Biografia de Ricardo Reis

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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos


Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida


Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.


Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,


Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,


Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e caricias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as


No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois


Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,


Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

12-6-1914

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).
- 23.

Ricardo Reis é um heterónimo do poeta Fernando Pessoa.

No perfil de Ricardo Reis consta que nasceu no Porto em 1887 e estudou num colégio de
jesuítas. Foi viver no Brasil depois de se formar em medicina.

Ricardo Reis possui obras em seu nome. As primeiras obras foram publicadas na revista
Athena, fundada por Fernando Pessoa em 1924. A ideia desenvolvida na sua obra faz parte do
pensamento Greco-romano: clareza, equilíbrio, as boas formas de viver, o prazer e a
serenidade.

Não existem fontes comprovadas da sua morte, mas o escritor José Saramago no seu livro “O
Ano da Morte de Ricardo Reis” situou-o em 1936.
O pensamento do filósofo Epicuro permeia a obra de Ricardo Reis, que pregava que as pessoas
deveriam viver o “aqui e agora”, retomando o preceito grego do carpem diem, baseado no
prazer. Mas, além do epicurismo, Reis possuía o estoicismo também como influência, que
propõe a aceitação do acontecimento das coisas e a rejeição às emoções e sentimentos
exagerados.

Ricardo Reis possui um estilo muito próximo dos escritos do poeta latino Horácio, como o uso
de gerúndios, imperativos e inversões de sintaxe, como os hipérbatos.

Poesia de Ricardo Reis

A poesia de Ricado Reis possui as seguintes características:

Objetividade;

Línguagem rubuscada;

Temática da fugacidade;

Rigor formal;

Traços neoclássicos;

O poema pode - se dividir em três partes:

--> 1ª - Desejo epicurista de usufruir o momento presente (duas primeiras estrofes)

--> 2ª - Renuncia ao próprio gozo desse momento que é a vida (terceira à sexta estrofe)

--> 3ª - Explicação dessa renúncia como única forma de anular o sofrimento causado pela
antevisão da morte (duas últimas estrofes)

Análise do Poema

Linha 1 - 8 --> fala sobre a efemeridade da vida.

Linha 9 - 16 --> expressa inutilidade dos compromissos.

Linha 17 - 24 --> fala sobre a busca da tranquilidade.

Linha 25 - 32 --> demonstra a ausência de perturbação face à morte.

Análise externa

8 estrofes - cada estrofe tem 4 versos (quadra)

versos - redondilha menor (5 silabas)

octossílabos (8 silabas)

decassílabos (10 silabas)

alexandrino (12 silabas)

rima - verso soltos


Concluímos que Ricardo Reis é um epicurista triste, pois defende o prazer do momento
(carpem diem) como caminho para a felicidade. Reis Procura a felicidade que deseja alcançar,
considerando que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade com o destino.
Podemos obter assim, as características estilísticas que Ricardo Reis utiliza e perceber a
interpretação do poema que nos foi proposto.

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