar com as defesas e
angústias.
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e metodologia psicanalítica, uma vez que se utiliza dos princípios da técnica analítica: atenção
muitas vezes não são expressos por condutas, gestos ou palavras, mas por Identificação
Mélega propôs esta técnica como investigação diagnóstica, cujo foco é a interação dos
pais em suas funções materna e paterna para com os filhos (Marra, 2005).
A autora afirma que essa abordagem nos possibilita utilizar o método analítico em
toda sua amplitude, permitindo a vivência da história do grupo e a percepção do lugar que
Modelo de Observação de Esther Bick (1967). De acordo com Mélega (1997) este modelo de
observação pode adquirir outra função importante: a de modelo continente da função materna,
familiar e institucional.
definidas pela psicanálise: receptividade, escuta, não fazer julgamentos (memória e desejo),
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conter as próprias emoções sem atuá-las, colocar-se numa posição de quem não sabe e precisa
observar e pensar para conhecer. Sua perspectiva se coloca em tentar aclarar as condutas
dos impedimentos visíveis na conduta da mãe que estariam dificultando a comunicação das
Ao privilegiar estas condutas, Mélega (1990b) propõe uma postura cuja função
Para que o pensar possa acontecer, Mélega (1990a) enfatiza a importância da criação
pesquisa, o professor João Luiz, em parceria com a psicóloga Hélvia Cristine, ofereceu um
municipal, para crianças com sofrimento psíquico, no contexto de serviço ambulatorial. Nossa
proposta de intervenção terapêutica domiciliar conjunta foi inspirada nesse modelo clínico de
dupla: Observador e Terapeuta. O terapeuta é o agente condutor da sessão, cabe a ele realizar
criado pela interação do grupo. Assim, a função do terapeuta se enlaça com a função do
De acordo com Chaves (2007), outro aspecto importante está no relato sobre a
modalidade deve sentir-se suficientemente dentro da família para viver seu impacto afetivo,
sem, todavia, deixar-se levar a actings contratransferenciais. Desta forma, por envolver a
encontros posteriores.
Contudo, o modelo apresentado por nós neste trabalho de pesquisa guarda as suas
observador fica delegada não só a terapeuta como também a agente de saúde (ou outro
encontros em momento de reunião. Isso visando estruturar as bases para a sua perpetuação
Watillon (1997, citada por Chaves, 2007), ressalta que ao trazer a família para a
manifestações da criança. O que exige uma atenção vigilante, na qual o terapeuta não se deixa
emocional da conduta da criança não está realmente sendo captado. Além disso, ele tem a
função materna.
o papel fundamental do terapeuta passa ser o oferecimento de continência à mãe a partir das
São consultas com forte mobilização afetiva, de modo que algumas descrições,
o terapeuta conflitos e sentimentos que trazem dor, frustração e dificultam a relação entre pais
e filhos.
33
Mélega (1998) propõe que o terapeuta assuma um novo lugar: não como detentor da
verdade que ao interpretar é capaz de desvendar o oculto; mas como aquele que vivencia e
postura marca a grande semelhança entre o trabalho desenvolvido por Mélega (1998) e o
outras formas de reflexão, o que melhora a interação e alivia a carga emocional dos membros
da família.
maneira que ele comporta ao mesmo tempo: um impasse para o sujeito, e também um dizer
Diante disso, podemos pensar que o sintoma da criança diz muito sobre sua condição,
sobre sua posição no desejo do outro, sobre o contexto em que as relações, o laço familiar é
constituído. Nesse sentido, a natureza das intervenções não deve se pautar na interpretação,
mas sim no objetivo de ouvir, esclarecer, motivar a pensar e dar continência a alguns
O foco deste trabalho de intervenção e escuta, está na relação, nas condições que
possibilitam a construção dessa relação, que estruturam o enlace pais-filhos. Segundo Chaves
(2007), buscamos compreender como são articulados os vínculos primordiais, ou seja, os pais
34
são ouvidos em função da constituição da sua parentalidade, que por sua vez, só se dá a partir
papéis entre os membros da família são rápidos e contagiantes. O bebê assume função
Sabemos, pela clínica, que o sintoma deve ser respeitado, na medida em que ele porta
a verdade do sujeito. Nesse sentido, oferecendo à criança uma escuta atenta e à família um
seja, possibilitamos que cada sujeito possa expressar seu sintoma, ou sua verdade.
Sendo assim, a posição de escuta comporta ao mesmo tempo uma implicação subjetiva
e uma não intrusão por parte do terapeuta. Implica que não saibamos de antemão o que vai se
produzir, mas que possamos ouvi-lo, abrindo espaço para o sujeito, para a sua questão, para a
sua verdade.
introduz novas concepções ao modelo de atendimento conjunto proposto por Mélega (1998).
Este trabalho propõe um modelo técnico de intervenção, para além da questão diagnóstica, em
que o enquadre se organiza com a constante e ativa participação dos pais/cuidadores. Além
35
disso, a posição assumida pelo terapeuta traz peculiaridades que o diferencia da abordagem
acompanhando a descrição da história pela família e também, como terceiro, cuja função é
intervir na articulação dos fios que ‘tecem’ o laço, o enlace pais e filhos, os vínculos
manifestados por meio das condutas dos participantes, em contexto familiar. Esta conduta
psicoterapêutica.
pais/responsáveis. Não no sentido de um ensino operacional, como nos diz Chaves (2007),
numa conduta de quem sabe antecipadamente, mas num compasso de quem é capaz de
grupo as redes de relações construídas. Além disso, estar com a família possibilita a
Esta postura suprime a concepção culposa dos pais, que atribui a estes uma disposição
determinística do sintoma. E faz com que emerge a noção da qualidade única de cada relação
e a apreciação de que o bebê ou criança muito pequena tem um jeito próprio de desenvolver
Esta abordagem vai ao encontro a toda concepção de constituição do sujeito, uma vez
que, ao intervir junto a crianças de zero a três anos de idade estamos atuando no período do
desenvolvimento que corresponde à estruturação dos laços primordiais. Neste sentido, o foco
torna-se exatamente a estruturação dos vínculos, sem privilegiar nem a criança ou seus pais,
pais-bebê, se daria à medida que o profissional busca oferecer continência às angustias dos
pais na relação com o bebê, empregando-se uma atitude mental receptiva às identificações
estimula-se a discriminação entre as vivências dos pais e a experiência do bebê, bem como se
valoriza a potencialidade dos pais para a sintonia com as necessidades e sinais do bebê, com o
que se fortalece a função parental e estimulam os recursos internos em cada família para
funcionar como uma rede de relações continentes ao sofrimento psíquico que facilitam a
Esta pode ser considerada uma das proposições desta pesquisa de diagnóstico e
com que estas intervenções estejam inseridas num protocolo mais amplo de assistência à
observação da relação mãe-bebê com a inspiração na técnica conjunta pais-filhos, nos pontos
apresentassem risco de sofrimento psíquico, estendeu o trabalho da sua forma clínica, para o
estabelecidas durante as sessões. Seu papel predominante foi o de estar presente dentro de um
contexto que visa à produção de mudanças através de atos significantes produzidos por
aqueles que estão envolvidos no campo, sob diferentes perspectivas: palavras, silêncios,
relação de um bebê com sua mãe e seu ambiente, assim como a capacidade de o terapeuta ser
enriquecer e ampliar o olhar que é lançado sobre o campo da saúde mental infantil.
38
39
CAPÍTULO II
2. OBJETIVOS
Propor uma estratégia de ação em Saúde Mental para a primeira infância a partir do
CAPÍTULO III
3. METODOLOGIA
Buscamos desenvolver este trabalho com crianças de até três anos devido a alguns
questão de viabilidade financeira e de tempo (uma vez que dispusemos apenas de recursos
consistiu na aplicação do Instrumento junto aos pais e/ou responsáveis, das crianças com
3
O trabalho foi desenvolvido no referido Município devido ao interesse e apoio do Prefeito Marcos César
Brunozzi e da Secretária de Saúde e Vigilância Sanitária Elisa Vieira Campos Rodrigues, que se dispuseram a
favorecer a viabilidade e concretização da presente pesquisa.
46
o nascimento.
terapêutica precoce, com quatro crianças que apresentavam casos mais graves, segundo a
semanais com duração de aproximadamente uma hora, num período de quatro a seis meses,
originalmente por Mélega (1998), que advém do método de Observação da Relação Mãe-
Bebê de Esther Bick (Bick, 1967), técnica esta que implica também a participação de todo o
pesquisadora durante os atendimentos, enfim todo o material foi obtido para os propósitos da
Uma vez, compreendida a fundamental importância dessa solicitação, esta foi acatada
pesquisa, conforme consta no termo de consentimento (vide anexo 2). Entretanto, em função
Família da Unidade Básica de Saúde aderiu ao trabalho de pesquisa, colocando toda a sua
unida e comprometida com um objetivo comum, e mais, uma equipe desejante e impulsionada
como é o caso do médico (clínico geral) e da fisioterapeuta, sejam por meio dos
encaminhamentos que nos faziam, sejam pelas discussões, reflexões e conversas sobre como
proceder e intervir de forma multidisciplinar, para não dizer interdisciplinar, junto a esses
voltados a saúde mental infantil? O que a escuta psicanalítica tem nos ensinado?
consiste em antecipar uma demanda, mas em permitir sua elaboração. Dessa forma,
acreditamos ser de extrema importância precisar e entender o que é um risco, uma situação de
sofrimento em crianças muito pequenas e, assim, definir o que seria uma questão, uma
a saúde mental. Utilizamos o verbo ‘desenvolvemos’ na terceira pessoa do plural, uma vez
que, como apoio à rede de atendimento à criança, pudemos contar com uma equipe formada
neuroses graves; e crianças em situação de risco: vítimas de violência, maus tratos, entre
outras.
essas crianças, que eram nossa prioridade, pudessem chegar mais cedo para tratamento.
estágio anterior possam minimizar os efeitos e os sintomas dessas doenças sobre as crianças e
bebês.
49
Segundo Messias (2004), o infans, bebê que ainda não fala está necessariamente
inscrito em uma estrutura simbólica que o antecede. Lacan (1999), no Seminário V, afirma
que a criança está presa na matriz simbólica da língua desde que nasce. A criança recebe um
nome e tem uma história que começa bem antes do seu nascimento. A mãe supõe um saber
nos atos reflexos do bebê, introduzindo aí as marcas do Outro. O agente da função materna
antecipa um sujeito em seu bebê, e é a partir daí que o grito do bebê é considerado como
apelo e interpretado. Essa é a chamada loucura natural das mães de que nos fala Winnicott
(1951).
essa criança vinha ocupando no desejo da mãe/pais, qual era o laço que a criança fazia com
esse Outro primordial, aquele responsável pelos cuidados primeiros, a maternagem. O não-
estabelecimento desse laço com o Outro, sabemos, pela clínica, pode ter conseqüências
incidência do desejo do Outro, que pode tornar o sujeito um ser vivo ou mortificá-lo.
cedo, antes dos dois anos, o que a leva a considerar a hipótese de um trabalho clínico a ser
feito com bebês e seus pais quando algo não vai bem nessa relação. Para a autora, o trabalho
com os pediatras seria fundamental para a detecção precoce de “sinais de risco de autismo” e
subjetividade de cada criança, independentemente de sua idade, de ter sido trazida pelo outro,
no colo, andando, falando ou ainda não. É importante confiar que há um sujeito ali, ainda em
constituição, isso é fato, mas um sujeito que, se ainda não fala, é falado, é marcado pelo Outro
e traz muitas vezes, em seu corpo sinais importantes de adoecimento. É preciso aprender a
escutar esse sofrimento, às vezes intenso e incluí-lo em nossa pauta de prioridades. É uma
demanda um pouco diferente da usual que aporta à saúde mental, mas não menos importante.
É uma demanda que chora, um sofrimento que grita e não se faz calar. É preciso escutá-lo a
tempo.
importância de se intervir junto a bebês ou crianças bem pequenas. O autor sugere que, para
chegar até essas crianças bem pequenas, é preciso que os trabalhadores em saúde e outros que
compõem a rede de atenção a crianças assumam uma atitude de “atenção ativa”, que opõe ao
conceito de “espera”, explicando que, se a espera tem a priori um objeto preciso, a atenção,
trabalho que leve em conta que o bebê/criança é, como diz Lacan (1999), um corpo que fala; e
Dessa forma, nosso trabalho consiste em nos fazermos suporte de suas construções,
construções que ele produz para dizer do mal-estar diante do qual ele é falado, ou melhor, do
lugar que ele ocupa no desejo de sua mãe/pai ou cuidador. E, sendo a partir do campo do
Outro que o infans se constitui sujeito, podemos dizer que nosso trabalho, também se baseia,
na clínica do laço, intervindo como terceiro sobre de que modo o bebê é falado, tentando
51
reendereçar a ele o discurso sobre ele, o que faz valer que supomos aí um sujeito que o tira da
Sendo assim, fazemos operar com nossa escuta, nosso olhar e nosso dizer, um espaço
terceiro em que a palavra pode circular, fazendo-nos suporte e tradutor do que o bebê traz,
propondo-nos a tratar não da loucura ou não-loucura dos pais, mas do lugar que o
bebê/criança ocupa para esse cuidador. É com o nosso olhar e com a nossa escuta que nos
criando um espaço no qual possa ser ‘cavado’ um lugar de sujeito e um trabalho de aposta de
que o bebê possa diferenciar-se desse discurso que vigora sobre ele, que opera o trabalho de
diferenciação dele com esse Outro, tentando construir um outro sentido, um caminho de
sujeito.
particulares condições. Os dados, aqui descritos, foram, em sua maioria, retirados do site
Ribeirão Dourado e na margem do Ribeirão da Bagagem. Possui uma população total com
3.701 habitantes e área de 332,8 Km2. A cidade possui pouca infra-estrutura: uma parte da
52
região não possui pavimentação e asfalto, projetos de saneamento básico como canalização de
água e esgoto, e de eletricidade, para toda a população ainda estão sendo desenvolvidos pela
que por volta de 1830 chegaram à região, atraídos pela qualidade das pastagens, adequadas à
criação de gado.
Em terras doadas pelas irmãs Bárbara e Esídia Rodrigues foi erguida a primeira
para Pirajuba foi abortado devido à não existência de estradas importantes que passem pelo
Município.
Passear por Pirajuba é uma experiência interessante, a quietude das ruas e o jeito
manso que o tempo corre, fazem-nos lembrar, a todo o momento, que estamos num mundo
ainda à parte de toda ‘complexidade’ apresentada pelas grandes cidades atuais. Ali se
encontra alguns espaços/momentos de convivência social, nos quais se pode ver o exercício
confraternizações. É aonde os mais velhos vão para contar casos ou para ‘matar o tempo’, as
crianças brincam, correndo pelos canteiros e, por vezes, alguns jovens se reúnem para beber e
conversar.
53
Recreativa Pirajubense, além das principais casas comerciais da cidade: bares, sorveteria e
açougue. É o local onde todos os personagens, das mais variadas maneiras e situações,
encontram-se.
A vida cultural de Pirajuba é bastante marcada por suas festas. “Não existe no mundo
um povo pra gostar de festa mais do que esse da Pirajuba4” (Pimentel, 1996). Esta parece ser
uma característica enaltecida pelos moradores, uma visão que, ao mesmo tempo em que cria
uma identidade entre os moradores e sua cultura, promove entre eles um caráter especial à
Senhora da Abadia. Ambas mobilizam toda a Cidade. A diferença entre as duas está no tipo
de público que vem de fora. Enquanto a “Festa da Igreja” atrai contingente de pessoas mais
para os visitantes são formas de fazer Pirajuba encaixar-se no papel a que pode – e está de
certa maneira limitada – a exercer, qual seja, uma comunidade rural e festiva.
homem simples, num universo minúsculo à dinâmica do tempo que, em muitos aspectos, flui
lentamente, assim as relações sociais e afetivas são realizadas entre conhecidos. Dessa forma,
os papéis sociais são bem definidos e claros nos âmbitos do trabalho, das práticas sociais e
4
Depoimento de Francisco Tiago de Mendoça, citado em PIMENTEL, Sidney Valadares. O chão é o limite: a
festa de peão de boiadeiro e a domesticação do sertão. Brasília: Universidade de Brasília. 1996. Tese (Doutorado
em Antropologia). P.23.
54
Nos planos social e econômico fica em evidência o modo de vida baseado na produção
serviços nas proximidades da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Abadia, conforme descrito.
local, a cidade é segmentada em duas partes, a primeira que caracterizamos acima, e outra
a zona urbana algumas famílias de trabalhadores rurais formando essa periferia, denominada
de “Vila do Plástico” – pelo fato de suas casas serem feitas desse material e papelão – hoje ela
A cidade possui duas escolas: a municipal Sérgio Pacheco e estadual Cel. Oscar de
Castro, localizadas uma ao lado da outra. Possui, ainda, uma Unidade Básica de Saúde (UBS)
responsável por todo trabalho desenvolvido no âmbito da saúde pública, uma vez que, o
Município não conta com a presença de hospitais, centros e clínicas para atendimentos
especializados.
3.3. A Pesquisa
agentes de saúde, psicóloga), identificar e acompanhar crianças de zero a três anos que
apresentassem risco de sofrimento psíquico e/ou apresentassem dificuldades no laço com seus
inerentes da situação, da vivência com o grupo familiar, da contingência em que este grupo
nos apresentava.
Cabe ressaltar que este trabalho não contou com nenhum tipo de recurso financeiro,
fonte, destinação, não havendo também remuneração para a pesquisadora. Os gastos com
como por exemplo: folhas de papéis, impressões e xérox, foram arcados pela própria
passaram a fazer parte dos prontuários das crianças na Unidade Básica de Saúde.
Apesar de o Prefeito ter concedido o espaço físico, móveis e brinquedos de uma das
salas da Unidade Básica de Saúde; não foi utilizado, para fins da pesquisa, nenhum destes
domicílio, nas casas das famílias pesquisadas. Contamos apenas com os recursos humanos
devido ao interesse dos mesmos, participaram da pesquisa. O transporte da UBS não foi, em
próprio carro, através das visitas domiciliares às famílias, junto com as agentes.
caminho percorrido; seus impasses, dificuldades e limitações, bem como a superação dos
públicas de saúde mental –, buscamos descrever a incidência dos sinais indicadores de risco
de sofrimento psíquico das crianças de até três anos, do referido Município; refletir sobre a
propor debates e reflexões sobre como enfrentar a questão da saúde mental infantil.
Sabemos que a clínica da saúde mental infantil tem a característica de que a criança é
trazida pelo Outro, e no município de Pirajuba a situação não se difere. Na maioria das vezes
isso ocorre porque seu sintoma incomoda o Outro – pai, a mãe ou a escola – que a criança é
levada até os profissionais de saúde. É, portanto, numa perspectiva reparadora que é feita a
demanda. Ou seja, é porque a criança faz barulho, briga, estraga os brinquedos, tem
dificuldades de aprendizagem, enfim, é porque algo incomoda esse Outro que a criança chega
até o atendimento. Por outro lado, as crianças quietas e retraídas são levadas a atendimento
aplicação do Instrumento junto aos pais e/ou responsáveis, das crianças com idade entre 0 e 3
de primeira infância.
Para a realização desta etapa nos deparamos com a dificuldade de como chegar até as
crianças com sinais indicadores de sofrimento psíquico, uma vez que o Município não
dispunha de nenhum trabalho que envolvesse a promoção em saúde mental, nem mesmo
cadastros de pacientes onde pudéssemos identificar os que já haviam passado por algum tipo
de atendimento desta natureza em outras cidades ou mesmo cadastros dos que já haviam sido
crianças, com até três anos de idade, certamente era impossível e totalmente inviável
Portanto, não tínhamos idéia de como encontrar essas crianças ou seus pais, e mais,
como alcançar a abrangência e magnitude na qual nos propusemos que era a de mapear o
infância. Após muito pensar e discutir, levantamos algumas hipóteses. Como a Unidade
Básica de Saúde (UBS) é um centro para o recebimento de bebês e crianças, pois nela estão
atividades, poderíamos ir ao encontro dessas crianças e seus pais nos dias de vacinação ou
Município, uma vez que nosso trabalho se limitaria em pesquisar as crianças que por algum
Pensamos então que algo poderia ser proposto para que pudéssemos ir ao encontro
visitas ao pediatra, vacinações ou pela busca dos pais por respostas, pelo o que vem
acometendo seu filho a algum tempo – fazendo com que essas pudessem chegar mais cedo ao
‘tratamento’.
Saúde da Família (PSF), realizar a prospecção a partir de visitas nas próprias residências das
famílias. Essa decisão foi fundamental uma vez que nossa intenção era abranger as crianças
de até três anos de idade, não nos limitando apenas às famílias que com crianças dessa faixa
Dessa forma, esta etapa inicial consistiu em ir até as residências de pais/familiares que
tinham crianças com idade de zero a três anos, para conversar, explicar sobre o trabalho que
Para que esse trabalho fosse possível, ‘dividimos’ o Município em seis grandes áreas,
outros profissionais que não são psicólogos é premente e vital para a própria existência dessa
clínica, dado que esses pacientes são atendidos inicialmente, por exemplo, por médicos,
enfermeiros, educadores, etc. Assim sendo, antes de iniciar a prospecção, foi fundamental a
realização de várias reuniões e apresentações sobre como seria desenvolvida cada uma das
saúde (que se alternavam de acordo com a região pesquisada, pois cada agente acompanhava
a pesquisadora na área pela qual era responsável), sendo algumas vezes acompanhada também
famílias, em que havia criança(s) de até três anos de idade – independentemente do estado
geral de saúde das mesmas –, do Município de Pirajuba, incluindo zona urbana e rural, num
poderiam se organizar e se preparar para as visitas, sem que isso atrapalhasse suas demais
emprego, entre outras. Entretanto, essas dificuldades não inviabilizaram o trabalho, pelo
contrário, como visávamos iniciar o mapeamento a partir das regiões que delimitamos,
decidimos iniciar a prospecção junto às famílias das áreas de responsabilidade das agentes
que demonstraram maior interesse em participar e que já tinham certa experiência com o
trabalho como agente de saúde; visto que as agentes que seriam contratadas ainda teriam que
com as demais agentes e enfermeira, num processo que propiciou muita informação e
60
esclarecimentos. Durante os relatos, foi possível demonstrar como estava sendo realizado o
Essa prática fez com que os receios e ansiedades do restante do grupo fossem diminuindo,
população. Isso possibilitou continuarmos com a prospecção também nas demais regiões, de
assumiam direções cada vez mais abrangentes. Isso nos levou a perceber a necessidade de
discutidas. Assim sendo, ficou determinado que de segunda a quinta-feira, antes de iniciar o
trabalho, a equipe se reuniria com essa finalidade; e que toda sexta-feira, antes de iniciarmos
as visitas às famílias, discutiríamos, durante uma hora e meia, sobre a pesquisa, o trabalho que
Em campo, durante as visitas, era a própria agente quem determinava as casas das
mesmos, deixando claro que não teriam nenhum prejuízo, nem mesmo seriam favorecidos
preenchimento do Instrumento, fato esse importante, uma vez que muito favoreceu para que a
pais-filhos; além de confirmarem por meio das próprias observações e percepções às respostas
forneciam detalhes sobre sua vida e de seus filhos, contando sobre a história de vida inicial
da(s) criança(s), como: dificuldades enfrentadas durante a gestação; questões ligadas à saúde
(do bebê e sua própria); relatos sobre os contextos social, econômico e emocional vividos pela
família (pais, avós, tios) desde a gestação da criança, seu nascimento até o presente momento.
Esse primeiro contato com a criança e seus pais, nos possibilitou uma maior ‘aproximação’ da
Assim, ela podia acompanhá-las durante essa aplicação, auxiliá-las quando preciso e orientá-
las na forma correta de abordagem das pessoas e na maneira de explicar algumas das
perguntas contidas no material. Aos poucos as agentes foram adquirindo maior autonomia e
ela somente quando identificavam um caso em que havia uma maior variação nas respostas à
Ficha ou quando percebiam ‘algo’ que as chamasse a atenção. Esse ‘algo’ estava relacionado
com as frentes de trabalho nas quais nos baseamos e que estavam diretamente relacionadas à
b) Bebês com persistência de sintomas que apontem uma possível causa psicogênica
aplicação do Instrumento junto aos pais, fez parte de uma das etapas da pesquisa que visou
garantir a continuidade do trabalho, mesmo após seu encerramento. Etapa essa fundamental
crianças, tendo em vista que membros de nossa equipe não possuíam formação especializada
disponibilidade em colaborar com o trabalho desde que informadas e esclarecidas sobre o seu
teor científico.
dispunham-se a ajudar e como muitos solicitavam ainda ‘mais’, pediam conselhos e sugestões
em como criar e educar seus filhos; queriam que acompanhássemos o desenvolvimento dos
outros filhos e que também aplicássemos o Instrumento com os filhos maiores de três anos de
idade. Indagavam sobre como deveriam agir em situações como: a criança que volta a fazer
xixi na cama, ou que tem dificuldade em dormir, ou que bate freqüentemente em colegas da
pelos pais, de uma melhor preparação por parte dos profissionais que atendem essa
população, favorecendo uma relação mais cordial, mais interativa, mais comprometida, tanto
por parte da população, engajando-se mais nos programas desenvolvidos pelo PSF e UBS;
como pelos profissionais, que passaram a perceber e reconhecer ‘as pessoas por trás das
planilhas, registros e patologias’, percebendo suas carências e necessidades, mas também suas
O Instrumento
Infantil” nos serviu como um suporte para o início do trabalho de pesquisa, uma vez que
facilita a detecção de sinais de risco de sofrimento psíquico infantil e que, ao mesmo tempo,
Essas faixas etárias foram assim constituídas por se tratarem de períodos significativos
do desenvolvimento mental da criança e por serem os períodos mais freqüentes que os pais
relatam quanto ao aparecimento de sinais de risco de autismo infantil (Houzel, 1997, apud
Paravidini, 2002).
Cada uma das faixas etárias constitui uma escala de detecção de sinais indicadores de
sua faixa etária, dentro de seu limite crítico. Assim sendo, cabe destacar que a Ficha é
composta apenas por frases formuladas de forma positivada visando não incrementar
situações de ansiedade nos responsáveis pelas crianças que venham a responder às perguntas.
Nas cinco escalas do Instrumento, encontramos itens que evidenciam os três vetores
propostos (olhar, corpo e linguagem), que estão vinculados à relação da criança com o Outro,
dos pais por atendimentos especializados para o que acomete seu filho; fazendo com que
esses pudessem ter acesso a intervenções ‘a tempo’. Essa decisão foi fundamental uma vez
que nossa intenção era abranger todas as crianças de até três anos de idade, não nos limitando
apenas às famílias que com crianças dessa faixa etária buscasse algum tipo de serviço na
UBS.
geral de saúde das mesmas. A distribuição por faixa etária ocorreu da seguinte maneira:
66
etária em que a criança se encontrava. Todos os itens eram respondidos até idade da criança
Para cada comportamento descrito, era assinalada apenas uma das respostas
crianças com idade de até três anos, cadastradas no Sistema Público de Saúde do Município
de Pirajuba. O trabalho nos permitiu realizar um mapeamento das crianças que apresentavam
sinais de risco de sofrimento psíquico de primeira infância. A Ficha, uma vez respondida,
profissionais quando necessário fosse – seja para discussão do caso junto a outros
tornando mais nítido o quanto esta etapa de detecção inicial era complexa e repleta de
no manejo e realização, para que se pudesse construir bases para uma possível intervenção e
Após a aplicação e análise do Instrumento, podemos destacar que das 136 crianças
frente aos significativos índices e prevalência cada vez mais precoce de sofrimento psíquico
na infância.
68
fim de observar a qualidade dos sinais de risco, sua intensidade e sua persistência
no tempo.
premente o estabelecimento das bases teóricas que pudessem direcionar a detecção de sinais
de risco e suas manifestações clínicas, e embasar o trabalho de intervenção. Esta era uma
etapa fundamental da pesquisa, uma vez que para se diagnosticar, antes, é preciso encontrar
embasamento teórico e, mais, um debruçar-se sobre, um estar-se realmente presente para uma
tentativa de ‘resgatar’ o sujeito que ali muitas vezes se faz ausente (seja por um
posicionamento próprio, seja pela intermediação do Outro), através de “operações que vão do
bebês e crianças bem pequena, constituída por profissionais (psicóloga, enfermeira, médico e
agentes de saúde), que possibilitasse a atenção, e não a predição, aos sinais de sofrimento
sofrimento psíquico e/ou que apresentavam dificuldades no laço com seus pais e no laço
mencionado anteriormente.
dizendo como fazer e servindo, ao mesmo tempo, como parâmetro teórico-clínico adotado
nesta pesquisa. Essa técnica possibilita dizer a respeito do lugar que os pais/cuidadores
Mais a diante estão registrados, de forma sucinta, parte dos conteúdos das
pesquisador, referentes a quatro casos acompanhados pela mesma. Esse material foi obtido
através das observações realizadas semanalmente, que tiveram duração média de uma hora, e
perfizeram um total de no mínimo doze sessões para cada um dos casos selecionados.
passamos a encaminhar essas crianças aos profissionais adequados (do Município de Pirajuba
e de outras Cidades vizinhas), para que os mesmos realizassem o trabalho pertinente a cada
caso.
agentes de saúde tiveram papel fundamental para o desenvolvimento deste trabalho, pois
À medida que os atendimentos demonstravam sua eficiência frente aos seus objetivos:
da criança (por parte dos pais/cuidadores) enquanto ser desejante, que por fazer parte do
enlace familiar, influencia e é influenciada pelo Outro; além disso, a partir do reconhecimento
que apontavam para um possível sofrimento psíquico; e uma vez que, as melhoras
significativas dos quadros clínicos referentes às patologias dos pais, contribuíam para o
restabelecimento dos cuidados com o bebê e a criança; os mesmos foram sendo encerrados
Essa rede foi tecida e estruturada a partir de três direcionamentos, fundamentais para o
nos chega via encaminhadores, pela busca por tratamentos e intervenções que visem corrigir
nos questionamos ‘o que fazer?’. Sem dúvida alguma, a primeira ‘direção’ dada, ao nosso
demandada.
Não nos fazemos presentes para consertar, corrigir, nem restabelecer ou reorientar
subjetividade de cada criança, buscando compreender o lugar que a criança ocupava no desejo
de seus pais/cuidadores e qual o laço que a criança fazia com esse Outro primordial,
sentido, pode ser difícil discernir quando o laço proposto a um bebê é portador de qualidades
favoráveis a seu desenvolvimento, muito além das pessoas que o encarnam. Podemos então
A segunda ‘direção’ que demos ao nosso trabalho, fala da clínica do laço. Todavia,
relacionam com o bebê/criança – esse foi um apontamento importante que nossa equipe
qual é preciso intervir de forma pontual e ‘homeopática’, nesse laço do bebê-criança com seu
cuidador.
Laznik (1997), apoiando-se nas proposições teóricas de Lacan (1999), faz a hipótese
olhar do Outro”. Diz, ainda, que esse tempo estrutural permitiria a organização da Imagem
Originária (Urbild) do corpo, condição prévia para “instauração das relações especulares”.
sujeito5. Para fazer a transmissão do que ocorre nesse momento lógico da constituição do
sujeito, Lacan (1999) recorre a uma metáfora: o bebê, apesar de certa imaturidade orgânica,
vai viver uma experiência de júbilo frente a sua imagem no espelho, ao ser sustentado por um
certo investimento libidinal no seu bebê, isto é, o grande espelho é uma metáfora para o olhar.
É nesse sentido que podemos dizer que ‘o bebê se vê como ele é visto’; quer dizer, o desejo
do Outro que cuida dessa criança, a maneira como se cuida irá marcar como essa criança é
Uma vez que o que faz laço se tece a partir do campo do Outro, o bebê, para tornar-se
sujeito, está totalmente dependente dos cuidados desse Outro, dos significantes do desejo do
Outro e, sobretudo da aposta de que aí tem um sujeito. Assim, o psicoterapeuta, com sua
5
O sujeito entendido aqui como sujeito do inconsciente, como diz Lacan (1999): é o que o significante
representa para outro significante. Encontramos no Dicionário de psicanálise de Larousse a seguinte definição:
“o ser humano, submetido às leis da linguagem que o constitui e que se manifesta de maneira privilegiada nas
formações do inconsciente”.
73
dessa criança, inaugura uma maneira de fazer valer essa mensagem – de que o bebê é um
bebê/criança que se trabalha, uma vez que para Pirard e Giourgas (citados por Tavares, 2003):
psicoterapeuta com sua escuta junto a esse cuidador primordial – mãe, pai ou Outro que não
percebe os sinais desse bebê; intervir significa para a criança que a escutamos, que tomamos
nota de sua mensagem; intervir para fazer enigma junto a esse Outro cuidador.
saberes, formamos um grupo cujas reuniões ocorriam semanalmente e nas quais as questões
referentes aos atendimentos e à demanda faziam parte das discussões e reflexões, que muito
Toda informação obtida sobre os casos, seja a partir das intervenções conjuntas pais-
filhos realizadas, dos acompanhamentos e relatos das agentes, dos atendimentos do médico e
enfermeira, seja pelos contatos com os outros profissionais que também atendiam os casos,
tudo era material para reflexão e discussão durante as reuniões, visando desenvolver um
demanda em que é difícil passar do laço familiar ao laço social. Ou seja, passamos a cogitar a
74
idéia de realizarmos as intervenções nas próprias casas das famílias, que por motivo de
resistência aos atendimentos, recusa, falta de interesse, evitação ou algum outro fator que as
atendimentos necessários, pudessem obtê-los sem qualquer prejuízo. E assim, sem qualquer
Pais-Filhos, em domicílio, acompanhados dos familiares e outras pessoas que por ventura
relações pais/cuidadores e crianças, nos foi possível também identificar, com maior
veracidade, como a família convivia e se relacionava no seu cotidiano, naquele lugar que lhe
era próprio, confiável, onde nós é que éramos os estranhos; e assim, pudemos vivenciar essas
possível, uma atitude afável, sem interferir no atendimento que a mãe e familiares forneciam à
criança. Assumimos uma postura de ‘observador participante’, na qual nos era possível
espaço que a criança ocupa na dinâmica familiar, sem necessariamente termos que comunicar,
O trabalho de intervenção conjunta pais e filhos visou promover a escuta das questões,
das angústias, dos temas que os pais ou cuidador traziam; estivemos também atentos à
dinâmica da relação que acontecia entre o adulto e a criança, atentos às trocas interativas
subjetivas entre a criança e o Outro, seja este adulto, seja esse Outro, uma criança, e a
terceiro que intervinha possibilitando a escuta e fazendo com que a palavra circulasse entre os
sujeitos, permitindo recolocar o sujeito (criança) em outro lugar (não sendo a de objeto da
mãe).
ou bebê como sujeito. Nesse contexto, estamos longe de uma concepção do bebê submetido,
vitimizado, por exemplo, pela ação de seus pais sobre ele. Pelo contrário, buscamos
(bebê/criança) tinha efeitos sobre a ação do outro. Trata-se de uma concepção dinâmica da
interação criança/pais.
O objetivo das intervenções era tentar ‘garantir’ o lugar de cada um como sujeito. As
intervenções variaram desde fazer-se tradutora das manifestações subjetivas que a criança
endereçava a seus pais ou a outra criança, até acolher ou fazer valer uma posição parental que
podia também passar pelo que a criança traz, diz e faz, para criar um certo enigma junto ao
saber tão fechado que lhe é dirigido por parte do adulto cuidador, que o desqualifica como
sujeito.
Outra consideração a fazer sobre o trabalho de intervenção conjunta é que este pode
ter como perspectiva situar-se em modalidade terapêutica de curta duração (12 a 15 sessões),
76
proposta de Mélega (1999). Esse aspecto da delimitação temporal parece apontar para uma
sintomáticas reativas e aquelas que por ventura possam ser constitutivas do sujeito psíquico
(Paravidini, 2006).
precocidade, anterior aos três anos de idade, o objetivo terapêutico pode estar referido muito
mais aos aspectos constitutivos do sujeito e de seus sintomas. Nessas situações, podemos
quais a inserção do contexto parental parece-nos ainda mais premente, face ao que ainda
Dessa forma, se constitui aspecto crucial para toda e qualquer estratégia psicoterápica
parental, criando condições para que esses pais possam se disponibilizar, sensivelmente, para
que este ainda é um projeto em construção, que aponta os primeiros passos para a priorização
CAPÍTULO IV
4. RESULTADOS
sofrimento psíquico na primeira infância, que se evidenciaram neste trabalho menos por sua
idade, das 136 pesquisadas – o equivalente a cerca de 14,7% das crianças– apresentavam
algum sinal de risco de sofrimento psíquico, sendo necessário desenvolver intervenções que
atendimentos específicos.
de risco de sofrimento psíquico, uma questão muito importante, atrelada ao contexto familiar,
chamava mais a atenção era a incapacidade de os pais se comunicarem com as crianças. Essa
seguida à qual as trocas pareciam não acontecer, não mais funcionar. Discutimos então, que
parecia ser em substituição dessas trocas ausentes que o processo de sofrimento da criança se
punha a funcionar.
Se nos atrevermos a levantar algumas hipóteses, podemos pensar que essa dificuldade
subjetiva pode ter sido provocada por fatores vindos da criança (particularidades na
80
etc).
O que nos importa é que esse estado particular impede a mãe/pai de se comportar com
essa criança como faz com os outros. Esses estados são dignos de interesse, visto que
após a identificação (conforme demonstraram os quatro casos que serão apresentados mais
adiante).
nos aponta a três registros fundamentais, descritos por Paravidini (2002), pertencentes ao
desenvolvimento da criança já no primeiro ano de vida. São eles: o olhar, que se refere à
função especular; o corpo, que se remete aos investimentos libidinais do Outro; e a palavra
presença de mais itens que estão relacionados ao campo da interação através do olhar e do
corpo (tanto esquema corporal como da imagem corporal) e pouquíssimos quanto à interação
no campo da palavra. Já nas escalas dois (dos quatro aos seis meses) e três (dos seis aos nove
meses) vamos encontrar um grande número de itens relacionados ao campo do corpo, uma
diminuição relativa ao campo do olhar e incremento dos itens relativos ao campo da palavra.
Na quarta (dos quinze aos dezoito meses) e quinta escalas (dos vinte e quatro aos trinta
meses) temos uma presença quase integral de itens relativos ao campo da palavra.
Apesar da variabilidade dos itens na formação de cada escala, cada conjunto responde
a presença de um mesmo e único fator, a relação com o Outro por meio de “vetores” cruciais
81
que constituem a base para a formação da subjetividade humana. De outro modo, podemos
(Paravidini, 2002).
O Olhar
respeito aos contatos visuais e reações diante do olhar do Outro, constitutivo do desejo e da
imagem do corpo, dando destaque ao estágio do espelho como primordial para a instauração
da imagem especular e dos investimentos libidinais pelo olhar/escuta dos pais. Nessa
categoria estão incluídos, no Instrumento utilizado, os itens: A.1, A.3, A.5, A.6, B.2
(Paravidini, 2002).
como nos diz Lacan (1999), concerne à questão do olhar dos bebês.
ocorre nas horas seguintes ao nascimento, portanto bem antes da constituição do campo
visual. Assim, podemos admitir a hipótese de que a instauração do olhar não está se tratando
órgão, enquanto o olhar é uma função psíquica, que implica a questão da representação,
6
Ver a esse propósito “A esquize do olho e do olhar”. In: Lacan, J. Seminários Livro XI: Os quatro conceitos
fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
82
Dessa forma, a dimensão que nos interessa, vai além da apreensão médica
comunicação e da relação com o Outro, é essa a dimensão do registro especular a que nos
representação que se torna o verdadeiro impasse, pois tudo transcorre como se o bebê fosse
confrontado com um olhar que não o vê, e por isso a identificação que estrutura o “eu” não é
possível.
Winnicott (1952) postula ser no olhar que a mãe coloca sobre o bebê que sua imagem
se forma e à qual o bebê vai poder se identificar. É através do olhar do Outro que o bebê vai
mãe/cuidador.
Assim, quando o bebê olha sua mãe, é a si mesmo que ele vê. Dessa forma, podemos
alegar que o olhar é uma função psíquica e um indicador de presença (Cullere-Crespin, 2004).
precipita, e o bebê organiza seu retraimento, ou não olha nada. O espelho se torna algo que se
O evitamento do olhar não traduz uma ausência de olhar, ele corresponde a um ato do
bebê, uma recusa de olhar. Para Cullere-Crespin (2004), essa recusa geralmente visa de início
o rosto da mãe, e constitui uma forma de defesa para o bebê confrontado a algo de difícil no
olhar – ou na ausência de olhar – que sua mãe lhe dirige. Se o estado de sofrimento se
De acordo com a autora, neste mesmo trabalho, a clínica do olhar é central no primeiro
ano de vida, não somente por que a ausência de olhar constitui um dos principais sinais das
O Corpo
oferecimento de seu corpo ao Outro. O modo como a criança se posiciona frente à sua
imagem constituída, a seu “eu” que começa a ser delineado, é o que irá caracterizar as atitudes
levantadas em cada etapa de vida, que destacamos a partir dos seguintes itens do Instrumento:
A.2, A.4, A.8, A.9, B.1, B.3, B.4, B.5, B.6, B.7, B.8, C.1, C.4, C.5, C.6, C.7, C.8, C.10, D.8,
vez que todo o corpo do bebê é tomado na relação com o Outro. Além disso, para a autora, os
sinais positivos de desenvolvimento são o bom ajustamento recíproco corporal, assim como
84
as condutas de antecipação e de resposta que o bebê saudável apresenta desde muito cedo, e
A autora, nesse mesmo trabalho, afirma que o ajuste corporal que conduz a um
clínico extremamente precioso, pois constitui o “lugar no mundo do bebê, na cabeça da mãe”
(p.71). De tal forma que se a mãe está em contato com seu bebê, e se este está desconfortável,
ela o sentirá e corrigirá espontaneamente sua postura. Ao contrário, se ela tem dificuldade de
contato com o bebê, ela não perceberá o mal-estar da criança, oriundo de seu desconforto
A autora nos faz pensar que, ainda que o aspecto maturacional e neurológico sejam
muito importantes nas anomalias encontradas nesse registro, sua expressão clínica permanece
psicomotores, mesmo se inseridos num quadro neurológico declarado, podem estar correlatos
2004, p.72).
importante do investimento no bebê. Assim, a má sustentação por parte dos pais, ou um bebê
aparentemente difícil de carregar – seja por estar muito rígido ou muito flácido – podem ser
vividos como tal pelos pais, podem ter como conseqüência um ajustamento corporal difícil,
do laço estruturado entre bebê e seus pais/cuidadores, é essencial que os sinais relacionados
85
com a dimensão do corpo sejam destacados, visto que eles podem nos alertar para possíveis
A Palavra
destacados os seguintes itens do Instrumento: A.7, A.10, C.2, C.3, C.9, D.1, D.2, D.3, D.4,
D.5, D.6, D.7, E.1, E.2, E.3, E.4, E.5, E.6, E.7, E.8 (Paravidini, 2002).
instauração do apelo, a partir do qual o bebê é elevado à categoria de ser falante. De outra
forma, podemos dizer que a pulsão invocante está ligada à escuta materna, à capacidade da
mãe em atribuir sentido ao choro do bebê. Por exemplo, em transformar o choro do bebê em
chamado.
Nas relações de troca com sua mãe, a criança se dirige a ela, com a ajuda de sua
própria voz, e ela responde, atribuindo sentido às suas vocalizações. O bebê está bem antes de
qualquer palavra verbal, no sentido da língua falada. Para a autora, essas trocas constituem
compartilhado.
existência para o Outro primordial. É a partir dessa afirmação de existência que as trocas
Dessa maneira, a mãe além de atribuir sentido e fixar as vocalizações da criança aos
canais significantes, ela também destaca, na cadeia sonora produzida pela criança, as palavras
da língua: ‘mam mam’ se torna mamãe, ‘pa pa’ se torna papai (Cullere-Crespin, 2004).
86
A autora, no mesmo trabalho, afirma que contrariamente aos bebês nutridos pelas
mães em sofrimento, os bebês saudáveis vivem a linguagem muito cedo, utilizando seu
aparato vocal para fins de comunicação antes de toda palavra falada. Eles sabem, por
exemplo, com seu choro, fazer com que a mãe venha logo.
Cullere-Crespin (2004) alega que, em oposição aos bebês saudáveis, cujo aparato
sofrimento emitem muitos gritos, cuja função se equivale a uma simples descarga, sem visar
nenhuma comunicação com o próximo, sem ter jamais sido preso a qualquer cadeia
significante.
De acordo com a autora, o não estabelecimento da função de apelo tem como efeito,
por um lado, que o grito permaneça um puro real acústico, fora de sentido, tanto para o bebê
não se produza.
respondem aos apelos do bebê, esse deixa de apelar. Dizendo de outra forma, a criança passa
2004).
Esse mutismo, ‘silêncio’ dos bebês pode ser apreciado por pais e profissionais que
deles se encarregam, fazendo com que eles sejam vistos como ‘bebês tranqüilos’, ‘fáceis de
cuidar’.
Porém, na clínica, a aparição desses sinais pode traduzir estados de sofrimento grave,
necessário haver equipes atentas à identificação desses sinais e sensíveis à questão do laço
Tais indicadores são bem conhecidos pelos profissionais da pequena infância. Mas
quando são encontrados, por exemplo, em situação de consulta pediátrica, sua presença
produz um certo mal-estar devido ao fato de que freqüentemente os médicos não sabem muito
bem como proceder: muitas vezes a identificação desses sinais é tida como incerta, tanto do
distinção entre as situações de que podem se encarregar elas mesmas, nas creches, escolas e
nas unidades de saúde, daquelas crianças que necessitam, urgente, de cuidado especializado.
88
Quanto aos sujeitos da pesquisa, gostaríamos de dizer que eles foram selecionados, a
Nesse sentido, nos propusemos a intervir junto a essas crianças que apresentavam
risco de sofrimento psíquico e/ou que apresentavam dificuldades no laço com seus pais e no
laço social. E optamos por discorrer sobre as partes mais significativas percebidas durante as
de cada situação.
Os quatro sujeitos da pesquisa são crianças, com idade entre zero e três anos, seus
respectivos pais e/ou cuidadores. As crianças e suas famílias foram acompanhadas pela
resultados da Ficha.
Optamos por manter uma cópia da aplicação do Instrumento de cada criança no corpo
do texto, portanto, sem colocá-los nos anexos como seria de praxe. Essa decisão decorreu da
importância para os leitores de poderem visualizar os fluxos das respostas de maneira mais
próxima ao que deles descrevemos e discutimos. Cada fluxo de respostas forma uma espécie
89
de ‘curva imaginária’ que norteou a análise qualitativa que realizamos para cada sujeito em
sua singularidade.
Apresentação do caso:
Chegamos até M., um bebê de um mês de vida, devido a uma denúncia de maus tratos
e negligência por parte da mãe da criança, que segundo alegação do Conselho Tutelar do
Município de Pirajuba, esta não apresentava condições para cuidar da filha. A mãe teve que
responsabilidade pela guarda da criança à sua irmã (tia de M.), podendo a mãe participar dos
a M. e sua mãe, na casa dessa tia. Constatamos que a mãe de M. estava iniciando um quadro
de crise psicótica pós-parto. O médico do PSF receitou uma medicação (um comprimido ao
dia de Sulpirida 100mg, durante 20 dias) e agendou uma consulta, para a mãe de M., na
semana seguinte.
Conversamos muito com a mãe e com sua irmã – a tia responsável pelos cuidados
institucionalização, uma vez que foi esse o prenúncio feito pelo Juizado caso a situação não
melhorasse.
Cabe esclarecer que antes da aplicação do Instrumento, fizemos outras visitas à casa
da tia de M. para ver como estava decorrendo a situação. A realização dessas visitas tinha
como finalidade acolher e acompanhar mãe e filha, possibilitando um ambiente em que a mãe
pudesse expor seus medos e angústias frente à situação que vivenciava com a filha.
decorrido os vinte dias a medicação diminuiu para 50mg. Após algumas semanas, novas
avaliações foram feitas pelo Conselho e Juizado que autorizaram o retorno de M. com sua
mãe para a casa – pois ainda estavam vivendo na casa da tia – devido a melhora no quadro
clínico da mãe.
a dois dias de completar três meses. A segunda escala foi aplicada no dia 30 de março, data
No caso de M., segundo sua mãe, a criança não chorava quando ela a deixava sozinha,
em alguns casos só ‘resmungava’, iniciando poucas vezes o choro. Uma questão importante e
criança olhava para a mãe enquanto mamava, se ela tocava a mãe e olhava para ela durante a
amamentação, a mãe responde que não, que a criança não a olhava. Porém, presenciamos
durante nossas visitas a amamentação da criança e constatamos que esse relato era
vezes para sua mãe, como se solicitasse, requeresse, numa tentativa frustrada, a sua atenção,
ou melhor, a sua presença. Porém, como a mesma não respondia a essa solicitação, logo a
criança direcionava o olhar para outros lugares (teto, sofá) ou fechava os olhos e adormecia.
91
fato de querer ou não ter tido a criança. A mãe oscila ora dizendo que “ter filha mulher é a
melhor coisa que tem”, ora diz que “não queria ter tido filha mulher só os dois filhos
homem”. Quando questionada, a mesma não sabe explicar e apenas repete a mesma frase.
O segundo é que apesar de a mãe não olhar para a criança, não conversando com a
mesma durante a nossa presença, nem percebendo seus movimentos de solicitação (a mãe
momentos, buscar, solicitar, requerer o contato com esse Outro, seja através de alguns breves
olhares, seja através do sorriso ou dos movimentos que fazia com os braços e pernas.
Durante uma de nossas visitas, para ser mais específica, após duas semanas da
aplicação da primeira escala do Instrumento, a mãe de M. nos relata com alegria que sua filha
modificar o olhar de sua mãe. Foi devido a esse olhar de solicitação e busca da criança,
atrelado ao trabalho de acolhimento que desenvolvemos junto a essa família, que a mãe se
percebeu enquanto sujeito de desejo, reconhecendo M. como sua filha e desenvolvendo sua
função materna.
apresenta, nas Escalas A e B respostas pouco irregulares, podemos encontrar uma constância
contato com sua mãe, em que a criança demonstra reclamar a falta ou ausência do adulto.
92
10- Dorme bem, não apresentando insônias (batendo-se ou ficando quieto com os X
curiosidade, satisfação.
93
ao espelho ainda.
Discussão:
maus tratos e situação de crise da mãe. Nesse caso, percebemos que a necessidade de
filha se dava.
A situação vivenciada por M. e sua mãe correspondia a uma das três frentes principais
de trabalho em que nos baseamos: acompanhar casos em que as patologias dos pais
Com relação ao aspecto do olhar – em que a mãe não olhava à criança e afirmava que
a filha também não lhe endereçava o olhar –, questionamos a possibilidade de ambas estarem
94
que o olhar – da mãe endereçado à criança, e da criança fixado à mãe – ainda não estava
presente nesta relação. Pensando aqui, o olhar enquanto função psíquica, conforme nos fala
Quando a mãe nos relata que sua filha passou a lhe dirigir o olhar enquanto mamava.
Fomos convidados a pensar que somente após a mãe ter sido alertada pela questão do olhar da
filha, quer dizer, somente após perguntarmos se a filha lhe dirigia o olhar enquanto mamava, e
a mãe pode perceber a filha em seus braços, pode reconhecer a criança como sua filha, e mais,
Além disso, a partir dos ensinamentos de Winnicott (1951), podemos então pensar
que, a condição pela qual o olhar se instala parece estar correlacionada ao fato de ‘ser vista’.
Assim, é o olhar da mãe que faz o bebê entrar numa filiação, numa pertença. E é o
olhar do bebê que coloca a mãe em posição de se identificar com ele. A partir daí, o bebê
coloca em posição de poder atribuir, a essa filha tornada sua, os objetos de seu desejo.
Constituindo assim, no olhar que a mãe passa a debruçar sobre a filha, uma imagem composta
do real do corpo de M. e das atribuições do desejo materno. O que aconteceu entre M. e sua
da mãe foi possibilitado, por meio de trocas que realizamos com ela, tanto pelas palavras da
terapeuta (pesquisadora) e equipe de saúde do PSF, quanto pelas palavras que a mãe foi
Também podemos pensar que foi igualmente possível permitir à M., fazer uma
experiência diferente em relação ao olhar: em que sua tia – investida por M. – pôde direcioná-
la um olhar que a via, contrariamente ao olhar de sua mãe. Possibilitando, assim que M. se
reconhecesse por meio desse olhar; e mais, que buscasse, solicitasse, exigisse, numa tentativa
finalmente bem sucedida, a presença de sua mãe, através do direcionamento de seu olhar a
ela. E, a partir do olhar da criança – olhar este que serviu como suporte identificatório –, F.
Em certos casos, o fato de solicitar a mãe bastará para fazê-la voltar ‘a si mesma’, em
papel, de maneira manifesta, no que vai se passar com a criança; e que essa tentativa
perseverante, por parte da equipe, para entrar na relação com essa mãe e criança,
Saúde Pública, podemos afirmar que nos casos em que a mãe e o bebê dão prova de uma boa
De todo modo, vale ressaltar que, é fundamental não pretender que o olhar chegará
‘com o tempo’. Pois os tempos mais longos para a fixação do olhar se observam
96
sistematicamente nos bebês em sofrimento, que têm relações complexas com seus próximos e
Apresentação do caso:
G. era uma criança de cinco meses de idade quando a conhecemos. Ela apresentava
uma hipertonia ‘global’ que muito inquietou a agente de saúde que cuida da área onde G.
mora com os pais e uma irmã mais velha. Devido a essa inquietação e solicitação da agente,
uma falha de ajustamento postural. A criança permanecia o tempo todo com o tronco bastante
rígido; cabeça e pescoço duros, impossibilitando seus movimentos como: olhar para o lado,
para cima, abaixar a cabeça, etc; apresentava as costas e braços enrijecidos, os braços sempre
para cima como quem estivesse agarrada a uma barra; e as mãos fechadas firmemente. G.
permanecia nessa posição mesmo durante o sono, dormindo. Parecia se defender, com essa
Sua coluna ficava sempre bem ereta, não sentava sem apoio, não conseguia abaixar os
braços, apontar para um objeto ou pegá-lo; era a mãe, por vontade própria, quem pega e
entrega a ela, porém sem a solicitação da criança. G. apenas agarrava os objetos que lhe
costas e pescoço era tal, que fazia com que se tornasse difícil contê-la, carregá-la, segurá-la ou
mesmo trocá-la.
Indagamos-nos pelo fato de esse estado de coisas não alertar os pais, que em todo caso
nunca falaram disso com a agente de saúde, segundo afirmação da mesma. E fomos nós que
Os pais não souberam fazer referência ao tempo, deixando a entender que a criança
apresentava essa posição desde o nascimento. De acordo com os mesmos, após uma avaliação
do pediatra da UBS, esse alegou que a criança poderia ter sido gerada naquela posição, o que
justificaria a postura assumida desde o nascimento; e que com o passar do tempo, com o
naturalmente.
Sem alarmar demasiadamente os pais, sugerimos que eles a levassem para fazer uma
uma cidade próxima ao Município. Após a consulta e alguns exames, cujos resultados
Durante as visitas à casa de G. aplicamos o Instrumento, que foi respondido pela mãe
da criança. Foram duas datas de aplicação da Ficha: uma no dia 10/01/2007 e outra na data de
23/03/07, uma vez que a criança teria alcançado a idade correspondente para completar a
Na primeira data de aplicação, G. estava com seis meses e doze dias. Na segunda data
de aplicação, estava para completar nove meses. As informações relativas ao questionário, nos
dois dias de aplicação, nos foram dadas por sua mãe, apesar de o pai estar presente em ambas.
A criança também esteve presente, possibilitando que observássemo-la diretamente nas duas
G. demonstrava ser uma criança tranqüila, que pouco ‘reclama’ ou solicita os pais, não
chorava, nem se inquietava quando colocada apoiada no canto do sofá (lugar em que a criança
rigidez de suas costas e a posição ereta de sua coluna. Percebemos que ela não demonstrava se
A mãe afirmava que a criança estranhava muito as pessoas, chorando sempre que
sentada ao seu lado. Porém, essa afirmação contradiz a resposta dada pela mãe ao
UBS, que iniciou um trabalho com sessões de massagens na criança, com a presença e
participação da mãe.
A mãe queixava muito do marido, que sempre a responsabilizava pelos cuidados com
a casa e para com as crianças, sendo acusada de culpada caso não atendesse às expectativas
Durante nossas visitas o pai se manifestou, não para responder às questões, mas para
nos questionar sobre o que a filha poderia ter. Uma de suas suspeitas era que a filha tinha
Síndrome de Down. O pai demonstrou temer muito ter uma filha assim, afirmando que não
Os pais têm uma outra filha, mais velha, de três anos, eles demonstraram ter muito
orgulho da mesma, segundo eles, devido a sua inteligência e esperteza. G. sempre era
comparada à irmã, pelos pais, que demonstravam muitas angústias uma vez que a filha mais
idade. Também realizamos a aplicação do Instrumento na irmã de G., e observamos que todas
O pai afirmava constantemente que G. precisava ganhar peso, pois ela “está muito
magrinha, feia, essa menina parece um E.T.”. A agente de saúde solicitou o cartão da criança
e verificou que seus exames de peso e altura estavam dentro do padrão esperado pela idade,
Apesar de a agente explicar sobre o cartão, mostrar a escala da altura e do peso para o
pai e demonstrar o quanto estava tudo correto com a filha, ele alegava que ela estava muito
feia e que “parece um E.T.”, que “ela é igual um E.T.”, repetiu isso várias vezes, até a mãe
se irritar e pedir para ele parar de falar, para que ela pudesse continuar a responder ao
Instrumento.
Esse caso foi amplamente discutido durante as reuniões que fazíamos com toda a
que engajada no trabalho com G. começou a participar e a se interessar pelo trabalho que
desenvolvíamos.
A fisioterapeuta relatou que, após ensinar para a mãe, solicitava que a mesma
realizasse a massagem fisioterapêutica na filha todos os dias. Porém apesar das orientações e
100
insistência da profissional, a mãe sempre alegava falta de tempo para cumprir com o
combinado.
Assim durante uma das reuniões, sugerimos que a fisioterapeuta pedisse para que a
mãe realizasse a massagem durante o banho da criança, assim poderia usar do sabonete como
facilitador e não teria que dispor de outro tempo para realizar a massagem. A mãe aceitou e
assim fez. Ela se encantava com os resultados percebidos – uma significativa melhora no
reforçaram o laço entre mãe e filha, se traduzindo em uma melhora rápida e espetacular. A
À medida que a criança melhorava, ela passava de estranho a familiar. O que permitiu
uma maior aproximação do pai, que passou a desenvolver um comportamento mais afetuoso e
comprometido com a criança: o pai deixou de chamar a filha de E.T., passou a pegá-la no colo
O que nos chamou a atenção, em uma observação geral do fluxo das respostas, é que
meses), oscilando bastante entre as respostas positivas e negativas, porém nas Escalas B e C
aparentando ter tido uma seqüência bastante razoável em seu desenvolvimento posterior. As
oscilações das duas faixas etárias que vão do quarto ao nono mês, estão muito relacionadas ao
aspecto motor, do corpo da criança. Já na primeira faixa etária as oscilações são constantes e
10- Dorme bem, não apresentando insônias (batendo-se ou ficando quieto com os X
curiosidade, satisfação.
o rodeiam.
Discussão:
Essa afirmação muito nos espantou. Como poderia o médico pediatra assumir uma
posição tão naturalista, com relação a um sintoma tão evidente, ligado à dificuldade de
É importante realçar que esse é o motivo pelo qual se torna extremamente importante
que estes sinais sejam destacados, pois eles alertam, sem dúvida, mas recebem, com
estranhos, só se acalmando quando ela a pegava no colo; podemos pensar que G. fazia uso do
choro como meio para solicitar os cuidados da mãe, assim como os bebês recém-nascidos
expressar às suas angústias e medos por parte da filha, queixas com relação ao marido, além
de expor seus sentimentos de culpa e fracasso devido ao contexto vivenciado por ela.
A afirmação de que a filha parecia um E.T. é relevante se pudermos utilizar dessa fala
do pai para compreender o que podia estar passando pelo seu imaginário. O pai preferia alegar
104
que G. era um E.T., do que se ater, como pai, a uma filha com dificuldades, que não
pai. De tal forma que ele se excluía de qualquer responsabilidade/paternidade, alegando que
tudo era culpa da esposa e que – “não tenho filha assim não... não sou um E.T.” – não
poderia ter uma filha com ‘problemas’, pois não tinha ‘problema’.
imagem do corpo, que por sua vez, somente será possível a partir de uma construção psíquica,
No caso de G., a incapacidade dos pais em se comunicar com a criança parecia ser o
resultado de uma dificuldade subjetiva, em seguida à qual as trocas pareciam não acontecer ou
não mais funcionar. E foi em substituição dessas trocas ausentes que o processo de sofrimento
da criança se pôs a funcionar. Sendo, por outro lado, somente a partir da estruturação de
relações de trocas mais significativas, que a criança passou a responder através de uma
atrasos nas aquisições psicomotoras, são comuns os médicos e outros profissionais – numa
prognosticar o caso – alegarem, a partir de uma visão ‘naturalista’, que aqueles sinais fazem
Este é o motivo pelo qual se torna extremamente importante que esses sinais sejam
destacados, pois alertam (sem dúvida), mas recebem (com freqüência excessiva) respostas
No exemplo de G., ela mesma e sua mãe reagiram muito bem no espaço da relação de
semelhantes não se deixarão facilmente resolver, sendo necessário prever intervenções mais
diretivas.
Apresentação do caso:
questionou-a sobre a possibilidade de trazer a pesquisadora para realizar uma visita e observar
o desenvolvimento de sua filha. Apesar de não recorrer aos atendimentos oferecidos pelo
em outras cidades; a mãe permitiu a realização das visitas domiciliares. Iniciamos essas
visitas junto a E., sua mãe e seus irmãos. Esclarecemos à mãe quanto ao teor da pesquisa, a
A criança utiliza dos serviços prestados pela APAE de Uberaba, sendo atendida por
com formato de oficinas lúdicas, junto a outras crianças. Para a mãe, essas atividades muito
contribuíram para o desenvolvimento motor e para a aquisição da fala, por parte da criança.
Ela tem uma irmã gêmea e outros três irmãos mais velhos (duas meninas, uma de 17
Instrumento com a mãe de E., que nos relatou alguns fatos referentes ao nascimento da
criança.
De acordo com a mãe, E. nasceu com hidrocefalia e ‘cortação’ de aorta (“veia aorta
fechada”), tendo ficado na incubadora por seis meses. Durante esse período, a criança não se
amamentava direito e sua alimentação era realizada por sonda; somente no quinto mês, passou
Segundo seu relato, durante os três primeiros meses de vida, eram as enfermeiras as
responsáveis pelos cuidados com E. A mãe só pôde pegar E. no colo a partir do quarto mês de
vida da criança e afirmou que foi diferente, teve receio, pois estava acostumada com a irmã
que era mais “durinha”. Justificou não conseguir responder por completo a primeira etapa do
Durante as visitas domiciliares, a mãe também nos contou sobre a batalha de E. para
sobreviver, que teve sete vezes meningite ventricular. A criança foi submetida a várias
cirurgias; com 15 dias de vida realizou a primeira delas. Com seis meses e meio, já havia
passado por 13 cirurgias no cérebro, devido a várias rejeições por parte do organismo da
criança. Contou que sempre que realizavam uma cirurgia na criança, em poucos dias, outra
era feita para retirar a ‘válvula’ introduzida na cabecinha da mesma, até que finalmente a
107
última teve o sucesso de não-rejeição. Porém, as cirurgias não cessaram por aí, e no sétimo
mês a criança foi submetida a uma cirurgia no coração, na cidade de Ribeirão Preto/SP.
E. sempre foi cuidada por várias pessoas (enfermeiras, médicos, familiares), mas com
seis meses já demonstrava reconhecer a mãe, através do olhar. Afirmou, também, que a
criança chorava muito e que só assumiu os cuidados para com a filha, quando a mesma foi
muito difícil com a criança, que sofreu muito por ter que deixar a mesma no hospital e voltar
Ela alegou que apesar de a irmã gêmea de E. não ter tido nenhum problema de saúde,
esta sentia muito a falta da mãe e sempre requeria a sua presença e cuidados. Assim, quando
E. foi para casa, foi a filha mais velha quem assumiu a responsabilidade dos cuidados da
importante observada durante nossas visitas. Numa ocasião em que estávamos, como de
costume, observando a relação mãe e filha, ocorreu um fato curioso e no mínimo intrigante:
estava na hora das crianças comerem, E. estava no carrinho, sua irmã no chão brincando e a
mãe trouxe um prato com comida para as duas. A mãe iniciou alimentando a irmã e em
chorar muito. A mãe um pouco ‘desconcertada’, demonstrando não saber o que estava
fazendo de errado, nos disse que não conseguia dar comida para a criança, apesar de toda
dedicação, pois “ela é muito chata pra comer”. Em seguida, chamou por sua filha mais velha
A filha mais velha pegou E. no colo, que logo parou de chorar, colocou comida para
ela e iniciou sua alimentação. E. demonstrou prazer ao ser alimentada pela irmã que brincava
Durante as nossas visitas, foi possível observar que E. sempre estava no colo de sua
irmã mais velha ou no carrinho, enquanto sua mãe segurava a outra filha no colo ou se detinha
aos cuidados da mesma. Apesar de a irmã gêmea de E. já demonstrar querer sair do colo da
mãe para pegar alguns brinquedos, a mãe sempre se antecipava, pegava o brinquedo e
entregava-o a filha, que dessa forma permanecia no colo da mãe brincando. Eram raras as
Em outra ocasião, quando perguntamos sobre o estado atual de saúde de E., a mãe
respondeu que temia muito pela vida da filha, pois “ela é muito fraquinha, gripa com muita
facilidade, não tem resistência às doenças”. Disse também que apesar disso, achava a filha
forte por tudo que passou, e que durante várias vezes pensou que a filha não fosse resistir e
sua primeira parte, pois, conforme falado anteriormente, a mãe afirma não saber responder
por não ter estado presente junto à E. durante este período, uma vez que a mesma ficou na
podemos pensar ser correspondente aos cuidados que as enfermeiras e posteriormente a irmã
apresentou sérios problemas de saúde durante os primeiros meses de vida, o que, segundo o
médico do PSF, podem justificar esses atrasos, identificados a partir das observações e da
aplicação do Instrumento.
Instrumento.
quatro meses e afirma que foi diferente, teve receio, pois estava acostumada com
5- Sorri diante dos rostos dos familiares. A mãe não soube responder.
9- Quando chora, aceita ser consolado pelo adulto. A mãe não soube responder.
10- Dorme bem, não apresentando insônias (batendo-se ou ficando quieto com os X
curiosidade, satisfação.
em frente ao espelho.
rodeiam.
que não, depois afirmou que sim, mas não soube dizer como a criança brinca.
6- Aponta com o dedo para as coisas que quer. Abaixa o corpo e estica a X
mão (aberta).
Discussão:
ocorreu em um número muito menor de sessões, totalizando apenas 11; devido ao fato de a
mãe sempre estar viajando, para a realização de procedimentos visando saúde de seus filhos
A partir do que foi exposto pela mãe, sobre “a batalha de E.” (como ela mesma disse)
para sobreviver, discutimos sobre o quanto a criança possivelmente teve que batalhar para se
sustentar também nessa relação com esse Outro, que pouco parecia reconhecer a sua presença,
que talvez ainda não havia percebido seu retorno à sua casa, aos seus braços.
Pensamos também sobre essa imensa potencialidade da criança à vida, sendo capaz de
se agarrar a sua irmã mais velha, como quem se agarra à ponta de um ‘fio’, para a partir daí
dificuldade da mãe no manejo com E.), podemos pensar que, apesar da mãe permanecer capaz
de cumprir com os cuidados básicos em relação à criança, a natureza mecânica das trocas que
estabelecia com E. muito comprometia a relação entre ambas. Essas trocas mecânicas podiam
corresponder ao medo da mãe em perder a criança, fazendo com que as trocas entre ambas
A ausência de investimentos psíquicos da mãe, nas trocas estabelecidas com E., fazia
com que a criança se manifestasse através da recusa em se alimentar. Essa recusa mascarada7
demonstrava a tentativa de E. em fazer sua mãe lembrar-se de sua existência enquanto sujeito
podemos perceber porque a recusa alerta os mais próximos: além do argumento vital, sempre
colocado no primeiro plano, o que choca e provoca reações na mãe é que a recusa da criança
estatuto de linguagem, pois não se trata apenas de uma questão alimentar voltada à uma
desejo do Outro.
7
Chamamos a recusa de E. em se alimentar de mascarada porque não se tratava de um caso em que a criança não
comia ou recusava o alimento, como nos casos de anorexia em crianças, mas de uma recusa resistente à natureza
O obstáculo que os pais devem evitar nos cuidados com os bebês e crianças é a
quando tolerada, pode então operar como um ato que rompe com a onipotência original do
Outro.
criança pode não atingir a mesma significação, e recairá, de certo modo, no vazio, como uma
Durante o trabalho de intervenção, a mãe nos falou de seu medo, de seu temor em
‘perder’ a filha. Esse discurso é interessante se pensarmos que só podemos perder algo que
possuímos, literalmente. O que queremos dizer é que com essa fala a mãe já demonstrava
possuir, ter, reconhecer E. como filha, como objeto de seu desejo. A mãe passava a se
trabalho em que a palavra era permitida e possibilitada. Por meio de trocas que realizamos
com a mãe e os filhos, tanto pelas palavras da terapeuta (pesquisadora), quanto pelas palavras
(relatos) que a mãe foi convidada a dizer sobre as dificuldades que encontrava, os medos que
sentia, as angústias que temia, a mãe pôde cada vez mais se aproximar de E. e assumir
gradativamente os cuidados pela mesma, mas dessa vez, não de natureza mecânica, mas
E., de modo que a relação de troca não se estruturasse unicamente de forma operatória, mas
que comportasse uma dimensão simbólica, desejante: o fato de estar com a criança, de estar
atento e de lhe falar, dirigindo-se a ela, à parte de todo cuidado, conta muito. Principalmente,
115
em se tratando de uma criança que tenha passado por situações tão difíceis após o nascimento,
como no caso de E.
Apesar de a recusa ao alimento colocar em risco o prognóstico vital e por isso muitas
crianças necessitam ser tratadas no âmbito da urgência médica, não podemos negligenciar a
Podemos encontrar este tipo de conduta operatória em algumas mães que parecem não
poder se perguntar por que o bebê não come, e querer unicamente que ele coma. Esse tipo de
capacidades também muito diferentes das mães para reagirem no quadro das relações de
Para essa sintomatologia invariável, é tal capacidade que designará as situações que
podem ser acompanhadas nos casos de prevenção, por equipes treinadas e atentas, em
diretivas.
Apresentação do caso:
A. era uma criança de um ano e dois meses, quando nos foi encaminhado pela agente
de saúde, devido ao seu atraso na aquisição da linguagem. A. falava muito pouco, utilizando-
116
se algumas sílabas, coisa que as crianças que se desenvolvem normalmente fazem num espaço
Apresentava desnutrição, seu peso e altura estavam abaixo do esperado para a sua
idade, além disso, a criança não havia tomado algumas vacinas importantes, conforme
Na casa de A. moravam: a criança, sua mãe, seu irmão de quatro anos, seu pai, um
outro casal e mais duas meninas (a mais velha é registrada como filha do pai de A.). Segundo
sua mãe, a casa sempre ficava muito cheia, o pai de A. constantemente levava amigos para
Os homens (pais das crianças) não tinham trabalho fixo e as mulheres ficavam por
conta da casa e dos filhos. Conforme relato da agente, era comum a ocorrência de brigas,
agressões físicas e morais, entre as mulheres (mãe de A. e a outra mulher, que estava grávida
de um terceiro filho).
separados dos do outro núcleo. Segundo a mãe de A., sua família apresentava mais
dificuldades financeiras e os conflitos surgiam por esses e outros motivos. De acordo com a
agente, eles viviam em pleno estado de miséria e pobreza, faltando muitas vezes comida para
A casa era composta por quatro cômodos: um quarto, um banheiro, uma sala cheia de
entulhos e uma espécie de cozinha, onde havia um fogão, um sofá e um armário. O chão era
de terra batida, havia três janelas, mas somente uma – a da cozinha, que dava para os fundos
da casa – ficava aberta, o que favorecia o mau cheiro e dificultava a iluminação na casa. Era
uma casa muito suja, com muitos entulhos, como: pedaços de madeiras, latões de tinta vazios,
comida no chão, etc. Não havia portas entre os cômodos e eram algumas paredes e lençóis
que faziam à divisão da residência. Algumas pessoas dormiam no chão (não é possível citar
117
quais), pois só havia uma cama de casal no quarto. A precariedade em que viviam era de
espantar.
Na visita inicial, A. estava com diarréia e vômito (situação que perdurava há duas
semanas), mamava constantemente na mãe, mas logo vomitava e defecava na própria roupa
ou no chão. Chorava muito, pois de acordo com a mãe a criança estava com muita fome, mas
segundo seu próprio relato tudo que ele comia, ele vomitava.
Momentos após a nossa chegada, um fato muito nos surpreendeu: A. evacuou no colo
de sua mãe, que o ‘lançou’ ao chão. A criança começou então a comer restos de alimentos
Apesar de a mãe alegar que ela era mais apegada a ele – pois segundo seu próprio
discurso, o outro filho não gostava dela, só do pai –, ela não demonstrava ter cuidados, nem
desidratação eram alarmantes, a mãe não o levava para as consultas na UBS, apesar de ter
preocupação, pois afirmou que seu outro filho nunca havia falado direito, e ainda não falava.
Após algumas visitas, a família que anteriormente também morava na casa não estava
mais presente. A mãe de A. contou que eles tiveram um briga e que o seu marido mandou que
o outro casal se retirasse com as filhas. Porém, ela afirmou que lá sempre estava cheio de
amigos que o marido colocava dentro de casa, e que isso a deixava muito brava, pois eles só
ensinavam coisas erradas para os filhos dela, como, por exemplo, ‘xingar’, gritar, bater.
perceber que o pai era uma pessoa muito agressiva com a esposa, impondo sua autoridade a
partir de gritos e ameaças aos filhos e à esposa. Estava constantemente ausente, trabalhava
118
com tráfico de entorpecentes no Município e região, já tendo sido preso várias vezes. Houve
uma denúncia, não comprovada, de que ele aliciava seu filho mais velho ao tráfico, usando-o
uma vez que o quadro mais apontava para uma forma de ausência psíquica. Ela oscilava em
momentos em que demonstrava querer ‘sair’ daquela vida, mudar de cidade (voltar para o Rio
de Janeiro, de onde veio), deixando para trás o marido e os filhos. E momentos de solidão,
não querendo nos receber, ficando trancada na casa junto com os filhos, sem alimentá-los,
Segundo a avó paterna que morava ao lado da casa dos pais de A., por várias vezes ela
teve que interferir, chamando um outro filho para invadir a casa e retirar as crianças, pois as
Apesar dos nossos convites, o pai nunca participou declaradamente das sessões.
Utilizamos o termo ‘declaradamente’, pois algumas vezes foi possível perceber que ele ficava
presente, a justificativa era que os filhos não agüentavam ficar dentro de casa e que
Estas sessões, em que só a mãe estava presente, eram caracterizadas e, por nós
ansiedades e angústias, e a nós era destinado o lugar de recipiente – receptor daquele ‘vômito’
tido como ‘vômito em jato’ –, invólucro em que se podia depositar ‘tudo’ o que a ela fazia
mal. Várias das agentes de saúde não agüentavam aquela situação e acabavam saindo da casa
À medida que o trabalho foi se estruturando, as trocas entre mãe e filho começaram a
acontecer: a mãe após ter sido orientada passou a se preocupar mais com sua saúde e com a
dos filhos – passou a utilizar o soro caseiro, a freqüentar a UBS, vacinar as crianças. Além
disso, passou a compreender melhor a linguagem do filho e a responder ao que ele dizia,
responder aos investimentos de sua mãe: começou a se alimentar melhor, ganhou peso,
Segundo relatos mais recentes das agentes de saúde, A. já se comunica melhor através
da palavra, sua fala já apresenta palavras inteiras e algumas frases; sabe como requerer os
cuidados junto a sua mãe e passou a freqüentar a creche. A mãe iniciou um trabalho de
geral dos resultados, A. não apresentava grandes oscilações entre as respostas, demonstrando
Nos demais aspectos e escalas, foi possível encontrar uma constância no padrão de
respostas positivas. Porém, segundo o relato da mãe, a criança não dormia bem à noite,
característica esta que esteve presente desde que A. era bebê, conforme demonstrado na
10- Dorme bem, não apresentando insônias (batendo-se ou ficando quieto com os X
curiosidade, satisfação.
121
5- Vocaliza várias sílabas definidas. Poucas, somente algumas como: “ah, dah” X
rodeiam.
10- Engatinha. X
122
Discussão:
O motivo pelo qual, atrelado ao atraso na aquisição da linguagem, nos fez acompanhar
o caso, foi nos questionarmos incessantemente: Qual era a posição que a criança ocupava no
desejo de sua mãe? Essa questão muito nos inquietou, não sabíamos identificar em que lugar a
criança se situava no desejo materno, que posição ela havia assumido naquele enlace familiar
tão particular.
posição que a mesma assumia frente ao seu marido, filhos e ao seu próprio desejo, de modo
que assim, a mesma pudesse ‘dar conta’, acolher as angústias do filho, possibilitando a
filho e de aceitar os ‘limites’ que a criança lhe impunha (a linguagem não estruturada, a
Podemos pensar que a criança, além da questão orgânica, respondia aos ‘vômitos’ de
angústia de sua mãe da mesma forma, expulsando também a sua angústia em forma de
trocas psíquicas com ausência de fala, de sono, de alimento. ‘Alimento’ este que nutre não só
da criança, essa passou a deixa de apelar, passou a abandonar toda tentativa de se fazer
escutar por sua mãe e seu pai. Seus choros, sílabas e gritos se equivaliam a uma simples
em forma de ‘jato’, realmente eram sessões extremamente densas, difíceis de serem digeridas.
As sensações de ‘peso’ e ‘aperto, esmagamento’ internos, sentidas por nós, eram muito
Era um trabalho que requeria muita aceitação (dos ‘vômitos’), compreensão (da
situação, do contexto), disciplina (para que não evadíssemos) e acolhimento (da realidade
interna e externa exposta pela mãe); o que nem sempre parecia ser possível sustentar.
Somente quando permitimos e aceitamos os ‘vômitos’ da mãe, é que foi possível a ela
reconhecer e perceber seus filhos, seus apelos e, também, se perceber enquanto mãe. Ou seja,
somente possibilitando que seus níveis de sua ansiedade e angústia diminuíssem, após longos
estruturar formas de pensar sobre o mesmo – foi que os filhos passaram a fazer parte de sua
‘história’, de seu desejo materno, de sua vida, de sua realidade psíquica (interna) e externa.
sujeito; sujeito como ser de linguagem, de desejo, sendo dessa forma, responsável de forma
Era necessário reconhecer sua condição desejante no laço com seus pais, muitas vezes
encantamento. E para isso, nosso trabalho dispunha fornecer, constituir suporte para que as
reivindicar seu lugar no enlace familiar e possibilitando que esse pudesse ser reconhecido por
seus pais.
As trocas entre mãe e filho foram possibilitadas, à medida que o trabalho foi se
Esses sinais ligados à ‘palavra’, podem indicar estados de sofrimento psíquico infantil,
silenciosa dos bebês deixem de ser apreciados por pais e profissionais que deles se
encarregam (percebidos como ‘bebês fáceis de cuidar’); e se tornem preocupantes, uma vez
que a aparição desses sinais pode traduzir estados de sofrimento grave, que necessitam
rapidamente de cuidados.
125
CAPÍTULO V
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
cresce, nos dá uma impressão de mágica, em que tudo caminha por si só. Nossa impressão é
de que tudo se desenvolve sem nós; como uma maçã que, ao ser deixada na fruteira,
Nosso trabalho com crianças (seja nos atendimentos na Clínica da UFU, seja a partir
desta pesquisa) tem demonstrado que elas podem tanto desenvolver muito rapidamente um
ocorre com a criança que não está bem, mostram como podem ser observáveis e, dessa forma,
como diversos profissionais podem perceber esses sinais desde muito precocemente em
benefício da própria criança e do risco que essa correria, caso não fosse atendida.
Encontramos aí o limite necessário para pensarmos quando encaminhar para uma consulta
especializada ou quando a criança pode ser tratada pelas equipes de prevenção, como a do
instituições-abrigo.
128
saúde). Esse trabalho foi possibilitado por meio de uma escuta atenta, permitindo à equipe
Nas reuniões que realizávamos para discutir sobre o trabalho desenvolvido, pudemos
diversificar nossa prática e, em particular, intervir em nossa equipe sob forma de reflexões
aumentar o efeito das ações e obter melhores resultados, seja sobre a gestão de certas
Um outro ensinamento que retiramos desse percurso foi que o saber específico do
colocado à disposição dos demais profissionais que se ocupam das crianças nas diversas
instituições.
escolas), em que não há triagem, poderiam se tornar preciosas para a saúde e desenvolvimento
de muitas crianças.
129
de se fazer ou promover. Assim sendo, temos a obrigação de reconhecer que esses diferentes
Outro ponto importante foi que nesta pesquisa encontramos, também, o trabalho em
intervenção num trabalho tão essencial de parcerias. Nesse sentido, o trabalho junto à Rede
discutimos que essa dificuldade de comunicação parecia ser o resultado de uma dificuldade
subjetiva, seguida à qual as trocas, entre o bebê/criança e o Outro, pareciam não acontecer ou
não mais funcionar. Nesse sentido, foi essencial o desenvolvimento de um trabalho visando
reestruturar o processo de interação entre a mãe (pai, ou outro cuidador) com seu filho(a),
Em cada um dos casos prevaleceu uma problemática que pode ser indicada pelos três
grandes vetores (olhar, corpo e palavra) que sustentam a relação da criança com o Outro e que
formam a base metapsicológica das quatro escalas que compõem o Instrumento em questão, a
impostas pelo organismo e a formação da imagem e esquema corporal; por fim no quarto
temos a questão primordial da palavra. Não se trata de exclusividade, mas apenas o que se
Durante a intervenção junto a essas mães e pais, podemos afirmar que a maioria deles
dificuldade subjetiva no enlace familiar, que dificultam as trocas entre mãe-criança são
Ficou extremamente claro perceber que esses pais só foram capazes de voltar a se
apoiados pela terapeuta e demais profissionais, por essa rede de suporte e sustentabilidade que
Essa rede foi tecida e estruturada a partir dos três direcionamentos: a) a desconstrução
como sujeito.
Os quatro casos clínicos foram apresentados a título de ilustração, dessa forma, não
nos propusemos a descrevê-los e analisá-los, como nos trabalhos de estudos de casos clínicos.
O que nos importava saber era: O que faz diferença nessa prática onde psicanálise e saúde
relacionam? Qual a direção tomada por essa ‘clínica’ do bebê e da criança pequena? Por que
público?
Nessa perspectiva, pretendemos fazer com que essas reflexões contribuam para que
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General'
s Conference on Children' s Mental Health: a national action agenda. Rockville,
Maryland, US Department of Health and Human Services.
ANEXOS
140
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ANEXO 1
FICHA DE ACOMPANHAMENTO DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
1- Amamenta-se bem, sugando o peito (ou mamadeira) de maneira firme e constante, sem
pernas.
choramingos.
10- Dorme bem, não apresentando insônias (batendo-se ou ficando quieto com os olhos abertos
2- Apresenta diferentes expressões faciais, que podem demonstrar dor, alegria, curiosidade,
satisfação.
3- Manifesta reações diante de sua imagem no espelho, tentando pegá-la, tocando a si mesmo,
4- Mantém contatos afetivos, reclamando se o adulto de ligação se afasta dele e alegrando-se com o
3- Reconhece as expressões faciais de raiva, alegria e aprovação das pessoas que o rodeiam
6- Solicita ser pego no colo, estendendo os braços ou inclinando seu corpo em direção ao corpo do
adulto
10- Engatinha.
8- Desenvolve-se bem em suas capacidades corporais através de movimentos como pular, correr,