TCC Hospitalização de Idosos
TCC Hospitalização de Idosos
TCC Hospitalização de Idosos
Palhoça
2008
MARIANA PORTO DOS SANTOS
Palhoça
2008
MARIANA PORTO DOS SANTOS
____________________________________
Profª e orientadora Alessandra d’Avila Scherer, Msc.
Universidade do sul de santa Catarina
____________________________________
Profª. Marilda Contessa Lisbôa, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
___________________________________
Profª. Simone Vieira, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
À terceira idade, melhor idade, maior
idade, feliz idade, velho, idoso e demais,
que devem ser entendidos por todos, para
serem aceitos e respeitados nas suas
características, motivações, expectativas,
sonhos e potencialidades.
AGRADECIMENTOS
(OLAVO BILAC)
RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11
1.1 PROBLEMÁTICA.................................................................................................11
1.2 OBJETIVOS.........................................................................................................13
1.2.1 Geral.................................................................................................................13
1.2.2 Específicos......................................................................................................13
1.3 JUSTIFICATIVA...................................................................................................14
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................16
2.1 GERONTOLOGIA E GERIATRIA........................................................................16
2.2 ENVELHECIMENTO HUMANO...........................................................................18
2.2.1 Definições e Terminologias...........................................................................19
2.2.2 Aspectos Biológicos.......................................................................................20
2.2.3 Aspectos Psicológicos...................................................................................22
2.2.4 Aspectos Sociais............................................................................................26
2.3 AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA.....................................................................29
2.4 PSICOLOGIA HOSPITALAR...............................................................................32
2.4.1 Idoso Hospitalizado........................................................................................34
2.5 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO.............................................................37
2.5.1 Na Velhice........................................................................................................39
3 MÉTODO................................................................................................................ 43
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA...................................................................43
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA.......................................................................44
3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..........................................................45
3.4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.....................................................46
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS................................................................47
4.1 PERCEPÇÃO SOBRE AUTONOMIA..................................................................48
4.1.1 Atividades........................................................................................................48
4.1.1.1 Antes..............................................................................................................48
4.1.1.2 Depois............................................................................................................49
4.1.1.3 Na hospitalização...........................................................................................50
4.1.2 Escolhas.......................................................................................................... 51
4.1.2.1 Antes..............................................................................................................51
12
4.1.2.2 Depois............................................................................................................52
4.1.2.3 Na hospitalização...........................................................................................53
4.1.3 Impedições...................................................................................................... 55
4.1.3.1 Antes..............................................................................................................55
4.1.3.2 Depois............................................................................................................56
4.1.3.3 Na hospitalização...........................................................................................56
4.2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO.............................................................58
4.2.1 Respostas Emocionais...................................................................................58
4.2.2 Respostas Situacionais..................................................................................59
4.2.2.1 Assistir televisão............................................................................................60
4.2.2.2 Receber banho.............................................................................................. 61
4.2.2.3 Receber comida na boca...............................................................................61
4.2.2.4 Escolher a comida do hospital.......................................................................62
4.3 SÍNTESE DOS RESULTADOS............................................................................63
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................65
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 69
APÊNDICES..............................................................................................................71
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista.....................................................................72
ANEXOS....................................................................................................................73
ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................74
ANEXO B – Termo de Consentimento para Gravações de Voz...........................76
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMÁTICA
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
1.2.2 Específicos
14
1.3 JUSTIFICATIVA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Modificações internas:
- os ossos endurecem;
- os órgãos internos atrofiam-se, reduzindo seu funcionamento;
- o cérebro perde neurônios e atrofia-se, tornando-se menos eficiente;
- o metabolismo fica mais lento;
- a digestão é mais difícil;
- a insônia aumenta, assim como a fadiga durante o dia;
- a visão de perto piora devido à falta de flexibilidade do cristalino; a perda
de transparência (catarata), se não operada, pode provocar cegueira;
- as células responsáveis pela propagação dos sons no ouvido interno e
pela estimulação dos nervos auditivos degeneram-se;
- o endurecimento das artérias e seu entupimento provocam
arteriosclerose;
- o olfato e o paladar diminuem.
espécie de autodefesa. A dor física, queixa comum nos idosos, muitas vezes
esconde a dor do desconhecido, da perda da identidade corporal, o que causa
sensação de estranheza, solidão e tristeza.
Com a aposentadoria, se dá a perda do vínculo profissional e do papel
social, e como agravante, ocorre uma baixa considerável nos rendimentos, o que
acarreta em uma série de privações numa fase da vida em que poderia usufruir do
fruto de anos de trabalho. Nesta fase, se “aprende” novos papéis e se obtém novos
privilégios. Há a oportunidade de dedicar-se a atividades interessantes que podem
ser autogratificantes, auxiliando na manutenção da auto-estima.
A mulher que se dedica apenas ao lar, restringindo-se aos papéis de mãe
e esposa, se debate com a questão de que a vida perdeu o sentido após os filhos já
criados, fora do ambiente familiar. E algumas, após muitos anos de convivência,
enfrentam a viuvez, vivenciando a perda não só psicológica, mas também a
econômica. A maneira pela qual cada mulher enfrenta esta situação depende dos
papéis sociais que exerceu ao longo da vida.
Essa perda de conteúdo dos papéis significa que as rotinas da vida não
se estruturam mais por meio de papéis específicos, o que pode ocasionar num risco
de isolamento ou alienação. Por outro lado, essa “ausência de papéis” carrega
algumas vantagens para o idoso. Uma delas seria uma maior “licença para a
excentricidade”, podendo expressar sua própria individualidade na maneira de vestir,
de falar, nas preferências pessoais, etc. Isso se dá devido ao fato de não haver
necessidade de adaptação aos limites estreitos das expectativas dos papéis. Parece
haver no final da vida adulta, uma espécie de aceitação institucionalizada da
excentricidade.
O preconceito está fortemente presente no idoso, pois comumente
crescemos interiorizando o envelhecimento como algo negativo. Quando jovem,
assimilou a idéia que seria improdutivo, frágil, dependente e doente. E assim que
envelhece passa a vivenciar estas auto-imagens negativas. Em conseqüência disso,
deixa de lutar por uma melhor qualidade de vida, aceitando passivamente esta fase
como improdutiva, sem realizações e perspectivas.
A vida cultural e intelectual, possibilita ao idoso uma maior facilidade para
assumir as mudanças impostas pela velhice, uma vez que existe o hábito de pensar,
refletir e meditar. Não apenas manter-se ativo, mas permitir-se também o não fazer,
mantendo vivas aspirações e fantasias, permite ao idoso uma boa qualidade de vida.
26
Entende-se assim uma pessoa autônoma como sendo comandada por ela
mesma, que toma decisões e, com isso, consegue construir seu próprio caminho de
vida. Enquanto que o independente/dependente só o é em relação a alguma outra
coisa, ou seja, a partir da inserção de um segundo neste contexto. Ela pode não ter
independência em alguns aspectos, mas manter sua autonomia. Para exemplificar
estes conceitos pode-se citar uma senhora que se encontra em uma cadeira de
rodas devido à perna quebrada, esta poderá exercer sua autonomia totalmente
decidindo onde quer ir e que roupa quer usar, apesar de não ser totalmente
independente.
31
• Manipular medicamentos
• Realizar compras
• Realizar tarefas domésticas leves e pesadas
• Utilizar o telefone
• Preparar refeições
• Cuidar das próprias finanças
em sua contratação, embora essa situação já tenha obtido alguns progressos onde o
psicólogo vem aos poucos ganhando seu espaço neste campo de atuação.
Segundo Camon (2003), um dos objetivos do psicólogo no hospital é
tentar minimizar o sofrimento do paciente causado pela hospitalização. O trabalho é
focado no sofrimento e nas repercussões que o adoecimento e a hospitalização
estão causando, associado a outros fatores como história de vida, a forma como ele
assimila a doença e sua personalidade. Trata-se de inúmeras variáveis que deverão
ser levadas em conta ao longo do atendimento.
O mesmo autor afirma também que o psicólogo precisa ter muito claro
que a sua atuação no contexto hospitalar não é psicoterápica dentro dos moldes do
chamado setting terapêutico. Isto é, um lugar adequado para a realização da
psicoterapia. Nos casos de atendimentos realizados em enfermarias, o atendimento
do psicólogo, muitas vezes, é interrompido pela equipe de saúde para a realização
de procedimentos, seja para aplicação de injeções ou para processo de limpeza.
Sendo assim, na psicologia hospitalar o profissional se depara com situações onde
na maioria das vezes não tem a privacidade necessária, portanto terá que levar em
conta todas as variáveis que poderão surgir durante o atendimento.
No hospital, ao contrário do paciente que procura pela psicoterapia, a
pessoa hospitalizada será abordada pelo psicólogo em seu próprio leito. E, em
muitos casos, sem que o paciente tenha claro qual o papel do psicólogo neste
momento e até mesmo em sua vida. Dessa forma, Camon (2003) remete à
importância de o psicólogo ter bem claros os limites de sua atuação para ele
também não se tornar mais um dos elementos invasivos que agridem o paciente
durante a hospitalização. Ainda que o psicólogo perceba que o paciente esteja
necessitando muito de intervenção neste momento, deve-se respeitar a opção dele
em receber ou não atendimento, demonstrando respeito à condição humana.
Ainda sobre os objetivos da psicologia hospitalar, Camon (2003) pontua
que a família do paciente e a equipe de saúde também necessitam de assistência
psicológica. Aos familiares por encontrarem-se fragilizados, deprimidos, ansiosos e
muitas vezes negam a doença, dificultando o processo de recuperação do membro
da família que está hospitalizado; e à equipe de saúde, por estar em contato
permanente com situações limítrofes que envolvem a doença e até a morte,
elevando o nível de ansiedade e estresse que acabam por dificultar a relação
médico-paciente e família. Diante disso, o psicólogo tornou-se, em seu caminho de
34
Quando o homem atingir sua plena força, será capaz de construir uma
ponte entre seus ideais e a verdadeira vida. Mas um dia sente que sua força
é limitada. Muitas coisas já não andam bem. O cansaço começa. A vida
perde alguma coisa de sua novidade; sabe-se, enfim, que é um trabalho e
uma luta. Tudo é caracterizado como “conhecido” de antemão. (ALBERTO,
2002, p. 129).
lidar com o aparecimento de uma nova população, que até algumas décadas não
era significativa, e hoje tampouco é considerada no nível de ser tratada com
dignidade e respeito, população esta que se refere aos indivíduos que,
orgulhosamente, ultrapassaram a faixa etária dos 60 anos. Esta situação traz
consigo um questionamento se existirá estrutura e profissionais suficientes e
adequadamente preparados para lidar com estas pessoas.
O indivíduo que atinge o estágio de envelhecimento estaria,
implicitamente, sendo visto como um ser enfermo, doente, limitado, não bastando a
condição da própria existência enquanto idoso, caracterizado como um esteriótipo
de “enfermo”; no momento em que o homem passa a ser denominado idoso, o seu
prognóstico estará fechado sem possibilidades de retorno a uma vida produtiva e
com capacidade de amar. (ALBERTO, 2002). Por este motivo utilizar-se-á o termo
idoso hospitalizado e não idoso enfermo.
Para os idosos hospitalizados, que sabem que a doença vai perdurar por
longo tempo ou talvez para sempre, Alberto (2002) menciona quatro conflitos
possíveis de ser encontrados: o conflito consigo mesmo, com o seu ambiente, com o
seu leito e como seu corpo.
O conflito consigo mesmo: “Toda sua existência, toda sua vida se
perdem. O começo de toda doença grave é como um “alto”, não se aceita nunca
como algo irremediável, mas como uma situação de perigo” (ALBERTO, 2002, p.
139). É como se o idoso hospitalizado entrasse num outro mundo que o faz perceber
tudo aquilo que já não existe para ele, a saúde, as pequenas coisas que o rodeiam,
e isso o surpreende permanecendo neste estado durante todo o período de doença.
O conflito com seu ambiente: “Este conflito é causado, sobretudo pelas
pessoas sãs que o visitam”. (ALBERTO, 2002, p. 139). Mesmo se para o doente a
doença permanece sempre como um mistério, a pessoa sã logo o convence de sua
situação, tirando-o da existência cotidiana, fazendo com que o tome como um fato
consumado.
O conflito com o leito: para a pessoa sã o leito pode parecer um lugar de
repouso para o doente, mas para o idoso hospitalizado o leito terá sempre o cheiro
de cânfora dos medicamentos, que o associa à doença, ao hospital, etc.
O conflito com o seu corpo: o idoso hospitalizado, diferente da pessoa sã,
percebe seu corpo frágil, inerte em seu leito. Não o vê mais como um “meio” e sim
um “objeto”, aprisionado à doença.
36
2.5.1 Na Velhice
que ela pode fazer com as habilidades que possui. (GOLDSTEIN, 1995). Estas
crenças influenciam o modo pela qual as pessoas relacionam-se com o ambiente de
diversas maneiras, de acordo com a autora acima, seja determinando as decisões
envolvendo as escolhas do curso de ação a ser tomado, onde elas tendem a evitar
tarefas e situações que elas acreditam exceder suas capacidades, mas assumem e
desempenham atividades que julgam ser capazes de exercer; seja influenciando o
esforço despendido e a persistência frente a obstáculos, quando enfrentam
dificuldades, os indivíduos que têm dúvidas sobre suas capacidades diminuem seus
esforços ou desistem totalmente, enquanto os que têm um forte senso de eficácia
aplicam maiores esforços para enfrentar as dificuldades; ou seja influenciando os
padrões de pensamento e as reações emotivas durante as transações com o
ambiente, onde as pessoas que se julgam ineficazes para lidar com as demandas do
ambiente tendem a avaliar os eventos como mais ameaçadores ou perigosos do que
aquelas que possuem confiança em sua auto-eficácia.
3 MÉTODO
Este capítulo foi dedicado à análise dos dados obtidos por meio das
entrevistas dos participantes, a qual será acrescida da teoria necessária e com o
recorte dado conforme percepção da pesquisadora.
Seu desenvolvimento ocorrerá de acordo com a tabela abaixo que
resume a categorização destes dados:
4.1.1 Atividades
4.1.1.1 Antes
“O meu dia antes era meio parado (...). Nunca freqüentei clube de idosos,
coisa assim eu nunca freqüentei. Mais é um crochê, uma televisão, lê a Bíblia... é a
minha atividade. (...) Fazia as coisa de casa, comida, louça.” (I01)
I02 relata que fazia muitas atividades e não parava dentro de casa,
cuidava das suas plantações e, além de fazer as tarefas domésticas, participava do
grupo de idosos e gostava muito de ir à igreja.
“Eu trabalhava (...) Eu plantava (...)Da carismate e do grupo de idosos
também (...) Eu quando tava boa não gostava de ficar dentro de casa, gostava de
fazer meu serviço de casa depois saí na rua fazer alguma coisa neh.” (I02)
I03 relata que antes da doença trabalhava no Porto de sua cidade, e nas
horas vagas cuidava de suas plantações, atividade esta que passou a se dedicar
após se aposentar. Além disso, gosta muito de passear e pescar.
“Eu trabalhava no Porto (...) Trabalhava na lavoura, nas horas das folga
nós trabalhava, tinha vaquinha de leite (...) Passeava, pescava”. (I03)
I04 relata que antes da doença sua principal atividade era trabalhar na
roça, além de fazer as tarefas domésticas e cuidar dos filhos. “Trabalhava... A vida
do colono é isso neh, chegava da roça em casa, fazia o serviço em casa neh e isso
eu fiz desde nova neh.” (I04)
Este resultado corrobora com os estudos feitos por Scherer; et al (2001),
baseados na leitura de alguns autores, tais como: Papaléo (1996), Mendonça Jorge
(1995), Novaes (1995) e Néri (1995), onde nos mostra que a manutenção de
atividades ocupacionais é de extrema importância para que o idoso enfrente de
forma positiva as situações de perda e as crises inerentes a fase do envelhecimento,
passando a viver de forma mais prazerosa e produtiva. Isto fará com que sejam
preservadas sua autonomia e independência, conceitos estes muito valorizados pela
Gerontologia.
4.1.1.2 Depois
4.1.1.3 Na hospitalização
4.1.2 Escolhas
4.1.2.1 Antes
4.1.2.2 Depois
I01 relata que geralmente é ela que faz suas escolhas, as raras vezes que
não é são em situações esporádicas, como por exemplo, prefere que a filha compre
suas roupas e leve pra ela, mas pode-se observar que neste caso possivelmente
trata-se de uma questão de escolha por não fazer.
“Eu roupa, coisa assim eu quase não compro tu sabe por quê? Porque eu
gosto que a minha filha compre pra mim ou ela que compre pra mim e traga em
casa, daí eu provo.” (I01)
I02 relata que algumas vezes precisou recorrer aos filhos, pedir auxílio
para realizar as tarefas de casa, pois não podia fazer muita coisa sozinha. Mas,
deixou claro que evitava fazer isso porque não queria incomodar, devido ao fato de
todos trabalharem fora.
“Ah eles às vezes iam me ajudar... fazer... limpar a casa, mas as vezes eu
fazia sozinha, porque todo mundo trabalhava e daí não queria incomodar.” (I02)
I03 e I04 demonstraram alto nível de autonomia em relação as suas
escolhas, mesmo após o aparecimento da doença, pois ambos não abrem mão do
seu direito de ir e vir, realizando as atividades que gostam a qualquer hora.
“Ah vou, vou no mercado, no banco, vou é, não tenho hora, quando eu
quiser eu vou.” (I03)
53
4.1.2.3 Na hospitalização
54
4.1.3 Impedições
4.1.3.1 Antes
ignorados, pois quanto mais estes sintomas são superestimados, menos rica e
deteriorada torna-se sua qualidade de vida.
4.1.3.2 Depois
4.1.3.3 Na hospitalização
“Por enquanto até ainda não me caiu a bola. (...) Ai... (choro) não sei te
explicar... (choro) a gente já fez tanta coisa, trabalhou tanto e agora ta aqui num
quarto de hospital (30 segundos de silêncio e choro).” (I01)
Primeiro me senti mal, mas agora eu já me acostumei neh. Que a gente
não podia mais fazer esse serviço, a gente tava acostumado neh e quando a gente é
acostumado com uma coisa é difícil deixar neh. (...) É, triste e... que não podia mais
me ajuda neh. (...)
Para os idosos hospitalizados, que sabem que a doença vai perdurar por
longo tempo ou talvez para sempre, Alberto (2002) menciona quatro conflitos
possíveis de ser encontrados: o conflito consigo mesmo, com o seu ambiente, com o
seu leito e como seu corpo.
O conflito consigo mesmo é como se o idoso hospitalizado entrasse num
outro mundo que o faz perceber tudo aquilo que já não existe para ele, a saúde, as
pequenas coisas que o rodeiam, e isso o surpreende permanecendo neste estado
durante todo o período de doença.
O conflito com seu ambiente, onde mesmo se para o idoso a doença
permanece sempre como um mistério, a pessoa sã logo o convence de sua
situação, tirando-o da existência cotidiana, fazendo com que o tome como um fato
consumado.
O conflito com o leito, que para a pessoa sã o leito pode parecer um lugar
de repouso para o doente, mas para o idoso hospitalizado o leito terá sempre o
cheiro de cânfora dos medicamentos, que o associa à doença, ao hospital, etc.
O conflito com o seu corpo, que para o idoso hospitalizado, diferente da
pessoa sã, percebe seu corpo frágil, inerte em seu leito. Não o vê mais como um
“meio” e sim um “objeto”, aprisionado à doença.
Eu não gosto de televisão. (...) Ah eu deixo elas assistir neh, depois elas
desliga daí eu durmo. É, mas isso passa neh... as vezes tem que acompanhar neh,
porque uma gostam outros não gostam neh (risos). É, eu espero, fico deitada, me
rezo neh. (I04)
constrangimento foi devido ao fato de que está acostumada a fazer tudo sozinha
sem o auxílio de outra pessoa, ainda mais para uma atividade tão básica como
alimentar-se. Mas, relata que não se ofendeu, pois realmente estava incapacitada de
realizar esta atividade sozinha.
A gente não ta acostumada com aquilo né, mas... É, acostumada a fazer
tudo sozinha, mas não me ofendeu em nada não. (I01)
Para ilustrar esta categoria, Neri (1995) ressalta que o idoso pode viver
bem a velhice, com as condições que tem, mesmo na presença de doenças e
agravos afetivos e sociais, desde que seja capaz de acionar recursos pessoais,
entre os quais têm realce as estratégias de enfrentamento.
Complementando, Goldstein (1995) nos mostra que o stress é uma
experiência bem conhecida pelos idosos, já que a vida caracteriza-se por um
processo contínuo de mudança e adaptação a desafios e eventos que, em maior ou
menor grau, podem ser avaliados como estressores.
63
A seguir serão apresentadas as sínteses dos resultados obtidos por meio das entrevistas com os idosos hospitalizados,
divididos em duas tabelas: a primeira relacionada à percepção dos entrevistados sobre sua autonomia e a segunda, relacionada às
estratégias de enfrentamento apresentadas por estes na hospitalização.
Antes Antes do aparecimento da doença mostravam-se ativos, exercendo suas atividades que
favoreciam a manutenção de sua autonomia; após, a doença tornou-se um limitador, onde não
ATIVIDADES Depois conseguiam mais fazer suas atividades de maneira independente, mas ainda mantiveram sua
autonomia; e na hospitalização, apesar de limitados às regras da institucionalização, realizavam
Na hospitalização pequenas atividades para passar o tempo, mostrando-se ainda autônomos na descoberta de
novos papéis.
Antes Em todas as fases investigadas, antes e depois do aparecimento da doença e na hospitalização,
mostraram-se autônomos, mantendo a sua capacidade de decisão. Apenas com uma diferença:
ESCOLHAS Depois quando o idoso mostrou-se dependente em determinados aspectos, concomitantemente foi
tentado lhe retirar a autonomia, por falta de conhecimento tanto dos familiares quanto dos
Na hospitalização profissionais de saúde, pois durante a hospitalização, apesar de estarem com sua capacidade
funcional prejudicada, podiam manter sua capacidade de decisão, fortalecendo sua autonomia.
Antes do aparecimento da doença não se viam impedidos de maneira alguma, se mostrando
Antes novamente autônomos no comando de suas vidas. Após o aparecimento da doença, esta se
tornou a impedição para a realização da maioria de suas atividades, mas ainda preservando
suas capacidades de auto-governo. Na hospitalização, apesar de citadas algumas impedições
IMPEDIÇÕES Depois médicas e também em relação às atividades instrumentais de vida diária como fazer sua própria
comida e arrumar sua cama, os idosos mostraram-se preocupados com a recuperação de sua
saúde, ficando a questão do exercício de sua autonomia em segundo plano, não se tornando
Na hospitalização menos importante, uma vez que os entrevistados mantiveram suas capacidades de escolha e
auto-governo.
Fonte: Elaborada pelo autor da pesquisa
64
Cada quarto da enfermaria Bernadete é composto por 3 leitos e possui apenas uma
televisão. Diante desta circunstância, alguns entrevistados relataram ter ocorrido
Assistir televisão divergências em relação a que canal assistir. Diante disso, cada um utilizou a
estratégia de enfrentamento aprendida ao longo de sua vida, sendo a abstinência de
qualquer oposição a estratégia citada com mais freqüência.
Dependendo do estágio em que se encontra a doença, o idoso hospitalizado não
consegue tomar banho sozinho, precisa da ajuda da equipe médica ou dos
Receber banho familiares. Diante disso, os entrevistados relataram que se sentiram envergonhados,
tristes por terem que depender de outra pessoa para fazer algo que sempre fizeram
sozinhos, mas ao mesmo tempo gratos por receberem cuidados nesta fase em que
se vêem impedidos de realizar tal atividade.
RESPOSTAS Uma situação constrangedora citada por I01 foi o momento em que recebeu comida
na boca por um enfermeiro após ter realizado um Cateterismo. Seu constrangimento
SITUACIONAIS
Receber comida na boca foi devido ao fato de que está acostumada a fazer tudo sozinha sem o auxílio de
outra pessoa, ainda mais para uma atividade tão básica como alimentar-se. Mas,
relata que não se ofendeu, pois realmente estava incapacitada de realizar esta
atividade sozinha.
I02 relata que precisa escolher a sua comida, pois não ingere determinados
alimentos, e se isso não fosse obedecido ficaria sem comer, apenas ingerindo
alimentos trazidos pela família, como frutas, etc. Sua estratégia de enfrentamento
Escolher a comida do hospital em relação a esta situação foi pedir para sua nora solicitar à enfermeira para
substituir os alimentos por outros que ela possa comer, e seu pedido foi atendido,
uma vez que caso a paciente não se alimentasse bem seu quadro clínico poderia
piorar.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
______; FREIRE, Sueli Aparecida. (Orgs.). E por falar em boa velhice. Campinas:
Papirus, 2000.
ZAKIR, Norma San’Ana. Mecanismos de Coping. In: LIPP, Maria Helena Novaes.
Mecanismos Neuropsicofisiológicos do Stress: teoria e aplicações técnicas. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. cap. 14, p. 93-98.
APÊNDICES
72
Idade:
Sexo:
Estado Civil:
Profissão:
Constituição Familiar:
Mora com:
Naturalidade:
A) ANTES DA DOENÇA
B) DEPOIS DA DOENÇA
C) HOSPITALIZAÇÃO
ANEXOS
74
Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa cujo tema é “A
relação existente entre a percepção de idosos hospitalizados sobre sua
autonomia e as estratégias de enfrentamento apresentadas por estes durante a
hospitalização”. Estou ciente de que a pesquisa será realizada obedecendo aos
seguintes critérios:
a- O tempo de realização das entrevistas será de 40 a 50 minutos;
b- O horário para a realização das entrevistas, será combinado com os participantes,
considerando a disponibilidade dos mesmos e será agendada pelo próprio
pesquisador com antecedência;
c- Para o armazenamento das informações, a entrevista será gravada com a
permissão do participante e posteriormente transcritas para que se possa garantir o
registro de todas as falas do paciente. Para o tratamento e análise das falas, serão
feitos, após a realização das entrevistas, quadros com os questionamentos dela
surgidos. A análise de conteúdo será feita através da descrição das falas do
paciente, com o intuito de concluir o conhecimento produzido;
d- A pesquisa será realizada no Hospital de Caridade, em Enfermarias Gerais, mais
precisamente no quarto do paciente;
e- Os instrumentos utilizados para a coleta de dados serão o guia da entrevista
semi-estruturada, previamente elaborado e o gravador de voz;
f- Pelo fato de a pesquisa acontecer dentro do hospital, a pesquisadora estará
vestida de acordo com as normas do mesmo, com um jaleco branco e sapatos
fechados.
Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e que recebi,
de forma clara e objetiva, todas as explicações pertinentes ao projeto e que todos os
dados a meu respeito serão sigilosos. Eu compreendo que neste estudo as
medições dos experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim.
Declaro que fui informado que posso me retirar do estudo a qualquer momento.
ENDEREÇO: ENDEREÇO:
Av. Pedra Branca, n.º25 Rua Jorn. Bento Silvério, 906
Palhoça – SC Apto 003 – Kobrasol
São José – SC
76
RG: ______________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________
Assinatura: _________________________________________________________
Equipe de pesquisadores:
Florianópolis, __________________________________