Gabriel Albie Ri Quiroga Corr 19

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GABRIEL ALBIERI QUIROGA

Impacto da geração distribuída sobre o sistema de


proteção: considerações para o planejamento de
redes de distribuição

São Paulo
2019
GABRIEL ALBIERI QUIROGA

Impacto da geração distribuída sobre o sistema de proteção:


considerações para o planejamento de redes de distribuição

Dissertação apresentada à Escola Politécnica


da Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Mestre em Ciências.

Área de Concentração: Sistemas de Potência

Orientador: Prof. Dr. Carlos Frederico


Meschini Almeida

São Paulo
2019
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Este exemplar foi revisado e corrigido em relação à versão original, sob


responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador.

São Paulo, ______ de ____________________ de __________

Assinatura do autor: ________________________

Assinatura do orientador: ________________________

Catalogação-na-publicação

Quiroga, Gabriel
Impacto da geração distribuída sobre o sistema de proteção: considerações
para o planejamento de redes de distribuição / G. Quiroga -- versão corr. -- São
Paulo, 2019.
118 p.

Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São


Paulo. Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas.

1.Geração Distribuída 2.Sistemas de proteção 3.Planejamento de Redes de


Distribuição I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de
Engenharia de Energia e Automação Elétricas II.t.
Agradecimentos

Ao logo deste trabalho o apoio de algumas instituições e diversas pessoas foi


imprescindível. Ao meu orientador Carlos Frederico, agradeço por me guiar ao longo de todo
o percurso do desenvolvimento desta dissertação e por não me deixar esmorecer nos
momentos mais difíceis.
Agradeço a Sinapsis Energia e à AES Eletropaulo pela oportunidade de trabalhar no
Projeto Estruturante de Redes Inteligentes em Regiões Metropolitanas visando o
Desenvolvimento e a Demonstração de Soluções Inovadoras utilizando o conceito de Living
Labs e pela disponibilização dos valiosos dados necessários para o desenvolvimento dessa
dissertação.
Ao amigo Henrique Kagan agradeço as valiosas contribuições e inspiração para
produção desse trabalho. A minha noiva Bruna agradeço o apoio afetivo e a solidariedade nos
momentos mais difíceis.
Resumo

Esta pesquisa apresenta metodologias para avaliar o impacto da geração distribuída sobre o
sistema de proteção de redes de distribuição para um planejamento de rede integrado. A
alternativa de geração distribuída é vista como uma mudança no paradigma da geração de
energia no mundo. A adoção de fontes renováveis de energia para produção residencial ou
comercial traz não apenas benefícios ambientais, mas também uma oportunidade para aliviar
as dificuldades de abastecimento encontradas em muitos países. Entretanto, apesar de resolver
alguns dos problemas de fornecimento de energia, esta mudança de paradigma causada pela
inserção da geração distribuída em redes de distribuição pode trazer alguns impactos técnicos
indesejados. Os impactos típicos avaliados no planejamento das redes de distribuição elétrica
envolvem a expansão da rede, como perdas, fator de potência, carregamento de ativos e
violação de limites de tensão. No entanto, uma inserção massiva da geração distribuída
também pode causar problemas significativos para a proteção da rede, assim envolvendo o
planejamento da proteção. Dessa forma, é necessário identificar potenciais problemas de
proteção e desenvolver metodologias para modelar, diagnosticar e mitigar tais problemas.
Este trabalho tem como objetivo descrever a importância da previsão dos impactos potenciais
da alta penetração de fontes renováveis no sistema de proteção das redes de distribuição
elétrica, a fim de alcançar um planejamento de rede integrado. Assim, no início deste trabalho
são discutidos os principais problemas do sistema de proteção que podem surgir a partir da
alta penetração da geração distribuída, como perda de coordenação da proteção, sobretensão,
perda da sensibilidade da proteção, bidirecionalidade e queima inesperada de fusíveis. A
pesquisa demonstra os possíveis modelos utilizados para avaliar esses impactos, como
modelagem de rede e modelagem de fontes renováveis, possíveis abordagens, como as
perspectivas probabilísticas e deterministas, em relação aos algoritmos de alocação da geração
distribuída e as possíveis metodologias de avaliação, como análise de cenários e análise de
sensibilidade. Os resultados apresentados representam a avaliação de tais impactos nas redes
de distribuição elétrica. Para concluir, o estudo ilustra a aplicação das metodologias
apresentadas com um estudo de caso usando uma rede de distribuição real.

Palavras-chave: Geração Distribuída. Sistemas da proteção. Planejamento de Redes de


Distribuição.
Abstract

This work presents methodologies to assess the impact of distribution generation on electric
distribution network protection systems for an integrated network planning. The distributed
generation alternative is seen as a shift in the paradigm of energy generation in the world. The
adoption of renewable sources of energy for residential or commercial production brings not
only environmental benefits, but also an opportunity to ease the supplying difficulties found
in many countries. Despite solving some of the energy suppling problems, this paradigm
change caused by the insertion of distributed generation in electric distribution networks can
bring some undesired technical impacts. The typical impacts assessed in the electric
distribution networks planning involve the expansion of the network, such as losses, power
factor, line loading, and voltage profiles, among others. However, a massive insertion of
distributed generation may also cause significant problems to the network protection, which
involves the protection planning. In this way, it is necessary to identify potential protection
issues and design means to model, diagnose and mitigate such issues. This work aims at
describing the importance of predicting the potential impacts of high penetration of renewable
sources on the protection system from electric distribution networks, in order to achieve an
integrated network planning. Thus, in the beginning of this work it is discussed the main
protection system issues that may arise from the high penetration of distributed generation,
such as loss of protection coordination, overvoltage, loss of protection sensitivity, directional
false tripping, unwanted fuse blowing, beside others. The work then demonstrates possible
models utilized to assess those impacts, such as network modeling and renewable sources
modeling, possible approaches such as the probabilistic and deterministic perspectives,
regarding distributed generation allocation algorithms and the possible methodologies for
assessment such as scenario analysis and sensitivity analysis. To conclude the work, there will
be more discussions regarding the results presented and the potential benefits of including this
analysis on the integrated distribution network planning. In the end, the partial results
illustrate the application of the presented methodologies with a case study using a real
distribution network.

Keywords: Distributed Generation. Protection Systems. Power Distribution Planning.


Lista de Figuras

Figura 1. Evolução da capacidade instalada de fontes fotovoltaicas no mundo....................... 15


Figura 2. Evolução da capacidade instalada de fontes eólicas no mundo. ............................... 15
Figura 3. Evolução da capacidade instalada de fontes fotovoltaicas no Brasil. ....................... 16
Figura 4. Evolução da capacidade instalada de fontes eólicas no Brasil. ................................. 16
Figura 5. Evolução da capacidade instalada de mini e micro GD no Brasil. ........................... 19
Figura 6. Distribuição da potência instalada de GD no Brasil. ................................................ 20
Figura 7. Contribuição da GD a corrente de curto-circuito. ..................................................... 25
Figura 8. Diagrama esquemático de uma coordenação fusível-fusível tradicional sem GD. ... 45
Figura 9. Diagrama esquemático de uma coordenação fusível-fusível tradicional com GD. .. 46
Figura 10. Corrente de curto-circuito através de alimentador adjacente sem GD. ................... 47
Figura 11. Corrente de curto-circuito através de alimentador adjacente com GD. .................. 48
Figura 12. Corrente de curto-circuito através de alimentador adjacente com GD, considerando
efeitos sobre os religadores..................................................................................... 49
Figura 13. Contribuição à falta a montante do fusível F2 sem GD. ......................................... 50
Figura 14. Contribuição à falta a montante do fusível F2 com GD.......................................... 51
Figura 15. Falta suprida apenas pela fonte principal. ............................................................... 52
Figura 16. Falta suprida tanto pela fonte principal, quanto pela GD localizada a montante da
falta. ........................................................................................................................ 52
Figura 17. Falta suprida tanto pela fonte principal, quanto pela GD localizada a jusante da
falta. ........................................................................................................................ 53
Figura 18. Exemplo de curva típica de carga de um consumidor residencial. ......................... 59
Figura 19. Exemplo de alocação conservadora para análise do impacto de perda de
sensibilidade. .......................................................................................................... 65
Figura 20. Modelo de curto-circuito trifásico. .......................................................................... 66
Figura 21. Exemplo de alocação conservadora para análise de bidirecionalidade. .................. 67
Figura 22. Exemplo da função de atratividade probabilística usada para avaliar os limites de
inserção da GD. ...................................................................................................... 68
Figura 23. Exemplo da utilização do método Monte Carlo em uma análise de sensibilidade. 69
Figura 24. Rede de distribuição elétrica real usada no estudo de caso. .................................... 72
Figura 25. Disjuntor localizado no início da rede de distribuição elétrica. .............................. 73
Figura 26. Zona de proteção do disjuntor 060DJVGR018. ...................................................... 74
Figura 27. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade sob a ótica
determinística.......................................................................................................... 76
Figura 28. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade sob a ótica
probabilística. ......................................................................................................... 77
Figura 29. Curto-circuito utilizado para avaliação da perda de sensibilidade .......................... 80
Figura 30. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade sob a ótica determinística.
................................................................................................................................ 82
Figura 31. Curto-circuito para avaliação da bidirecionalidade. ............................................... 83
Figura 32. Fusível localizado em um ramal no meio do alimentador estudado. ...................... 84
Figura 33. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis sob a ótica
determinística.......................................................................................................... 85
Figura 34. Curto-circuito para avaliação da queima inesperada de fusíveis sob a ótica
determinística.......................................................................................................... 88
Figura 35. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística da GD
acoplada por inversores .......................................................................................... 90
Figura 36. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística de
máquinas rotativas .................................................................................................. 91
Figura 37. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística ......... 92
Figura 38. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise probabilística da GD
acoplada por inversores .......................................................................................... 93
Figura 39. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise probabilística de
máquinas rotativas .................................................................................................. 94
Figura 40. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise probabilística .......... 95
Figura 41. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up.................................................. 96
Figura 42. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise determinística da GD
acoplada por inversores .......................................................................................... 97
Figura 43. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise determinística de
máquinas rotativas .................................................................................................. 98
Figura 44. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística ......... 99
Figura 45. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise probabilística da GD
acoplada por inversores ........................................................................................ 100
Figura 46. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise probabilística de
máquinas rotativas ................................................................................................ 101
Figura 47. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise probabilística ....... 102
Figura 48. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up ............................................... 103
Figura 49. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na
análise determinística da GD acoplada por inversores ......................................... 104
Figura 50. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na
análise determinística de máquinas rotativas........................................................ 105
Figura 51. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na
análise determinística ........................................................................................... 106
Figura 52. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na
análise probabilística da GD acoplada por inversores .......................................... 107
Figura 53. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na
análise probabilística de máquinas rotativas ........................................................ 108
Figura 54. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na
análise probabilística ............................................................................................ 109
Figura 55. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 ...... 110
Lista de tabelas

Tabela 1. Níveis de tensão considerados para a conexão de centrais geradoras. ..................... 39


Tabela 2. Requisitos mínimos em função da potência instalada. ............................................. 41
Tabela 3. Transformadores de acoplamento para GD. ............................................................. 54
Tabela 4. Modelo de máquina rotativa utilizado para a avaliação do impacto da GD. ............ 56
Tabela 5. Modelo conectado por inversores utilizado para a avaliação do impacto da GD. .... 57
Tabela 6. Modelo de rede utilizado para a avaliação do impacto da GD. ................................ 57
Tabela 7. Transformadores de acoplamento para GD. ............................................................. 58
Tabela 8. Dados do circuito utilizado para a análise de perda de sensibilidade. ...................... 75
Tabela 9. Potência nominal das GD para a análise de perda de sensibilidade. ........................ 78
Tabela 10. GD alocadas para a análise de perda de sensibilidade. ........................................... 79
Tabela 11. Potência nominal das GD para a análise de queima inesperada de fusíveis. .......... 87
Lista de abreviaturas e siglas

ADL Arthur D. Little


ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
CIGRE Conseil International des Grands Réseaux Électriques
DER Distributed Energy Resources
EMTDC Electromagnetic Transients including DC
EMTP Electromagnetic Transients Program
EPE Empresa de Pesquisa Energética
GD Geração Distribuída
IEA International Energy Agency
IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers
MME Ministério de Minas e Energia
OLTC On Load Tap Changer
ONS Operador Nacional do Sistema
USDOE United States Department of Energy
VTCD Variação de Tensão de Curta Duração
PWM Pulse Width Modulation
SDAT Sistema de Distribuição de Alta Tensão
SDMT Sistema de Distribuição de Média Tensão
SDBT Sistema de Distribuição de Baixa Tensão
TM Tempo Mínimo de Fusão
TT Tempo de Abertura Total
Sumário

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
1.1. Evolução do paradigma do setor elétrico .................................................................. 14
1.2. Geração distribuída e sua definição ........................................................................... 17
1.3. O Brasil e a geração distribuída ................................................................................ 18
1.4. Consequências da geração distribuída ....................................................................... 20
1.5. Motivação e Objetivo ................................................................................................ 26
1.6. Organização do trabalho ............................................................................................ 27

2 ESTADO DA ARTE ................................................................................................. 29


2.1. Revisão bibliográfica: Impacto da geração distribuída sobre a proteção de redes de
distribuição ................................................................................................................ 29
2.2. Arcabouço regulatório brasileiro ............................................................................... 35
2.2.1. Definição dos conceitos da geração distribuída no Brasil ......................................... 36
2.2.2. Sistema de compensação de energia elétrica ............................................................. 37
2.2.3. Procedimentos para conexão das unidades de geração distribuída ........................... 39
2.3. Inovação .................................................................................................................... 42

3 IMPACTO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA SOBRE SISTEMAS DE PROTEÇÃO


................................................................................................................................... 44
3.1. Geração distribuída e os sistemas de proteção .......................................................... 44
3.1.1. Perda de coordenação da proteção ............................................................................ 45
3.1.2. Bidirecionalidade ....................................................................................................... 47
3.1.3. Queima inesperada de fusíveis .................................................................................. 49
3.1.4. Perda de sensibilidade ............................................................................................... 51
3.1.5. Sobretensão ............................................................................................................... 53
3.2. Modelos elétricos ...................................................................................................... 55
3.2.1. Modelo elétrico da geração distribuída ..................................................................... 56
3.2.2. Modelo elétrico da rede ............................................................................................. 57
3.3. Procedimentos para avaliação do impacto da GD ..................................................... 59
3.3.1. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da geração distribuída
para perda de coordenação ........................................................................................ 59
3.3.2. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da geração distribuída
para bidirecionalidade ............................................................................................... 61
3.3.3. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da geração distribuída
para queima inesperada de fusíveis ........................................................................... 61
3.3.4. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da geração distribuída
para perda de sensibilidade ........................................................................................ 62
3.3.5. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da geração distribuída
para sobretensão ........................................................................................................ 63
3.4. Abordagens para definição dos níveis de penetração ................................................ 64
3.4.1. Abordagem determinística para a alocação da geração distribuída........................... 64
3.4.1.1. Abordagem determinística aplicada à perda de sensibilidade ................................... 64
3.4.1.2. Abordagem determinística aplicada à bidirecionalidade e queima inesperada de
fusíveis....................................................................................................................... 66
3.4.2. Abordagem probabilística para a alocação da geração distribuída ........................... 67
3.5. Métodos utilizados .................................................................................................... 70

4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 71
4.1. Dados da rede de distribuição elétrica real ................................................................ 71
4.2. Metodologia do estudo de caso de perda de sensibilidade ........................................ 72
4.2.1. Circuito utilizado para a análise de perda de sensibilidade ....................................... 73
4.2.2. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade ................................... 75
4.2.2.1. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem
determinística ............................................................................................................ 75
4.2.2.2. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem
probabilística ............................................................................................................. 76
4.2.3. Modelo elétrico da GD para avaliação da perda de sensibilidade ............................. 78
4.2.3.1. Modelo elétrico da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem
determinística ............................................................................................................ 78
4.2.3.2. Modelo elétrico da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem
probabilística ............................................................................................................. 79
4.2.4. Método de avaliação da perda de sensibilidade ........................................................ 80
4.3. Metodologia do estudo de caso de bidirecionalidade ................................................ 81
4.3.1. Circuito utilizado para a análise de bidirecionalidade ............................................... 81
4.3.2. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade ........................................... 81
4.3.2.1. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem determinística
................................................................................................................................... 81
4.3.2.2. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem probabilística
................................................................................................................................... 82
4.3.3. Modelo elétrico da GD para avaliação da bidirecionalidade..................................... 82
4.3.3.1. Modelo elétrico da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem
determinística ............................................................................................................ 82
4.3.3.2. Modelo elétrico da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem
probabilística ............................................................................................................. 83
4.3.4. Método de avaliação da perda bidirecionalidade na abordagem determinística ....... 83
4.4. Metodologia do estudo de caso de queima inesperada de fusíveis segundo a
abordagem determinística .......................................................................................... 84
4.4.1. Circuito utilizado para a análise de queima inesperada de fusíveis .......................... 84
4.4.2. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis ...................... 85
4.4.2.1. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na abordagem
determinística ............................................................................................................ 85
4.4.2.2. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na abordagem
probabilística ............................................................................................................. 86
4.4.3. Modelo elétrico da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis ................ 86
4.4.3.1. Modelo elétrico da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na
abordagem determinística .......................................................................................... 86
4.4.3.2. Modelo elétrico da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na
abordagem probabilística .......................................................................................... 87
4.4.4. Método de avaliação da queima inesperada de fusíveis ............................................ 87

5. RESULTADOS ......................................................................................................... 89
5.1. Resultado da avaliação da perda de sensibilidade ..................................................... 89
5.1.1. Perda de sensibilidade - inversores na abordagem determinística ............................ 89
5.1.2. Perda de sensibilidade - máquinas rotativas na abordagem determinística ............... 90
5.1.3. Perda de sensibilidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na abordagem
determinística ............................................................................................................ 91
5.1.4. Perda de sensibilidade - inversores na abordagem probabilística ............................. 92
5.1.5. Perda de sensibilidade - máquinas rotativas na abordagem probabilística................ 93
5.1.6. Perda de sensibilidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na abordagem
probabilística ............................................................................................................. 94
5.1.7. Perda de sensibilidade - comparação entre as abordagens ........................................ 95
5.2. Resultado da avaliação da bidirecionalidade ............................................................. 96
5.2.1. Bidirecionalidade - inversores na abordagem determinística.................................... 96
5.2.2. Bidirecionalidade - máquinas rotativas na abordagem determinística ...................... 97
5.2.3. Bidirecionalidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na abordagem
determinística ............................................................................................................ 98
5.2.4. Bidirecionalidade - inversores na abordagem probabilística .................................... 99
5.2.5. Bidirecionalidade - máquinas rotativas na abordagem probabilística ..................... 100
5.2.6. Bidirecionalidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na abordagem
probabilística ........................................................................................................... 101
5.2.7. Bidirecionalidade - comparação entre as abordagens ............................................. 102
5.3. Resultado da avaliação da queima inesperada de fusíveis ...................................... 103
5.3.1. Queima inesperada de fusíveis - inversores na abordagem determinística ............. 103
5.3.2. Queima inesperada de fusíveis - máquinas rotativas na abordagem determinística 104
5.3.3. Queima inesperada de fusíveis - comparação entre as tecnologias avaliadas na
abordagem determinística ........................................................................................ 105
5.3.4. Queima inesperada de fusíveis - inversores na abordagem probabilística .............. 106
5.3.5. Queima inesperada de fusíveis - máquinas rotativas na abordagem probabilística 107
5.3.6. Queima inesperada de fusíveis - comparação entre as tecnologias avaliadas na
abordagem probabilística ........................................................................................ 108
5.3.7. Queima inesperada de fusíveis - comparação entre as abordagens ......................... 109

6. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 111


6.1. Conclusões deste trabalho ....................................................................................... 111
6.2. Sugestões de trabalhos futuros ................................................................................ 112
6.3. Considerações finais ................................................................................................ 113

7. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 114


14

1 INTRODUÇÃO

Estima-se que a população mundial contará com 9,6 bilhões de habitantes no ano de
2050, representando um aumento de mais de 2 bilhões em relação a atual população (LIMA,
2015). Esse crescimento, aliado ao crescimento dos países caracterizados como em
desenvolvimento, acarreta, em termos energéticos, a necessidade de um aumento de
eficiência, de um significativo crescimento de demanda por novas fontes de suprimento e de
busca por fontes energéticas que substituam as fontes baseadas em combustíveis fósseis.
Nesse contexto, o paradigma do atual setor elétrico, caracterizado por grandes centrais
de geração elétrica, está se desenvolvendo na direção de um modelo de geração mista, tanto
centralizada quanto descentralizada, visando à adoção de fontes de geração renováveis
capazes de solucionar o problema da necessidade de suprimento, o atendimento ao apelo
crescente da liberação dos mercados de energia elétrica e a resposta às preocupações com
questões ambientais.

1.1. Evolução do paradigma do setor elétrico

A mudança no paradigma do setor elétrico é corroborada pela evolução da capacidade


instalada de fontes renováveis. Isso, pois nos últimos 10 anos, estas fontes apresentaram
evoluções significativas. De 2008 a 2018, a capacidade instalada de fontes fotovoltaicas no
mundo passou de 15 GW para 505 GW. Isto representa um crescimento de 3261% (REN21,
2019). Além disso, estima-se que a participação da energia fotovoltaica no mix energético
global aumentará para 37% em 2030 e para 69% em 2050 (METAYER; BREVER; FELL,
2015).
Já a capacidade instalada de fontes eólicas no mundo, por sua vez, passou de 121 GW
para 591 GW, entre 2008 e 2018 (REN21, 2019). Isso representa um crescimento de 388%
durante o período. Para ilustrar estas evoluções, a capacidade instalada das fontes fotovoltaica
e eólica no mundo é apresentada nas Figura 1 e Figura 2.
15

Figura 1. Evolução da capacidade instalada de fontes fotovoltaicas no mundo.

Fonte: REN21, 2019.

Figura 2. Evolução da capacidade instalada de fontes eólicas no mundo.

Fonte: REN21, 2019.

No Brasil, a capacidade instalada de fontes fotovoltaicas ainda é representada por


números pouco significativos. Somente em 2010 são encontrados valores de capacidade
instalada não nulos. Contudo, entre 2010 e 2015, observa-se uma variação de 2000% da
capacidade instalada fotovoltaica, que passa de 1 MW a 21 MW (EPE, 2016), como ilustrado
na Figura 3. Por outro lado, a capacidade instalada, de fontes eólicas no Brasil, é
representativa. Ela variou entre os anos de 2005 e 2015, de 237 MW e 7633 MW (EPE,
16

2016). Isso representa uma elevação de 3121% e 1,76% da capacidade eólica instalada no
mundo. A evolução da potência instalada das fontes eólicas no Brasil e representada na Figura
4.

Figura 3. Evolução da capacidade instalada de fontes fotovoltaicas no Brasil.

Gigawatts Brazil Total


2,000 1,8 Gigawatts
1,600

0,863
1,200
0,935
0,800

0,911
0,400

0,000
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Fonte: EPE 2019.

Figura 4. Evolução da capacidade instalada de fontes eólicas no Brasil.

Gigawatts Brazil Total

15,0
14,4 Gigawatts
2,1
12,3
12,0
10,1 2,2
9,0 2,5
7,6
6,0 4,9 2,7

2,2 2,7
3,0
1,4 1,9
0,6 0,9 0,5 0,3
0,4 0,3 0,5
0,0 0,0 0,2
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Fonte: EPE 2019.

A partir deste novo paradigma, observa-se o desenvolvimento do setor em direção de


um modelo de geração mista, divido entre grandes centrais de geração elétrica centralizada e
17

distribuída. Assim, de forma a melhor embasar o presente estudo, a seção 1.2 apresentará as
definições da GD.

1.2. Geração distribuída e sua definição

O CIGRÉ define a GD como geração caracterizada por não ser centralmente planejada
e não ser despachada de forma centralizada. Além disso, o CIGRÉ também caracteriza a GD
por ser usualmente conectada em sistemas de distribuição e possuir potência nominal inferior
a 50 ou 100 MW (RUJULA; AMADA; BERNAL-AGUSTIN; LOYO; NAVARRO, 2005).
Segundo a IEA, GD refere-se a uma planta que supre um consumidor localmente, ou
que auxilia uma rede de distribuição. As tecnologias de GD compreendem motores, pequenas
turbinas, células combustíveis e fotovoltaicas. Não necessariamente inclui-se a tecnologia
eólica, pois a maioria da energia eólica é produzida por parques eólicos (RUJULA; AMADA;
BERNAL-AGUSTIN; LOYO; NAVARRO, 2005).
De acordo com o United States Department of Energy (USDOE), toda GD é composta
por geradores de pequeno porte, modulares e próximos ao consumidor, os quais auxiliam na
redução de investimentos das redes de distribuição e transmissão e que proveem ao cliente
energia de qualidade superior, mais confiável e limpa (RUJULA; AMADA; BERNAL-
AGUSTIN; LOYO; NAVARRO, 2005).
A empresa de consultoria ADL, descreve GD como a utilização integrada ou
autônoma de recursos de geração elétrica modular e de pequeno porte, por distribuidoras,
consumidores conectados a distribuidora ou terceiros, em aplicações que beneficiam o sistema
elétrico e/ou o consumidor final. Ela inclui cogeração e consiste em uma instalação de
unidade de geração que esteja localizada no consumidor final ou próximo ao mesmo, dentro
de uma região industrial, edifício comercial ou comunidade (RUJULA; AMADA; BERNAL-
AGUSTIN; LOYO; NAVARRO, 2005).
A ANEEL define que GD é caracterizada por centrais geradoras1 de energia elétrica,
de qualquer potência, com instalações conectadas diretamente no sistema elétrico de
distribuição ou através de instalações de consumidores, podendo operar em paralelo ou de
forma isolada e despachadas ou não pelo ONS (ANEEL, 2015a).

1
Agente que explora a atividade de geração de energia elétrica e que pode deter instalações de interesse restrito.
Incluem-se, neste conceito, autoprodutores, cogeradores e produtores independentes (ANEEL, 2015a).
18

Neste trabalho, a GD será abordada sob a ótica e arcabouço regulatório brasileiro.


Assim será adotada a interpretação de GD apresentada pela ANEEL. Por isso, a seção 1.3
abordará o posicionamento brasileiro quanto a GD.

1.3. O Brasil e a geração distribuída

O Brasil possui um grande potencial solar e eólico, principalmente no segmento


residencial, impulsionado fortemente pelo decréscimo nos custos de implantação das
tecnologias (FRANKEL; OSTROWSKI; PINNER, 2014). Com o objetivo de aproveitar esta
potencialidade, a ANEEL publicou em 2012 a Resolução Normativa n° 482 (ANEEL, 2012a)
e a sua atualização, a Resolução Normativa n° 687/2015 (ANEEL, 2015b), para o
estabelecimento das condições gerais de acesso de micro e minigeração aos sistemas de
distribuição, o que inclui as fontes de geração de energia fotovoltaicas residenciais.
Em adição a essas medidas, em 15 de dezembro de 2015 foi lançado o Programa de
Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica - ProGD (MME, 2015). Este
programa tem o intuito de investir R$ 100 bilhões até 2030 em ações como: criação e
expansão de linhas de crédito e financiamento de projetos de sistemas de distribuição,
incentivos à indústria de componentes e equipamentos, com foco no desenvolvimento
produtivo, tecnológico e inovação, fomento à capacitação e formação de recursos humanos
para atuar na área de GD e a promoção e atração de investimentos nacionais e internacionais e
de tecnologias competitivas para energias renováveis.
Essas ações visam o estímulo à GD, com base em fontes renováveis, para ampliar
produção energia elétrica baseada em fontes renováveis e em instalações residenciais,
industriais e comerciais. Esse programa busca alcançar benefícios ao consumidor final, ao
meio ambiente e ao setor elétrico. Para o consumidor final, destacam-se a redução dos custos
com eletricidade, reforço da segurança energética e elétrica e redução dos custos do insumo
energia (para indústria e comércio). No âmbito do meio ambiente, espera-se que o estímulo a
GD acarrete a utilização de fontes limpas e renováveis, na atenuação do impacto ambiental
dos projetos, na diminuição da necessidade de investimentos em fontes tradicionais e na
redução de emissões de gases do efeito estufa. Para o setor elétrico, espera-se que a GD
estimule a geração de emprego e renda, a redução de perdas de energia, a atenuação de
investimentos em transmissão e a solução ao problema de suprimento de energia elétrica, pois
a GD dispensa licenciamentos, reduzindo possíveis atrasos na entrega dos projetos de grandes
centrais elétricas.
19

Nesse âmbito, projeta-se que até o ano de 2030 sejam reduzidas em 43% as emissões
de gases do efeito estufa (MME, 2015), e que a matriz elétrica brasileira será composta por
23% de energias renováveis, além da energia hídrica. Para a última, espera-se alcançar 66%
da matriz elétrica, contra os 65,2% observados em 2014 no Balanço Energético Nacional
(EPE, 2015). Ademais, espera-se que o investimento na GD proporcione ganhos de eficiência
de até 10% ao setor elétrico, no horizonte de planejamento 2015 até 2030. No mesmo
horizonte, estima-se uma participação de 45% de energias renováveis na composição da
matriz energética, contra 39,4%, observados em 2014 no Balanço Energético Nacional (EPE,
2015). E que desse percentual, de 28% a 33% seja devido a fontes renováveis, excetuando-se
a energia hídrica. Além dessas, acredita-se que seja possível atingir a meta de 16% de etanol
carburante e demais biomassas derivadas da cana-de-açúcar no total da matriz energética, bem
como a participação de bioenergia na matriz energética de aproximadamente 18%.
Ao observar a evolução da potência instalada da micro e mini GD no Brasil, não se
observa até 2015 nenhuma evolução significativa. Por outro lado, entre os anos de 2015 e
2018, é observada evolução exponencial da capacidade instalada de mini e micro GD, que
pode ser correlacionadas às ações apresentadas anteriormente. Entre 2011 e 2012, houve um
aumento de 805 vezes a potência instalada das GD, passando de 0,5 kW para 403 kW. Já
entre 2015 e 2018, o salto foi de 5173% %, passando de 12,5 MW para 669,6 MW de
potência instalada (EPE, 2019). Esta evolução da potência instalada das GD no Brasil é
detalhada na Figura 5. Apesar deste crescimento, a potência instalada das GD representa ainda
0,41% da potência instalada brasileira (EPE, 2019).

Figura 5. Evolução da capacidade instalada de mini e micro GD no Brasil.

Gigawatts Brazil Total


0,80
0,67 Gigawatts
0,70
0,60
0,50
0,42
0,40
0,30 0,25
0,20
0,18
0,10
0,00 0,07
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Fonte: EPE, 2019.


20

Em 2018, a potência instalada das GD era composta por, 84% de centrais


fotovoltaicas, 9% de centrais hidrelétricas, 6% de usinas termelétricas e 1% de centrais
eólicas. A composição das GD por fonte é ilustrada na Figura 6.

Figura 6. Distribuição da potência instalada de GD no Brasil.

Fonte: EPE, 2019.

1.4. Consequências da geração distribuída

Percebe-se, através das definições apresentadas previamente, que a GD possui


características que a distinguem do modelo centralizado de geração e que a fazem de extremo
interesse ao novo paradigma do setor elétrico. As razões para a atual relevância da GD, que
concernem o mercado de energia, são: o conceito de corte de picos, a qualidade da energia e
as possibilidades de utilizá-la como alternativa para expansão da rede ou como serviço ancilar
(DRIESEN; BELMANS, 2006).
Os cortes de picos são relevantes em virtude da flexibilidade da GD. Essa flexibilidade
está relacionada tanto a operação da GD, quanto ao tamanho e viabilização da expansão da
rede de distribuição. Dessa forma, a GD pode ser utilizada de maneira a amenizar, por
exemplo, os efeitos da flutuação dos preços da energia. Ou até como alternativa de
suprimento.
O impacto positivo da GD sobre a qualidade da energia se reflete tanto no que tange a
qualidade do produto quanto do serviço. Isto se dá, pois a fonte de geração descentralizada
pode ser utilizada durante interrupções do fornecimento de energia, de forma ilhada ou não,
21

para elevar os níveis de confiabilidade da energia ou até prevenir afundamentos de tensão.


Ainda, a GD pode ser utilizada como alternativa a expansão da rede de distribuição, pois ao
aproximar a geração da carga, reduzem-se os fluxos de potência na rede, diminuindo perdas,
quedas de tensão e carregamento dos ativos da rede.
A GD pode também ser utilizada como serviço ancilar, ao manter o sistema estável
durante variações de frequência ou ao suprir a demanda por reativos na rede, regulando
possíveis problemas relativos ao nível de tensão.
Por fim, as políticas ambientais são a maior força motriz para a adoção da GD. Isto
ocorre, pois a regulação ambiental, principalmente nos países europeus, incentiva a procura
por fontes de energia limpas, as quais são constituídas em grande parte pelas fontes de GD
(DRIESEN; BELMANS, 2006).
Todavia, a GD não traz somente impactos positivos à rede de distribuição. Tendo em
vista a iminente e irrefreável mudança do paradigma do setor elétrico, entende-se a
necessidade de estudar os impactos que podem ser acarretados devido à penetração da GD no
âmbito dos sistemas de distribuição. A seguir são levantados alguns impactos negativos da
GD aos sistemas de distribuição.

a) Regulação de tensão e controle de reativos

Em sistemas de distribuição é comum haver variações no perfil de tensão das redes.


Para solucionar este problema, utiliza-se comumente a variação de taps de transformadores
situados nas subestações, reguladores de linha ao longo dos alimentadores, ou até bancos de
capacitores. Esses procedimentos são realizados para manter os níveis de tensão dentro dos
limites estipulados na regulação vigente. Contudo, a inserção da GD introduz a rede fluxos de
potência bidirecionais, os quais interferem na prática de regulação de tensão das redes de
distribuição, que são projetadas para funcionamento considerando fluxo de potência
unidirecional apenas.
Como exemplo, pode-se citar o caso de uma GD inserida a jusante de um regulador ou
OLTC de uma subestação, que está compensando uma significativa queda de tensão ao final
de uma rede. Nesta configuração a GD eleva a tensão próxima ao regulador ou OLTC e faz
com que ele seja incapaz de medir adequadamente a demanda da rede, causando um possível
problema de tensão no final do alimentador. Este problema pode ser solucionado, por meio da
realocação do regulador, ou do gerador, ou até com a inserção de controles adicionais ao
regulador (BAKER; MELLO, 2000).
22

Além disto, a GD pode, em alguns casos, resultar no efeito oposto ao supracitado,


causando níveis de tensão superiores aos limites regulatórios para os consumidores. Esse
efeito pode ser observado em redes de baixa tensão com alta penetração de GD. Isso ocorre,
pois a GD, que compartilhe a mesma rede secundária com outros consumidores, pode elevar a
tensão a níveis superiores ao limite regulatório.

b) Variação de tensão de curta duração

A presença de GD pode ser agente causador de anomalias como as VTCD. Isso ocorre,
devido à entrada ou saída dos geradores da rede. Para mitigar esse problema, pode-se reduzir
a tensão de entrada em geradores de indução e em geradores síncronos pode-se utilizar uma
sincronização mais precisa. No caso da geração fotovoltaica e eólica, observa-se uma
flutuação na energia gerada, devido principalmente aos insumos de geração (nível de
irradiação, velocidade dos ventos, entre outros). Nesses casos, a variação causada fica mais
suave, não ocasionando diretamente VTCD. Entretanto, ela pode influenciar reguladores a
gerarem tais VTCD (VAZIRI; AFZAL; ZARGHAMI; YAZDANI; VADHVA; TAVATLI,
2013).

c) Introdução de correntes harmônicas

A GD pode introduzir correntes harmônicas às redes de distribuição. Isso depende


diretamente do conversor utilizado e da tecnologia de interconexão. Esse problema possui
relevância, visto que as correntes harmônicas introduzidas podem causar ressonância com
bancos de capacitores ou problemas indesejados em equipamentos sensíveis a harmônicos.
No caso dos inversores, não são observados muitos problemas, visto que a tecnologia
atual de conversores PWM é capaz de gerar correntes senoidais com boa qualidade. Assim, na
maioria dos casos, essa tecnologia permite o atendimento aos limites de qualidade
regulatórios. No caso da tecnologia de geradores síncronos, os harmônicos são gerados por
diversos motivos, como projeto dos enrolamentos do gerador, não linearidades do núcleo,
aterramento, entre outros. Dentre as soluções mais usuais está a utilização de transformadores
elevadores.
23

d) Sobretensão

Dependendo da capacidade da GD, faz-se necessária a utilização de transformadores


de acoplamento, de forma a controlar possíveis anomalias de tensão capazes de danificar
ativos da distribuidora. Segundo o IEEE, um aterramento efetivo significa que a reatância de
sequência positiva é superior à resistência de sequência zero e superior em três vezes à
reatância de sequência zero (IEEE, 1992).
O não aterramento efetivo dos geradores pode resultar em sobretensões durante faltas
monofásicas. Caso haja o ilhamento não intencional, esse problema torna-se perigoso, pois
tem a capacidade de danificar equipamentos tanto dos clientes como da concessionária. Dessa
forma, é requerido dos geradores com capacidade suficiente para sustentar ilhamentos, que
possuam aterramento adequado. Em caso contrário, são necessários dispositivos adicionais de
proteção, como relés com proteção instantânea contra curtos-circuitos monofásicos. A
primeira solução é considerada mais promissora, uma vez que ela limita problemas de tensão
pelo meio do próprio projeto da instalação, enquanto a segunda, caso não seja rápida o
suficiente, ou eficaz, pode expor o consumidor a vários ciclos de sobretensão.
Apesar de ser uma solução eficaz contra sobretensões, o acréscimo de fontes de
aterramento a rede pode causar a dessensibilização dos relés de falta a terra. Isso pode se
tornar crítico para geradores de grande porte ou para o caso de muitos geradores de pequeno
porte e por isso deve ser analisado com cautela podendo requerer mudanças nos estudos de
proteção, principalmente nas configurações de corrente de sensibilização (pick-up) dos relés.

e) Ilhamento

O ilhamento ocorre quando uma GD, ou um conjunto delas, continua a energizar uma
porção do circuito de distribuição, a qual foi separada da fonte principal do sistema. Essa
separação pode ser originada pela operação de dispositivos de proteção como relés, fusíveis
ou seccionalizadores. Isso ocorre quando o gerador ou conjunto de geradores é suficiente para
manter a sustentação da carga referente à seção ilhada. O ilhamento é considerado indesejado
principalmente em circuitos com utilização de religamento, pois pode causar problemas de
sincronização durante este processo, tornando o processo passível de rejeição de carga, ou até
de danos aos ativos da concessionária e dos clientes (BAKER; MELLO, 2000). Ademais, esse
processo pode causar impactos na manutenção das redes de distribuição, visto que requer um
24

cuidado adicional quanto à desenergização dos circuitos ilhados, resultando em perda da


qualidade do serviço.
Para prevenir o ilhamento, as GD devem possuir proteções sensíveis à perda de
continuidade ou a afundamentos de tensão, as quais devem desconectar a GD durante estes
eventos. Segundo (XU, MAUCH, MARTEL, 2004), as proteções contra ilhamento são
divididas entre as baseadas em comunicação e as de detecção local.
As proteções baseadas em comunicação podem utilizar o esquema de transfer trip ou
power line signaling. No esquema de transfer trip são monitorados todos os equipamentos de
proteção que podem representar risco de ilhamento para a GD. Durante uma contingência um
algoritmo central avalia a existência de ilhamento e envia um sinal de trip para a proteção da
GD. No esquema de power line signaling, um sinal é enviado pela subestação a todos os
alimentadores. A proteção da GD possui um detector deste sinal, que ao não ser mais recebido
durante uma contingência, ativa a proteção anti-ilhamento.
As proteções de detecção local utilizam de esquemas de detecção passiva e ativa. No
esquema detecção passiva a proteção analisa sinais de tensão e corrente para avaliar se há um
ilhamento. No esquema de detecção ativa a proteção aplica perturbações a rede para detectar o
ilhamento através das respostas medidas localmente.

f) Níveis de curto-circuito

Acredita-se que a GD de pequeno porte não causa impacto significativo para as


contribuições de curto-circuito. Contudo, a contribuição agregada de um grande grupo de
geradores de pequeno porte ou de um pequeno grupo de médio porte, tem a capacidade de
influenciar nos níveis de curto-circuito, de forma a causar, entre outros, problemas na
coordenação da proteção das redes de distribuição (BAKER; MELLO, 2000). Esse fenômeno
afeta a confiabilidade, bem como a segurança das redes de distribuição. Um exemplo de
problema causado a proteção da rede de distribuição é a variação dos níveis de curto-circuito
oriunda da contribuição da GD, que pode ser observado na Figura 7.
25

Figura 7. Contribuição da GD a corrente de curto-circuito.

Fonte: Elaboração própria.

Os níveis de curto-circuito dependem diretamente das tecnologias de conversão.


Segundo (IEEE, 2000), para geradores síncronos com excitação externa, a contribuição de
curto-circuito inicia-se entre 500 e 1000% da corrente nominal por alguns ciclos, passando
posteriormente para 200 a 400%. Já as contribuições, dos geradores síncronos e dos geradores
de indução, iniciam-se nos mesmos patamares que os geradores síncronos com excitação
externa, decaindo para níveis desprezíveis a partir de 10 ciclos. Por último, inversores
contribuem com correntes entre 100 e 400%, sendo sua duração determinada por seus
parâmetros de controle, podendo a corrente ser inferior a 100%. Esse último caso será mais
bem detalhado em capítulo subsequente, referente aos modelos para cálculo da contribuição
de inversores aos níveis de curto-circuito.
No caso da adição de um único gerador, podem ser realizados cálculos manuais para
determinação das correntes de falta. Contudo com a inserção de múltiplos geradores dispersos
na rede, faz-se necessária a utilização de ferramenta computacional com modelos de cálculo
de curto-circuito capazes de determinar as reais contribuições destes geradores para as
situações de contingência, de forma a alcançar um planejamento da proteção da rede mais
apurado. Em capítulo posterior, referente aos impactos da geração distribuída à proteção,
serão descritos mais impactos à proteção de redes de distribuição.
26

1.5. Motivação e Objetivo

No contexto do antigo paradigma de redes de distribuição elétrica, o planejamento de


rede consiste em resolver os impactos causados pelo crescimento da demanda. Dessa forma
são avaliados os impactos que possam surgir dentro de um horizonte de planejamento, como
problemas de tensão e sobrecargas de linha, transformadores, entre outros. Esses horizontes
de planejamento usualmente variam de 5 a 10 anos e consideram as projeções de demanda
horizontal e vertical.
Assim, dentro do horizonte de planejamento, são realizadas projeções de crescimento
da carga. Esses consistem em estudos estatísticos para prever o crescimento da demanda.
Assim, no problema do planejamento de redes, o planejador avalia o impacto do crescimento
da demanda, dentro de um horizonte de planejamento e propões soluções, como reforços
necessários, expansão de redes existentes ou o desenvolvimento de novas redes.
Os impactos típicos avaliados no planejamento são a sobrecarga de linhas, a
sobrecarga de transformadores, a violação dos limites de tensão e perdas. As soluções usuais
para esses impactos consistem em substituição de cabos, substituição de transformadores,
instalação de reguladores de tensão, instalação de bancos de capacitores e até a construção de
novos alimentadores e novas subestações, de forma a atender a nova demanda de energia
elétrica.
No entanto, no novo paradigma das redes elétricas inteligentes, existem outros fatores
que devem ser levados em consideração no planejamento, como DER, mais especificamente a
aparição da GD. Nesse cenário, além da projeção do crescimento da demanda, é necessário
também projetar o crescimento da oferta, que deriva da inserção da GD.
Sabe-se que a GD causa não apenas impactos para a expansão da rede, mas também
para a proteção da rede. Portanto, durante o planejamento da rede de distribuição, tornou-se
importante quantificar as ações para resolver eventuais problemas de proteção que possam
acontecer devido à inserção de unidades de GD. Dentre os principais impactos na proteção
das redes de distribuição elétrica, que também são discutidos nesse capítulo, destaca-se a
perda de coordenação da proteção, a sobretensão, a perda de sensibilidade da proteção, a
bidirecionalidade e a queima inesperada de fusíveis. Assim, novas ações devem ser atribuídas
ao planejador, de forma prever esses impactos, tais como possível reajuste da sensibilidade de
dispositivos de proteção, a instalação de novos dispositivos de proteção com função
direcional, a substituição de fusíveis, a modificação de estudos de coordenação e seletividade,
27

e até mesmo o desenvolvimento de restrições de tamanho das GD em certas áreas da rede,


incluindo os mesmos na elaboração de planos expansão e manutenção das redes de
distribuição.
Assim, o objetivo desta pesquisa é apresentar meios possíveis para auxiliar na
avaliação do impacto da GD nos sistemas de proteção de redes de distribuição. Dessa forma,
esta pesquisa apresenta os principais impactos causados pela GD à proteção de redes de
distribuição elétrica, procedimentos para avaliar tais impactos, modelos elétricos que ajudam
na avaliação e possíveis abordagens que podem ser utilizadas no processo de planejamento de
proteção. Para tanto foi elaborada uma metodologia probabilística para avaliação de cenários
de inserção de pequenas unidades de GD em redes de média e baixa tensão e a análise de
possíveis impactos nos sistemas de proteção de redes de média tensão.

1.6. Organização do trabalho

O capítulo 1 apresenta o conceito de GD, contextualiza as motivações para a adoção


do novo paradigma, descreve o contexto da geração distribuída no Brasil e aborda o problema
do planejamento e operação de redes de distribuição frente à presença da GD.
O capítulo 2 apresenta e analisa o estado da arte dos estudos relacionados aos impactos
provenientes da GD sobre as redes de distribuição, com ênfase nos estudos focados no
impacto sobre a proteção de redes com presença de GD. É dado destaque especial à mini e
micro GD, bem como à penetração massiva dessas tecnologias no sistema de distribuição de
baixa tensão. Posteriormente ele aborda o arcabouço regulatório brasileiro, apresentando as
resoluções normativas 482 e sua sucessora, a 687, bem como os procedimentos e exigências
em relação à conexão das GD, os quais dão direção ao trabalho.
O capítulo 3 detalha os modelos que serão utilizados na metodologia desenvolvida
para determinação dos impactos da microgeração distribuída dispersa em redes de
distribuição. Ela apresenta o modelo de inversor utilizado para cálculo das contribuições de
falta da GD, os modelos de rede utilizados, os impactos analisados, bem como a métrica
utilizada para aferição deles.
O capítulo 4 apresenta a metodologia e por consequência o estudo realizado para a
validação dos modelos apresentados. Isso é realizado de forma a determinar os impactos sobre
o planejamento da proteção tanto dos alimentadores (SDMT), mediante análise de
sensibilidade quanto à localização das GD, quanto a redes de baixa tensão (SDBT).
28

O capítulo 5 apresenta os resultados do estudo realizado, de forma a embasar as


conclusões do trabalho.
Por último, no capítulo 6, são apresentadas as conclusões desta dissertação,
considerações finais sobre o tema e sugestão de estudos futuros, os quais possam dar
continuidade ao trabalho desenvolvido.
29

2 ESTADO DA ARTE

De forma a servir como base ao desenvolvimento desta dissertação, foram estudados


neste capítulo, os principais estudos focados no impacto da GD sobre a proteção de redes.
Posteriormente, foi feita uma leitura crítica das resoluções que definem o arcabouço
regulatório da conexão de GD as redes de distribuição. Por último, foram discutidas as
normas e procedimentos para conexão de GD nas redes de distribuição.

2.1. Revisão bibliográfica: Impacto da geração distribuída sobre a


proteção de redes de distribuição

A literatura desenvolvida no âmbito do estudo dos impactos decorrentes da inserção da


GD aborda entre outros, os distúrbios no funcionamento dos dispositivos de proteção do
sistema de distribuição elétrica. Dentre esses, podem ser destacados os estudos sobre os
impactos no religamento automático de redes, da necessidade de adaptação da proteção frente
à geração distribuída, da possibilidade de ilhamentos não intencionais, da possibilidade de
perda de sensibilidade e coordenação pelos dispositivos de proteção, da modelagem dos
conversores eletrônicos utilizados na geração fotovoltaica, da proposição de sistema
multiagentes e proteção adaptativa, entre outros.
De forma a compreender tais impactos, a análise bibliográfica se inicia com estudos
referentes à definição e descrição dos impactos da geração distribuída sobre os sistemas de
proteção, passando posteriormente pelo aprofundamento no tema de impacto sobre o
funcionamento dos equipamentos de proteção, seguindo pelo tema de ilhamento intencional e
não intencional e por fim culminando nos impactos sobre os níveis de curto-circuito os quais
serão abordados posteriormente neste trabalho.

a) Visão geral dos impactos da geração distribuída sobre os sistemas de proteção

Em (DRIESEN; BELMANS, 2006) são apresentados diversos impactos causados pela


inserção da GD de pequeno porte nas redes de distribuição. Entre os temas abordados, estão
impactos na proteção e segurança, na qualidade de tensão e na estabilidade dinâmica e estática
das redes com penetração massiva de GD. Dentre as adversidades causadas pela penetração
massiva de GD aos esquemas de proteção das redes de distribuição, destaca-se a
bidirecionalidade, quando há a possibilidade de a corrente de falta seguir no caminho
30

contrário ao definido no esquema radial, podendo causar perda de seletividade da proteção.


Dessa forma, os autores sugerem a adoção de sistemas de proteção ativos ou a desconexão
automática das GD em condições de falta, evitando ilhamentos, exceto em casos intencionais.
No caso dos ilhamentos intencionais, devem ser considerados limites técnicos, como
capacidade para suprir serviços ancilares, e de segurança, como o não suprimento dos blocos
de defeito isolados e a ressincronização das GD no momento de reconexão.
Também são levantados em (SUJO; ASHOK; BANDYOPADHYAY, 2013) os
impactos da GD na proteção das redes de distribuição, principalmente no funcionamento
incorreto dos relés de proteção. Dentre eles estão as variações nos níveis de curto-circuito, o
fluxo de potência reverso, o ilhamento, a descoordenação da proteção, a perda de
sensibilidade e a atuação indevida dos equipamentos de proteção.
No caso da variação dos níveis de curto-circuito, a conexão de GD na rede de
distribuição pode ocasionar a ultrapassagem dos limites de proteção da rede, e como
consequência colocar em risco os equipamentos, a segurança e interromper o suprimento de
energia. Assim, a nova corrente de curto-circuito após a inserção das GD deve ser considerada
para configuração dos equipamentos de proteção das redes de distribuição.
As correntes de curto-circuito reversas apresentam risco às redes de distribuição, visto
que a proteção delas é projetada para redes radiais com fluxo unidirecional. Isso pode fazer
com que dispositivos de proteção atuem de forma indevida. O ilhamento não intencional das
redes de distribuição pode gerar uma variedade de perigos, como a segurança das equipes de
manutenção e o mau funcionamento de religadores automáticos. A perda de coordenação
ocorre quando o esquema inicial de coordenação, o qual deveria isolar o defeito no tempo
mais curto-circuito possível, afetando o mínimo de clientes, não é obedecido, ocasionando o
isolamento de uma área maior do que a necessária. A perda de sensibilidade da proteção
ocorre quando a corrente de falta observada pela proteção é reduzida devido à presença das
GD, resultando na não operação dos dispositivos.

b) Impacto da geração distribuída no funcionamento dos equipamentos de proteção

A partir dos estudos citados, observa-se que a GD pode acarretar o funcionamento


incorreto dos relés de proteção e fazer com que os mesmos não consigam alcançar seus
objetivos, que são: a prevenção de possíveis falhas que tragam a destruição de equipamentos,
a mitigação das consequências das contingências, evitando a propagação das mesmas e
prevenindo a operação indevida dos relés de proteção, os quais causam desligamentos
31

desnecessários de parte saudável das redes (ZAMORA; MAZON; VALVERDE; MARTIN;


SAN; BUIGUES; DYSKO, 2005).
Assim, é defendida a utilização de conversores eletrônicos para o acoplamento das GD
ao sistema de distribuição. Contudo esses também acarretam problemas na qualidade do
produto, como flutuações de frequência e inserção de correntes harmônicas, as quais resultam
na operação indevida dos relés de proteção.
Além disso, devido à intermitência da maioria das fontes de geração distribuída, como
a fotovoltaica e a eólica, há uma variação na impedância das fontes, as quais não são
perceptíveis aos relés de proteção. Para solucionar o problema é proposta a utilização de
sistemas de proteção adaptativa para mitigação dos impactos das GD, a qual seja capaz de se
adaptar as intermitências introduzidas pelas fontes alternativas (SUJO; ASHOK;
BANDYOPADHYAY, 2013).
Quanto à atuação indevida de equipamentos, pode-se citar também o desligamento não
intencional da GD devido a sua proteção de subtensão. Esse impacto se faz presente quando
falhas em redes vizinhas não são extintas de forma rápida o suficiente pela proteção da rede.
Para estudar esse impacto, são utilizados modelos do comportamento de inversores, visto que
a maioria das GD de pequeno porte são conectadas via conversores, os quais demonstram alto
risco, em cenários futuros, de desligamentos não intencionais. Assim, é proposta a mitigação
do risco através da reavaliação dos parâmetros dos dispositivos de proteção das redes
(JENNETT; BOOTH; COFFELE; ROSCOE, 2015).

c) Impacto da geração distribuída no ilhamento intencional e não intencional

Em (CHAITUSANEY; YOKOYAMA, 2005) é tratado o dimensionamento ideal de


GD para a operação em ilhamento intencional, com o objetivo de melhoria dos indicadores de
qualidade. Para tanto, a avaliação é realizada observando-se a coordenação entre os
religadores e os fusíveis das redes de distribuição. Em seu trabalho os autores defendem que a
introdução de GD em redes de distribuição irá alterar as características radiais dos
alimentadores de distribuição, de forma a introduzir fluxos de potência bidirecionais nos
mesmos. Contudo, a proteção convencional de redes de distribuição é baseada na proteção de
sobrecorrente, o que significa que a modificação de suas características radiais com fluxo
unidirecional fará com que a configuração da coordenação da proteção das redes não seja
mantida e os dispositivos de proteção poderão operar de forma indesejável.
32

Quanto ao ilhamento não intencional, (KUMPULAINEN; KAUHANIEMI, 2004)


aborda o perigo decorrente do religamento fora de fase devido ao ilhamento não intencional
das GD. Em seu estudo ele afirma que a ampla utilização da GD é incompatível com a
filosofia de proteção convencional das redes de distribuição, pois acarreta novos desafios.
Dentre esses, destacam-se o ilhamento não intencional, que afeta tanto a confiabilidade da
rede, quanto a segurança e a qualidade do produto; a perda de sensibilidade dos dispositivos
de proteção, devido à redução das contribuições de curto-circuito do alimentador por parte da
GD; a atuação não intencional dos dispositivos de proteção devido ao fluxo reverso
introduzido pela GD; o flickering de unidades de produção, o qual tem a capacidade de causar
perdas de produção consideráveis; a mudança dos níveis de curto-circuito das redes devido à
introdução das GD; e as sobretenções causadas pelo fluxo reverso introduzido pelas mesmas.
O autor ressalta a real possibilidade de compensação de carga devido a níveis consideráveis
de penetração e termina por propor métodos desenvolvidos para a proteção anti-ilhamento
passivos, ativos ou em abordagens baseadas na telecomunicação. Além disto, propõe a
utilização de relés de tensão de linha morta ou de conferência de sincronismo como back-up
da proteção anti-ilhamento para prevenir o religamento fora de fase.
Ainda no tema do ilhamento não intencional, a proteção anti-ilhamento é um requisito
para a conexão da GD e é utilizada para impedir que sistemas possam ser supridos por uma ou
mais GD em condições de isolamento. Usualmente os equipamentos utilizados para detecção
e desconexão são relés de sub e sobrefrequência e relés de sub e sobretensão. Contudo, existe
a possibilidade de equipamentos de proteção anti-ilhamento não serem acionados, gerando
riscos para as equipes de manutenção. Isto pode ocorrer quando as condições ilhamento são
propícias a não detecção ao que é chamado de zonas de não detecção dos relés. Esse impacto
é considerado uma limitação dos relés baseados em frequência e tensão e devem ser levados
em consideração na determinação das proteções anti-ilhamento (VIEIRA; FREITAS; XU;
MORELATO, 2008).
Em (LISSANDRON; SGARBOSSA; SANTA; MATTAVELLI; TURRI; CERRETTI,
2015) também é avaliado o impacto do ilhamento não intencional das GD. Em seu trabalho o
autor propõe uma abordagem analítica para definir áreas onde há a possibilidade de ilhamento
não intencional e verificam experimentalmente via protótipo laboratorial. O estudo é limitado
à operação em regime permanente e por isso outros trabalhos devem ser realizados para a
investigação dos riscos de ilhamento considerando o comportamento transitório durante
contingências.
33

Já (CHEN; WU; ZHANG; SINGH, 2015) defende que apesar dos desafios da inserção
da GD nas redes de distribuição, a mesma pode ser utilizada no contexto do ilhamento
intencional de forma a melhorar os indicadores de continuidade. Para tanto, ele apresenta um
modelo analítico para avaliação dos índices de confiabilidade das redes de distribuição,
utilizando dados históricos de ocorrências.
Em (PEDRINO; YAMADA; LUNARDI; VIEIRA, 2019) é argumentado que apesar
dos benefícios oriundos da GD, a conexão dessas em sistemas de distribuição deve ser
avaliada com cuidado, para minimizar impactos negativos a qualidade, proteção e operação
das redes. Em seu trabalho apresenta técnicas de detecção de ilhamento através de um
classificador inteligente baseado em programação genética. Ainda neste campo, (GOMES;
VIEIRA; COURY; DELBEM, 2018) apresenta método de detecção de ilhamento de
geradores síncronos através de técnica inovadora de mineração de dados (DAMICORE),
capaz de identificar padrões e similaridades em bancos de dados. Também no mesmo campo,
Em (MERLIN; SANTOS; GRILO; AHDA; VIEIRA; COURY; OLESKOVICZ, 2016) é
descrita nova metodologia para detecção de ilhamento através de redes neurais. Estes três
últimos trabalhos mostram como o campo dos estudos que tratam o chamado BIG DATA
(grande acervo de dados para análise) vem se inserindo no paradigma dos estudos de proteção
considerando a GD.
Para os autores, a maioria das distribuidoras possuem regulações quanto ao
desligamento imediato das GD em situação de contingência. Caso estes requisitos regulatórios
sejam respeitados, pode ser descartada parte considerável dos impactos causados pelas GD.
Há trabalhos que indicam que mesmo respeitando estes requisitos pode haver problemas de
afundamento de tensão (TRINDADE; NASCIMENTO; VIEIRA, 2013). Contudo, somente a
regulação não pode garantir a prática correta da proteção anti-ilhamento. Além disto, mesmo
havendo desconexão, não se pode garantir que a desconexão ocorrerá em tempo hábil para
que não haja queima indesejável de fusíveis ou falsos trips de elementos de proteção.

d) Impacto da geração distribuída sobre os níveis de curto-circuito

O impacto da GD com relação aos níveis de curto-circuito das redes de distribuição


está diretamente correlacionado ao tipo de GD, por ser ou não acoplada eletronicamente, ao
seu tamanho e sua localização. Essas afirmações são amplamente suportadas por vários
autores, como (GIRGIS; BRAHMA, 2001), (MCDERMOTT; DUGEN, 2002), (Doyle, 2002)
e (GOMEZ; MORCOS, 2005), e será abordada também neste estudo, em capítulos
34

subsequentes. Dentre os impactos relacionados à mudança nos níveis de curto-circuito, podem


ser citados, a perda de sensibilidade dos dispositivos de proteção, a perda de coordenação da
proteção contra sobrecorrente, a queima indevida de fusíveis, entre outros.
Em (BRAVO; LY, 2015) são avaliadas a contribuição de GD acopladas
eletronicamente, aos níveis de curto-circuito das redes de distribuição, mediante a utilização
de cenários. Os autores ressaltam ainda a importância da modelagem da GD para melhor
compreender os impactos causados pelas mesmas e para tanto, utilizaram dados de testes de
curto-circuito realizados em geradores acoplados eletronicamente.
Segundo os autores, a geração fotovoltaica causa impactos nos disjuntores das redes
de distribuição, mesmo com a reduzida contribuição dos inversores ao curto-circuito, pois
grandes penetrações destes geradores podem fazer com que os disjuntores sofram o impacto
de correntes de falta acima de seus limites. Isto ocorre, pois os disjuntores são escolhidos e
parametrizados considerando a proteção de circuitos compostos somente por uma única fonte
somada a elementos passivos e de acordo com as contribuições dos transformadores
encontrados nas subestações. Por outro lado, as GD são fontes adicionais de contribuição para
os curtos-circuitos, em paralelo a fonte convencional, e devem ser consideradas nos estudos
de proteção, para que medidas mitigatórias sejam tomadas.
Dessa forma (BRAVO; LY, 2015) recomendam medidas mitigatórias para a
acomodação de altas penetrações de GD nas redes de Distribuição. A primeira é a atuação da
proteção anti-ilhamento das GD para tensões abaixo de 50%, minimizando o impacto das GD
sobre os disjuntores em cenários de grande penetração de GD. A segunda medida mitigatória
recomendada é a padronização da máxima contribuição das correntes de falta dos geradores
acoplados eletronicamente em 1.2 p.u., para redução do impacto sobre os disjuntores. A
terceira medida é a padronização das análises das correntes de curto-circuito segundo a norma
(IEEE, 2003). A quarta medida proposta é sobrestimar os disjuntores quando repostos ou
dimensionados para novos sistemas de distribuição, de forma a acomodar futuras GD.
Por último, os autores defendem a necessidade de modelar com precisão as
tecnologias de geração integrada por inversores, como a solar fotovoltaica, eólica e células
combustíveis. E para isso, a melhor forma de desenvolver, regular e validar os modelos
computacionais, seria mediante a utilização de dados reais de inversores em laboratório e em
campo. Desta forma, podem-se entender melhor os impactos potenciais e permitir as
concessionárias a definirem melhor suas normas e processos quanto à conexão das GD.
De forma a mitigar tais impactos, (SIRSI; DASARATHAN, 2014) tratam da utilização
de limitadores de corrente para a adaptação das proteções dos relés de distância. Eles
35

defendem a utilização dos limitadores de corrente devido ao efeito da GD sobre a


coordenação dos relés de distância do tipo MHO. Em seu trabalho os autores descrevem os
impactos relacionados à perda de sensibilidade dos relés de proteção de distância e propõem a
utilização de limitadores de corrente resistivos, indutivos ou do tipo FLC, de forma a manter a
configuração original das redes de distribuição.

e) Comentários acerca da bibliografia analisada

A literatura evidencia a existência de impactos da contribuição de GD de pequeno


porte a proteção de redes de distribuição. Além disto, ela ainda apresenta modelos para
avaliação e quantificação destes impactos. Contudo, os estudos neste tema ainda possuem
limitações, principalmente quanto aos segmentos de análise, não possuindo uma análise
integrada dos segmentos SDMT e SDBT, quanto aos dispositivos de proteção analisados,
quanto à real contribuição dos inversores para os defeitos, quanto à arquitetura das redes
brasileiras ou quanto ao arcabouço regulatório brasileiro. Assim, este trabalho possui o
objetivo de oferecer uma metodologia capaz de avaliar o impacto da penetração massiva da
GD, de pequeno porte e dispersa pela rede de distribuição, sobre os elementos de proteção do
sistema de distribuição de energia brasileiro, avaliando a influência do tamanho, posição e
tipo de GD.

2.2. Arcabouço regulatório brasileiro

Nesta seção é apresentado o arcabouço regulatório brasileiro, no que tange à geração


distribuída de pequeno porte e contextualizada sua relevância ao presente trabalho. Assim,
serão apresentados os conceitos de microgeração distribuída, minigeração distribuída,
definição do mercado de empréstimo de energia, incentivos como os conceitos de
empreendimento com múltiplas unidades consumidoras, geração compartilhada e o
autoconsumo remoto, entre outros. Os temas são apresentados segundo a resolução normativa
482 (ANEEL, 2012a), a qual iniciou o processo de normatização do acesso de micro e
minigeradores ao sistema elétrico brasileiro e resolução normativa 687 (ANEEL, 2015b), a
qual revisa a resolução anterior e acrescenta as regras quanto aos novos conceitos como os
empreendimentos com múltiplas unidades consumidoras, a geração compartilhada e
autoconsumo remoto.
36

2.2.1. Definição dos conceitos da geração distribuída no Brasil

a) Resolução Normativa 482

A resolução normativa 482, “estabelece as condições gerais para o acesso de


microgeração e minigeração distribuídas aos sistemas de distribuição de energia elétrica, o
sistema de compensação de energia elétrica e dá outras providências”. Foi publicada no dia 17
de abril de 2012. Dela depreendem-se as normas necessárias para o funcionamento da mini e
micro gerações distribuídas no Brasil, determinando direitos e deveres tanto do consumidor
que deseja instalar uma fonte de geração distribuída, quanto da concessionária que o fará.

b) Resolução Normativa 687

A resolução normativa 687 foi desenvolvida considerando as contribuições recebidas


na Audiência Pública nº 026/2015, realizada entre 7 de maio de 2015 e 22 de junho de 2015,
que foram objeto de análise da ANEEL e permitiram o aperfeiçoamento da resolução
normativa 482.

c) Microgeração distribuída

Central geradora2 com potência instalada menor ou igual a 75 kW, que utiliza como
fonte a energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada.

d) Minigeração distribuída

Central geradora com potência instalada superior a 75 kW e inferior a 3 MW, para


fonte hidráulica e superior a 75 kW e inferior a 5 MW para fonte solar, eólica, biomassa ou
cogeração qualificada.

2
Agentes que exploram a atividade de geração de energia elétrica. Incluem autoprodutores, cogeradores e
produtores independentes (ANEEL, 2015a).
37

e) Autoconsumo remoto

Autoconsumo remoto é definido como consumidor que compensa energia gerada em


outra localidade, de mesmo CPF ou CNPJ.

f) Empreendimento com múltiplas unidades consumidoras

Empreendimento com múltiplas unidades consumidoras é definido como conjunto de


múltiplas unidades consumidoras, dentro de uma mesma propriedade ou de propriedades
contíguas, de responsabilidade de um condomínio, de um administrador, ou de um
proprietário comum, na qual exista instalação de micro ou minigeração. Pode ser resumido
como geração condominial.

g) Geração compartilhada

Geração compartilhada é definida como um grupo de consumidores, dentro da mesma


área de concessão ou permissão, por meio de consórcio ou cooperativa, que possua mini ou
microgeração em local diferente de seu consumo. Pode ser resumido como geração
cooperativa.

2.2.2. Sistema de compensação de energia elétrica

Sistema no qual energia ativa é injetada na rede por unidades de mini e microgeração,
através de empréstimos gratuitos à distribuidora local, sendo posteriormente, o consumidor-
gerador, compensado com o consumo de energia elétrica ativa da própria unidade geradora ou
de outra unidade consumidora com a mesma titularidade (mesmo CPF ou CNPJ, junto ao
Ministério da Fazenda).

a) Modelos de adesão

Os modelos de adesão são proprietários de empreendimentos de micro ou


minigeração, integrantes de empreendimentos com múltiplas unidades consumidoras, geração
compartilhada e caracterizados por consumo remoto. Por outro lado, é inviabilizada a adesão
38

ao sistema, por parte de locatários com contrato em valores energéticos. Ademais,


consumidores livres e especiais não podem aderir ao sistema.

b) Faturamento

O faturamento dos consumidores detentores de unidades de micro e minigeração, o


qual deve considerar a energia consumida, deduzida a energia injetada e os créditos
acumulados, por posto tarifário. Os clientes integrantes de empreendimentos com múltiplas
unidades consumidoras caracterizam-se por compensar percentuais de energia gerada
concernentes a cada um dos clientes.
Caso a energia injetada em um determinado posto tarifário seja maior que a energia
consumida, este excedente pode ser utilizado em outro posto, durante o mesmo ciclo de
faturamento. Como definido no capítulo I, instalações de mesma titularidade e de mesma
distribuidora podem ser compensadas, podendo o titular escolher a prioridade de
compensação, contudo sendo a geradora a prioridade número um.

c) Valor mínimo de contribuição

O consumidor deverá pagar à concessionária, mesmo quando injetar mais energia do


que consumir o valor mínimo referente ao custo de disponibilidade da potência instalada
(classe B) ou demanda contratada (classe A). O prazo máximo de uso do empréstimo de
energia em 60 meses.

d) Limites de acesso

O limite de potência instalada é limitado à potência disponibilizada pela


concessionária. Segundo a resolução normativa 404, (ANEEL, 2010) potência disponibilizada
é a potência que o sistema elétrico da distribuidora deve dispor para atender aos equipamentos
elétricos da unidade consumidora, os quais são a demanda contratada para unidades
consumidoras do grupo A e a multiplicação da capacidade nominal de condução de corrente
elétrica do dispositivo de proteção geral da unidade consumidora pela tensão nominal,
observado o fator específico referente ao número de fases, para unidades consumidoras do
grupo B. Estando especificado o conceito de potência disponibilizada, caso o consumidor
39

deseje instalar unidade de geração com potência instalada superior a sua potência
disponibilizada, o mesmo deve solicitar aumento de sua potência disponibilizada.

2.2.3. Procedimentos para conexão das unidades de geração distribuída

As definições para conexão de fontes de micro e minigeração distribuída são


apresentadas no PRODIST, mais precisamente no módulo 3 – Acesso ao Sistema de
Distribuição, na seção 3.7 – Acesso de Micro e Minigeração Distribuída (ANEEL, 2016).
Nele são definidos os níveis de tensão considerados para a conexão de micro e minicentrais
geradoras. As conexões podem ser observadas na Tabela 1.

Tabela 1. Níveis de tensão considerados para a conexão de centrais geradoras.

Potência Instalada Nível de Tensão de Conexão

< 10 kW Baixa Tensão

10 a 75 kW Baixa Tensão

76 a 150 kW Baixa Tensão / Média Tensão

151 kW a 500 kW Baixa Tensão / Média Tensão

501 kW a 10 MW Média Tensão / Alta Tensão

11 MW a 30 MW Média Tensão / Alta Tensão

> 30 MW Alta Tensão

Fonte: ANEEL, 2016.

Além disto, o documento também define os requisitos mínimos do ponto de vista de


conexão da micro e minigeração distribuída, os quais devem ser entregues pelo titular. Os
mesmos podem ser vistos na Tabela 2. Nele é definido que o elemento de desconexão deve
ser uma chave seccionadora visível e acessível, que a acessada 3 possa usar durante a
manutenção de seu sistema, para garantir a desconexão da central geradora, exceto para micro
e minigeradores que se conectem através de inversores.

3
Conforme o artigo segundo, referente à Resolução normativa 506 (ANEEL, 2012b), acessada é a distribuidora
detentora das instalações às quais o acessante conecta suas instalações próprias.
40

Para o caso de sistemas que se conectam à rede através de inversores, eles devem estar
instalados em locais de fácil acesso, e as proteções necessárias podem estar inseridas no
dispositivo, sem necessidade de redundância de proteções para os microgeradores. Ademais,
para o caso de utilização de inversores, o acessante4 deve apresentar certificados nacionais ou
internacionais, ou declaração do fabricante, que os equipamentos foram ensaiados conforme
as normas técnicas brasileiras ou internacionais, ou o número de registro da concessão do
Inmetro para o modelo e a tensão nominal de conexão constantes na solicitação de acesso, de
forma a atender aos requisitos de segurança e qualidade.
O elemento de interrupção deve ser automático e acionado por proteção, para
microgeradores e por comando e/ou proteção para minigeradores. O transformador de
acoplamento, necessário para unidades com potência instalada entre 75 kW e 5 MW, deve ser
um transformador de interface entre a unidade consumidora e a rede de distribuição. Nos
casos de conexões acima de 300 kW, caso o transformador de acoplamento não possua
aterramento do lado da acessada, deve-se usar uma proteção de sub e de sobretensão nos
secundários de um conjunto de transformador de potência em delta aberto.
As proteções de sub e sobretensão e sub e sobrefrequência para centrais geradoras até
500 kW de potência instalada não necessitam de relé de proteção específicos, contudo, devem
existir sistemas eletromecânicos que detectem tais anomalias e produzam saída capaz de
operar na lógica de atuação do elemento de interrupção. A proteção de sincronismo,
necessários a todas as unidades, assim como as proteções supracitadas, não necessita de relé
específico, mas sim de sistemas eletromecânicos que detectem tais anomalias e produzam
saída capaz de operar na lógica de atuação do elemento de interrupção, e de maneira que
somente ocorra a conexão após o sincronismo ser atingido.
No caso de operação em ilhamento, a proteção de anti-ilhamento deve garantir a
desconexão das instalações elétricas internas à unidade, incluindo a carga e a geração, sendo
vedada a conexão ao sistema da distribuidora durante a interrupção do fornecimento. No caso
dos medidores bidirecionais, eles devem no mínimo diferenciar a energia elétrica ativa
consumida da energia elétrica ativa injetada na rede pelo microgerador.

4
Conforme o mesmo artigo segundo, acessante é a unidade consumidora relativa a consumidor livre ou especial,
central geradora, importador, exportador ou distribuidora que conecta suas instalações próprias a instalações de
propriedade de distribuidora.
41

Por fim, a acessada pode propor proteções adicionais, desde que justificadas
tecnicamente em função de características específicas do sistema de distribuição acessado,
sem custos para microgeração distribuída.

Tabela 2. Requisitos mínimos em função da potência instalada.

POTÊNCIA INSTALADA
EQUIPAMENTO
500 kW> P > 75 5MW > P > 500
P <= 75 kW
kW kW

Elemento de desconexão Sim Sim Sim

Elemento de interrupção Sim Sim Sim

Transformador de
Não Sim Sim
acoplamento

Proteção de sub e sobretensão Sim Sim Sim

Proteção de sub e
Sim Sim Sim
sobrefrequência

Proteção contra desequilíbrio


Não Não Sim
de corrente

Proteção contra desbalanço


Não Não Sim
de tensão

Sobrecorrente direcional Não Sim Sim

Sobrecorrente com restrição


Não Não Sim
de tensão

Relé de sincronismo Sim Sim Sim

Anti-ilhamento Sim Sim Sim

Sistema de Medição Medidor 4 Medidor 4


Medição
Bidirecional Quadrantes Quadrantes

Fonte: ANEEL, 2016.

Após a leitura da resolução normativa 482, podemos observar a importância de um


bom planejamento das redes de distribuição por parte das concessionárias de energia elétrica.
Chegamos a esta conclusão, pois cabe a estas empresas o fornecimento de toda a
infraestrutura necessária para a conexão das unidades de mini e micro GD, bem como a
42

manutenção e operação das redes, para que possam suportar estas tecnologias, sobrando ao
consumidor, o papel de comprar e instalar equipamentos que sigam as normas de estipuladas.

2.3. Inovação

A GD pode introduzir novas possibilidades para as redes de distribuição elétrica


tornando as atividades de planejamento e operação mais desafiadoras. Entre essas
possibilidades, a GD permite aos consumidores comerciais desfrutar de um amplo conjunto de
combinações de Confiabilidade versus Preço. Portanto, a GD pode aparecer como uma rede
de distribuição elétrica autônoma, que atenda aos requisitos do consumidor, como, por
exemplo, a compensação de reativos, a compensação harmônica, o corte de demanda de pico
e a correção do fator de potência, além de fornecer meios de geração de reserva e melhoria da
confiabilidade (DEL MONACO, 2001).
No entanto, as redes de distribuição existentes não foram planejadas para acomodar
essas novas tecnologias. Assim, a conexão da GD ao sistema elétrico pode violar as práticas
operacionais e de planejamento existentes. Nesse sentido, deve notar-se que a integração da
GD, bem como de outros dispositivos de armazenamento, nas redes de distribuição, pode
alterar a prática existente de planejamento com um fluxo de energia unidirecional, o que pode
afetar consideravelmente a coordenação dos sistemas de proteção das distribuidoras
(BARKER, 2002), (MOZINA, 2006), (NAGPAL, M.; PLUMPTRE, F.; FULTON, R.;
MARTINICH, 2006).
No contexto do impacto da GD sobre o sistema de proteção, podem surgir diversos
problemas, como por exemplo, ilhamento não intencional, sobretensão, perda de
sensibilidade, bidirecionalidade, e queima inesperada de fusíveis, os quais são identificados e
documentados (BARKER, 2002), (MOZINA, 2006), (NAGPAL, M.; PLUMPTRE, F.;
FULTON, R.; MARTINICH, 2006). No entanto, questões críticas, como o limite de inserção
da GD, considerando a influência da localização, a capacidade e a tecnologia permanecem
sem resposta.
A criticidade dessa questão decorre da enorme infraestrutura das distribuidoras, o que
contribui para tornar qualquer mudança em grande escala impraticável para promover a
acomodação da GD. Assim, o desenvolvimento de um procedimento genérico para determinar
o impacto nas práticas de distribuição de energia, bem como para avaliar os limites de
inserção em termos de localização, capacidade e tecnologia da GD torna-se preponderante.
43

Isso ajudará a facilitar a integração segura das unidades de GD nas redes existentes,
através do melhor entendimento dos requisitos e melhorias necessárias para atingir esse
objetivo. O resultado direto desse desenvolvimento é a expectativa de economia financeira
para as distribuidoras ao capturar os principais aspectos da integração da GD em redes
existentes.
As metodologias típicas utilizadas para analisar o impacto da GD que serão
apresentadas inicialmente neste trabalho servem para orientar a avaliação dos possíveis
impactos no sistema de proteção. Comumente, essas metodologias são baseadas em uma
análise determinística, avaliando o impacto de algumas grandes unidades geradoras,
geralmente com potência nominal de mais de 1 MW como observado em (DOYLE, 2002),
(BRAHMA; GIRGIS, 2004), (KUMPULAINEN; KAUHANIEMI, 2004), (CHAITUSANEY;
YOKOYAMA, 2005b), (OCHOA; PADILHA-FELTRIN; HARRISON, 2006). Desta forma, a
inovação apresentada neste trabalho baseia-se no uso de uma metodologia probabilística para
avaliação de cenários de inserção de pequenas unidades de GD em redes de média e baixa
tensão e a análise de possíveis impactos nos sistemas de proteção de redes de média tensão.
No trabalho, a abordagem se difere das demais ao mostrar que as mesmas técnicas de
análise podem ser utilizadas para avaliar os impactos da penetração maciça de pequenas
unidades de geração distribuídas espalhadas pela rede. Assim, a inovação baseia-se na
abordagem probabilística dada ao problema, já que no planejamento das redes de distribuição
torna-se interessante ter uma metodologia capaz de simular diferentes cenários de penetração
de pequenas unidades de GD, geralmente com potência nominal entre 1 kW e 1 MW.
44

3 IMPACTO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA SOBRE


SISTEMAS DE PROTEÇÃO

A alternativa de GD é vista como uma mudança no paradigma da geração de energia


no mundo. A adoção de fontes renováveis de energia para produção residencial ou comercial
traz não apenas benefícios ambientais, mas também uma oportunidade para aliviar as
dificuldades de abastecimento encontradas em muitos países. Contudo, apesar de solucionar
problemas de suprimento, esta mudança de paradigma causada pela inserção da GD pode
trazer impactos técnicos indesejados.
Os impactos técnicos avaliados comumente no planejamento das redes de distribuição
elétrica envolvem a expansão da rede. Dentre os impactos técnicos típicos podem-se citar
perdas, fator de potência, carregamento de linhas, carregamento de transformadores e
problemas de subtensão. No entanto, uma inserção massiva da GD também pode causar
impactos técnicos significativos à proteção das redes de distribuição, envolvendo assim o
planejamento da proteção. Desta forma, é necessário identificar potenciais problemas de
proteção e desenvolver formas de modelar, diagnosticar e mitigar esses impactos.
Tendo em vista o problema supracitado, este capítulo pretende descrever a importância
da previsão dos impactos potenciais da penetração massiva de fontes renováveis no sistema de
proteção das redes de distribuição a fim de alcançar um planejamento de rede integrado. No
início deste capítulo são discutidos os principais problemas do sistema de proteção que podem
surgir a partir da penetração massiva da geração distribuída, como perda de coordenação da
proteção, sobretensão, perda de sensibilidade, bidirecionalidade, queima inesperada de
fusíveis, entre outras. O capítulo demonstra também os possíveis modelos utilizados para
avaliar esses impactos, como a modelagem de rede e modelagem de fontes renováveis,
possíveis abordagens ao problema da proteção, como as perspectivas probabilísticas e
deterministas, em relação aos algoritmos de alocação de GD e as possíveis metodologias de
avaliação, como cenarização e análise de sensibilidade.

3.1. Geração distribuída e os sistemas de proteção

Para determinar os limites de penetração da GD, capazes de causar impactos ao


sistema de proteção, devem-se definir inicialmente quais são estes impactos. Assim, eles são
discutidos nesta seção. Estes são a perda de coordenação da proteção, bidirecionalidade,
queima inesperada de fusíveis, perda de sensibilidade e sobretensão.
45

Esta seção também apresenta métodos genéricos para avaliar os impactos da GD na


proteção de redes de distribuição elétrica. A fim de orientar a avaliação de impacto, cada
problema de proteção é discutido individualmente, possibilitando a determinação dos limites
de inserção que desencadeiam os problemas abordados.

3.1.1. Perda de coordenação da proteção

Em operação normal, os dispositivos de proteção são coordenados para que o esquema


de proteção primário seja acionado antes do esquema de retaguarda. Contudo, a interligação
da GD eleva os níveis de curto-circuito. Desta forma, dependendo dos parâmetros de
coordenação iniciais, juntamente com a localização, tamanho e tipo de GD, é possível chegar
a uma situação em que a coordenação da proteção não possa mais ser alcançada. Nestes casos,
o dispositivo de proteção de retaguarda atua antes da proteção primária, resultando em
operação inadequada para parte das cargas da rede. Os principais dispositivos de proteção
utilizados na coordenação da proteção são fusíveis, religadores e relés. A seguir, de forma a
ilustrar a perda de coordenação, são demonstrados os efeitos da GD na coordenação entre
fusíveis.

Figura 8. Diagrama esquemático de uma coordenação fusível-fusível tradicional sem GD.

Fonte: Elaboração própria.


46

Um fusível possui duas características que definem seu comportamento, que são o TM
e TT. O TM determina o tempo desde o início de uma sobrecorrente até o arco instantâneo se
inicie dentro de um fusível. O TT é o tempo de abertura total de um fusível, desde a
ocorrência de uma sobrecorrente até o fusível extinga o fluxo de corrente. Isto é, a soma do
tempo de fusão e de arco. Para ilustrar esse comportamento, a Figura 8 traz um exemplo de
circuito onde há a coordenação de dois fusíveis.
Para que os fusíveis estejam coordenados para qualquer falta a jusante do fusível 2, ele
deve atuar antes do fusível 1. Isso seria alcançado se curva TT do fusível 2 estiver abaixo da
curva TM do fusível 1 por uma margem segura para qualquer falha.
O impacto do GD na proteção deriva da mudança nos valores das correntes de curto-
circuito que fluem no sistema para qualquer falha. Esta mudança pode ocasionar até mesmo
um fluxo reverso durante a falta, resultando em outros possíveis problemas, como
bidirecionalidade e a queima inesperada de fusíveis, que serão abordados nas seções a seguir.
Voltando ao problema da coordenação, os valores de corrente de falta mínima e
máxima podem ser elevados, devido à presença da GD a montante do fusível 2. Neste caso, a
proteção de retaguarda acaba abrindo, em vez da proteção principal. Para ilustrar esse
comportamento, é mostrado na Figura 9, como a coordenação entre fusíveis pode ser afetada,
em um sistema de distribuição radial com a presença de GD (GIRGIS; BRAHMA, 2001).

Figura 9. Diagrama esquemático de uma coordenação fusível-fusível tradicional com GD.

Fonte: Elaboração própria.


47

Para que os fusíveis estejam coordenados, para qualquer falha a jusante do fusível 2, o
fusível 2 deve funcionar antes do fusível 1. Assim, dependendo da configuração do sistema,
pode-se ocorrer perda de coordenação entre qualquer par de dispositivos de proteção, seja
entre fusíveis, entre religadores, entre fusível e religador, assim por diante. Em cada caso, a
corrente mínima de curto-circuito que causa a perda de coordenação ajuda a identificar o nível
máximo de penetração permitido para a instalação das GD.

3.1.2. Bidirecionalidade

A instalação da GD em redes de distribuição elétrica pode levar à bidirecionalidade de


atuação dos dispositivos de proteção. Este problema ocorre quando há atuação indesejada de
um dispositivo de proteção, acarretando a desconexão de uma parte "saudável" do sistema que
é desnecessariamente interrompida. A bidirecionalidade é facilmente observada em sistemas
em malha supridos por uma mesma fonte e torna-se também relevante em sistemas radiais,
uma vez que permite que uma falta seja suprida por uma GD instalada em redes adjacentes.
Para ilustrar tal situação, considere dois alimentadores radiais e paralelos, alimentadas
a partir de uma mesma fonte (mesmo transformador de subestação SDAT / SDMT). Sem a
presença da GD, caso um curto-circuito ocorrer em um dos dois alimentadores, o curto-
circuito será completamente alimentado pelo transformador da subestação e o outro
alimentador não contribuirá para a corrente de curto-circuito, como ilustrado na Figura 10.

Figura 10. Corrente de curto-circuito através de alimentador adjacente sem GD.

Fonte: Elaboração própria.


48

Neste exemplo a corrente que passa no relé do disjuntor D2 não será invertida e seu
relé não atuará em resposta a um curto-circuito no alimentador A1.
Alternativamente, caso uma GD seja instalada no alimentador "saudável" A2, a
contribuição de A2 para a corrente de curto-circuito, para uma falta no alimentador A1 não
será nula. Isso é ilustrado na Queima inesperada de fusíveis
.

Figura 11. Corrente de curto-circuito através de alimentador adjacente com GD.

Fonte: Elaboração própria.

Nesse caso, se o relé de proteção do disjuntor D2 estiver parametrizado com uma


curva de disparo de proteção mais rápida que o relé de proteção do disjuntor D1, o disjuntor
D2 pode atuar mais rápido ao curto-circuito no alimentador A1, interrompendo
desnecessariamente o alimentador A2.
Além disso, é possível que o problema de bidirecionalidade também ocorra na
presença de religadores. Para ilustrar isso, considere dois alimentadores supridos pela mesma
fonte, como mostrado na Figura 12.
49

Figura 12. Corrente de curto-circuito através de alimentador adjacente com GD, considerando
efeitos sobre os religadores.

Fonte: Elaboração própria.

Ambos alimentadores possuem disjuntores e religadores, de forma a evitar que falhas


temporárias queimem fusíveis em ramais adjacentes. Caso não haja uma GD no alimentador
A2, tanto o relé do disjuntor D2 como o religador RA2 não atuarão devido a uma falha no
alimentador A1. No entanto, caso haja a instalação de uma GD no alimentador A2, ela
contribuirá para a corrente de curto-circuito em uma falta no alimentador A1. Esta
contribuição pode ser percebida pelo religador RA2, que pode atuar rapidamente devido a
correntes de curto-circuito acima de seus níveis de pick-up. Assim, o religador RA2 pode
operar antes do religador RA1, causando uma interrupção desnecessária de uma porção
"saudável" do sistema.

3.1.3. Queima inesperada de fusíveis

As estratégias de salvamento de fusíveis geralmente são aplicadas por concessionárias


para evitar a queima de fusíveis devido a falhas temporárias. Para este fim, os religadores
automáticos desenergizam e reenergizam a linha, a fim de impedir a queima de fusíveis. Esta
estratégia é amplamente adotada em redes de distribuição com características suburbanas ou
rurais. Muitas falhas são temporárias por natureza, então o papel do religador é tentar eliminar
50

as falhas temporárias sem a necessidade de uma interrupção permanente, além de salvar


fusíveis, evitando o uso desnecessário de fusíveis.
No entanto, a instalação de GD em redes de distribuição pode afetar a coordenação
entre o religador e os fusíveis, devido à contribuição adicional da GD para a corrente de curto-
circuito. Nesses casos, a coordenação entre o religador e os fusíveis pode ser perdida e os
fusíveis podem queimar antes da operação do religador. Ou ambos os fusíveis podem queimar
e o religador pode operar ao mesmo tempo, adicionando mais dificuldade à localização da
falha.
Para ilustrar tal situação, considere dois circuitos. O primeiro circuito é uma rede
radial suprida por uma única fonte. O segundo circuito é a mesma rede, entretanto a mesma é
suprida tanto pela fonte quanto por uma GD, como ilustrado nas Figura 13 e Figura 14.
.

Figura 13. Contribuição à falta a montante do fusível F2 sem GD.

Fonte: Elaboração própria.


51

Figura 14. Contribuição à falta a montante do fusível F2 com GD.

Fonte: Elaboração própria.

Sem a GD, uma falta a montante do fusível 2 é suprida apenas pela fonte da rede e não
é necessária uma coordenação entre o religador R1 e o fusível F2, uma vez que não há
corrente que passa pelo fusível F2. Na segunda situação, a contribuição do curto-circuito vem
tanto da fonte como da GD. Isso pode causar uma perda de coordenação entre o religador R1
e o fusível F2 e fazer com que F2 funda sem necessidade.

3.1.4. Perda de sensibilidade

A adição de uma GD em um sistema de distribuição pode reduzir a contribuição da


corrente de curto-circuito da fonte principal da rede. Isso afeta a operação de dispositivos de
proteção de rede, como disjuntores, religadores e fusíveis, perturbando sua capacidade de
"detectar" a corrente de falta. Este aspecto é bastante dependente do tipo, tamanho e
localização da GD.
Para ilustrar o impacto da instalação GD na sensibilidade dos dispositivos de proteção,
considere um sistema radial genérico, como mostrado nas Figura 15, Figura 16 e Figura 17.
Um sistema radial genérico sem a instalação de qualquer GD é mostrado na Figura 15. Nesta
rede, em condições de curto-circuito, a corrente de curto-circuito é completamente fornecida
52

pela subestação do utilitário. Neste caso, o relé de proteção de rede deve ser configurado para
responder ao valor de corrente de curto-circuito mais baixo.

Figura 15. Falta suprida apenas pela fonte principal.

Fonte: Elaboração própria.

É mostrado na Figura 16 o mesmo circuito com uma GD instalada. Para uma falha a
jusante da GD, a corrente de curto-circuito é fornecida tanto pela subestação como pela GD.
A contribuição de cada fonte dependerá das impedâncias entre a fonte e o ponto de falha.

Figura 16. Falta suprida tanto pela fonte principal, quanto pela GD localizada a montante da
falta.

Fonte: Elaboração própria.

Para uma falha localizada entre a subestação e a GD, como mostrado na Figura 17, a
contribuição da subestação para a corrente de curto-circuito é independente da GD. O efeito
extremo da GD é diminuir a sensibilidade da rede para um limite onde não "detecta" a falha.
53

Figura 17. Falta suprida tanto pela fonte principal, quanto pela GD localizada a jusante da
falta.

Fonte: Elaboração própria.

3.1.5. Sobretensão

Os principais problemas relacionados à sobretensão associados à GD incluem,


segundo (BARKER, 2002) e (IEEE, 2006):
 Sobretensão temporária devido a condições de curto-circuito fase terra, causadas
pelo aterramento incorreto da GD ou do transformador de acoplamento.
 Sobretensão originada na concessionária e adjacências, que afeta o esquema de
geração distribuída.
 Sobretensões ressonantes que podem surgir durante condições de ilhamento.
 Surtos que podem surgir devido à alta injeção de energia por recursos distribuídos.
Sobretensões temporárias devido às faltas para a terra, ocasionadas por condições
inapropriadas de aterramento do GD ou do transformador de interface, são abordadas nessa
seção. O dimensionamento correto dos para-raios pode prevenir danos à instalação do GD
ocasionados pelos surtos de tensão elevada originados no ambiente adjacente.
As sobretensões ressonantes podem surgir por causa da interação entre a combinação
da indutância do transformador de interface e com a do GD e a capacitância do sistema. Trata-
se de um problema operacional complexo, o qual deve ser abordado em um contexto
diferente, utilizando-se programas de simulação dinâmica detalhados, tal como EMTDC ou
EMTP. De maneira similar, sobretensões originadas devido a uma elevada injeção de potência
pelo GD também se trata de um problema operacional complexo, o qual deve ser abordado
em um contexto diferente. Na Tabela 3 são apresentadas cinco conexões típicas de
54

transformadores, largamente empregadas para a interconexão de GD aos sistemas das


concessionárias.

Tabela 3. Transformadores de acoplamento para GD.

SDMT – Lado da Concessionária SDBT – Lado da GD

Delta Delta

Delta Estrela aterrado

Estrela Delta

Estrela aterrado Delta

Estrela aterrado Estrela aterrado

Fonte: Elaboração própria.

Para as primeiras três conexões, as principais vantagens são:


 Não existem impactos na coordenação do relé de neutro da concessionária;
 Qualquer falta para a terra no lado do GD não será percebida pelo sistema de
proteção da concessionária, i.e., a coordenação envolvendo defeitos para a terra
não será afetada.
Entretanto, a principal preocupação das conexões de transformadores de acoplamento
com o lado não aterrado da concessionária é que, depois da atuação do disjuntor do
alimentador da concessionária devido a uma falta permanente, o sistema será alimentado por
uma fonte não aterrada. Isso submete as fases sãs a sobretensões que irão aproximar-se do
nível de tensão da linha do sistema.
Em relação ao quarto tipo de conexão, estrela aterrado (SDMT) / Delta (SDBT), para
uma falha à terra no lado da GD, a concessionária não contribui para a corrente de sequência
zero. Isso evita que a proteção da concessionária atue sem necessidade. No entanto, a
desvantagem deste tipo de conexão é que ele atua como uma fonte de corrente de sequência
zero, estabelecendo assim uma corrente de sequência zero para falhas envolvendo a terra no
sistema de distribuição. Isso pode afetar significativamente a coordenação do relé responsável
pela proteção neutra da concessionária.
Além disso, a circulação de corrente de sequência zero no primário do transformador
de interconexão (lado da concessionária) provocará a circulação de uma elevada corrente no
secundário (lado do GD), podendo acarretar problemas de aquecimento no transformador.
55

Uma solução comumente utilizada para contornar esse problema é a instalação de


impedâncias de aterramento no neutro do lado primário, de modo a limitar o fluxo excessivo
de corrente. Nesses casos, a impedância de aterramento deve ser suficientemente alta, para
limitar a circulação de corrente, mas suficientemente baixa para garantir a efetividade do
aterramento do GD.
Outro aspecto se refere à presença de cargas desequilibradas no circuito de
distribuição. Normalmente, as correntes dessas cargas retornam para a terra através do
aterramento do neutro do transformador da concessionária, localizado na subestação. Com a
inserção de um transformador de interconexão com esse tipo de ligação, a corrente devido a
esse desequilíbrio será dividida entre o transformador da concessionária e o transformador de
interconexão do GD. Durante condições drásticas de desequilíbrio, tais como a queima de
fusíveis em ramais do alimentador, a capacidade de carregamento do transformador de
interconexão pode ser reduzida. O uso de uma ligação estrela-aterrada no lado da
concessionária e de uma ligação delta no lado do GD tem a vantagem de limitar sobretensões
que podem ser originadas quando o disjuntor da concessionária abre, consequentemente,
impedindo que para-raios e cargas sejam danificados.
O quinto tipo de ligação para o transformador de interconexão, estrela aterrado
(SDMT) / estrela aterrado (SDBT), têm como vantagem o fato de que sobretensões não serão
originadas quando o disjuntor da concessionária abre (considerando o neutro solidamente
aterrado). No entanto, a maior desvantagem deve-se ao fato desse tipo de ligação funcionar
como uma fonte indesejável de corrente de sequência zero, similar àquela descrita para o tipo
de ligação anterior.

3.2. Modelos elétricos

O objetivo deste capítulo é, além de demonstrar os possíveis impactos da GD na


proteção das redes de distribuição, oferecer alternativas para a análise de tais impactos. Com
esse objetivo, são utilizadas ferramentas de fluxo de potência e curto-circuito. Para utilizar
tais ferramentas, faz-se necessária a modelagem elétrica das redes de distribuição, bem como
dos prossumidores. Por simplicidade as avaliações levaram em consideração apenas a porção
trifásica de sistemas de distribuição. Assim, esta seção apresenta os modelos utilizados nas
avaliações.
56

3.2.1. Modelo elétrico da geração distribuída

A metodologia considera o uso de ferramentas tradicionais para análise de redes de


distribuição elétrica, como o fluxo de potência e a simulação de curto-circuito. Sabe-se que a
contribuição dos inversores durante falhas não é zero e varia de acordo com o projeto do
inversor. Para a maioria das condições de falta, vários inversores continuam fornecendo
corrente para a rede, por um período que varia de 4ms a 180ms. Para a maioria dos modelos
de inversor, a corrente fornecida pelo inversor durante a falta pode variar de 100% a 200% da
corrente nominal do inversor (TURCOTTE; KATIRAEI, 2009), (KATIRAEI; RAJDA,
2012). Assim, o modelo de GD para uma fonte acoplada por inversores, deve considerar, em
uma análise conservadora, uma contribuição de curto-circuito em torno de 2 vezes sua relação
de corrente nominal, enquanto a proporção considerada para máquinas rotativas é em torno de
10 vezes sua corrente nominal conforme definido em (TURCOTTE; KATIRAEI, 2009).
O modelo elétrico, baseado em componentes simétricas, para avaliação de curto-
circuito usado para representar a GD acoplada por inversores não considera contribuição de
sequência negativa ou zero como visto em (MULJADI; SINGH; BRAVO; GEVORGIAN,
2013). O modelo elétrico usado para representar as máquinas rotativas considera sua conexão,
como por exemplo, delta ou estrela. Os modelos elétricos para máquinas rotativas, separados
por enrolamento, podem ser vistos na Tabela 4. O modelo elétrico para o gerador baseado em
inversor é detalhado na Tabela 5.

Tabela 4. Modelo de máquina rotativa utilizado para a avaliação do impacto da GD.

Ligação Sequência zero Sequência positiva Sequência negativa

Y Z0 Z1 Z2
G

Z0 Z1 Z2
Y G

Z0 Z1 Z2
G

Fonte: Elaboração própria.


57

Tabela 5. Modelo conectado por inversores utilizado para a avaliação do impacto da GD.

Sequência zero Sequência positiva Sequência negativa

Z0 Z1 Z2
G

Fonte: Elaboração própria.

3.2.2. Modelo elétrico da rede

As ferramentas de cálculo elétrico dependem da modelagem elétrica dos equipamentos


de rede, como linhas de média e baixa tensão, transformadores de distribuição de média e
baixa tensão, dispositivos de proteção e consumidores, conforme representado em (KAGAN;
OLIVEIRA; ROBBA, 2005).
As redes de média e baixa tensão são modeladas com base na teoria dos componentes
simétricas e no modelo de circuito PI, como ilustrado na Tabela 6. Os transformadores de
média e baixa tensão são modelados com base na teoria das componentes simétricas, como
ilustrado na Tabela 7.

Tabela 6. Modelo de rede utilizado para a avaliação do impacto da GD.

Sequência zero Sequência positiva Sequência negativa

Z0 Z1 Z2

Fonte: Elaboração própria.


58

Tabela 7. Transformadores de acoplamento para GD.

Ligação Sequência zero Sequência positiva Sequência negativa

Z0 Z1 Z2

Z0 Z1 Z2

Z0 Z1 Z2
+Def -Def

Z0 Z1 Z2
+Def -Def

Z0 Z1 Z2

Fonte: Elaboração própria.

Os clientes do modelo de rede de distribuição são baseados em curvas de carga. As


curvas de carga são calculadas com base no comportamento de carga típico dos clientes e seu
consumo de energia mensal como visto em (KAGAN; OLIVEIRA; ROBBA, 2005). A Figura
18 ilustra uma curva característica residencial.
59

Figura 18. Exemplo de curva típica de carga de um consumidor residencial.

Fonte: Elaboração própria.

3.3. Procedimentos para avaliação do impacto da GD

As metodologias para avaliação dos impactos da GD na proteção das redes de


distribuição baseiam-se no risco de não se considerar a contribuição da GD durante
contingências. Para avaliar esse risco, é necessário avaliar cada um dos impactos previamente
introduzidos, com e sem a presença da GD. Assim, as próximas seções apresentarão
procedimentos genéricos para avaliação dos limites de penetração da GD para cada uma das
questões de proteção levantadas.

3.3.1. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da


geração distribuída para perda de coordenação

O objetivo desta seção é desenvolver um procedimento genérico para orientar a


determinação dos limites de penetração das GD em termos de tamanho, localização e
60

tecnologia do ponto de vista da perda de coordenação. O procedimento consiste em cinco


etapas como pode ser visto a seguir.
1. Em um determinado sistema, defina diferentes caminhos de coordenação. Um
caminho de coordenação pode ser definido como o conjunto de dispositivos de
proteção localizados ao longo do caminho do circuito que parte do disjuntor
principal do alimentador até o dispositivo localizado mais a jusante. Como a maior
parte dos fusíveis laterais (ou sub-laterais) são selecionados de forma a serem
semelhantes (de modo facilitar a manutenção), um número de caminhos de
coordenação é limitado.
2. Faça o estudo de coordenação e a construção dos diagramas de coordenação para
os diferentes caminhos de coordenação determinados para o sistema em estudo.
3. Determine o menor valor de corrente de curto-circuito para o qual a perda de
coordenação pode ocorrer entre todos os caminhos de coordenação. Esse valor de
corrente é obtido a partir da intersecção das curvas de coordenação de dois
dispositivos de proteção sucessivos. Deve ser observado que tal valor de corrente
pode não existir caso não exista intersecção entre as curvas de coordenação.
Nesses casos, não existirá limite para a instalação de GD capaz de promover a
violação da coordenação do sistema.
4. Defina os pontos candidatos onde GD podem ser instalados tanto nas redes de
média tensão, quanto nas redes de baixa tensão. Os limites de penetração deverão
ser calculados para esses pontos em específico. Os pontos candidatos podem ser
obtidos por meio de estudos de planejamento, cujo objetivo seria a alocação ótima
de GD para promover a minimização das perdas e melhorar o perfil de tensão, ou
podem ser determinados pelos consumidores, ou ainda podem ser determinados de
forma aleatória, de forma a possibilitar o risco de instalação das GD.
5. Simule a instalação da GD no primeiro ponto candidato, aumentando o tamanho da
GD e do seu transformador de conexão passo-a-passo até obter o menor valor de
corrente de curto-circuito que promova a perda de coordenação. Em seguida,
registre o tamanho do GD responsável pela perda de coordenação. Deve-se
observar que se aumentando o tamanho do GD e do seu transformador de conexão,
inerentemente, aumenta-se a capacidade MVA de curto-circuito do conjunto GD-
transformador. É necessário repetir esse passo para cada ponto de instalação
candidato. Para compreender a influência de diferentes tecnologias de GD, é
61

necessário repetir este passo para cada tecnologia, como por exemplo, gerador
síncrono, gerador por indução e inversores.

3.3.2. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da


geração distribuída para bidirecionalidade

O objetivo desta seção é desenvolver um procedimento genérico para orientar a


determinação dos limites da inserção da GD em termos de tamanho, localização e tecnologia,
do ponto de vista da bidirecionalidade dos dispositivos de proteção. O procedimento é muito
semelhante ao desenvolvido para a coordenação e pode ser resumido da seguinte forma.
1. Defina os diferentes caminhos de coordenação no sistema em estudo.
2. Faça o estudo de coordenação e a construção dos diagramas de coordenação para
os diferentes caminhos de coordenação determinados para o sistema em estudo,
sem considerar a presença do GD.
3. Defina os pontos candidatos onde GD podem ser instalados.
4. Simule a instalação do GD nos pontos candidatos, aumentando o nível de
penetração da GD até obter o maior valor de corrente de curto-circuito que
promova a ocorrência do problema da bidirecionalidade. Caso necessário, deve-se
repetir este passo para cada ponto candidato. Para o cálculo da corrente de curto-
circuito máxima, deve-se aplicar o curto-circuito a montante do equipamento de
proteção avaliado.

3.3.3. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da


geração distribuída para queima inesperada de fusíveis

O objetivo desta seção é desenvolver um procedimento genérico para orientar a


determinação dos limites de inserção da GD, do ponto de vista da queima inesperada de
fusíveis. O procedimento pode ser resumido da seguinte forma.
1. Defina os diferentes caminhos de coordenação no sistema em estudo.
2. Execute o estudo de proteção e construa os diagramas de coordenação para os
caminhos de coordenação sem considerar a instalação de GD.
3. Observe o nível de curto-circuito para o qual a queima inesperada de fusível possa
ocorrer. Esse valor de corrente é obtido observando-se a intersecção entre a curva
rápida do religador e a curva de extinção de arco do fusível.
62

4. Defina os pontos candidatos para a instalação do GD.


5. Simule a instalação do GD no primeiro ponto candidato e, em seguida, aumente o
tamanho do GD passo-a-passo até que a corrente atinja o valor para a queima
inesperada do fusível. Caso necessário, repita o procedimento para cada ponto
candidato e tecnologia. Para o cálculo da corrente de curto-circuito máxima, deve-
se aplicar o curto-circuito a montante do equipamento de proteção avaliado.

3.3.4. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da


geração distribuída para perda de sensibilidade

O objetivo desta seção é desenvolver um procedimento genérico para orientar a


determinação dos limites de inserção da GD do ponto de vista da perda de sensibilidade. O
procedimento pode ser resumido da seguinte forma.
1. No sistema em estudo, determine o ponto com menor corrente de curto-circuito
que é protegido pelo disjuntor/religador principal do alimentador. Para tanto
devem ser calculadas as correntes de curto-circuito em todos os pontos de
transição entre zonas de proteção e finais de ramais dentro da zona de proteção do
equipamento de proteção.
2. Determine as correntes de pick-up (trifásica e fase-terra) para os dispositivos de
proteção do alimentador.
3. Defina os pontos candidatos onde GD podem ser instalados. Os limites de
penetração deverão ser calculados para esses pontos em específico. Os pontos
candidatos podem ser obtidos por meio de estudos de planejamento, cujo objetivo
seria a alocação ótima de GD, ou podem ser determinados pelos consumidores, ou
ainda podem ser alocados de forma aleatória, de forma a calcular o risco da
instalação da GD.
4. Simule a instalação do GD no primeiro ponto candidato e estabeleça as condições
de defeito para o ponto definido no Passo 1. Em seguida, aumente nível de
penetração da GD, observando a contribuição da subestação para a corrente de
curto-circuito até que essa atinja o nível de sensibilização (valor de pick-up). A
impedância do GD, bem como do transformador de conexão pode ser estimado de
acordo com procedimentos de (BRAHMA; GIRGIS, 2004). Caso necessário, deve-
se repetir este passo para cada ponto candidato. Para compreender a influência da
63

tecnologia de geração, é necessário repetir este passo para outras tecnologias,


como geradores síncronos, a indução e acoplados por inversores.

3.3.5. Procedimento genérico para avaliar os limites de penetração da


geração distribuída para sobretensão

Como pode ser visto a partir da discussão apresentada na seção 3.1.5, não aterrar o
transformador de acoplamento da GD expõe a rede e os consumidores conectados a ele a
níveis perigosos de sobretensão temporária. Por outro lado, o aterramento sólido pode limitar
a sensibilidade da proteção a níveis inaceitáveis durante falhas à terra. O aumento da
impedância de aterramento deve atender esses dois aspectos simultaneamente. Ou seja,
aumentar a impedância de aterramento pode ser feito de tal forma que o valor dimensionado
permita que os níveis de sobretensão sejam aceitáveis com uma pequena redução de
sensibilidade (cerca de 5%) para a menor corrente de falta.
Um procedimento genérico para orientar a determinação dos limites de inserção da
GD do ponto de vista das sobretensões temporárias pode ser resumido conforme segue.
1. Defina os pontos candidatos onde a GD pode ser instalada, incluindo os detalhes
para o transformador de interconexão e para aterramento.
2. Para os transformadores de acoplamento não aterrados, o segundo passo é definir o
esquema de proteção da GD, que deve garantir que a GD seja desconectada do
sistema antes da abertura do disjuntor, para cada ponto candidato.
3. Para conexões aterradas, o segundo passo é simular o curto-circuito fase-terra e
calcular a variação percentual na sensibilidade à falta a terra. Se a mudança de
sensibilidade for superior a 5%, deve-se inserir um reator de aterramento na
ligação à terra do transformador de acoplamento.
4. Para conexões aterradas, o terceiro passo é calcular a sobretensão devido à
inserção do reator de aterramento e verificar se está dentro da faixa aceitável (por
exemplo, 25% maior do que a tensão nominal). Em seguida, repita o segundo
passo até que o nível de sensibilidade e sobretensão seja aceitável, para cada ponto
candidato.
64

3.4. Abordagens para definição dos níveis de penetração

As metodologias apresentadas levam em consideração o conceito de elevação dos


níveis de penetração. Nas abordagens apresentadas nesta seção, a elevação dos níveis de
penetração pode ser traduzida na elevação da potência dos geradores ou na alocação de mais
geradores nas redes de distribuição. Isso é realizado para que os limites de penetração,
prejudiciais ao sistema de proteção, sejam alcançados. As seções a seguir demonstrarão
mecanismos para elevar esses níveis de penetração tanto do ponto de vista determinístico
como probabilístico.

3.4.1. Abordagem determinística para a alocação da geração distribuída

Na abordagem determinística de alocação de GD, a elevação dos níveis de penetração


significa o aumento da potência da GD instalada na rede. Contudo, isso não é suficiente para
avaliar o impacto da GD, uma vez que a localização é uma variável importante para a análise.
Na abordagem de alocação determinística da GD, a localização da GD é determinada
por meios arbitrários. Uma proposta possível para a alocação da GD seria a definição dos
pontos candidatos, através de estudos de planejamento, cujo objetivo seria a alocação ótima
da GD para promover a minimização de perdas e melhorar o perfil de tensão.
Outra proposta possível é a alocação da GD baseada no impacto que se deseja avaliar.
Para o procedimento genérico de avaliação dos limites de penetração, pode-se, por exemplo,
alocar a GD no local de maior impacto. Dessa forma, pode-se obter a análise mais
conservadora possível. Ademais, este ponto conservador pode ser definido analiticamente.

3.4.1.1. Abordagem determinística aplicada à perda de sensibilidade

Na abordagem determinística aplicada à perda de sensibilidade deve-se definir o ponto


de alocação da GD capaz de reduzir a corrente percebida pelo dispositivo de proteção a níveis
inferiores à sua capacidade de sensibilização. Esse ponto pode ser calculado de forma
analítica como demonstrado no exemplo a seguir. Considere o circuito mostrado na Figura 19.
65

Figura 19. Exemplo de alocação conservadora para análise do impacto de perda de


sensibilidade.

Fonte: Elaboração própria.

Nela é detalhado um circuito, onde um disjuntor está parametrizado para proteger


certa área de proteção, desde sua posição até o ponto B. Também é detalhado o ponto B,
definido como a posição de falta onde pode ser observada a menor corrente de curto-circuito a
qual o relé de proteção do disjuntor é sensível.
Nesse caso, o problema a ser resolvido é a posição da GD, alocada a um ponto
denominado A. Nesse exemplo, a GD possui ligação Delta e nenhum transformador de
acoplamento. A impedância equivalente da fonte é definida Como Zsup (Ohm), a impedância
da GD é definida como Zgd (Ohm) e a impedância da linha é definida como Zlinha (Ohm /
km). A distância entre o disjuntor e o ponto B é definida como L e a distância entre o
disjuntor e a GD é definida como “a”.
Para exemplificar de forma simplificada o problema de alocação conservadora da GD
para observação do impacto de perda de sensibilidade, considera-se um curto-circuito trifásico
no ponto B. O modelo utilizado para o cálculo de curto-circuito é mostrado na Figura 20, a
equação que define a corrente de curto-circuito vista pelo disjuntor é dada pela equação (1) e
o ponto de impacto máximo é definido na equação (2), onde a derivada da equação (1) é igual
a zero.
66

Figura 20. Modelo de curto-circuito trifásico.

Fonte: Elaboração própria.

𝑉
𝐼𝐷𝐽 = 2 2
−𝑍 𝑍𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 ∗ 𝐿 − 𝑍𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 ∗ 𝑍𝑠𝑢𝑝 𝑍𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 ∗ 𝐿 ∗ 𝑍𝑠𝑢𝑝 (1)
𝑎2 ∗ ( 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 ) + 𝑎 ∗ ( )+( + 𝑍𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 ∗ 𝐿 + 𝑍𝑠𝑢𝑝 )
𝑍𝐺𝐷 𝑍𝐺𝐷 𝑍𝐺𝐷

𝑍𝑠𝑢𝑝
𝐿−
′ 𝑍𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 (2)
𝑀𝑖𝑛𝑖𝑚𝑢𝑚 (𝐼𝐷𝐽 ) = 𝐼𝐷𝐽 = 0 → 𝑎 =
2

3.4.1.2. Abordagem determinística aplicada à bidirecionalidade e queima inesperada


de fusíveis

Na abordagem determinística aplicada à bidirecionalidade e queima inesperada de


fusíveis deve-se definir o ponto de alocação da GD capaz de elevar a corrente reversa
percebida pelo dispositivo de proteção a níveis superiores à sua capacidade de sensibilização.
Dessa forma, pode-se obter uma análise conservadora. O ponto de conexão conservador nesse
caso é sempre o ponto mais próximo da falta logo à jusante do dispositivo de proteção. Esse
ponto é assim encontrado como demonstrado no exemplo a seguir, ilustrado na Figura 21.
67

Figura 21. Exemplo de alocação conservadora para análise de bidirecionalidade.

Fonte: Elaboração própria.

Nela é detalhado um circuito, onde um dispositivo de proteção está localizado de


forma a proteger um ramal. Também é detalhado o ponto B, definido como a posição de falta
onde pode ser observada a maior corrente de curto-circuito reversa a qual o dispositivo de
proteção é sensível. Neste caso, o problema a ser resolvido é a posição da GD, alocada a um
ponto denominado A, logo após o dispositivo de proteção.

3.4.2. Abordagem probabilística para a alocação da geração distribuída

Apesar de sua viabilidade, a abordagem determinística nem sempre é suficiente para


avaliar a influência da localização da GD nos impactos abordados. Desta forma, esta seção
aborda este tópico com um ponto de vista estatístico para definir a influência da localização
da GD sobre os impactos gerados pela mesma à proteção de redes de distribuição.
Na abordagem probabilística para a alocação da GD, o aumento dos níveis de
penetração significa o aumento do percentual de prossumidores que instalam a GD em suas
redes. O tamanho da GD pode ser determinado como um fator do consumo de energia dos
prossumidores. Desta forma, qualquer procedimento genérico para definir o limite de inserção
da GD é uma análise de sensibilidade.
Na abordagem probabilística da alocação da GD, a localização da GD é determinada
aleatoriamente entre os consumidores da rede. A primeira possibilidade proposta para a
68

alocação da GD é definir a mesma probabilidade para cada possível prossumidor, como


pontos candidatos.
Outra possibilidade é criar uma hipótese probabilística baseada na atratividade da
alternativa da GD para cada cliente, de forma a modelar a distribuição da GD entre os estes.
Essa suposição deve ser capaz de criar uma distinção na probabilidade de adoção dos
prossumidores.
Em (QUIROGA; KAGAN; AMASIFEN; ALMEIDA; VICENTINI, 2015), e
(QUIROGA; KAGAN; AMASIFEN; ALMEIDA; VICENTINI, 2016) esta suposição é feita
observando-se as disparidades entre os consumidores da rede, como tipo de carga (rural,
residencial, comercial, industrial etc.) e consumo de energia. Nestes estudos a função de
atratividade desenvolvida é sensível não só ao perfil econômico dos clientes, representado
pelo seu consumo, mas também aos benefícios financeiros decorrentes da instalação de
geração distribuída, que podem variar para diferentes tipos de clientes. Na Figura 22 é
mostrada a função de probabilidade de adoção da GD para cada consumidor de uma rede real,
desenvolvida nestes estudos.

Figura 22. Exemplo da função de atratividade probabilística usada para avaliar os limites de
inserção da GD.

Fonte: Quiroga & Kagan & Amasifen & Almeida & Vicentini, 2015.
69

Contudo, a simulação puramente probabilística, tal como apresentada previamente,


não é necessariamente precisa, uma vez que a localização da GD influencia de forma
relevante os impactos avaliados. Dessa forma, duas simulações com o mesmo nível de
penetração podem resultar em resultados diferentes. Neste ponto, o método de Monte Carlo
pode ajudar significativamente. O método de Monte Carlo é utilizado através da amostragem
aleatória maciça das correntes de falta simuladas, de forma a se obter a distribuição dessas
correntes para um nível de penetração previamente definido. Um exemplo da utilização do
método de Monte Carlo em uma análise de sensibilidade para a avaliação da perda de
sensibilidade pode ser visto na Figura 23.

Figura 23. Exemplo da utilização do método Monte Carlo em uma análise de sensibilidade.

Fonte: Elaboração própria.


70

3.5. Métodos utilizados

São diversos os impactos da GD sobre o sistema de proteção de redes de distribuição


que poderiam ser avaliados neste trabalho. Entretanto, de forma a aprofundar melhor as
análises, optou-se por limitar a análise à perda de sensibilidade, queima inesperada de fusíveis
e a bidirecionalidade.
Dessa forma, serão utilizados neste estudo os procedimentos genéricos para avaliar os
limites de penetração da geração distribuída para a perda de sensibilidade, bidirecionalidade e
queima inesperada de fusíveis, como apresentado nas seções 3.3.2, 3.3.3 e 3.3.4.
Estes impactos poderiam ser avaliados por vários métodos e abordagens, como por
exemplo, a abordagem determinística. Contudo, tal abordagem sozinha poderia não
representar bem a realidade do comportamento da penetração de novas GD em redes de
distribuição e com isso resultar em uma subestimação dos impactos analisados. Dessa forma,
optou-se pela utilização tanto da abordagem determinística, quanto da abordagem
probabilística apresentadas nas seções 3.4.1 e 3.4.2.
Para aplicação dos procedimentos segundo as abordagens, foi desenvolvida ferramenta
computacional na plataforma SINAPGRID. A ferramenta SINAPGRID é uma plataforma
para a análise de redes elétricas na área de planejamento dos sistemas de distribuição e de
transmissão de energia elétrica. Nela é possível realizar a modelagem da rede elétrica que
permite a representação integrada e completa de qualquer topologia, envolvendo todos os
segmentos do sistema de distribuição elétrica, desde a geração até a carga (SINAPSIS, 2019).
71

4. METODOLOGIA

Apresentados meios possíveis para auxiliar na avaliação do impacto da GD nos


sistemas de proteção de redes de distribuição, através da descrição dos principais impactos
causados pela GD à proteção de redes de distribuição elétrica, de procedimentos para avaliar
tais impactos, de modelos elétricos que ajudam na avaliação e de possíveis abordagens que
podem ser utilizadas no processo de planejamento de proteção, é de interesse do trabalho em
questão, demonstrar a utilização dos conceitos expostos.
Para apresentar a aplicação dos procedimentos e abordagens discutidas previamente,
foi desenvolvido um estudo de caso. Assim, este capítulo ilustra a aplicação dos métodos
apresentados, considerando tanto a abordagem determinística, quanto a abordagem
probabilística para a análise do impacto causado pela penetração maciça de pequenas
unidades de GD espalhadas por uma rede real. As principais características do estudo de caso
são:
 Utiliza uma rede de distribuição elétrica real, composta por redes de média e baixa
tensão e todos os seus possíveis prossumidores.
 Aborda três questões principais apresentadas no capítulo anterior, que são a
bidirecionalidade, a queima inesperada de fusíveis e a perda de sensibilidade.
 Considera os modelos elétricos da GD abordados nas seções anteriores, tanto a GD
acoplada a inversor quanto os modelos de máquinas rotativas.
 As abordagens utilizadas são tanto a abordagem determinística, onde a GD é
alocada ao ponto de maior impacto, quanto à probabilística, onde os pressupostos
probabilísticos, com base na atratividade da alternativa da GD para cada cliente,
são utilizados para a alocação da GD.
 Os cenários simulados correspondem a uma análise de sensibilidade considerando
os níveis de inserção de 0%, 1%, 3%, 5%, 10%, 20%, 30%, 40% e 50%.

4.1. Dados da rede de distribuição elétrica real

Os dados utilizados para construir as redes de média e baixa tensão foram obtidos do
sistema GIS de uma concessionária brasileira. O ambiente de simulação do estudo de caso foi
um alimentador real, que possui 26.589 barras, 9.481 clientes, a demanda máxima de 10,5
MW e 154 km de extensão. A rede de distribuição elétrica é mostrada na Figura 24. As linhas
72

azuis mostram as redes de média tensão, enquanto as linhas vermelhas detalham as redes de
baixa tensão.

Figura 24. Rede de distribuição elétrica real usada no estudo de caso.

Fonte: Elaboração própria.

4.2. Metodologia do estudo de caso de perda de sensibilidade

No estudo de caso para a avaliação da perda de sensibilidade oriunda da penetração


GD, será aplicado o procedimento descrito em 3.3.4. Procedimento genérico para avaliar os
limites de penetração da geração distribuída para perda de sensibilidade. Na seção a seguir
será apresentado o circuito a ser analisado.
73

4.2.1. Circuito utilizado para a análise de perda de sensibilidade

O estudo de caso feito para demonstrar o impacto da perda de sensibilidade utiliza do


disjuntor da rede de distribuição elétrica 060DJVGR018 e de toda sua zona de proteção. O
circuito está localizado no início da rede de distribuição elétrica e pode ser visto na Figura 25.

Figura 25. Disjuntor localizado no início da rede de distribuição elétrica.

Fonte: Elaboração própria.

Sua zona de proteção se estende até a chave religadora 050RA041086. Ela é composta
por 309 barras, 297 trechos de rede correspondentes a 10,2545 km, 11 chaves e 1 banco de
capacitores. A zona de proteção referente ao disjuntor 060DJVGR018 pode ser vista na
Figura 26.
74

Figura 26. Zona de proteção do disjuntor 060DJVGR018.

Fonte: Elaboração própria

Os dados do circuito utilizado para a análise de perda de sensibilidade que serão


abordados nas seções a seguir são explicitados na Tabela 8.
75

Tabela 8. Dados do circuito utilizado para a análise de perda de sensibilidade.

Dado Descrição Utilizado para Valor

Potência aparente
Determinação da potência nominal das
𝑆𝑚𝑎𝑥 máxima observada no 13,137 MVA
GD na abordagem determinística
circuito

Determinação da localização da GD na
L Comprimento do circuito 10,2545 km
abordagem determinística

Impedância do Determinação da localização da GD na


Zsup [0,08333; 1,25j] Ohms
suprimento abordagem determinística

Determinação da localização da GD na
Zlinha Impedância da linha [0,000182; 0,000283j] Ohms/km
abordagem determinística

Número total de Determinação da quantidade de GD


N𝐶𝑜𝑛𝑠 13.407
consumidores da rede alocadas na abordagem probabilística

Fonte: Elaboração própria.

4.2.2. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade

4.2.2.1. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem


determinística

Na abordagem determinística a alocação da GD utiliza-se da metodologia apresentado


na seção 3.4.1.1, como guia para a alocação da GD na zona de proteção da chave
060DJVGR018.
Segundo tal abordagem, para a determinação da localização da GD, deve-se considerar
a impedância do suprimento, a impedância da linha e o comprimento do trecho a ser
analisado. Para o circuito em questão, a impedância do suprimento é [0,08333; 1,25j] Ohms, a
impedância de linha é [0,000182; 0,000283j] Ohms/km e a distância da zona de proteção
considerada é 10,2545 km. Dessa forma, a localização da GD deve ser a uma distância de
3,27 km da chave 060DJVGR018, como visto na Equação (3).

𝑍𝑠𝑢𝑝 0,0833 + 1,25𝑗


𝐿− 10,2545 −
𝑍𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 0,000182 + 0,000283𝑗 (3)
𝑎= = = 3,265638𝑘𝑚
2 2
76

Assim sendo, a GD deve ser alocada a barra mais próxima da distância de 3,27 km da
chave 060DJVGR018. A barra mais próxima a esta distância é a barra B_959, apresentada na
Figura 27.

Figura 27. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade sob a ótica


determinística.

Fonte: Elaboração própria

4.2.2.2. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem


probabilística

Para a determinação da localização das GD, foi inicialmente considerada a proposta de


alocação aleatória entre os consumidores da rede, onde são definidas probabilidades para cada
possível prossumidor de acordo com a curva de atratividade de cada carga, como apresentado
em 3.4.2. Para calcular a atratividade de cada prossumidor é ponderado o custo associado à
geração pelo custo que o prossumidor incorre em seu consumo. De posse da atratividade de
cada prossumidor, sua atratividade é ponderada pela soma de todas as atratividades de todos
77

os prossumidores da rede, gerando uma probabilidade de alocação associada a este


prossumidor. Assim, quanto maior o consumo, maior sua atratividade e maior a probabilidade
de alocação de uma GD a ele. Posteriormente é sorteada a alocação das GD, baseada na
probabilidade dos prossumidores e são alocadas GD até que a penetração definida seja
alcançada. A GD é alocada a qualquer prossumidor, tanto em média quanto em baixa tensão.
De forma a ser aderente a regulação brasileira, somente as GD com potência nominal superior
a 75 kW são alocadas com transformador de acoplamento, as demais não o são. A seguir a
alocação é exemplificada em uma imagem ilustrativa do processo de alocação.

Figura 28. Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade sob a ótica


probabilística.
78

Fonte: Elaboração própria

4.2.3. Modelo elétrico da GD para avaliação da perda de sensibilidade

4.2.3.1. Modelo elétrico da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem


determinística

No estudo de caso é considerada apenas uma GD de grande porte. A capacidade


instalada da GD é definida pelo cenário de penetração escolhido. Além disso, as duas
tecnologias apresentadas anteriormente, máquina rotativa e GD acoplada a inversor, foram
avaliadas neste estudo de caso. Para a avaliação do problema da perda de sensibilidade, é
realizada uma análise de sensibilidade, onde são simulados cenários considerando os níveis de
inserção de 0%, 1%, 3%, 5%, 10%, 20%, 30%, 40% e 50%. Na abordagem determinística o
nível de inserção corresponde à potência nominal da GD, por isso para calcular o nível de
inserção de cada cenário, é utilizada a potência aparente máxima do circuito. Assim,
considerando a potência máxima do circuito como 13,137 MVA, tem-se que a potência
nominal da GD é:

Tabela 9. Potência nominal das GD para a análise de perda de sensibilidade.

Cenário Penetração Potência nominal (MVA)

1 0% 0,000

2 1% 0,131

3 3% 0,394

4 5% 0,657

5 10% 1,314

6 20% 2,627

7 30% 3,941

8 40% 5,255

9 50% 6,569

Fonte: Elaboração própria.


79

4.2.3.2. Modelo elétrico da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem


probabilística

No estudo de caso são consideradas apenas GD de pequeno porte. A potencia nominal


de cada unidade de GD é definida a partir da demanda energética do prossumidor escolhido
para instalar a tecnologia. Assim, a potência nominal da GD deve ser tal que a energia
produzida atenda ao consumo mensal de energia do prossumidor. Além disso, as duas
tecnologias apresentadas anteriormente, máquina rotativa e GD acoplada a inversor, foram
avaliadas nesse estudo de caso.
Para a avaliação do problema da perda de sensibilidade, é realizada uma análise de
sensibilidade, onde são simulados cenários considerando os níveis de inserção de 0%, 1%,
3%, 5%, 10%, 20%, 30%, 40% e 50%. Na abordagem probabilística o nível de inserção
corresponde à soma da potência nominal das GD a serem instaladas. Assim, considerando a
potência máxima do circuito como 13,137 MVA, tem-se que a soma da potência nominal das
GD é dada como na Tabela 10.

Tabela 10. GD alocadas para a análise de perda de sensibilidade.

Cenário Penetração Potência nominal (MVA)

1 0% 0,000

2 1% 0,131

3 3% 0,394

4 5% 0,657

5 10% 1,314

6 20% 2,627

7 30% 3,941

8 40% 5,255

9 50% 6,569

Fonte: Elaboração própria


80

4.2.4. Método de avaliação da perda de sensibilidade

Em cada cenário é simulado um curto-circuito a jusante do dispositivo de proteção, no


final da zona de proteção, ou seja, a montante do religador 050RA041086. Em seguida, a
corrente mínima de curto-circuito observada no disjuntor 060DJVGR018 é comparada à
corrente de pick-up do mesmo dispositivo de proteção. No caso de a corrente mínima de
curto-circuito ser inferior à corrente de pick-up do dispositivo, há um problema de perda de
sensibilidade.

Figura 29. Curto-circuito utilizado para avaliação da perda de sensibilidade

Fonte: Elaboração própria.


81

4.3. Metodologia do estudo de caso de bidirecionalidade

No estudo de caso para a avaliação da bidirecionalidade oriunda da penetração GD,


será aplicado o procedimento descrito em 3.3.2. Procedimento genérico para avaliar os limites
de penetração da geração distribuída para bidirecionalidade. Na seção 4.3.1 será apresentado o
circuito a ser analisado.

4.3.1. Circuito utilizado para a análise de bidirecionalidade

Assim como no estudo de caso de perda de sensibilidade, o estudo de caso feito para
demonstrar o impacto da bidirecionalidade também utiliza do disjuntor da rede de distribuição
elétrica 060DJVGR018 e de toda sua zona de proteção.

4.3.2. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade

4.3.2.1. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem


determinística

Na abordagem determinística a alocação da GD utiliza-se do apresentado na seção


3.4.1.2 Abordagem determinística aplicada à bidirecionalidade e queima inesperada de
fusíveis, como guia para a alocação da GD na zona de proteção da chave 060DJVGR018.
Para a avaliação deste impacto, a abordagem proposta sugere a alocação da GD logo a jusante
do equipamento de proteção a ser avaliado. Dessa forma, a GD deve ser alocada a barra
B_4659, apresentada na Figura 30.
82

Figura 30. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade sob a ótica determinística.

Fonte: Elaboração própria

4.3.2.2. Localização da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem


probabilística

A metodologia de alocação das GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem


probabilística é a mesma metodologia de alocação das GD para avaliação da perda de
sensibilidade na abordagem probabilística, assim como exposto em 4.2.2.2 Localização da
GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem probabilística. Isto ocorre, pois na
abordagem probabilística não há variação entre as metodologias de alocação da GD.

4.3.3. Modelo elétrico da GD para avaliação da bidirecionalidade

4.3.3.1. Modelo elétrico da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem


determinística

O modelo elétrico da GD para a avaliação da bidirecionalidade na abordagem


determinística é o mesmo modelo elétrico para a avaliação da perda de sensibilidade na
abordagem determinística, assim como exposto em 4.2.3.1 Modelo elétrico da GD para
83

avaliação da perda de sensibilidade na abordagem determinística. Isto ocorre, pois o circuito


analisado é o mesmo.

4.3.3.2. Modelo elétrico da GD para avaliação da bidirecionalidade na abordagem


probabilística

O modelo elétrico da GD para a avaliação da bidirecionalidade na abordagem


probabilística é o mesmo modelo elétrico para a avaliação da perda de sensibilidade na
abordagem probabilística, assim como exposto em 4.2.3.2 Modelo elétrico da GD para
avaliação da perda de sensibilidade na abordagem probabilística. Isto ocorre, pois na
abordagem probabilística não há variação entre os modelos de GD utilizados.

4.3.4. Método de avaliação da perda bidirecionalidade na abordagem


determinística

Em cada cenário é simulado um curto-circuito no ponto a montante do dispositivo de


proteção, em cenários com e sem a presença da GD. Em seguida, a corrente de curto-circuito
reversa é comparada à corrente de pick-up do dispositivo de proteção. No caso em que uma
corrente de curto-circuito reversa é maior que a corrente de pick-up do dispositivo de
proteção, pode haver bidirecionalidade, dependendo do dispositivo de proteção observado.

Figura 31. Curto-circuito para avaliação da bidirecionalidade.

Fonte: Elaboração própria.


84

4.4. Metodologia do estudo de caso de queima inesperada de fusíveis


segundo a abordagem determinística

No estudo de caso para a avaliação da queima inesperada de fusíveis oriunda da


penetração GD, será aplicado o procedimento descrito em 3.3.3. Procedimento genérico para
avaliar os limites de penetração da geração distribuída para queima inesperada de fusíveis. Na
seção a seguir será apresentado o circuito a ser analisado.

4.4.1. Circuito utilizado para a análise de queima inesperada de fusíveis

O estudo de caso feito para demonstrar o impacto da queima inesperada de fusíveis


utiliza o fusível 387BF005500, usado para proteger um ramal do alimentador. O fusível está
localizado no meio do alimentador e pode ser visto na Figura 32.

Figura 32. Fusível localizado em um ramal no meio do alimentador estudado.

Fonte: Elaboração própria.


85

Sua zona de proteção se estende até o final dos ramais que compõe seu circuito. Ela é
composta por 41 barras, 38 trechos de rede correspondentes a 1,261 km, 1 chaves de proteção
e potência aparente no horário de pico de 1,021 MVA.

4.4.2. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis

4.4.2.1. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na


abordagem determinística

Na abordagem determinística a alocação da GD utiliza-se do apresentado na seção


3.4.1.2 Abordagem determinística aplicada à bidirecionalidade e queima inesperada de
fusíveis, como guia para a alocação da GD na zona de proteção da chave 060DJVGR018.
Para a avaliação deste impacto, a abordagem proposta sugere a alocação da GD logo a jusante
do equipamento de proteção a ser avaliado. Dessa forma, a GD deve ser alocada a barra
B_635, apresentada na Figura 33.

Figura 33. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis sob a ótica
determinística.

Fonte: Elaboração própria


86

4.4.2.2. Localização da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na


abordagem probabilística

A metodologia de alocação das GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis


na abordagem probabilística é a mesma metodologia de alocação das GD para avaliação da
perda de sensibilidade na abordagem probabilística, assim como exposto em 4.2.2.2
Localização da GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem probabilística. Isto
ocorre, pois na abordagem probabilística não há variação entre as metodologias de alocação
da GD.

4.4.3. Modelo elétrico da GD para avaliação da queima inesperada de


fusíveis

4.4.3.1. Modelo elétrico da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na


abordagem determinística

No estudo de caso é considerada apenas uma GD de grande porte. A capacidade


instalada da GD é definida pelo cenário de penetração escolhido. Além disso, as duas
tecnologias apresentadas anteriormente, máquina rotativa e GD acoplada a inversor, foram
avaliadas neste estudo de caso. Para a avaliação do problema da perda de sensibilidade, é
realizada uma análise de sensibilidade, onde são simulados cenários considerando os níveis de
inserção de 0%, 1%, 3%, 5%, 10%, 20%, 30%, 40% e 50%. Na abordagem determinística o
nível de inserção corresponde à potência nominal da GD, por isso para calcular o nível de
inserção de cada cenário, é utilizada a potência aparente máxima do circuito. Assim,
considerando a potência máxima do circuito como 1,021 MVA, tem-se que a potência
nominal da GD é:
87

Tabela 11. Potência nominal das GD para a análise de queima inesperada de fusíveis.

Cenário Penetração Potência nominal (MVA)

1 0% 0,000

2 1% 0,010

3 3% 0,031

4 5% 0,051

5 10% 0,102

6 20% 0,204

7 30% 0,306

8 40% 0,408

9 50% 0,511

Fonte: Elaboração própria.

4.4.3.2. Modelo elétrico da GD para avaliação da queima inesperada de fusíveis na


abordagem probabilística

O modelo elétrico da GD para a avaliação da queima inesperada de fusíveis na


abordagem probabilística é o mesmo modelo elétrico para a avaliação da perda de
sensibilidade na abordagem probabilística, assim como exposto em 4.2.3.2 Modelo elétrico da
GD para avaliação da perda de sensibilidade na abordagem probabilística. Isso ocorre, pois na
abordagem probabilística não há variação entre os modelos de GD utilizados.

4.4.4. Método de avaliação da queima inesperada de fusíveis

Assim como para a avaliação da bidirecionalidade, para a avaliação do problema de


queima inesperada de fusíveis, é simulado um curto-circuito no ponto a montante do
dispositivo de proteção, em cenários com e sem a presença da GD. Em seguida, a corrente de
curto-circuito reversa é comparada à corrente de pick-up do dispositivo de proteção. No caso
em que uma corrente de curto-circuito reversa é maior que a corrente de pick-up do
dispositivo de proteção, pode haver a queima indesejada de fusíveis.
88

Figura 34. Curto-circuito para avaliação da queima inesperada de fusíveis sob a ótica
determinística.

Fonte: Elaboração própria.


89

5. RESULTADOS

Os resultados serão apresentados segundo os três impactos avaliados, perda de


sensibilidade, bidirecionalidade e queima inesperada de fusíveis. Serão apresentados os
resultados com as simulações de geradores de tecnologia acoplada a inversores e máquinas
rotativas, explicitando-se suas diferenças. Ademais, serão comparadas as abordagens
determinísticas e probabilísticas. Por fim, quanto à abordagem probabilística, será discutida a
variabilidade de resultados encontrados e sua precisão.

5.1. Resultado da avaliação da perda de sensibilidade

5.1.1. Perda de sensibilidade - inversores na abordagem determinística

O resultado da simulação do curto-circuito mínimo para a tecnologia de geração


acoplada por inversores, segundo a abordagem determinística, apresentou resultados de
impacto pouco significativo. Mesmo para o maior nível de penetração de 50%, o impacto
observado foi de uma redução de 3,42% na corrente de curto-circuito mínima observada para
esta zona de proteção, quando comparada à rede original sem GD. Acredita-se que este
resultado pouco expressivo seja oriundo da elevada impedância de curto-circuito, quando
comparada a outras tecnologias. Outra variável a ser analisada é o impacto da inserção de
somente uma única impedância, visto que o efeito de diversas impedâncias em paralelo pode
elevar a contribuição das GD para a redução do nível de curto-circuito da rede. O gráfico com
o resultado das correntes de curto-circuito mínimas simuladas para diversos níveis de
penetração, comparada a corrente de pick-up do dispositivo de proteção é observada na Figura
35.
90

Figura 35. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística da GD


acoplada por inversores

Fonte: Elaboração própria.

5.1.2. Perda de sensibilidade - máquinas rotativas na abordagem determinística

O resultado da simulação do curto-circuito mínimo para a tecnologia de geração por


máquinas rotativas, segundo a abordagem determinística, apresentou resultados de impacto
um pouco mais significativos. Vê-se nesta simulação que para penetrações entre 30% e 40%,
a GD é capaz de alterar a sensibilidade do equipamento de proteção, fazendo com que ele
possa não atuar em uma possível contingência. Acredita-se que este resultado um pouco mais
expressivo seja oriundo da menor impedância de curto-circuito encontrada no modelo de
geração por máquinas rotativas. Este resultado tem sua importância, pois delimita o limite de
penetração para GD em uma rede de distribuição. O gráfico com o resultado das correntes de
curto-circuito mínimas simuladas para diversos níveis de penetração, comparada a corrente de
pick-up do dispositivo de proteção é observada na Figura 36.
91

Figura 36. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística de


máquinas rotativas

Fonte: Elaboração própria.

5.1.3. Perda de sensibilidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na


abordagem determinística

É interessante reparar na diferença de impactos observados entre as duas tecnologias


quando simuladas na abordagem determinística. Nessa, observa-se a diferença entre os
impactos das tecnologias e pode-se até ficar tentado a dizer que o impacto da tecnologia
acoplada a inversores é insignificante. Contudo, como será apresentado nas demais análises,
esta simulação pode ser uma subestimação dos possíveis impactos. A comparação entre os
impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas rotativas segundo a abordagem
determinística é observada na Figura 37.
92

Figura 37. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística

Fonte: Elaboração própria.

5.1.4. Perda de sensibilidade - inversores na abordagem probabilística

O resultado da simulação do curto-circuito mínimo para a tecnologia de geração


acoplada por inversores, segundo a abordagem probabilística, apresentou resultados de
impacto mais significativo do que a simulação da mesma tecnologia segundo a abordagem
determinística. Apesar de mesmo para o maior nível de penetração avaliado, de 50%, o
impacto observado não ser suficiente para dessensibilizar o disjuntor do circuito primário, a
corrente mínima de curto-circuito simulada apresentou uma redução de 12,32%, quando
comparada a rede original sem GD. Acredita-se que este resultado se deva a um número
expressivo de impedâncias em paralelo, capazes de reduzir os níveis de curto-circuito do
circuito analisado. Ademais, é interessante reparar no comportamento assintótico da curva de
corrente mínima de curto-circuito, induzindo a conclusão de que haja um limite para o
impacto causado pela GD e que para este circuito, não há penetração possível que cause um
impacto capaz de impedir a ação do dispositivo de proteção em caso de contingência. O
gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito mínimas simuladas para diversos
93

níveis de penetração, comparada a corrente de pick-up do dispositivo de proteção é observada


na Figura 38.

Figura 38. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise probabilística da GD


acoplada por inversores

Fonte: Elaboração própria.

5.1.5. Perda de sensibilidade - máquinas rotativas na abordagem probabilística

O resultado da simulação do curto-circuito mínimo para a tecnologia de geração por


máquinas rotativas, segundo a abordagem probabilística, apresentou resultados de impacto
significativos. Vê-se nesta simulação que para penetrações entre 5% e 10%, a GD é capaz de
alterar a sensibilidade do equipamento de proteção, fazendo com que ele possa não atuar em
uma possível contingência. Acredita-se que este resultado um pouco mais expressivo seja
oriundo da menor impedância de curto-circuito encontrada no modelo de geração por
máquinas rotativas e da grande quantidade de GD em paralelo.
Ademais, como no resultado analisado anteriormente, há um comportamento
assintótico da curva de corrente mínima de curto-circuito, dele pode-se inferir que caso a
corrente de pick-up do circuito possa ser reprogramada para correntes próximas a 650 A, não
94

há penetração possível que cause um impacto capaz de impedir a ação do dispositivo de


proteção em caso de contingência. O gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito
mínimas simuladas para diversos níveis de penetração, comparada a corrente de pick-up do
dispositivo de proteção é observada na Figura 39.

Figura 39. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise probabilística de


máquinas rotativas

Fonte: Elaboração própria.

5.1.6. Perda de sensibilidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na


abordagem probabilística

Assim como na comparação entre as tecnologias na abordagem determinística,


observa-se uma diferença significativa entre os impactos das tecnologias, porém não se pode
dizer que o impacto da tecnologia acoplada a inversores é insignificante. É interessante notar
que em ambas as análises, chega-se a um limite de impacto que poderia ser proporcionado
pelas GD. A comparação entre os impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas
rotativas segundo a abordagem determinística é observada na Figura 40.
95

Figura 40. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise probabilística

Fonte: Elaboração própria.

5.1.7. Perda de sensibilidade - comparação entre as abordagens

Na simulação o impacto da GD sob a ótica probabilística, procura ser fiel à realidade


das redes de distribuição, onde as GD são acopladas a diversos consumidores e não somente a
um ponto específico da rede. Além disso, outro comportamento é simulado nesta abordagem,
a adesão por consumidor, e não um determinado nível de potência dos geradores. Desta forma
pode-se observar uma maior complexidade nas simulações, resultando em impactos similares
para grandes penetrações, porém muito díspares para pequenas penetrações, quando
comparados a aqueles observados nas simulações sob a ótica determinística. A comparação
entre as abordagens dos impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas rotativas
é observada na Figura 41.
96

Figura 41. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up

(a) Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up (b) Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up
na tecnologia acoplada a inversores na tecnologia de máquinas rotativas

Fonte: Elaboração própria.

5.2. Resultado da avaliação da bidirecionalidade

5.2.1. Bidirecionalidade - inversores na abordagem determinística

O resultado da simulação do curto-circuito máximo para a tecnologia de geração


acoplada por inversores, segundo a abordagem determinística, apresentou resultados de
impacto pouco significativo. Mesmo para o maior nível de penetração de 50%, o impacto
observado foi de uma corrente de curto-circuito reversa equivalente a 20% da corrente de
pick-up. Assim como na análise do impacto na sensibilidade dos dispositivos de proteção,
acredita-se que esse resultado pouco expressivo seja oriundo da elevada impedância de curto-
circuito, quando comparada a outras tecnologias e da inserção de somente uma única
impedância. O gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito máximas simuladas
para diversos níveis de penetração, comparada à corrente de pick-up do dispositivo de
proteção é observada na Figura 42.
97

Figura 42. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise determinística da GD


acoplada por inversores

Fonte: Elaboração própria.

5.2.2. Bidirecionalidade - máquinas rotativas na abordagem determinística

O resultado da simulação do curto-circuito máximo para a tecnologia de geração por


máquinas rotativas, segundo a abordagem determinística, apresentou resultados de impacto
um pouco mais significativos. Vê-se nesta simulação que para penetrações entre 20% e 30%,
a GD é capaz de acionar de forma equivocada o equipamento de proteção, fazendo com que
ele atue de forma indevida em uma possível contingência em uma rede vizinha. Na penetração
máxima avaliada (50%), observa-se uma corrente de curto-circuito reversa equivalente a 1,6
vezes a corrente de pick-up configurada para o dispositivo de proteção. Como na análise de
perda de sensibilidade, acredita-se que este resultado um pouco mais expressivo seja oriundo
da menor impedância de curto-circuito encontrada no modelo de geração por máquinas
rotativas. Este resultado tem sua importância, pois delimita o limite de penetração para GD
em uma rede de distribuição. O gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito
máximas simuladas para diversos níveis de penetração, comparada a corrente de pick-up do
dispositivo de proteção é observada na Figura 43.
98

Figura 43. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise determinística de


máquinas rotativas

Fonte: Elaboração própria.

5.2.3. Bidirecionalidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na abordagem


determinística

Como na avaliação do impacto de perda de sensibilidade, existem diferenças nos


impactos observados entre as duas tecnologias quando simuladas na abordagem
determinística. Nessa análise a tecnologia de geração por máquinas rotativas possui impacto 8
vezes superior à tecnologia acoplada por inversores. Como discutido acima, este fenômeno
pode ser explicado pela diferença entre os modelos utilizados para simulação dos impactos
das diferentes tecnologias. A comparação entre os impactos das tecnologias acopladas a
inversores e máquinas rotativas segundo a abordagem determinística é observada na Figura
44.
99

Figura 44. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up na análise determinística

Fonte: Elaboração própria.

5.2.4. Bidirecionalidade - inversores na abordagem probabilística

O resultado da simulação do curto-circuito máximo para a tecnologia de geração


acoplada por inversores, segundo a abordagem probabilística, apresentou resultados de
impacto significativos. Isto, pois nesta análise observou-se que para penetrações entre 20% e
30% de penetração, a GD tem a capacidade de induzir o equipamento de proteção ao erro,
atuando de forma indevida. Diferentemente dos resultados observados na análise de impacto
segundo a abordagem determinística, a corrente máxima de curto-circuito simulada chega a
um ponto de saturação em aproximadamente 1 kA. Assim como na análise do impacto de
perda de sensibilidade, acredita-se que este resultado se deva a um número expressivo de
impedâncias em paralelo, capazes de aumentar os níveis de curto-circuito do circuito gerados
pelas GD. Também como na análise supracitada, é interessante reparar no comportamento
assintótico da curva de corrente máxima de curto-circuito, induzindo a conclusão de que haja
um limite para o impacto causado pelas GD e que para este circuito uma solução possível para
o impacto seria a elevação da corrente de pick-up do dispositivo de proteção, ou até a inserção
de uma proteção direcional. O gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito
100

máximas simuladas para diversos níveis de penetração, comparada a corrente de pick-up do


dispositivo de proteção é observada na Figura 45.

Figura 45. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise probabilística da GD


acoplada por inversores

Fonte: Elaboração própria.

5.2.5. Bidirecionalidade - máquinas rotativas na abordagem probabilística

O resultado da simulação do curto-circuito máximo para a tecnologia de geração por


máquinas rotativas, segundo a abordagem probabilística, apresentou resultados de impacto
muito elevado quando comparado a todas as análises realizadas até então. Vê-se nesta
simulação que para penetrações entre 1% e 3%, a GD é capaz de sensibilizar o equipamento
de proteção, fazendo com que ele atue de forma indevida em uma contingência em redes
vizinhas. Ainda como na análise de perda de sensibilidade na abordagem probabilística,
acredita-se que este resultado mais expressivo seja oriundo da menor impedância de curto-
circuito encontrada no modelo de geração por máquinas rotativas e da grande quantidade de
GD em paralelo.
101

Ademais, como no resultado analisado anteriormente, há um comportamento


assintótico da curva de corrente máxima de curto-circuito, e dele pode-se inferir que com uma
corrente máxima de curto-circuito próxima aos 3,3 kA, a opção viável para solução deste
impacto seria a proteção direcional. O gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito
máximas simuladas para diversos níveis de penetração, comparada a corrente de pick-up do
dispositivo de proteção é observada na Figura 46.

Figura 46. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise probabilística de


máquinas rotativas

Fonte: Elaboração própria.

5.2.6. Bidirecionalidade - comparação entre as tecnologias avaliadas na abordagem


probabilística

Assim como na comparação entre as tecnologias na abordagem determinística,


observa-se uma diferença significativa entre os impactos das tecnologias, porém não se pode
dizer que o impacto da tecnologia acoplada a inversores é insignificante. É interessante notar
que em ambas as análises se chega a um limite do impacto que poderia ser proporcionado
102

pelas GD. A comparação entre os impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas
rotativas segundo a abordagem determinística é observada na Figura 47.

Figura 47. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up na análise probabilística

Fonte: Elaboração própria.

5.2.7. Bidirecionalidade - comparação entre as abordagens

Na simulação do impacto da GD sob a ótica probabilística, devido à fidelidade à


realidade das redes de distribuição e seus prossumidores, observa-se resultados dispares a
abordagem determinística. Contudo, os resultados significativamente discrepantes levantam a
atenção quanto à coerência deles. Assim, acredita-se que em estudos futuros seja
preponderante a avaliação dos porquês de os resultados serem tão díspares e quais são os
fatores que resultam nessas diferenças. Isto, pois estas possuem uma maior complexidade nas
simulações, resultando em impactos significativos para grandes penetrações, quando
comparados a aqueles observados nas simulações sob a ótica determinística. Ademais, as
diferenças são maiores quando comparada a tecnologia acoplada a inversores (5 vezes
superior), do que a tecnologia de máquinas rotativas (2 vezes maior) A comparação entre as
103

abordagens dos impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas rotativas é


observada na Figura 48.

Figura 48. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up

(a) Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up (b) Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up
na tecnologia de máquinas rotativas na tecnologia acoplada a inversores

Fonte: Elaboração própria.

5.3. Resultado da avaliação da queima inesperada de fusíveis

5.3.1. Queima inesperada de fusíveis - inversores na abordagem determinística

A avaliação da queima inesperada de fusíveis é similar à avaliação da


bidirecionalidade. Desta forma, esperavam-se resultados semelhantes aos apresentados na
seção 5.2. Este comportamento similar foi observado no resultado da simulação do curto-
circuito máximo para a tecnologia de geração acoplada por inversores, segundo a abordagem
determinística, visto que apresentou resultados de impacto pouco significativo. Mesmo para o
maior nível de penetração de 50%, o impacto observado foi de uma corrente de curto-circuito
reversa equivalente a 40% da corrente de pick-up. Assim como na análise do impacto na
bidirecionalidade dos dispositivos de proteção, acredita-se que este resultado pouco
expressivo seja oriundo da elevada impedância de curto-circuito, quando comparada a outras
tecnologias e da inserção de somente uma única impedância. O gráfico com o resultado das
correntes de curto-circuito máximas simuladas para diversos níveis de penetração, comparada
a corrente de pick-up do dispositivo de proteção é observada na Figura 49.
104

Figura 49. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na


análise determinística da GD acoplada por inversores

Fonte: Elaboração própria.

5.3.2. Queima inesperada de fusíveis - máquinas rotativas na abordagem determinística

O resultado da simulação do curto-circuito máximo para a tecnologia de geração por


máquinas rotativas, segundo a abordagem determinística, apresentou resultados de impacto
significativo. Vê-se nesta simulação que para penetrações entre 10% e 20%, a GD é capaz de
acionar de forma equivocada o equipamento de proteção, fazendo com que ele atue de forma
indevida em uma possível contingência em uma rede vizinha. Esta atuação seria desastrosa
para a localização do defeito e poderia incorrer em elevação dos tempos de atendimento e
piora da qualidade do serviço de distribuição. Na penetração máxima avaliada (50%),
observa-se uma corrente de curto-circuito reversa equivalente a 3,4 vezes a corrente de pick-
up do fusível. Como na análise de perda de bidirecionalidade, acredita-se que este resultado
um pouco mais expressivo seja oriundo da menor impedância de curto-circuito encontrada no
modelo de geração por máquinas rotativas. Este resultado tem sua importância, pois delimita
o limite de penetração para GD em uma rede de distribuição. O gráfico com o resultado das
105

correntes de curto-circuito máximas simuladas para diversos níveis de penetração, comparada


a corrente de pick-up do dispositivo de proteção é observada na Figura 50.

Figura 50. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na


análise determinística de máquinas rotativas

Fonte: Elaboração própria.

5.3.3. Queima inesperada de fusíveis - comparação entre as tecnologias avaliadas na


abordagem determinística

Como na avaliação do impacto de bidirecionalidade, existem diferenças nos impactos


observados entre as duas tecnologias quando simuladas na abordagem determinística. Nesta
análise a tecnologia de geração por máquinas rotativas possui impacto 10 vezes superior à
tecnologia acoplada por inversores. Como discutido, este fenômeno pode ser explicado pela
diferença entre os modelos utilizados para simulação dos impactos das diferentes tecnologias.
A comparação entre os impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas rotativas
segundo a abordagem determinística é observada na Figura 51.
106

Figura 51. Curto-circuito mínimo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na


análise determinística

Fonte: Elaboração própria.

5.3.4. Queima inesperada de fusíveis - inversores na abordagem probabilística

O resultado da simulação do curto-circuito máximo para a tecnologia de geração


acoplada por inversores, segundo a abordagem probabilística, apresentou resultados de
impacto significativos. Nesta análise, observou-se que para penetrações próximas a 10%, a
GD tem a capacidade de induzir o equipamento de proteção ao erro, atuando de forma
indevida. Diferentemente dos resultados observados na análise de impacto segundo a
abordagem determinística, a corrente máxima de curto-circuito simulada chega 0,65 kA
quando a penetração da GD está em 50%. Assim como na análise do impacto de perda de
sensibilidade, acredita-se que este resultado se deva a um número expressivo de impedâncias
em paralelo, capazes de aumentar os níveis de curto-circuito do circuito gerados pelas GD.
Diferentemente das análises anteriores, a curva de impacto possui um comportamento pouco
convencional. Acredita-se que o comportamento possa ser explicado pelo impacto da
localização da GD. Isto, pois GD alocadas dentro da zona de proteção do fusível tendem a
elevar os níveis de curto-circuito dentro dela, enquanto a alocação de GD fora de sua zona de
107

proteção tende a minimizar os impactos das anteriores. Apesar deste comportamento, assim
como nas simulações probabilísticas anteriores, pode-se notar um nível máximo de impacto,
que nesta análise é de aproximadamente 0,14 kA.
O gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito máximas simuladas para
diversos níveis de penetração, comparada a corrente de pick-up do dispositivo de proteção é
observada na Figura 52.

Figura 52. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na


análise probabilística da GD acoplada por inversores

Fonte: Elaboração própria.

5.3.5. Queima inesperada de fusíveis - máquinas rotativas na abordagem probabilística

O resultado da simulação do curto-circuito máximo para a tecnologia de geração por


máquinas rotativas, segundo a abordagem probabilística, apresentou resultados de impacto
muito elevado. Vê-se nesta simulação que para penetrações entre 1% e 3%, a GD é capaz de
sensibilizar o equipamento de proteção, fazendo com que ele atue de forma indevida em uma
contingência em redes vizinhas. Como na análise de bidirecionalidade na abordagem
probabilística, acredita-se que este resultado mais expressivo seja oriundo da menor
108

impedância de curto-circuito encontrada no modelo de geração por máquinas rotativas e da


grande quantidade de GD em paralelo.
Ademais, como no resultado analisado anteriormente, há um comportamento errático
da curva de corrente máxima de curto-circuito, oriundo das possibilidades de alocação das
GD. Apesar deste comportamento, assim como nas simulações probabilísticas anteriores,
pode-se notar um nível máximo de impacto, que nesta análise é de aproximadamente 0,65 kA.
O gráfico com o resultado das correntes de curto-circuito máximas simuladas para
diversos níveis de penetração, comparada a corrente de pick-up do dispositivo de proteção é
observada na Figura 53.

Figura 53. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na


análise probabilística de máquinas rotativas

Fonte: Elaboração própria.

5.3.6. Queima inesperada de fusíveis - comparação entre as tecnologias avaliadas na


abordagem probabilística

Assim como na comparação entre as tecnologias na abordagem determinística,


observa-se uma diferença significativa entre os impactos das tecnologias, porém não se pode
109

dizer que o impacto da tecnologia acoplada a inversores é insignificante. É interessante notar


o comportamento não convencional da corrente máxima de curto-circuito analisada, de forma
a não incorrer em uma generalização do impacto que pode ser originado pela GD. A
comparação entre os impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas rotativas
segundo a abordagem determinística é observada na Figura 54.

Figura 54. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500 na


análise probabilística

Fonte: Elaboração própria.

5.3.7. Queima inesperada de fusíveis - comparação entre as abordagens

Na simulação do impacto da GD sob a ótica probabilística, devido à fidelidade à


realidade das redes de distribuição e seus prossumidores, observa-se resultados dispares a
abordagem determinística. Assim como na avaliação da bidirecionalidade, os resultados
significativamente discrepantes levantam a atenção quanto à coerência deles. As diferenças
são maiores quando comparada a tecnologia acoplada a inversores (6 vezes superior), do que
a tecnologia de máquinas rotativas (3 vezes maior) A comparação entre as abordagens dos
110

impactos das tecnologias acopladas a inversores e máquinas rotativas é observada na Figura


55.

Figura 55. Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up do fusível 387BF005500

(a) Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up (b) Curto-circuito máximo versus corrente de pick-up
na tecnologia de máquinas rotativas na tecnologia acoplada a inversores

Fonte: Elaboração própria.


111

6. CONCLUSÃO

6.1. Conclusões deste trabalho

A crescente inserção de recursos energéticos distribuídos, como a GD, nas redes de


distribuição elétrica é uma realidade do atual paradigma do setor elétrico. No entanto, a
instalação dessa tecnologia nas mesmas pode prejudicar seus sistemas de proteção. Desta
forma, é necessário avaliar os impactos da GD nos sistemas de proteção, mesmo durante o
processo de planejamento da rede, para evitar problemas futuros. Neste contexto, este trabalho
visou à apresentação de métodos para avaliar os limites de penetração das tecnologias de
geração distribuída, de modo a ser facilmente associado aos processos inerentes à atividade de
planejamento de rede e, assim, promover um planejamento integrado das redes de distribuição
elétrica, tanto do ponto de vista da expansão como da proteção.
Ademais, foram apresentados métodos genéricos para a avaliação dos níveis seguros
de inserção da GD, tanto do ponto de vista determinístico como probabilístico, enfatizando a
influência da potência, localização e tecnologias da GD. Espera-se que este estudo possa
auxiliar futuros planejadores de rede a compreender a importância de um planejamento da
rede de distribuição integrado, neste novo contexto das redes inteligentes, onde novas
tecnologias avançadas de automação e recursos energéticos distribuídos são cada vez mais
presentes.
Dos resultados depreende-se que independentemente da abordagem adotada, a
tecnologia da GD por máquinas rotativas possui impacto superior à tecnologia de geração
acoplada por inversores. Além disso, entende-se também que a depender da abordagem
utilizada, o impacto da GD acoplada por inversores não é insignificante, cabendo medidas de
mitigação, dependendo do nível de penetração.
A avaliação dos impactos da GD acoplada por inversores torna-se imprescindível na
atual mudança do paradigma de redes elétricas, com o crescimento exponencial da conexão
destas fontes. Mais ainda quando se observa que existem níveis de penetração capazes de
causar impactos nocivos a proteção de redes de distribuição. Desta forma, a utilização de uma
metodologia capaz de identificar o impacto da GD acoplada por inversores de forma mais fiel
à realidade das redes de distribuição é essencial e a abordagem probabilística vem de encontro
a essa necessidade.
112

Outro resultado importante deste estudo é a identificação do comportamento


assintótico das curvas de corrente de curto-circuito simuladas. Este comportamento indica que
a depender da parametrização da proteção, é possível mitigar de forma permanente os
impactos da GD sobre os sistemas de proteção analisados neste trabalho, visto que os
impactos sobre os níveis de curto-circuito possuem um limite.
Outro aspecto importante a ser analisado é a relação de precisão versus tempo
computacional de análise. Enquanto uma simulação dos impactos da GD sob a ótica
determinística leva aproximadamente 10 segundos, a simulação dos impactos sob a ótica
probabilística incorre em 33 minutos para a mesma análise. Considerando um estudo com
uma análise de sensibilidade correspondendo a 10 cenários de penetração, temos uma
comparação de 1,6 minutos contra quase 5 horas e meia de simulação. Isto somente para um
alimentador. Extrapolando esta comparação para uma área de concessão com dois mil
alimentadores, chega-se a uma relação de 2,3 dias contra 1,2 anos. Assim, o futuro planejador
deve ter em mente que para encontrar meios de avaliar os impactos da GD de forma mais
assertiva, deve empregar recursos tecnológicos para tanto.

6.2. Sugestões de trabalhos futuros

Acredita-se que este trabalho não traz em si todas as respostas necessárias a avaliação
de impactos causados pela GD a proteção de redes de distribuição. Isto, pois ainda resta
aprofundar o entendimento das fontes causadoras do comportamento do impacto quando
utilizada a abordagem probabilística de simulação. Para aprofundar o estudo, seria
interessante entender o porquê do comportamento assintótico das curvas, ou até porque o
impacto observado na abordagem probabilística é tão superior aos resultados obtidos sob à
ótica determinística.
Ademais, entende-se que seja de interesse a avaliação da precisão incorrida na
abordagem probabilística. Isto, pois sendo uma avaliação probabilística, é importante avaliar
o grau de precisão dos resultados, bem como a distribuição dos resultados e se há a
possibilidade de alcançar os mesmos resultados com menor número de simulações.
Mesmo da conclusão do trabalho, não foram aprofundados outros impactos abordados
neste estudo, como a perda de coordenação, a sobretensões oriunda de contingências, a
geração de harmônicas e a proteção anti-ilhamento. Assim, a evolução deste estudo neste
sentido deixaria o tema completo.
113

Por fim, outro ponto de interesse para evolução deste estudo seria a utilização das
curvas de proteção comparadas as correntes de curto-circuito, de forma seria possível
compreender como se daria a coordenação das proteções das redes e as proteções das GD,
bem como gerar uma maior precisão dos reais impactos causados pela penetração da GD em
redes de distribuição reais.

6.3. Considerações finais

Após todo o exposto, acredita-se que os objetivos deste trabalho foram alcançados,
pois foram apresentados meios possíveis para auxiliar na avaliação do impacto da GD nos
sistemas de proteção de redes de distribuição, de forma auxiliar na avaliação de possíveis
impactos na proteção de redes de distribuição devido à penetração da GD no novo paradigma
do setor elétrico brasileiro.
Ainda, as metodologias típicas utilizadas para analisar o impacto da GD servem para
orientar a avaliação dos possíveis impactos no sistema de proteção. Comumente, essas
metodologias são baseadas em uma análise determinística, avaliando o impacto de algumas
grandes unidades geradoras, geralmente com potência nominal superior a 1 MW. Assim, este
trabalho tem relevância, pois é inovador ao apresentar uma metodologia probabilística para
avaliação de cenários de inserção de pequenas unidades de GD em redes reais de média e
baixa tensão e a análise de possíveis impactos nos sistemas de proteção dessas redes.
A metodologia de alocação probabilística e seus impactos foram publicados em dois
artigos de dois congressos:
 Evaluation of distributed generation impacts on distribution networks under
different penetration scenarios (QUIROGA; KAGAN; AMASIFEN;
ALMEIDA; VICENTINI, 2015);
 Study of the Distributed Generation Impact on Distributed Networks, Focused
on Quality of Power (QUIROGA; KAGAN; AMASIFEN; ALMEIDA;
VICENTINI, 2016);
O capítulo 3 desta dissertação foi publicado como capítulo do livro Electric
Distribution Network Management and Control da editora Springer:
 Protection System Considerations in Networks with Distributed Generation
(QUIROGA; ALMEIDA; KAGAN; KAGAN, 2018);
114

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as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de
distribuição de energia elétrica, o sistema de compensação de energia elétrica, e dá outras
providências”, 17 de abril de 2012 a.

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, “Resolução Normativa nº 506 - Estabelece


as condições de acesso ao sistema de distribuição por meio de conexão a instalações de
propriedade de distribuidora e dá outras providências”, 4 de setembro de 2012b.

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Procedimentos de Distribuição de Energia


Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST – Módulo 1 – Introdução. Resolução
Normativa nº 664/2015a

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, “Resolução Normativa nº 687 - Altera a


Resolução Normativa nº 482, de 17 de abril de 2012, e os Módulos 1 e 3 dos Procedimentos
de Distribuição – PRODIST”, 24 de novembro de 2015b.

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. “Procedimentos de Distribuição de Energia


Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST – Módulo 3 – Acesso ao Sistema de
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ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. BIG - Banco de Informações de Geração.


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