Miolo Livro Objeto Provas 5
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© Título
Aproximações ao livro-objeto:
das potencialidades criativas às propostas de leitura
© Autor
Ana Margarida Ramos
(Organização)
© Ilustração da capa
Catarina Ramos
© Design da coleção
Gabriela Sotto Mayor
© Paginação
J. José Olim
© Edição
Tropelias & Companhia
Porto
Distribuição
Trinta Por Uma Linha
Impressão
Printhaus
1ª Edição
Fevereiro de 2017
Depósito Legal
422466/17
ISBN
978-989-8582-54-6
Reservados todos os direitos.
Esta edição não pode ser reproduzida nem transmitida,
no todo ou em parte, sem prévia autorização da editora.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS
ÀS PROPOSTAS DE LEITURA
ÍNDICE DE IMAGENS
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 13
1
Bruno Munari e Warja Lavater designavam desta forma muitas das suas criações, segun-
do Beckett (2012: 20).
2
Ver, neste âmbito, as reflexões reunidas em Kümmerling-Meibauer et al (2015).
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
14
3
Ver, ainda assim, Kümmerling-Meibauer, 2011 e 2015 e Kümmerling-Meibauer & Mei-
bauer, 2005.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 15
Referências:
2. Livro-brinquedo:
contributos para uma tipologia4
Diana Martins
4
Este texto resulta do trabalho de investigação em torno do livro-objeto que está a ser
realizado no âmbito do curso de Doutoramento em Estudos da Criança na especialidade de Li-
teratura para a Infância, no Instituto de Estudos da Criança, na Universidade do Minho, sob a
orientação da professora Sara Reis da Silva.
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5
Informação veiculada por Sara Reis da Silva sobre o livro-jogo e recolhida aquando
dos encontros “The child and the book”, na Universidade de Aveiro, decorridos entre 26 e 28 de
março de 2015.
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teatral Harlequin era a figura central em muitos deles e, não raras vezes,
esse termo surge no próprio título desses volumes. Ainda que admitin-
do variações, essas publicações têm normalmente uma ou duas folhas
ilustradas, com a primeira folha dobrada perpendicularmente em quatro
secções. Uma segunda folha é, então, cortada ao meio e dobrada nas
margens superior e inferior por forma a que cada aba possa ser levan-
tada separadamente. Tirando partido de uma série de dobragens que o
aproximam de um panfleto, quando se levanta ou se baixa parte de uma
ilustração, surge uma nova imagem que faz a narrativa avançar, permi-
tindo introduzir o leitor na história de modo fraccionado (idem).
Acrescente-se, ainda, que, depois de 1800, a editora londrina S.
& J. Fuller publica, pela primeira vez, livros com bonecas de papel,
que disponibilizam algumas figuras recortadas sem rosto em diferentes
trajes, denominados paper doll books.
A partir do século XIX, é possível observar-se a aplicação de
elementos móveis a livros concebidos para entreter e deliciar os mais
novos. A editora Dean & Son, fundada em Londres antes de 1800, passa
a ser reconhecida como a criadora de livros com aplicações móveis des-
tinados ao público infantil, publicando cerca de 70 livros nos quais se
socorre de mecanismos móveis diversos, surgindo, assim, o termo toy
book. Entre os primeiros títulos desta tipologia, encontra-se Dean’s Mo-
veable Red Riding Hood (c. 1857), objeto no qual cada plano da ilustra-
ção está preso ao seguinte por uma fita que, uma vez puxada, faz surgir
um novo cenário em perspetiva. Nos finais do século XVIII e inícios do
século XIX, surgem os livros túnel, tunnel-books, ou peep-show books,
que, invocando uma sensação de profundidade e movimento dentro da
dimensão espacial de uma imagem, num período exórdio ao cinema,
gozam de grande popularidade. Estes livros podiam abrir-se em linha
reta assemelhando-se a um túnel, como A Brief Account of the Thames
Tunnel (1851) (idem).
Ernest Nister foi outro editor especializado em livros-vivos. No
seu Little Pets (1896), as figuras recortadas elevam-se automaticamente
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 29
3. Considerações finais
muitos designers acreditam que um livro se define mais pelo seu pro-
pósito do que pela sua forma e que um dos papéis de um designer de
livros é juntar a sua própria perspectiva crítica do conteúdo – modelar,
editar ou cuidar do material do autor, reforçar a experiência de leitura.
Talvez seja assim, porque confrontados com a ameaça de redundância,
numa cultura cada vez mais rendida ao digital, os designers de livros
estejam a reinventar e a reposicionar-se num esforço de validar a sua
prática (Twemlow, 2007: 104).
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
38
Referências Bibliográficas:
Obras analisadas:
CHEDRU, Delphine (2015). Olá Adeus. Matosinhos: Kalandraka.
RANDALL, Ronne (2014). O sapo saltitão. Alfragide: Edições ASA.
GENECHTEN, Guido van (2015). Será... um gato?. Lisboa: Gatafu-
nho.
HILL, Eric (2013). Boa noite, Bolinha!. Lisboa: Editorial Presença.
LITTON, Jonathan (2015). O meu pequeno mundo – Pai. Lisboa: Zero
a oito.
POTTER, Beatrix (2006). Pedrito Coelho – Quem está escondido?.
Porto: Civilização Editora.
POTTER, Beatrix (2010). Pedrito Coelho – Uma história para brincar.
Porto: Civilização Editora.
SCHEFFLER, Axel (2015). Vira e combina na Quinta. Barcarena: Ja-
carandá.
Estudos:
ALVES, Susana (s/d). “Obra Aberta”, E-Dicionário de Termos Literá-
rios (EDTL), <http://www.edtl.com.pt>, consultado em 20-02-2016.
APPLEYARD, J. A. (1991). Becoming a reader. Cambridge: Cambrid-
ge University Press.
BASTOS, Glória (1999). Literatura Infantil e Juvenil. Lisboa: Univer-
sidade Aberta.
BROUGÈRE, Gilles (1998). “A criança e cultura lúdica”. in KISHI-
MOTO, Tizuko Morchida (org.) (1998). O brincar e suas teorias. São Paulo:
Pioneira. pp. 19-32.
BROUGÈRE, Gilles (1998). Jogo e Educação. Porto Alegre: Artes Mé-
dicas.
CARPENTER, Humphrey & PRICHARD, Mari (2005). The Oxford
Companion to Children’s Literature. Oxford: Oxford University Press.
CEIA, Carlos (s/d). “Estética da Recepção”, E-Dicionário de Termos
Literários (EDTL), <http://www.edtl.com.pt>, consultado em 20-02-2016.
CERVERA, Juan (2004). Teoría de la literatura infantil. Bilbao: Edi-
ciones Mensajero.
CHATEAU, Jean (1975). A criança e o jogo. (2ª ed.). Coimbra: Atlân-
tida Editora.
COLOMER, Teresa (2005). Andar entre libros. La lectura literaria en
la escuela. México: Fondo de cultura económica.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
40
3. Livros “perfurados”:
singularidades e potencialidades
6
Na versão original, publicada pela Hachette, com o nome Zékéyé.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 51
pelos olhos do leitor que, assim, ganha novos rostos, oferecidos pela
publicação. Em certa medida, poder-se-á acrescentar a este conjunto a
obra Le livre avec un trou (2011), de Hervé Tullet, por exemplo, visto
que também aqui o recetor é convidado a integrar fisicamente o volume
e a ocupar o espaço vazio que este possui.
3. Considerações finais
7
Nesta secção, mencionam-se as edições usadas por nós neste trabalho e a que pudemos
ter acesso, sendo algumas traduções.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 55
Estudos:
BECKETT, Sandra L. (2012). Crossover Picturebooks: a Genre for all
ages. New York: Routledge.
NIKOLAJEVA, Maria (2008). “Play and playfulness in postmodern
picturebooks”. in SIPE, Lawrence R. & PANTALEO, Sylvia (eds.) (2008).
Postmodern Picturebooks: play, parody, and self-referentiality. New York:
Routledge, pp. 55-74.
MUNARI, Bruno (2014). Das Coisas Nascem Coisas. Lisboa: Edições
70 (1.ª ed. – 1982).
PARREIRAS, Ninfa (2006). A psicanálise do brinquedo na literatura
para crianças. São Paulo: Universidade de São Paulo.
RAMOS, Ana Margarida (2011). “Apontamentos para uma poética do
livro-álbum contemporâneo”. in ROIG RECHOU, Blanca-Ana et al. (coord.).
O livro-álbum na Literatura Infantil e Xuvenil. Vigo: Xerais, pp. 13-40.
ROMANI, Elisabeth (2011). Design do Livro-Objeto Infantil. Tese de
Mestrado em Design e Arquitetura. Faculdade de Arquitetura e Planeamento
Urbano, Universidade de São Paulo – Brasil.
SALISBURY, Martin (2005). Ilustración de libros infantiles. Barcelona:
Editorial Acanto.
TREBBI, Jean-Charles (2012). The Art of Pop-Up: the magic world of
three-dimensional books. Barcelona: Promopress.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 57
8
Edição original de 1963.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
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9
Nas áreas da educação pré-escolar, da saúde e da psicologia infantil têm surgido algumas
publicações relevantes, ainda que nem sempre rigorosas na abordagem das tipologias editoriais e
géneros literários. Uma exceção interessante, ainda que esquemática, é a classificação proposta por
Zeece (1996), mas haverá muitas outras, inclusivamente mais atuais. Na perspetiva do design do
livro-objeto infantil, ver também Romani (2011).
10
Sobre estes livros, ver também, Kümmerling-Meibauer & Meibauer (2005).
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60
toy books, board books, soft books, etc. Veja-se que incluem elementos
muito diferenciados que vão desde o material utilizado no fabrico dos
livros, aos destinatários preferenciais, incluindo os usos das publica-
ções e o seu conteúdo. As traduções para língua portuguesa também
apresentam problemas semelhantes: livro-brinquedo, livro-objeto, livro
de imagens, livro cartonado, livro para bebés, livro de pano, livro de
banho... A sua inclusão em catálogos de brinquedos, para além da forma
‘composta’, integrando jogos, sons, objetos, reforça o caráter híbrido
destas publicações cuja materialidade é decisiva em termos de distin-
ção em relação aos livros infantis de formato mais tradicional, exigindo
um tipo de ‘leitura’ que excede claramente o único sentido da visão,
propondo uma experiência sensorial (e emocional também, como tenta-
remos demonstrar) alargada.
Em comum, para além do formato reduzido, das cores atrati-
vas, dos materiais adequados e resistentes à manipulação por bebés e
crianças pequenas, cartonados, plastificados, mas também de tecido,
às vezes combinando diferentes propostas, estas publicações caracteri-
zam-se pela proximidade aos brinquedos, pela funcionalidade relevante
ao nível do desenvolvimento da linguagem e do vocabulário, além da
interatividade que proporcionam. Trata-se, igualmente, de publicações
que promovem um contacto precoce com o livro-objeto e com as regras
do seu uso, tanto em termos de manipulação e uso, como de postura e
atenção, favorecendo a construção de representações concretas, além
de positivas e estimulantes, sobre o livro e a leitura. A questão do sen-
tido da manipulação das páginas e da observação/leitura também surge
associada aos comportamentos emergentes de leitura que exigem ensi-
no/aprendizagem, dado que estes não são inatos e carecem de modelos
e de prática.
3. Considerações finais
Na globalidade, e apesar das diferenças existentes em termos de
materiais e tipologias editoriais, verifica-se, como elementos transver-
sais às publicações a presença de texto muito simples, com recurso a
vocabulário do quotidiano. Quando existe uma narrativa, esta é contada
com recurso a estruturas paralelísticas, que tiram partido de elemen-
tos sonoros, como o ritmo, as rimas e as repetições. Também no caso
das formas narrativas ou com alguma pretensão de narratividade, como
acontece com o livro de imagens, verifica-se a opção por um número
muito reduzido de personagens que desenvolvem uma ação sequencial,
caracterizada pela linearidade temporal e que tem lugar num espaço li-
mitado, sempre fechado e circunscrito à casa. Mesmo quando os criado-
res recorrem a personagens animais, estas apresentam comportamentos
humanizados, muito próximos dos infantis.
As imagens exploram a expressividade e o poder atrativo das
cores e das formas, recorrendo sobretudo às cores primárias ou a cores
11
Existe ainda uma muda de roupa para o ursinho que pode ser vestida e despida.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 67
Referências bibliográficas:
Obras analisadas:
(2013). It’s time to sleep. New York: St. Martin Press.
PAUL, Cinco & DAURIO, Ken (2010). Sleepy Kittens (Despicable
Me). New York: Little, Brown and Company / Hachette Books Group (ilustra-
ções de Eric Guillon).
SWARTZ, Danna V. (2015). Good Night Teddy. New York: Barron’s
Education Series. (ilustrações de Marie-Hélène Grégoire).
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 69
Estudos:
GALBRAITH, Mary (1998). “Goodnight Nobody” Revisited: Using an
Attachment Perspective to Study Picture Books about Bedtime”. Children’s
Literature Association Quarterly, 23(4), pp. 172-180
GRIFFTH, Kathlyn & TORR, Jane (2003). “Playfulness in children’s
picture books about bedtime: Ambivalence and subversion in the bedtime
story”. Papers: Explorations into Children’s Literature, 13(1), pp. 25-32.
KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina (2015). “From baby books to
picturebooks for adults: European picturebooks in the new millennium”. Word
& Image, 31 (3), pp. 249-264
KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina (ed.) (2011). Emergent Lite-
racy. Children’s books from 0 to 3. Amsterdam: John Benjamins Publishing
Company
KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina & MEIBAUER, Jorg (2005).
“First Pictures, Early Concepts: Early Concept Books”. The Lion and the Uni-
corn, 29:3, pp. 324-347.
NIKOLAJEVA, Maria (2008). “Play and playfulness in postmodern
picturebooks”. in SIPE, Lawrence R & PANTALEO, Sylvia (ed.), Postmodern
Picturebooks: play, parody, and self-referenciality, New York: Routledge re-
search in Education, pp. 55-74.
ROMANI, Elisabeth (2011). Design do Livro-Objeto Infantil. São Pau-
lo: Universidade de São Paulo, Tese de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo.
ZEECE, Pauline Davey (1996). “Best Beginnings: Literature for the
Very Young”. Early Childhood Educational Journal, 24:2, pp. 107-111
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 71
5. Do livro-álbum ao livro-brinquedo:
Tobias às fatias e outros livros “fatiados”
Carina Rodrigues
1. Prolegómenos
que caracteriza estes volumes, que terão possivelmente que ver com
uma dimensão mais lúdica e instrumental que lhes surge associada. A
verdade é que, à medida que foi evoluindo e se evidenciaram as suas
potencialidades no desenvolvimento de competências emergentes de
literacia/leitura, o livro-álbum, enquanto objeto artístico ou plástico-
-literário, também viu alteradas as suas convenções formais e serviu de
terreno para novos formatos editoriais, ampliando os seus âmbitos de
análise e interpretação.
12
In <http://lerbd.blogspot.pt/2009/11/animalario-universal-do-professor.html>.
13
Vide, entre outros exemplos para adultos, o célebre e fascinante Cent mille milliards de
poèmes (1961), do francês Raymond Queneau.
14
Ainda no século XIX, recordem-se os criadores alemães Lothar Meggendorfer, com
Mon oncle tonton (1890) e Ernest Nister, com Ride a cock horse (1896). No âmbito da edição
mais recente, destaquem-se os nomes de Kveta Pacovska, com Midnight play (1993), ou Norman
Messenger, com os títulos Making faces e Famous faces (1995) ou, ainda, Imagine (2005).
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
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Porventura mais
próxima do livro interati-
vo do que do livro-álbum,
esta edição, de capa mole e
isenta de mancha vocabu-
lar, sobretudo incluída com
o desígnio de diversificar a
série (também em termos
formais), não patenteia à
primeira vista uma lógica
causal pré-determinada, Figura 17 - Animalário Universal
do Professor Revillod
distanciando-se da estrutu-
ra-modelo (a narrativa) que
suporta o resto da coleção. Não obstante, oferece-se como um diverti-
do catálogo e caderno de atividades, capaz de devolver à leitura − das
imagens − a sua carga de humor e surpresa, e de corroborar o poder
comunicativo do livro pela sua forma, cor e desenho, mesmo perante a
ausência de texto.
Originalmente publicado em 200315, o Animalário Universal do
Professor Revillod (fig. 17), com texto de Miguel Murugarren e ilustra-
ções de Javier Sáez Castán − autor do célebre Soñario, o diccionario de
sueños del Dr. Maravillas (2008), obra engenhosa e inusitada, construí-
da segundo o mesmo formato −, chega aos escaparates portugueses em
2009, com a chancela da Orfeu Mini.
Alvo de inúmeros e importantes galardões, este “fabuloso alma-
naque da fauna mundial”, como se (auto)descreve no subtítulo, reúne
um admirável conjunto de 16 estampas de animais, cortadas vertical-
mente em três partes, possibilitando uma infinidade de combinações,
concretamente de “4096 feras diferentes com a descrição dos seus
modos de vida”. Do “ELE-FAN-TE” ao “VA-LI-RONTE” (espécie de
15
Pelo Fondo de Cultura Económica, México.
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16
Originalmente publicado em Genebra, pelas Éditions Notari, com o título Et pourquoi
pas toi?
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DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 81
4. Em síntese
A personalidade camaleónica do livro-álbum e a sua capacidade
de permear-se aos mais distintos formatos − e aos mais variados jogos
interpretativos − têm favorecido a sua escolha para arrojadas experi-
mentações criativas, cuja manipulação e interatividade o afastam do
formato tradicional do livro, situando-o num limbo entre o livro-objeto
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
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Referências bibliográficas
Obras analisadas
BACELAR, Manuela (1990). Tobias às fatias. Porto: Porto Editora
(Col. Tobias, 5).
MURUGARREN, Miguel & SÁEZ CASTÁN, Javier (2009). Animalário
Universal do Professor Revillod. Lisboa: Orfeu Negro (Col. Orfeu Mini).
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DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 83
Estudos
BECKETT, Sandra L. (2009). Crossover Fiction: Global and Histori-
cal Perspectives. New York: Routledge.
CAILLOIS, Roger (2007). Os jogos e os homens. Porto: Cotovia.
CONNAN-PINTADO, Christiane, GAIOTTI, Florence & POULOU,
Bernadette (Dir.) (2008). Modernités n.º 28 («L’album contemporain pour la
jeunesse: nouvelles formes, nouveaux lecteurs»), Bordeaux: Presses Universi-
taires de Bordeaux
FOULQUIER, Francine (2012). “L’album, terrain d’aventure”. La Re-
vue des livres pour Enfants, 264, pp. 90-103.
KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina (2015). “From baby books to
picturebooks for adults: European picturebooks in the new Millennium”. Word
& Image, 31(3), pp. 249-264.
MORLOT, Philippe (2014). “Le livre-objet et l’émergence de l’enfant
lecteur”, Le Français aujourd’hui, 186, pp 105-113.
NIÈRES-CHEVREL, Isabelle (2009). Introduction à la littérature de
jeunesse. Paris: Didier Jeunesse.
RAMOS, Ana Margarida (2011). “Apontamentos para uma poética do
livro-álbum contemporâneo”. in ROIG RECHOU, Blanca-Ana, SOTO LÓ-
PEZ, Isabel & NEIRA RODRÍGUEZ, Marta (coord.), O livro-álbum na litera-
tura infantil e xuvenil (2000-2010), Vigo: Xerais, pp. 13-40.
RAMOS, Ana Margarida (2016). “On the liminality of the picturebook:
the case of the mix-and-match books”. History of Education & Children’s Li-
terature, XI, 1, pp. 205-213.
SCOTT, Carole (2014). “Artists’ books, altered books and picture-
books”. in KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina (Ed.), Picturebooks: Re-
presentation and Narration. New York: Routledge, pp. 37-52.
STAEBLER, Catherine (2014). L’album mis en jeu. Un espace édito-
rial ouvert − en mouvement. Toulouse: Institut supérieur des arts de Toulouse,
Mémoire DNAP-Design Graphique.
VAN DER LINDEN, Sophie (2013). Album[s]. s/l: Éditions De Facto/
Actes Sud.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 85
1. Introdução
A produção editorial voltada para o público formado por crianças
e jovens no Brasil ganhou novo fôlego a partir da década de 1970 com
a geração de escritores identificada como “os filhos de Lobato”. Essa
nova geração promoveu uma rutura com a conceção utilitária vigente
na literatura infantil e juvenil, elevando-a à categoria de produção ar-
tístico-literária pela adoção de um novo modelo discursivo: o discurso
estético. Este discurso desenvolveu-se não apenas na parte verbal, mas
também na parte visual dos livros, fazendo emergir um crescente pro-
tagonismo das ilustrações na produção editorial destinada à infância.
Como consequência, o trabalho do ilustrador passou a ser considerado
tão significativo e importante quanto o trabalho do escritor na confor-
mação das obras, equiparando-se, progressivamente, o estatuto de au-
toria de ambos.
Na década posterior, um dos fenómenos editoriais que corrobora-
ram a expansão do prestígio dos ilustradores foi o aumento expressivo
das publicações de livros de imagem17, nos quais as histórias contadas
apenas pelas ilustrações ensejavam novas perspetivas de leitura. Essa
expansão levou, inclusive, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Ju-
venil (FNLIJ18) a incluir, no seu Prémio FNLIJ 1982 – Produção 1981,
17
No Brasil, o que se denomina livro de imagem encontra correspondência em Portugal
com o que se denomina livro-álbum exclusivamente visual.
18
A FNLIJ, secção brasileira do IBBY, é uma instituição que desenvolve o seu trabalho
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
86
na área da promoção da leitura e da literatura, e que confere anualmente o Prémio FNLIJ aos me-
lhores livros em diferentes categorias. A FNLIJ também indica, anualmente, uma relação de livros
para a composição do Acervo Básico e outra, mais restrita, de livros Altamente Recomendáveis.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 87
19
Furnari também já ilustrou livros de outros autores, incluindo clássicos como Erico
Verissimo, que teve toda a sua obra destinada à infância reeditada no início dos anos 2000 pela
Companhia das Letrinhas.
20
A transparência decorrente da baixa gramagem das páginas só não interfere negativa-
mente na leitura porque as imagens são impressas somente na face ímpar da folha.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 91
21
Grampos ou agrafos. A encadernação canoa ou grampo é “a forma mais simples e, con-
sequentemente, a mais rápida e barata para a confecção de brochuras. Os cadernos são encaixados
uns dentro dos outros, sendo unidos por grampos na dobra” (Romani, 2011: 63).
22
Disponível em https://br.pinterest.com/pin/55802482857948760/. Acesso em 6 de maio
de 2016.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
92
23
Aqui reproduzidas em tons de cinza, e não em suas cores originais.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 93
24
Uma das versões da parlenda é a seguinte: Quem cochicha | O rabo espicha | Como pão
| Com lagartixa | Quem reclama | O rabo inflama | Quem escuta | O rabo encurta.
25
Género da tradição oral popular cujos versos são recitados para entreter, acalmar, di-
vertir as crianças ou, ainda, para escolher quem vai iniciar o jogo ou quem deve tomar parte da
brincadeira.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 95
Figura 27 Figura 28
26
Frase curta, geralmente de origem popular, com ritmo e rima, rica em imagens, que
sintetiza um conceito a respeito da realidade ou de uma regra social ou moral.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
96
Figura 29 Figura 30
Figura 31 Figura 32
Figura 33 Figura 34
Figura 35 Figura 36
Figura 37 Figura 38
5. Considerações finais
Referências bibliográficas:
Obras analisadas:
FURNARI, Eva (1986a). Quem cochicha o rabo espicha. São Paulo: FTD.
______ (1986b). Quem embaralha se atrapalha. São Paulo: FTD.
______ (1986c). Quem espia se arrepia. São Paulo: FTD.
Outras obras:
BERGSON, Henri (1980). O riso: ensaio sobre a significação do cômi-
co. Tradução de Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar.
BIBIAN, Simone (2006). O menino, o cachorro / O cachorro, o meni-
no. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Manati.
CADÔR, Amir Brito (2012). “O signo infantil em livros de artista”.
Pós: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, 2(3),
pp. 59-72.
D’ANGELO, Biagio (2013). “Entre materialidade e imaginário: atuali-
dade do livro-objeto”. IPOTESI, 17(2), pp. 33-44.
FURNARI, Eva (2012). “Entrevista”. in MORAES, Odilon; HAN-
NING, Rona; PARAGUASSU, Maurício. Traço e prosa: entrevistas com ilus-
tradores de livros infantojuvenis. São Paulo: Cosac Naify, pp. 48-67.
HELD, Jacqueline (1980). O imaginário no poder: as crianças e a lite-
ratura fantástica. Tradução de Carlos Rizzi. São Paulo: Summus.
HUIZINGA, Johan (1993). Homo ludens. 4. ed. Tradução de João Pau-
lo Monteiro. São Paulo: Perspectiva.
PAIVA, Ana Paula Mathias de (2010). A aventura do livro experimen-
tal. Belo Horizonte/São Paulo: Autêntica/Edusp.
ROMANI, Elizabeth (2011). Design do livro-objeto infantil. Disserta-
ção de Mestrado em Design e Arquitetura – FAUUSP (Faculdade de Arquite-
tura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).
SERRA, Elizabeth (org.) (2013). A arte de ilustrar livros para crianças
e jovens no Brasil. Rio de Janeiro: FNLIJ, pp. 64-65.
http://bibliotecaevafurnari.com.br/biografia. Acesso em 24 de abril de
2016.
http://www.evafurnari.com.br/pt/. Acesso em 24 de abril de 2016.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 101
1. Introdução
O objetivo deste capítulo é analisar um livro-álbum desdobrável
de grandes dimensões, publicado pela Kalandraka Editora, na Galiza,
em 2015, intitulado Balea27, da autoria de Federico Fernández e Ger-
mán González. Para compreender melhor o contexto no qual surge esta
proposta editorial, realiza-se um breve enquadramento das principais
etapas da Literatura Infantil e Juvenil galega, com especial atenção às
propostas de livros desdobráveis, e analisam-se as características dos
antecedentes da obra objeto de análise. Seguidamente, aborda-se, com
pormenor, a obra selecionada, observando as suas características para-
textuais e as suas potencialidades de leitura, fechando com umas con-
clusões e com a bibliografia usada.
27
Fernández, Federico e Germán González (2015). Balea. Pontevedra: Kalandraka Edito-
ra, [12 pp.] (ISBN: 978-84-8464-977-9).
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102
28
Anteriormente não pode ser ignorada a produção incipiente que foi lançada no último
terço do século XIX, durante o Rexurdimento, assim como o trabalho de grupos como as Irman-
dades da Fala nas primeiras décadas do século XX e até mesmo o dos exilados durante a ditadura
franquista, que aparecem estudados com pormenor na Historia da Literatura Infantil e Xuvenil
galega, coordenada por Blanca-Ana Roig Rechou (Xerais, 2015).
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 103
29
E mesmo ibérico, pela forte implementação de algumas editoras nos territórios das
diferentes línguas do Estado espanhol, para além de Portugal
30
Neste formato publicou-se precocemente uma versão reduzida do conto clássico Cara-
puchiña vermella (Hemma, 1990) e mais recentemente Por favor, comparte! (A Nosa Terra, 2008),
A araña máis intelixente (Baía Edicións, 2008) ou A princesa perfecta (Baía Edicións, 2009).
31
Atrás das quais se inclui informação relativa a conceitos ou partes do corpo, como em
Ola bebé! e Son un bebé!, ou ampliam informação que incide no fomento e na aquisição de hábi-
tos, como em A vestirse! (2009) ou ainda recorrem a estratégias próprias da transmissão oral para
propiciar o jogo de identificação dos membros da família, como em Cucú, onde estou? (2008),
todos eles publicados por A Nosa Terra na coleção “Os libros de Tatá” e ilustrados por Ana Mar-
tín Larrañaga. É também o caso da série Os Bolechas, publicada por A Nosa Terra em 2007 que
inclui As crías, A roupa, As tendas e O tempo, de Pepe Carreiro, a partir de um conceito original
de Emma Books Ltd.
32
É o caso de A granxa e O xardín, ilustrados por Ana Martín Larrañaga e publicados em
2008 na coleção “Os libros de Tatá”, de A Nosa Terra, nos quais os orifícios, abas e tecidos estão
ao serviço da experimentação visual e tátil; mas também de “Toca toca”, de Engaiolarte Edicións,
que em 2015 publicou Cachorros, Cores, Selva e Sons, quatro livros de contrastes, texturas e volu-
mes ilustrados por Fhiona Galloway e desenhados por Claire Munday, dirigidos a crianças a partir
de um ano e destinados ao desenvolvimento da estimulação tátil e visual, baseados na técnica de
“gofrado” (relevo no papel).
33
Como a dos volumes O coche, O barco, O avión e A locomotora, publicados por Su-
saeta em 2002.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
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34
Como a coleção “Sons e tacto” com títulos como Animais de granxa e Animais de com-
pañía, de Baía Edicións, publicados em 2011, que apresentam texturas com tecidos que imitam
a sensação tátil da pele dos animais protagonistas e emitem o som que os caracteriza, com uma
grande dose de realismo.
35
Como os da coleção “Dediños”, da editora Tambre, que, em 2004, publicou oito títulos
nos quais se selecionam e adaptam rimas e canções infantis para contar, sortear, jogar..., tomadas
da tradição oral
36
Materiais que, até ao momento, têm sido pouco explorados, mas contam com alguns
títulos para os mais pequenos, como Boas noites! (Kalandraka, 2004), os livros laváveis dos Bo-
lechas Xogamos co corpo (A Nosa Terra, 2008) e Xogamos na piscina (A Nosa Terra, 2008), com
texto e ilustrações de Pepe Carreiro, e ideia de Emma Treehouse Ltd.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 105
37
Estes volumes conheceram uma longa trajetória e tiveram grande interesse para o públi-
co infantil e adulto, como evidencia a exposição organizada pela Biblioteca Nacional de Espanha
sob o título “Antes del pop-up: libros antiguos en la BNE”, uma mostra comissariada por Gema
Hernández Carralón e Mercedes Pasalodos, composta por meia centena de exemplares dos últimos
sete séculos que permaneceu aberta ao público entre 11 de junho e 11 de setembro de 2016 na
Biblioteca Nacional de Espanha, em Madrid.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
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38
Juntamente com “A Galea de Ouro” e dirigidas ambas pela pedagoga catalã Marta Mata
i Garriga. Esta coleção apresenta capa dura, formato grande, muitas ilustrações de todas as cores,
pouco texto (cerca de vinte páginas), vocabulário, uns exercícios de compreensão textual e uma
cantiga musicada no final de cada obra. Apesar de serem anunciados onze títulos, só se traduziram
para galego dois que, não obstante estarem prontos em 1966, não foram postos à venda até 1967,
por causa das dificuldades com que se debatia uma editora de cariz galeguista durante a ditadura
(Domínguez, 2009: 41).
39
Embora estivessem anunciados dezassete títulos. Tratou-se, provavelmente, de um fra-
casso porque a seleção foi realizada pela editora de Barcelona tendo em conta os seus interesses e
o seu ritmo de publicação e não os livros que seriam mais bem aceites pelos consumidores galegos
(Domínguez, 2009: 43).
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 107
40
Durante este período, vieram a lume outras coleções de desdobráveis como “Árbore
espazos”, publicada entre 2003 e 2005, por Editores Asociados/Galaxia, e que inclui os títulos
O Circo, A praia, O zoolóxico, O campamento, O parque de atraccións e A neve, seis propostas
de doze páginas que se desdobram, pensadas para pré-leitores. Semelhantes a quebra-cabeças, é
necessário segmentar a sequência de imagens para descobrir a resposta às perguntas que aparecem
na contracapa. Também a coleção “Pimpín por aquí non vin”, publicada pela própria Galaxia em
2008 e 2009, inclui seis livros acordeão, ilustrados por Jacobo Fernández Serrano (Vigo, 1971),
que recriam cenas e motivos de festas anuais galegas, como o Natal, o “Samaín”, o Entrudo, o
Magusto, os Maios e o São João, que, de um lado, representam unicamente cenas próprias de cada
festividade e, no outro, além das ilustrações, também incluem algumas perguntas de compreensão
e palavras relacionadas com a temática de cada obra. Deste modo, os primeiros leitores, além co-
nhecerem os ambientes e os rituais destas festividades, também aprendem as primeiras palavras.
Entre as últimas publicações, importa referir as obras Na granxa e Contando, de Engaiolarte Edi-
cións (2014), ilustradas por Maxine Davenport e Cindy Roberts, que estão pensadas para o desen-
volvimento visual dos bebés, com a associação de imagens a conceitos em torno dos números e as-
petos do mundo mais próximo das crianças pequenas, como os animais domésticos, por exemplo.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 109
41
Licenciado em Belas Artes pela Universidade de Vigo, é docente na Escola Municipal
de Artes e Ofícios de Vigo. Ganhou o Prémio Nacional de Ilustração em 2001, em Espanha, com o
livro-álbum Onde perdeu Lúa a risa? É um dos promotores do espaço cénico El Halcón Milenario
(http://halconmilenario18.blogspot.com.es/) e ilustrou outras obras como Chibos chibóns (Kalan-
draka, 2003) ou Don Agapito o apesarado (Kalandraka, 2008).
42
Licenciado em Belas Artes pela Universidade de Vigo, leciona artes plásticas e desenho
em escolas de Vigo e Ponteareas. Promotor de iniciativas culturais, é dos fundadores do espaço
cénico El Halcón Milenario.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
110
Aliás, neste caso, chama a atenção o formato, uma vez que a con-
ceção material do livro recorre ao formato do acordeão e às dimensões
de 14 cm de largura por 33,5 cm de altura, mas, uma vez desdobrado, as
dimensões aumentam significativamente, passando a ser de um metro e
quarenta centímetros de largura, convertendo-se num grande mural de
dupla face que se pode pendurar pelos dois orifícios que apresenta na
parte superior da capa e contracapa.
Neste projeto resulta evidente o cuidado editorial, tanto pela ele-
vada qualidade material, como pela capa e contracapa coladas à mão,
assim como a decisão de respeitar, de modo inequívoco, a conceção
de um livro-álbum sem palavras43, tendo sido encontrada uma solução
muito inteligente para resolver as dificuldades encontradas. Assim, o
título, os créditos editoriais, a dedicatória, o nome dos criadores e uma
nota de apresentação nas quatro línguas do Estado espanhol, textos
obrigatórios num objeto editorial (Bosch, 2012: 76), aparecem numa
bolsa de cartão que recobre a capa. Trata-se de um invólucro amovível
que inclui os únicos textos do volume e que é necessário remover para
aceder, de forma completa, à informação presente na capa e na contra-
capa, que fazem parte do corpo visual da obra, ficando apenas o nome
43
Tal como confessou o próprio Federico Fernández, numa conversa que teve lugar no
mês de maio de 2016, os criadores e a equipa editorial realizaram diferentes reuniões e mantive-
ram um diálogo constante para chegar a um consenso de modo a que, em primeiro lugar, fosse
respeitada a natureza de um livro-álbum sem palavras, tendo surgido a ideia de criar para a obra
uma “camisa” para alojar os textos inevitáveis em qualquer livro, tendo sido esta uma ideia da
designer da editora.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 111
44
De facto, Federico Fernández conta, na sua trajetória, com exposições cujos elementos
centrais eram robots. Assim, também a experimentação pictórica é uma das suas vertentes de
atuação e, nesta obra, quis levar a parte pictórica às ilustrações, vinculando ambas as facetas. No
caso de Germán González, fez, há três anos, uma exposição de aguarelas nas quais o detalhe e as
pequenas dimensões eram alguns dos traços caracterizadores.
45
Tal como explicou na conversa já mencionada anteriormente.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
114
46
Que, sem dúvida, remetem os leitores mais pequenos para todos os aparelhos mecâ-
nicos que aparecem nas séries de desenhos animados dos canais infantis, como El pequeño reino
de Ben y Holly, série criada por Mark Baker, em 2009, de grande êxito na atualidade entre este
público.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 117
47
Cujo nome é Pink Panzer, referência biográfica comum a ambos criadores, que integra-
ram um grupo musical com este nome, no qual também participou, como baterista, a esposa de
Federico Fernández. Nas apresentações que fizeram desta obra, usaram um vídeo de animação cuja
banda-sonora incluía alguns temas musicais desta banda.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
118
amarelos que os cobrem da cabeça aos pés, o que pode ser interpretado
como sinal de igualitarismo, sem a presença de hierarquias, nem de
elementos categorizadores. Trata-se, pois, de uma sociedade utópica e
feliz, tal como refletem as suas atitudes e expressões, nas quais são per-
feitamente visíveis o sossego, a tranquilidade e a afabilidade. As agua-
relas coloridas, da autoria de Germán González, usadas na representa-
ção de personagens e espaços, dão profundidade às figuras e criam um
estilo clássico em termos da imagem global da obra, onde a imaginação
é o elemento fundamental para recriar o que sucede nas múltiplas salas
do cetáceo mecânico. Predomina o recurso a cores quentes (amarelo,
laranja, castanho), que criam espaços acolhedores, cheios de vida e
harmonia, sugestões semânticas que se estendem à sociedade recriada,
contrastando com as tonalidades frias dos materiais da estrutura mecâ-
nica, que, neste caso, funciona como uma estrutura óssea que organiza
as diferentes secções, dentro da qual se destacam também as condutas
que, à semelhança de órgãos, percorrem diferentes secções e ocupam
espaços internos da estrutura. Desenvolve-se, assim, um rico jogo di-
cotómico, que assenta em eixos temáticos como dentro/fora, artificial/
natural, mecânico/humano.
Nesta amálgama de habitáculos é de assinalar a configuração ra-
cional da distribuição dos espaços, a correlação interna das zonas, a
atenção ao mínimo detalhe, assim como o recurso ao humor, à paródia,
à ironia ou aos elementos escatológicos, que pontuam as situações in-
ternas e externas do cetáceo e que promovem o riso cúmplice do obser-
vador. Nesta comunidade utópica, na qual homens e mulheres exercem
papéis semelhantes, plasma-se a vida diária de uma comunidade onde
há tempo para o trabalho, o lazer, o descanso, a criação artística... Sur-
gem também os diferentes estádios da vida humana, gerações diferentes
que vão desde a infância até à velhice, as relações sociais, o convívio,
a prática de diferentes expressões artísticas (pintura, música, cinema),
o cuidado com o corpo, a experimentação... Esta sensibilidade e equi-
líbrio interno estendem-se também à relação com o meio ambiente, ao
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 119
4.2. O exterior
A correspondência com o desenho interior manifesta-se nos ele-
mentos que comunicam com o exterior, que, neste caso, se podem ob-
servar em pormenor, como as divisões verticais do aparelho, os peris-
cópios, as hélices, os mecanismos manuais de propulsão e as portas de
acesso, aos quais se junta a âncora que sai pela abertura correspondente
ao olho. Ao longo das cinco secções que configuram esta perspetiva,
observa-se a atividade no mar de homens e mulheres que, ataviados
com botijas de oxigénio, desenvolvem tarefas de manutenção e limpeza
das diferentes partes do cetáceo. Com eles interage um elevado número
de exemplares de espécies marinhas, mais numerosos na parte central,
que navegam no sentido da baleia, imitando a relação simbiótica que
mantêm entre si algumas espécies. Sobressai também, neste espaço, o
48
Pode ver-se uma amostra da sua produção em: http://www.spiegel.de/einestages/ali-mi-
tgutsch-erfinder-der-wimmelbuecher-wird-80-a-1047680.html (consultado a 23 de maio de 2016).
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49
Tal como explicou Federico Fernández na conversa referida, foram muitas as reuniões
dos criadores e dos responsáveis da editora (diretor, designer, etc.) para decidir questões que afe-
tavam o design gráfico, como a bolsa removível, na qual se incluíram vários textos e informações
sobre os créditos autorais e editoriais e a apresentação, a decisão de não realizar guardas, de que
capa e contracapa fossem coladas à mão, etc.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
122
5. Algumas conclusões
Referências bibliográficas
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AZEVEDO et alii (coords.). Imaginário, Identidades e Margens. Gaia: Gaili-
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‘libro livro-álbum sin palabras’ y la respuesta lectora”, Reflexiones margina-
les, 3(18), http://reflexionesmarginales.com/3.0/22-imagenes-que-invitan-a-
-pensar-el-libro-album-sin-palabras-y-la-respuesta-lectora/. Também em 2014
Revista Emília, http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=380 (consul-
tado a 25 maio 2016).
BALLESTER, Josep e Noelia IBARRA (2009). “La enseñanza de la
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issuu.com/revistabloc/docs/bloc6) e também em Imaginaria (2012) (http://
www.imaginaria.com.ar/2012/01/el-juego-de-pululeer-y-juegos-para-releer/#-
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APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 125
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 129
1. Introdução
50
Na página web da empresa Ferrero podemos ler um texto sobre a história deste produto
que diz assim: “Desde 1974, KINDER® SURPRESA® delicia as crianças com doçura, fazendo
com que elas brinquem de uma maneira surpreendente. Um ovo, um simples ovo de chocolate que
se transformou numa idéia revolucionária, o prêmio ideal que cada criança deseja, justamente pelo
seu interior sempre surpreendente. Desde os dias em que nasceu a idéia, desenvolveram-se mais
de 8.000 surpresas e venderam-se no mundo inteiro mais de 30 bilhões de unidades. Cada ano
criam-se mais de cem jogos e gadgets novos, com uma procura contínua de materiais novos e de
mecanismos engenhosos: um estímulo contínuo não somente para a fantasia e a criatividade, mas
também para o desenvolvimento de importantes capacidades tais como a lógica e a coordenação.
As surpresas Kinder projectam-se sem perder de vista a segurança e com uma rigorosa observân-
cia das normas vigentes e dos critérios de segurança adicionais voluntariamente adoptados pelo
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 133
51
Tradução nossa.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 135
52
Nos finais do século XIX, a partir da Grã-Bretanha, mas chegando ao restante mundo
anglófono, as histórias das crianças publicavam-se em periódicos de adultos, semanal ou mensal-
mente. Para capitalizar o seu mercado, as editoras começaram a reunir as melhores em anuários
cheios de histórias, ilustrações e jogos. Os livros eram lançados pelo Natal, e comercializados
como o presente perfeito, já que era ao mesmo tempo divertido e educativo para as crianças. Estes
anuários antigos são geralmente livros de capa dura, brilhante e atraente, com pelo menos 200 pá-
ginas e ilustrações a cores e a preto e branco. Já no século XX os editores passaram a incluir novas
histórias inéditas, a fim de impulsionarem as vendas. Autores reconhecidos, como Enid Blyton por
exemplo, estavam entre os que neles figuravam. Cada anuário tinha um mercado específico, ora
dirigido a meninas, a meninos ou a ambos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o racionamento do
papel afetou a qualidade e quantidade de livros publicados, tendo cessado a produção para muitos.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
136
53
Um dos brinquedos que a minha mãe recorda era um ursinho deitado numa cama e
que, dada a corda, se levantava, espreguiçava e emitia um flatulento e divertido ruído que punha a
criançada a rir com a mão a tapar a boca.
54
http://www.edcities.org/ e http://www.edcities.org/wp-content/uploads/2013/10/Carta-
-Portugues.pdf
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
138
diferentes maneiras de “pegar” num livro – e, mais tarde, num texto – e que
cada vez que lhe pegarmos será como ouvir outra vez aquela história, com
maior ou menor ênfase neste ou naquele pormenor. É só preciso estar-se
atenta e entrar no jogo de encenação que o livro nos pede.
Quando vou abrindo Popville, percebendo que no fim eu vou ter
aquele cenário de cidade erguida a partir das páginas e do meu gesto, eu-
-criança, ao meu ritmo, vou lembrar o gesto acompanhado pela voz que me
contou a história daquela cidade e posso, até, pegar nos meus carrinhos e
nos meus soldadinhos de chumbo, ou upgrades mais modernos, e fazê-los
entrar naquelas páginas.
Sozinha, a pegar no livro-objeto que o adulto antes lhe apresentou,
a criança está já a alimentar-se do que a leitura literária, nutritivamente,
nos dá também a nós adultos leitores: aprender a escolher do que se gosta,
depois de se conhecer tudo ou quase. Trazer para aquele ato, que é a leitura
individual, todas as ferramentas que facilitem o convívio com o suporte
onde se encontra, escondido, o que verdadeiramente constitui o nutriente
alimento do livro: o pensar. Para mais tarde, um dia quando crescer, que é
o que os alimentos também ajudam a fazer, poder saber como agir e reagir.
6. Concluindo
Referências bibliográficas:
Obras analisadas:
BOISROBERT, Anouck; RIGAUD, Louis (2010). Popville. Figueira da
Foz: Bruaá editora.
(s/d). La Casita de Azúcar o Pedrito y Maruja en 6 dioramas. Barcelo-
na: Editorial Roma.
Estudos:
KOTLER, Philip e BES, Fernando Trias de (2015). Marketing Lateral.
Coimbra: Edições Almedina.
PERROT, Jean (1999). Jeux et enjeux du livre d’enfance et de jeunesse.
Paris: Éditions du Cercle de la Librairie.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 145
Eliane Debus
Rosilene de Fátima Koscianski da Silveira
1. Introdução
55
Parte inicial deste texto foi publicado por Eliane Debus em Revista Presença Pedagó-
gica, v. 16, p. 46-50, 2010.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
146
com seus bebês no Presídio Madre Pelettir” (2009: 15), no Rio Grande
do Sul (Brasil). Estas pesquisadoras apresentam essa informação no li-
vro Programa Bebelendo: uma intervenção precoce de leitura, no qual
apresentam investigação com adultos do grupo familiar de crianças des-
sa faixa etária e cuidadores, e como esses são capazes de aproximar as
crianças da leitura.
Interessa-nos nestas páginas pensar, para além dos livros comer-
cializados pelo mercado editorial, e apresentar a possibilidade da cons-
trução de livros produzidos artesanalmente, sem desmerecer os livros
industriais, mas apontando novas possibilidades para além dessas.
que essa liberdade de buscar no outro o auxílio contribuiu para que a(o)s
aluna(o)s ousem na sua produção. Entram nesta tarefa o pai marceneiro,
a tia bordadeira, a avó costureira, a vizinha crocheteira, o namorado
desenhista, o marido/esposa designer, enfim, personagens que colabo-
raram na sua confeção e, por isso, se tornam coautores, sendo devida-
mente identificados na sua ficha catalográfica ou nos agradecimentos.
Buscamos levar em conta o exercício de manuseio, a leitura do
objeto (cheiro bom/ruim, as cores, a ilustração) e descentrar o olhar
somente sobre a leitura do código gráfico. Ao apropriar-se do contacto
físico com o livro, da sua materialidade e dos seus rituais estabelece-se
mais do que uma relação de efetiva leitura, existe uma leitura afetiva.
O manuseio pela criança do livro-objeto contribuirá por certo
para a sua relação afetiva e efetiva com o objeto livro. Passa-se da lei-
tura material do livro à leitura do texto. Acreditamos que a inserção da
criança no mundo lúdico da leitura literária através do livro artesanal
desfaz algumas ideias pré-concebidas, entre elas a de que a criança que
não descodifica o código escrito não é leitora (Debus, 2006).
Quando propomos a produção artesanal do livro não estamos
destituindo o valor e a validade do trabalho pedagógico com o livro
construído industrialmente com materiais alternativos (pano, plástico,
cartonado). O que sugerimos é a convivência e a permanência desses
objetos de forma harmoniosa no mesmo espaço institucional. Que seja
possível pensarmos esses artefactos como brinquedos que são e que
introduzem a criança no fascinante e ritualístico mundo da leitura.
56
Processo que se faz via textos literários e compreende uma dimensão diferenciada do
uso social desta forma de escrita assegurando seu efetivo domínio. Para saber mais, ver Cosson
(2012).
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152
57
Maria de Lourdes Ramos.
58
Débora Terezinha de Jesus.
59
Andréia Lopes.
60
Todas fotos usadas na ilustração deste texto pertencem ao acervo particular das pes-
quisadoras.
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DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 153
Sandie Mourão
61
Entrevista com Isabel Martins via Skype no dia 8 de outubro de 2012.
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62
Entrevista com Isabel Martins via Skype em outubro de 2012.
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162
Quando olho para um texto para ilustrar, não começo logo com de-
senhos. Começo a tentar imaginar o livro em si, é um todo. Quando
ilustramos para livros, estamos a ilustrar desenhos que se complemen-
tam entre si. Não são desenhos que supostamente funcionam sozinhos,
ou servem para viver sozinhos, são desenhos que vivem no meio dos
outros e dentro daquele livro e, por isso, às vezes não parece que o de-
senho precisa de ser espetacular, ou muito bonito para funcionar. Tento
que o livro seja bonito e o álbum, o objeto, seja bonito. (TSF Rádio
Notícias, 22 dezembro de 2011)
3.1 Pê de Pai
As palavras
Pê de Pai é um livro-álbum que nasceu quando Isabel Minhós
Martins estava a estender a roupa e o seu filhote rastejou por entre as
suas pernas: “Mãe túnel”, disse. Isabel riu-se e pensou que era uma
excelente ideia para um livro-álbum. Enquanto escrevia as palavras que
Bernardo Carvalho mais tarde ilustraria, decidiu que seria muito melhor
se fosse um pai e o seu filho, e assim surgiu o Pê de Pai63. É o livro mais
vendido da Planeta Tangerina, foi reimpresso sete vezes e tem recebido
prémios pelo seu design.
O texto verbal é formado por uma série de descritores metafóri-
cos de duas palavras, o nome pai mais um nome com valor adjetival,
replicando a experiência de Isabel, no seu quintal, enquanto estendia a
roupa, num registo em tudo semelhante às expressões telegráficas de
uma criança quando está a aprender a falar. Em português, as frases
fluem lindamente, criando cinco quadras com uma rima alternada, nos
segundos e quartos versos.
Pai casaco
Pai avião
Pai cabide
Pai travão
63
Já analisado, por exemplo, por Ramos (2010).
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Pai carrossel
Pai cavalinho
Pai túnel
Pai pequenino!
As ilustrações e o design
O formato do livro é bastante pequeno e a capa é dura, seme-
lhante à maior parte dos livros da Planeta Tangerina. A paleta de cores
é pastel escuro ou “tons terra” (Ramos, 2010: 38) – um tom comum aos
três títulos de que descrevo aqui. Entrevistei o Bernardo Carvalho, em
preparação para este texto64 e ele disse-me que este foi o primeiro livro
que concebeu usando exclusivamente ilustrações criadas a computador.
Para Bernardo Carvalho, este volume foi o seu livro de descoberta. O
criador optou por ilustrar cada frase telegráfica através de uma série
de figuras naïves minimalistas, recriando pai e filho sobre um fundo
monocolor. Cada cena está solidamente emoldurada numa página qua-
drada. Em cada página, são usadas três cores principais: uma para o
fundo, outra para o pai e outra para o filho. O texto manuscrito é, em
quase todas as ilustrações, da mesma cor do pai ou do filho, criando
um elo visual entre as palavras e as figuras. Ocasionalmente, formas
adicionais e uma ou outra cor são incluídas para acrescentar elementos
à ilustração, como acontece, por exemplo, com as botas e as pegadas
nas páginas 5 e 6 (fig. 49).
64
Entrevista, não publicada, realizada a Bernardo Carvalho no seu atelier em maio de 2013.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 165
Os peritextos
Considerando as capas, o fundo monocromático é replicado na
capa e na contracapa. Também nos peritextos mais importantes, há três
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 167
As ilustrações e o design
O tamanho e formato, assim como o uso do computador para
criar as ilustrações são iguais ao título anteriormente analisado, tal
como o recurso a uma paleta de cores reduzida. As cores utilizadas são
diferentes, desta vez não são tons terra, mas antes várias cores, com a
predominância de preto e branco ao lado de azul-marinho, vermelho e
verde seco, com duas páginas duplas (a primeira e a última) construídas
sobre o fundo laranja. O texto verbal é mais longo e detalhado, assim
como as figuras – cada uma usa roupas e tem feições mais definidas do
que o livro anterior. O livro todo é mais apertado e menos espontâneo,
sendo, por isso, um objeto completamente diferente de segurar e ler. As
palavras descrevem o coração de uma mãe:
O coração de mãe não é só um músculo que bate sem parar. É um lugar
mágico onde acontecem as mais extraordinárias coisas... O coração de
mãe está ligado a cada coração de filho por um fio fininho, quase invi-
sível.
É por causa deste fio que tudo o que acontece aos filhos faz acontecer
alguma coisa dentro do coração de mãe. (Martins e Carvalho, 2006:
1-2)
Os peritextos
A capa e contracapa estão unidas por uma única ilustração, uma
imagem invertida das páginas 19 e 20. O texto manuscrito na capa
equilibra a composição, uma extensão do cabelo da mãe, exatamente
alinhada com a cabeça e cotovelo do filho. Os nomes da escritora e
do ilustrador contornam as figuras, acariciando-as, como nas páginas
interiores do volume. A pose da criança cabe quase como um puzzle ao
lado da mãe, numa composição que satisfaz. O branco do fundo está
presente em todas as duplas páginas do livro, nomeadamente nas letras
ou algures nas figuras. Mas, as guardas quebram esse padrão do branco
– ao abrir o livro somos “bofeteados” com múltiplos corações, numa
combinação de verde e vermelho pulsantes. Os únicos que aparecem
no livro, porque não há nem a sombra de um coração nas ilustrações.
Como no livro anterior, a ficha técnica e a página de rosto são brancas:
as letras usam as quatro cores da história – preto, vermelho, verde e
azul. Também aqui as letras apresentam a forma de um trompete, como
se estivessem a ser chamadas.
Coração de Mãe é tudo menos piroso, Bernardo Carvalho trouxe
uma agressividade simpática à forma como os textos verbal e visual se
conjugam num todo coerente, criando um livro objeto de qualidade que
resulta da união dos papéis de ilustrador, designer e diretor artístico.
As palavras
Isabel Minhós Martins escreveu a prosa em pares, observando,
de forma muito original, a maneira como nós, adultos, gerimos o tem-
po. O livro começa assim:
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 173
Lá fora, o tempo passa por uma máquina de contar que faz contas aos
segundos e marca os dias sem enganos.
Cá dentro, os relógios não se preocupam em contar: ora abrandam dis-
traídos quando há muito que fazer, ora passam apressados quando não
há tempo a perder.
Mas, lá fora, o tempo não aprecia passeios nem corridas... e sempre por
isso, a toda a hora, grita palavras de ordem cá para dentro: Depressa
devagar. De manhã ao deitar, são estas as palavras que tomam conta do
meu dia... (Martins e Carvalho, 2009: 1-2)
As ilustrações e o design
A primeira dupla página é diferente do resto da história, já que o
texto verbal é aí uma massa condensada de linhas. Shulevitz escreveu
que “With few exceptions type is more readable than hand lettering”
(1985: 109), e a verdade é que a quantidade de texto manuscrito causa
aqui alguma interferência à legibilidade. Uma vez passada essa dupla
página, as seguintes apresentam um ritmo que segue os pares de ordens
ou conselhos, às vezes sob a forma de perguntas, que formam o resto
do texto: “Depressa, entre sem interromper. Mais devagar... aqui não se
pode correr” (p. 11-12). Ou “Devagar, o que estás tu a fazer? Depressa,
o que estás tu a pensar?” (p. 19-20). Cada dupla página mostra-nos uma
cena onde surgem relacionadas as duas ideias contrárias, uma apelando
à calma e outra à pressa, surgindo o advérbio sempre visualmente des-
tacado, de forma a enfatizar, como um refrão, a sua importância. Este é
o único livro do corpus que apresenta sempre uma ilustração a unir as
duas páginas, esquerda e direita (ímpar e par).
O estilo ilustrativo “encaracolado” de Bernardo Carvalho imita a
sua caligrafia manuscrita ou é ao contrário? Há linhas na ilustração que
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
174
Os peritextos
A capa e a contracapa preparam-nos para o invulgar estilo ilus-
trativo do criador, com as figuras sólidas e transparentes a partilharem
um olho e o texto manuscrito encostado sobre as figuras, refletindo as
suas cores. Os nomes da autora e do ilustrador passam pelo meio da
perna do “g” a mostrar, logo aqui, que os dois textos partilham a mes-
ma essência. As figuras na contracapa são tiradas de uma ilustração no
interior do livro e a sinopse aí incluída é parte do texto verbal da pri-
meira dupla página. Os outros dois álbuns usaram letra à máquina nas
suas contracapas, mas aqui Bernardo Carvalho deixou o manuscrito,
que completa bem este conjunto.
As guardas são uma celebração de arabescos! Decorativas em
todos os sentidos, mas preparando-nos para as curvas que se tornarão
palavras ou figuras, ao virar das páginas. Bernardo Carvalho criou duas
guardas diferentes, semelhantes em tudo exceto na troca do verde pelo
branco. A página de rosto, com fundo branco, como nos outros dois
65
Uma coletânea de breves poemas sobre animais escrita por Richard Zimler e publicada
pela Caminho Editora.
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 177
practice” (p. 64). Os livros foram criados num período de quatro anos
e podemos ver como o ilustrador progrediu no uso da mancha gráfica
como elemento visual da composição, e também como criador híbrido
de livros-álbum. Estes livros são lugares de encontro de texto, imagem
e design com o desígnio de que “o livro seja bonito e o álbum, o objeto,
seja bonito” (TSF Rádio Notícias, 22 dezembro de 2011).
Referências bibliográficas
Obras analisadas:
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Lisboa: Planeta Tangerina.
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Estudos:
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BORGES, Marta (2012). Planeta Tangerina. Tese de Mestrado. Porto:
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
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APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 179
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 181
Rosa Tabernero-Sala
para dar lugar à verdade ficcional, o que existe de verdade por trás da
ficção. Neste jogo de espaços produz-se uma rutura de níveis de ficção
que Genette (2004) designa por metalepse. A metalepse é uma forma
de metaficção que, de acordo com Lauro Zavala (2014: 1), “puede ser
considerada como uno de los recursos más radicales, lúdicos irónicos
y paradójicos del arte para contribuir a despertar o estimular la con-
ciencia ética y estética de los receptores”, características que resultam
de especial interesse quando se fala da formação de leitores. Assim, a
metalepse é a estratégia metaficcional que define a proposta discursiva
de todas as obras que potenciam a vertente material do livro na criação
de sentidos. Produz-se, deste modo, uma sobreposição de planos refe-
renciais que anulam a separação entre a realidade do leitor e a ficção do
discurso. O leitor passa a formar parte do discurso, confundindo o seu
espaço real com o da ficção. Por outro lado, a hipotipose seria a figura
de retórica que definiria este tipo de criação, baseada na dissolução das
fronteiras entre a representação e o representado.
Tendo em conta que a metalepse, como forma de metaficção,
subjaz, como estratégia, às obras que potenciam a perspetiva “obje-
tual”, podemos estabelecer uma tipologia de discursos segundo a forma
e os objetivos que a metalepse apresenta para definir um leitor que co-
labora com o discurso de uma maneira física, para além de intelectual,
como defende Jean-Marie Antenen (2009: 13):
Les pop-ups fonctionnent selon les principes élémentaires de la méca-
nique, soit roue et, surtout, levier. L’énergie donnée par le lecteur qui
tourne les pages est transformée en action physique, matérielle, alors
qu’elle reste puremente intellectuelle dans la lecture de l’album “classi-
que” (Jean-Marie Antenen, 2009: 13).
modo que, por exemplo, o tamanho reduzido conduz a uma leitura ín-
tima e privada, como ocorre com Poka & Mina en el cine (2010), de
Kitty Crowther, enquanto os grandes formatos sugerem histórias mais
enérgicas, como é o caso da reedição, em 2016, de El viaje de Babar,
pela editora Milenio-Nandibú, recuperando as grandes dimensões das
paisagens e dos protagonistas. Referência especial merece a obra El li-
vro-álbum de Adela (2015) (fig. 56), de Claude Ponti, que parte da ideia
da invasão do espaço do leitor, sugerida desde a capa onde surge uma
menina dentro do mundo que o livro reflete.
Figura 56
Figura 57 Figura 58
Figura 59 Figura 60
b. A dobra
A utilização da dobra na construção do discurso é uma das estra-
tégias que requerem a imersão física quer das personagens, quer do lei-
tor. Uma das partes do livro desempenha a função de barreira entre dois
planos. Assim, o espaço ergue-se como uma dimensão real com a qual
as personagens interagem no seu mundo de ficção. O leitor deve acatar
as regras do jogo para construir o sentido. Uma vez mais, realidade e
ficção veem anuladas as suas fronteiras para ocupar o espaço físico do
leitor a partir da própria ficção. É o que acontece em livros-álbum como
La ola (2008), Sombras (2010) e Espejo (2010) (fig. 61), de Suzy Lee,
obras nas quais a dobra constitui um elemento que está a meio do cami-
nho entre a realidade do leitor e o mundo da ficção. Igualmente, Daqui
ninguém passa! (2014) (fig. 62), de Isabel Minhós Martins e Bernardo
Carvalho, conta com a dobra do livro para diferenciar os espaços por
onde as personagens se movem.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
190
Figura 61
Figura 62
Figura 63
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
192
Figura 64
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 193
Figura 65
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
194
Figura 66
8. Para terminar
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DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 197
Estudos:
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BONNAFÉ, María (2008). Los libros, eso es bueno para los bebés.
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CHEILAN, Liliane (2009). “Pages, volets et rabats”. Hors cadre[s], 4,
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crisis nuestro acercamiento a la lectura”. Nuevas hojas de lectura, 12, pp.1-12.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
198
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 201
1. Introdução
Neste capítulo abordamos a análise de respostas leitoras infantis
e de adolescentes ao livro como objeto a partir da leitura em voz alta
do adulto (investigador) e posterior diálogo literário. Para isso, apre-
sentamos algumas propostas do grupo de investigação ELLIJ (Educa-
ción para la Lectura, Literatura Infantil y Juvenil y construcción de
Identidades, Universidade de Saragoça, Espanha), que se debruçaram
sobre o leitor como parte do discurso literário e sobre a sua importância
na construção de sentidos. Partimos, assim, dos estudos da Estética da
Receção, da Teoria das Respostas Leitoras (Rosenblatt, 2002; Sipe66,
2001, 2002) e do enfoque de leitura proposto por Aidan Chambers em
Dime (2007a), El ambiente de la lectura (2007b) e em Conversaciones
(2008), o modelo da discussão e as respostas do leitor com as suas im-
plicações, mais o trabalho do “facilitador”.
Por outro lado, também nos temos servido dos estudos sobre a
leitura literária de Bonnafé (2008), Patte (2008), Nodelman (2008), Ta-
bernero (2011, 2012, 2013, 2014). Neste campo, conceitos como leitura
distanciada (Lewis, 2008), leitura refletora e metáfora (Ricoeur, 1980,
1996), enfoque transacional (Rosenblatt, 2002), competência lectolite-
rária (Mendoza, 2004, 2010; Tabernero, 2005, 2009) e construção de
identidades narrativas (Barthes, 1987; Bruner, 2004) resultam básicos,
tendo em conta a nossa conceção de discurso literário e de leitor no
século XXI.
66
Ver também, deste autor, uma conferência realizada no âmbito do “Máster de Libros
y Literatura para niños y jóvenes” da Universidade Autónoma de Barcelona, no 5 de fevereiro de
2010, disponibilizada no site GRETEL: http://www.literatura.gretel.cat/
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
202
2. Enquadramento teórico
O enquadramento teórico da nossa linha de investigação susten-
ta-se na teoria do pensamento narrativo de Bruner (2002, 2004). Para
este autor, o indivíduo constrói a sua identidade através das narrações
que lê e escreve, já que a narrativa permite-lhe dar sentido ao mundo
e distanciar-se da realidade quotidiana para refletir. Deste modo, os es-
tudos de Ricoeur (1980, 1996) defendem a linguagem literária como
veículo privilegiado para a compreensão do ser humano; através da lin-
guagem simbólica e metafórica acede-se a parcelas da subjetividade:
“la poesía articula y preserva, en unión con otros modos de discurso,
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 203
3. Aproximação da leitura
O enquadramento teórico sustenta o relevo assumido pelo traba-
lho de campo nos nossos projetos de investigação, o que nos conduziu
a experimentar com os informantes a proposta de Dime, de Chambers
(2007b), na medida em que está orientada para leitores que se iniciam
na leitura de textos literários. Para este autor, o interesse de crianças e
jovens pela leitura surge como resultado de uma atmosfera emocional
propiciadora, que inclui pessoas, atividades, espaços, tempos e textos
que estimulam a leitura. De entre todos eles, o autor destaca a possi-
bilidade de conversar sobre as leituras realizadas como o fator mais
decisivo. Assim, seguem-se as seguintes fases de intervenção nas aulas:
3.1. Leitura em voz alta dos livros por parte dos professores e/
ou investigadores. Considerou-se que esta modalidade de leitura podia
aproximar os alunos da leitura literária das obras. Deste modo, o adulto
dá voz ao texto e as crianças, através do “leer mirando” (Tabernero,
2009), acompanham a leitura através da observação das ilustrações. De
acordo com Chambers, a experiência com a narrativa oral familiariza o
aluno com a linguagem, facilita o armazenamento de palavras e o reco-
nhecimento da estrutura narrativa.
3.2. Se a leitura em voz alta se apresenta como um dos elementos
fundamentais no ambiente de leitura, conversar e falar sobre o que se
leu, fazer visível o pensamento e escutar a experiência pessoal do leitor
com o texto constituem pontos essenciais de Dime. Deste modo, a se-
gunda fase corresponde à conversação literária gerada a partir das fun-
dações da estrutura das quatro perguntas básicas definidas por Cham-
bers: de que gostaste no texto?, de que não gostaste?, encontraste algo
estranho ou novo?, e a leitura fez-te recordar alguma coisa?
3.3. A escrita e/ou desenho livre. A leitura ativa, a oralidade e
a discussão literária foram criando pontes para a escrita em duas das
investigações que comentaremos nos dois segmentos seguintes deste
texto. Para o desenho desta fase, baseámo-nos nas considerações de
Barthes (1987) sobre as leituras que dão origem à escrita. Seguimos, as-
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 205
4. Projetos de investigação
Oferece-se, em seguida, uma síntese de alguns projetos que se
debruçaram sobre a análise das respostas leitoras como meio para com-
preender como o leitor infantil e juvenil atribui sentidos à experiência
de leitura literária. Acreditamos que o estudo das relações que o leitor
estabelece com o livro, as suas intervenções, desenhos, reflexões orais
e escritas, pode ajudar a descobrir mais sobre o processo de leitura e
sobre a formação de leitores.
67
Esta investigação corresponde ao Trabalho de Conclusão de Mestrado de Irene Gar-
cía, orientado pelas professoras Rosa Tabernero e Virginia Calvo: https://zaguan.unizar.es/recor-
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
206
d/31021?ln=es
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 207
68
Exposição UNED Barbastro. Maio, 2014. Diretora da exposição: Rosa Tabernero Sala e
autora do guia: https://elreyrojo.files.wordpress.com/2015/05/ver-texto-rosa-album.pdf
69
É possível aceder ao guia completo da exposição no seguinte endereço: https://issuu.
com/fontoval/docs/guia__de_lectura_rosa_tabernero
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
208
70
Maio de 2015: Exposição UNED Barbastro. Lo que leen los niños. Diretora da ex-
posição: Rosa Tabernero Sala e autora do guia da exposição: https://issuu.com/fontoval/docs/
guia_lo_que_leen_los_ni__os
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 209
71
Esta investigação corresponde à tese de doutoramento de Virginia Calvo, orientada por
Rosa Tabernero. A mesma está acessível no seguinte endereço: http://puz.unizar.es/detalle/1627/
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
210
La+lectura+literaria+en+los+procesos+de+acogida+e+inclusi%F3n+de+adolescentes+inmigran-
tes-0.html
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 211
72
http://leemosymas.blogspot.com.es/
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 213
73
Os resultados da primeira fase desta investigação estão publicados na Revista de Edu-
cación Inclusiva, vol. 8 (3), novembro de 2015. http://www.revista-educacion-inclusiva.es/nume-
ros/anteriores/
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
216
6. Para continuar
À luz dos resultados obtidos nas distintas investigações que apre-
sentámos, a categoria livro como objeto físico revela-se como uma va-
riável constante nas respostas leitoras que as crianças e os adolescentes
apresentam face aos livros e à experiência de leitura dos mesmos. Nesta
medida, reforça o quadro do estudo das Respostas Leitoras e permite
avançar em termos do conhecimento do leitor literário, nomeadamente
sobre a forma como este se aproxima dos livros e como se apropria
do seu conteúdo. O leitor recebe o livro na sua totalidade e, a partir
de todos os elementos que o integram, vai-se apropriando do conteúdo
da obra (Bonnafé, 2008). Em resultado, o livro como suporte físico e
estético – como artefacto artístico – requer um estudo que nos ajude a
compreender o papel que desempenha a sua materialidade no processo
de receção da obra literária, ou seja, o papel criado pelo livro-álbum
pós-moderno para acolher o leitor no seu mundo, como analisou a pro-
fessora Rosa Tabernero no capítulo anterior.
ANA MARGARIDA RAMOS (ORG.)
220
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DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 221
APROXIMAÇÕES AO LIVRO-OBJETO:
DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS ÀS PROPOSTAS DE LEITURA 223
13. Autoras