TCC Hospitalização de Idosos

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

MARIANA PORTO DOS SANTOS

HOSPITALIZAÇÃO: AMEAÇA À AUTONOMIA DO IDOSO?

Palhoça
2008
MARIANA PORTO DOS SANTOS

HOSPITALIZAÇÃO: AMEAÇA À AUTONOMIA DO IDOSO?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Psicologia da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientadora: Profª. Alessandra d´Avila Scherer, Msc.

Palhoça
2008
MARIANA PORTO DOS SANTOS

HOSPITALIZAÇÃO: AMEAÇA À AUTONOMIA DO IDOSO?

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado


adequado à obtenção do título de psicólogo e
aprovado em sua forma final pelo Curso de
Psicologia da Universidade do Sul de Santa
Catarina — UNISUL.

Palhoça, 19 de novembro de 2008.

____________________________________
Profª e orientadora Alessandra d’Avila Scherer, Msc.
Universidade do sul de santa Catarina

____________________________________
Profª. Marilda Contessa Lisbôa, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina

___________________________________
Profª. Simone Vieira, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
À terceira idade, melhor idade, maior
idade, feliz idade, velho, idoso e demais,
que devem ser entendidos por todos, para
serem aceitos e respeitados nas suas
características, motivações, expectativas,
sonhos e potencialidades.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a muitas pessoas que contribuíram para o meu


sucesso ao longo destes seis anos e meio de faculdade, mas este espaço se
tornaria pequeno e poderia ser injusta por eventualmente esquecer alguém.
Mas deixo aqui o meu agradecimento especial aos que foram mais
marcantes...
A minha mãe, Shirlei, pelo esforço e dedicação dispensados para que eu
me tornasse uma vencedora, apesar das dificuldades.
A minha amiga Neide, que com sua incrível sensibilidade me ensinou a
ver a vida de uma maneira mais colorida e a valorizar as pequenas coisas.
As minhas professoras Alessandra Scherer, pela confiança incondicional
em mim depositada e Anita Bacelar, por todo conhecimento compartilhado neste
pouco tempo de convivência.
As minhas colegas de orientação, em especial à minha amiga Paty, que
apesar das suas próprias preocupações sempre auxiliaram na construção do
trabalho uma das outras.
A todos os meus amigos que deixaram a sua contribuição nesta minha
caminhada, confortando, incentivando, criticando, chorando, sorrindo e festejando!
VELHAS ÁRVORES

“Não choremos, amigo, a mocidade!


Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem.
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem”.

(OLAVO BILAC)
RESUMO

Na velhice, uma vida mais saudável está intimamente ligada à manutenção da


autonomia e independência, que constituem bons indicadores de saúde. Neste caso,
conceituando-se autonomia como sendo a capacidade de decisão, de comando; e
independência, a capacidade de realizar algo com seus próprios meios. Ambas
podem ser comprometidas por doenças físicas que, devido a uma crescente
vulnerabilidade biológica do idoso, podem ocorrer com maior freqüência remetendo
à necessidade de internação hospitalar, o que pode ser encarado pelo idoso como
uma situação estressante. Visto que as pessoas percebem e lidam de maneira
diferente com eventos de vida estressantes, podendo-se utilizar de várias
estratégias que são aprendidas, mantidas e alteradas ao longo do curso de vida,
esta pesquisa objetivou compreender a relação existente entre a percepção de
idosos hospitalizados sobre sua autonomia e as estratégias de enfrentamento
apresentadas por estes durante a hospitalização. Para responder o objetivo da
pesquisa, foram realizadas entrevistas com idosos hospitalizados, com 60 anos ou
mais, com no mínimo uma semana de internação. A pesquisa é de natureza
qualitativa, possui um caráter descritivo e exploratório e utilizou entrevista semi-
estruturada para a realização da coleta de dados. Foram analisados os dados
através de categorias selecionadas a partir dos objetivos da pesquisa e conteúdo
das entrevistas, fundamentando através do referencial teórico pré-definido. Na
análise de dados percebeu-se que os idosos entrevistados se percebem autônomos
na medida em que todos tomam suas próprias decisões e escolhas sem a impedição
de outras pessoas, e esta autonomia não é prejudicada durante a hospitalização,
uma vez que estão preocupados com a recuperação de sua saúde, utilizando-se
assim de estratégias de enfrentamento saudáveis frente as situações estressoras
citadas.

Palavras-chave: Idoso. Autonomia. Hospitalização. Estratégias de Enfrentamento.


LISTA DE SIGLAS

AIVD – Atividades Instrumentais de Vida Diária


AVD – Atividades de Vida Diária
ONU – Organização das Nações Unidas
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Perfil dos idosos hospitalizados...............................................................45


Tabela 2 – Categorização dos dados........................................................................47
Tabela 3 – Síntese dos resultados: percepção sobre autonomia..............................63
Tabela 4 – Síntese dos resultados: estratégias de enfrentamento............................64
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11
1.1 PROBLEMÁTICA.................................................................................................11
1.2 OBJETIVOS.........................................................................................................13
1.2.1 Geral.................................................................................................................13
1.2.2 Específicos......................................................................................................13
1.3 JUSTIFICATIVA...................................................................................................14
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................16
2.1 GERONTOLOGIA E GERIATRIA........................................................................16
2.2 ENVELHECIMENTO HUMANO...........................................................................18
2.2.1 Definições e Terminologias...........................................................................19
2.2.2 Aspectos Biológicos.......................................................................................20
2.2.3 Aspectos Psicológicos...................................................................................22
2.2.4 Aspectos Sociais............................................................................................26
2.3 AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA.....................................................................29
2.4 PSICOLOGIA HOSPITALAR...............................................................................32
2.4.1 Idoso Hospitalizado........................................................................................34
2.5 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO.............................................................37
2.5.1 Na Velhice........................................................................................................39
3 MÉTODO................................................................................................................ 43
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA...................................................................43
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA.......................................................................44
3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..........................................................45
3.4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.....................................................46
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS................................................................47
4.1 PERCEPÇÃO SOBRE AUTONOMIA..................................................................48
4.1.1 Atividades........................................................................................................48
4.1.1.1 Antes..............................................................................................................48
4.1.1.2 Depois............................................................................................................49
4.1.1.3 Na hospitalização...........................................................................................50
4.1.2 Escolhas.......................................................................................................... 51
4.1.2.1 Antes..............................................................................................................51
12

4.1.2.2 Depois............................................................................................................52
4.1.2.3 Na hospitalização...........................................................................................53
4.1.3 Impedições...................................................................................................... 55
4.1.3.1 Antes..............................................................................................................55
4.1.3.2 Depois............................................................................................................56
4.1.3.3 Na hospitalização...........................................................................................56
4.2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO.............................................................58
4.2.1 Respostas Emocionais...................................................................................58
4.2.2 Respostas Situacionais..................................................................................59
4.2.2.1 Assistir televisão............................................................................................60
4.2.2.2 Receber banho.............................................................................................. 61
4.2.2.3 Receber comida na boca...............................................................................61
4.2.2.4 Escolher a comida do hospital.......................................................................62
4.3 SÍNTESE DOS RESULTADOS............................................................................63
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................65
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 69
APÊNDICES..............................................................................................................71
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista.....................................................................72
ANEXOS....................................................................................................................73
ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................74
ANEXO B – Termo de Consentimento para Gravações de Voz...........................76
11

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa partiu da experiência no Estágio Curricular Obrigatório,


vinculado ao Núcleo da Saúde do Curso de Psicologia da Universidade do Sul de
Santa Catarina - Unisul. Estágio este realizado na Irmandade Senhor Jesus dos
Passos - Hospital de Caridade, localizado na cidade de Florianópolis-SC.
Objetiva-se com esta pesquisa compreender a relação existente entre a
percepção de idosos hospitalizados sobre sua autonomia e as estratégias de
enfrentamento apresentadas por estes durante a hospitalização. Para tanto,
caracteriza-se como uma pesquisa de caráter qualitativo, de natureza descritivo-
exploratória, a qual será realizada com idosos hospitalizados, com 60 anos ou mais.
Para fundamentar a análise dos dados, esta pesquisa apresenta
considerações teóricas relativas à gerontologia e geriatria; definições e terminologias
do envelhecimento, bem como, os aspectos biopsicossociais; os conceitos de
autonomia e independência para a gerontologia; uma breve contextualização da
psicologia hospitalar e do idoso hospitalizado, e as estratégias de enfrentamento,
especificamente na velhice.
Esta pesquisa parte de um contexto hospitalar onde encontra-se idosos
que podem apresentar resistências, como por exemplo, aos cuidados da equipe de
saúde, podendo assim inviabilizar a execução de algumas atividades, e a situação
da iminente impossibilidade de exercer sua autonomia, que pode agravar o seu
acometimento orgânico ou acabar por deprimir o idoso.

1.1 PROBLEMÁTICA

Momentos contraditórios marcam a vida do ser humano, construções e


destruições, perdas e ganhos. Cada fase do desenvolvimento tem seus prazeres,
suas exigências e suas dificuldades. E, ao longo de cada fase ocorrem significativas
modificações físicas, sociais e psicológicas da constituição e no relacionamento
humano (CAMON, 2002).
12

O envelhecimento, embora seja um processo natural, não ocorre de forma


generalizada. Cada idoso é um ser único que, ao longo do seu curso de vida, foi e
continua sendo influenciado por acontecimentos que interferem no seu modo de
viver, seja de ordem biológica, psicológica, social ou cultural.
Sabe-se que a velhice é a última etapa do ciclo vital, caracterizada por
declínio de funções biológicas, resiliência, plasticidade e aumento da dependência
dos recursos da cultura (NERI, 2004). Estas alterações são naturais, gradativas,
podendo se verificar em maior ou menor grau em cada indivíduo, de acordo com as
características genéticas, modo de vida, alimentação, etc.
Devido a esta crescente vulnerabilidade biológica do idoso e do confronto
com a principal tarefa evolutiva da velhice, que é a aceitação da própria finitude,
tanto a integração social quanto a autonomia pessoal assumem capital importância.
(NERI, 1995). Autonomia esta que, para Gerontologia, significa a noção e o
exercício do autogoverno. Este conceito inclui também, segundo Neri (2001, p. 10),
“os seguintes elementos: liberdade individual, privacidade, livre-escolha,
autogoverno, auto-regulação e independência moral (...)”.
Uma velhice bem sucedida revela-se em idosos que mantêm autonomia,
independência e envolvimento ativo com a vida pessoal, com a família, com os
amigos, com o lazer, com a vida social. (NERI, 1995). Esta autonomia permitida por
um ambiente estimulador é necessária ao bem estar do idoso. Segundo Néri (2000,
p. 22), “quanto mais os idosos forem atuantes e estiverem integrados em seu meio
social, menos ônus trarão para a família e para os serviços de saúde”.
Contudo, esta autonomia pode ser prejudicada pelas limitações físicas,
sociais, psicológicas e econômicas impostas por um corpo mais vulnerável e mais
cansado. (NERI, 1995). E, os idosos, por estarem mais vulneráveis nesta etapa da
vida, começam a apresentar algumas doenças devido às modificações fisiológicas
do envelhecimento. Envelhecer e adoecer não são sinônimos, porém não devem ser
ignoradas certas enfermidades mais freqüentes nesta fase da vida, como o
surgimento de doenças crônicas, por exemplo.
Esta maior prevalência de doenças durante a velhice remete à
necessidade de internação. No entanto, este paciente requer uma atenção especial,
diferente da dispensada aos pacientes hospitalizados de outras faixas etárias, exige
um cuidado diferenciado, pois assim como existem os pacientes que aceitam os
13

cuidados da equipe de saúde, há também aqueles que parecem recusar-se, de


maneira bastante resistente, a fazer o tratamento e a receber os cuidados em geral.
Na velhice, uma vida mais saudável está intimamente ligada à
manutenção da autonomia e independência, que constituem bons indicadores de
saúde. Neste caso, conceituando-se autonomia como sendo a capacidade de
decisão, de comando; e independência, a capacidade de realizar algo com seus
próprios meios. Ambas podem ser comprometidas por doenças físicas que, devido a
uma crescente vulnerabilidade biológica do idoso, podem ocorrer com maior
freqüência remetendo à necessidade de internação hospitalar, o que pode ser
encarado pelo idoso como uma situação estressante. Visto que as pessoas
percebem e lidam de maneira diferente com eventos de vida estressantes, podendo-
se utilizar de várias estratégias que são aprendidas, mantidas e alteradas ao longo
do curso de vida, propõe-se com esta pesquisa responder à seguinte pergunta:

Qual a relação existente entre a percepção de idosos hospitalizados


sobre sua autonomia e as estratégias de enfrentamento apresentadas por
estes durante a hospitalização?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Compreender a relação existente entre a percepção de idosos


hospitalizados sobre sua autonomia e as estratégias de enfrentamento apresentadas
por estes durante a hospitalização.

1.2.2 Específicos
14

- Conhecer a percepção de idosos hospitalizados sobre sua autonomia


antes e depois da doença e na hospitalização;
- Identificar estratégias de enfrentamento apresentadas por idosos
hospitalizados durante a hospitalização;

1.3 JUSTIFICATIVA

Com o notório envelhecimento da população brasileira, crescem as


demandas por maiores conhecimentos científicos sobre o tema que possam
repercutir na qualidade dos serviços oferecidos. (NERI, 1995). Assim, a relevância
científica ressalta a importância e a urgência da produção e da divulgação de
conhecimentos científicos sobre o envelhecimento no Brasil, contribuindo para a
qualificação da formação do profissional gerontólogo. Quanto mais rápido o
desenvolvimento de uma área, maior a necessidade de pesquisas.
O interesse em estudar a população idosa, parte da constatação de ser
ela, hoje, a que mais cresce em todo o mundo. Há um século atrás, menos de 1% da
população tinha mais de 65 anos de idade, ao final do século passado já havia
aumentado para 6,2%, e acredita-se que no ano 2025 os idosos serão um quinto da
população mundial (PAPALÉO NETTO, 1996). Assim, ocorrerá o que Zimerman
(2000) denomina “velho-boom”: as pessoas que nasceram no pós-guerra estarão na
faixa que vai dos 65 aos 80 anos, o que, sem dúvida, terá uma importante
repercussão social.
A psicologia do envelhecimento é uma área de investigação relativamente
recente, que teve seu início com os avanços obtidos pela gerontologia, campo este
que de acordo com Neri (2001, p. 54), “é multi e interdisciplinar que visa à descrição
e à explicação das mudanças típicas do processo do envelhecimento e de seus
determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais”.
O estudo do envelhecimento vem ganhando representatividade também
devido ao prolongamento da expectativa de vida da população. Segundo Zimerman
(2000), a expectativa de vida da população mundial, que hoje é de 66 anos, passará
a ser de 73 anos em 2025; no Brasil, a esperança de vida é de 67 anos e, em 2025,
a expectativa é que possa chegar aos 74 anos, de acordo com a Organização
15

Mundial de Saúde. Acompanhando este processo de envelhecimento populacional,


cresce também a consciência social sobre as questões da velhice, tornando
emergente diversas áreas do conhecimento, em especial a psicologia do
envelhecimento.
No estudo da velhice os conceitos de dependência, independência,
autonomia e perda de autonomia emergem e assumem grande importância. (NERI,
1995). Todos querem ser donos de sua própria vida, ter a capacidade de decidir e
escolher caminhos, mesmo para atos corriqueiros do dia-a-dia. As convicções
pessoais do idoso merecem ser respeitadas. No entanto, é importante avaliar o grau
de capacidade que a pessoa tem para tomar suas decisões (FREITAS, 2002).
Quando trata do idoso, assim como qualquer outro paciente, a equipe de
saúde deve estar preparada e consciente de que seu papel interfere na qualidade e
na satisfação do atendimento. Saber o que o idoso pensa, o que sente e suas
expectativas proporciona oportunidade não só para reflexão da equipe que cuida,
mas também, permite que medidas práticas reais sejam tomadas e que possam
fortalecer o vínculo de quem cuida e de quem é cuidado.
Inerente ao processo de hospitalização, o paciente sofre total
despersonalização, onde deixa de ter o seu próprio nome e passa a ser um número
de leito ou então alguém portador de uma determinada patologia, deixa de ter
significado próprio para significar a partir de diagnósticos realizados sobre sua
patologia. (CAMON, 2003). Esta despersonalização pode interferir na manutenção e
promoção da autonomia do idoso hospitalizado, pois, segundo este mesmo autor, o
estigma de doente irá fazer com que surja a necessidade de uma total reformulação
de seus valores e conceitos de homem, mundo e relação interpessoal em suas
formas conhecidas.
O crescimento da população idosa refletiu nos serviços hospitalares,
trazendo novas demandas assistenciais para o idoso e para sua família, bem como
para a equipe de saúde que presta o atendimento. Esta mudança demográfica
acarreta numa série de desafios para a sociedade. Dentre eles, a necessidade dos
profissionais da área da saúde preparar-se para o enfrentamento dessa nova
realidade, caracterizando assim a relevância social desta pesquisa.
16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Com efeitos a viabilizar esta pesquisa é necessário um embasamento


teórico que torne possível a análise e interpretação dos dados que serão obtidos
para responder o problema de pesquisa. Para tanto, a seguir serão abordadas
algumas temáticas como Gerontologia e Geriatria, envelhecimento humano – suas
definições e terminologias e os aspectos biopsicossociais, o conceito de autonomia
e independência, uma contextualização da psicologia hospitalar, o papel do
psicólogo e o idoso hospitalizado e, por fim, as estratégias de enfrentamento.

2.1 GERONTOLOGIA E GERIATRIA

A gerontologia e a geriatria são campos científicos e profissionais


relativamente novos, o que faz parecer que a preocupação com a velhice teve
origem nos dias atuais, mas, desde o início da civilização, o processo do
envelhecimento é uma das preocupações da humanidade. Segundo Freitas et al
(2002), o século XX marcou definitivamente a importância do estudo da velhice por
dois fatores: o crescimento do interesse em pesquisar e estudar o processo do
envelhecimento, que já se anunciava nos séculos anteriores; e o aumento da
população idosa em todo mundo.
Grandes avanços na ciência do envelhecimento, graças aos
conhecimentos adquiridos por meio dos estudos que se desenvolveram desde os
pioneiros Metchnikoff e Nascher, em 1903 e em 1909, respectivamente,
estabeleceram os fundamentos da gerontologia e geriatria. (FREITAS et al, 2002).
Eles acreditavam que estas ciências iriam se transformar, em um futuro próximo, em
campos férteis de realizações científicas.
Elie Metchnikoff, renomado cientista sucessor de Pasteur, em 1903
defendeu a idéia de criação de uma nova especialidade, a gerontologia,
denominação obtida a partir das expressões gero (velhice) e logia (estudo).
Propunha um campo de investigação dedicado ao estudo exclusivo do
envelhecimento, da velhice e dos idosos. Em vez de aceitar a inevitabilidade da
17

decadência e da degeneração do ser humano com o avançar dos anos, Metchnikoff


pensava que algum dia uma velhice fisiológica normal poderia ser alcançada pelos
homens. (ACHENBAUM, 1995 apud FREITAS et al, 2002). “No entanto, sua postura
rígida e o compromisso com a pesquisa não foram suficientes para ganhar o apoio e
a atenção da comunidade científica para o assunto que vinha estudando”. (LOPES,
2000 apud FREITAS et al, 2002, p. 1)
Em 1909, através do estudioso Ignatz L. Nascher, criou-se uma nova
especialidade na medicina, que visava tratar das doenças dos idosos e da própria
velhice, esta especialidade passou a ser denominada geriatria, ou o estudo clínico
da velhice. Nascher estimulou pesquisas sociais e biológicas sobre o
envelhecimento e, por este motivo, foi considerado pai da geriatria. (FREITAS et al,
2002).
Através das leituras feitas, percebe-se em ambos estudiosos, pioneiros da
gerontologia e geriatria, uma visão otimista das possibilidades que as pesquisas
sobre o estudo do envelhecimento poderiam proporcionar e, além disso, uma
concepção menos pessimista sobre a evolução da decadência e da degeneração do
ser humano com o avançar dos anos.
Assim, Zimerman (2000) define a Gerontologia como a ciência que estuda
o processo de envelhecimento e os múltiplos problemas que envolvem a pessoa
idosa; e a Geriatria, por sua vez, refere-se ao campo da medicina que trata das
enfermidades do organismo do velho, trabalhando com prevenção, tratamento e
reabilitação da patologia própria dessa faixa etária.
De acordo com este mesmo autor, a gerontologia estuda as mudanças
que acompanham o processo de envelhecimento do ponto de vista físico,
psicológico e sociológico, preocupando-se também com a adaptação do indivíduo às
várias transformações que vão ocorrendo com a idade, as implicações da
personalidade e da saúde mental nesse processo. Ou seja: a gerontologia tem como
meta o bem-estar integral do idoso, através de um trabalho multidisciplinar com
vistas a resgatar o valor do idoso, procurando integrá-lo na família e na sociedade e
garantir-lhe uma melhor qualidade de vida. Esta equipe de profissionais é composta
de técnicos de diversas áreas, como assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos,
terapeutas ocupacionais, arquitetos, administradores, enfermeiros, entre outros.
A gerontologia pode ser classificada como básica e social. A primeira
delas estuda o processo de envelhecimento sob o prisma biofisiológico, genético,
18

imunológico e em níveis celular e subcelular. A segunda, compreende o estudo das


relações recíprocas entre o indivíduo e a sociedade. (ZIMERMAN, 2000, p. 15). A
força dos fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais que podem qualificar
ou prejudicar o inevitável processo do envelhecimento não pode ser contestada.
De acordo com Neri (2001), os principais desafios da gerontologia na
atualidade são:
1º Pulverização da pesquisa e das teorias.
2º Construção e teste de modelos explicativos.
3º Conciliação entre os conceitos de desenvolvimento e envelhecimento.
4º Conciliação entre os vários conceitos de idade e tempo.
5º Vencer os preconceitos dos próprios pesquisadores.
6º Descrever diferenças intra e interindividuais do envelhecimento.
7º Integrar a velhice no curso de vida.
Freitas et al (2002) salienta que, embora ainda reste um longo caminho a
ser percorrido para elucidar os pontos obscuros do fenômeno do envelhecimento, a
verdade é que, principalmente nas últimas décadas do século XX, pôde ser
observado um aumento no somatório de conhecimentos nesses campos de estudo.

2.2 ENVELHECIMENTO HUMANO

O envelhecer não é adquirir mais de 60, 80 ou 100 anos, é para todo e


qualquer indivíduo (criança, jovem e adulto), que deixa de ter prazeres nas
pequenas coisas que realiza, que não tem um propósito em sua vida, vive
embotado e sem perspectiva. (ALBERTO, 2002, p. 166).

O envelhecimento humano é um processo natural, gradativo, podendo


ocorrer em idade precoce ou avançada, em maior ou menor grau, de acordo com as
características genéticas de cada indivíduo, e principalmente, com o modo de vida
de cada um. Este processo abrange aspectos biológicos, psicológicos e sociais que
serão descritos a seguir após algumas definições e terminologias utilizadas pela
gerontologia.

2.2.1 Definições e Terminologias


19

Serão apresentadas a seguir as definições e terminologias mais utilizadas


para designar um ser humano em idade avançada.
Os idosos são populações ou indivíduos que podem ser assim
categorizados em termos da duração do seu ciclo vital. “Segundo convenções
sociodemográficas atuais, idosos são pessoas de mais de 60 anos, nos países em
desenvolvimento, e de mais de 65, nos países desenvolvidos”. (NERI, 2001, p. 59).
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a terceira idade começa aos 60
anos.
Este limite baseado em idade cronológica, 60 anos para ser idoso,
caracteriza o marco inicial da velhice. Embora este dado seja utilizado pela maioria
dos estudiosos da área, é apenas um marco cronológico, o qual, na maior parte das
vezes, não corresponde à idade biológica do indivíduo. (MAZO, LOPES E
BENEDETTI, 2004).
A velhice é a última fase do ciclo vital e é delimitada por eventos de
natureza múltipla, incluindo, por exemplo, perdas psicomotoras, afastamento social,
restrição em papéis sociais e especialização cognitiva. (NERI, 2001).
O envelhecimento, de acordo com esta mesma autora, é o processo de
mudanças universais pautado geneticamente para a espécie e para cada indivíduo,
que se traduz em diminuição da plasticidade comportamental, em aumento da
vulnerabilidade, em acumulação de perdas evolutivas e no aumento da
probabilidade de morte. O ritmo, a duração e os efeitos desse processo comportam
diferenças individuais e de grupos etários, dependentes de eventos de natureza
genético-biológica, sociohistórica e psicológica.
Segundo Mazo, Lopes e Benedetti (2004), a Organização das Nações
Unidas – ONU dividiu o ciclo de vida sob o ponto de vista econômico, considerando
o homem enquanto força de trabalho, que produz e consome os bens produzidos,
em três idades: primeira, segunda e terceira idade, onde nesta última inclui-se o
idoso, ou seja, as pessoas que já produziram e consumiram, mas que, pela
aposentadoria, não produzem mais e só consomem – idade inativa.
Pietro (1986 apud MAZO, LOPES E BENEDETTI, 2004) classifica as
idades avançadas em:
20

- Idade do meio: é a idade entre os 45 e 60 anos, aproximadamente. É


conhecida como idade pré-senil, crítica ou do primeiro envelhecimento. Nesta idade
encontram-se os primeiros sinais do envelhecimento, os quais representam
frequentemente tendências ou predisposição ao aparecimento de doenças, sendo
importante à intervenção preventiva.
- Senescência gradual: idade entre 60 e 70 anos, aproximadamente.
Caracteriza-se pelo aparecimento de processos mórbidos, típicos da idade
avançada, e requer aplicação de medidas diagnósticas e terapêuticas oportunas.
- Senilidade conclamada ou velhice: inicia-se por volta dos 70 anos de
idade, onde se encontra o velho ou ancião no sentido estrito. É a fase em que são
mais relevantes os problemas assistenciais em termos médicos, sociais e de
reabilitação.
- Grande velho ou longevo: esta idade é definida para indivíduos com
mais de 90 anos.
Rodrigues (2000 apud MAZO, LOPES E BENEDETTI, 2004) ainda define
as idades em:
- Idade cronológica: é o tempo de vida a partir do nascimento;
- Idade biológica: condição ou estado em que o corpo se apresenta;
- Idade psicológica: é o resultado das experiências pessoais que foram
acumuladas ao longo dos anos;
- Idade social: é determinada por regras e expectativas sociais.

As terminologias e representações para designar a pessoa em idade


avançada são muitas, tais como: velho, idoso, terceira idade, melhor idade, maior
idade, feliz idade, idade feliz, entre outras. Cada uma destas está vinculada ao
contexto histórico, cultural e social em que se vive.
O processo de envelhecer pressupõe alterações físicas, psicológicas e
sociais no indivíduo, naturais e gradativas, as quais serão descritas a seguir.

2.2.2 Aspectos Biológicos


21

O envelhecimento biológico ou senescência é o processo que preside ou


determina o potencial de casa indivíduo para permanecer vivo, o qual
diminui com o passar dos anos. (NERI, 2001, p. 63).

O envelhecimento, sob o enfoque biológico, é um processo natural,


dinâmico, progressivo e irreversível, que acompanha o indivíduo desde o
nascimento e ao longo de todo o tempo de vida possível até a morte. Nesse trajeto,
provoca no organismo alterações na forma do corpo e também fisiológicas, relativas
ao funcionamento dos órgãos.
Apesar de ser um processo dinâmico e gradual, o envelhecimento está
acontecendo em idade mais avançada. Há alguns anos, uma pessoa de 65 anos
podia ser vista como velha. Hoje é difícil vê-la enquadrada nos moldes da terceira
idade. Isto deve-se ao atual avanço farmacológico, que atua na melhoria das
condições de vida e uma maior preocupação com a prevenção de doenças com boa
alimentação, exercícios físicos, como caminhadas e outras atividades. (ZIMERMAN,
2000).
Mas, apesar deste avanço farmacológico, o fato é que, com o passar dos
anos, o desgaste é inevitável. Sabe-se que a velhice não é uma doença, mas, sim,
uma fase na qual o ser humano fica mais suscetível a doenças, uma fase na qual as
pessoas adoecem mais e mais rapidamente e, quando adoecem, demoram mais
tempo para se recuperar. Sobre este aspecto costuma-se dizer que o idoso é
semelhante a um vaso de cristal, onde qualquer coisa trinca.
Zimerman (2000) aponta, do ponto de vista físico, as principais mudanças
do adulto jovem para o velho:
Modificações externas:
- as bochechas caem e embolsam;
- aparecem manchas escuras na pele (manchas senis);
- a produção de células diminui, a pele perde o tônus, tornando-se flácida;
- podem surgir verrugas;
- o nariz alarga-se;
- os olhos ficam mais úmidos;
- há um aumento na quantidade de pêlos nas orelhas e no nariz;
- os ombros ficam mais arredondados;
- as veias destacam-se sob a pele dos membros, enfraquecem;
22

- encurvamento postural devido a modificações na coluna vertebral;


- diminuição de estatura pelo desgaste das vértebras.

Modificações internas:
- os ossos endurecem;
- os órgãos internos atrofiam-se, reduzindo seu funcionamento;
- o cérebro perde neurônios e atrofia-se, tornando-se menos eficiente;
- o metabolismo fica mais lento;
- a digestão é mais difícil;
- a insônia aumenta, assim como a fadiga durante o dia;
- a visão de perto piora devido à falta de flexibilidade do cristalino; a perda
de transparência (catarata), se não operada, pode provocar cegueira;
- as células responsáveis pela propagação dos sons no ouvido interno e
pela estimulação dos nervos auditivos degeneram-se;
- o endurecimento das artérias e seu entupimento provocam
arteriosclerose;
- o olfato e o paladar diminuem.

Contudo, aprender a conviver com essas limitações é o segredo de uma


melhor qualidade de vida, entendendo, aceitando e lutando para que esses
problemas sejam diminuídos com exercícios físicos, como caminhadas, natação,
dança e passeios, exercícios de memória, boa alimentação, bons hábitos,
participação em grupos e outros cuidados, dependendo do tipo de problema.
(ZIMERMAN, 2000).
Todas estas alterações por que passa o organismo da pessoa idosa
acarretam também alterações psicológicas e sociais, as quais serão abordadas a
seguir, baseadas principalmente nas considerações de Scherer; et al (2001), em
monografia apresentada para o Curso de Pós-Graduação - Especialização em
Gerontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, além de autores como
Zimerman (2000), Neri (2001) e Mazo; Lopes; Benedetti (2004).

2.2.3 Aspectos Psicológicos


23

O envelhecimento psicológico depende de como cada indivíduo avalia a


presença ou ausência de marcadores biológicos, sociais e psicológicos do
envelhecimento em comparação com outras pessoas de sua idade. (NERI,
2001, p. 65).

Junto às transformações corporais, e interagindo com elas, os indivíduos


apresentam mudanças de comportamento, de papéis, de valores, de crenças, de
acordo com as diferentes fases e grupos a que pertencem. Em relação a estas
alterações, Zimerman (2000) menciona que há uma série de mudanças psicológicas,
que pode resultar em:
- dificuldade de adaptar a novos papéis;
- falta de motivação e dificuldade de planejar o futuro;
- necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afetivas e sociais;
- dificuldade de se adaptar às mudanças rápidas, que têm reflexos
dramáticos nos velhos;
- alterações psíquicas que exigem tratamento;
- depressão, hipocondria, somatização, paranóia, suicídios;
- baixas auto-imagem e auto-estima.

Assim como as características físicas do envelhecimento, as de caráter


psicológico também estão relacionadas com a hereditariedade, com a
história e com a atitude de cada indivíduo. As pessoas mais saudáveis e
otimistas têm mais condições de se adaptarem às transformações trazidas
pelo envelhecimento. Elas estão mais propensas a verem a velhice como
um tempo de experiência acumulada, de maturidade, de liberdade para
assumir novas ocupações e até mesmo de liberação de certas
responsabilidades. (ZIMERMAN, 2000, p. 25).

Estas alterações psicológicas ao longo do processo de envelhecimento


ocorrem, pois as circunstâncias do dia a dia se modificam, surgindo novos papéis e
novos problemas a enfrentar. As dificuldades de adaptação a esta fase estão no
desconhecimento dessas modificações, as quais podem associar-se a problemas
decorrentes de situações mal resolvidas ao longo dos anos. (MAZO, LOPES,
BENEDETTI, 2004, p. 62). A cada nova situação que o indivíduo enfrenta em seu
cotidiano, ele necessita encontrar também novas maneiras de responder ao que
está acontecendo.
Scherer; et al (2001), baseados na leitura de alguns autores, tais como:
Papaléo (1996), Mendonça Jorge (1995), Novaes (1995) e Néri (1995), fazem as
24

seguintes considerações sobre os aspectos psicológicos do envelhecimento, a


saber:
A vida é um movimento de perdas e ganhos, frustrações e gratificações,
que constituem a história individual de cada sujeito. Em todas as fases da vida, o ser
humano vivencia perdas e separações que fazem parte de seu desenvolvimento e
maturação biológica e psicológica. Na infância, a primeira perda que experienciamos
é no ato do nascimento, onde há a separação do corpo da mãe. Após, ocorre a
perda do seio materno e sucessivamente a separação da mãe na idade escolar, a
perda da identidade e do corpo infantil na passagem para a adolescência, onde
perde-se o “status de dependência” para a aquisição de uma nova condição de
responsabilidade da vida adulta.
Na velhice, as perdas parecem mais visíveis e os ganhos tendem a não
serem percebidos. Isto ocorre devido à concepção da cultura ocidental de que o
velho é um estorvo, incapacitado e inútil. Dentre as perdas significativas que
ocorrem com o avanço dos anos na vida das pessoas, podemos citar o
deterioramento da saúde, com o surgimento das doenças crônicas, a modificação da
aparência física, a viuvez, a morte de amigos e parentes próximos, a perda de
papéis sociais valorizados, o isolamento crescente, as dificuldades financeiras
decorrentes da aposentadoria. Estas perdas serão enfrentadas de diferentes formas
por cada idoso, dependendo de seus recursos internos e externos, como por
exemplo, o acesso a tratamentos adequados para que sejam superadas certas
doenças, a presença de amigos e familiares que o tratem com respeito e assim
diminuindo os efeitos do preconceito e do isolamento, a assimilação de valores e
interesses ao longo da vida que o façam não sentir a perda da juventude como algo
destruidor, ter tido uma vida mais satisfatória e produtiva, fazendo com que a
proximidade da morte não seja vivenciada de forma assustadora.
Envelhecer e adoecer não são sinônimos, porém não devem ser
ignoradas certas enfermidades mais freqüentes nesta fase da vida. As modificações
orgânicas que não constituem doenças, e sim indicadores da passagem do tempo,
como rugas, cabelos brancos, pós-menopausa, diminuição da potência e da
atividade sexual, postura encurvada, reflexos mais lentos, etc., transformam a auto-
imagem e podem gerar em alguns indivíduos, transtornos emocionais mais agudos.
O aspecto físico não corresponde mais aos padrões estéticos que a sociedade de
consumo estabelece como valor, desta forma, a sociedade rejeita a velhice por uma
25

espécie de autodefesa. A dor física, queixa comum nos idosos, muitas vezes
esconde a dor do desconhecido, da perda da identidade corporal, o que causa
sensação de estranheza, solidão e tristeza.
Com a aposentadoria, se dá a perda do vínculo profissional e do papel
social, e como agravante, ocorre uma baixa considerável nos rendimentos, o que
acarreta em uma série de privações numa fase da vida em que poderia usufruir do
fruto de anos de trabalho. Nesta fase, se “aprende” novos papéis e se obtém novos
privilégios. Há a oportunidade de dedicar-se a atividades interessantes que podem
ser autogratificantes, auxiliando na manutenção da auto-estima.
A mulher que se dedica apenas ao lar, restringindo-se aos papéis de mãe
e esposa, se debate com a questão de que a vida perdeu o sentido após os filhos já
criados, fora do ambiente familiar. E algumas, após muitos anos de convivência,
enfrentam a viuvez, vivenciando a perda não só psicológica, mas também a
econômica. A maneira pela qual cada mulher enfrenta esta situação depende dos
papéis sociais que exerceu ao longo da vida.
Essa perda de conteúdo dos papéis significa que as rotinas da vida não
se estruturam mais por meio de papéis específicos, o que pode ocasionar num risco
de isolamento ou alienação. Por outro lado, essa “ausência de papéis” carrega
algumas vantagens para o idoso. Uma delas seria uma maior “licença para a
excentricidade”, podendo expressar sua própria individualidade na maneira de vestir,
de falar, nas preferências pessoais, etc. Isso se dá devido ao fato de não haver
necessidade de adaptação aos limites estreitos das expectativas dos papéis. Parece
haver no final da vida adulta, uma espécie de aceitação institucionalizada da
excentricidade.
O preconceito está fortemente presente no idoso, pois comumente
crescemos interiorizando o envelhecimento como algo negativo. Quando jovem,
assimilou a idéia que seria improdutivo, frágil, dependente e doente. E assim que
envelhece passa a vivenciar estas auto-imagens negativas. Em conseqüência disso,
deixa de lutar por uma melhor qualidade de vida, aceitando passivamente esta fase
como improdutiva, sem realizações e perspectivas.
A vida cultural e intelectual, possibilita ao idoso uma maior facilidade para
assumir as mudanças impostas pela velhice, uma vez que existe o hábito de pensar,
refletir e meditar. Não apenas manter-se ativo, mas permitir-se também o não fazer,
mantendo vivas aspirações e fantasias, permite ao idoso uma boa qualidade de vida.
26

Na relação entre gerações, há uma atitude ambivalente por parte do


adulto com seus velhos. Ao mesmo tempo que respeitam impostamente os mais
velhos, os tratam como seres inferiores, explicitando suas incapacidades para
manterem um papel ativo na sociedade.
Em relação a sexualidade na velhice, existem uma série de mitos, dentre
eles, os que mais predominam é o de que esta fase é assexuada ou o de que o
idoso que expressa sua sexualidade como algo natural, apresenta um “desvio” de
conduta. Após os 40 anos, mudanças fisiológicas se evidenciam no ser humano no
que se refere à sexualidade. No homem, ocorrem mudanças quanto à freqüência,
duração, tipo de ereção e de resposta orgástica. Na mulher, durante a menopausa,
podem ocorrer dificuldades no ato sexual, devido à queda na taxa hormonal,
interferindo na lubrificação vaginal. Alterações da mucosa e flacidez dos músculos
vaginais também são freqüentes. Há diminuição do impulso sexual, de interesses,
pensamentos e fantasias sexuais, o que pode gerar tanto no homem, como na
mulher, sentimentos de tristeza e frustração, o que pode ocasionar em depressão.
No caso do homem, por sofrer mais com a ameaça de tornar-se impotente, são
acentuados sentimentos de medo, ansiedade, insegurança e agressividade. Na
mulher, a sexualidade apresenta-se menos intensa, e apesar de ser mantida a
capacidade orgástica nas relações sexuais, barreiras biológicas, psíquicas ou
sociais muitas vezes não as permitem vivenciar o prazer sexual. Os princípios
morais que as fazem sentirem-se ridículas e transgressoras pela prática do sexo,
somados à diminuição da auto-estima, pela perda dos atributos físicos e dos
atrativos sexuais, interferem negativamente na realização sexual.
A manutenção de atividades ocupacionais é de extrema importância para
que o idoso enfrente de forma positiva as situações de perda e as crises inerentes a
fase do envelhecimento, passando a viver de forma mais prazerosa e produtiva. É
necessário que sejam evidenciadas as habilidades do idoso, para que assim,
possam ser preservadas sua autonomia e independência, conceitos estes muito
valorizados pela Gerontologia.

2.2.4 Aspectos Sociais


27

O envelhecimento social é o processo de mudança em papéis e


comportamentos que é típico dos anos mais tardios da vida adulta e diz
respeito à adequação dos papéis e dos comportamentos dos adultos mais
velhos ao que é normalmente esperado para as pessoas nessa faixa etária.
(NERI, 2001, p. 67).

À medida que as pessoas vivem mais, a tecnologia avança a passos


largos, os meios de comunicação bombardeiam com fatos e dados, as mudanças
acontecem rapidamente, as distâncias aumentam a cada dia, a vida é cada vez mais
agitada, o tempo cada vez menor e as condições econômicas são mais difíceis,
nossa sociedade passa por grandes modificações. Isso tudo exige a introdução de
novos conceitos e maneiras diferentes de viver e uma grande flexibilidade e
capacidade de adaptação, que o idoso nem sempre tem, o que o leva a ter mais
problemas. (ZIMERMAN, 2000).
De acordo com Zimerman (2000), o envelhecimento social da população
traz uma modificação no status do velho e no relacionamento dele com outras
pessoas em função de:
- Crise de identidade, provocada pela falta de papel social, o que levará
o velho a uma perda de sua auto-estima.
- Mudanças de papéis na família, no trabalho e na sociedade. Com o
aumento de seu tempo de vida, ele deverá se adequar a novos papéis.
- Aposentadoria, já que, hoje, ao aposentar-se, ainda restam à maioria
das pessoas muitos anos de vida; portanto, elas devem estar preparadas para não
acabarem isoladas, deprimidas e sem rumo.
- Diminuição dos contatos sociais, que se tornam reduzidos em função
de suas possibilidades, distâncias, vida agitada, falta de tempo, circunstâncias
financeiras e a realidade da violência nas ruas.
- Perdas diversas, que vão da condição econômica ao poder de decisão,
à perda de parentes e amigos, da independência e da autonomia.
Scherer; et al (2001), baseados na leitura de alguns autores, tais como
Berger (1995), Debert (1992), Levy (1999) e Neri (1995), discorrem sobre as teorias
sociais do envelhecimento, a saber:
Teoria da Atividade: Segundo esta teoria, a velhice bem sucedida
pressupõe a descoberta de novos papéis ou uma nova organização dos já
desempenhados. A velhice é definida como um momento de perda de papéis e trata-
se de entender como se dá o ajustamento pessoal à essa situação definida como de
28

perda e de medir o grau de conformidade e o nível de atividade dos idosos. A Teoria


da atividade, desenvolvida por Robert Havighurst, supõe que o auto-conceito é
validado pela participação em papéis de meia idade, sendo desejável que os idosos
mantenham tantas atividades quanto possível e substituam os papéis antigos por
novos, permanecendo ativos e ocupados, encontrando novos papéis que dêem
significado para a vida.
Teoria da Desinsersão: A teoria da desinsersão de Cumming e Henry,
demonstra que o envelhecimento é acompanhado de uma desinsersão recíproca do
indivíduo e da sociedade. Em outros termos, o indivíduo põe fim de forma gradual,
ao seu empenhamento e retira-se da sociedade, sendo que esta oferece-lhe muito
menos que anteriormente. Quando a desinsersão é total, o indivíduo atinge um novo
equilíbrio, caracterizado pela modificação do seu sistema de valores. Esta teoria
tenta justificar a desinsersão, presumindo que o afastamento do meio físico e social
durante o envelhecimento, é uma etapa normal do desenvolvimento.
Teoria do Afastamento: Na Teoria do afastamento, apresentada por
Hooyman & Kiyak, à medida que o indivíduo envelhece, a preocupação com a vida
interior é vista como normal, inevitável e satisfatória, sendo assim, os idosos com a
perda de papéis, reagem satisfatoriamente, mostrando que desejam ficar livres das
expectativas societárias, de serem competitivos e produtivos. O afastamento é visto
como comportamento adaptativo, permitindo aos idosos manterem seu senso de
valor e tranqüilidade , enquanto desempenham papéis sociais mais periféricos.
Teoria da Continuidade: A teoria da continuidade demonstra que o
envelhecimento é uma parte integrante do ciclo de vida e não um período final,
separado das outras fases. O idoso mantém os seus hábitos de vida, suas
preferências, experiências e compromissos adquiridos e elaborados durante a sua
vida. Deste modo, a conduta de um indivíduo numa determinada situação mantém-
se idêntica ao seu comportamento anterior. Embora exista uma certa
descontinuidade ao nível das situações sociais, os hábitos e estilo de vida adquiridos
pelo idoso determinam sua adaptação.
Na medida em que mudam as condições sociais, econômicas e políticas
que afetam os idosos, novas perspectivas teóricas devem surgir, contudo as teorias
já existentes contribuem decisivamente para o entendimento do processo do
envelhecimento na perspectiva social. Os aspectos teóricos do envelhecimento
29

social, tentam explicar as mudanças de interação social que acontecem na vida do


indivíduo que envelhece, paralelamente as mudanças sociais.

2.3 AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA

O cerne do conceito de autonomia é a noção e o exercício do autogoverno.


O conceito inclui também os seguintes elementos: liberdade individual,
privacidade, livre-escolha, autogoverno, auto-regulação e independência
moral (...). (NERI, 2001, p. 10).

O aspecto central do conceito de independência é a capacidade funcional


que em sua expressão máxima significa poder sobreviver sem ajuda para as
atividades instrumentais de vida diária e de autocuidado. (NERI, 2001, p.
10).

Paschoal (1996) menciona a definição de saúde para a Organização


Mundial da Saúde como estado de completo bem-estar físico, psíquico e social e
não meramente ausência de doença ou enfermidade. Posto isso, significa que um
indivíduo, mesmo portador de uma doença, poderá sentir-se saudável, desde que
seja capaz de desempenhar funções e atividades, mantendo-se ativo em seu meio,
com alguma função social, podendo realizar-se como ser humano e ser feliz, devido
a uma boa qualidade de vida. Portanto, entende-se que saúde é a capacidade de
um indivíduo ou de um grupo de continuar exercendo funções em seu meio físico e
social, contribuindo para a sociedade e interagindo com ela. (PASCHOAL, 1996).
À medida que se envelhece, surgem as doenças crônicas, dentre elas a
hipertensão arterial, as artropatias, o diabete, e desenvolvem-se deficiências, como
a auditiva e a visual. Assim, se o conceito de saúde fosse apenas ausência de
doenças, a partir de determinada idade poucos seriam saudáveis. (PASCHOAL,
1996). E é justamente esse conjunto de cronicidades, prevalentes no
envelhecimento, que pode levar à deterioração da habilidade de manter-se
independente, pois levam a maior prevalência de incapacidades. Além disso, o
próprio processo natural do envelhecimento diminui a capacidade funcional de cada
sistema de nosso organismo. É o que Paschoal (1996) denomina de envelhecimento
funcional.
Este mesmo autor menciona que se podem observar casos de idosos
portadores de doenças crônicas que se olham como também portadores de boa
30

saúde. Isto ocorre pelo fato de possuírem autonomia e poderem executar


independente e satisfatoriamente suas atividades do dia-a-dia, continuando suas
relações e atividades sociais, e exercitando seus direitos e deveres de cidadãos.
Segundo Paschoal (1996, p. 316), “os idosos têm como parâmetro de
saúde uma vida independente, sobre a qual possuam controle, sem a necessidade
de serem cuidados”. Se os indivíduos envelhecerem mantendo-se autônomos e
independentes, as dificuldades serão mínimas para eles, sua família e a sociedade.
Mesmo sabendo que a perda da autonomia e da independência, que segue
condições agudas e crônicas, aumenta com o avançar da idade. Portanto, este autor
conclui que na velhice, uma vida mais saudável está intimamente ligada à
manutenção ou à restauração da autonomia e independência, que constituem bons
indicadores de saúde.
Por então se tratarem de indicadores de saúde e de qualidade de vida
para a população idosa, torna-se necessário explicitar os conceitos de autonomia e
independência respectivamente como: autonomia – capacidade de decisão, de
comando; independência – capacidade de realizar algo com seus próprios meios.
(PASCHOAL, 1996).

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira define autonomia como “faculdade de


se governar por si mesmo; direito ou faculdade de se reger por leis próprias;
liberdade ou independência moral ou intelectual; propriedade pela qual o
homem pretende escolher as leis que regem sua conduta”. Já
independência é definida como “estado ou condição de quem ou do que é
independente, de quem, ou do que tem liberdade ou autonomia, de quem
procura recorrer só aos seus próprios meios, de quem se basta”.
(PASCHOAL, 1996, p. 316).

Entende-se assim uma pessoa autônoma como sendo comandada por ela
mesma, que toma decisões e, com isso, consegue construir seu próprio caminho de
vida. Enquanto que o independente/dependente só o é em relação a alguma outra
coisa, ou seja, a partir da inserção de um segundo neste contexto. Ela pode não ter
independência em alguns aspectos, mas manter sua autonomia. Para exemplificar
estes conceitos pode-se citar uma senhora que se encontra em uma cadeira de
rodas devido à perna quebrada, esta poderá exercer sua autonomia totalmente
decidindo onde quer ir e que roupa quer usar, apesar de não ser totalmente
independente.
31

De acordo com Paschoal (1996, p. 322), “saúde e bem-estar se


correlacionam com independência e, principalmente, com autonomia”. Todos os
indivíduos querem ser donos de sua própria vida, ter a capacidade de decidir e
escolher caminhos, mesmo para atos rotineiros do dia-a-dia, como na escolha da
roupa a vestir, ao ponto de sentirem-se infelizes e impotentes caso isto não ocorra.
Quando se avalia a funcionalidade da pessoa idosa é necessário
diferenciar desempenho e capacidade funcional (BRASIL, 2006):
• Desempenho avalia o que o idoso realmente faz no seu dia-a-dia.
• Capacidade funcional avalia o potencial que a pessoa idosa tem para
realizar a atividade, ou seja, sua capacidade remanescente, que pode ou não ser
utilizada.
Um exemplo disso é quando o idoso mora em uma casa que possui
escada e não a utiliza porque a família teme que ele caia. Logo, o idoso não
desempenha a função de descer e subir escada por limitação da família, mas, esse
possui capacidade funcional para executá-la.
Para identificar o grau de independência e conseqüente autonomia de
idosos, utiliza-se a avaliação no desempenho das atividades cotidianas ou
atividades de vida diária (BRASIL, 2006):

a) Atividades de Vida Diária (AVD) que são as relacionadas ao


autocuidado e que, no caso de limitação de desempenho, normalmente requerem a
presença de um cuidador para auxiliar a pessoa idosa a desempenhá-las. São elas:
• Alimentar-se
• Banhar-se
• Vestir-se
• Mobilizar-se
• Deambular
• Ir ao banheiro
• Manter controle sobre suas necessidades fisiológicas.

b) Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) que são as relacionadas


à participação do idoso em seu entorno social e indicam a capacidade de um
indivíduo em levar uma vida independente dentro da comunidade. São elas:
• Utilizar meios de transporte
32

• Manipular medicamentos
• Realizar compras
• Realizar tarefas domésticas leves e pesadas
• Utilizar o telefone
• Preparar refeições
• Cuidar das próprias finanças

A questão da relatividade da dependência e da autonomia é muito relevante


no que diz respeito aos velhos. Existem alguns mitos nesse sentido, como o
de que na velhice os filhos passam a ser pais dos próprios pais. Isso não é
totalmente verdade, o que ocorre é uma inversão de papéis devido à perda
da autonomia, do comando, das condições de se determinar, escolher suas
leis e objetivos. (ZIMERMAN, 2000, p. 26).

A capacidade de tomar decisões e a de auto-governo podem ser


comprometidas por doenças físicas e mentais ou por restrições econômicas e
educacionais. Infelizmente, é muito freqüente observar que, na vigência de situações
de dependência, a autonomia da pessoa idosa tende a não ser considerada. Parece
ser erroneamente aceitável que, uma vez que ele não é parcial ou totalmente capaz
de executar uma ação (em termos físicos), ele também não é capaz de decidir sobre
a mesma. Tal observação ocorre tanto no contexto familiar como no institucional. A
condição de dependência é a que mais amedronta os idosos. A principal
conseqüência da associação entre velhice e dependência é o desenvolvimento de
atitudes negativas em relação às pessoas idosas.

2.4 A PSICOLOGIA HOSPITALAR

Diversos autores afirmam que, no presente momento, a psicologia vem se


firmando no contexto hospitalar como sendo de grande importância em todas as
situações relacionadas à saúde do ser humano, atuando tanto na prevenção como
no tratamento. Porém, a atuação do psicólogo no contexto hospitalar ainda é algo
que ocorre com pouca freqüência, são poucas as instituições que valorizam o
trabalho psicológico mesmo sabendo das necessidades existentes e que podem ser
resolvidas com a ajuda deste profissional. Percebe-se que ainda há uma resistência
33

em sua contratação, embora essa situação já tenha obtido alguns progressos onde o
psicólogo vem aos poucos ganhando seu espaço neste campo de atuação.
Segundo Camon (2003), um dos objetivos do psicólogo no hospital é
tentar minimizar o sofrimento do paciente causado pela hospitalização. O trabalho é
focado no sofrimento e nas repercussões que o adoecimento e a hospitalização
estão causando, associado a outros fatores como história de vida, a forma como ele
assimila a doença e sua personalidade. Trata-se de inúmeras variáveis que deverão
ser levadas em conta ao longo do atendimento.
O mesmo autor afirma também que o psicólogo precisa ter muito claro
que a sua atuação no contexto hospitalar não é psicoterápica dentro dos moldes do
chamado setting terapêutico. Isto é, um lugar adequado para a realização da
psicoterapia. Nos casos de atendimentos realizados em enfermarias, o atendimento
do psicólogo, muitas vezes, é interrompido pela equipe de saúde para a realização
de procedimentos, seja para aplicação de injeções ou para processo de limpeza.
Sendo assim, na psicologia hospitalar o profissional se depara com situações onde
na maioria das vezes não tem a privacidade necessária, portanto terá que levar em
conta todas as variáveis que poderão surgir durante o atendimento.
No hospital, ao contrário do paciente que procura pela psicoterapia, a
pessoa hospitalizada será abordada pelo psicólogo em seu próprio leito. E, em
muitos casos, sem que o paciente tenha claro qual o papel do psicólogo neste
momento e até mesmo em sua vida. Dessa forma, Camon (2003) remete à
importância de o psicólogo ter bem claros os limites de sua atuação para ele
também não se tornar mais um dos elementos invasivos que agridem o paciente
durante a hospitalização. Ainda que o psicólogo perceba que o paciente esteja
necessitando muito de intervenção neste momento, deve-se respeitar a opção dele
em receber ou não atendimento, demonstrando respeito à condição humana.
Ainda sobre os objetivos da psicologia hospitalar, Camon (2003) pontua
que a família do paciente e a equipe de saúde também necessitam de assistência
psicológica. Aos familiares por encontrarem-se fragilizados, deprimidos, ansiosos e
muitas vezes negam a doença, dificultando o processo de recuperação do membro
da família que está hospitalizado; e à equipe de saúde, por estar em contato
permanente com situações limítrofes que envolvem a doença e até a morte,
elevando o nível de ansiedade e estresse que acabam por dificultar a relação
médico-paciente e família. Diante disso, o psicólogo tornou-se, em seu caminho de
34

construção na área hospitalar, um mediador na relação do profissional de saúde, do


paciente e da família.
Diante deste cenário, o psicólogo inserido na equipe multidisciplinar é de
suma importância para tranqüilizar o paciente e a família, além de avaliar e cuidar do
paciente sob todos os aspectos, promovendo um atendimento que pretende cuidar
do paciente como um ser total. (ISMAEL, 2006). Mas, não basta somente existir a
equipe multiprofissional se a equipe não interagir em benefício do paciente, é
preciso que haja troca de informações, promovendo uma atitude colaborativa e
complementar.
Contudo, mesmo diante da necessidade que está sendo constatada nos
hospitais da inclusão do psicólogo na equipe de saúde, do alívio que este
profissional proporciona aos pacientes hospitalizados minimizando seu sofrimento, a
formação acadêmica ainda é falha em relação aos subsídios teóricos que possam
embasá-lo nesta prática. (CAMON, 2004).

E o psicólogo percebe no contexto hospitalar que os ensinamentos e


leituras teóricas de sua prática acadêmica não serão, por maiores que
sejam as horas de estudo e reflexão sobre a temática, suficientes para
embasar sua atuação. Descobre que terá de aprender com os pacientes por
sua dor, angústia e realidade. O paciente, de modo peculiar, ensina ao
psicólogo sobre a doença e sobre como lidar com a própria dor diante do
sofrimento. O hospital recebe o psicólogo e permite que em seus cantos a
psicologia descubra a dimensão real da dor humana. E assim é: a psicologia
no contexto hospitalar tem uma de suas performances mais humanas e
verdadeiras. (CAMON, 2004, p. 4).

2.4.1 Idoso Hospitalizado

Quando o homem atingir sua plena força, será capaz de construir uma
ponte entre seus ideais e a verdadeira vida. Mas um dia sente que sua força
é limitada. Muitas coisas já não andam bem. O cansaço começa. A vida
perde alguma coisa de sua novidade; sabe-se, enfim, que é um trabalho e
uma luta. Tudo é caracterizado como “conhecido” de antemão. (ALBERTO,
2002, p. 129).

A evolução da medicina vem contribuindo com a melhoria da qualidade de


vida do ser humano. Mas, como menciona Alberto (2002), esta evolução provocou
uma situação aterrorizante, pois as entidades responsáveis por tal evolução viram-
na sob apenas um prisma e não desenvolveram uma estruturação suficiente para
35

lidar com o aparecimento de uma nova população, que até algumas décadas não
era significativa, e hoje tampouco é considerada no nível de ser tratada com
dignidade e respeito, população esta que se refere aos indivíduos que,
orgulhosamente, ultrapassaram a faixa etária dos 60 anos. Esta situação traz
consigo um questionamento se existirá estrutura e profissionais suficientes e
adequadamente preparados para lidar com estas pessoas.
O indivíduo que atinge o estágio de envelhecimento estaria,
implicitamente, sendo visto como um ser enfermo, doente, limitado, não bastando a
condição da própria existência enquanto idoso, caracterizado como um esteriótipo
de “enfermo”; no momento em que o homem passa a ser denominado idoso, o seu
prognóstico estará fechado sem possibilidades de retorno a uma vida produtiva e
com capacidade de amar. (ALBERTO, 2002). Por este motivo utilizar-se-á o termo
idoso hospitalizado e não idoso enfermo.
Para os idosos hospitalizados, que sabem que a doença vai perdurar por
longo tempo ou talvez para sempre, Alberto (2002) menciona quatro conflitos
possíveis de ser encontrados: o conflito consigo mesmo, com o seu ambiente, com o
seu leito e como seu corpo.
O conflito consigo mesmo: “Toda sua existência, toda sua vida se
perdem. O começo de toda doença grave é como um “alto”, não se aceita nunca
como algo irremediável, mas como uma situação de perigo” (ALBERTO, 2002, p.
139). É como se o idoso hospitalizado entrasse num outro mundo que o faz perceber
tudo aquilo que já não existe para ele, a saúde, as pequenas coisas que o rodeiam,
e isso o surpreende permanecendo neste estado durante todo o período de doença.
O conflito com seu ambiente: “Este conflito é causado, sobretudo pelas
pessoas sãs que o visitam”. (ALBERTO, 2002, p. 139). Mesmo se para o doente a
doença permanece sempre como um mistério, a pessoa sã logo o convence de sua
situação, tirando-o da existência cotidiana, fazendo com que o tome como um fato
consumado.
O conflito com o leito: para a pessoa sã o leito pode parecer um lugar de
repouso para o doente, mas para o idoso hospitalizado o leito terá sempre o cheiro
de cânfora dos medicamentos, que o associa à doença, ao hospital, etc.
O conflito com o seu corpo: o idoso hospitalizado, diferente da pessoa sã,
percebe seu corpo frágil, inerte em seu leito. Não o vê mais como um “meio” e sim
um “objeto”, aprisionado à doença.
36

O idoso no momento da sua internação muitas vezes já se encontra


podado e castrado, pois uma vez banido da sociedade pelo seu sofrimento e pela
constante rejeição sofrida de sua família quando adentra a um hospital para se
submeter a qualquer tratamento, provavelmente não sofrerá demasiadamente com
mais este sofrimento, pois vem vivenciando um processo de perdas constantes da
sua cidadania, da sua personalidade, dos seus papéis na sociedade (ALBERTO,
2002).

Em cada fase, em cada área de nossa vida, sempre há um saldo a ser


realizado e resgatado. As perdas não precisam significar resignação e o fim
das perspectivas de vida. Mesmo perdendo, podemos ganhar através de
atitudes positivas e de amor à vida. Se perdermos de um lado, podemos
ganhar de outro, renovando sempre os compromissos de vida. (ALBERTO,
2002, p. 197).

Este resgate a que o autor se refere não significa negar a doença e o


sofrimento do idoso, mas sim propiciar possibilidades de uma visão positiva do
adoecimento e suas limitações, e enfatizar a alegria e os momentos de felicidade
que o idoso pode conseguir por ser um paciente sem urgência, porém com memória
e sentimento.
Assim sendo, o autor Alberto (2002) ratifica a postura dentro de um
hospital numa linha multiprofissional e interdisciplinar, dentro de uma visão
biopsicossocial, objetivando o bem-estar do indivíduo, proporcionando uma vida
saudável, numa tentativa de amenizar o sofrimento do idoso inserido no contexto
hospitalar. Se cada profissional seja ele médico, psicólogo, fisioterapeuta,
enfermeiro, etc., que estiver imbuído na missão de ser um “cuidador” do idoso
“enfermo” desenvolver seu trabalho pensando em equipe, voltado à saúde do
paciente idoso, sem dúvida, a evolução de “cura” será mais rápida e bem mais
positiva.
Alberto (2002) salienta ainda que o profissional de saúde que se propõe a
desenvolver um trabalho com pessoas idosas em instituições hospitalares, ele
encontrará alguns obstáculos para a prática dos seus conhecimentos clínicos. O
primeiro e principal obstáculo é a sua própria sensação de impotência, o quão ele
pode oferecer para a “cura” do idoso internado. O segundo são situações adversas
às práticas desenvolvidas por profissionais da equipe que se propõem lidar com o
idoso, tais como a rejeição pela pessoa idosa e pelo seu trato como “doente”, a
37

incapacidade e má vontade de acompanhar o dia-a-dia do idoso “enfermo” e


também a indução de vê-lo como dependente e incapaz de lidar com as suas
enfermidades e limitações, propiciando um recrudecimento do processo psicológico
já instalado no momento da internação. Ainda assim, é possível encontrar maneiras
de fazer com que o idoso não-sadio aprenda a lidar com as suas limitações, com a
sua doença, com as suas perdas, propiciando possibilidades de amenizar o seu
sofrimento enquanto estiver sendo tratado como “hóspede especial”.
“Um conhecimento aprofundado não é suficiente e saber não é conhecer.
É preciso ter cautela na aplicação desse conhecimento e primeiramente ter em
mente que se é um profissional de saúde”. (ALBERTO, 2002, p. 163).

2.5 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

As situações estressoras evocam uma série de respostas que, Zakir


(2003) classifica em dois tipos: stress, propriamente, e coping. O stress é
caracterizado por respostas que surgem de forma espontânea em uma situação
estressora, ou seja, respostas involuntárias. O coping é caracterizado pelas
respostas evocadas por estes mesmos estímulos, mas mantidas por suas
conseqüências, relacionadas tanto a mudanças no ambiente externo quanto a
efeitos sob condições adversivas internas do organismo. (ZAKIR, 2003).
Os mecanismos de coping são processados mediante a mobilização de
recursos naturais do indivíduo, com o objetivo de administrar situações estressoras.
(ZAKIR, 2003). Segundo esta mesma autora, o coping consiste na interação entre o
organismo e o ambiente, onde é lançado mão de um conjunto de estratégias
destinadas a promover a adaptação a estas situações estressantes. Ou seja,
qualquer empenho em se lidar com o estressor é uma resposta de coping.
Traduzindo a palavra coping em português significa “enfrentamento”. O
conceito desta gira em torno dos acontecimentos que ocorrem ao longo da vida das
pessoas referentes a perdas, dificuldades, fatos inesperados, tragédias que os
indivíduos precisam enfrentar e ao mesmo tempo ajustar-se ao impacto causado por
estes. (ZAKIR, 2003). O foco, neste caso, é o que a pessoa faz ou pensa e não o
38

que faria, e as estratégias estão inseridas em um contexto não podendo ser


generalizadas.
De acordo com a autora citada acima, há dois principais tipos de
estratégias ou funções do coping: o centrado no problema e o centrado na emoção.
O primeiro dirige-se a situações mutáveis, enquanto que o segundo a situações
imutáveis. A autora explica que, neste contexto, enquanto as respostas de stress
são conceituadas como respostas emocionais espontâneas, as respostas do coping
são tidas como produto do efeito que produzem sobre as fontes estressoras ou
sobre o mal-estar resultante do contato com elas.
Ainda de acordo com a mesma autora, um indivíduo pode evitar tanto
sentimentos aversivos quanto privar-se da responsabilidade de tarefas
desagradáveis. A ingestão ou abuso de álcool pode ser considerada uma resposta
de coping como forma de reduzir a própria tensão, visando regular emoções em
determinada situação estressante. Este é um exemplo de estratégia de coping
centrada na emoção, conforme explica Zakir (2003, p. 94):

O coping centrado na emoção representa esforços no sentido de regular o


estado emocional em episódios estressantes, quando se é exposto aos
estressores ou quando se responde a eles em elevada magnitude. Objetiva
modificar condições emocionais momentâneas por meio de medidas que
atingem a área somática, como tomar um tranqüilizante, ou de efeito
emocional, como entregar-se a fantasias. Em ambos os casos pode haver
redução da tensão, do “estado de stress”.

Os casos onde são empregados esforços no sentido de mudar a situação


que deu origem ao mal-estar, de solucionar o problema, mudar a relação do
indivíduo com o ambiente, de modo a se modificar as contingências responsáveis
pela tensão, segundo Zakir (2003) caracterizam o coping centrado no problema.
As pessoas percebem de maneira diferente uma situação estressora, ao
mesmo tempo que pode ser tida como controlável por algumas, pode também ser
vista como imutável por outras. Acerca desta controlabilidade, Zakir (2003) explica
que os indivíduos elaboram descrições verbais acerca das contingências às quais se
expõem, formulam auto-regras, adotam regras que governam seu comportamento
com mais efetividade até do que o controle das contingências. Estas regras podem
expressar a discriminação dos indivíduos quanto ao seu grau de controle sobre os
eventos do meio. A partir do exposto acima, entende-se que a percepção de
39

controlabilidade, as crenças ou regras em torno do próprio poder de controlar


eventos podem ter sobre o comportamento o mesmo efeito de contingências reais.

Existem determinantes circunstanciais ou ambientais que interagem com


variáveis pessoais no efeito da controlabilidade sobre o comportamento dos
indivíduos. A discriminação quanto ao seu próprio poder de controle dos
eventos do meio, isto é, a percepção de controlabilidade, determina, pelo
menos em parte, a avaliação das situações como passíveis de mudança por
ação do próprio indivíduo. (ZAKIR, 2003, p. 95).

Sendo assim, a seleção das respostas de coping depende desta


avaliação que o indivíduo faz das situações, porque se ele se percebe incapaz de
agir sobre o estressor, provavelmente utilizará estratégias compatíveis com sua
incapacidade. Estas estratégias seriam, de acordo com Zakir (2003, p. 95), “inclusas
no coping centrado na emoção, enquanto o coping centrado no problema teria a
preferência dos indivíduos que se percebem capazes de razoável grau de controle
sobre os eventos”.
No entanto, para que as respostas de coping sejam emitidas, elas têm de
constar no repertório comportamental do indivíduo. Mas, apesar disso, não quer
dizer que o indivíduo irá responder em uma dada situação, pois a escolha de uma
dada resposta de coping depende do resultado de escolhas feitas no passado.
Segundo Zakir (2003, p. 96), “a probabilidade de emissão da resposta de coping
depende de todo um contexto, no qual se inclui o resultado do enfrentamento no
passado, o efeito produzido em situações geradoras de stress anteriores”.

2.5.1 Na Velhice

O stress é uma experiência bem conhecida pelos idosos, já que a vida


caracteriza-se por um processo contínuo de mudança e adaptação a desafios e
eventos que, em maior ou menor grau, podem ser avaliados como estressores.
(GOLDSTEIN, 1995). Assim, em virtude das mudanças físicas, psicológicas e sociais
comuns à sua faixa etária, os idosos têm maior probabilidade de enfrentar eventos
estressores específicos, diferentes daqueles enfrentados pelos mais jovens. Um dos
principais eventos estressores na vida do idoso é o relacionado à perda, associada
40

ao declínio da saúde física, ao afastamento do mercado de trabalho, à perda de


papéis sociais e à perda de amigos e pessoas da família.
De acordo com Goldstein (1995), duas características pessoais são
frequentemente citadas como importantes determinantes na avaliação de eventos
estressantes: os padrões de envolvimento da pessoa e suas crenças sobre si
mesma e o mundo.
Segundo esta mesma autora, envolvimento é um elemento que expressa
aquilo que é importante para a pessoa, o que tem significado para ela. Os padrões
de envolvimento variam de indivíduo para indivíduo, significando que existem coisas
com as quais o indivíduo tem um grande grau de envolvimento e outras com as
quais ele não tem nenhum. Quanto mais forte o envolvimento mais vulnerável torna-
se a pessoa ao stress psicológico na área daquele envolvimento. (GOLDSTEIN,
1995).

A velhice é um tempo de abdicação – de desistir de velhas amizades, de


velhos papéis, de trabalho anterior que foi significativo, e até de bens e
objetos que pertencem a um estágio de vida anterior e que são agora um
impedimento à flexibilidade e à liberdade, que parecem ser requisitos à
adaptação aos desafios desconhecidos que caracterizam o estágio final da
vida. (ERIKSON, 1986 apud GOLDSTEIN, 1995, p. 148).

Neste caso, uma das formas mais comuns de enfrentamento é deixar de


lado os papéis e envolvimentos que não são mais úteis ou possíveis, e investir em
outros mais de acordo com as condições atuais de vida. Estas mudanças nos tipos
de envolvimento ocorridas durante o curso de vida trazem mudança na avaliação
dos eventos e consequentemente nas fontes de stress (GOLDSTEIN, 1995).
Outra característica pessoal são as crenças, que segundo a mesma
autora citada acima, são importantes mediadores cognitivos que podem ser
considerados como noções sobre a realidade, formadas individualmente ou
transmitidas pela cultura, que organizam as percepções e avaliações das situações.
Goldstein (1995), menciona dois tipos de avaliações que parecem relevantes ao
stress e coping: crenças quanto à eficácia, ou controle pessoal sobre os eventos, e
crenças existenciais, como fé em Deus, no destino ou em uma ordem de natureza
superior.
A crença de auto-eficácia é o julgamento que o indivíduo tem de suas
capacidades, não diz respeito às habilidades da pessoa, mas aos julgamentos do
41

que ela pode fazer com as habilidades que possui. (GOLDSTEIN, 1995). Estas
crenças influenciam o modo pela qual as pessoas relacionam-se com o ambiente de
diversas maneiras, de acordo com a autora acima, seja determinando as decisões
envolvendo as escolhas do curso de ação a ser tomado, onde elas tendem a evitar
tarefas e situações que elas acreditam exceder suas capacidades, mas assumem e
desempenham atividades que julgam ser capazes de exercer; seja influenciando o
esforço despendido e a persistência frente a obstáculos, quando enfrentam
dificuldades, os indivíduos que têm dúvidas sobre suas capacidades diminuem seus
esforços ou desistem totalmente, enquanto os que têm um forte senso de eficácia
aplicam maiores esforços para enfrentar as dificuldades; ou seja influenciando os
padrões de pensamento e as reações emotivas durante as transações com o
ambiente, onde as pessoas que se julgam ineficazes para lidar com as demandas do
ambiente tendem a avaliar os eventos como mais ameaçadores ou perigosos do que
aquelas que possuem confiança em sua auto-eficácia.

As percepções de auto-eficácia afetam não só o comportamento como


também as reações emocionais da pessoa. Na medida em que o indivíduo
se sente confiante em seus poderes de dominar o ambiente ou, ao
contrário, sente grande vulnerabilidade em um mundo percebido como
perigoso e hostil, sua avaliação do evento como ameaçador ou desafiador é
afetada. (GOLDSTEIN, 1995, p. 148).

Sobre as crenças existenciais, Goldstein (1995) diz que são as que


permitem à pessoa dar um sentido à vida e manter a esperança em circunstâncias
difíceis, pois trata-se da crença de que existe um plano preestabelecido ou um ser
superior protetor. O autor relata que esta crença pode diminuir o conteúdo emocional
de uma resposta e fazer com que um evento seja avaliado como menos ameaçador,
e é provável que essas crenças influenciem a avaliação dos eventos e o padrão de
enfrentamento.
Mas a autora alerta que nem todas as crenças influenciam de maneira
positiva o padrão de enfrentamento. A crença em um Deus punitivo pode fazer o
indivíduo aceitar o evento estressante como um castigo, desencorajando
comportamentos de controlar ou modificar a situação. Da mesma forma, a crença na
fatalidade do destino leva o indivíduo a uma avaliação de que nada pode ser feito.
Para lidar com eventos de vida estressantes, as pessoas podem recorrer
à várias estratégias que são aprendidas, mantidas e alteradas ao longo do curso de
42

vida, sob a ação de fatores situacionais e históricos, ligados à história do indivíduo e


de seu grupo. (GOLDSTEIN, 1995). A melhor escolha no uso dessas estratégias
está relacionada com o bem-estar subjetivo e a saúde física e mental das pessoas.
Dentre as condições apontadas como facilitadoras do coping, a autora ressalta que
a que parece ser de grande importância é o suporte social. Este adquire um valor
peculiar na idade madura, pois é justamente nesta fase que as pessoas estão
geralmente mais expostas a perdas e pressões de várias naturezas.

Este referencial teórico apresentado possibilitará a efetivação desta


pesquisa, proporcionando a análise e interpretação dos dados que serão obtidos
através das entrevistas com os idosos hospitalizados, a fim de responder o problema
de pesquisa mencionado.
43

3 MÉTODO

A escolha do método a ser utilizado nesta pesquisa científica é um


importante meio para garantir a validade e fidedignidade suficientes para ser
aprovado pelo ambiente acadêmico. Para a escolha do método é necessário um
conjunto de procedimentos adequados e sistematizados que precisam estar de
acordo com a pesquisa realizada para que possa responder ao problema com
segurança e qualidade. Será apresentado neste capítulo o método escolhido para a
realização desta pesquisa.
A presente pesquisa foi realizada no Hospital de Caridade da cidade de
Florianópolis que, é gerido pela Irmandade do Nosso Senhor Jesus dos Passos,
entidade religiosa com fins filantrópicos. O Hospital inaugurado no ano de 1789,
conta hoje com 224 leitos ativos, dispõe de serviços especializados em diversas
clínicas, incluindo cirurgias e tratamentos os mais variados. Está distribuído em
unidades de internação, contando também com serviços de pronto socorro, U.T.I.,
centro cirúrgico, assim como os ambulatoriais, para atendimento a toda população
do estado de Santa Catarina.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Este projeto de pesquisa, com vistas a compreender a relação existente


entre a percepção de idosos hospitalizados sobre sua autonomia e as estratégias de
enfrentamento apresentadas por estes durante a hospitalização, é de natureza
qualitativa, muito utilizada em pesquisas sociais, pois possui elementos que não são
possíveis de quantificar e propicia um aprofundamento da realidade pesquisada.
Portanto, a pesquisa qualitativa trabalha com experiências vividas pelos indivíduos,
buscando compreender e explicar a dinâmica do funcionamento das vivências dos
informantes (MINAYO, 2000).
Esta pesquisa possui um caráter exploratório, objetivando desenvolver e
esclarecer conceitos referentes à autonomia do idoso. Considerando que a pesquisa
exploratória possui uma característica menos rígida em seu planejamento, Gil (1999)
44

relata que esta envolve levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não


padronizadas e estudo de caso. Pesquisas com este caráter, geralmente, possuem
o objetivo de proporcionar uma visão geral e aproximada de um determinado
fenômeno, neste caso, a autonomia do idoso através de sua própria percepção.
Caracteriza-se também esta pesquisa como de caráter descritivo, pois
objetiva relacionar a percepção que o idoso possui acerca da sua autonomia com os
mecanismos de enfrentamento apresentados por estes durante a hospitalização.
Este tipo de pesquisa objetiva estabelecer relações entre variáveis, sendo que por
vezes pretendem determinar também a natureza destas relações. (GIL, 1999).
Esta pesquisa buscou a compreensão do fenômeno e não dados para fins
de quantificação e, considerando seu caráter exploratório tem-se que a mesma visou
ampliar o conhecimento do fenômeno psicológico a ser estudado.

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Esta pesquisa foi aplicada em 4 (quatro) idosos internados no Hospital


Caridade da cidade de Florianópolis, na Ala Bernadete, que se propuseram a
colaborar com a investigação, que possuíam 60 anos ou mais, portadores de
acometimentos orgânicos que preservam suas funções psíquicas, neste caso
problemas cardíacos pela especificidade desta Ala, com no mínimo uma semana de
internação, os quais foram escolhidos aleatoriamente, a partir de informações
colhidas no prontuário que atenderam aos critérios acima.
Neste caso, a presença de demências foi um critério de exclusão. Idosos
dependentes, semi-dependentes ou independentes não constituíram critérios de
exclusão.
Segue abaixo o perfil dos participantes da pesquisa:

I01 é uma mulher de 62 anos, divorciada, aposentada, tem dois filhos,


ambos casados e moram em Tubarão/SC. Mora com a filha adotiva aqui em
Florianópolis/SC, mas é natural de Armazém/SC. Relatou que há 6 anos teve
comércio, e atualmente não fazia muitas atividades, apenas as tarefas de casa e ia
45

na igreja. No momento da coleta de dados estava internada há 07 dias com Angina


Instável.
I02 é uma mulher de 69 anos, separada, aposentada, tem quatro filhos,
todos casados, mora sozinha na cidade de Botuverá/SC onde nasceu. Trabalhava
nas suas plantações, fazia as tarefas de casa, freqüentava a igreja e participava do
grupo de idosos. Relata que não gosta de ficar em casa. No momento da coleta de
dados estava internada há 15 dias com infecção na ferida pós operatório de cirurgia
cardíaca.
I03 é um homem de 73 anos, casado, aposentado, tem três filhos, todos
casados, mora com a esposa na cidade de Imbituba/SC onde nasceu. Antes de se
aposentar trabalhava no Porto de Imbituba. Atualmente cuidava de sua lavoura,
gostava de passear e pescar. No momento da coleta de dados estava internado há
09 dias com insuficiência coronariana e angina instável.
I04 é uma mulher de 76 anos, viúva, aposentada, hoje tem 7 filhos, pois 1
faleceu, mora com 3 filhos na cidade de São Bonifácio/SC onde nasceu. Relata que
além das tarefas de casa também trabalhava na roça. No momento da coleta de
dados estava internada há 09 dias com insuficiência coronariana, anemia e FA
crônica.

Tabela 1: Perfil dos Idosos Hospitalizados


Sujeitos da Tempo de Idade Sexo Estado Profissão Naturalidade
Pesquisa Internação Civil
I01 07 dias 62 F Divorciada Aposentada Armazém
I02 15 dias 69 F Separada Aposentada Botuverá
I03 09 dias 73 M Casado Aposentado Imbituba
I04 09 dias 76 F Viúva Aposentada São Bonifácio
Fonte: Elaborada pelo autor da pesquisa

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados se deu através de entrevistas individuais, sendo elas


semi-estruturadas, com a finalidade de proporcionar flexibilidade na coleta de
46

informações, garantindo assim uma maior facilidade na verificação da validade das


respostas. A técnica de entrevistas semi-estruturadas permite a obtenção de dados
referentes aos diversos comportamentos do indivíduo de dado fenômeno,
possibilitando um maior número de respostas, oferecendo alta flexibilidade. Essa
característica permite ao pesquisador esclarecer o significado de suas perguntas
adaptando com facilidade as pessoas e circunstâncias em que se desenvolve a
entrevista (GIL, 1999). As entrevistas foram gravadas, com as devidas autorizações
concedidas pelos participantes, e posteriormente foram transcritas para que fosse
feita a análise dos dados obtidos.
Esta pesquisa foi aplicada no ambiente hospitalar, mais especificamente
no leito no paciente, no período da manhã. Na entrevista foi utilizado apenas um
gravador de voz e estas tiveram duração aproximada de 20 minutos cada.
A pesquisa se deu mediante a aceitação dos participantes em fazer parte
da pesquisa e após o cumprimento dos compromissos éticos que a permeiam, tais
como: a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A),
assinatura Termo de Consentimento para Gravações de Voz (Anexo B), a garantia
do anonimato e a manutenção do sigilo das informações coletadas.

3.4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

A etapa de análise e interpretação dos dados é crucial em uma pesquisa


de natureza qualitativa. Segundo Gil (1999), a análise dos dados objetiva organizar e
sumariar os dados de forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao
problema de pesquisa proposto; já a interpretação tem como objetivo a procura do
sentido mais amplo das respostas, mediante a ligação a outros conhecimentos
anteriormente obtidos, neste caso o referencial teórico apresentado.
As entrevistas foram transcritas, onde o conteúdo foi segmentado em
elementos que foram submetidos à categorização e, posteriormente, à uma análise
de conteúdos. De acordo com Rauen (2002), na abordagem qualitativa, com base
na categorização dos elementos, o pesquisador objetiva destacar os sentidos, os
elos lógicos entre as categorias e, através da análise de conteúdo, o pesquisador
esclarece as diferentes características destas categorias e extrai sua significação.
47

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo foi dedicado à análise dos dados obtidos por meio das
entrevistas dos participantes, a qual será acrescida da teoria necessária e com o
recorte dado conforme percepção da pesquisadora.
Seu desenvolvimento ocorrerá de acordo com a tabela abaixo que
resume a categorização destes dados:

Tabela 2 – Categorização dos dados


4.1.1.1 Antes
4.1.1 Atividades 4.1.1.2 Depois
4.1.1.3 Na hospitalização
4.1 PERCEPÇÃO 4.1.2.1 Antes
SOBRE 4.1.2 Escolhas 4.1.2.2 Depois
AUTONOMIA 4.1.2.3 Na hospitalização
4.1.3.1 Antes
4.1.3 Impedições 4.1.3.2 Depois
4.1.3.3 Na hospitalização
4.2.1 Respostas
Emocionais
4.2.2.1 Assistir televisão
4.2 ESTRATÉGIAS DE 4.2.2.2 Receber banho
ENFRENTAMENTO 4.2.2 Respostas 4.2.2.3 Receber comida
Situacionais na boca
4.2.1.4 Escolher a comida
do hospital
Fonte: Elaborada pelo autor da pesquisa
48

4.1 PERCEPÇÃO SOBRE AUTONOMIA

Esta categoria apresenta o primeiro objetivo específico desta pesquisa


que se propõe a conhecer a percepção de idosos hospitalizados sobre sua
autonomia antes e depois do aparecimento da doença e na hospitalização.
Uma vida mais saudável na velhice está intimamente ligada à
manutenção da autonomia e independência, que constituem bons indicadores de
saúde. Retomando os conceitos de Paschoal (1996), onde diz que autonomia é a
capacidade de decisão, de comando; e independência é a capacidade de realizar
algo com seus próprios meios.
De acordo com o propósito deste primeiro objetivo específico, afim de
conhecer a percepção de idosos hospitalizados sobre sua autonomia, tornou-se
necessária a divisão das falas dos informantes em três subcategorias: “Atividades”,
“Escolhas” e “Impedições”.

4.1.1 Atividades

Esta categoria apresenta as atividades realizadas pelos entrevistados


antes e depois do aparecimento da doença e na hospitalização.

4.1.1.1 Antes

Pode-se perceber através do relato dos entrevistados, que antes do


aparecimento da doença mostravam-se ativos, exercendo suas atividades, cada
qual com sua particularidade, auxiliando assim a manutenção de sua autonomia.
I01 relata que há 6 anos atrás possuía um comércio que não deu certo, a
partir de então já não realizava muitas atividades, seu dia era parado, pois passou a
se dedicar as tarefas de casa, preferia fazer trabalhos manuais e não gostava de
sair.
49

“O meu dia antes era meio parado (...). Nunca freqüentei clube de idosos,
coisa assim eu nunca freqüentei. Mais é um crochê, uma televisão, lê a Bíblia... é a
minha atividade. (...) Fazia as coisa de casa, comida, louça.” (I01)
I02 relata que fazia muitas atividades e não parava dentro de casa,
cuidava das suas plantações e, além de fazer as tarefas domésticas, participava do
grupo de idosos e gostava muito de ir à igreja.
“Eu trabalhava (...) Eu plantava (...)Da carismate e do grupo de idosos
também (...) Eu quando tava boa não gostava de ficar dentro de casa, gostava de
fazer meu serviço de casa depois saí na rua fazer alguma coisa neh.” (I02)
I03 relata que antes da doença trabalhava no Porto de sua cidade, e nas
horas vagas cuidava de suas plantações, atividade esta que passou a se dedicar
após se aposentar. Além disso, gosta muito de passear e pescar.
“Eu trabalhava no Porto (...) Trabalhava na lavoura, nas horas das folga
nós trabalhava, tinha vaquinha de leite (...) Passeava, pescava”. (I03)
I04 relata que antes da doença sua principal atividade era trabalhar na
roça, além de fazer as tarefas domésticas e cuidar dos filhos. “Trabalhava... A vida
do colono é isso neh, chegava da roça em casa, fazia o serviço em casa neh e isso
eu fiz desde nova neh.” (I04)
Este resultado corrobora com os estudos feitos por Scherer; et al (2001),
baseados na leitura de alguns autores, tais como: Papaléo (1996), Mendonça Jorge
(1995), Novaes (1995) e Néri (1995), onde nos mostra que a manutenção de
atividades ocupacionais é de extrema importância para que o idoso enfrente de
forma positiva as situações de perda e as crises inerentes a fase do envelhecimento,
passando a viver de forma mais prazerosa e produtiva. Isto fará com que sejam
preservadas sua autonomia e independência, conceitos estes muito valorizados pela
Gerontologia.

4.1.1.2 Depois

Os quatro entrevistados relataram que após o aparecimento da doença


não conseguiram mais fazer as suas atividades, limitando-se a poucas tarefas do lar
e serviços leves em casa.
50

“Eu ia lá na minha nora, de meio-dia ia descansar um pouco, servicinho


fazia neh, servicinho leve, lavava a minha roupa, limpava a minha casa.” (I02)
“Ficava em casa, fazia um servicinho as vezes (...), varrer o pátio, (...) um
cafezinho as vezes pra ajudar a veia quando não tava, que ela saía, um cafezinho, e
ficava por ali, brincava com os gatinhos.” (I03)
“E daí depois disso que eu não trabalhei quase mais nada neh. É cuidava
da casa, fazia comida pra eles neh, lavava louça, lavava roupa.” (I04)
Percebe-se aqui que os idosos mesmo com este limitador, que foi o
aparecimento da doença, o que fez que se tornassem dependentes em alguns
aspectos, não deixaram de ser autônomos, exercendo o auto-governo. Eles podem
não ser totalmente independentes, mas manter sua autonomia. Para exemplificar,
pode-se citar uma senhora que se encontra em uma cadeira de rodas devido à
perna quebrada, esta poderá exercer sua autonomia totalmente decidindo onde quer
ir e que roupa quer usar, apesar de não ser totalmente independente.

4.1.1.3 Na hospitalização

Os quatro entrevistados relataram que não há muitas opções de


atividades no ambiente hospitalar. Assim, cada um procura seus próprios recursos
para passar o tempo, como ver televisão, ler a Bíblia, rezar, fazer caminhadas e
visitar conhecidos também internados.
“Mais é vejo televisão e leio a Bíblia.” (I01)
“Aqui agora durante o dia é só andar uma volta até lá, vou dar sempre
uma volta com ela, e depois me senta um pouco, descansar um pouco. Quando eu
to aqui sentada rezo o meu terço.” (I02)
“É a gente visita neh, e essas mulheres que tiveram comigo na
emergência neh, a gente ficou muito amiga neh, daí a gente vai visitar neh.” (I04)
Estas falas ilustram uma das teorias sociais do envelhecimento - a Teoria
da Atividade – onde segundo esta teoria, a velhice bem sucedida pressupõe a
descoberta de novos papéis ou uma nova organização dos já desempenhados. A
velhice é definida como um momento de perda de papéis e trata-se de entender
como se dá o ajustamento pessoal à essa situação definida como de perda e de
51

medir o grau de conformidade e o nível de atividade dos idosos. A Teoria da


atividade, desenvolvida por Robert Havighurst, supõe que o auto-conceito é
validado pela participação em papéis de meia idade, sendo desejável que os idosos
mantenham tantas atividades quanto possível e substituam os papéis antigos por
novos, permanecendo ativos e ocupados, encontrando novos papéis que dêem
significado para a vida. Isto acaba por favorecer a manutenção da autonomia, que
como já visto, é um bom indicador de qualidade de vida para os idosos.

Foi possível perceber, através do relato dos entrevistados, em relação as


atividades realizadas, que antes do aparecimento da doença mostravam-se ativos,
exercendo suas atividades que favoreciam a manutenção de sua autonomia; após, a
doença tornou-se um limitador, onde não conseguiam mais fazer suas atividades de
maneira independente, mas ainda mantiveram sua autonomia; e na hospitalização,
apesar de limitados às regras da institucionalização, realizavam pequenas atividades
para passar o tempo, mostrando-se ainda autônomos na descoberta de novos
papéis.

4.1.2 Escolhas

Esta categoria apresenta a capacidade de escolha dos entrevistados


antes e depois do aparecimento da doença e na hospitalização.

4.1.2.1 Antes

Percebeu-se que os entrevistados mostraram-se novamente autônomos


na medida em que exerciam, antes do aparecimento da doença, suas atividades de
vida diária como alimentar-se, banhar-se, vestir-se; bem como suas atividades
instrumentais de vida diária na medida em que faziam suas próprias refeições e
realizavam suas tarefas domésticas, mantendo intactas suas capacidades de
decisão e comando sobre suas próprias vidas.
52

“Sim, ninguém me dizia nada, era sozinha, eu ia na igreja, eu ia por tudo.”


(I02)
“Ah é, nunca ninguém pensava por mim, ah não faz aquilo, não faz isso,
não, nunca, eu vou fazer vou fazer.” (I03)
Estes dados foram interpretados a partir de Brasil (2006), o qual nos
mostra que para identificar o grau de independência e conseqüente autonomia de
idosos, utiliza-se a avaliação no desempenho das atividades cotidianas ou
atividades de vida diária, classificadas em Atividades de Vida Diária (AVD), que são
relacionadas ao autocuidado (alimentação, banho, etc); e Atividades Instrumentais
de Vida Diária (AIVD), que são as relacionadas à participação do idoso em seu
contexto social (tomar remédios, preparar as refeições, realizar compras, etc).

4.1.2.2 Depois

I01 relata que geralmente é ela que faz suas escolhas, as raras vezes que
não é são em situações esporádicas, como por exemplo, prefere que a filha compre
suas roupas e leve pra ela, mas pode-se observar que neste caso possivelmente
trata-se de uma questão de escolha por não fazer.
“Eu roupa, coisa assim eu quase não compro tu sabe por quê? Porque eu
gosto que a minha filha compre pra mim ou ela que compre pra mim e traga em
casa, daí eu provo.” (I01)
I02 relata que algumas vezes precisou recorrer aos filhos, pedir auxílio
para realizar as tarefas de casa, pois não podia fazer muita coisa sozinha. Mas,
deixou claro que evitava fazer isso porque não queria incomodar, devido ao fato de
todos trabalharem fora.
“Ah eles às vezes iam me ajudar... fazer... limpar a casa, mas as vezes eu
fazia sozinha, porque todo mundo trabalhava e daí não queria incomodar.” (I02)
I03 e I04 demonstraram alto nível de autonomia em relação as suas
escolhas, mesmo após o aparecimento da doença, pois ambos não abrem mão do
seu direito de ir e vir, realizando as atividades que gostam a qualquer hora.
“Ah vou, vou no mercado, no banco, vou é, não tenho hora, quando eu
quiser eu vou.” (I03)
53

No caso da I04 foi ainda mais evidente esta manutenção da autonomia,


mesmo após o aparecimento da doença, pois relata que optou por não fazer a
cirurgia cardíaca no ano passado porque antes queria tratar um problema na
vesícula. E agora, só aceitou internar-se para fazer a cirurgia, pois o médico lhe
disse que seu problema na vesícula era decorrente de um mau funcionamento
cardíaco. Logo, com a cirurgia resolveria os dois problemas.
“(...) ano passado era pra ser operada e não quis.” (I04)
Este foi um relato surpreendente de manutenção da autonomia, pois
sabemos que a família na maioria das vezes, com o intuito de preservar o idoso,
acaba por impedi-lo de fazer muitas coisas, retirando sua autonomia, mal sabendo
que este é o principal facilitador para manutenção de uma qualidade de vida nesta
fase.
Este fato veio a corroborar com Brasil (2006), que nos mostra a
diferenciação entre desempenho e capacidade funcional do idoso; onde o
desempenho avalia o que o idoso realmente faz no seu dia-a-dia e capacidade
funcional avalia o potencial que a pessoa idosa tem para realizar a atividade, ou
seja, sua capacidade remanescente, que pode ou não ser utilizada.
Um exemplo disso é quando o idoso mora em uma casa que possui
escada e não a utiliza porque a família teme que ele caia. Logo, o idoso não
desempenha a função de descer e subir escada por limitação da família, mas, esse
possui capacidade funcional para executá-la.
Entende-se assim uma pessoa autônoma como sendo comandada por ela
mesma, que toma decisões e, com isso, consegue construir seu próprio caminho de
vida. Enquanto que o independente/dependente só o é em relação a alguma outra
coisa, ou seja, a partir da inserção de um segundo neste contexto. Ela pode não ter
independência em alguns aspectos, mas manter sua autonomia.
Todos os indivíduos querem ser donos de sua própria vida, ter a
capacidade de decidir e escolher caminhos, mesmo para atos rotineiros do dia-a-dia,
como na escolha da roupa a vestir, ao ponto de sentirem-se infelizes e impotentes
caso isto não ocorra.

4.1.2.3 Na hospitalização
54

Pode-se observar que nesta condição a maior preocupação era com a


recuperação da saúde não importando se para isso teriam que se submeter as
normas da institucionalização. Isto pode ser observado na fala de I01, onde relata
que não pensa nas suas escolhas neste momento, pos seu foco agora é a doença, a
operação, a recuperação da sua saúde.
“Não penso em nada assim. Agora a minha... o meu foco agora é só a
doença, a operação.” (I01)
Recuperação pela saúde é o agente estressor mais encontrado nos
pacientes hospitalizados, o que pôde ser percebido durante experiência de estágio
neste mesmo hospital. E nos idosos não foi diferente, ainda mais que neste
ambiente há pessoas o tempo todo querendo retirar a sua autonomia, seja por
regras da instituição, seja por querer facilitar as coisas julgando que pelo fato do
idoso não possuir capacidade funcional para tanto, podem manter sua capacidade
de decisão. Neste caso o que é confundido, novamente, tanto por parte dos
familiares como da equipe de saúde, são os conceitos de dependência e autonomia,
pois apesar dos idosos, pela condição de saúde, mostrarem-se dependentes em
determinados aspectos, mantêm intactas a sua capacidade de decisão e auto-
governo.
Como mencionado anteriormente, a capacidade de tomar decisões e a de
auto-governo podem ser comprometidas por doenças físicas. Infelizmente, é muito
freqüente observar que, na vigência de situações de dependência, a autonomia da
pessoa idosa tende a não ser considerada. Parece ser erroneamente aceitável que,
uma vez que ele não é parcial ou totalmente capaz de executar uma ação (em
termos físicos), ele também não é capaz de decidir sobre a mesma. Tal observação
ocorre tanto no contexto familiar como no institucional.
Segue abaixo uma fala onde se pode visualizar a condição de
dependência na hospitalização:
Aqui não né, aqui tem que pedir pra um né, me traz uma ajudinha, me traz
uma camisa. Eu não gosto, não gosto de ta pedindo. (I03)
Esta condição de dependência é a que mais amedronta os idosos. A
principal conseqüência da associação entre velhice e dependência é o
desenvolvimento de atitudes negativas em relação às pessoas idosas.
55

Foi possível perceber, através do relato dos entrevistados, em relação às


suas capacidades de escolha, que em todas as fases investigadas, antes e depois
do aparecimento da doença e na hospitalização, mostraram-se autônomos,
mantendo a sua capacidade de decisão. Apenas com uma diferença: quando o
idoso mostrou-se dependente em determinados aspectos, concomitantemente foi
tentado lhe retirar a autonomia, por falta de conhecimento tanto dos familiares
quanto dos profissionais de saúde, pois durante a hospitalização, apesar de estarem
com sua capacidade funcional prejudicada, podiam manter sua capacidade de
decisão, fortalecendo sua autonomia.

4.1.3 Impedições

Esta categoria apresenta as impedições para realização das atividades


sofridas pelos entrevistados antes e depois do aparecimento da doença e na
hospitalização.

4.1.3.1 Antes

Os quatro entrevistados relataram que, antes do aparecimento da doença,


não se viam impedidos de realizar nenhuma atividade, tudo que eles queriam fazer
eles faziam sem que ninguém os impedisse, mostrando-se saudáveis,
independentes e autônomos acima de tudo.
“Não, não tinha nada, tudo que eu queria fazer eu fazia, sempre fiz.” (I03)
Estes resultados vieram ao encontro de Paschoal (1996, p. 316), o qual
nos mostra que “os idosos têm como parâmetro de saúde uma vida independente,
sobre a qual possuam controle, sem a necessidade de serem cuidados”. Muito
embora se sabe que a condição de dependência aumenta com o avançar da idade.
Envelhecer e adoecer não são sinônimos, porém os idosos tornam-se
mais suscetíveis ao adoecimento nesta fase da vida devido às alterações biológicas
que levam ao surgimento de doenças crônicas, e estes fatores não podem ser
56

ignorados, pois quanto mais estes sintomas são superestimados, menos rica e
deteriorada torna-se sua qualidade de vida.

4.1.3.2 Depois

Os quatro entrevistados apresentaram a doença como impeditivo para


realização das suas atividades.
“Tinha bastante que eu não podia fazer neh, que eu tinha que pedir os
filhos faze. É não consegui mais nada neh. É só por causa da doença.” (I04)
O relato de I02 em relação as suas impedições pode-se perceber seu alto
grau de autonomia, uma vez que mesmo com a doença não deixou de fazer as suas
atividades.
“Antes de ficar doente eu... tava assim mais ou menos que foi no Dr.
Renato, mas eu não sentia nada, só que ainda fui arrancar um carrinho de mão de
aipim, fui descascar, levei tudo os balde cheio pra dentro do tanque. Depois me
brigaram porque não era pra fazer daí já tinha feito.” (I02)
É o que Paschoal (1996) menciona que se podem observar casos de
idosos portadores de doenças crônicas que se olham como também portadores de
boa saúde. Isto ocorre pelo fato de possuírem autonomia e poderem executar
independente e satisfatoriamente suas atividades do dia-a-dia, continuando suas
relações e atividades sociais, e exercitando seus direitos e deveres de cidadãos.

4.1.3.3 Na hospitalização

Quando questionados sobre as impedições durante a hospitalização, os


entrevistados relataram que estar hospitalizado é bem diferente de estar em casa
onde não precisam ter horários para realizar as suas atividades, e novamente o foco
era a recuperação de sua saúde.
“O bom é não ter horário, fazer a hora que quer. É. Oh, não é igual, o
hospital não é igual você ta na sua casa.” (I03)
57

A entrevistada I02 também relata esta diferença evidenciando a sua


autonomia, sendo que em casa ela arrumava a sua casa e fazia a sua comida, já no
hospital as pessoas faziam tudo por ela.
“Ah aqui eu não posso fazer... eu fazia lá... arrumava a minha casa, fazia
a minha comidinha, aqui já tem que esperar pronta, eles arrumam tudo.” (I02)
As restrições que o médico impõe também foram apontadas como
impeditivos na hospitalização, pois precisam tomar alguns cuidados para uma
melhor recuperação da saúde.
“O médico não quer que eu ande, o médico disse pra eu ficar mais
parada.” (I01)
Este resultado corrobora com Alberto (2002), onde nos diz que o idoso no
momento da sua internação muitas vezes já se encontra podado e castrado, pois
uma vez banido da sociedade pelo seu sofrimento e pela constante rejeição sofrida
de sua família quando adentra a um hospital para se submeter a qualquer
tratamento, provavelmente não sofrerá demasiadamente com mais este sofrimento,
pois vem vivenciando um processo de perdas constantes da sua cidadania, da sua
personalidade, dos seus papéis na sociedade.
Uma vez que os idosos mostraram-se preocupados com a recuperação
de sua saúde, não levando em conta o fato de existirem impedições no ambiente
hospitalar, pode-se ressaltar o papel do psicólogo no ambiente hospitalar, atuando
na minimização do sofrimento causado por estas perdas constantes e no alívio
significativo dos pacientes em seu processo de sofrimento e dor.

Através do relato dos entrevistados, pode-se perceber que em relação às


impedições para realização das suas atividades, que antes do aparecimento da
doença não se viam impedidos de maneira alguma, se mostrando novamente
autônomos no comando de suas vidas. Após o aparecimento da doença, esta
tornou-se a impedição para a realização da maioria de suas atividades, mas ainda
preservando suas capacidades de auto-governo. Na hospitalização, apesar de
citadas algumas impedições médicas e também em relação às atividades
instrumentais de vida diária como fazer sua própria comida e arrumar sua cama, os
idosos mostraram-se preocupados com a recuperação de sua saúde, ficando a
questão do exercício de sua autonomia em segundo plano, não tornando-se menos
58

importante, uma vez que os entrevistados mantiveram suas capacidades de escolha


e auto-governo.

4.2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO NA HOSPITALIZAÇÃO

Esta categoria apresenta o segundo objetivo específico desta pesquisa


que se propõe a identificar as estratégias de enfrentamento apresentadas por idosos
hospitalizados durante a hospitalização.
O stress é uma experiência bem conhecida pelos idosos, já que a vida
caracteriza-se por um processo contínuo de mudança e adaptação a desafios e
eventos que, em maior ou menor grau, podem ser avaliados como estressores.
(GOLDSTEIN, 1995). Esta mesma autora relata que para lidar com eventos de vida
estressantes, as pessoas podem recorrer a várias estratégias que são aprendidas,
mantidas e alteradas ao longo do curso de vida, sob a ação de fatores situacionais e
históricos, ligados à história do indivíduo e de seu grupo.
De acordo com Zakir (2003), há dois principais tipos de estratégias ou
funções do coping: o centrado no problema e o centrado na emoção. O primeiro
dirige-se a situações mutáveis, enquanto que o segundo a situações imutáveis.
Neste sentido, tornou-se didaticamente necessária a divisão das estratégias de
enfrentamento dos entrevistados em “Respostas Emocionais” e “Respostas
Situacionais”.

4.2.1 Respostas Emocionais

Esta categoria apresenta as emoções apresentadas pelos entrevistados


durante a hospitalização. Apesar de pouco falarem sobre suas emoções em relação
ao fato de estarem hospitalizados, os entrevistados apresentaram diferentes formas
de manifestação desta, como se pode observar nas falas abaixo:
59

“Por enquanto até ainda não me caiu a bola. (...) Ai... (choro) não sei te
explicar... (choro) a gente já fez tanta coisa, trabalhou tanto e agora ta aqui num
quarto de hospital (30 segundos de silêncio e choro).” (I01)
Primeiro me senti mal, mas agora eu já me acostumei neh. Que a gente
não podia mais fazer esse serviço, a gente tava acostumado neh e quando a gente é
acostumado com uma coisa é difícil deixar neh. (...) É, triste e... que não podia mais
me ajuda neh. (...)
Para os idosos hospitalizados, que sabem que a doença vai perdurar por
longo tempo ou talvez para sempre, Alberto (2002) menciona quatro conflitos
possíveis de ser encontrados: o conflito consigo mesmo, com o seu ambiente, com o
seu leito e como seu corpo.
O conflito consigo mesmo é como se o idoso hospitalizado entrasse num
outro mundo que o faz perceber tudo aquilo que já não existe para ele, a saúde, as
pequenas coisas que o rodeiam, e isso o surpreende permanecendo neste estado
durante todo o período de doença.
O conflito com seu ambiente, onde mesmo se para o idoso a doença
permanece sempre como um mistério, a pessoa sã logo o convence de sua
situação, tirando-o da existência cotidiana, fazendo com que o tome como um fato
consumado.
O conflito com o leito, que para a pessoa sã o leito pode parecer um lugar
de repouso para o doente, mas para o idoso hospitalizado o leito terá sempre o
cheiro de cânfora dos medicamentos, que o associa à doença, ao hospital, etc.
O conflito com o seu corpo, que para o idoso hospitalizado, diferente da
pessoa sã, percebe seu corpo frágil, inerte em seu leito. Não o vê mais como um
“meio” e sim um “objeto”, aprisionado à doença.

Possivelmente, os idosos entrevistados estavam imbuídos da maioria ou


pelo menos de um destes conflitos, a isto se deve o fato de não falarem muito sobre
suas emoções, uma vez que também ao adentrarem ao hospital já estivessem
podados pelas suas perdas ao longo da vida, e o foco na recuperação de sua saúde
pode ser interpretado como uma estratégia de enfrentamento para a hospitalização.

4.2.2 Respostas Situacionais


60

A cada nova situação que o indivíduo enfrenta em seu cotidiano, ele


necessita encontrar também novas maneiras de responder ao que está
acontecendo. As pessoas percebem de maneira diferente uma situação estressora,
ao mesmo tempo que pode ser tida como controlável por algumas, pode também ser
vista como imutável por outras.
A seguir serão descritas as situações estressantes citadas pelos
entrevistados ocorridas durante a hospitalização em que eles não tenham gostado
ou se sentiram ofendidos ou constrangidos, bem como a estratégia de
enfrentamento a que se utilizaram em cada uma delas.

4.2.2.1 Assistir televisão

Cada quarto da enfermaria Bernadete é composto por 3 leitos e possui


apenas uma televisão. Diante desta circunstância, alguns entrevistados relataram ter
ocorrido divergências em relação a que canal assistir. Diante disso, cada um utilizou
a estratégia de enfrentamento aprendida ao longo de sua vida, as quais serão
descritas a seguir:
I01 relata que não é uma pessoa exigente, portanto sua estratégia de
enfrentamento foi se abster de qualquer oposição ao canal que estava sendo
assistido pelos demais.
Mas nunca fui assim muito exigente de uma pessoa trocar uma canal de
televisão, pra mim aquilo ali... pra mim tanto faz. (I01)
I02 relata que não pode assistir as suas missas, pois seus companheiros
de quarto não gostam. Diante disso, sua estratégia de enfrentamento também foi de
se abster de qualquer oposição, optando por rezar para si em seu leito.
Eu não posso ver a missa porque os outros não gostam (...) Ah eu fico
rezando só pra mim daí. Eu não vou mexer, em casa eu faço como eu quero. (I02)
I04 relata que não gosta de assistir televisão, mas enquanto suas colegas
não desligam ela não consegue dormir. Diante disso, sua estratégia de
enfrentamento, assim como os demais entrevistados, também foi de se abster de
qualquer oposição, optando por rezar para si em seu leito e aguardar que elas
desliguem para que possa dormir.
61

Eu não gosto de televisão. (...) Ah eu deixo elas assistir neh, depois elas
desliga daí eu durmo. É, mas isso passa neh... as vezes tem que acompanhar neh,
porque uma gostam outros não gostam neh (risos). É, eu espero, fico deitada, me
rezo neh. (I04)

4.2.2.2 Receber banho

Dependendo do estágio em que se encontra a doença, o idoso


hospitalizado não consegue tomar banho sozinho, precisa da ajuda da equipe
médica ou dos familiares. Diante disso, os entrevistados relataram que se sentiram
envergonhados, tristes por terem que depender de outra pessoa para fazer algo que
sempre fizeram sozinhos, mas ao mesmo tempo gratos por receberem cuidados
nesta fase em que se vêem impedidos de realizar tal atividade.
É... agente se sente meia... meia envergonhada do filho né, que não ta
acostumada né, vê o corpo né, mas tudo bem. (I01)
Eu não posso fazer muita coisa assim neh, e como ela me ajuda ta bom.
(I02)
Ah eu não sentia bem né. Porque não é o estilo da gente né, chega no
banheiro se arruma sozinho, toma teu banho a vontade, aliviado. Tendo uma pessoa
já... mesmo que seja da família, o cara vai ter vergonha do filho, da filha. (I03)
É eles me ajudavam, botavam a cadeirinha no banheiro me sentava ali
pra mudar de roupa neh. (I04)

4.2.2.3 Receber comida na boca

Após a realização de certos procedimentos hospitalares, como exames ou


cirurgias, o idoso hospitalizado novamente necessita do auxílio da equipe médica ou
dos familiares para realizar determinadas atividades.
Uma situação constrangedora citada por I01 foi o momento em que
recebeu comida na boca por um enfermeiro após ter realizado um Cateterismo. Seu
62

constrangimento foi devido ao fato de que está acostumada a fazer tudo sozinha
sem o auxílio de outra pessoa, ainda mais para uma atividade tão básica como
alimentar-se. Mas, relata que não se ofendeu, pois realmente estava incapacitada de
realizar esta atividade sozinha.
A gente não ta acostumada com aquilo né, mas... É, acostumada a fazer
tudo sozinha, mas não me ofendeu em nada não. (I01)

4.2.2.4 Escolher a comida do hospital

É sabido que no hospital não é possível escolher o cardápio de alimentos


por paciente, a dieta segue as orientações de uma nutricionista obedecendo as
especificidades de determinados pacientes, tais como os diabéticos.
I02 relata que precisa escolher a sua comida, pois não ingere
determinados alimentos, e se isso não fosse obedecido ficaria sem comer, apenas
ingerindo alimentos trazidos pela família, como frutas, etc. Sua estratégia de
enfrentamento em relação a esta situação foi pedir para sua nora solicitar à
enfermeira para substituir os alimentos por outros que ela possa comer, e seu
pedido foi atendido, uma vez que caso a paciente não se alimentasse bem seu
quadro clínico poderia piorar.
Comida eu tenho que escolher porque tanta coisa eu não como. (...) Aí a
minha nora fez ela trocar então. (I02)

Para ilustrar esta categoria, Neri (1995) ressalta que o idoso pode viver
bem a velhice, com as condições que tem, mesmo na presença de doenças e
agravos afetivos e sociais, desde que seja capaz de acionar recursos pessoais,
entre os quais têm realce as estratégias de enfrentamento.
Complementando, Goldstein (1995) nos mostra que o stress é uma
experiência bem conhecida pelos idosos, já que a vida caracteriza-se por um
processo contínuo de mudança e adaptação a desafios e eventos que, em maior ou
menor grau, podem ser avaliados como estressores.
63

4.3 SÍNTESE DOS RESULTADOS

A seguir serão apresentadas as sínteses dos resultados obtidos por meio das entrevistas com os idosos hospitalizados,
divididos em duas tabelas: a primeira relacionada à percepção dos entrevistados sobre sua autonomia e a segunda, relacionada às
estratégias de enfrentamento apresentadas por estes na hospitalização.

Tabela 3: Síntese dos resultados: percepção sobre autonomia

Antes Antes do aparecimento da doença mostravam-se ativos, exercendo suas atividades que
favoreciam a manutenção de sua autonomia; após, a doença tornou-se um limitador, onde não
ATIVIDADES Depois conseguiam mais fazer suas atividades de maneira independente, mas ainda mantiveram sua
autonomia; e na hospitalização, apesar de limitados às regras da institucionalização, realizavam
Na hospitalização pequenas atividades para passar o tempo, mostrando-se ainda autônomos na descoberta de
novos papéis.
Antes Em todas as fases investigadas, antes e depois do aparecimento da doença e na hospitalização,
mostraram-se autônomos, mantendo a sua capacidade de decisão. Apenas com uma diferença:
ESCOLHAS Depois quando o idoso mostrou-se dependente em determinados aspectos, concomitantemente foi
tentado lhe retirar a autonomia, por falta de conhecimento tanto dos familiares quanto dos
Na hospitalização profissionais de saúde, pois durante a hospitalização, apesar de estarem com sua capacidade
funcional prejudicada, podiam manter sua capacidade de decisão, fortalecendo sua autonomia.
Antes do aparecimento da doença não se viam impedidos de maneira alguma, se mostrando
Antes novamente autônomos no comando de suas vidas. Após o aparecimento da doença, esta se
tornou a impedição para a realização da maioria de suas atividades, mas ainda preservando
suas capacidades de auto-governo. Na hospitalização, apesar de citadas algumas impedições
IMPEDIÇÕES Depois médicas e também em relação às atividades instrumentais de vida diária como fazer sua própria
comida e arrumar sua cama, os idosos mostraram-se preocupados com a recuperação de sua
saúde, ficando a questão do exercício de sua autonomia em segundo plano, não se tornando
Na hospitalização menos importante, uma vez que os entrevistados mantiveram suas capacidades de escolha e
auto-governo.
Fonte: Elaborada pelo autor da pesquisa
64

Tabela 4: Síntese dos resultados: estratégias de enfrentamento


Possivelmente, os idosos entrevistados estavam imbuídos de muitos conflitos emocionais, consigo mesmo, com o
RESPOSTAS próprio corpo, com o leito, com o ambiente, a isto se deve o fato de não falarem muito sobre suas emoções, uma vez
que também ao adentrarem ao hospital já estivessem podados pelas suas perdas ao longo da vida, e o foco na
EMOCIONAIS
recuperação de sua saúde pode ser interpretado como uma estratégia de enfrentamento para a hospitalização.

Cada quarto da enfermaria Bernadete é composto por 3 leitos e possui apenas uma
televisão. Diante desta circunstância, alguns entrevistados relataram ter ocorrido
Assistir televisão divergências em relação a que canal assistir. Diante disso, cada um utilizou a
estratégia de enfrentamento aprendida ao longo de sua vida, sendo a abstinência de
qualquer oposição a estratégia citada com mais freqüência.
Dependendo do estágio em que se encontra a doença, o idoso hospitalizado não
consegue tomar banho sozinho, precisa da ajuda da equipe médica ou dos
Receber banho familiares. Diante disso, os entrevistados relataram que se sentiram envergonhados,
tristes por terem que depender de outra pessoa para fazer algo que sempre fizeram
sozinhos, mas ao mesmo tempo gratos por receberem cuidados nesta fase em que
se vêem impedidos de realizar tal atividade.
RESPOSTAS Uma situação constrangedora citada por I01 foi o momento em que recebeu comida
na boca por um enfermeiro após ter realizado um Cateterismo. Seu constrangimento
SITUACIONAIS
Receber comida na boca foi devido ao fato de que está acostumada a fazer tudo sozinha sem o auxílio de
outra pessoa, ainda mais para uma atividade tão básica como alimentar-se. Mas,
relata que não se ofendeu, pois realmente estava incapacitada de realizar esta
atividade sozinha.
I02 relata que precisa escolher a sua comida, pois não ingere determinados
alimentos, e se isso não fosse obedecido ficaria sem comer, apenas ingerindo
alimentos trazidos pela família, como frutas, etc. Sua estratégia de enfrentamento
Escolher a comida do hospital em relação a esta situação foi pedir para sua nora solicitar à enfermeira para
substituir os alimentos por outros que ela possa comer, e seu pedido foi atendido,
uma vez que caso a paciente não se alimentasse bem seu quadro clínico poderia
piorar.

Fonte: Elaborada pelo autor da pesquisa


65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa objetivou-se compreender a relação existente entre a


percepção de idosos hospitalizados sobre sua autonomia e as estratégias de
enfrentamento apresentadas por estes durante a hospitalização. Para responder a
este objetivo, foram entrevistados idosos hospitalizados, com 60 anos ou mais, com
no mínimo uma semana de internação. Os dados foram analisados através de
categorias selecionadas a partir dos objetivos específicos e conteúdo das
entrevistas, fundamentado através do referencial teórico pré-definido. E, os
resultados obtidos estão descritos a seguir.
Foi possível perceber que os idosos entrevistados se percebem
autônomos na medida em que todos tomam suas próprias decisões e escolhas sem
a impedição de outras pessoas, e esta autonomia não é prejudicada durante a
hospitalização, uma vez que estão preocupados com a recuperação de sua saúde,
utilizando-se assim de estratégias de enfrentamento saudáveis frente às situações
estressoras citadas.
Recuperação pela saúde é o agente estressor mais encontrado nos
pacientes hospitalizados, o que pôde ser percebido durante experiência de estágio
neste mesmo hospital. E nos idosos entrevistados não foi diferente, ainda mais que
neste ambiente há pessoas o tempo todo querendo retirar a sua autonomia, seja por
regras da instituição, seja por querer facilitar as coisas julgando que pelo fato do
idoso não possuir capacidade funcional para tanto, podem manter sua capacidade
de decisão. Neste caso fica evidente o despreparo dos profissionais de saúde no
trato com idosos, desconhecendo conceitos imprescindíveis como é o caso de
independência e autonomia, pois apesar dos idosos, pela condição de saúde,
mostrarem-se dependentes em determinados aspectos, mantêm intactas a sua
capacidade de decisão e auto-governo.
A partir destes dados obtidos então: Qual a relação existente entre a
percepção de idosos hospitalizados sobre sua autonomia e as estratégias de
enfrentamento apresentadas por estes durante a hospitalização? Ficou evidente
que na verdade independe da percepção que eles têm sobre sua autonomia, pois na
hospitalização os idosos mostraram-se preocupados com a recuperação de sua
saúde, ficando a questão do exercício de sua autonomia em segundo plano. Não
66

que a manutenção da autonomia seja menos importante, uma vez que os


entrevistados mantiveram suas capacidades de escolha e auto-governo.
Surpreendentemente, quando o idoso mostrou-se dependente em
determinados aspectos, concomitantemente foi tentado lhe retirar a autonomia, por
falta de conhecimento tanto dos familiares quanto dos profissionais de saúde, pois
durante a hospitalização, apesar de estarem com sua capacidade funcional
prejudicada, podiam manter sua capacidade de decisão, fortalecendo sua
autonomia. Em relação aos familiares, o que pode ocorrer também é um cuidado
demasiado que acaba por retirar a autonomia do idoso tolhendo a tomada de
decisão.
A velhice muitas vezes é associada à dependência e à perda do controle
sobre a própria vida, mesmo para atos corriqueiros e banais de sobrevivência, tem
sido pensada quase sempre como um processo degenerativo, parece até que nessa
etapa da vida deixa de existir o potencial de desenvolvimento do ser humano.
O que distingue a saúde do idoso é a possibilidade de manutenção de
sua autonomia e independência. Daí a importância aumentada do papel do
profissional gerontólogo procurando obter a manutenção da autonomia do idoso e o
máximo de independência possível, em última análise, a melhora da qualidade de
vida.
Se as políticas sociais e de saúde conseguirem promover a habilidade
funcional da população idosa e construir um sistema adequado de suporte para ela,
aumentará enormemente a chance de uma velhice saudável, o que significará uma
vida com mais qualidade.
A formação acadêmica do psicólogo é falha em relação aos subsídios
teóricos que poderiam embasá-lo na prática institucional. Essa formação acadêmica,
sedimentada em outros modelos de atuação, não provê o instrumental teórico
necessário para a atuação nessa realidade. Devido a isso, a importância da inserção
de disciplina específica de gerontologia nos currículos dos cursos da área da saúde
especialmente. A ausência desta temática nos cursos de psicologia do país contribui
para o despreparo dos profissionais para atenderem esta demanda que requer
atenção qualificada.
67

E o psicólogo percebe no contexto hospitalar que os ensinamentos e


leituras teóricas de sua prática acadêmica não serão suficientes para embasar sua
atuação, ou seja, de minimizar o sofrimento provocado pela hospitalização.
Esta pesquisa é relevante na medida em que fornece subsídios para
atuação dos profissionais de saúde, sejam eles psicólogos, enfermeiros, assistentes
sociais, fisioterapeutas, nutricionistas, dentre outros profissionais que atuam nos
serviços já existentes e contribuir para o estabelecimento de políticas públicas em
relação ao idoso.
Sugere-se que novos estudos sejam realizados, na busca de maior
clareza sobre esta problemática da autonomia do idoso hospitalizado, com amostras
mais numerosas e variadas de idosos e com a análise de outras variáveis como a
questão de gênero, por exemplo. Outro viés desta pesquisa também se torna
interessante na medida em que fosse possível esclarecer a percepção da equipe de
saúde sobre a importância da manutenção da autonomia em idosos hospitalizados.
E por último, sugere-se que a administração hospitalar e os profissionais
envolvidos na assistência ao idoso sejam conscientizados da vulnerabilidade
funcional do idoso hospitalizado, para que medidas administrativas e assistenciais
sejam adotadas com o intuito de minimizar, ao máximo, o declínio funcional nesse
processo e com isso, contribuir para o envelhecimento saudável.
Verifica-se que, aos poucos, a pesquisa sobre velhice vai abrangendo
várias áreas do conhecimento e diferentes campos de interesse. Nota-se também
que o interesse pelo assunto passa a abranger diferentes domínios disciplinares,
revelando diferentes faces da velhice. O século XX marcou grandes avanços na
ciência do envelhecimento, graças aos conhecimentos adquiridos por meio de
estudos feitos por estudiosos do campo da gerontologia, muito embora ainda reste
um longo caminho a ser percorrido para elucidar tal fenômeno.
Nota-se que o sistema de rastreamento da informação ainda é carente. O
aumento da produção científica na gerontologia mais que justifica a adoção de
medidas para agilizar sua divulgação em uma velocidade compatível com os meios
que já dispomos. Para a construção do conhecimento científico não basta incentivar
a produção, é imprescindível torná-la rapidamente acessível a todos os
pesquisadores.
Espera-se que a sociedade, por meio desta pesquisa, possa
redimensionar seu olhar sobre a velhice e que favoreça projetos assistenciais,
68

provomendo a saúde do idoso. Ao olhar, estudar e cuidar do idoso, estamos


olhando, aprendendo e cuidando de nós mesmos.

“O indivíduo é concomitantemente produtor e produto de uma sociedade e de sua


cultura. Portanto, por estar em uma fase marcada por grandes transformações
psicológicas, físicas e sociais, o idoso deve ter consciência de si enquanto ser finito,
que inevitavelmente envelhece. Somente assim poderá vivenciar sua velhice com
tranqüilidade.” (Neri, 1995)
69

REFERÊNCIAS

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70

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qualitativa em saúde. 7 ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2000.

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ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed,


2000.
71

APÊNDICES
72

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista

A presente entrevista destina-se à coleta de dados para elaboração do


Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Psicologia.

Idade:
Sexo:
Estado Civil:
Profissão:
Constituição Familiar:
Mora com:
Naturalidade:

A) ANTES DA DOENÇA

Que atividades costumava fazer no seu dia-a-dia?


Você escolhia as atividades que fazia no seu dia-a-dia? Se não, por quê?
Você se via impedido (a) de fazer alguma atividade no seu dia-a-dia? Se sim, por
quê?

B) DEPOIS DA DOENÇA

Que atividades costumava fazer no seu dia-a-dia?


Você escolhia as atividades que fazia no seu dia-a-dia? Se não, por quê?
Você se via impedido (a) de fazer alguma atividade no seu dia-a-dia? Se sim, por
quê?

C) HOSPITALIZAÇÃO

Que atividades costuma fazer no seu dia-a-dia?


Você escolhe as atividades que fazia no seu dia-a-dia? Se não, por quê? E como se
sente?
Você se vê impedido (a) de fazer alguma atividade no seu dia-a-dia? Se sim, por
quê? E como se sente? E o que faz em relação a isso?

Já ocorreram fatos ou situações durante a hospitalização onde se sentiu


incomodado (a)?
Se sim, como se sentiu?
E o que fez em relação a isso?
73

ANEXOS
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ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA


COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO

Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa cujo tema é “A
relação existente entre a percepção de idosos hospitalizados sobre sua
autonomia e as estratégias de enfrentamento apresentadas por estes durante a
hospitalização”. Estou ciente de que a pesquisa será realizada obedecendo aos
seguintes critérios:
a- O tempo de realização das entrevistas será de 40 a 50 minutos;
b- O horário para a realização das entrevistas, será combinado com os participantes,
considerando a disponibilidade dos mesmos e será agendada pelo próprio
pesquisador com antecedência;
c- Para o armazenamento das informações, a entrevista será gravada com a
permissão do participante e posteriormente transcritas para que se possa garantir o
registro de todas as falas do paciente. Para o tratamento e análise das falas, serão
feitos, após a realização das entrevistas, quadros com os questionamentos dela
surgidos. A análise de conteúdo será feita através da descrição das falas do
paciente, com o intuito de concluir o conhecimento produzido;
d- A pesquisa será realizada no Hospital de Caridade, em Enfermarias Gerais, mais
precisamente no quarto do paciente;
e- Os instrumentos utilizados para a coleta de dados serão o guia da entrevista
semi-estruturada, previamente elaborado e o gravador de voz;
f- Pelo fato de a pesquisa acontecer dentro do hospital, a pesquisadora estará
vestida de acordo com as normas do mesmo, com um jaleco branco e sapatos
fechados.

Os riscos e desconfortos apresentados pela pesquisa são mínimos, porém no caso


de haver desconforto emocional durante a entrevista, terei direito a interromper a
entrevista e receber atendimento psicológico.
75

Estarei contribuindo para a produção de conhecimento científico sobre a relação


existente entre a percepção de idosos hospitalizados sobre sua autonomia e os
mecanismos de enfrentamento apresentados por estes durante a hospitalização.
Este conhecimento poderá ser útil na atuação de profissionais psicólogos e
gerontólogos da área hospitalar.
Estou ciente que durante os procedimentos práticos deste estudo serei
acompanhado pela pesquisadora.

Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e que recebi,
de forma clara e objetiva, todas as explicações pertinentes ao projeto e que todos os
dados a meu respeito serão sigilosos. Eu compreendo que neste estudo as
medições dos experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim.

Declaro que fui informado que posso me retirar do estudo a qualquer momento.

Nome por extenso: _____________________________________________________


RG: _________________________________________________________________
Local e data: _________________________________________________________
Assinatura: ___________________________________________________________

PESSOAS PARA CONTATO:

PESQUISADOR RESPONSÁVEL: ALUNA RESPONSÁVEL:


Alessandra d´Avila Scherer Mariana Porto dos Santos

NÚMERO DO TELEFONE: NÚMERO DO TELEFONE:


(48) 9156-8008 (48) 8406-9945

ENDEREÇO: ENDEREÇO:
Av. Pedra Branca, n.º25 Rua Jorn. Bento Silvério, 906
Palhoça – SC Apto 003 – Kobrasol
São José – SC
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ANEXO B – Termo de Consentimento para Gravações de Voz

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA


COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL
CONSENTIMENTO PARA GRAVAÇÕES DE VOZ
Eu _________________________________________________________________
permito que o grupo de pesquisadores relacionados abaixo obtenha gravação de minha
pessoa para fins de pesquisa científica, médica e/ou educacional.

Eu concordo que o material e informações obtidas relacionadas à minha pessoa possam


ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos
científicos. Porém, a minha pessoa não deve ser identificada, tanto quanto possível, por
nome ou qualquer outra forma.

As gravações de voz ficarão sob a propriedade do grupo de pesquisadores pertinentes


ao estudo e sob sua guarda.

Nome do sujeito da pesquisa e/ou paciente: _________________________________

RG: ______________________________________________________________

Endereço: _________________________________________________________

Assinatura: _________________________________________________________

Equipe de pesquisadores:

Instituição de Ensino: Universidade do Sul de Santa Catarina – Fone: (48) 3279-1000

Professora: Alessandra d´Avila Scherer - Fone: (48) 9156-8008

Aluna: Mariana Porto dos Santos - Fone: (48) 8406-9945

Data e Local onde será realizado o projeto:

Florianópolis, __________________________________

Adaptado de: Hospital de Clínicas de Porto Alegre / UFRGS

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