Tese Alvez 2011
Tese Alvez 2011
Tese Alvez 2011
Faculdade de Medicina
Fernando Pessoa
ii
AGRADECIMENTOS
nossa formação.
À Profª Jacinta Martins e à Profª Isabel Seixas da Escola Superior de Enfermagem Dr.
José Timóteo Montalvão Machado de Chaves, pela disponibilidade e apoio incondicional que
sempre demonstraram.
iii
RESUMO
assiste actualmente a uma maior preocupação no desenvolvimento quer a nível pessoal quer a
descritivo.
forma diferente, ainda que todos sejam unânimes na clara distinção de espiritualidade e
religiosidade.
pessoal quer na vida profissional onde dizem ser relevante a inclusão desta dimensão na
Por último, verificamos que os profissionais que desenvolvem a sua actividade nos
serviços de cuidados paliativos referem alterar a sua forma de estar no quotidiano pela
iv
ABSTRACT
importance attention is attached to its development, either in the personal level or in the
This study analyzes the perspective of nursing regarding spirituality, its importance
spirituality in various manners; however all are unanimous in distinguishing spirituality and
religiousness.
We noticed that spirituality is also fairly valued or in personal either professional life
by the professionals, which emphasize its significance in the approach to the diseased.
v
ÍNDICE
Pág.
INTRODUÇÃO....................................................................................................................1
CONCLUSÃO .....................................................................................................................77
vi
ÍNDICE DE QUADROS
Pág.
vida” .......................................................................................................... 51
vii
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Pág.
..................................................................................................................... 42
..................................................................................................................... 43
serviço em CP............................................................................................... 44
viii
ABREVIATURAS E SIGLAS
C - Categorias
CP - Cuidados Paliativos
Pág. - Página
Profª - Professora
SC - Subcategorias
UE - Unidade de Enumeração
UR - Unidade de Registo
US - Unidade de Significação
ix
INTRODUÇÃO
-1-
Introdução
têm a dar aos doentes com doença grave e/ou incurável, avançada e progressiva. Para além de
ajudarem os doentes, apoiam também as famílias nas suas perdas, antes e depois da morte do
pessoa como ser global que é, podemos ir ao encontro do paradigma holístico do cuidar,
abordando realmente a pessoa no seu todo, incluindo o mais profundo de si: o espírito54.
científicas. Os primeiros trabalhos nesta área começaram a ser feitos nos anos 80 e têm vindo
a desenvolver-se em todo o mundo. De acordo com Saad, “Há evidências de que pessoas com
espiritualidade bem desenvolvida tendem a adoecer menos, a ter hábitos de vida mais
rapidamente” 14.
-2-
Introdução
poderes da «cura» estavam nas mãos dos que lidam com o espírito (sacerdotes, xamãs, etc), a
investigação actual, tanto no âmbito das ciências humanas como no das ciências naturais.
Contudo não se encontra consenso na literatura sobre o conceito de espiritualidade, sendo que
muitas vezes surge uma associação directa à prática de uma religião. No entanto,
existência, podendo coexistir ou não dentro da prática de um credo religioso. Assim, alguns
sistemas religiosos particulares e, embora mostrem variações entre elas, partilham a ideia de
para a vida, ter esperança e estar em paz no meio dos acontecimentos mais graves. Este
conceito é, de acordo com um estudo recente, uma definição científica de espiritualidade não
-3-
Introdução
independentemente de crenças pessoais e pode ser utilizado para caracterizar uma pessoa66.
Face às diversas opções, cada um exerce o seu direito de livre arbítrio e vive do modo
que considera melhor para si. E é nesta forma que se revela a ética pessoal pela forma de
viver62.
Este foi um dos motivos que nos levou à realização deste estudo, para além de um
exercício na área dos CP sobre o desenvolvimento da dimensão espiritual na vida diária dos
-4-
Introdução
Para a elaboração deste trabalho, temos como Objectivo Geral, analisar de que forma
dos profissionais.
espiritualidade;
espiritualidade;
Sabemos que existem várias opções metodológicas para a abordagem desta temática,
com a atitude dos profissionais de saúde perante a morte, bem como será abordado o tema
qualidade de vida. Numa segunda parte será feita a apresentação da metodologia utilizada
-5-
CAPÍTULO I
CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA
-6-
Cap. I - Contextualização Teórica
1. CONCEPTUALIZAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE
Durante as últimas décadas pensou-se que bastava reunir todas as condições materiais
de bem-estar e conforto para que a felicidade fosse conquistada. Estamos a constatar que
assim não é. Talvez por isso estejamos mais perto de reconhecer o valor e a importância do
Por espiritualidade entendemos algo que dá sentido à vida, que nos satisfaz e encoraja
princípio de vida que impregna todo o ser humano nas suas dimensões físicas, intelectuais,
vezes, é também uma procura de uma ligação a uma dimensão transcendente, para além de si,
que dê significado e sentido a uma visão pessoal do mundo e da sua vida, para além da
transcendência” 40.
sentido de continuidade e significação para a nossa existência. Por vezes não importa viver
muitos anos, mas sim viver bem os anos48. Assim a espiritualidade não é uma disciplina
reservada a alguns “maduros” ociosos e desligados da realidade, mas uma necessidade tão
básica como a comida e a bebida para criar um mundo mais harmonioso, um quotidiano mais
face a si própria, aos outros e à vida; é o sentido profundo dos acontecimentos da sua vida
-7-
Cap. I - Contextualização Teórica
pessoal, da vida dos outros e da história. Esta procura de autenticidade é a força interior que
Foi a partir a época Renascentista que começou a surgir a cisão entre o corpo e o
pode dizer-se de forma esquemática que, durante séculos, a espiritualidade foi veiculada
quase exclusivamente à religião Judaico Cristã na Europa. Foi com a “época das luzes” e com
autónoma: o sentido da vida e os valores podem enfim exprimir-se sem que haja uma ligação
com a Religião, suas crenças e seus ritos. A espiritualidade torna-se assim independente da
Religião.
religiosa. Watson vai para além desta definição e reconhece que cada pessoa possui forças
-8-
Cap. I - Contextualização Teórica
23,26
bom, único, capaz de se “ realizar perante os riscos da vida e da doença” . Para estes
Perante o conceito de «pessoa», ainda que por definir, toda a gente entende estar a
referir-se a algo de específico do ser humano, apesar das diferenças culturais e filosóficas31,70.
como pessoa, sempre foi o valor central, insubstituível e inegociável. A pessoa não é um
simples valor, comparável a outra: não é quantificável mas é valor moral revestido de
dignidade42,78.
Mantida a clareza desta tese ontológica, desde já é preciso acrescentar que a pessoa
conceito é mutável e pode ser repensado, descrito de outro modo conforme a evolução da
filosofia e da ciência70.
Primeiro, o peso das teorias evolucionistas, desde o século passado, segundo os quais
qualidades que sempre foram consideradas pela tradição filosófica absolutamente distintas da
natureza, no sentido em que deveriam ter outra origem, uma origem não natural e sim
sobrenatural. Para os evolucionistas, porém, estas qualidades ditas superiores provêm das
energias da natureza. Por exemplo, para Bergson, tudo surge da duração, inclusive a
inteligência e a intuição.
-9-
Cap. I - Contextualização Teórica
A fenomenologia abandonou o discurso clássico que nos define como essência, animalidade e
racionalidade e deu um grande salto ao colocar em segundo plano este conceito substituindo-
o pela análise ontológica da existência. Este passo marcou uma enorme virada na
biotecnologia na segunda metade do século XX, levando a problemas que já não são
espiritualidade. Um primeiro conceito faz referência a uma relação do ser Humano com um
ser superior, relação com o sagrado que se situa acima de uma experiência material. O termo
espiritualidade pode fazer referência igualmente a uma certa qualidade na vida das pessoas
receber amor, manter a esperança, encontrar um sentido para a vida, para a doença, para a
morte, através “de uma diligência pessoal para realizar-se e actualizar-se” 23.
Autores como Fisf e Shelly, Carson e Watson consideram que estas concepções da
uma procura de um sentido para o ser ou para o não ser. A espiritualidade é uma experiência
- 10 -
Cap. I - Contextualização Teórica
Para Benson, a visão espiritual da vida inclui considerações sobre mistério, amor,
dá sentido à vida e torna-a abrangente. É inerente a todo o Homem na sua condição humana,
mesmo ao agnóstico53.
limita a uma dimensão isolada da condição humana no mundo, mas sim à vida na sua
globalidade93.
questões fundamentais: 1) «que significa, no meu caso em particular, ser humano?»; 2) «que
e harmonia com as outras pessoas, com a Terra e com o Universo, a uma correcta relação
com Deus/Realidade última. A espiritualidade faz assim parte da pessoa, representa a sua
forma como toma conhecimento da existência das outras pessoas, a forma como as trata, o
Será “preciso acabar com o preconceito de que quanto maior o crescimento científico,
- 11 -
Cap. I - Contextualização Teórica
61
o início da Revolução Industrial” . “Devemos pensar que o segundo caminho para uma
existência feliz, quanto é possível neste mundo, é um sadio reconhecimento com os outros»,
que ajuda o desenvolvimento espiritual, e ao encontro da paz e tranquilidade, pois «para que
A razão da pouca valorização espiritual tem a ver, de certa forma, com a perda de
valores humanos, com a dessensibilização da sociedade pelos valores da vida que têm vindo a
que os espirituais50. Segundo Damásio “somos organismos vivos complexos, com um corpo
propriamente dito e com um sistema nervoso” 50. E não podemos esquecer que “o domínio
espiritual representa uma parte significativa do que somos. Qualquer distúrbio clínico ou
consequências da diminuição física. Por isso “o jovem tem mais projectos do que memórias e
O idoso não tem tanta capacidade de acção, no entanto, tem grande capacidade de
que aconteceu, por exemplo, nas sociedades tribais de outras culturas ou etnias, como a
cigana, em que o idoso é o chefe do clã e é respeitado e venerado. “Na nossa sociedade
valoriza-se muito o que é exterior e esta super valorização é uma cilada para a espiritualidade,
a visão espiritual faz-nos compreender que com os anos, o corpo diminui de capacidade e
espírito do indivíduo fazem parte as áreas do intelecto, das emoções e do estado físico50.
- 12 -
Cap. I - Contextualização Teórica
as necessidades espirituais60.
Por necessidades espirituais entende-se “as variáveis que nos inspiram para
incluem:
significado para a vida è entendida quando cada um analisa as suas situações de vida
procurando entendê-las. É muitas vezes através das situações de crise que cada um as
encontra. É nesta procura de uma filosofia de vida que a pessoa se questiona sobre o que está
duas relações distintas, sendo uma vertical (é uma força superior e respectivos valores que
orientam a vida do indivíduo, não necessariamente definidos por uma religião específica) e
outra horizontal (em que a vida do individuo é influenciada pelas outras pessoas e pelo
ambiente). Sendo assim, a vida pessoal de cada indivíduo é influenciada pelos seus valores
procura um significado para as suas experiências de vida poderá sentir culpa e ao necessitar
- 13 -
Cap. I - Contextualização Teórica
aliviar-se dessa culpa tem de perdoar. Procurar perdão, quer na dimensão horizontal quer na
dimensão vertical, ou nas duas, acaba por se tornar uma necessidade espiritual;
• Necessidade de ter esperança, sendo útil que essa esperança se baseie em factos
individual e os segundos de um desejo ou uma expectativa que vai para além da existência da
matéria40.
Cada um de nós tem de encontrar respostas para os desafios da vida que sejam
forma mais consciente as suas intervenções e o nível a que estas devem ser desenvolvidas9.
significado (os doentes podem isolar-se e tornar-se suicidas), o sofrimento intenso (inclui
religiosos (“já não creio em Deus”), cólera contra Deus, a religião e o clero (“porquê, porquê
eu”, “que fiz eu para merecer isto”), estoicismo desmedido e desejo de mostrar aos outros
como se devem comportar (“não posso desiludir Deus, a minha família”), o sentimento de
culpa ou de vergonha (“a doença constitui uma punição, não mereço melhorar”),
sonhos/pesadelos vividos nos quais, por exemplo, se é aprisionado ou se cai num poço sem
fundo. Contudo, adverte para o facto de ser importante não se estar convencido de que se
compreende a dor espiritual que a pessoa sente, uma vez que só esta é capaz de encontrar as
- 14 -
Cap. I - Contextualização Teórica
religião é portanto uma das formas de expressão da espiritualidade, melhor definida nas suas
estruturas. “Se a espiritualidade engloba a Religião, não se limita a ela: cada ser humano é
levado a pensar/reflectir no sentido da sua vida, no seu valor, a sua origem e o seu destino, a
sua dignidade. Cada ser está de acordo com a sua consciência, as suas mais profundas
convicções e é através do seu corpo, da sua alma e o seu espírito”. Portanto, a espiritualidade
é um conceito fluído, difícil de delimitar num quadro rígido, uma vez que depende das
Segundo o Petit Larousse, a espiritualidade é tudo o que remete para o espírito e para a
moral. Cada ser tenta estar de acordo com ele mesmo, quer dizer, com a sua consciência,
“Da mesma forma que não se pode curar os olhos sem a cabeça, ou a cabeça sem o
corpo, também não se deve tentar curar o corpo sem a alma…Pois a parte nunca pode ficar
manifestação de fé/ devoção a uma realidade última ou a uma divindade, através de uma
prática e obediência a um sistema organizado de crenças e culto sobre a vida, que estabelece
na sua obra De natura deorum, (45 a.C.) afirma que o termo se refere a relegere, reler, sendo
característico das pessoas religiosas prestarem muita atenção a tudo o que se relaciona com os
- 15 -
Cap. I - Contextualização Teórica
fenómeno religioso, bem como o aspecto intelectual. Mais tarde, Lactâncio (século III e IV d.
C.) rejeita a interpretação de Cícero e afirma que o termo vem de religare, religar,
argumentando que a religião é um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a
Deus.
Universo fazia intervir a transcendência sobre a forma de Deus. Hoje em dia, a ciência
embora profundamente religiosas, muitas pessoas dão mais crédito à versão científica das leis
universais do que a versão religiosa. Dizer que algo “está cientificamente provado” é, hoje o
supremo certificado de validade. Embora este domínio absoluto da ciência seja contestável,
O mundo atómico e sub-atómico, por exemplo, escapam à nossa percepção e, por isso,
num certo sentido, também “transcendem” a realidade habitual. Certas correntes científicas
vida consciente, partindo de axiomas e de leis científicas. Embora esta questão pareça ser
filosófica e apenas do interesse de uma minoria das pessoas, a verdade é que, quando nos
interrogamos sobre o sentido global da vida, fazemos apelo a uma interpretação mais vasta da
- 16 -
Cap. I - Contextualização Teórica
Nem toda a gente tem necessidade de encontrar esse sentido global. Uns pensam
nisso, outros não. Entre aqueles que pensam, uns adoptam uma tradição religiosa, outros
procuram uma resposta pessoal. Outros ainda rejeitam limiarmente qualquer resposta desta
natureza64.
Em Portugal, muitas pessoas que se afirmam católicas não praticantes não o fazem
apenas por razões culturais ou sociais mas também, de alguma forma, por sentirem que, se
Religião71,95.
É “frequente confundir religioso com espiritual. É certo que não há religiosos sem
espiritual mas, segundo o pensar de muitos, pode haver espiritual sem religiosos, pelo menos
no sentido de uma estrutura formal das religiões ou seitas concretas”. Deste modo, a
“espiritualidade é um conceito muito mais amplo do que a filiação ou prática religiosa” 28.
Podemos encontrar pessoas com a sua necessidade espiritual satisfeita sem praticar qualquer
ritual religioso, se entendermos que a “dimensão espiritual de uma pessoa é aquela que
ampla do que a anterior. Tenta obter inspiração, reverência e respeito, mesmo dos que não
- 17 -
Cap. I - Contextualização Teórica
A espiritualidade pode dar à pessoa uma base para a ajudar a vencer em situações de
crise; quando estas fatalidades acontecem, as pessoas procuram encontrar um alívio para os
alegrias do dia-a-dia30,45,71.
religião. “A religião é uma crença no sobrenatural ou na força divina que tem poder sobre o
espiritualidade tenta obter inspiração, reverência e respeito, mesmo dos que não acreditam em
nenhum Deus”2.
“O termo religião exprime a ligação que existe entre o ser humano com o divino, a
Marx considera a religião como ideologia, como produção material que toda a
que religião é “um sistema solidário de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, isto é,
separadas interditas, crenças e práticas que unem numa mesma comunidade moral, chamada
Na luta pessoal contra um mundo por vezes adverso, o Homem sempre se confrontou
Sendo a morte uma realidade, o Homem poderá lastimar-se da sua herança cultural, da
sua educação e da sua formação profissional que não o ensinam nem o preparam para
enfrentar a (sua) própria morte. Perante ela é induzido a desvendar o que ainda é segredo.
- 18 -
Cap. I - Contextualização Teórica
Como não o compreende, tende a falar sobre a sua morte de uma forma abstracta, como se
ocorridas. A morte nos primeiros anos de vida era frequente e poucos foram os familiares que
não perderam um dos seus membros numa idade precoce. Quando olhamos para trás no
tempo e estudarmos antigas culturas e povos, impressiona-nos que a morte sempre tenha sido
universal, ainda que pensemos que a dominamos a muitos níveis. O que mudou foi a nossa
A morte foi, durante séculos, uma coisa natural e aceite. Foi assim até ao fim do
século XIX. O ser humano é mortal e, quando sente a aproximação da morte, pode preparar-
se para ela. A morte da pessoa era um acontecimento social. Envolvia os familiares, amigos,
vizinhos e pode-se, por isso, dizer que era uma “morte pública” 25,39.
coisas de família e foi-se retirando dela furtivamente. Na sequência dos avanços técnico-
científicos e até das manifestações sociais, a morte troca a casa pelo hospital22,25,89.
A morte passou, desde então, a ser ocultada, a ser como que tabu tanto mais
inconfessável quanto mais inaceitável e tanto mais impensada quando mais julgada
desprovida de sentido. Como diz Philippe Ariès, a morte desejável é aquela de que não nos
pessoas querem morrer de forma brutal, com um enfarte do miocárdio ou com uma ruptura
provocada por um aneurisma ou então, durante o sono. Essa morte, considerada ideal,
- 19 -
Cap. I - Contextualização Teórica
morte37.
A sociedade induz a uma vida ocupada, dedicada à aquisição de bens materiais em que
o tempo se esgota numa correria desenfreada “de um lado para o outro”, em que há uma
aos familiares. Desta forma, quando a pessoa se torna mais dependente, ou quando a sua
morte surge assim, como um entrave ao desenvolvimento rotineiro da vida e é encarada como
Na tentativa de compreender sob que forma a morte poderá ser definida como uma
série de estágios ou o desenlace das categorias que envolvem a comunicação com os seres
vivos, segundo Glascock e Braden será de toda a utilidade compreender que, para a maioria
dos indivíduos das sociedades de pequena escala, a morte é apenas uma transição. A transição
leva o seu tempo, possivelmente terá de envolver a ajuda dos sobreviventes ou futuros
à distância física e emocional dos vivos. É também interessante notar que na maioria das
sociedades de pequena escala, senão em todas, a morte é uma transição para nada, mas para
um outro estado68,82.
- 20 -
Cap. I - Contextualização Teórica
A morte humana é, qualquer que seja o olhar, uma realidade complexa. Traduz-se
como “o acto final da vida (…) a morte é o que marca o fim sobre a Terra, tal como o
Para todo o ser humano, como para qualquer ser vivo, há uma lei universal da qual
temos que estar profundamente conscientes: houve um início para cada um de nós e haverá
acontecimento diz-nos respeito a todos nós”38. Apesar disso, não tomamos consciência da
morte e encaramo-la muitas vezes como um fracasso, um erro, um engano e não como o
O nosso verdadeiro medo pode ser o medo da morte, mas também o medo de
do outro, “o medo de ser destruída uma certa imagem que temos de nós próprios (…) em que
nossa morte, deveria estar circunscrito na vida. Desta forma, a sua imagem estaria integrada
na nossa preciosa existência, por exemplo, não adiaríamos projectos e a relação connosco e
com os outros seria deveras gratificante. Seria saudável que todos nós tivéssemos a imagem
da nossa morte e “aprendamos pois olhá-la como ela é em si, isto é, libertada de horrores da
A morte é, no entanto, “uma parte natural da vida e todos nós teremos de a enfrentar
- 21 -
Cap. I - Contextualização Teórica
depois de morrer não se pode voltar á vida; entende a morte como algo permanente); não
funcionalidade (exprime que todas as funções que definem a vida cessam com a morte);
universalidade (expressa que todos as coisas que vivem morrem e tal como é inevitável)1.
cessação da vida, diminuição gradual ou súbita das funções orgânicas levando ao fim dos
A morte é algo de bastante complexo, como tal, o seu momento exacto pode revelar-se
influenciada por vários pontos de vista distintos: biológico, moral, social, religioso, legal,
morte tornou-se um tabu, sendo muitas vezes, frustrante para os profissionais de saúde
minha própria vida e vivo com ela no meu trabalho. O segredo consiste em não a temer e não
fugir dela, os moribundos sabem que não somos Deus. Pedem apenas que não os
abandonemos” 93.
Segundo este autor, os principais medos face à morte são descritos por vários
- A angústia da separação: a morte é vista como uma ruptura e não como uma
- 22 -
Cap. I - Contextualização Teórica
outros entes queridos é sempre equacionado no processo de morte e acarreta grande angústia
fundo de cada pessoa e, em geral, permanece inconsciente” 90. Na maioria das situações, as
- O medo da dor: o mais comum de todos os medos é, para o mesmo autor, “que a
morte seja dolorosa (…) a frase: morreu de agonia, parece estar gravada na mente das pessoas
controlo sobre a própria vida. Ainda que seja parcialmente ilusório, o ser humano anseia
poder controlar tudo à sua volta, escolher o que fazer e quando fazer. No entanto, mais
- O medo da morte súbita traduz o medo irreal e paralisante da morte repentina. Esta é
temida, porque consciente o homem tem noção de que a vida lhe parece incompleta. Não dá
ameaça da morte é a solidão, isto é, o sentimento de ficar à parte na vida dos outros” 32.
“Qualquer contacto com a morte ou com o processo de morrer desperta uma inevitável
resposta específica (…) tanto faz aceitá-la e elaborá-la ou tentar reprimi-la e negá-la, o
confronto com a morte é gerador de tensão, stress, tristeza, actividade exagerada e fadiga” 90.
- 23 -
Cap. I - Contextualização Teórica
Tal situação pode prejudicar não só a eficiência na vida social e profissional como
a um doente em fim de vida, cada enfermeiro reage de forma diferente, ou seja, tem
manifestações próprias17.
para os profissionais de enfermagem, “um dos maiores desafios que a prática do quotidiano
doente não ter morrido no seu turno, manifestarem dificuldades em comunicar um óbito,
incapacidade para dar resposta ao doente perante questões sobre o seu prognóstico e
Neste contexto, refere que o enfermeiro face à morte experimenta quatro tipos de
numa situação idêntica e prefere afastar-se para não ter de enfrentar o problema); sensação de
pudor (pensa que é bom deixar o doente em processo de morte só, uma vez que neste
momento não deve ser perturbado na nossa relação com os valores, filosofias ou crenças que
marcam a sua vida); sensação de mistério (fá-lo percorrer fantasias) intelectuais sobre a
morte, e sente o peso das contradições, deixando o doente sozinho porque o problema de
momento não é o dele). Não é a morte que provoca angústia nos prestadores de cuidados, mas
- 24 -
Cap. I - Contextualização Teórica
sim o facto de ela poder ser acompanhada de violência, de revolta, de lágrimas, de emoções
biomédica, ênfase dado aos aspectos curativos, excessiva burocratizante nos hospitais,
divisão vertical das actividades anulando o trabalho de equipa, exclusão da morte do contexto
Apesar dos enfermeiros se depararem com frequência com a morte, no seu quotidiano,
“Depois de alguns anos a acompanhar pessoas nos seus últimos instantes, não sei
muito mais sobre a morte. Em contrapartida, a minha confiança na vida não cessa de
aumentar. Vivo agora com mais intensidade e com uma consciência mais aguda tudo o que
me é dado a viver, alegrias e penas e também todas as pequenas coisas do quotidiano às quais
normalmente não ligamos, como respirar ou caminhar. Devo-o àqueles que eu supostamente
como as pessoas encaram a morte está culturalmente arraigada em toda a parte. Uma forma
de verificar que as categorias de uns não se encaixam nas realidades de outros pode passar
por ter em conta as suas formas de serem iletrados, não informados, supersticiosos, menos
- 25 -
Cap. I - Contextualização Teórica
diferentes da nossa não justifica o facto que privilegiemos a nossa cultura preterindo a cultura
se para a aprendizagem, respeito e compreensão das realidades dos outros, não dando
4. QUALIDADE DE VIDA
O que é qualidade de vida? Será que uma vida pode existir sem qualidade? Como é
que se pode acrescentar qualidade à vida? Quais são os critérios de uma vida com qualidade?
Serão tais critérios objectivos ou meramente subjectivos? Haverá uma gradação possível no
Os exemplos não faltam e podem ser repetidos até à exaustão. Um jovem que passa
todos os fins-de-semana numa discoteca, tem qualidade de vida? O gestor, que ganha
fortunas, mas que pode ser despedido quando surge uma crise financeira, tem qualidade de
vida? Uma velhinha que já não tem todo o juízo e vê fantasmas, tem qualidade de vida? Os
doentes nos cuidados intensivos, os prematuros nas incubadoras, terão eles qualidade de
vida? Não iremos prolongar esta enumeração, sob pena de cair numa ladainha que poderá
Hoje, a pergunta bioética pela qualidade de vida faz todo o sentido, pois, numa visão
mais complexa e integrada, o seu objecto de investigação e as suas propostas de atitude são,
precisamente, em ordem a indicar aquilo que é condizente com o que deva ser uma vida
- 26 -
Cap. I - Contextualização Teórica
da pessoa humana51.
porque geral e impreciso, podendo orientar a atenção para uma multiplicidade de pistas de
reflexão diferentes, cujas conclusões não deixariam de entrar em conflito ou de ser quase
irreconciliáveis, como se uma vida de qualidade fosse para alguns o exemplo exacto de uma
vida tão desprovida de qualidade, que não valeria a pena ser vivida77.
Se assim fosse, uma vida sem qualidade seria uma vida sem valor. Mas a pergunta de
valor. Será que tenho um corpo ou que sou um corpo, pergunta a fenomenologia existencial.
Do mesmo modo, a vida tem valor ou é um valor? Qual a relação entre os valores que a vida
pode ter e o valor que a vida pode ser? Costuma-se dizer que viver é, para nós seres humanos,
o primeiro valor, o valor mais básico, no qual se enxertam todos os outros valores. Mas não
fazemos se não recuar a dificuldade: o valor da vida depende também dos valores que a vida
tem, dos valores que dão à vida a sua especificidade existencial concreta, ou a vida é, em si
mesma, um valor tal, que não depende fundamentalmente das circunstâncias nos quais o ser
A vida é um valor imutável, tem uma qualidade que está ao abrigo de todas as
existência. A vida é um valor que se manifesta nos valores que ela vive, assim como estes
valores precisam de ter a sua âncora no valor que a vida é de modo não condicional.
- 27 -
Cap. I - Contextualização Teórica
A vida humana é um valor em si, na medida em que este valor está presente como o
propósito da vida significa que este valor não depende de outros valores para valer.
Comentando livremente diremos que o valor da vida corresponde a uma adesão simples e
absoluta, sem a qual podem abrir-se subtilmente as partes de uma cultura de morte77.
compreensão de fundo do que seja mais (melhor) vida para todos e cada um que surgem as
Apresentam-se duas entradas para este desafio, uma o que nos diz uma antropologia
dita científica sobre os traços caracterizantes do “ser humano”, outra, a visão do que seja
essencial ao “ser pessoa”, que uma antropologia filosófica nos possa revelar51.
Pode dizer-se que a qualidade de vida não é um resultado linear nem adquirido de
Hoje é do senso comum que ter saúde e ter dinheiro não bastam à tal “qualidade”.
Mas, “não ter”, pelo menos no mínimo que se podem discutir, também não parece admissível.
Então, em que medida a quantidade (de vida, na vida) afecta a qualidade? A qualidade de
vida não se pode medir quantitativamente, mas poderá ser avaliada por um sistema
biológico, é psicológico, é social e é cultural. Há que ter em conta a sua saúde, realização e
necessidades básicas como a alimentação, a higiene, a casa, etc. De igual modo atender à sua
- 28 -
Cap. I - Contextualização Teórica
vida psíquica e afectiva, que podem estar distorcidas ou até impossibilitadas de se expressar,
temporariamente ou não, tornando-se óbvio que só por aqui não se pode pronunciar sobre a
qualidade de vida de um deficiente, por exemplo. Outras formas e situações como a solidão, a
indicadores51.
A condição de ser social com direitos e deveres respeitados e exigidos (ou não), bem
como o grau de segurança e participação, afectará os outros indicadores, quaisquer que sejam.
mesmo para crescer e ter gosto de viver. E note-se ainda outra ambiguidade frequente neste
campo, por se confundir “civilizado” com “culto”: o acesso aos instrumentos da técnica e da
civilidade, mesmo o mero saber usá-los de modo socialmente correcto, não é, só por si,
Estes afectam, pela base, todas as anteriores. Parecendo ligadas ao ser cultural da pessoa
distingue-se do animal, preso aos seus ritmos, pela liberdade moral, que é um processo de
autonomia nas interdependências que a constituem. Isto é, sem ser amado, como experiência
sua e por si, por mais que tenha saúde, dinheiro, posição social, não saberá gerir uma vida
dita humana, será sempre fonte de violência para si e/ou para os outros. Qualidade de vida é
- 29 -
Cap. I - Contextualização Teórica
reconhece a si mesma como humana se se poder transcender, viver por um ideal e um valor.
Sem transcendência, isto é, sem sair de si mesma, confinada ao servilismo, sem futuro, sem
razão de ser, sem objectivos, nem finalidade… a sua vida não terá qualidade. Qualidade de
Ser pessoa é ser membro (vivo) de um corpo social, de uma família. Sem sentido de
seu bem e pelo dos outros e pelo mundo onde se situa. A pessoa “sem qualquer sentido de
tende a perder o sentido ético e desumaniza-se. Pior, com saúde, poder económico e saber
pode tornar-se perverso… e o autor de qualquer perversão é a sua primeira vítima, porque no
próprio agir se degrada como pessoa. Qualidade de vida é dizer: “tenho um papel a cumprir”.
Mesmo que seja doloroso, contem comigo, pois não faço só parte do problema, faço parte da
solução.
Verificamos que a nossa análise nos fez deslizar pouco a pouco da qualidade para o
valor e do valor para o sentido. Daí possa surgir então a questão: o que é que a problemática
da «qualidade de vida» ganha quando se abre a questão do sentido? Toda a gente fala do
sentido da existência, ou do seu não-sentido, como se cada uma de nós fosse o mestre, o dono
- 30 -
Cap. I - Contextualização Teórica
do sentido. Será assim que o sentido se apresenta? Não será inútil fazer um breve desvio pela
A primeira consideração é simples. Segundo Husserl, o sentido não existe senão para
capaz de se voltar sobre si próprio para analisar aquilo que guiou o seu curso espontâneo, a
sua vida «prereflexiva», isto é, a sua vida antes de toda a reflexão, antes do seu retorno,
retrospectiva sobre si mesma. Mas a questão difícil, e que tem uma aplicação concreta
imediata, consiste em saber quem o que constitui o sentido. Será que a consciência é a origem
do sentido, como se fosse só ela que criasse o sentido, ou o sentido é descoberto pela
consciência, porque de certo modo já se encontra disponível, pronto para ser captado? A
fenomenologia mostra que o sentido do que quer que seja não existe fora da sua relação com
Sabemos que o sentido da existência não poderá ser imposto a uma consciência
humana sem o seu assentimento, pelo menos implícito. Mas isto dito, ainda não nos é dada a
resposta: onde se encontra este sentido, será meramente descoberto pelos outros ou inventado
por mim? Do ponto de vista que nos interessa, os dois ramos da alternativa são possíveis e
fecundos, desde que eu consiga aceitar e interiorizar este sentido, descoberto, inventado ou
proposto. Raras, com efeito, são as pessoas que inovam quanto ao sentido da existência:
Acrescenta ainda que a questão sobre o sentido da vida, não nasce se não quando
surgem obstáculos. Mais cedo ou mais tarde, cada pessoa é confrontada com dificuldades,
- 31 -
Cap. I - Contextualização Teórica
sofrimento dos outros à nossa volta, assim como a maldade de que somos testemunhas
involuntárias, contribuem sempre para levantar em nós não só o «porquê tanto mal», mas
qual é o sentido da existência confrontada com o mal sob todas as suas formas.
O sentido da vida, o valor da vida e a qualidade da vida tecem então entre si uma
A qualidade de vida é muitas vezes confundida com uma vida sem problemas, sem
obstáculos ou sem sofrimento. Por detrás desta ideia errada está a convicção de que o
Podemos portanto concluir que aquilo que constitui a qualidade da vida não é antes de
mais nada a sua finitude, nem a sua longevidade, mas o conteúdo de valor e de valores aos
quais ela consegue dedicar-se. Alguns podem considerar que o dinheiro é o primeiro valor na
vida, obterão com certeza todas as vantagens que ela pode trazer: luxo material, viagens e
prazeres. Mas se é verdade que «eu sou» fundamentalmente «as minhas relações», é de recear
que, cedo ou tarde, o valor do dinheiro apareça como muito pobre face aos valores essenciais
da existência; de certo modo, o dinheiro parece abrir todas as portas, mas não é, nem nunca
amor. Nessas condições, é cada um de nós que escolhe a sua qualidade de vida, na base dos
valores aos quais consegue dedicar-se. E não se pode dizer a priori que a qualidade de vida
consiste exclusivamente em ter excluído o sofrimento físico e moral, porque, se tal fosse o
caso, uma vida com sofrimento, seja ele a consequência de uma doença, um luto ou uma
- 32 -
Cap. I - Contextualização Teórica
O que é a qualidade de vida, perguntou-se desde o princípio, a vida tem valor porque
somos capazes de viver e o seu valor, e somos capazes de lhe dar o seu valor porque, antes de
nós, ela tem valor em si. Mas estes dois enunciados, que parecem constituir um círculo
vicioso, compreendem-se um pelo outro. E longe de ser vicioso, este círculo da vida, da vida
que sempre nos precede, mas que está sempre à espera da nossa activa intervenção para se
dos valores que possuímos enquanto nação. Eles medem o quanto realmente prezamos a
qualidade das nossas vidas e em que medida respeitamos os nossos concidadãos” 87.
- 33 -
CAPÍTULO II
METODOLOGIA
- 34 -
Cap. II - Metodologia
da análise de dados.
próprio em relação a outras áreas de saúde. É um aspecto positivo dos CP e da saúde em geral
humana o que nos obriga a uma reflexão mais profunda sobre o verdadeiro significado da
vida. O que pode dar significado à vida? Que importância os profissionais de saúde conferem
em CP?
- 35 -
Cap. II - Metodologia
Esta investigação de abordagem qualitativa, ainda que não se possa dela fazer
generalizações devido ao facto de ser um estudo exploratório, tem como finalidade: obter
espiritualidade em CP.
Objectivo geral:
Objectivos específicos:
espiritualidade;
espiritualidade;
2. TIPO DE ESTUDO
- 36 -
Cap. II - Metodologia
nosso campo de análise. Optamos por realizar o estudo em três hospitais do Distrito de
4. POPULAÇÃO E AMOSTRA
qual ira incidir a recolha de dados. Segundo a literatura consultada, grande parte dos autores
- 37 -
Cap. II - Metodologia
que a afirmação sugere. Por sua vez, a entrevista é um dos processos mais directos para
Cohen acrescenta que, “tal como a pesca, a entrevista é uma actividade que requer
idealizados e orientar o entrevistado para as perguntas às quais ele não chega sozinho75.
- 38 -
Cap. II - Metodologia
6. A ANÁLISE DE CONTEÚDO
efectuar inferências com base numa lógica explicitada sobre mensagens cujas características
50
foram inventariadas e sistematizadas” . No final do século (1980), Krippendorf retira a
como uma “técnica de investigação que permite fazer inferências válidas e replicáveis dos
dados do contexto”33. Ainda do ponto de vista da autora, a análise de conteúdo é uma técnica
a analise de conteúdo tem uma dimensão descritiva que visa dar conta do que nos foi narrado
e uma dimensão interpretativa que decorre das interrogações do analista face a um objecto de
estudo, com recurso a um sistema de conceitos teórico - analíticos cuja articulação permite
- 39 -
CAPÍTULO III
- 40 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
10
0
Feminino Masculino
Número 10 1
Sexo
Verificamos que dos onze elementos que constituem a nossa amostra, dez são do sexo
- 41 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
0
24-28 29-33 34-38 39-43 44-48
Número 4 3 2 0 2
Idade
Constatámos que os elementos que constituem a nossa amostra situam-se numa faixa
etária que vai desde os 24 anos até aos 48 anos; especificamente quatro elementos inserem-se
na faixa etária dos 24-28 anos, seguindo-se três elementos entre os 29-33 anos, dois
elementos entre 34-38 anos e por último dois elementos na faixa etária dos 44-48 anos. Não
10
0
Licenciados em Enfermagem Licenciados em Medicina
Número 9 2
Habilitações Académicas
- 42 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
Dos onze elementos que constituem a nossa amostra, nove são licenciados em
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Com Mestrado em C.P. Sem Mestrado em C.P.
% 63,63% 36,37%
Verificamos que dos 11 elementos entrevistados, 7 são mestres na área de CP, o que
5
4
3
2
1
0
0 horas 24 horas 180 horas 240 horas
Número de pessoas 1 2 1 7
- 43 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
amostra possuem 240 horas de formação em CP, seguindo-se um elemento que possui 180
0
18 24 30 36 48 132
meses meses meses meses meses meses
Número de pessoas 1 3 2 1 3 1
meses de actividade em serviço de CP, seguindo-se três elementos com 24 meses, dois
elementos com trinta meses, um elemento com 36 meses, três elementos com 48 meses e por
- 44 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
uma análise qualitativa, contudo vários autores são unânimes quando dizem que ela deve ser
enquadramento teórico.
Assim, ao longo do texto irão surgir Unidade de Significação (US) por esta
entendam-se as descrições dos sujeitos, ou seja, cada tema ou item de significação, pois
As afirmações que surgiram, ainda que de forma indirecta, foram igualmente assinaladas para
tema, para tal tivemos necessidade de enumerar todas as frases de cada entrevista, de um a
infinito.
e Subcategorias (SC). Conclui-se portanto, que estas foram criadas a posteriori, tendo como
- 45 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
referência o significado por nós atribuído aos segmentos de texto, de forma que as afirmações
título genérico, agrupamento esse efectuado em razão das características comuns desses
elementos. A categorização tem como primeiro objectivo fornecer, por condensação, uma
frequencial” 4.
Resultante da análise de conteúdo feita a primeira questão “Qual o conceito que tem
quadro seguinte.
- 46 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
resultam desta primeira questão, seguindo a ordem pela qual são mencionadas no quadro
anterior.
a) Conceito de espiritualidade
naturalmente que esta resulta do discurso dos profissionais que dão a sua opinião sobre o que
subcategorias, como mencionadas anteriormente, que não são mais do que formas distintas de
sentido para a vida, “…terá a ver com o sentido que nós vemos na vida …” E4, tem a ver com
“…a forma de estar na vida …” E5, ou ainda com a “…procura de um sentido de vida…” E3.
Alguns referem que é “…a capacidade de atribuir sentido à vida …” E6, é “…aquilo
que cada um vive …” E11, é “…a forma como encaramos a vida …” E8.
sentido para estarmos aqui…” E3, no fundo é “…a procura de um sentido de vida…” E3.
Estas afirmações, vão ao encontro ao que é referido e defendido por alguns autores50,
que refere que por espiritualidade entendemos algo que dá sentido à vida, que nos satisfaz e
- 47 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
espiritualidade é uma força invisível essencial nas nossas vidas, trazendo um sentido de
Transcendente da vida
Para outros, o conceito de espiritualidade passa pelo transcendente da vida, “…é algo
superior, transcendente, esta associada a uma transcendência…” E6. É algo com “…um
limita a uma dimensão isolada da condição humana no mundo, mas sim à vida na sua
globalidade93.
ser o “eu”e o “mundo”. Pode ser com o “eu” e o superior a mim, ou com o “eu”e o “mundo”
…” E6, a espiritualidade é ainda segundo alguns “…o transcendente que ela possa ter, que
harmonia com as outras pessoas, com a Terra e com o Universo; a uma correcta ligação com
Deus/Realidade última.
- 48 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
ser humano é mais do que existência material), laços (por ex. com outros, com a natureza ou
Difere de religião
questão de salientar que espiritualidade não terá necessariamente a ver com religião.
As afirmações que se seguem contrariam em parte o que por nós foi afirmado no
com espiritual28.
explicitamente que a espiritualidade “não tem nada a ver com religião…” E1, “…nada a ver
com religião, não consigo pensar em nada relacionado com religião…” E3.
A religião pode ser entendida como um sistema solidário de crenças e práticas relativo
a entidades sacras e que une, numa mesma comunidade moral, todos os que a ela aderem19. Já
para outro autor97, religião é um conjunto de crenças, leis e ritos que visam a um poder que o
obtém favores.
- 49 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
de respostas a questões fundamentais da vida sobre significado, o qual pode (ou não) levar ou
profissionais, que não é de todo simples responder à questão de forma clara e inequívoca
crenças ou de valores pessoais…” E7, por outras palavras a espiritualidade são “…os valores
alguns autores. A espiritualidade tem sido defendida como “o modo pela qual as pessoas
entendem e vivem as suas vidas tendo em conta o seu significado e valor últimos”94.
Energia
“…espécie de energia que existe no Universo…” E1, é “…aquilo que não é material, não é
- 50 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
Para alguns “ …todos os sentidos estão interligados através dessa energia…” E1.
vida”. E ainda que em minoria, a espiritualidade foi descrita como um “conjunto de crenças e
atribui à dimensão espiritual na vida”, emergiram duas categorias, sendo que da primeira
Categoria Subcategoria UE US
Importância da dimensão espiritual Local de trabalho 6 11
na vida pessoal Vivências 3 5
Tempo 2 3
Educação 2 2
- 51 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
dimensão espiritual na vida pessoal”. Segundo os dados por nós obtidos esta importância esta
analisar.
Local e trabalho
trabalho”.
O local de trabalho, neste caso, o serviço de CP, é referido pelos profissionais como
“…O facto de trabalhar aqui, fez-me repensar uma série de coisas (…) acho que há
diferença desde que comecei a trabalhar…” E1, “…agora neste serviço tenho sido colocada
em situações que me obrigam a fazê-lo, porque não tenho outra alternativa. E se quero dar
resposta às situações, tenho que reflectir sobre elas. Daí que agora tenha uma noção mais
“…O ser colocada nestas situações, com doentes em fase paliativa, que chegam a
uma determinada altura da vida em que dão significado a coisas mínimas, que no fundo são
coisas simples, mas que fazem toda a diferença. Se calhar, lá fora, quando fico irritada, com
determinados aspectos, facilmente me lembro que, e esta situação e tal (…) lembro-me
frequentemente…” E4. “…O que eu aprendo com estes doentes? É realmente dar mais
- 52 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
significado, às coisas mais simples da vida, sem termos que nos preocupar tanto com
mesquinhes, coisas materiais, que realmente no fundo não interessa nada…” E4.
“…Acho que depois de trabalhar nesta área, atribuo mais sentido ao bem-estar
comigo e com o mudo foi obviamente influenciado pelos cuidados paliativos…” E7.
resolução, por vezes físico e muitas vezes psicológico e existencial. Muitas vezes precisamos
de algo para nos ajudar a compreender porque é que isto acontece, e dai procurar um valor
“…Nós próprios também temos que nos cuidar e temos que ter alguns períodos de
reflexão, de reestruturação para podermos continuar a trabalhar nesta área, muitas vezes
passamos a ter necessidade de pensar melhor nas coisas, e para além disso, tudo o que é
comum, o que faz parte do nosso dia a dia, ganha outra dimensão quando trabalhamos em
importância de comunicar aos outros e de partilhar essa importância com os outros…” E10.
“…Desde que estou em cuidados paliativos, estou mais desperta para diferentes
tornou cada vez mais atento á forma individual de cada um…” E11.
que gostariam de ter feito e foram sistematicamente adiando, aprendemos a não esperar pelo
nosso próprio fim para viver bem cada dia e retirar da vida o melhor que ela tem para nos
oferecer. Ao fim e ao cabo, reorientamos o sentido das nossas escolhas, o sentido da nossa
própria vida59.
- 53 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
Vivências
como forma gradual de atribuição de importância á dimensão espiritual, quer isto dizer que,
para os profissionais as vivências de que são alvos, quer a nível profissional quer a nível
“…É uma dimensão que vai crescendo, não é uma dimensão muito presente, vai
crescendo pelas histórias de vida das pessoas…” E3, é uma dimensão “…que se me
perguntasse isto há três anos atrás, eu diria que não sabia dizer muito, ou nunca tinha
pensado muito nisso. O facto de ter tido acontecimentos pessoais, já me fez pensar…” E3,
“…por não ter vivenciado aspectos mais fortes, mais dramáticos, há três anos associava a
“…Pela minha história de vida. Comecei por buscar uma religiosidade e depois
termos de postura de vida, formação e carácter…” E5, “…influencia o meu dia-a-dia quer no
longo da sua vida, como foi referido anteriormente, influenciam a importância da dimensão
Tempo
A questão temporal é também mencionada por alguns dos entrevistados, “…há três
anos atrás não pensava tanto assim…” E3, “…se calhar antes não levava tanto, mas também
- 54 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
porque agora reflicto mais sobre as coisas, e daí se calhar agora dar mais importância a
Educação
sujeitos.
“…Desde os meus 13/14 anos, pela minha educação profundamente católica, que me
levou em certo tempo e a certa altura, uma integração da minha religiosidade, da minha
crença, na minha forma de estar na vida. E dai, percebi que não era só integrar os ritos, da
minha crença religiosa na minha vida, mas sim adoptar uma postura…” E5.
“…Uma vez que o conceito que atribuo á importância, são os valores que estão
presentes na minha vida, digamos que são esses valores que vão orientando…” E9.
Ainda como resposta a esta questão do nosso estudo, criamos uma segunda categoria “
- 55 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
Importante
“…Bastante …” E5.
Muito importante
Alguma importância
à dimensão espiritual nas suas vidas prende-se com diversos factores, nomeadamente o local
onde desenvolvem a sua actividade profissional e às vivências de que são alvo. A questão
temporal é igualmente referida como um factor que contribui para a crescente importância da
espiritualidade de forma proporcional, ou seja, à medida que o tempo vai passando é atribuída
- 56 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
maior importância a esta dimensão. Em minoria a questão da educação a que as pessoas são
classificam a dimensão espiritual como muito importante. Apenas uma minoria classifica a
dimensão espiritual como tendo alguma importância. Não houve nenhum elemento que
Categoria Subcategoria UE US
- 57 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
contrapõe a primeira, em que nos revela que o facto de trabalhar em CP não influência a
dimensão espiritual.
Pelo menos três dos entrevistados salientaram a necessidade de formação, como sendo
fundamental.
De todas as subcategorias resultantes da análise desta questão, pode-se dizer que esta
foi pelos profissionais a mais mencionada, queremos com isto dizer que a grande maioria,
refere que as experiências de que são alvo, enquanto profissionais de um serviço de CP,
que se seguem.
“…Influencia sempre. Influencia sempre porque cada doente e cada família que nós
temos, cada experiência e cada dia que viemos trabalhar, há sempre uma experiência
nova…” E2, “…o exercício nos Cuidados Paliativos ajuda-nos a ter uma visão da vida um
bocadinho diferente. Ajuda no sentido em que percepcionamos realmente que a vida tem um
fim mais próximo do que aquilo que as outras pessoas podem pensar, independentemente da
- 58 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
idade…” E2, “…sim, influenciou de todo. Influenciou pelo percurso de vida que nos vemos
pessoas, que se calhar de um momento para o outro não estariam á espera disso, e se calhar
não pensaram muito na vida, e vemos o que acontece às outras pessoas, faz com que façamos
um bocadinho o stop a nós mesmos. E o facto de vermos pessoas novas, e não estamos a
falar de pessoas idosas, há pessoas muito novas, faz-nos por um travão na loucura que é a
nossa vida. Faz pensar no que é que estamos aqui a fazer, qual é o objectivo da nossa vida, e
profissionais, fazem com que estes profissionais da saúde reflictam antecipadamente sobre as
suas vidas, tendo oportunidade de observar nas pessoas de quem cuidam as consequências
sim, pelo modo prático, ou seja, o convívio com a maior parte destes clientes, levou-me a
deixar cair aquilo que é menos importante…” E5, “…eu costumo dizer que temos o privilégio
de ver o fim de alguns caminhos, sem percorrer esse caminho, e isso ajuda-me a tomar
decisões hoje (…) as ultimas páginas, o ultimo capítulo de toda uma vida sem o termos
percorrido, temos esse privilégio e isso ajuda-me principalmente nas escolhas da vida,
escolhas importantes” E7, “…acho que sim, influenciou. Pelas questões que coloca, pelo
crescimento que temos que fazer, acho que influenciou…” E10, “…por exemplo, confronto-
me frequentemente com aquilo que é a fragilidade humana e quando nós podemos ser fortes,
mesmo sendo tão frágeis, fisicamente e ate mesmo emocionalmente, mas em determinados
momentos demonstramos uma força brutal, isto só temos oportunidade ou quando passamos
pelas situações, ou quando estamos tão próximos das vivências dos outros. Eu acho que isso
- 59 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
é o que os cuidados paliativos me têm permitido…” E11. “…Aquilo que vou vivendo no dia-a-
dia, tem um impacto significativo em mim, e se calhar ajuda-me a valorizar de outra forma
aquilo que outros se calhar não dão tanta importância…” E11. “…Há doentes em situações
terminais, que nos dão lições de vida. Olhamos para nós e pensamos que estamos a ser as
pessoas mais egoístas, quando pensamos que temos problemas. Eles mostram-nos o que é a
sobre os mais diversos temas, “…mas a compaixão daquela filha no momento da morte foi
uma coisa extraordinária. Ao fim ao cabo, aquela filha recebeu tão pouco daquela mãe, mas
no fim deu-lhe tanto no momento da morte. Foi qualquer coisa, foi uma lição de vida…” E2,
“…uma pessoa amiga com 28 anos, que foi feito o diagnóstico durante 1 mês, e ao final de
um mês e meio tinha morrido. E eu pensava muito nisso…” E3. “…Nós tivemos um cliente
com ELA, esse cliente faleceu comigo. E tinha-me escrito no Natal que haveria de falecer
comigo. Fui para casa a achar que não existiam coincidências, e que isto tudo era muito
mau, e tive que sair um bocadinho de mim, no sentido de que, se por um lado era bom a
escolha dele, e isso teria que ser valorizado, por outro (…) sim mas há coincidências, e o
facto de eu estar cá todos os dias, aumentaria a coincidência. Mas foi uma morte que apesar
de serena, foi muito dolorosa, não para ele, mas para toda a gente, porque tínhamos uma
Podemos assim concluir, que o sentimento da geral resume-se “…Ao lidar com a
morte, com o sofrimento, pensamos um bocadinho mais em nós, no sentido de viver um dia
- 60 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
Oito dos profissionais referem ter alterado a sua forma de estar no quotidiano, e vêem-
“…acabo por transpor esta maneira de estar lá fora, nas minhas relações pessoais e penso
que se nota. Estou mais calma, mais serena…” E1, “…e nesse sentido tento viver um dia de
cada vez e viver melhor. Dou mais importância às pequenas coisas, não nos chatearmos com
pequenas coisas que, se calhar, não têm assim tanta importância…” E2, “…dou muito mais
valor agora a aspectos mais simples, que antes se calhar, não tinha tanto, que não dava
tanta importância…” E4, “…acho que consigo priorisar alguns aspectos da minha vida
“…Quando tenho que tomar uma decisão na minha vida, eu pergunto-me se daqui a
dois anos se estivesse doente, numa cama a morrer, o que é que eu iria me arrepender mais,
e isso ajuda-me a tomar uma decisão. Obviamente, não podemos prever o futuro, e muita
coisa muda na nossa vida em dois anos, mas o facto de pensar, imaginar-se como um doente
termina, o que é que eu iria arrepender-me mais dai a um x tempo…” E7, “…essencialmente
influenciou em mim enquanto pessoa, no viver um dia de cada vez, porque enquanto jovens
pensamos que temos a vida toda, muitos anos de vida, nunca pensamos na morte…” E9,
“…há uma grande alteração, até paz. Quando somos mais jovens temos um bocado medo da
morte, e trabalhar com doentes terminais, neste momento não me preocupa…” E12.
Alteração de valores
- 61 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
seguem, em uma maior valorização de sentimentos/afectos para com o outro, assim como
“…Os afectos com os outros, a amizade, a família…” E4, “…o estarmos mais tempo
uns com os outros, e beneficiarmos das experiências uns dos outros. Acho que agora, dou
mais valor a esses aspectos, ou à natureza até, momentos mais serenos…” E4.
“…Se calhar não dou tanta importância como dava antigamente. O ter um carro
novo, uma casa maior, e ter que se matar a trabalhar para conseguir essas coisas. Acredito,
e gosto de acreditar, que estou a mudar esses aspectos em mim, e que têm influência sem
dúvida…” E4.
“…Aprendi a dar valor as pequenas coisas, que o resto do mundo não dá, aprendia a
aproveitar mais cada pessoa a minha volta, sem os sugar, mas sim aproveitar o que elas têm.
Como vê-mos as pessoas questionarem-se no fim da sua vida, em relação aos seus sentidos,
questionarmos antes do fim da nossa vida. Acho que é de aproveitar. Dar valor as coisas que
antes não dava, apreciar coisas que antes não apreciava, outras prioridades, outras
decisões…” E7.
“…Sim, sim influencia bastante neste momento. Sem dúvida que quando trabalhamos
nesta área damos outro valor à própria vida, directamente damos outro valor à
pormenores” da vida, às quais pelos mais variados motivos, habitualmente não estamos
disponíveis, isto deve-se pela consciência de que não somos eternos, e que a vida tem que se
- 62 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
“…No sentido, (…) enquanto adolescente, vivia no sentido de viver o momento, e não
pensava, não dava tanta importância aos meus valores. Sabia que os tinha, sabia que
existiam, mas não atribuía tanta importância…realmente quando nos deparamos com a
morte, e constatamos que afinal a vida pode ser muito mais curta, e não aproveitamos,
porque afinal uma grande importância da nossa vida está nas relações afectuosas, e atribuir
maior importância e o não perder tempo…um bocadinho mais nas relações afectuosas, e
importantes para mim. Porque sei que hoje posso, amanhã não sei se vou poder…” E9.
“…O que sinto é que o que aprendo com os doentes, é a não valorizar, por exemplo
estas pequenas chatices que acontecem nas relações com as pessoas, eu aprendi a não
valorizar isso, com o exemplo que tenho de alguns doentes. Isto é o que eu acho que melhorei
muito nos cuidados paliativos…aprendi sim a não valorizar tanto determinadas coisas, que
“…Costumo dizer que sou uma pessoa melhor desde que trabalho em cuidados
paliativos, desde que percebo que para além da mesquinhes do mundo e dos problemas que
se inventam, e que são falsos problemas, as pessoas têm tanto para dar uma as outras. Esta
paliativos…” E12.
Necessidade de formação
para esta influência, “…Sim, porque o facto de ter feito formação em cuidados paliativos...”
E1, “…Se for fazer um levantamento de dados sobre as necessidades das pessoas, com
- 63 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
todas as pessoas falam na necessidade de saberem fazer apoio espiritual aos clientes,
trabalhar melhor a fase agónica. A equipa já tem outras necessidades, porque as outras já as
dominam bem…” E3. Outros salientaram que o facto de possuírem todos formação na mesma
Espelhamento
sendo preponderante, para o que veio a ser uma alteração da forma de estar, e desta forma,
Neste contexto, entenda-se por efeito espelho, a identificação de um sujeito com uma
“…Houve uma altura que faleceu cá um doente com Neo gástrico. E quando ele
faleceu eu pensei que se calhar devia passar mais tempo em casa, e acabei com os horários
que fazia antes. Apesar de dificuldades económicas, a priori, senti-me muito bem com isso.
Foi complicado, porque ele tinha muitas semelhanças ao meu pai, fisicamente, profissão, era
de uma terra muito perto da do meu pai…mexeu um bocadinho. Fisicamente era muito
parecido com o meu pai. Faleceu comigo…apesar de não ter estado muito tempo connosco,
apesar de ate nem termos assim uma relação muito próxima, porque agravou rapidamente,
- 64 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
“…O estarmos mais tempo uns com os outros, e beneficiarmos das experiências uns
dos outros. Acho que agora, dou mais valor a esses aspectos…” E4.
“…Como nós trabalhamos nisto todos os dias e temos as reuniões duas vezes por
auxiliares, de terapeutas, de enfermeiros, fazemos estes encontros com o Frei. Nesta altura
Finalmente, e como resultado á nossa terceira questão, foi necessário criar a categoria
“A dimensão espiritual não é influenciada pelos CP”. Nesta categoria estão englobados os
discursos de três dos profissionais entrevistados, na qual que reconhecem que o facto de
“…Agora a minha visão de espiritualidade não mudou…” E2, “…eu penso que não é
uma influência directa. Quer dizer, quando nós nos gerimos por determinados valores, e
temos uma estrutura que existe há muitos anos em nós, que vimos a desenvolver ao longo do
tempo, que tem a ver com a nossa maturidade. É natural que estamos em cuidados paliativos
nos intensifiquem e ao mesmo tempo acelere o desenvolvimento espiritual. Acho que isso é
- 65 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
normal…” E11. “…Não é o facto de trabalharmos nesta área que sinto que é mais importante
ainda. Por muitas circunstâncias da minha vida, fui aprendendo isso ao longo do tempo…”
E11.
Houve ainda quem colocasse a questão de uma outra forma, “…não, eu diria mais o
contrário. Foi a minha dimensão espiritual que me levou a vir para cuidados paliativos. Eu
fui desenvolvendo as minhas crenças, tenho uma formação profundamente católica…” E5.
Em síntese, verificamos que a dimensão espiritual pode ser ou não influenciada pelos
CP, no entanto, verificamos que a maioria dos elementos entrevistados considera que o facto
Foram alegados diversos factores para esta realidade, como podemos constatar, sendo
que a influência das experiências vividas foi a mais evidenciada, resultando numa alteração
Por fim, analisemos a última questão do nosso estudo “Qual o entendimento que tem
- 66 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
Categoria Subcategoria UE US
Dimensão espiritual relacionada com Cuidar implica dimensão espiritual 6 8
o cuidar Espiritualidade versus Religiosidade 4 4
Aceitação e Respeito 3 4
Conhecimento do “eu” 2 3
Cuidar sem espiritualidade 1 1
Características da sociedade 1 1
as subcategorias correspondentes
dos nossos entrevistados que nos dizem que para cuidar, no sentido global do termo, têm que
quando nos dizem que é sem dúvida das dimensões mais difíceis de concretizar num plano
- 67 -
Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
terapêutico, onde não existem fórmulas únicas que se apliquem a todos os doentes. É visível
no discurso, a consciência que é algo muito pessoal, muito íntimo de cada pessoa.
“…Eu acho que é uma coisa inerente ao cuidar. Acho que é (…) o cuidar não é só
uma coisa física, não é só uma ferida, o dar um analgésico, um antipirético. As pessoas que
tem aquela dor na alma que não se vê, às vezes expressa-se realmente numa dor física, mas
nós estamos cá também para isso e a nossa perspectiva do espiritual influencia muito o
nosso cuidar nesse ponto de vista (…) Na minha perspectiva isso não é cuidar, é outra coisa
qualquer que não cuidar…” E2. Desde sempre o cuidar esteve ligado aos cuidados de saúde,
mais especificamente à enfermagem, com sendo a sua essência e a “mais velha prática da
Num estudo feito a doentes com cancro e HIV/SIDA, conclui-se que a espiritualidade
Aqueles que tinham encontrado um sentido na sua doença, pensavam ter uma melhor
qualidade de vida agora do que antes de lhes ter sido diagnosticada essa doença.
“…Faz-lhe sentido cuidar sem dimensão espiritual? Não. Não, até porque isso não é
possível. Cuidar sem religiosidade é possível, afronta um bocado as pessoas, mas sim é
possível. Sem dimensão espiritual, isso não é possível, pelo menos nesta fase. Estamos a
falar directamente dos paliativos, enquanto que a religiosidade, nós até conseguimos
limitações na relação transpessoal96. Segundo Stoter, “o cuidado espiritual diz respeito a toda
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
a acção empreendida no acto de cuidar, direccionada para o respeito dos valores e crenças
pessoais, com a certeza de que estes constituem uma verdade absoluta na afirmação das
desenvolvidas durante toda a vida” 24. Assim, a espiritualidade, entendida como a crença num
terapêutico para os profissionais de saúde, na medida em que contribua para o bem - estar dos
doentes. Quando o corpo adoece, toda a sua relação com o espírito se altera e, por essa razão,
“…Falando no contexto dos cuidados paliativos, acho que sem dúvida que a
dimensão espiritual é muito importante. É importante não só para nós podermos trabalhar
com eles, tendo em conta que são doentes com doenças crónicas, avançadas e incuráveis, e
que muitas vezes não acreditam na própria vida, por isso à que nós intervimos na própria
espiritualidade do doente. Saber quais são as suas crenças, o que é que eles valorizam na
vida, se calhar pegarmos nessas crenças, nos objectivos…” E8, “…nós antes de profissionais
por ter influência na nossa actividade profissional, quanto mais não seja muitas vezes pela
conseguirmos conhecer o outro nesta dimensão, nós vamos perceber perfeitamente como é
que o vamos ajudar. Porque não basta fazermos uma abordagem clinicamente correcta, com
controlo sintomático adequado, se nós o percebermos vamos conseguir definir quais são os
momentos, por exemplo, após o controlo de sintomas físicos, esta na altura depois de
espiritual e emocional, para investir em tudo o que ele ache importante…” E11.
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
“…Esta dimensão está cada vez mais presente, mas também acho que é a dimensão
mais difícil de chegar, porque se tem uma constante preocupação física e psicológica…” E3.
“…No início a minha preocupação era a dimensão física, controlo de sintomas, apoio
Actualmente, preocupa me mais ter uma equipa com necessidades de aprendizagem na área
da espiritualidade…” E3.
“…Eu acredito que a dimensão espiritual é importante, por exemplo no controlo dos
sintomas, do autocontrolo, mas ninguém pode fazer só isto. Sinto que nós temos uma ajuda, o
individual, é me difícil de falar dela. Uma coisa que aprendi com os cuidados paliativos, foi
que podemos trabalhar essa espiritualidade opor passos, não tinha esta noção. Tinha noção
do meu crescimento pessoal, mas não tinha a noção do crescimento do outro…” E11.
esclarecer o que entendem por espiritualidade e por religiosidade pois dizem-nos ser
fundamental para a sua actividade profissional, ajuda-os a serem mais claros e precisos nas
suas intervenções, uma vez que os conceitos estão por si bem esclarecidos.
“…Não acho que espiritualidade, seja a mesma coisa do que religiosidade, muitas
pessoas são religiosas, mas sem capacidade (…) Há pessoas que são muito religiosas, e
cumprem as normas todas da religiosidade, mas não entendem, não aceitam (…) os
problemas da vida, e só se questionam por vezes no fim da sua vida. Tem a ver com o bem-
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
estar interior e com o sentido da minha vida e a religiosidade não permite isso, dá
segurança. Pessoas muito crentes dá-lhes segurança, fé intrínseca, mas não dá bem-estar…”
E7, “…a espiritualidade é diferente da religião. A espiritualidade tem mais a ver com os
princípios da nossa vida. Eu posso não ter nenhuma religião, ser ateu e ter espiritualidade.
O que é importante, como a espiritualidade tem uma influência na nossa maneira de ser, na
“…Estamos a falar directamente dos paliativos, enquanto que a religiosidade, nós até
“…O ponto principal ajuda muito a definir o meu espaço, o “eu”. Tudo isto que já
disse, em relação à confiança, ao estar (…) o facto de ter feito esta dissociação
determinadas coisas, quem quiser acredita, quem não quiser não acredita…” E1.
Aceitação e respeito
aceitar e respeitar a forma de estar do outro, “… além de me ter ajudado a perceber e aceitar
as convicções dos outros, também me ajudou a definir ou a perceber qual era o meu espaço
como enfermeira, o que é que eu posso fazer, ou o que é que eu não possa fazer…” E1, “…o
justamente isso, respeitar os valores do outro, sabermos adequar-nos a nós, sem nos
ferirmos, relativamente a qualquer ideia que o outro tenha, mas claro que é fundamental…”
E4.
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
“…Há uma redefinição de prioridades, era aquilo que dizia relativamente à energia,
se estamos bem transmitimos o bem, se estamos mal transmitimos o menos bem. As coisas
normalmente correm mais fluidas. A principal diferença é aceitar que há coisas que são
assim, o que para mim pode não ser para o outro, é aceitar. Quando digo aceitar não digo
Conhecimento do “EU”
que é a dimensão espiritual do outro “…nós temos que primeiro ter noção do que é que nós
somos, dos nossos limites, principalmente, daquilo que somos capazes de fazer ou não, para
tentarmos dar ao outro o melhor que nós temos…” E4, “…A nossa espiritualidade também
conjunto com o doente ver, que sentido ele dá às coisas e onde ele se enquadra para melhor
espiritualidade”, isto porque, apesar de um dos entrevistados nos ter referido que é possível
cuidar sem ter em atenção a dimensão espiritual, dizem-nos igualmente, que a nossa
consegue cuidar sem ter em atenção a dimensão espiritual mas enriquece os pormenores ou,
para ter uma conversa profunda com alguém sobre espiritualidade, há que ter minimamente
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
desenvolvido alguma espiritualidade, se não, não se consegue ter essa conversa com o
doente. Consegue-se cuidar, mas essa parte fica a faltar, existem falhas numa parte da nossa
profissionalidade…” E12, “…é possível cuidar sem ter em atenção a espiritualidade, mas
Características da sociedade
formação que nos é dada, quer pela sociedade em que vivemos. Os valores são muito mais
consumistas e imediatos. Muitas vezes também, os próprios doentes não têm uma prática
espiritual. Quando perguntamos às pessoas se tem alguma religião, elas dizem que sim, no
Este discurso revela-nos que por vezes a sociedade esta envolta de determinados
valores em que não há tempo/ disponibilidade mental para ponderar outras formas de estar, é
“A nossa sociedade muda de natureza e de forma, consoante o nosso olhar. Temos que
necessitamos de comunicação e diálogo com outros olhares que além do nosso. Seja como
O trabalho em equipa foi várias vezes referido ao longo dos discursos obtidos como
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
apresentam. Os profissionais que são chamados a intervir serão aqueles que estão em
profissionais que sejam mais importantes que outros, apenas profissionais que, em
Equipas funcionais
funcionais, pelo menos é a opinião de quatro dos profissionais entrevistados. Estes referem-se
as suas equipas de trabalho como sendo funcionais, dando como explicação para o facto, a
capacidade de comunicação entre os seus elementos, “… acho que são muito diferentes. Há
determinadas situações que não chegam a surgir, porque todos nós falamos a mesma
linguagem…” E1, “…temos uma reunião semanal e depois uma mini reunião com mais
frequência durante a semana, depende da ocasião. Falamos sempre uns com os outros…”
E2. Estes discursos vêm ao encontro do que é defendido por Neto58, “devem existir reuniões
capacidade de falar com as pessoas sem falar de religião quando as pessoas viram ele vira,
quando as pessoas não querem virar ele não vira a conversa…” E3, “…porque não só faz o
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
conseguir, como consegue estar suficientemente aberto para acompanhar a pessoa nas suas
diferentes crenças, ou em nenhumas. Não impõe nada, tem um tratamento individual, para
cada uma das pessoas, a abordagem é sempre individual. Mesmo que faça a abordagem com
a família, nunca faz com a família e com a pessoa ao mesmo tempo. Permite que a pessoa
esteja sempre no seu espaço. Tem conseguido desenvolver certas actividades, que são desejo
Necessidade de formação
Apesar de ser reconhecido que o verdadeiro trabalho em equipa faz delas equipas
funcionais, houve ainda quem fosse mais longe dizendo que a não existência de formação
especifica neste contexto, espiritualidade, dificulta por vezes o seu trabalho, “…não
conseguimos fazer a formação ou dar a ajuda, como por exemplo, se ensina no controlo de
sintomas, nem apoio à família, logo é uma dimensão que eu sinto que as pessoas querem,
“…resumindo, é uma área difícil de abordar e muito mal trabalhada…” E10. Estas
por 89.5% dos enfermeiros, o que reflecte a necessidade de inclusão da dimensão espiritual
quanto mais não seja muitas vezes pela aprendizagem que fazemos. Nós aprendemos com os
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Cap. III – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
“Para não defraudar as legítimas expectativas daqueles que atravessam tão dramática
etapa da sua vida, as equipas devem ter formação (…), pois não estamos a falar de parentes
pobres dos cuidados de saúde, nem de doentes que sejam filhos de um Deus menor, mas antes
Após a análise averiguamos que grande parte dos entrevistados consideram que cuidar
implica ter em atenção a dimensão espiritual, alegando que é necessário ter um conhecimento
do “eu” para puder aceitar e respeitar a espiritualidade do outro, tal como ele a considera.
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CONCLUSÃO
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Conclusão
Há muito que se discute sobre a prestação de cuidados de saúde tendo por base o
doente/cliente em todas as dimensões, mental, física, social e espiritual. No entanto, para que
se possa dar uma resposta de qualidade ao nível da prestação de cuidados, importa que os
profissionais de saúde reflictam e tenham uma percepção da sua própria espiritualidade, para
que desta forma consigam identificar/ ou estar despertos para as necessidades espirituais de
quem cuidam.
espiritualidade é tudo menos fácil de definir ainda que em outros tempos ela fosse entendida
religiosidade são conceitos claramente distintos. Existem pessoas que tem espiritualidade e
não são religiosas e outros que são religiosas, no sentido do cumprimento crenças e rituais, e
não consideram ter espiritualidade, ou pelo menos não consideram estar despertos para.
nós utilizada, de forma a dar resposta aos objectivos do estudo. A metodologia utilizada
Esta abordagem metodológica permitiu-nos ter uma visão global, facilitando assim
uma melhor visualização dos dados obtidos. Foram utilizados quadros relativamente às
questões de partida, bem como alcançar os objectivos para os quais o estudo se propôs.
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Conclusão
É chegada a altura de reflectir sobre as conclusões que o estudo nos permitiu obter,
que se prende com o que se entende ser a espiritualidade na perspectiva dos profissionais de
- De acordo com o estudo, podemos concluir que todos os profissionais de saúde referem que
complexa;
- De acordo com os dados obtidos, verificamos que foram mencionadas diversas expressões
que visam definir o termo espiritualidade, expressões que surgiram espontaneamente dos
27.27% dos profissionais fizeram questão de frisar que o conceito de espiritualidade difere
- Importa referir que, por vezes, o mesmo profissional mencionou mais do que uma expressão
funções que neste caso são os serviços de CP, 27.27% com as vivências de que foram alvo,
18.18% relacionam com o tempo, na medida em que dizem que com o passar do tempo
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Conclusão
- Foram destacadas diversos factos que contribuíram para esta influência da espiritualidade na
vida diária dos profissionais de saúde, como: a influência das experiências vividas, e o facto
de possuírem formação especifica na área. A maioria refere que esta influência se traduz
numa evidente alteração da forma de estar no seu quotidiano, dando prioridade na prática
- Concluiu-se igualmente que quase a totalidade dos profissionais refere que, na sua
diz ser possível cuidar sem ter em atenção esta mesma dimensão. No entanto, estes 9%,
reconhecem que não se trata de cuidar na sua totalidade, tendo dificuldade em enquadrar as
- Para cuidar tendo em atenção a dimensão espiritual, os profissionais referem ser importante
- 80 -
Conclusão
- Por fim, mas não menos importante, os dados obtidos, permitem-nos concluir que os
Durante todo o processo de elaboração deste estudo, ouve uma constante preocupação
existem diversos factores que condicionam o mesmo. Por um lado, o tempo que possuíamos
análise de dados, podem ter condicionado de alguma forma a recolha dos dados influenciando
Para além destes factores, salientamos ainda que a abrangência do tema e a falta de
Este estudo permitiu-nos uma melhor compreensão do fenómeno em causa através das
respostas às questões formuladas aos profissionais de saúde, que de uma forma espontânea se
predispuseram a falar das suas práticas, fazendo uma viagem de introspecção pessoal,
permitindo-nos assim obter informação relevante de forma a dar resposta às questões para o
Apesar de todas as limitações culminou com toda a certeza num crescimento pessoal
como investigadora, onde a validade dos processos e a fidelidade dos resultados foram uma
preocupação constante.
confirmação disso mesmo nos últimos anos, pela crescente evolução de que foi testemunha.
- 81 -
Conclusão
preocupações, suscitar novas reflexões e sugestões para a melhoria dos cuidados de saúde,
nomeadamente:
profissionais de saúde, para que possamos compreender melhor a realidade destes, uma vez
- Investir na formação pós-graduada dos profissionais de saúde em CP para que seja possível
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