A Mente e o Medo
A Mente e o Medo
A Mente e o Medo
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Indicado em cursos de Filosofia, Teologia,
Sociologia, Letras, Comunicação e História
A Mente e o
Medo
J lD D U K R IS H N A M U R T I, teó so fo h in d u ,
n a sce u e m M a d r a s , ín d ia , em 1 8 9 5 (o u 1 8 9 7 ,
se g u n d o a lg u ns historiad ores). F o i e d u ca d o na
In g la terra, o n de sua s idéias despertaram grande
interesse. E m 1 9 2 3 , A n n ie B e s a n t a firm o u ser
ele o M e s tr e do M u n d o , o rg a n iza n d o -se n a E u
ropa a O rd e m da E str e la d o O riente, c o m sede
e m O m m e n ( H o la n d a ) e seções n a cio n a is, in
c lu siv e n o B r a s il (In stitu iç ã o C u ltu ral K r ish n a -
m u rti, R i o de J a n e ir o ).
K rish n a m u rti v iv e u to do o p erío d o de a g i
ta ção d o seu p a ís , p resen c ia n d o as lutas sa n
grentas que d ivid ira m a ín d ia . S e u p e n sa m e n to
revolucioná rio logo se im p ô s, atraindo m u ltidõ es
pa ra o u v ir as sua s co n fe rên cias.
K rish n a m u rti c o m b a te todas as religiões,
cultos e c erim ô n ia s, a firm a nd o que nã o repre
sen ta m a to ta l v e rd a de , e qu e so m en te através
do p e n s a m e n to ló gico o ser h u m a n o p o d e atingir
u m está gio e le v a d o . C o m p ro v a n d o na prática
as sua s teorias, d isso lv e u em 1 9 2 9 a O rd e m
d a E stre la d o O rien te , criada po r seus se g u id o
res e q u e preten d ia ap resen tá -lo c om o o M e s tr e
do M u n d o .
K rish n a m u rti percorre o m u n d o , le v a n d o
sab edo ria e c o n h e c im e n to , pro nu ncia n d o as c é
lebres con ferên cias q u e o to m a ra m u m a das
m aiores p erso na lid a d e s deste século.
Jiddu Krishnamurti
A Mente e o
medo
T ra d u ç ã o de:
Hugo Veloso
D e s e n h o s d e M y o u n g Y o u n L e e b a se a d o s
e m m o tiv o s d e tap e te s in d ia no s.
D ire ito s c e d id o s p o r:
IN S T IT U IÇ Ã O C U L T U R A L K R IS H N A M U R T I
A v. P r e s id e n te V a rg a s, 418 s a la 1109
R io d e Ja n e iro — RJ
E D IT O R A T E C N O P R IN T L T D A .
INDICE
O Saber .......................................................... 15
A Ver dadeir a Rel igião ............................ 39
*
Viver c o m Simpl icidade.............................. 63
A Busca d a Tr anqüil idade M ent al .... 81
S e d e d a S o c ie d a d e d e T e o lo g ia , d a q u a l K ris h n a m u rti s e
to m o u a fig u ra m a is im p o rta n te . F o to tir a d a p o r K ris h n a m u rti,
em 1911.
L o n d re s , E s ta ç ã o C h a r in g - C r o s s , m a io de 1 9 1 1 . N ity a , a
se n h o ra B e s a n t, K ris h n a m u rti e G e o rg e A ru n d a le .
A s e n h o r a B e s a n t, L e a d b e a te r , K r is h n a m u r ti e R a ja . R e n a r e s ,
ín d ia , d e z e m b ro de 1911.
O Sa b e r
R e p u to e s p e c ia lm e n te p e r m itid o — e x a m in a r esse
im p o r ta n te c o m p re e n d e r-s e a p ro b le m a , p a ra ver se essa
j q u e s tã o do c o n h e c im e n to , do a tiv id a d e d e a c re s c e n ta m e n to ,
sa b e r. por p a rte da m e n te , p ro d u z
lib e rd a d e , e se o s a b e r p o d e
N ó s , e m g e r a l, p a r e c e m o s tã o
re s o lv e r a lg u m p ro b le m a
s e q u io s o s de sa b e r; e s ta m o s
hum ano.
sem p re a a d q u irir não só
po sses, c o isa s , m as ta m b é m
O saber p o d e rá re so lv e r
id é ia s . A ndam os se m p re de
p r o b le m a s s u p e rf ic ia is ,
um in s tr u to r p a ra o u tr o , de
m e c â n ic o s; pode e le , p o ré m ,
u m liv ro , d e u m a re lig iã o , d e
li b e r ta r a m e n te , to rn a n d o -a
um dogm a, p ara o u tr o .
capaz de p erceb er de m odo
P assam o s a v id a a d q u irin d o
d ire to o q u e é v e rd a d e iro ? É
id é ia s , a c re d ita n d o se r, essa
sem d ú v id a im p o rta n tís s im o
a q u is iç ã o , im p o rta n te p a ra a
c o m p re e n d e r-s e e s ta q u e s tã o ,
c o m p re e n sã o da e x is tê n c ia .
p o rq u a n to sua c o m p re e n sã o
D esejo , p o is — se me é nos le v a rá à r e v o lta c o n tr a
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a m e ra m e to d o lo g ia , que n u m e ro so s p r o b le m a s que se
c o n s titu i um o b s tá c u lo , s a lv o nos a n te p õ e m .
quando se tra ta de a lc a n ç a r
R e c o rr e m o s a o s in té r p r e te s —
a lg u m r e s u lta d o m e c â n ic o .
os que d iz e m c o m p re e n d e r
E s to u f a la n d o a re s p e ito do a lg o m a is — os in té r p r e te s
p r o c e s s o p s ic o ló g ic o d a m e n te não só de p a le s tra s , m as
e c o n s id e r a n d o se é p o s s ív e l ta m b é m dos liv ro s sa g ra d o s.
d e s p e rta r a c a p a c id a d e P a re c e m o s in c a p a z e s de
c ria d o ra in d iv id u a l — que o c u p a r-n o s co m u m p r o b le m a
n a tu r a lm e n te é da m á x im a d ire ta m e n te , s o z in h o s , sem
im p o r tâ n c ia , não a c h a is ? c o n ta r com a a ju d a de
n in g u ém .
A a q u is iç ã o de sab er, ta l
com o o e n te n d e m o s, g era E n ã o é im p o r ta n te a v e r ig u a r
c a p a c id a d e c ria d o ra ? O u, se a m e n te , na s u a a tiv id a d e
p a ra to r n a r - s e capaz de a c u m u la d o ra , é capaz, em
c o n h e c e r e s se e s ta d o c ria d o r, a lg u m te m p o , de re s o lv e r
a m e n te deve e s ta r liv re de a lg u m p ro b le m a p s ic o ló g ic o ,
to d a a tiv id a d e a c u m u la d o r a ? e s p ir itu a l? N ão d e v e a m e n te
a c h a r - s e d e todo d e s o c u p a d a ,
Q u ase t o d o s n ó s le m o s l i v r o s
p a ra que po ssa p erceb er a
ou a ss istim o s a c o n fe rê n c ia s,
v e r d a d e e x is te n te e m q u a lq u e r
com o f im de c o m p re e n d e r;
c o n f l i to hum ano?
quando te m o s um p r o b le m a ,
e s tu d a m o - lo , ou p ro c u ra m o s
E s p e r o te n h a is p a c i ê n c ia p a r a
a lg u é m p a ra c o n v e rsar so b re
e x a m in a r e s te p ro b le m a não
e le , esp eran d o que a s sim o
t ã o - s ó e n q u a n t o eu o d e s c r e v o ,
p r o b le m a s e ja re s o lv id o ou
p o i s t o d o s n ó s s o m o s p o r e le
p o s s a m o s d e s c o b r ir a lg o n o v o .
a tin g id o s .
E s ta m o s s e m p r e r e c o r re n d o a
o u tr o s ou à no ssa p ró p ria Todos nós te m o s m u ito s
e x p e riê n c ia — que é na p r o b le m a s , e há e v id e n te
e s s ê n c ia c o n h e c im e n to — na n e c e ss id a d e de um a
e sp e ra n ç a de re s o lv e rm o s os tra n s fo rm a ç ã o ; m as pode a
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tr a n s f o r m a ç ã o r e a liz a r -s e p e lo s u p e r f ic ia is n o s to r n a m o s . E s te
“ p r o c e s s o ” d a m e n te ? R e firo - é um fa to ó b v io .
me à tr a n s f o r m a ç ã o
Pode um a pessoa le r liv ro s
f u n d a m e n ta l, e não à m e ra
in c o n tá v e is , a s s is tir a
re fo rm a so c io ló g ic a ou
c o n fe rê n c ia s a lta m e n te
e c o n ô m ic a .
in te le c tu a is , a c u m u la r v a sto s
c a b e d a is de ilu s tr a ç ã o ; m as
Sem d ú v i d a , fo i a m e n t e q u e
se n ã o so u b e r p e n e tra r em si
c r io u o s n o s so s p r o b le m a s ; e
m esm a, p a ra d e s c o b r ir a
p o d e e la re s o lv e r o s p ro b le m a s
v e rd a d e , p a ra c o m p re e n d e r
que c rio u ? A s o lu ç ã o d esses
o p r o c e s s o to ta l d a m e n te , os
p r o b le m a s se e n c o n tr a na
seu s e sfo rç o s, por c e r to , só
a q u is iç ã o de m a is sa b e r, de
h a v e rã o de to rn á -la m a is
m a is ilu s tr a ç ã o , no a p re n d e r
s u p e rfic ia l a in d a .
novas té c n ic a s , novos
m é to d o s , novos s is te m a s de N essas c o n d iç õ e s , se r-v o s-á
m e d ita ç ã o , no passar de um p o s s ív e l n ã o p erm an ec er
in s tr u to r p ara o u tro ? m e ra m e n te no n ív e l
s u p e rfic ia l, v e rb a l, m as
T udo is s o é e v id e n te m e n te
d e s c o b r ir o p ro c e s s o d o v o s so
m u ito s u p e rfic ia l; e não
p ró p rio pen sar e tr a n s c e n d e r
im p o rta a v e r ig u a r o q u e é q u e
a m e n te ? O q u e e s to u d iz e n d o
to r n a a m e n te s u p e rfic ia l, q u a l
n ã o é m u ito c o m p lic a d o . E s to u
é a c a u s a d a s u p e rf ic ia lid a d e ?
a p e n a s d e sc re v e n d o o q u e se
P a ra a m a io ria de n ó s, o e s tá p a s s a n d o d e n tr o d e c a d a
p r o b le m a é e s te , n ã o é ? S o m o s
um d e n ó s ; m a s , se v iv e is n o
m u ito s u p e rfic ia is , não
n ív e l v e rb a l, se a d e sc riç ã o
sabem os e x a m in a r
vos s a tis fa z e a c h a is
p ro fu n d a m e n te os n o ssos
d e s n e c e s s á rio e x p e r im e n ta r
c o n f l i to s e os n o sso s d ire ta m e n te , e n tã o , e s ta s
p r o b le m a s ; e q u a n to m a is p a le s tr a s se rã o de to d o
re c o rre m o s a liv ro s , a
! in ú te is .
m é to d o s , a e x e rc íc io s , à I
a q u i s iç ã o d e s a b e r , ta n to m a is j R e c o rre re is , n esse caso, aos
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Somos muito superficiais, não
sabemos examinar
profundamente os nossos
conflitos e os nossos
problemas; e quanto mais
recorremos a livros, a
métodos, a exercícios, à
aquisição de saber, tanto mais
superficiais nos tomamos.
in té r p r e te s , aos que se c h e g a r a esse d e s c o b r im e n to ,
p ro p õ em e x p lic a r -v o s o que deve a m e n te ser capaz de
e s to u d izen d o — c o isa p e n e tra r e u ltra p a s s a r to d a s
a b s o lu ta m e n te a b su rd a . E as cam adas s u p e rfic ia is .
m u ito m e lh o r “ e s c u t a r ” u m a Podem os fa z ê -lo ?
c o isa d ire ta m e n te , do que
p e d ir a o u tr o q u e e x p liq u e a V is to s ere m to d o s os n o sso s
sua s ig n if ic a ç ã o . N ão p r o b le m a s — p o lític o s ,
podem os c h e g a r-n o s à fo n te s o c ia is, e c o n ô m ic o s , p e s s o a is
sem n e c e s s ita rm o s de — e s se n c ia lm e n te p r o b le m a s
in te rp re ta ç ã o , sem que nos r e lig io s o s ; v is to s e re m r e fle x o s
g u ie m p a r a d e s c o b r i r m o s c o m o do p r o b le m a in te rio r , do
é a fo n te ? S e s o m o s g u ia d o s p r o b le m a m o r a l, — a m enos
p ara d e s c o b r ir , is s o não é q u e r e s o lv a m o s e s te p r o b le m a
d e s c o b r im e n to , não a c h a is? c e n tra l, to d o s os d e m a is se
m u ltip lic a r ã o .
Por fa v o r, c o m p re e n d e i b e m
e ste p o n to . P a r a se d e s c o b r ir
E sse p r o b le m a não pode ser
o q u e é v e rd a d e iro , o que é
re s o lv id o p e lo e x p e d ie n te de
r e a l, não se p re c isa de
s e g u i r m o s a lg u é m , p e l a l e i t u r a
nenhum a in d ic a ç ã o . Q uando
de um liv ro , p e la p r á tic a de
v o s g u i a m p a r a d e s c o b r i r , is s o
um a té c n ic a . N o
não é d e sc o b rim e n to : apen as
d e s c o b rim e n to da r e a lid a d e ,
vedes o que a lg u é m vos
s ã o in te ir a m e n t e in ú te is to d o s
m o s tro u .
os m é to d o s , um a vez que
S e d e s c o b r is s o z in h o , p o ré m , te n d e s de d e s c o b r ir por vós
a e x p e riê n c ia é e n tã o d e to d o m esm o s.
d ife r e n te ; é um a e x p e riê n c ia
o rig in a l, a liv ia d a d o p a s s a d o , O d e sc o b rim e n to im p lic a
do te m p o , da m e m ó ria , c o m p le ta in d e p e n d ê n c ia , e a
in te ir a m e n te liv re d a tr a d i ç ã o , m e n te não pode ser
do dogm a, da crença. E sse in d e p e n d e n te se e s tá v iv e n d o
d e s c o b r im e n to , q u e é c r ia d o r , de e x p lic a ç õ e s , de p a la v ra s ,
é to talm en te n o v o ; m a s , p a ra p ra tic a n d o a lg u m m é to d o ou
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dependendo da tra d u ç ã o do v o sso p ró p rio p e n s a r, q u a n d o
p r o b le m a fe ita por o u tro . se v o s c o lo c a ta l q u e s tã o : q u e
fa z a m e n te s u p e rfic ia l? Por
N essas c o n d iç õ e s ,
que não pode a m e n te
c o m p re e n d e n d o que, desd e a
e x p e r im e n ta r a lg o que é
in fâ n c ia , n o ssa educação,
v e r d a d e ir o , e x is te n te a lé m de
n o sso e n sin o r e lig io s o , n o sso
suas p ró p ria s “p ro je ç õ e s” ?
a m b ie n te so c ia l, c o n c o rre ra m
N ão é p r in c ip a lm e n te a
to d o s p a ra to rn a r -n o s
s a tis fa ç ã o , que cada um de
e x tre m a m e n te s u p e r fic ia is ,
n ó s e s tá b u s c a n d o , q u e to rn a
pode a m e n te pôr de p a rte
a m e n te s u p e rfic ia l?
a sua s u p e rf ic ia lid a d e , esse
c o n s ta n te “p ro c e sso ” de D e se ja m o s a to d o c u s to ser
a q u is iç ã o , n e g a tiv a ou liso n je a d o s , e n c o n tr a r
p o s itiv a , — p o d e e la p ô r d e s a tis fa ç ã o ; por essa ra z ã o
p a r t e t u d o is s o e s e r , n ã o c o m o
p ro c u ra m o s m é to d o s de
um a fo lh a em bran co , m as a lc a n ç a r esse o b je tiv o . E
deso cup ada, c ria d o ra m e n te e x is te de fa to , e m a lg u m
v a z ia , d e m o d o q u e n ã o e s te ja te m p o , um a c o is a ta l, com o
m a is a f a b r ic a r se u s p r ó p r i o s s e ja a s a tis fa ç ã o ? E m b o ra
p ro b le m a s e buscand o
possam os s a tis fa z e r -n o s
s o lu c io n á -lo s ? te m p o ra ria m e n te e m o d ific a r
o o b je to de nossa s a tis fa ç ã o
Por c e r to , é por se rm o s
c o n fo rm e a n o s s a i d a d e , e x is te
s u p e rf ic ia is que não sabem os
s a tis fa ç ã o em a lgu m tem po ?
p e n e tra r p ro fu n d a m e n te ,
d e sc e r às p ro fu n d e z a s d e nós
O d e s ejo busca
m e s m o s ; e im a g in a m o s p o d e r
c o n s ta n te m e n te s a tis fa z e r -s e e ,
a lc a n ç a r essas p ro fu n d e z a s
por is s o , e s ta m o s se m p re a
a p r e n d e n d o c o is a s o u o u v in d o
p a s s a r d e u m a s a tis fa ç ã o p a r a
c o n fe rê n c ia s.
o u tra , e quando nos vem os
O ra, q u e é q u e fa z a m e n te e m b a r a ç a d o s n a s c o m p l ic a ç õ e s
s u p e rfic ia l? Por fa v o r, d e c a d a s a t i s f a ç ã o n o v a , m a is
o b s e rv a i, sede c ô n s c io s de um a vez n o s to rn a m o s
Z1
in s a tis fe ito s e p ro c u ra m o s de id é ia s , de c re n ç a s, ou a
d e s v e n c ilh a r-n o s . r e s p e ito d o q u e e la d e v e fa z e r
ou do que não deve fa z e r.
A p e g a m o -n o s a pesso as,
s e g u im o s in s tr u t o r e s , a d e r im o s E n q u a n to a m e n te v iv e r
a d o ta m o s s u c e s s iv a m e n te em penhada com r e la ç ã o a
v á r i a s f il o s o f i a s ; m a s o d e s e j o a lg u m a c o isa , não se rá e la
c e n tra l p e rm a n e c e o m esm o : s e m p r e s u p e rf ic ia l? P o r c e r to ,
a lg u é m , a lc a n ç a r um não e m a ra n h a d a em nenhum
r e s u lta d o , c o n s e g u ir u m f im . p r o b le m a , d e sp re o c u p a d a de
E s s e p r o c e s s o n ã o é , to d o e le , si m e s m a , d e s u a s r e a l i z a ç õ e s ,
u m a d a s c a u s a s p r im á r ia s d a d o re s , a le g ria s e tr is te z a s , —
s u p e rf ic ia lid a d e da m e n te ? só e s s a m e n te p o d e d e ix a r d e
ser s u p e rfic ia l. E não pode
E não é a m e n te s u p e rf ic ia l a m e n te v iv e r d ia por d ia ,
por p e n sa rm o s sem pre em f a z e n d o a s c o is a s q u e te m de
te rm o s re la tiv o s à a q u is iç ã o ? fa z e r, liv r e dessa
A m e n te e s tá s e m p r e o c u p a d a p re o c u p a ç ã o ?
o u em a d q u i r ir , o u e m r e je ita r,
d e s p o ja r-s e d a q u ilo que N o q u e r e s p e ita a q u a s e to d o s
s e m p re n e s s a te n s ã o ; e e la n ã o o b s e rv a is a vossa p ró p ria
c o n trib u i p a ra a m e n te , q u a n d o e s ta is c ô n sc io s
m e n te ? p re o c u p a d a ? E s tá p re o c u p a d a
a r e s p e ito de com o to rn a r-s e
O u tro fa to r que o c a s io n a a m a i s p e r f e i t a , t e r m a is s a ú d e ,
s u p e r f ic ia lid a d e é a in c e s s a n te o b te r um em preg o m e lh o r;
ocupação da m e n te e m to rn o p r e o c u p a d a s o b re se é a m a d a
d e s u a s tr ib u la ç õ e s , em to rn o ou não é am ada, se e s tá
d e a lg u m a filo so fia , d e D e u s , p r o g r e d in d o ; s o b re a m a n e ira
de s a ir d e um p ro b le m a sem c o n tr a e la s, sem p ro c u ra r
c a ir n o u tro ; e n f im , e s tá a f a s tá - la s p a ra o la d o ?
p re o c u p a d a c o n sig o m esm a, P o r q u e , n o m o m e n to e m que
n ã o é v e rd a d e ? P o r d ife re n te s lu ta m o s , is s o , e m s i, se t o r n a
m a n e ira s , e la e s tá p e r e n e m e n te o u tr o p ro b le m a , um a nova
a id e n tific a r-s e com o m a is ocupação, que apenas
a lto ou com o h u m íl i m o . a u m e n ta a s u p e rf ic ia lid a d e d a
m e n te .
E pode a m e n te sem pre
ocupada c o n s ig o m esm a, ser D e ix a i-m e e x p re s s á - lo a s s im :
p ro fu n d a ? Um a das no ssas se c o m p re e n d o que m in h a
d ific u ld a d e s , ta lv e z a m a io r, m e n te é s u p e r fic ia l, q u e d e v o
não é essa de que as nossas fa z e r? P e rc e b o , p ela
m e n te s se to rn a ra m o b se rv a ç ã o , sua
s o b re m a n e ira s u p e rfic ia is ? s u p e rf ic ia lid a d e . V e jo que
S u rg e a lg u m a d ific u ld a d e e e s to u sem pre re c o rre n d o aos
lo g o c o rre m o s p a ra a lg u é m , liv ro s, aos lí d e r e s , à
p e d in d o a ju d a ; não te m o s a u t o r id a d e s o b v á r ia s f o r m a s ,
c a p a c id a d e d e p e n e tr a ç ã o , d e aos M e s tre s , a a lg u m i o g u e ;
d e sc o b rim e n to ; não som os c o n h e c e is bem as d ife re n te s
in v e s tig a d o re s d e n ó s m e s m o s. m a n e ira s p e la s q u a is
E p o d e a m e n te in v e s tig a r -s e p ro c u ra m o s s a tis fa z e r -n o s .
e c o n h e c e r - s e a si m e s m a , se P e rc e b o tu d o is s o .
e s tá ocupada com a lg u m
O r a , n ã o m e s e r á p o s s ív e l p ô r
p r o b le m a ?
tu d o is s o de p a rte , sem
O s p ro b le m a s que c ria m o s e s fo rç o , sem m a n te r-m e
com a n o ssa s u p e rf ic ia lid a d e ocupado a seu r e s p e ito , sem
e x ig e m , não s o lu ç õ e s d iz e r: “preciso p ô r is s o d e
s u p e rfic ia is , m as a p a rte , p a ra to rn a r-m e m a is
co m p reen são do que é p ro fu n d o , m a is
v e r d a d e ir o ; e não pode a c o m p re e n s iv o ” ? T o rn a r-n o s
m e n te , co n he ce d ora das a lg o m a is — não é essa a
c a u s a s d a s u a s u p e rf ic ia lid a d e , p re o c u p a ç ã o c o n s ta n te da
c o m p re e n d ê - la s , sem lu ta r no ssa m e n te e um a cau sa
23
Enquanto a mente tiver o
desejo de satisfazer-se com
alguma coisa, haverá
ambiçáo.
p rim á ria de sua n a im a g e m d e D e u s , im a g in á -
s u p e r f ic ia lid a d e ? Is to é o q u e la , c o n je c tu r a r e fo rja r
to d o s d e s e ja m o s : c o m p re e n d e r e s p e r a n ç a s ; m a s is s o n ã o é a
m a is , te r m a is posses, m a io r R e a lid a d e .
c a p a c id a d e in te le c tu a l, ser
O q u e se n e c e s s ita , p o r ta n to ,
m e lh o re s no jo g o , s er m a is
não é de té c n ic a nova, novo
b e lo s, m a is v i r t u o s o s ; s e m p r e
g r u p o s o c ia l o u r e lig io s o , m a s ,
m a is, m a is e m a is.
s im , in d iv íd u o s que s e ja m
T ende a bondade d e p re s ta r capazes de u ltra p a s s a r o
a te n ç ã o : q u a n d o a m e n te e s tá s u p e rf ic ia l; e não se pode
em b u s c a d o m a is , d o m e lh o r, tra n s c e n d e r o s u p e rf ic ia l,
e la é in c a p a z d e c o m p re e n d e r q u a n d o a m e n te e s tá o c u p a d a
a si m e s m a , ta l c o m o é ; p o r q u e c o m o m ais o u c o m o m e n o s.
e s tá pen sand o se m p re em Se a m e n te e s tá to d a
a d q u irir m a is , em ir m a is in te r e s s a d a em te r m a is
lo n g e , e m a lc a n ç a r re s u lta d o s p ro p rie d a d e ou m enos
m a io re s , f ic a im p o s s ib ilita d a p r o p rie d a d e ; se a p ro p rie d a d e
de c o m p re e n d e r o seu c o n s titu i a sua c o n s ta n te
v e rd a d e iro e s ta d o . p r e o c u p a ç ã o , e s ta m e n te , p o r
c e rto , é m u ito s u p e rfic ia l e
E n tre ta n to , quando a m e n te
m u ito e s tú p id a . E a m e n te
p e r c e b e o q u e e la é re a lm e n te ,
a p lic a d a em to rn a r-s e m a is
sem c o m p a ra ç ã o nem
v irtu o s a é ig u a lm e n te e s tú p id a ,
ju lg a m e n to , te m e n tã o a
p o is e s tá ta m b é m in te r e s s a d a
p o s s ib ilid a d e de se to r n a r
em si m e s m a e nas suas
p ro fu n d a , de passar a lé m .
a q u is iç õ e s .
E n q u a n to e s ta m o s
p re o c u p a d o s com o m a is, e m A s s im , p o is , a m e n te é
q u a lq u e r n ív e l d a c o n s c iê n c ia , r e s u lta d o do te m p o , que é o
te m d e h a v e r s u p e rf ic ia lid a d e ; p r o c e s s o d o m a is; e n ã o p o d e
e um a m e n te s u p e rfic ia l não a m e n te e s ta r c ô n s c ia desse
e n c o n tr a r á n u n c a o q u e é r e a l, proc esso e ser o que é, sem
ja m a is c o n h e c e r á a V e r d a d e , p r o c u r a r m o d if ic a r - s e ? C e r to ,
D eu s. P o d e rá c o n c e n tra r-s e a tr a n s f o r m a ç ã o n ã o p o d e s er
26
e fe tu a d a p e la m e n te . A g u ia s e sem d e se ja rm o s a lg o
tr a n s f o r m a ç ã o se re a liz a m a is?
j quando se v ê a v e rd a d e . E
N esse e s ta d o de
a v erd ad e não é o m a is. A
p e r c e b im e n to , em que não
tr a n s f o r m a ç ã o — ú n ic a
e x iste e s c o lh a , c o n d e n a ç ã o o u
re v o lu ç ã o r e a l — se a c h a n a s
ju lg a m e n to , p e rc e b e re is tu d o
m ão s d a R e a lid a d e , e n ã o n a
o que se passa, c o n h e c e re is
e s fe ra da m e n te .
o p ro c e s s o d a m e n te , ta l c o m o
N ão im p o rta , por é d e fa to ; e q u a n d o a m e n te
c o n s e g u in te , que c a d a um de e s tá a s s im c ô n s c ia de si
nós não apenas se l i m i te a m e s m a , e la se to r n a tr a n q ü il a ,
o u v ir e s ta s c o n fe r ê n c ia s , m as d e s p r e o c u p a d a , s e re n a . E , só
que to d o s nos to rn e m o s nessa tr a n q ü ilid a d e e x is te a
c ô n sc io s de nós m esm o s e p o s s ib ilid a d e de se p erceb er
p e r m a n e ç a m o s n e s te e s ta d o d e o que c v e r d a d e ir o e de
p e r c e b im e n to , sem r e a liz a r -s e a tr a n s f o r m a ç ã o
re c o rre rm o s a in té r p r e te s ou ra d ic a l.
28
p re v a le c e o s e n tim e n to de re s p e ito e o u tr a s não, m as,
s u p e r io r id a d e e in fe r io rid a d e . s im , o d e s p e rta r a q u e le
E o c ju e q u e r que fa ç a m os s e n tim e n to , a q u e la a fe iç ã o ,
g o v e r n o s c o m o f im d e i g u a l a r - a q u e le am or (o u com o quer
n o s, nunca h a v e rá ig u a ld a d e , q u e o c h a m e is ) em q u e cessa
desd e que to d o s nós te m o s to ta lm e n te a noção de “ a lto ”
c a p a c id a d e s d iv e rs a s , e “ b a ix o ” . E is s o n ã o é u m a
d ife re n te s a p tid õ e s ; m a s o q u e U t o p i a , n ã o é um e s ta d o q u e
pode haver é um se n tim e n to se a lc a n ç a com lu ta , um
m u i to d i f e r e n t e , u m s e n t i m e n t o e x e rc íc io q u e se d e v e p r a tic a r
d e a m o r , ta lv e z , n o q u a l n ã o to d o s os d ia s, a té chegar à
e x is te o d e s p re z o , o m e ta f in a l .
ju lg a m e n to , a noção de
s u p e rio r e in fe rio r, o que dá A c r e d i to , o im p o rta n te é q u e
e o que re c e b e . “ e s c u te m o s” a re v e la ç ã o d e ss e
e s ta d o , ab so rv e n d o -a com o
S enh ores, is to n ã o s ã o m e r a s
quem c o n te m p la um b e lo
p a la v ra s ; não e s to u
q u a d ro , ou com o quem ouve
d e sc re v e n d o um e s ta d o
o c a n to de um p á s s a r o ; e se
d e s e já v e l, v isto que o que é
sabem os e s c u ta r
d e se já v e l fa z s u rg ir o
v e r d a d e ir a m e n te , o p ró p rio
p ro b le m a : “C om o c h e g a re i
e s c u ta r, a p ró p ria p e rc e p ç ã o
lá ” ? — o q u a l, p o r su a v ez,
r e a liz a a lg o r a d ic a l . M as no
só conduz a a titu d e s
m o m e n to em que a m e n te
s u p e rfic ia is . U m a v e z , p o ré m ,
in te rfe re c o m se u s in u m e rá v e is
p e r c e b a is a vo ssa p ró p ria
p r o b l e m a s , s u r g e o c o n f l i to
a titu d e e c o n h e ç a is as
e n t r e o que d ev e ria ser e o qu e
a tiv id a d e s da vo ssa m e n te ,
é; i n t r o d u z i m o s e n t ã o i d e a i s e
n a sc e rá , e n tã o , ta lv e z , um
a im ita ç ã o d e s s e s id e a is , e
s e n tim e n to d is tin to , um
d e s s e m o d o n u n c a d e s c o b r im o s
s e n tim e n to de a fe iç ã o ; e não
p o r n ó s m e s m o s a q u e le e s ta d o
é isso q u e t e m im p o rtâ n c ia ?
e m q u e n ã o e x is te o d e se jo d e
O m a is im p o r ta n te n ã o é s a b e r s e r m a is, e n ã o e x i s t e , p o r
por que um as pessoas tê m c o n s e g u in te , o d e s p re z o .
2 9
Como a própria mente é
produto do temor, o que quer
que ela faça para o afastar de
si, só pode aumentá-lo mais
ainda.
V
I
E n q u a n to vós e eu a n d a rm o s p u d e rm o s re a lm e n te
em bu sca de s a tis fa ç ã o , não c o m p re e n d e r a a m b iç ã o , o
h a v e rá re s p e ito , não h a v e rá d e s e j o d e n o s t o r n a r m o s m a is,
a m o r. E n q u a n to a m e n te tiv e r d e s a tis fa z e r-n o s , d e re a liz a r ,
o d e se jo d e s a tis fa z e r -s e com d e b r ilh a r , se p u d e rm o s “ v iv e r
a lg u m a c o is a , h a v e r á a m b iç ã o ; com e le ” , c o n h e c e r por nós
e é p o rq u e quase to d o s nós m esm o s to d o o seu a lc a n c e ,
som os a m b ic io so s , em o lh á -lo com o nos o lh a m o s a
d ife re n te s d ire ç õ e s , em n ív e is um e s p e lh o , ver e x a ta m e n te
d if e r e n te s , que esse o q u e so m o s, sem c o n d e n a ç ã o
s e n tim e n to , n ã o d e ig u a ld a d e , — se p u d e rm o s fa z e r ta l c o isa ,
m as de a fe iç ã o , de a m o r, se que é o com eço do
to rn a i m p o s s ív e l . a u to c o n h e c im e n to , da
s a b e d o ria , h a v e rá e n tã o a
N ão fa lo de a lg o so b re - p o s s ib ilid a d e de nascer essa
hum ano; m as penso que, se a fe iç ã o .
T e n t e m o s ju n to s d e s c o b r ir o l em os v á r ia s e s p é c ie s de
q u e é o m e d o e se é p o s s ív e l m ed o , não é v e rd a d e ? O m edo
e r r a d ic á - lo . V a m o s d e s c o b r ir e x iste em d ife r e n te s n ív e is d o
a v erd ad e c o n tid a n e s ta nosso s e r; há o m edo do
q u e s tã o ; m as, p ara a passado, o m edo do fu tu ro
d e s c o b r ir m o s , c u m p re -v o s e o m edo do p re s e n te , que
in v e s tig a r os v o sso s p ró p rio s é a v e rd a d e ira â n s ia dos
t e m o r e s , p a r a v e r c o m o s u r je v iv e n te s . O ra, que é esse
o m edo. m edo? N ão é p ro d u to da
3 2
m e n te , d o p e n s a m e n to ? P e n s o c o m e ç a m o s a in v e n ta r te o ria s ,
no f u tu ro , na v e lh ic e , na — q u e re n a sc e re m o s, q u e nos
p o b reza, na m o r te , e esse to rn a r e m o s p e rf e ito s p e la
q u ad ro me fa z m edo. e v o lu ç ã o , e n e sta s te o ria s a
m e n te vai bu scar p ro te ç ã o .
O p e n sa m e n to “p r o je ta ” ( 1 )
um q u ad ro que p ro v o c a P o rq u e e s ta m o s p e r e n e m e n te
a n s ie d a d e na m e n te ; o em busca de se g u ra n ç a ,
p e n s a m e n to , p o is , c r ia o seu e d ific a m o s ig re ja s em to rn o d e
p r ó p r io te m o r, n ã o é v e r d a d e ? nossas e sp e ra n ç a s, nossas
F iz a lg o in s e n s a to e n ã o q u e ro c r e n ç a s e d o g m a s , p e lo s q u a is
que se m e cham e a a te n ç ã o e s ta m o s p r o n to s a lu ta r ; e tu d o
p a r a is s o , q u e r o e v it á - lo , te m o is s o re p re s e n ta , a in d a , o
as c o n se q ü ê n c ia s. Isso , processo do p e n sa r, não é
ta m b é m , é um processo de e x a to ? E se não podem os
p e n s a m e n to , não a c h a is? d is s o lv e r o n o s s o te m o r, n o s s a
Q u e ro re c o n q u is ta r a b a rre ira p s ic o ló g ic a , vam os
fe lic id a d e da ju v e n tu d e ; ou, p e d ir so c o rro a o u tr o .
p o r v e n t u r a , v i o n te m a lg o n a
E n q u a n to eu pen sar tã o -
m o n ta n h a banhada de s o l,
s o m e n te em te rm o s de
a lg o q u e se e s v a e c e u , e d e s e jo
re a liz a ç ã o , d e p re e n c h im e n to ,
to r n a r a e x p e r im e n ta r a q u e la
de n ã o -v ir-a -s e r, e s ta r e i
b e le z a ; o u , q u e ro ser a m a d o ,
s e m p r e n a s u je iç ã o d o te m o r,
s a tis fa z e r -m e , r e a liz a r a lg o ,
não é v e rd a d e ? O p ro c esso
qu ero ser a lg u é m ; por esse
do p e n sa r, com o o
m o t iv o há a n s ie d a d e , te m o r.
conhecem os, com seu d e se jo
ÇJ p e n s a m e n t o e d e s e jo , e g o c ê n tric o de ser bem -
m e m ó ria , e süas reaç õ es s u c e d id o , d e n ã o s e n tir-s e só ,
c a u s a m te m o r, n ã o é v e r d a d e ? v a z io , esse m esm o proc esso
T e m e n d o o a m a n h ã , te m e n d o é a sede do te m o r. E pode
a m o rte e o d e s c o n h e c id o , a m e n te q u e e s tá to d a o c u p a d a
( ' ) “P r o j e t a r ” ( P s i c o l o g i a ) : E x te r n a r o u o b je t iv a r o q u e , p r im a r ia m e n -
te , é s u b je tiv o ( D i c . W e b s t e r ) ( N o t a d o tr a d u to r ).
3 8
A mente pode reconhecer
apenas o que já foi
experimentado; não pode
reconhecer uma coisa nova,
pois o que é novo não é
reconhecível.
c o n sig o m e s m a , q u e é p r o d u to C om o é a p ró p ria m e n te
de seus p ró p rio s te m o re s , p r o d u to d o te m o r , o q u e q u e r
d is s o lv e r o te m o r? que e la faça p a ra o a fa s ta r
d e s i, só p o d e a u m e n tá - lo m a is
S u p o n h a m o s q u e u m in d iv íd u o a in d a . N essas c o n d iç õ e s ,
te n h a m edo e rec o n h eç a as pode a lg u é m e s ta r s o m e n te
v á r ia s causas do seu te m o r. c ô n s c io d o s e u te m o r, sem se
P o d e a q u e la m e s m a m e n te q u e o c u p a r com e le , sem ju lg á -lo
p ro d u z iu o te m o r e lim in a r o e sem p ro c u ra r a lte rá - lo ?
te m o r p e lo seu p ró p rio E s ta r côn scio d o t e m o r , s e m
e s fo rç o ? E n q u a n to a m e n te condenação, não s ig n ific a
e s tiv e r o c u p a d a c o m o te m o r, a c e itá - lo , a c o lh ê - lo no
p ro c u ra n d o um a fo rm a de c o ra ç ã o . E s ta r c ô n sc io do
liv r a r- s e d e le , d e s c o b r ir o q u e te m o r, sem d ú v id a , s ig n ific a
deve fa z e r p a ra v e n c ê - lo , s im p le s m e n te o b s e r v á - lo , o lh a r
p o d e r á e la , em a lg u m te m p o , p a ra e le , saber que e s tá
fic a r liv r e do te m o r? p re s e n te e p e rc e b e r a v e rd a d e
a seu re sp e ito ; e o
Por c e r to , a m e n te só pode p e r c e b im e n to da v erd ad e
s e r liv r e d e te m o r q u a n d o j á re la tiv a ao te m o r d is s o lv e -o .
n ã o e s tá o c u p a d a c o m e le —
o que não s ig n if i c a fu g ir ao A m e n te não pode d is s o lv e r
te m o r , o u te n ta r ig n o rá - lo . E m o te m o r por nenhum a ação
p rim e iro lu g a r, p re c is a m o s d ela p ró p ria ; em p re se n ç a d o
e s ta r p le n a m e n te c ô n sc io s de te m o r, o que e la deve fa z e r
que te m o s m edo. Em g e r a l, é fic a r m u ito q u ie ta —
não t e m o s c o m p l e t a co n h e c e r, e não a g ir. T ende
c o n s c i ê n c ia d o t e m o r : e s t a m o s a b o n d a d e d e p r e s t a r a te n ç ã o
v a g a m e n te c ô n sc io s d e le : e se a isso . D ev em os sab er que
c h e g a m o s a v ê - lo , c a r a a c a r a , s e n t im o s m e d o , d e v e m o s e s t a r
f ic a m o s h o r r o r i z a d o s e f u g i m o s p le n a m e n te c ô n s c i o s d e l e , s e m
d e le , a tir a n d o - n o s a a tiv id a d e s n e n h u m a r e a ç ã o , sem n en h u m
v á r ia s que só le v a m a novos d e s e jo de a lte rá -lo . A
m a le fíc io s. a lte ra ç ã o , a tr a n s f o r m a ç ã o
36
não pode ser o p e ra d a p ela d e a c o r d o c o m a l g u m f il ó s o f o ,
m e n te ; só p o d e r e a liz a r -s e p e lo a n a l i s t a o u i n s t r u t o r r e l ig i o s o ,
p e rc e b im e n to da v erd ad e, c m a s t a l c o m o e le e s t á r e a l m e n t e
a m e n te não pode p erceb er fu n c io n a n d o em v ó s , m o m e n to
o que é v e r d a d e ir o quando por m o m e n to , em to d a s as
e s t á p reo c u p a d a a r e s p e i t o d o vossas r e la ç õ e s , — quando
te m o r, quando o e s tá r e p o u s a is , a n d a is , o u v is
condenando ou d e s e ja n d o a lg u é m , q u a n d o lig a is o r á d i o ,
liv r a r - s e d e le . le d e s um liv ro ou c o n v e rs a is
à m esa.
T oda ação da m e n te com
re s p e ito a o te m o r, a u m e n ta - o ,
E s ta r p le n a m e n te c ô n sc io de
ap en as, ou a ju d a à m e n te a
si m e s m o , sem d ú v id a , é
fu g ir d e le . Só há um e s ta d o
m a n te r a m e n te num a
liv r e d e te m o r q u a n d o a m e n te ,
e x tra o rd in á ria v ig ilâ n c ia ; e
de to d o c ô n s c ia dos seu s
n essa v ig ilâ n c ia há
te m o re s , n ã o e s tá em a tiv id a d e
a u to c o n h e c im e n to , o com eço
com r e la ç ã o a e le s . S u rg e
da s a b e d o ria . A m e n te que
e n tã o um e s ta d o
c o m p le ta m e n te d ife re n te , um lu ta c o n tr a o te m o r, nunca
e s ta d o q u e a m e n te d e m o d o d is s o lv e r á o te m o r; m as,
im p o r ta n te q u e se c o m p re e n d a um e s ta d o d ife re n te , no qu al
o “p ro c e sso ” da m e n te , não o te m o r é in e x is te n te .
3 7
A VERDADEIRA
RELIGIÃO
S e r i a m u i t o ú t il e i m p o r t a n t e , P a ra d e s c o b rir-s e , p o ré m , e
p a re c e -m e , c o n s id e r a r m o s a e x p e r im e n ta r a q u e le e s ta d o ,
q u e s tã o d e q u a l é a v e r d a d e ir a a c h o q u e te r e m o s , e m p r im e iro
re lig iã o ; e ta lv e z , in v e s tig a n d o lu g a r , de c o m p re e n d e r o
e s ta q u e s tã o um pouco “ p ro c e sso ” ( 1 ) do in te le c to ,
p ro fu n d a m e n te , te n h a m o s a d a m e n te . A m e n te se c o n stitu i
p o s s ib ilid a d e d e d e s c o b r ir , d e n ã o a p e n a s d o c o n s c ie n te , m a s
e x p e r im e n ta r d ir e ta m e n te , p o r ta m b é m das m u ita s cam adas
n ó s m e sm o s , a q u e le e s ta d o q u e d a q u ilo a que cham am os “o
n ã o é p r o d u to d a m e n te e q u e in c o n s c ie n te ” ; é u m “ p r o c e s s o ”
deve s e r a lg o d e s c o n h e c id o e to ta l, e m b o ra , por
to ta lm e n te n o v o , n u n c a d a n te s c o n v e n iê n c ia , a d iv id a m o s em
e x p e r im e n ta d o . “ c o n s c ie n te ” e “ in c o n s c ie n te ” ,
( 1 ) P r o c e s s o : T o d a a sé rie d a s a tiv id a d e s o u o p e r a ç õ e s d e u m a f a c u l d a
d e ( N o t a d o tr a d u to r ) .
39
A VERDADEIRA
RELIGIÃO
S e r i a m u i t o ú t il e i m p o r t a n t e , P a ra d e s c o b rir-s e , p o ré m , e
p a re c e -m e , c o n s id e r a r m o s a e x p e r im e n ta r a q u e le e s ta d o ,
q u e s tã o d e q u a l é a v e r d a d e ir a a c h o q u e te r e m o s , e m p r im e iro
re lig iã o ; e ta lv e z , in v e s tig a n d o lu g a r , de c o m p re e n d e r o
e s ta q u e s tã o um pouco “p ro c e sso ” ( 1 ) do in te le c to ,
p ro fu n d a m e n te , te n h a m o s a d a m e n te . A m e n te s e c o n s titu i
p o s s ib ilid a d e d e d e s c o b r ir , d e n ã o a p e n a s d o c o n s c ie n te , m a s
e x p e r im e n ta r d ir e ta m e n te , p o r ta m b é m das m u ita s cam adas
n ó s m e s m o s , a q u e le e s ta d o q u e d a q u ilo a que cham am os “o
n ã o é p r o d u t o d a m e n te e q u e in c o n s c ie n te ” ; é u m “ p r o c e s s o ”
d e v e s e r a lg o d e s c o n h e c id o e to ta l, e m b o ra , por
to ta lm e n te n o v o , n u n c a d a n te s c o n v e n iê n c ia , a d iv id a m o s em
e x p e r im e n ta d o . “ c o n s c ie n te ” e “ in c o n s c ie n te ” ,
( 1 ) P r o c e s s o : T o d a a s é rie d a s a tiv id a d e s o u o p e r a ç õ e s d e u m a f a c u l d a
d e ( N o t a d o tr a d u to r ) .
39
com as d ife r e n te s grad aç õ es d e s c o b r ir d e s , p o is o
d e c o n s c iê n c ia e x is te n te s e n t r e d e sc o b rim e n to te m de ser
os d o is . e s p o n tâ n e o . D e v e is d e s c o b r i-
lo p o r v ó s m e s m o s . I e n ta re i
P a ra c o m p re e n d e rm o s as
tã o -s o m e n te descrev er com o
v á ria s a tiv id a d e s da m e n te ,
esse e s ta d o a p a re c e ; m as, se
devem os, por c e r to , não
a p e n a s s e g u ird e s a d e s c r iç ã o ,
ap enas in v e s tig a r no n ív e l
e n tã o , é c la ro , não
s u p e rfic ia l ou v e rb a l, m as
c o m p re e n d e r e is esse e s ta d o ,
ta m b é m p e n e tra r que só pode s u rg ir quando
p ro fu n d a m e n te no “p ro c e sso ”
a m e n te já não e s tá
do p ró p rio p e n sa m e n to .
“ p ro je ta n d o ” nem re sis tin d o .
O que d e se jo fa z e r, se fo r Com o eu ia d iz e n d o , te m o s
p o s s ív e l — e n ã o sei se é — em p r im e iro lu g a r de
é p r o d u z ir a q u e le e s ta d o q u e c o m p re e n d e r o in te le c to , o
não é c o n c e b ív e l, que não é p ro c e s so da c o n s c iê n c ia , não
im a g in á v e l, q u e n ã o p o d e s er apenas a s u p e rfic ia l, senão
s is te m a tiz a d o nem ta m b é m a s s u a s c a m a d a s m a is
c o n je c t u r a d o ; e iss o , p o r c e r to , p r o f u n d a s ; e, p a r a o fa z e rm o s ,
n ã o r e q u e r n e n h u m a c o n d iç ã o p re c is a m o s e v id e n te m e n te ,
d e a u to -h ip n o se n em d e m e ra com eçar p e la s reaç õ es e
a u to -s u g e stã o , m as s im , o “re s p o s ta s ” (re sp o n s e s ).
g ra d u a l d e sd o b ra r-se do
A lé m do seu s ig n if ic a d o
i p ro c e sso da v o ssa p ró p ria
e x te r io r , p a la v ra s com o
m e n te .
“ a d e u s ” , “ c o m u n is ta ” ,
Podem os d e s c o b r ir ju n to s e “ c a p ita lis ta ” , “ a v id e z ” ,
e x p e r im e n ta r d ire ta m e n te “ p r o g re s s o ” , “ m o r te ” , tê m
a q u e le e s ta d o a que a s p ira m u m a g r a n d e s ig n if ic a ç ã o p a r a
to d a s a s r e lig iõ e s — d e s p id a s a m a io ria de nó s, não é
d o se u e c le s ia s tic is m o , d o s se u s v erd ad e? T êm e la s um a
do gm as, dos seus rito s e s i g n if i c a ç ã o a s s im n e u ro ló g ic a
in u m e rá v e is c o n tra -s e n s o s ? c o m o p s ic o ló g ic a . A s p a la v r a s
N ão vou g u ia r-v o s p a ra o são s ím b o lo s ; e se as não
e m p re g a m o s, te m o s s ím b o l o s onde possa h a b ita r sem ser
s o b o u tr a s fo rm a s , c o m o a c ru z p e rtu rb a d a , não é e x a to ?
e o s s ím b o lo s r e lig io s o s da P ro c u ra v iv e r
ín d ia . p e r m a n e n te m e n te em
s e g u ra n ç a , n u m a id e ia , n u m a
E é p o s s ív e l a b s te r- n o s de c re n ç a , num a e x p e riê n c ia ,
re a g ir , d e le v a n ta r b a r r e ir a s , num a re la ç ã o . Tudo is s o é
em r e a ç ã o a o s s ím b o lo s ? P o d e o p ro c e s s o d a m e n te , d o q u e
a m e n te , n a q u e le n ív e l cham am os “ in te le c to ” ,
s u p e rfic ia l, pôr de p a rte o “ in te lig ê n c ia in d iv id u a l” ; is s o ,
p ro c e sso im a g in a tiv o , q u e f a z p a r t e d a c o n s c i ê n c ia ,
e s p e c u la tiv o , v e rb a l, com m a n ife s ta ou o c u lta , é tu d o
t o d a s a s s u a s r e a ç õ e s ? E m u i to o que sa b em o s.
d ifíc il f a z ê - lo , p o is , no
m o m e n to , a m e n te só pen sa P o is bem . C onhecendo o
d e n tr o do â m b ito das p r o c e s s o i n t e g r a l d e si m e s m a ,
im a g e n s . Pode e la e s ta r s e r e n a , a f im
de d e s c o b r ir o que é
E não devem os in v e s tig a r o v e rd a d e iro , o gue é r e a l, o
p ro c e sso do d e s e jo ? Sem que é D eus? E is s o o que
d ú v i d a , p o is o d e s e jo é p a r t e d e se jo c o n s id e r a r . Pode a
da m e n te , do in te le c to , da m e n te e s ta r c ô n s c ia das suas
i n te l i g ê n c ia de que nos n u m e ro sa s cam adas, das
s e rv im o s no v iv e r c o tid ia n o . re a ç õ e s v e rb a is , dos a p e tite s
O d e se jo é o a u tê n tic o p u ra m e n te físic o s, das
p r o c e s s o d a m e n te , d a m e n te n e c e ssid a d e s e im p u ls o s
que a c u m u la , re té m , que b io ló g ic o s, do cunho da
p o ssu i in ú m e ro s im p u ls o s , tra d iç ã o e do a m b ie n te , das
busca sensações, e x ig e m a is, le m b ra n ç a s c la ra s e o c u lta s —
q u e e v ita a d o r e a n s e ia p e lo pode a m e n te e s ta r c ô n s c ia
p r a z e r .. de tu d o is s o , sem in te rfe rir
de m a n e ira a lg u m a ?
A m e n te e s tá se m p re em
p r o c u r a d e u m a b rig o se g u ro , O p e n s a m e n to é sem pre
4 1
A religião nada tememcomum
com crenças, com símbolos,
ritos, promessas, com
esperanças e temores, em
tomo dos quais são
construídos os credos e as
igrejas.
c o n d ic io n a d o e n q u a n to é a I re c o n h e c e r u m a c o isa nova,
e x p re s s ã o v e r b a l d a m e m ó ria ; p o is o que e novo nao e
e e n q u a n t o a m e n t e n ã o e s ti v e r re c o n h e c ív e l.
de to d o liv r e dessa
A s s im , a V e r d a d e , D e u s , ou
e x tr a o r d in á r ia a c u m u la ç ã o d o
com o o ch a m a rd e s, te m de
passad o, o d e s c o n h e c id o ,
s e r to ta lm e n te n o v o , n ã o p o d e
e v id e n te m e n te , é in a lc a n ç á v e l.
ser re c o n h e c id o . Se for
E n q u a n to não d e sa p a re c e r o
re c o n h e c id o , e n tã o já fo i
p ro c e sso de re c o n h e c im e n to ,
e x p e r im e n ta d o a n te s , e o q u e
não pode e x is tir o novo.
já fo i e x p e r im e n ta d o e s tá
C o n s id e re m o s e s ta q u e s tã o um c o m p re e n d id o na e sfe ra do
pouco m a is lo n g a m e n te . t e m p o . P r o c u r a i p e r c e b e r is s o
A fin a l de c o n ta s , o que c la ra m e n te , e c o m p re e n d e r e is
cham am os e x p e riê n c ia é um a lg o . N ão é d ifíc il. A s
p ro c e sso de re c o n h e c im e n to , p a la v ra s que e s to u
não é v e rd a d e ? Q u a n d o vedes em preg an do podem ser
um c e r to a n im a l, s a b e is que d ifíc e is; p o ré m , o s e n tid o , o
é um cão, p o rq u e te n d e s s i g n if i c a d o d o q u e d i g o é m u i to
c o n h e c im e n to a n te rio r da sim p le s .
e s p é c i e e lh e d e s t e s u m n o m e .
Q uando vos e n c o n tra is com A fu n ç ã o da m e n te é
um a m ig o , o re c o n h e c e is, c o g n itiv a , não é v e rd a d e ? A
p o rq u e tiv e s te s e x p e riê n c ia m e n te re c o n h e c e , p e n s a ; e seu
a n te r io r dessa a m iz a d e . p e n sa r, seu re c o n h e c e r, seu
Q uando há um a e x p e riê n c ia e x p e r im e n ta r p r o c e d e to d o d o
p sic o ló g ic a , essa e x p e riê n c ia “fu n d o ” (b a c k g r o u n d ) ( / )
fo i c o n h e c i d a a n te rio rm e n te e da m e m ó ria . A fin a l, se sou
lh e d e s t e s u m n o m e . A m e n te h in d u ís ta , m eu
p o d e re c o n h e c e r a p e n a s o q u e c o n d i c i o n a m e n t o l i m i ta o m e u
j á f o i e x p e r i m e n t a d o ; não p o d e p e n s a r; penso em D eu s, na
( 1 ) B a c k g r o u n d : T o d o o c a b e d a l a d q u ir id o p e la e x p e r iê n c ia , in s tr u ç ã o ,
e d u c a ç ã o , e tc . ( D i e . W e b s t e r ) ( h o t a d o tr a d u to r ).
4 4
m o ra l, em c o n fo rm id a d e c o m A m o r a lid a d e r e s u lta n te de
a t r a d i ç ã o e t u d o o q u e li n a s e sfo rç o c o n s c ie n te lim ita a
e s c r itu ra s h in d u ís ta s . E o s q u e m e n te . A v irtu d e só é
são c ris tã o s ou b u d is ta s , ou n e c e s s á r ia p o rq u e dá
o que q u is e r d e s , e que tê m li b e r d a d e ; o hom em , p o ré m ,
in c lin a ç õ e s r e lig io s a s e stã o q u e se e sfo rç a p a r a to rn a r-s e
ig u a lm e n te c o n d ic io n a d o s p o r v irtu o s o , ja m a is é liv re .
tu d o o que lh e s f o i
N e s s a s c o n d iç õ e s , c o n h e c e n d o
e n sin a d o .
to d o o c o n te ú d o da m e n te ,
P o is bem . O que e s ta m o s s u a s re c u s a s , s u a s r e s is tê n c ia s ,
te n ta n d o — n ã o só a g o r a , m a s suas a tiv id a d e s d is c ip lin a r e s ,
sem p re — é d e s c o b r ir se a seus v á rio s e sfo rç o s v is a n te s
m e n te p o d e lib e r ta r - s e d o se u à se g u ra n ç a , c o isa s e ssa s q u e
c o n d ic io n a m e n to e tê m o e f e ito d e c o n d i c io n a r - lh e
e x p e r im e n ta r o q u e n u n c a fo i e lim ita r o pen sar — pode
e x p e r im e n ta d o a n te rio r m e n te . a m e n te , com o processo
Sem d ú v id a , esse é o “in te g ra d o ” , e s ta r to ta lm e n te
e x p e r im e n ta r d a R e a lid a d e e liv r e p ara d e s c o b r ir o que é
a r e lig iã o v e rd a d e ira , não e te rn o ? P o rq u e , sem esse
a c h a is ? d e s c o b r im e n to , sem o
e x p e r im e n ta r d e s s a r e a lid a d e ,
A r e lig iã o nada te m em
to d o s os n o sso s p ro b le m a s ,
com um com cren ças, com
c o m s u a s r e s p e c tiv a s s o lu ç õ e s ,
s ím b o lo s , r ito s , prom essas,
c o n d u z e m tã o -s o m e n te a n o v o s
c o m e s p e r a n ç a s e te m o re s , em
s o frim e n to s e d e s a s tre s .
to rn o dos q u a is são
c o n s tr u íd o s os cred o s e as Isso é ó b v io , e p o d e -se
ig re ja s. 1 ã o p o u c o é q u e s tã o o b s e rv a r n a v id a d e c a d a d ia .
de m o r a lid a d e . O in d iv íd u o In d iv id u a lm e n te ,
de p r in c íp io s m o ra is pode p o litic a m e n te ,
nunca v ir a conhecer a in te rn a c io n a lm e n te , em to d a
R e a lid a d e — o que não e q u a lq u e r a ti v id a d e , e s ta m o s
sig n ific a q u e p a r a c o n h e c e r a sem p re a c r ia r m a io re s
R e a lid a d e deva s e r im o r a l. m a le fíc io s , o q u e s e r á s e m p r e
4-5
in e v itá v e l, e n q u a n to não v o liç ã o , sem nenhum a ação
tiv e rm o s e x p e rim e n ta d o a q u e le v o lu n tá r ia . A v o n ta d e é a in d a
e s ta d o de re lig iã o , a q u e le d e s e jo , não é v e rd a d e ? O
e s ta d o que só é p o s s ív e l hom em a m b ic io s o , n o s e n tid o
e x p e rim e n ta r -s e quando a m undan o, s e n te um fo rte
m e n te se acha de todo d e se jo d e r e a liz a r a lg o , d e s e r
liv r e . b e m - s u c e d id o , to rn a r-s e
fa m o so , e e x e rc e a v o n ta d e
A g o ra , to m a n d o
p a ra re sg u a rd a r a p ró p ria
c o n h e c im e n to d is to , p o d e is ,
im p o rtâ n c ia . De m odo
a in d a que por um seg und o,
id ê n tic o , e x e rc e m o s a v o n ta d e
conhecer a q u e la lib e rd a d e ?
p a ra d e s e n v o lv e r a v irtu d e ,
N ã o p o d e is c o n h e c ê - la a p e n a s
p ara a lc a n ç a r u m e s ta d o d ito
p o r eu a e s ta r s u g e r in d o , p o is ,
e s p iritu a l . A c o is a de que
n esse caso, e la se ria
e sto u fa la n d o , p o ré m , é de
u n ic a m e n te um a id é ia , um a
to d o d if e r e n te , in teira m en te
o p in iã o , sem m u ito
liv r e de q u a lq u e r d e s e j o , d e
s ig n if ic a d o . E n tre ta n to , se
q u a lq u e r ação, de q u a lq u e r
te n d e s acom panhado as
c o m p u ls ã o p ara ser is s o ou
m in h a s p a la v ra s m u ito
a q u ilo .
s e ria m e n te , e s ta is com eçan do
a conhecer o processo d o vosso A o e x a m in a rd e s o q u e d ig o ,
p ró p rio p e n sa r, sua d ire ç ã o , e s ta is e x e r c e n d o a r a z ã o , n ã o
se u s in te n to s , se u s m ó v e is; e , é v e rd a d e ? A r a z ã o , to d a v ia ,
em v is ta d e s s e c o n h e c im e n to , c o n d u z -n o s apenas a té um
c h e g a re is , p o r f o r ç a , a o e s ta d o c e r to p o n to , e n ã o m a is a lé m .
em que a m e n te já não e s tá D evem os o b v ia m e n te e x e rc e r
a p r o c u r a r , a e s c o lh e r, lu ta n d o a ra z ã o , a c a p a c id a d e de
p a ra r e a liz a r seu s f in s . p e n s a r n a s c o is a s d e p r in c íp io
a f im , sem p ararm o s a m e io
D e p o is de p erceb er to d o o
c a m in h o .
se u p r ó p r io p r o c e s s o , a m e n te
se to r n a tra n q ü ila num grau M as, quando a ra z ã o
e x tra o rd in á rio , sem nenhum a a l c a n ç o u o s s e u s li m i te s e n ã o
te n d ê n c ia , sem nenhum a pode ir m a is lo n g e , e n tã o a
46
m e n te já n ã o é o in s tru m e n to s id o a té a g o r a o r e s u lt a d o d o
da ra z ã o , da a s tú c ia , dò c o n h e c i d o . Q u e so is v ó s s e n ã o
c á lc u lo , d o a ta q u e e d a d e fe s a , um a a c u m u la ç ã o de c o is a s
desde que o p ró p rio c e n tro c o n h e c id a s : v o s s a s tr ib u la ç õ e s ,
de onde pro ced em to d o s os vossas v a id a d e s , vossas
no sso s p e n s a m e n to s e to d o s a m b iç õ e s, d o re s, r e a liz a ç õ e s
os no sso s c o n f l i to s d e ix o u de e fru s tra ç õ e s ? Tudo is s o é
e x is tir. c o n h e c id o , o c o n h e c id o do
te m p o e d o e s p a ç o ; e e n q u a n to
P o is bem . A g o ra c o m e ç a is ,
a m e n te e s tiv e r fu n c io n a n d o
por c e rto , a conhecer a vós
d e n tro da e s fe ra do te m p o ,
m esm os m o m e n to por
do c o n h e c id o , ja m a is p o d e rá
m o m e n to , d u ra n te o d ia , nas
ser o d e s c o n h e c id o :
vossas d iv e r s a s a tiv id a d e s ; a
c o n tin u a rá , tã o -s o m e n te , a
m e n te e s tá com eçando a
e x p e r im e n ta r o que é
c o n h e c e r-s e a si m e s m a , c o m
c o n h e c id o .
to d a s as suas to rtu o s id a d e s ,
re s is tê n c ia s , c ren ça s, su as
S e n h o re s, isto não é a lg o
e x ig ê n c ia s , b u s c a s , a m b iç õ e s ,
c o m p lic a d o ou m is te r io s o :
seu s te m o re s e â n s ia de
d escrev o fa to s e v id e n te s da
p re e n c h im e n to . U m a vez
nossa e x is tê n c ia c o tid ia n a .
c ô n s c ia de tu d o isso , não é
C o m a c a r g a d o c o n h e c id o ,
p o s s ív e l à m e n te , a in d a que
p ro c u ra a m e n te d e s c o b r ir o
por um seg und o, fic a r
d e s c o n h e c id o Com o pode
to ta lm e n te tr a n q ü ila , c o n h e c e r
c o n s e g u i-lo ? Todos f a la m o s
um silê n c io em que e x is te
d e D e u s ; em to d a s a s re lig iõ e s ,
li b e r d a d e ? E q u a n d o h á essa
e m to d a s a s ig re ja s e te m p lo s
li b e r d a d e s ile n c io s a , e n tã o n ã o
e s ta p a la v ra é em p reg ad a;
é a m e n te , e la p ró p ria , o
s e m p r e , p o ré m , à im a g e m do
e te r n o ?
c o n h e c id o . S ão p o u q u ís s im o s
P a ra conhecer o os que abandonam to d a s as
d e s c o n h e c id o , deve a m e n te ig re ja s , to d o s os te m p lo s e
ser, e la p ró p ria , o liv ro s , e passam a lé m , p a ra
d e s c o n h e c id o . A m e n te te m d e s c o b r ir .
47
A virtude só é necessária
porque dá liberdade; o
homem, porém, que se esforça
para tornar-se virtuoso, jamais
é livre.
N o m o m e n to , a m e n te é o e s tá lib e r ta d a n o m o m e n to em
em ta is c o n d iç õ e s, se põe a essa in e fá v e l p r e s e n ç a do
e x p e r im e n to u . P a r a d e s c o b r ir
O c o n h e c im e n to , a e x p e riê n c ia
o d e s c o n h e c id o , p r e c is a
é o “ e u ” , o “ e u ” q u e a c u m u lo u
lib e rta r-s e de to do d o
e ju n to u ; por c o n s e q ü ê n c ia ,
c o n h e c id o , do passado, não
t o d o c o n h e c i m e n to t e m d e s e r
p o r m e io d e u m a a n á l is e le n ta ,
s u s ta d o , to d a e x p e riê n c ia
não por um a in v e s tig a ç ã o
p o s ta d e p a r te . E quando há
g rad u al do passado,
o s il ê n c i o da lib e rd a d e , não
in te rp re ta n d o cada sonho,
é e n tã o a m e n te , e la p r ó p r ia ,
cada re a ç ã o , m as p e lo
o e te rn o ? E la e s tá e n tã o
p e rc e b e r, c o m p le ta m e n te ,
e x p e r im e n ta n d o a lg o
in s ta n ta n e a m e n te , a v e rd a d e
in te ira m e n te novo, que é o
do que e sto u d izen d o .
R e a l; m as, p a ra o
e x p e r im e n ta r , a m e n te deve
E n q u a n to a m e n te fo r
s ê-lo .
r e s u lta d o do te m p o , do
c o n h e c id o , nunca e n c o n tra rá Por fa v o r, não a firm e is ser
o d e s c o n h e c id o , que é D eu s, a m e n te a R e a lid a d e . N ão
R e a l id a d e , o u c o m o q u is e rd e s o é. A m e n te só pode
c h a m á - lo . O p e rc e b im e n to d a e x p e r im e n ta r a R e a lid a d e ,
v e r d a d e a e sse re s p e ito , lib e rta q u a n d o e s tá d e to d o liv r e d o
a m e n te do passad o. N ão te m p o ; e esse “ p ro c esso ” de
tr a d u z a is lo g o a e x p re ssã o d e sc o b rim e n to é r e lig iã o .
“ lib e r ta r -s e d o p a s s a d o ” c o m o P o rq u e r e lig iã o não é o que
s i g n if i c a n d o “ e s q u e c e r-s e do c r e d e s . N e n h u m a r e l a ç ã o te m
c a m in h o de casa” . Isto é com o fa to de s e rd e s c ris tã o
a m n é sia . N ão o r e d u z a is a ou b u d is ta , m u ç u lm a n o ou
u m a m a n e ira d e e n te n d e r tã o h i n d u ís t a ; e s s a s c o is a s n ã o tê m
i n f a n ti l . E n tre ta n to , a m e n te s i g n if i c a ç ã o a lg u m a , send o,
50
a n te s , u m o b s tá c u lo ; e a m e n te e n te s o u ra e x p e r iê n c ia , não
d e se jo sa de d e s c o b r ir , deve pode v iv e r m o m e n to por
d e s p o ja r-s e c o m p le ta m e n te m o m e n to , d e s c o b r in d o o
d e la s to d a s . novo.
P a ra s e r n o v a , a m e n te d e v e O s que s e n te m v e r d a d e ir o
e s ta r s o z in h a ; p a r a q u e p o s s a in te re s s e , o s q u e n ã o s ã o m e ro s
r e a liz a r -s e a e te rn a c r ia ç ã o , d ile ta n te s , que não e s tã o
deve a m e n te a c h a r-se no apen as a b r in c a r com e sta s
e s ta d o de re c e b ê -la . M as, c o isa s, tê m um a im p o r tâ n c ia
e n q u a n to e s tiv e r à s v o lta s c o m e x tra o rd in á ria na v id a ,
suas trib u la ç õ e s e lu ta s , p o rq u a n to e le s se to r n a r ã o
e n q u a n t o e s ti v e r c a r r e g a d a d e um a lu z p a ra si p r ó p r i o s e,
c o n h e c im e n to s , e m b araçad a por c o n s e g u in te , p ara o u tr o s
p e lo s o b s tá c u lo s p sic o ló g ic o s , ta m b é m .
n u n c a e s ta r á a m e n te liv re p a r a
re c e b e r, p ara c o m p re e n d e r, F a la r de D eu s, sem se
d e s c o b r ir . e x p e rim e n ta r , sem se te r u m a
m e n te de to d o liv re , e,
N e s s a s c o n d iç õ e s , u m a p e s s o a p o rta n to , a b e rta p ara o
v e r d a d e ir a m e n te r e lig io s a n ã o d e s c o n h e c id o , é c o is a d e m ui
é a q u e la c o b e rta por um a po uca v a lia ; é o m esm o que
c r o s ta de crenças, do gm as, p e s s o a s a d u lta s se e n tre te re m
ritu a is . A p e s s o a r e lig io s a n ã o c o m b r in q u e d o s ; e q u a n d o n o s
te m c r e n ç a s ; v iv e d e m o m e n to e n tre te m o s com b r in q u e d o s e
a m o m e n to , sem ja m a is cham am os a is s o re lig iã o ,
a c u m u la r e x p e riê n c ia a lg u m a ; e s ta m o s c r ia n d o m a is
p o r c o n s e q ü ê n c ia , só e la é u m c o n fu sã o , causan do m a is
e n te v e rd a d e ira m e n te s o frim e n to . E só ao
re v o lu c io n á rio . A v e r d a d e n ã o c o m p re e n d e rm o s to d o o
é u m a c o n tin u id a d e n o te m p o ; p r o c e s s o d o p e n s a r e d e le n o s
é p a r a s er d e s c o b e r ta a c a d a lib e r ta r m o s , pode a m e n te
m o m e n to q u e p a s s a . A m e n te e s ta r tr a n q ü ila ; só e n tã o se
q u e a c u m u la , q u e re té m , q u e m a n ife s ta o E te rn o .
51
® P a r a a ju d ar os m eu s três filh o s , h a sta -m e ob servar a m im
m e s m o ? E c o m o hei de da r-lhes instrução?
A v id a , o v iv e r d e c a d a d ia , a is s o ; e s to u - v o s p e d in d o q u e
n ã o é um p ro c e s so d e e d u c a r d e s c u b ra is por vós m e s m o .)
os n o sso s f ilh o s e a nós — S ig n ific a ro d e a r-n o s de
m esm os, ta m b é m ? S enh ores, u m a p o r ç ã o d e a p a r e lh o s , d e
e s ta p e rg u n ta , com sua c o is a s , de c ren ça s, a fim de
r e s p o s ta , n ã o in te r e s s a a p e n a s n o s p r o te g e rm o s e n ã o te rm o s
a m e s tre s e d is c íp u lo s ; m e d o ? S ig n ific a c o b r ir a m e n te
in te r e s s a -v o s a to d o s , p o r q u e com um a s im p le s capa de
s o is p a i s . ilu s tr a ç ã o ? P o is é is s o que
cham am os educação, não é
O ra , será educação m e ra
v erd ad e? Fazem os e n o rm e s
t r a n s m i s s ã o d e c o n h e c i m e n to s ?
despesas com a educação de
C o n s is te , s im p le s m e n te , em
um rap az e, d e p o is, e le vai
e n sin a r as c r ia n ç a s a le r, a
acabar num a g u e rra na
s o m a r , a te r p o s s ib ilid a d e s d e
C o ré ia , n a A le m a n h a , ou n a
a r r a n ja r e m p re g o ? P o is é n isso
R ú s s ia .
q u e e s ta m o s in te r e s s a d o s , n ã o
é v e rd a d e ? E qual é o
E s ta m o s e te rn a m e n te
r e s u lta d o ? O jo v e m ou vai
d e f la g ra n d o g u e rra s e
acabar no e x é rc ito , p a ra ser
d e s tr u in d o - n o s u n s a o s o u tr o s ,
d e s tru íd o , ou d e s tr ó i a si
d o s te m p o s m a is r e m o to s a o s
m esm o num em prego .
d ia s de h o je . A educação,
Q ue s i g n i f ic a , p o is , e d u c a r- p o rta n to , ta l c o m o a
n o s a n ó s m esm o s e a no ssos conhecem os, f a lh o u , sem
f ilh o s ? S i g n i f i c a l e v a r m o s a n o s d ú v id a n en h u m a; já não te m
e anos a p re n d e n d o um a s i g n if i c a ç ã o a lg u m a . M a s se,
té c n ic a , p ara d e p o is nos p a ra um hom em que pensa
c o n v e rte rm o s em ca rn e p ara in te h g e n te m e n te , a educação
canhão o u n u m a m á q u in a d a n ã o é n a d a d isso , n esse c a s o ,
e s tr u tu r a s o c ia l? (T en d e a q u e se e n te n d e p o r e d u c a ç ã o ?
bondade de p re s ta r a te n ç ã o S ig n ific a e la u m a p e r s p e c tiv a
52
“ in te g ra d a ” da v id a , que n o ss o o rg u lh o , n o s so s te m o r e s ;
p ro d u z irá e n te s hum anos devem os p re s ta r a te n ç ã o às
in te g ra d o s ? p a la v ra s que e m p re g a m o s, e
à r e a ç ã o p s ic o ló g ic a d a m e n te
E ó b v io , p o ré m , q u e n in g u é m
a p a la v ra s c o m o “ a m e ric a n o ” ,
pode ser um e n te hum ano
“ru sso ” , “ a le m ã o ” . P a ra
in te g ra d o , se é a m e ric a n o , o u
p o d e rm o s educar a o u tr o s ,
ru sso , ou h in d u ís ta ; is s o são
p re c is a m o s com eçar por
m e ra s e tiq u e ta s sem m u ita
educar a nós m esm os; e não
s i g n if i c a ç ã o . U m e n t e h u m a n o
é essa a fu n ç ã o c o rre ta da
in te g ra d o é a q u e le q u e já n ã o
educação?
e s tá n a su je iç ã o d o te m o r, n ã o
m o ld a d o p ela s o c ie d a d e , de H á v e rd a d e ira educação
a c o rd o com d e te rm in a d o q u a n d o o e d u c a d o r e s tá se n d o
p a d rã o de p e n s a m e n to , s e ja e d u c a d o a o m e s m o te m p o q u e
c a tó lic o , s e ja c o m u n ista ou o s jo v e n s; e is s o im p lic a que
o u tr o q u a lq u e r . C ada s e ita , deve haver lib e rd a d e ta n to
cada gru p o n a c io n a l ou p a r a a c r ia n ç a c o m o p a r a n ó s
re lig io s o q u e r e d u c a r o s seus m esm os. A lib e rd a d e não se
jo v e n s de a c o rd o com c e r ta e n c o n tra n a c o n c lu s ã o d e um
fó rm u la ; e isso é e d u c a ç ã o ? lo n g o cu rso de d is c ip lin a e
R e s u lta r ã o d a í e n te s h u m a n o s c o e rç ã o . N ã o h á lib e r d a d e no
“ in te g ra d o s ” ? P a r a e d u c a r os f im da c o m p u ls ã o . Se
n o sso s f il h o s , não dev em os d o m in a is a c ria n ç a , se a
com eçar por lib e rta r -n o s do o b rig a is a a ju s ta r-s e a um
te m o r , d e t o d a s a s l i m i ta ç õ e s p a d r ã o , p o r m a is id e a lis ta q u e
d o p e n s a m e n t o , ta is s e ja m as s e ja esse p a d rã o , se rá liv r e
do c r is tã o , d o c o m u n is ta , ou a c r ia n ç a d e p o is d is s o ?
do id e a lis ta ?
Se d e s e ja m o s re a liz a r um a
C e r ta m e n te , p ara p o d e rm o s v e rd a d e ira re v o lu ç ã o na
e d u c a r-n o s e a o u tr o s , educação, é o b v ia m e n te
p re c is a m o s p re s ta r a te n ç ã o a n e c e s s á rio haver lib e rd a d e
nós m esm o s, aos n o sso s e x a ta m e n te n o c o m e ç o , o q u e
p e n s a m e n to s , n o sso s m ó v e is , s ig n i f ic a q u e t a n t o o p a i c o m o
53
Estamos etemamente
deflagrando guerras e
destruindo-nos uns aos
outros. A educação, portanto,
tal como a conhecemos,
falhou;já não temsignificação
alguma.
o m e s tre e le v e m e s ta r n ã o m a i s c o m p e t i d o r , n ã o m a is 1
in te r e s s a d o s na lib e r d a d e , e d e se jo so d e b o m ê x ito ; u m e n te
n ã o em c o m o a ju d a r a c r ia n ç a que c o m p re e n d e o que é e ,
a to rn a r-s e isso o u aqu ilo. por c o n s e g u in te , se e s tá
lib e r ta n d o do q u e é.
A educação c o rre ta
s u b e n te n d e ta m b é m que se E n tre ta n to , is s o req u er
e s te ja liv r e do e s p írito de e x tra o rd in á ria p a c iê n c ia , u m a
c o m p e tiç ã o , não é v erd ad e? c o m p re e n s ã o “in te g ra d a ” , q u e
D a m o s n o ta s , c o m p a ra m o s o s só pode v ir com o
jo v e n s , e e s tim u la m o s a a u to c o n h e c im e n to ; e e s ta é a
c o m p e tiç ã o , p o rq u e , quando ra z ã o p o r q u e é tã o im p o rta n te
p re v a le c e o e s p ír ito de que ta n to o educador com o
c o m p e tiç ã o , é m u ito m a is fá c il o educando, o que e n s in a e
d is c ip lin a r a c r ia n ç a e, p e lo o que é e n s in a d o , e s te ja m
te m o r, o b rig á -la a s u b m e te r- p le n a m e n te c ô n sc io s do
se, a e s tu d a r m a is. processo da m e n te e do seu
p ró p rio ser.
Se d e se ja m o s, p o ré m ,
in a u g u r a r a e d u c a ç ã o c o r r e ta , C r e io , d e v ia c u s ta r u n s v in te
e s ta m o s in te r e s s a d o s em e c in c o c e n ta v o s p a r a se m a t a r
lib e r ta r a m e n te , p ara que um s o ld a d o ro m a n o , ou p a ra
po ssa c o n s id e r a r a v id a com um s o ld a d o ro m a n o m a ta r
um a v isã o “ in te g ra d a ” , o u tr o s o l d a d o q u a l q u e r ; h o je ,
e n f r e n ta r to d a s as suas p a r a m a ta r-s e u m s o ld a d o , o
c o m p lic a ç õ e s , ao s u r g ire m , c u s to é de cerc a de cem m il
m o m e n to p o r m o m e n to . Isso , d ó la re s . C o n tin u a m o s a
por c e r to , é m u ito m a is d e s e n v o lv e r a p u ra té c n ic a ,
im p o rta n te do que o á rd u o a s a tiv id a d e s d a m e m ó r ia , d o
tra b a lh o d e a p re n d e r. O s a b e r sagaz in te le c to , e não há
d o s liv r o s p o d e e n t r a r o u n ã o re v o lta c o n tr a tu d o is s o . E
no p ro g ra m a , m as o que quando nos r e v o lta m o s ,
p r in c ip a lm e n te nos in te r e s s a to rn a m o -n o s p a c ifis ta s ,
é p ro d u z ir um novo e n te id e a lis ta s , o u a d o ta m o s o u tr o
hum ano, não m a is c o a g id o , ró tu lo q u a lq u e r.
50
R e v o lu ç ã o fu n d a m e n ta l só é “ in te g ra d a ” , e não podem os
p o s s ív e l quando há um a te r ta l p e r s p e c tiv a e n q u a n to
p e rs p e c tiv a “ in te g ra d a ” d a p e rm a n e c e rd e s a m e r ic a n o ou
v id a , quando cada in d iv íd u o h in d u . S o m o s e n te s h u m a n o s ,
é um ser to ta l; e essa e não podem os c o m p a r tilh a r
to ta li d a d e , e s s a in te g ra ç ã o d o os bens da te rra , se vós
in d iv íd u o , não pode e x is tir c o m p e tis c o m ig o e eu
e n q u a n to há te m o r, convo sco. E n q u a n to v ó s e eu
c o m p e tiç ã o , a m b iç ã o , o tiv e rm o s a a m b iç ã o de
c o n s ta n te im p u lso de nos
re a liz a r, de v ir-a -s e r,
p ree n c h erm o s em a lg u m a
v iv e re m o s n e c e s s a r ia m e n te
a tiv id a d e — p o is tu d o is s o
n u m c o n f l i to c o n s t a n t e u m c o m
im p lic a : “ e u ” c o n tr a o to d o .
o o u tr o . S e p e r c e b e r d e s tu d o
O m undo nos p e r te n c e , as
iss o , n ã o a p e n a s v e r b a lm e n te ,
r iq u e z a s da te rra são vo ssas
m as in te rio r m e n te ,
e m in h a s . N in g u é m p o d e ser
p ro fu n d a m e n te , g a ra n to -v o s
p ró sp e ro e n q u a n to o u tro s
q u e v o s re v o lta r e is ; e , e n tã o ,
m o rre m de fom e.
ta lv e z po ssam o s c ria r um a
M as, p a ra se p erceb er tu d o nova c iv iliz a ç ã o , um m undo
is s o r e q u e r - s e u m a p e r s p e c t i v a novo.
N ã o é p o s s ív e l c o n s id e ra rm o s liv re s . Se s o is p ro g re s s is ta e
e s te p ro b le m a sem to m a rm o s eu c o n se rv a d o r, ch o cam o -n o s
p a r tid o s ? P o r q u e n o m o m e n to um com o o u tr o , so m o s
em que to m a m o s p a rtid o , já a n ta g o n is ta s . Em vez de
não te m o s um a p e r s p e c tiv a c o n s id e r a r m o s o p r o b le m a d o
“in te g ra d a ” , já não som os vosso p o n to de v is ta ou do
5 7
m e u p o n to d e v is ta , n ã o s e ria p ro g re s s is ta d e se ja m
C o m p r e e n d e is o p r o b le m a ? S e d e s e ja r m u d a n ç a n e n h u m a . O s
e u s o u c o n s e r v a d o r e v ó s s o is que possuem to d a s as c o is a s
p ro g re s s is ta s , e s ta re m o s m undanas — um g ra n d e
m a n te r as c o isa s o m a is e q u e re m tu d o b e m p ro te g id o ,
d e s e ja is re fo rm a r, Já os que o b se rv a m , os qu e
r e v o lu c io n a r . F ic a m o s num a e s tã o c ô n s c io s do p r o b le m a
b a ta lh a c o n s ta n te um c o n tra m u n d ia l (n ão apenas do
o o u tro e, c o n s e q ü e n te m e n te , p r o b le m a a m e ric a n o ou do
ja m a is re s o lv e m o s o p r o b le m a h in d u ) o s q u e v ê e m
p r o b le m a . to d a e s s a lu ta h u m a n a — todos
esses d e s e ja m m udan ças.
M a s se v ó s e e u e s ta m o s m u ito
in te r e s s a d o s em r e s o lv e r o
H á m is é ria n a Á s i a , de que
p ro b le m a hu m an o, e n tã o não
não f a z e is id é ia . M ilh õ e s e
se re m o s n e m p ro g re s s ista s nem
m ilh õ e s de pessoas a
c o n s e rv a d o re s ; e s ta r e m o s
a lim e n ta r e m -s e um a vez por
in te r e s s a d o s no p r o b le m a em
d ia , e às vezes nem is s o
s i, e não em com o vó s o
seq u er. H á fom e, doença,
c o n s id e ra is e com o eu o
s u p e r s tiç ã o , a d e g ra d a ç ã o d a
c o n s id e r o . E sp ero que a
p o b reza, ex c e sso de
q u e s tã o e s te ja a g o ra c la ra ;
n a s c im e n to s , p le to ra de
m as a q u e s tã o nu nca e s ta rá
p o p u la ç ã o , s o lo p o b r e . E ssas
c la r a , se j á to m a m o s p a r tid o s .
c o is a s b ra d a m po r m udança.
E x a m in e m o s , p o is , a
E ta m b é m , o b v ia m e n te , há
m e n ta lid a d e c o n se rv a d o ra e
n e c e s s id a d e d e tr a n s f o r m a ç ã o ,
a m e n ta lid a d e p ro g re s s is ta .
com r e s p e ito à g u e rra . U rg e
T a n to o c o n se rv a d o r co m o o faz er-se a lg o p ara a c a b a r-se
58
com todas a s g u e r r a s , a f im in d iv íd u o d e ix a s s e de ser
d e q u e o s h o m e n s s e j a m li v r e s n a c io n a lis ta , d e ix a s se de ser
p a r a e d u c a r a si m e s m o s , v iv e r fra n c ê s , ru s s o , a le m ã o , h in d u ,
p a c ific a m e n te , em boa e se to rn a s s e u m e n te h u m a n o
h a r m o n ia , c r ia d o ra m e n te . in te g ra d o .
A s s im sendo, to d o s nós —
N essas c o n d iç õ e s , quando
c o n se rv a d o re s e p ro g re s s is ta s
in v e s tig a m o s a q u e s tã o da
— se re fle tim o s um pouco,
tr a n s f o r m a ç ã o , da re v o lu ç ã o ,
te m o s de d e s e ja r m u d a n ç a .
não devem os p e rg u n ta r se a
m e n te — sem se le v a r em
O p r o b le m a , p o rta n to , não
c o n ta se e la é c o n s e rv a d o ra
é de se d ev em os a p o ia r o
ou p r o g re s s is ta — é capaz
c o n s e rv a d o r o u o p r o g re s s is ta ,
de e fe tu á - la ? A m udança, a
m as de com o p ro m o v e r a
re v o lu ç ã o re s u lta de um
m u d a n ç a . N ã o é is s o ? T e n d e
“ p ro c e s so ” d a m e n te , ou
p a c iê n c ia ; p o d e -se re sp o n d e r
a c o n te c e de um a m a n e ira de
s u p e rfic ia lm e n te ; m as eu
to d o d ife r e n te ? J á o b s e rv a s te s
d e se jo c o n s id e r a r e s te
com o vos m o d ific a is , com o
p r o b le m a fu n d a m e n ta lm e n te ,
in d iv íd u o hum ano? Q uando
p r o f u n d a m e n te . Q u a l é o f a to r
vos m o d ific a is? N ão é
da tr a n s f o r m a ç ã o ? A s
c e r ta m e n te quando e s ta is
re v o lu ç õ e s g e ra m
te n ta n d o m o d ific a r -v o s p e la
tr a n s fo rm a ç õ e s ? H ouve
ação do p e n s a m e n to ;
re v o lu ç õ e s no passad o, a
m o d ific a i-v o s , quer q u e ira is
R e v o lu ç ã o F r a n c e s a , e o u tr a s
q u e r n ã o , q u a n d o a m e n te n ã o
m a is re c e n te s ; e e la s
e s tá p la n e a n d o fa z ê -lo .
p ro d u z ira m a lg u m a
tr a n s f o r m a ç ã o ? P o d e rã o te r E im p o rta n tís s im o
p ro d u z id o s u p e rfic ia is c o m p re e n d e r-s e is s o , e peço-
m o d ific a ç õ e s p o lític a s , não vos te n h a is p a c iê n c ia p a ra
u m a tr a n s fo rm a ç ã o b á s ic a d a in v e stig á -lo . Se sou
m e n te e do co ra ç ã o , um a g a n a n c io s o , in v e jo s o , com o
tr a n s f o r m a ç ã o fu n d a m e n ta l, p o sso m o d ific a r-m e ? P osso
“in te g ra d a ” , n a qual o m o d ific a r-m e por v o liç ã o ?
59
Q uando p ro c u ro lib e r ta r -m e não c o n s titu e m m udança
d a a v id e z , e s se p r ó p r io e s fo rç o nenhum a.
60
d ir e ta m e n te no p r o b le m a da de re a ç ã o , quando já não
tr a n s f o r m a ç ã o . A s o n h a c o m U to p ia s n e m d e s e ja
tr a n s f o r m a ç ã o não se pode co n serv ar tu d o com o e s tá .
o p e ra r por nenhum a to de
v o n ta d e , por nenhum a
Só há tr a n s f o r m a ç ã o quando
a p lic a ç ã o do sab er; só se
vós e eu som os
r e a liz a quando a R e a lid a d e
v e r d a d c ir a m e n te r e lig io s o s .
é p e r c e b i d a p o r v ó s e p o r m im .
E a R e a lid a d e pode ser E s ta é a ú n ic a re v o lu ç ã o , a
S I
Viver c om
Simpl ic idade
A m e u v e r, u m a d a s c o isa s n o s n ív e is m a is p ro fu n d o s d a
m a is d ifíc e is é v iv e r com c o n sc iê n c ia . P a re c e , que
s im p lic id a d e ; e ta lv e z nunca podem os liv ra r-n o s de
possam os e x a m in a r e s ta um p r o b le m a , ou re so lv ê -lo ,
q u e s tã o , n ã o a p e n a s n o n ív e l sem s u s c ita r o u tro s
í s u p e rfic ia l, m as p ro b le m a s .
p ro fu n d a m e n te , p a ra ver se
M as se pudéssem os
d e s c o b rim o s o que, em
c o m p re e n d e r o que s i g n i f ic a
e s sê n c ia , s ig n ific a v iv e r
v iv e r s im p le sm e n te , pen sar
s im p le sm e n te . Por pouco
s im p le sm e n te , e n tã o , ta lv e z
a tiv o s q u e s e ja m o s , a v i d a n o s
e stiv é s se m o s a p to s a p r o d u z ir
a p re s e n ta in ú m e ro s
em nós m esm o s um “ e s ta d o
p r o b le m a s . C ada p r o b le m a
d e s e r ” e m q u e n ã o c r iá s s e m o s
p a re c e g erar m u ito s o u tro s .
p r o b le m a s e m a is
O s p r o b le m a s p a r e c e m s u rg ir
p r o b le m a s .
num a su cessão i n te r m i n á v e l ,
ta n to n o n ív e l c o n s c ie n te c o m o Por que é que a m e n te
C iei
a c u m u la ? Por que a lg u m a d e m a n e ira n o v a , m a s 1
arm az en am o s c o n h e c i m e n to s ? s e m p r e em c o n fo rm id a d e c o m
Por que nos c o n d ic io n a a o “ v e lh o ” , co m o que já
e x p e r iê n c ia ? Se p u d e rm o s conhecem os. E p o r q u e ja m a is
in v e s tig a r esse “ p ro cesso ” e n c a ra m o s um p r o b le m a
a c u m u la d o r da m e n te , ta lv e z d ire ta m e n te , p a ra
nos s e ja m a is f á c il c o m p re e n d ê -lo por nós
c o m p re e n d e r o que é pen sar m esm o s, c o n tin u a m o s a
d ire ta m e n te , s im p le s m e n te ; e p ro d u z ir p r o b le m a s e a
ao p erceb erm o s por que a p ro v o c a r m a is lu ta s .
m e n te c o lh e , re té m , a c u m u la ,
O ra , nossa co n cep ção d e um a
ta lv e z nos to rn e m o s capazes
v id a s im p l e s é que devem os
de d is s o lv e r as nossas
p o s su ir poucas c o isa s , ou
m ú ltip la s d ific u ld a d e s , à
m esm o nada. M as is s o , por
m e d id a que su rg e m .
c e r to , n ã o é u m a v i d a s im p le s .
A c r e d i ta m o s q u e , a c u m u la n d o O lh a m o s com re v e rê n c ia os
c o n h e c im e n to s e e x p e riê n c ia , q u e le v a m u m a v id a s im p le s,
e s ta re m o s c a p a c ita d o s p ara no s e n tid o fís ic o , que tê m
c o m p re e n d e r a v id a com to d a s poucas ro u p a s e nenhum a
a s s u a s lu ta s c o m p le x a s . M a s , p ro p rie d a d e , com o se is s o
que a c o n te c e quando fo s se um a c o isa m a ra v ilh o s a .
a c u m u la m o s saber e Por quê? P o rq u e n ó s,
e x p e r iê n c ia ? F ic a m o s in tr in s e c a m e n te , so m o s
tr a d u z in d o to d o in c id e n te , apegados a c o isa s , a
to d a c ris e , to d a re a ç ã o , em p o sses.
c o n fo rm id a d e com a nossa
M a s o v i v e r u m a v i d a s im p l e s
passad a e x p e riê n c ia , que é
re q u e r, m e r a m e n te , que nos
m e m ó ria .
d e s p o je m o s de tu d o , que
Com essa c a rg a do passad o, re n u n c ie m o s à s c o is a s fís ic a s ?
n ã o n o s é p o s s ív e l v e r a s c o is a s O u é c o isa m u ito m a is
d ire ta m e n te ; e ta lv e z aí se p ro fu n d a ? E m b o ra te n h a m o s
e n c o n tre o nó do p r o b le m a . m u ito pouco, in te rio r m e n te
N unca e n fr e n ta m o s c o is a e s ta m o s sem pre ju n ta n d o ,
64
a c u m u la n d o ; e s ta m o s c h e io s a v id a m o m e n to p o r m o m e n to ,
de cren ças, de do gm as, de sem que a e x p e riê n c ia do
to d a e s p é c ie de e x p e r iê n c ia passad o lh e em pane a
e m e m ó ria , e há em nós um v is ã o ?
c o n f l i to in te rm in á v e l e n tre as
C o n s id e re m o s , por e x e m p lo ,
v á r ia s n e c e ss id a d e s , â n s ia s ,
o p r o b le m a do te m o r .
e s p e r a n ç a s , d e se jo s . I u d o is s o
P od em o s, vós e eu,
in d ic a , n ã o u m a v id a s im p le s ,
c o m p re e n d e r o te m o r e
m as um a v id a in te rio r
d is s o lv ê -lo , se m in tr o m e te rm o s
s o b re m o d o c o m p le x a .
a a c u m u la ç ã o d o p a s s a d o ? E m
C re io , p o is , im p o rta n te g e r a l, te m o s m e d o d e m u ita s
d e s c o b r ir -s e p o r q u e a m e n te c o is a s : do am anhã, do que
a c u m u la , ta n to c o n s c ie n te d iz e m o s o u tr o s , d a p o b r e z a ,
com o in c o n sc ie n te m e n te ; d a f r u s tr a ç ã o , d a m o r te . O r a ,
p o rq u e é in c a p a z de ir ao que é e s se te m o r? N ão
e n c o n tro de cada in c id e n te , podem os e x a m in á - lo ,
d e c a d a r e a ç ã o , c o m o se fo sse c o m p re e n d ê - lo de m a n e ira
a lg o in te ira m e n te novo, m u ito s im p le s , e desse m odo
o r ig in a l. Por que tr a d u z im o s lib e r ta r - n o s d e le — não p a ra
cada e x p e riê n c ia de a c o rd o to d o o sem pre, m as a cada
c o m “ o v e lh o ” , d e a c o r d o c o m m o m e n to , d ia p o r d ia — de
o q u e já é c o n h e c id o ? m odo que a m e n te fiq u e
a liv ia d a d a â n s ia d o a m a n h ã ?
A m e n te e s tá se m p re a
B em c o n s id e ra d o , o te m o r é
a c u m u la r e x p e riê n c ia s ,
um a reação , não é? F iz a lg o
rea çõ es, e a rm a z e n a n d o -a s n a
que me e n v e rg o n h a , c o m e ti
m e m ó ria , c o m o p r o p ó s ito d e
um e rro que não d e s e jo s e ja
s e rv ir -s e d e la s , c o m o g a r a n t ia
d e s c o b e r to por o u tr o . O
de su a p ró p ria s e g u ra n ç a . E
te m o r, p o is , é um a re a ç ã o ,
a c o m p re e n sã o , a in te lig ê n c ia
e n ã o a d i a n t a lu t a r c o n t r a e le ,
é r e s u lta d o de e x p e riê n c ia s
p r o c u r a r s u b ju g á - lo , a n a lis á - lo
in u m e rá v e is ? O u é a
ou e v itá - lo .
c a p a c id a d e d e o lh a r as c o is a s
d e m a n e ira n o v a , d e e n c a ra r O m e d o é o fa n ta s m a d o m eu
65
Se somos capazes de
considerar a causa do
problema com muita
simplicidade, semtraduzirmos
ou condenarmos, então é
possível estarmos livres de
todos os problemas humanos
inevitáveis.
m a lfe ito . O p ro b le m a , por h is tó r ia , sem in te rp re tá -la ,
c o n se g u in te , não é o te m o r, sem n e g á -la o u a c e itá -la , sem
senão a m a n e ira com o p r o c u ra r o c u ltá -la , sem b u s c a r
c o n s id e ro o m eu a to . O ra , um a b r ig o o u fu g ir- lh e ? D a í,
posso c o n s id e r a r esse a to de a m eu v e r, é que nasce a
m a n e ira nova? Is to é, posso s im p lic id a d e , tã o e s s e n c ia l à
eu, conhecendo a causa do c o m p re e n sã o .
te m o r, c o n s id e rá - lo com to d a
a s im p lic id a d e , s e m a c u m u la r , Se som os capazes de
sem c o n v e r te r a c o m p re e n sã o c o n s id e r a r a causa do
d o m in a r o te m o r? s im p lic id a d e , se m tr a d u z ir m o s
ou c o n d e n a rm o s , p a re c e -m e
C o m p re e n d e is ? Q uando,
c o n h e c e n d o a c a u s a d o te m o r , que, e n tã o , é p o s s ív e l
a m e n te p r o c u ra c o m p re e n d e r e s ta r m o s liv re s, m o m e n to p o r
e s s a c a u s a , a f im d e p r o t e g e r - m o m e n to , não só do te m o r,
se c o n tr a novos te m o re s , os m as ta m b é m da in v e ja , do
em fu n c io n a m e n to o c o m p le x o b e m - s u c e d id o s e de to d o s os
68
e s s e n c ia l, m a s n ã o p o d e h a v e r in te r p o r to d a s a s s o m b ra s d a
s im p lic id a d e e n q u a n to e s tiv e r passad a e x p e riê n c ia ? Sem
em fu n c io n a m e n to o d ú v id a , este é q u e é o n o s s o
“ p ro cesso ” a c u m u la d o r da p r o b le m a : c o n s id e ra r cada
a u to p ro te ç ã o ; e esse in c id e n te , cada re a ç ã o , sem
“ p ro cesso ” de p e n s a m e n to , p re c o n c e ito , sem te n d ê n c ia s ,
v is a n te à a u to p r o te ç ã o , e x iste sem in te r p r e tá - lo s de a c o rd o
não apenas no n ív e l ; com c o isa s a p re n d id a s , no
c o n s c ie n te , m as ta m b é m nos d e se jo de nos p ro te g e rm o s .
d ife re n te s n ív e is in c o n s c ie n te s
Pode a m e n te fic a r liv r e de
do n o sso s er.
tudo isso e c o n s i d e r a r
E por q u e re rm o s p ro te g e r- d ire ta m e n te cada p r o b le m a
n o s, que o saber e a que su rg e? Se pode, e n tã o
e x p e riê n c ia se to rn a m tã o já não há m o r te , e to d o s os
e x tr a o rd in a ria m e n te p ro b le m a s h u m a n o s p o d e m ser
im p o r ta n te s em n o ssa v id a . re s o lv id o s : m a s n ã o p a r a sua
Q uando se nos d e p a ra um s a tis fa ç ã o , seu a p r a z im e n to .
p r o b le m a , nunca e s ta m o s j N o m o m e n to em que
c o m p le ta m e n te d e s v e n c ilh a d o s in tro d u z im o s o d e se jo de
do passad o. E é -n o s p o s s ív e l s a tis fa ç ã o , com eçam os a
— a v ó s e a m im — a liv ia r a c u m u la r, do que re s u lta
a m e n te de to d o o p assad o , te m o r. M as, não nos é
do saber a c u m u la d o de p o s s ív e l c o n s id e ra r o
o n te m ? p r o b le m a , q u a lq u e r que e le
s e ja , sem ju lg a m e n to , sem
R e p u to assaz im p o rta n te
a v a lia ç ã o ?
e x a m in a rm o s e s ta q u e s tã o e
c o m p re e n d ê -la . C om a c arg a O a v a l ia r um p r o b le m a
do passad o, a m e n te c r ia os im p lic a m e m ó r i a , ju lg a m e n to ,
se u s p r ó p rio s p ro b le m a s , n ã o p e s a r , c a lc u la r — e t u d o is s o
é v e rd a d e ? E pode a m e n te in d ic a a c o n s ta n te
com eçar a a te n d e r a cada p reo cu p ação da m e n te de
p r o b le m a de m a n e ir a nova, p ro te g e r-s e . O d e se jo d e no s
o b s e rv a n d o -o , a o s u rg ir, sem p ro te g e rm o s, de nos
6 9
re sg u a rd a rm o s, ta n to é c o m p re e n d e r o que é , d e
c o n s c ie n te com o in c o n sc ie n te ; o b s e r v á - lo , d e fa m ilia riz a r -n o s
e, ao se to rn a r co n he ce d ora com e le , d e “ e s c u ta r ” to d o o
de to d o esse proc esso , pode seu c o n te ú d o , o b s e rv a r- lh e o
a m e n te a b o li-lo e c o n s id e r a r flu ir, o m o v im e n to .
o p r o b le m a d ire ta m e n te ? Só
V em o s, p o is , que a
p o d e fa z ê -lo q u a n d o vó s e eu
s im p lic id a d e do pen sar não
c o m p re e n d e m o s a n e c e ssid a d e
re s u lta da a c u m u la ç ã o de
de nos lib e rta r m o s do
c o n h e c im e n to s . P e lo
te m o r.
c o n trá rio , q u a n to m a is
O m edo c o rro m p e e nos s a b e m o s , ta n to m e n o s s im p le s
e n so m b ra as ações; onde há é a nossa m e n te ; e a m e n te
te m o r , n ã o h á a m o r. S a b e m o s te m de ser s o b re m a n e ira
d iss o te o ric a m e n te . T em os s im p le s , p ara c o m p re e n d e r o
lid o a se u re s p e ito . Q uando, que é. O que é n u n c a é a
p o ré m , e s ta m o s c ô n s c io s de m esm a c o is a , p o is v a r ia de
q u e te m e m o s in ú m e ra s c o is a s , m o m e n to a m o m e n to , e o seu
não podem os e x a m in a r m o v im e n to não pode ser
cab alm en te e s s e f a t o ? N ão c o m p re e n d id o p o r u m a m e n te
p o d e m o s d e s c o b r ir a c a u s a d o c a rre g a d a de condenação,
te m o r e c o m p re e n d ê - la ju lg a m e n to , da â n sia de
re a lm e n te , se m lu ta r m o s , sem a u to p r o te ç ã o e do te m o r do
tr a d u z ir m o s , sem ju lg a rm o s o u fu tu ro .
in te r p r e ta r m o s o que é?
A c re d ito ser da m a is a lta
E q u a n d o a m e n te e s tá c ô n s c ia im p o rtâ n c ia d e s c o b r ir se
d o que é , n ã o a p e n a s n o n í v e l podem os o b s e rv a r o que é,
c o n s c ie n te , m as com o o sem s e n tir d e s g o s to e re p u ls a .
“ p ro c e s s o ” to ta l d o n o s so s e r, A f in a l d e c o n ta s , que som os
não há um d esafog o, um a n ó s? Som os o r e s u lta d o de
lib e r ta ç ã o da cau sa que m u ita s re a ç õ e s, m u ita s
p r o d u z iu o te m o r? M as não in flu ê n c ia s c o n d ic io n a d o ra s ,
há lib e r ta ç ã o quando não d e s e jo s , te m o r e s , — e n essa
e x is te a in te n ç ã o de a g ita ç ã o e s tá s e m p r e e n v o lv id a
70
a nossa m e n te ; se m p re e s tá se m p re e s c o lh e n d o ,
b a ta lh a n d o , se m p re em condenando, ju lg a n d o ,
c o n f l i to . E p a ra se p ô r f im fu g in d o ou p ro c u ra n d o
a e s s a lu ta in c e s sa n te , a esse m o d ific a r o que é.
s o frim e n to e d o r , n ã o n o s c a b e
S im p lic id a d e é c o m p re e n sã o
c o m p re e n d e r, s im p le s m e n te ,
d o que é. E s ó h á c o m p r e e n s ã o
m o m e n to por m o m e n to , o
do que é q u a n d o a m e n te
m o v im e n to do que é?
d e s i s t i u d e l u t a r c o n t r a o que
Se sou g a n a n c io s o , c o lé ric o , é e d e s is tiu d e m o l d á - l o d e
ou in v e jo s o , devo por c e r to a c o r d o c o m s u a s f a n ta s ia s . N a
c o m p re e n d e r essa c o isa ta l c o m p re e n sã o d o que é
com o é, em vez de te n ta r r e v e la m - s e - n o s o s m o v im e n to s
d is s o lv ê -la o u d o m in á - la ; p o is do eu , do ego ; e is s o ,
a p ró p ria ação de d o m in a r c e r ta m e n te , é o com eço do
é u m a l u t a , u m n o v o c o n f l i to , a u to c o n h e c im e n to , não só no
e, por c o n s e g u in te , não nos n ív e l v e rb a l, m as ta m b é m
tra z nenhum a lib e rta ç ã o do n a q u e le s n ív e is em q u e o “ e u ”
que é. se a c h a p r o f u n d a m e n t e o c u lto
e de onde sai
M as se e s to u c ô n s c io não
e s p o n t a n e a m e n t e , n a s o c a s iõ e s
s o m e n t e d a m in h a i n v e j a , m a s
em que re la x a m o s a
ta m b é m da sua causa m a is
v ig ilâ n c ia .
p ro fu n d a , c u ja re a ç ã o e la é,
e d o d e s e jo d e e s ta r liv r e d a Q uando e s ta m o s c ô n s c io s de
i n v e j a ; s e e s to u c ô n s c i o d e s s e nós m esm os, não é, to d o o
“ p r o c e s s o ” to ta l, sem m o v im e n to do v iv e r, um a
ju lg a m e n to , sem e s c o lh a , fo rm a de r e v e la r o “eu” , o
e n tã o , acho que esse “ego” ? O “ e u ” é um p ro c e sso
p e rc e b im e n to e s c la re c e e m u i to c o m p l e x o , q u e s ó p o d e
d is so lv e a q u e la c a u s a . R e q u e r ser re v e la d o na v id a de
is s o , não e x e r c íc i o ou re la ç ã o , e m n o s s a s a tiv id a d e s
d is c ip lin a , m a s v ig ilâ n c ia p o r d iá ria s , na m a n e ira com o
p a rte da m e n te ; e a m e n te fa la m o s , com o ju lg a m o s ,
não pode e s ta r v ig ila n te , se c a lc u la m o s , c o m o c o n d e n a m o s
71
O t em po é a mente, que de se ja
cont inuidade. Desejando
cont inuidade na experiência,
a mente se t o m a contínua po r
meio da memória e, nest as
condições, nunca po de achar
nada de novo, jam ais po de
encont rar a realidade, o
incognoscí v el.
a o u tr o s e a n ó s m e sm o s. T u d o q u a n d o a m e n te e s tá tr a n q ü ila ;
is s o re v e la o e s ta d o e a m e n te só pode e s ta r
c o n d ic io n a d o d o n o sso p ró p rio tra n q ü ila quando é s im p le s ,
p e n sa r; e não é im p o rta n te quando já não e s tá
e s ta r - s e c ô n sc io de to d o esse a rm a z e n a n d o , condenando,
p ro c e sso ? ju lg a n d o , p esan do . A penas
a m e n te s im p le s pode
Só p ela p e rc e p ç ã o do que é
c o m p re e n d e r o R e a l, e não
v e rd a d e iro , m o m e n to por
a m e n te re p le ta d e p a la v ra s ,
m o m e n to , se dá o
de c o n h e c im e n to s , de
d e s c o b rim e n to do a te m p o r a l,
ilu s tr a ç ã o . A m e n te que
do e te rn o . Sem
a n a lis a , que c a lc u la , não é
a u to c o n h e c im e n to não pode
um a m e n te s im p le s .
e x is tir o e t e r n o . Q uando não
conhecem os a nós m esm os, o
P a ra ser c ria d o ra , a m e n te
e te rn o se tra n s fo rm a em
te m de e s ta r d e s p o ja d a de
sim p le s p a l a v r a , u m s ím b o lo ,
to d a s a s s u a s a c u m u la ç õ e s ; e ,
u m a e s p e c u la ç ã o , u m d o g m a ,
sem c ria ç ã o , no ssa v id a é
um a c ren ça, um a ilu s ã o em
v a z ia , a in d a q u e e s te ja c h e ia
q u e a m e n te p o d e r e f u g ia r -s e .
de a tiv id a d e s , de re s o lu ç õ e s
Se com eçam os, p o ré m , a
e d e te r m in a ç õ e s , c o is a s essas
c o m p re e n d e r o “ e u ” em to d a s
de m u i to pouca s ig n ific a ç ã o .
as suas a tiv id a d e s , d ia por
E n tre ta n to , a m e n te que
d ia , e n tã o , nessa p ró p ria
p e r c e b e to d o e sse p r o c e s s o d e
c o m p re e n sã o , a p re s e n ta -s e ,
a c u m u la ç ã o p a ra f in s de
sem nenhum e sfo rç o d e n o ssa
a u to p ro te ç ã o , que p e rc e b e
p a rte , o in e fá v e l, o
to d o o seu c o n te ú d o , sem
a te m p o r a l.
p ro c u ra r a lte rá -lo ou re je itá -
M as o a te m p o r a l n ã o é um a lo , e s s a m e n t e , p o r s e r s i m p l e s ,
rec o m p e n sa ao e s tá tra n q ü ila e c o m p re e n d e
a u to c o n h e c im e n to . O que é o que é. E n iss o há um
e te rn o não pode ser desafog o e x tra o rd in á rio , um a
p r o c u r a d o ; a m e n te n ã o p o d e li b e r d a d e em que e s tá a
a d q u ir i- lo . E le se a p re s e n ta R e a lid a d e .
7 4
• S ó um a m en te tranquila p o d e resolver o p ro b le m a d o te m o r;
m a s, c om o p o d e a m ente estar tranquila q u an do tem m e d o ?
C om o tr a n q ü iliz a r a m e n te a la ; o r e s u lta d o , p o r é m , é u m a
fim de d is s o lv e r o te m o r? E m e n te m o r ta . A m e n te m o r ta
pode a m e n te q u e te m m edo e s tá m u ito tr a n q ü ila , m a s n ã o
e s ta r a lg u m a V ez t r a n q ü i l a ? pode ser c ria d o ra .
E a tra n q ü ilid a d e da m e n te
A s s im , p o is , não e x is te
se o b té m p o r m e io d e a lg u m a
nenhum “com o” . O que a
té c n ic a ? A fin a l de c o n ta s , é
m e n te p o d e f a z e r é a p e n a s te r
is to q u e p e r t u r b a m u ita g e n te :
c o n s c iê n c ia d e q u e p r o c u r a u m
o “ c o m o ” , o m é to d o , a té c n ic a
m é to d o p o rq u e d e s e j a a l g o .
de se a lc a n ç a r u m e s ta d o de
S e d e s e ja is e n r iq u e c e r , ju n t a i s
paz.
d i n h e i r o , s e l e c i o n a is o s v o s s o s
O “com o” im p lic a h á b ito , a a m ig o s , c ir c u la is no m e io de
m a n u te n ç ã o de c e r ta a titu d e . g e n te q u e p o s s a a ju d a r - v o s a
d ia por d ia , a r e p e tiç ã o de o b te r o que d e s e ja is . Do
c e rta ação, a o b s e rv â n c ia de ■ m esm o m od o, se d e s e ja is p a z
d e te rm in a d o p la n o , o de e s p írito , se s e n tis a sua
d is c ip lin a r d a m e n te p a r a e s ta r u rg ê n c ia , p ro c u ra is d e s c o b rir
tr a n q ü ila . E a tra n q ü ilid a d e , o m e io de c o n s e g u i- la : o u v is
a s e re n id a d e d a m e n te r e s u lta v á rio s in s tr u to re s , p ra tic a is
de h á b ito ? E p ro d u to de d is c ip lin a s , le d e s c e r to s liv ro s,
e x e rc íc io c o n s ta n te ? Ou vem s e m p r e c o m a in te n ç ã o d e te r
tã o -s o m e n te quando há p a z d e e s p ír ito ; to d a v ia , v o s sa
lib e r d a d e , quando há m e n te só se to r n a
c o m p re e n sã o do que é? e m b o ta d a .
75
I to d o s o s v o s so s p e n s a m e n to s , b a ta lh a r c o n tra a so m b ra , a
m o m e n to por m o m e n to , sem re a ç ã o .
j c o n d e n a ç ã o o u ju lg a m e n to ; se
: s im p le s m e n te o b se rv a rd e s O “e u ” e s tá -s e p ro te g e n d o ,
sem o r e je ita r o u p ô r d e p a r te , d e s e ja n d o , lu ta n d o ; e
a c h a re is e n tã o u m a lib e r d a d e , c o n s ta n te m e n te c o m p a ra ,
na qual se to r n a e x is te n te a p e s a , ju lg a ; a s p i r a ao p o d er,
j v o n ta d e . “ e u ” , fo n te do te m o r, d e ix a r
de e x is tir, não p a ra to d o o
O p ro b le m a , por sem p re, m as m o m e n to por
c o n s e q ü ê n c ia , n ã o é de com o m o m e n to ? Q uando se
li b e r ta r a m e n te d o te m o r, o u a p re s e n ta o s e n tim e n to de
d e c o m o tê -la tra n q ü ila , p a r a te m o r, pode a m e n te fic a r
d is s o lv e r o te m o r, m as: se o c ô n s c ia d e le , e x a m in á - lo sem
m e d o p o d e s e r c o m p re e n d id o . condenação, ju lg a m e n to ,
E m b o ra eu te n h a m edo de e s c o lh a ? P o r q u e , n o m o m e n to
v á r ia s c o is a s — de m eu em que com eçam os a ju lg a r ,
p a trã o , de m in h a espo sa ou a a v a lia r, é u m a p a r te d o “ e u ”
m a rid o , da m o r te , de p erd er que e s tá d ir ig in d o , e,
o m e u d e p ó s ito n o b a n c o , d a p o rta n to , c o n d ic io n a n d o o
o p in iã o d o s m e u s v iz in h o s , d a nosso p e n s a m e n to , não é
fru s tra ç ã o , de p e rd e r m in h a e x a to ?
im p o r tâ n c ia pessoal — esse
m edo, em s i, é o r e s u lta d o P o s s o , p o is , e s ta r c ô n sc io d a
de um p ro c e sso to ta l, n ã o é ? m in h a a v id e z , da m in h a
7ii
c o lo q u e m o s. S e ja “ s u p e r io r ” , m o m e n to , o c re s c im e n to
s e ja “ in fe r io r” , o “eu” e s tá c o n s ta n te do “e u ” , com sua
se m p re c o m p re e n d id o na presu n ção , suas
e s fe ra do p e n s a m e n to . “ a u to p ro je ç õ e s ” — s e n d o tu d o
is s o , b a s ic a m e n te ,
E p o s s o e u e s ta r c ô n s c io d e s se s
fu n d a m e n ta lm e n te , a c a u s a d o
s e n tim e n to s , ao s u rg ire m ,
te m o r. M as se não se pode
m o m e n to p o r m o m e n to ? P o s s o
em preend er nenhum a ação
d e s c o b r ir s o z in h o as a tiv id a d e s
p a r a n o s lib e rta r m o s d a c a u s a ,
do m eu “ego” , quando, por
o qu e nos cabe fa z e r, e n tã o ,
e x e m p lo , c o n v e rso à m esa,
é só e s ta r c ô n s c io s d e la .
q u a n d o jo g o , quando e s c u to ,
quando me acho num grup o
Q u a n d o d e s e ja m o s e s t a r liv re s
de p esso as? P osso e s ta r
d o “ e g o ” , e sse p r ó p r io d e s e jo
c ô n s c io dos re s s e n tim e n to s
fa z ta m b é m p a rte do “eg o” ;
a c u m u la d o s do d e se jo de
te n d e s , p o is , um a b a ta lh a
causar im p re s s ã o , de ser
c o n s ta n te n o “ e g o ” , em to rn o
a lg u é m ? P o s s o d e s c o b r i r q u e
de duas c o is a s d e s e já v e is ,
sou á v id o e e s ta r c ô n s c io da
e n tre a p a rte q u e d e s e ja e a
m in h a c o n d e n a ç ã o d a a v id e z ?
p a rte que não d e s e ja .
A p ró p ria p a la v ra “ a v id e z ”
é um a co n den ação, não
Q u a n d o n o s to rn a m o s c ô n s c io s
a c h a is ? E s ta r c ô n s c io da
do que se p assa no n ív e l
a v i d e z é ta m b é m e s t a r c ô n s c io
c o n s c ie n te , com eçam os
do d e s e jo d e f i c a r liv r e d e l a ,
ta m b é m a d e s c o b r ir a in v e ja ,
e é p e r c e b e r p o r q u e d eseja m o s
as lu ta s , o s d e s e jo s , os
s e r liv re s d e la — é p erceb er
im p u lso s, as a n s ie d a d e s
to d o o p ro c e sso .
e x is te n te s nos n ív e is m a is
Isso n ã o é um m odo d e a g ir p ro fu n d o s da c o n s c iê n c ia .
m u i to c o m p lic a d o ; sua Q uando a m e n te e s tá m u i to
s i g n if i c a ç ã o pode ser in te r e s s a d a em d e s c o b r ir o
a p re e n d id a im ediata m en te. p ro c e sso to ta l de si m e s m a ,
C o m eçam o s, p o is , a e n tã o cada in c id e n te , cada
c o m p re e n d e r, m o m e n to por reação tr a n s f o r m a - s e num
7 7
S e de se jais desco brir o que
é imortal, o que se acha além
da mente, ent ão a mente, que
é o conhecido, tem de acabar-
se; dev e m orrer para si
mesma.
m e io de d e s c o b r im e n to , de seg un do , apen as, m as ta n to
a u to c o n h e c im e n to . b a s ta . E ssa lib e rd a d e não é
p ro d u to da m e m ó ria ; é um a
Isso r e q u e r p a c ie n te v ig ilâ n c ia ,
c o is a v iv a . E n tre ta n to , a
a q u a l n ã o p o d e s er e x e rc id a
m e n te , d e p o is d e p r o v á - la , a
por um a m e n te que e s tá
red uz a um a le m b ra n ç a , e
sem p re lu ta n d o , se m p re a
d e se ja e n tã o m a is.
a p r e n d e r “ c o m o ” s er v ig ila n te .
V e re is , a s s im , que a s h o ra s
O e s ta r c ô n s c io d e s s e p r o c e s s o
de sono são tã o im p o rta n te s
to ta l só é p o s s ív e l p e lo
c o m o a s h o r a s d e v ig ília , p o is
a u to c o n h e c im e n to , e o
a v id a é e n tã o um p ro c e sso
a u to c o n h e c im e n to nasce
to ta l. E n q u a n to não
m o m e n to por m o m e n to ,
c o n h e c e rd e s a vós m esm o, o
e n q u a n to o b serv am o s no sso
te m o r c o n tin u a r á a e x is tir, e
f a la r , n o s so s g e s to s , a m a n e ira
to d a s as il u s õ e s c r ia d a s p e lo
com o fa la m o s , e os m o tiv o s
“eu” p ro sp e ra rã o .
o c u lto s que nos são
O a u to c o n h e c im e n to , • p o is , s u b ita m e n te re v e la d o s . Só
não é um p ro c e sso que se e n t ã o p o d e m o s f i c a r li v r e s d o
a p re n d e em le itu r a s , ou a te m o r. E n q u a n to e x iste te m o r,
re s p e ito do qual se pode n ã o h á am o r. O te m o r e n c h e -
e s p e c u la r: e le te m de ser no s d e s o m b ra s o se r, e esse
d e s c o b e r to por cada um de te m o r não pode ser la v a d o
nós, m o m e n to por m o m e n to , por nenhum a reza, id e a l, ou
o que fa z com que a m e n te a tiv id a d e .
se to rn e so b re m a n e ira
v ig ila n te . N e s s a v ig ilâ n c ia h á A cau sa do te m o r é o “ e u ” ,
um a c e r ta a q u ie s c ê n c ia , um o “eu ” qu e é tã o c o m p le x o
p e rc e b im e n to p a s s iv o em que n o s se u s d e s e jo s , n e c e s s id a d e s ,
não e x is te d e se jo de ser ou oc up açõ es. A m e n te te m de
de não se r, e em que se c o m p re e n d e r to d o a q u e le
e n c o n tra um m a ra v ilh o s o p ro c e sso ; e e ssa c o m p re e n sã o
s e n t im e n t o d e l i b e r d a d e . P o d e só pode v ir quando há
e le d u ra r só um m in u to , um v ig ilâ n c ia sem e s c o lh a .
80
A BUSCA DA
Tr anquil idade
Ment al
D e s e jo d isc o rre r so b re um o q u e e u d ig o . P e lo c o n tr á r io ,
p r o b le m a que c o n sid e ro a m e ra a c e ita ç ã o o u a n u ê n c ia
s u fic ie n te m e n te im p o rta n te : o ao que c o n s id e ra is ser a
p r o b le m a re la tiv o a o im p u ls o v e r d a d e , n ã o te m s i g n i f ic a ç ã o
c o n s ta n te , e x is te n te em cada a lg u m a . O que te m
u m d e n ó s , a b u s c a r u m e s ta d o s i g n i f ic a ç ã o é que d e s c u b r a is
p e r m a n e n te , liv re de to d a por vós m esm o s o que é
p e rtu rb a ç ã o . É u m p ro b le m a v e r d a d e ir o ; e não p o d e is
re a lm e n te m u i to c o m p le x o . d e s c o b r ir o q u e é v e r d a d e ir o ,
se v o s s a m e n te e s tá se m p re
Por c e r to , se q u erem o s a g ita d a p e la c o m p a ra ç ã o , ou
c o m p re e n d e r um p r o b le m a p e lo le m b ra r-v o s d o q u e o u tr a
m u ito c o m p le x o , re q u e r-s e p e s s o a d i s s e o u d o q u e le s t e s
u m a c e r ta v ig ilâ n c ia , em que em v á rio s liv ro s . Tudo is s o
a m e n te e ste ja p a s s iv a , m as te m de ser p o s to de p a rte ,
n ã o h ip n o tiz a d a p o r p a la v r a s . i n te l i g e n t e m e n t e , p a ra que se
Isso não im p lic a de m odo po ssa o u v ir com um
n e n h u m q u e te n h a is d e a c e ita r p e rc e b im e n to p a s s iv o , em q u e
81
n ã o h a ja “ a u to p r o je ç ã o ” , n em I S e n ã o e s ta m o s s u je ito s a e s s a
e s p írito d e fe n s iv o ou e s p é c ie de m u n d a n id a d e ,
a n ta g ô n ic o . b u s c a m o s e n tã o a p e rm a n ê n c ia
no que cham am os am or, nas
N ã o p o d e m o s d e s c o b r ir o q u e re la ç õ e s com c e r ta s pessoas;
é v e r d a d e ir o , q u a n d o e s ta m o s e se v a m o s a lé m , b u s c a m o - la
e x c e ss iv a m e n te a n s io s o s o u d e na c re n ç a , nas id é ia s , no
a lg u m m odo a g ita d o s . O s a b e r , n o d o g m a , n a tr a d iç ã o .
p erceb er a v erd ad e re la tiv a E há ta m b é m o d e se jo de
a q u a lq u e r c o is a , r e q u e r u m a e n c o n tra r um a p e rm a n ê n c ia
a te n ç ã o e s p e c ia l, n ã o a c h a is? em q u e n ã o h a ja a ç ã o d a n o ssa
Um a a te n ç ã o is e n ta de p a r te . A m e n te d iz : “ D e p o n h o
e sfo rç o , com o a c o n te c e a m in h a v o n ta d e n a s m ã o s d e
quando e s ta m o s e s c u ta n d o D e u s ; e le s a b e m a i s , p o r t a n t o
a lg o que re a lm e n te nos d e ix e m o -lo o p e r a r ” . Im o la m o -
a g ra d a . nos ao que c o n s id e ra m o s ser
D eu s, ou à id é ia do g ru p o ,
N ã o e s ta m o s n ó s , em m a io ria , da nação.
bu scand o a p e rm a n ê n c ia , em
Q uer as no ssas a tiv id a d e s
d ife re n te s n ív e is da n o ssa
s e ja m im p o s ta s p e la s
c o n s c iê n c ia ? Se som os
i c irc u n s tâ n c ia s e x te rio r e s ,
p u ra m e n te m undanos, ,
q u e r, por nos m esm o s, em
q u e re m o s p e rm a n ê n c ia no
v irtu d e do te m o r, da
n o m e, n a fo rm a , em n o ssa b o a
e sp e ra n ç a , das v á r ia s fo rm a s
a p a rê n c ia , em n o s s a m o b ília ,
d e ilu s ã o u tó p ic a — o d e s e jo
na p ro p rie d a d e . Isto é, o
f u n d a m e n ta l é de e n c o n tra r
d e s e jo p ro c u ra um e s ta d o
um a p e rm a n ê n c ia na qual a
p e r m a n e n te onde não h a ja
m e n te po ssa re fu g ia r -s e e
p e rtu rb a ç ã o de e s p é c ie
s e n tir -s e em se g u ra n ç a .
nenhum a; e se som os m u i to
s u p e rfic ia is , p ro c u ra m o s O d e s e jo , p o is ,
a q u e la p e rm a n ê n c ia n a o rd e m c o n s ta n te m e n te busca um
so c ia l, da e sq u e rd a ou da e s ta c lo de p e r m a n ê n c ia , um
d ire ita . j e s ta d o em que e n c o n tre m o s
8 2
c o m p le to p re e n c h im e n to , por d e v e in v e s tig a r e c o m p re e n d e r
m e io da p ro p rie d a d e , de o p ro c e s so do seu p ró p rio
p e s s o a s o u d e id é ia s , e n o q u a l d e s e jo . E n q u a n to bu scam os
a m e n te nunca p o s s a s e r q u a lq u e r e sp é c ie de
p e rtu rb a d a . N ã o é is s o o q u e p e r m a n ê n c ia , de se g u ra n ç a ,
nós, em g e r a l, c o n s c ie n te ou to d a e x p e riê n c ia se tr a n s f o r m a
in c o n s c ie n te m e n te , em o b s tá c u lo à c o m p re e n sã o
p ro c u ra m o s? D e s e ja m o s m a is p ro fu n d a , to d o saber
p re e n c h e r-n o s , e n c o n tra r c o n s titu i u m e m p e c ilh o a n o v o s
s e g u ra n ç a p e r m a n e n te , e esse d e sc o b rim e n to s. Por
p ró p rio im p u lso s u s c ita c o n s e g u in te , se vós e eu
a n s ie d a d e , te m o r e v á r ia s d e s e ja m o s d e s c o b rir se e x iste
fo rm a s de a tiv id a d e ou não o a te m p o ra l, te m o s
d e s tru tiv a , que p ro c u ra m o s em p r im e iro lu g a r de
e n tã o re fo rm a r, c o n tr o la r , c o m p re e n d e r p o r q u e a m e n te
d is c ip lin a r. p ro c u ra , a tra v é s da
p ro p rie d a d e e das r e la ç õ e s ,
O ra, é p o s s ív e l à m e n te n ã o
u m a c re n ç a , u m a c o n d iç ã o n a
buscar p e rm a n ê n c ia , não
qual p o ssa p erm a n e c e r em
a s p ira r a um e s ta d o que e la
s e g u ra n ç a , d ia após d ia .
concebeu com o o e s ta d o de
Q u a lq u e r q u e s e ja o d is fa r c e ,
fe lic id a d e , de R e a lid a d e ?
é is s o , em e s s ê n c ia , o que
Pode a m e n te ser liv r e da
buscam os, não é?
e x p e r iê n c ia de o n te m , de
m odo que não e s te ja
N o s s a v id a é m u ito c o m p le x a ,
c o n d ic io n a n d o
flu id a , v a riá v e l; h á in c e rte z a ,
p e rm a n e n te m e n te o p re s e n te ?
d o r , tr is te z a . C o m p r e e n d e n d o
E há a lg u m a ação, a lg u m
tu d o is s o , d e s e ja m o s ,
“ e s ta d o de se r” não o r iu n d o
c o n s c ie n te ou
do d e se jo , que tr a n s c e n d a o
in c o n s c ie n te m e n te , o o p o s to ,
te m p o e s e ja sem
a lg o in te ira m e n te d is tin to do
c o n tin u id a d e ?
que é; p o r i s s o , e d i f i c a m o s
P a ra d e s c o b r ir se e x is te e s se ig re ja s , a s p ira m o s a U t o p i a s ,
e s ta d o , a m e n te , sem d ú v id a , e v iv e m o s a p e g a d o s a d o g m a s
83
o m edo existe em diferent es
níveis do no sso ser; há o m edo
do passado , o m edo do futuro
e o m edo do present e, que é
a v erdadeira ânsia do s
viventes. Ora, que é e sse
medo? Não é pro dut o da
mente, do pensam ento?
e cren ças. Podem os das nossas m a io re s
re c o n h e c e r a fa lá c ia de tu d o d ific u ld a d e s , não a c h a is ?
is s o e, c o n s c ie n te m e n te ,
r e je itá -lo ; p o d e m o s a c h a r p e lo
ra c io c ín io que nad a e x is te d e A m e n te , q u e é p e n s a m e n to ,
p e rm a n e n te — e d e fa to não e s tá s e m p r e a b u s c a r , d e v á ria s
existe n a d a p e r m a n e n t e — e s u t is m a n e i r a s , u m e s t a d o
m a s , in c o n s c ie n te m e n te , m u ito p e r m a n e n te , in v a r iá v e l, n o
p ro fu n d a m e n te , o im p u ls o q u a l p o s s a s u b s is tir, d ia p o r
h u m a n o , o im p u ls o in d iv id u a l , d ia . E m b o r a n ã o o d ig a m o s ,
é se m p re no s e n tid o de is s o é o q u e c o n s c i e n t e o u
e n c o n tra r a lg o q u e e s te ja a lé m in c o n s c ie n te m e n te d e s e ja m o s .
do c o n f l i to do d e s e jo . E o p e n s a m e n t o a c h a o m e io
d e p r o d u z ir e s ta p e r m a n ê n c ia :
c r ia o p e n s a n te , q u e se to rn a
O r a b e m , e x is te c o i s a ta l c o m o e n tã o a e n tid a d e p e rm a n e n te
a s e g u ra n ç a ? H á um a q u e o r ie n ta e c o n tr o la o
p e rm a n ê n c ia que p e r s is te , p e n s a m e n to . iM a s o p e n s a n t e
e te r n a , apesar de to d a s as é o p e n s a m e n to ; n ã o h á
c a la m id a d e s , apesar da p e n s a d o r d is tin to d o
m o r te ? E x is te a lg o a que a p e n s a m e n to .
m e n te p o ssa a p e g a r-se
d e f in itiv a m e n te ? Se, em
v irtu d e da no ssa educação, O p e n s a m e n to p r o c u r a
da c iv iliz a ç ã o , da tra d iç ã o , s e g u r a n ç a em n ív e is d iv e r s o s ;
d o c o n d ic io n a m e n to d e c e r ta s e q u a n d o b u s c a se g u ra n ç a
cren ça s, a firm a m o s que ta l e x te rio r , e s tá a tr a in d o a
c o is a e x is te o u q u e n ã o e x is te , in s e g u ra n ç a . Q u a n d o fa b r ic a is
essa re s p o s ta , n a tu r a lm e n te , a r m a m e n t o s c o m o f im d e c r i a r
não é v á lid a . O hom em que s e g u ra n ç a p a r a vó s m esm o s,
d e fa to d e s e ja in v e s tig a r e s ta n e s te m u n d o , v o s s a s e g u ra n ç a
q u e s tã o , deve o b v ia m e n te é d e s tru íd a p e la g u e rra . A
lib e r ta r - s e do seu m e n te q u e e n c o n tro u u m a
c o n d ic io n a m e n to ; e e s ta é u m a r e la tiv a s e g u r a n ç a se to r n a
86
c o n s e rv a d o ra , d e s e ja re te r, e s tá s e m p r e e v ita n d o a d o r ,
c o n s o lid a r , c o n tin u a r a se r q u e se e s fo rç a c o n s ta n te m e n te
c o m o é , sem p e rtu rb a ç õ e s ; p a r a a u m e n ta r, v ir-a -s e r,
m o d ific a -s e a p e n a s d e b a ix o d e crescer — e ssa e n tid a d e n ão
c o m p u ls ã o , q u a n d o a p re s s ã o é m a is d o q u e u m a id é ia , u m
d o in e v itá v e l a o b rig a a fa z ê - d e s e jo q u e se id e n tific o u c o m
lo . M a s n ã o e x i s t e e s s a c o i s a u m a d a d a fo rm a d e
c h a m a d a se g u ra n ç a , p e n s a m e n to .
p e r m a n ê n c i a , is t o é , u m e s t a d o
d e in a lte r á v e l c o n s e r v a ç ã o .
E x is te , p o is , em a lg u m te m p o ,
p r e e n c h im e n to p a r a v ó s e p a r a
I n te rio rm e n te , m im ? E e n q u a n to c a d a u m d e
p s ic o lo g ic a m e n te , to d o o n ó s se e s tá e s fo rç a n d o p a r a
p r o c e s s o d a m e m ó ria , q u e é p re e n c h e r-s e , so m o s
a c u m u la ç ã o d e e x p e r iê n c ia , d e a n ta g o n is ta s , e s ta m o s em
c o n h e c im e n to s , é u m m e io p e lo c o m p e tiç ã o u n s c o m o s o u tro s .
q u al o “e u ” , o “eg o” , p o d e D e s e ja is p r e e n c h e r - v o s p e la
a c h a r se g u ra n ç a e p e rp e tu a r- b e le z a , p e la h a r m o n ia , e eu
se . P r o f u n d a m e n te in s ta la d o , d e s e jo p r e e n c h e r- m e p e la
lá e s tá o d e se jo d e p r e e n c h e r - v io lê n c ia , p e la
n o s , e p o r is s o t e n t a m o s v á r i a s irre s p o n s a b ilid a d e , p e la
fo rm a s d e p re e n c h im e n to , c h a m a d a lib e rd a d e . N ã o
v á r ia s a tiv id a d e s , ta r e f a s , e s ta m o s e m a n ta g o n is m o u m
fu n ç õ e s. P o d e ha ver, p o ré m , c o m o o u tr o ? V ó s b u s c a is a
p r e e n c h im e n to p a r a o “ e g o ” ? p a z , e u s o u a m b ic io s o .
P o s s o p r e e n c h e r - m e , e m a lg u m P o d e m , o hom em q u e bu sca
te m p o ? C e r to , o “ e u ” é só u m a a p a z e o h o m e m a m b ic io s o ,
id é ia , n ã o te m r e a li d a d e . v iv e r ju n to s , n a m e s m a o rd e m
so c ia l?
O “eu” qu e bu sca a
p r o s p e r id a d e , a riq u e z a , B u s c a r p re e n c h im e n to n a p a z
p o s iç ã o , p r a z e r ; o “ e u ” q u e ou n o u tra c o isa q u a lq u e r n ão
87
s ig n ific a s e r p a c íf ic o , e C o m e ç a , a s s im , u m p r o b le m a
e n q u a n to c a d a u m d e n ó s in te ira m e n te n o v o , c o m o q u a l
e s tiv e r e m b u s c a d e f ic a m o s a d e b a t e r - n o s .
p r e e n c h im e n to , h a v e r á
S e m d ú v id a , o p e n sa m e n to q u e
c o n flito . E e n t r e t a n to , p a r a a
d e s e j a e s t a r t r a n q ü i l o nu nca
m a io ria d e n ó s , o d e s e jo d e
p o d e l i b e r t a r - s e d o c o n f l i to ,
p re e n c h im e n to é u m im p u lso
v is to s e r e le o p r ó p r i o fo c o d o
in te n s o , e x ig in d o s a tis fa ç ã o a
“ e u ” . E o p e n s a m e n to
q u a lq u e r p re ç o . E m to d o s o s
id e n t if ic a d o c o m o “ e u ” q u e se
d ife r e n te s n ív e is d o n o s s o s e r,
id e n tific a c o m o g r u p o , c o m a
d e s p e r to s o u d o rm in d o ,
n a ç ã o . P ro c u ra is e s q u e e r o
e s ta m o s c o n s ta n te m e n te a
“ e u ” , a tira n d o -v o s a e s ta ou
b u s c a r u m e s ta d o d e to d o
à q u e la a tiv id a d e . O “eu” é
im p e rtu rb á v e l, u m a
e s q u e c id o , m a s r e s ta a
c o n tin u id a d e d e p e n s a m e n to ,
a tiv id a d e . S e n d o , c o m o é , u m a
com o “eu ” — o “ e u ” q u e p o ssu i
fu g a a o “ e u ” , a v o s s a a tiv id a d e
e x p e r i ê n c i a s , o “ e u ” q u e te m
te m d e s e r p r o te g id a ; e h á ,
s o f r id o , o “ e u ” q u e a c u m u lo u
a s s im , a n t a g o n i s m o , h á
ta n ta ilu s tr a ç ã o e s a b e r .
b a ta lh a e n tre v á ria s
a tiv id a d e s , e n tre v á rio s g ru p o s
N ã o te n d o e n c o n tra d o
n a c io n a is .
s e g u ra n ç a e x te rio r , p a s s a o
“ e u ” a p r o c u r a r a q u e le e s ta d o
E se n ã o v o s e n tre g a is a a lg u m a
n o u tr o s n ív e is , a lé m d o n ív e l a ti v id a d e , o u a o n a c io n a lis m o ,
s u p e rf ic ia l. P o r is s o , v o s to r n a is u m e n te r e lig io s o ,
m e d ita m o s p a r a a lc a n ç a r a
id e n tific a n d o -v o s c o m
p a z , p a r a te rm o s u m a m e n te d e t e r m in a d a c r e n ç a , q u e se
tr a n q ü ila . P e n s a m o s q u e a t o r n a e n t ã o im cn sa m en te
m e n te tr a n q ü ila ir á d a r - n o s o i m p o r t a n t e , p o r q u e s o is p a r t e
e s ta d o d e p e rm a n ê n c ia q u e n ã o
d e la .
e n c o n tra m o s em n e n h u m a
o u tr a d ire ç ã o ; e a p r e s e n ta - s e - O r a , sem ex cesso d e
n o s , a í , a p e r g u n t a : “C o m o p o rm e n o r e s , tu d o o q u e a c a b o
p o sso e s ta r tra n q ü ilo ? ” d e d i z e r é u m a d e s c r i ç ã o fie l
8 8
cie u m f a t o ó b v i o ; e s e p e r c e b e i s d i s c i p l in e a si m e s m a e d e c l a r e
re a lm e n te a v e r d a d e d o q u e q u e deve a m a r, se r
d i g o , v o s s a m e n t e j á n ã o se c o m p a s s iv a , b o n d o s a , a fá v e l,
a c h a , p o r c e r to , c o n s c ie n te o u c o n tin u a r á m u ito s u p e rfic ia l.
p ro fu n d a m e n te , em b u sc a d e
A g o r a , se a m e n te p e r c e b e r a
n en h u m e s t a d o : v a i c o m e ç a n d o
v e r d a d e r e la ti v a a tu d o is s o ,
a t o r n a r - s e c ô n s c ia d e to d a s a s
e n tã o , ta lv e z , v e n h a a
c o is a s , c o n fo rm e s u rg e m , e
d e s c o b r ir um e s ta d o
p r o c u r a n d o c o m p re e n d ê - la s ,
in te ira m e n te d ife re n te , u m
sem a rm a z e n a r essa
e s ta d o d e s ilê n c io , q u e n ã o é
c o m p r e e n s ã o p a r a u s o fu tu ro .
“ a u to p ro je ç ã o ” , q u e n ã o é
H á , p o is , c e rto se n tim e n to d e
p r o d u to d e n e n h u m d e s e jo ,
lib e rd a d e , e q u a n d o
c o m p u ls ã o , o u te m o r . N e s s e
a lc a n ç a rd e s esse p o n to ,
s ilê n c io n ã o e x is te a ti v id a d e d a
v e r if ic a r e is c o m o se d e s e n v o lv e
m e n te , e p o r c o n s e g u in te n ã o
u m a a ç ã o n ã o o rig in á r ia d o
h á c o n tin u id a d e . O que é
d e s e jo .
c o n tín u o re s u lta d o te m p o , é
u m “ p ro c e s s o ” d e te m p o . O
D e o r d in á r io , só c o n h e c e m o s
te m p o é a m e n te , q u e d e s e ja
a a ti v id a d e d o d e s e jo , q u e é
c o n tin u id a d e . D e s e ja n d o
a a tiv id a d e d a m e n te ,
c o n tin u id a d e n a e x p e r iê n c ia , a
id e n tific a d a c o m o “ e u ” . E s s e
m e n te se to rn a c o n tín u a p o r
“ e u ” é m u i t o i n s ig n i f ic a n t e ,
m e io d a m e m ó r ia , e , n e s s a s
m u ito lim ita d o , e s tre ito ,
c o n d iç õ e s , n u n c a p o d e a c h a r
s u p e rfic ia l; a in d a q u e p o s s a
n a d a n o v o , ja m a is p o d e
e x p a n d ir - s e c o n s id e r a v e lm e n te
e n c o n tra r a re a lid a d e , o
p e l a i d e n t i f i c a ç ã o , e le c o n t i n u a
in c o g n o s c ív e l.
s e m p r e m u i to s u p e r f i c i a l e , p o r
c o n s e g u in te , n u n c a p o d e a c h a r A m e n te , p o is , é r e s u lta d o d o
o q u e é re a l. A m e n te te m p o , p r o d u to d a m e m ó ria ,
m e s q u in h a q u e b u s c a D e u s , d o c o n h e c im e n to , d a
e n c o n ta rá u m d e u s ta m b é m e x p e riê n c ia ; e p o d e e s s a m e n te ,
m e s q u in h o . A m e n te e s ta n d o c ô n s c ia d e to d o o seu
s u p e r f ic ia l, p o r m a is q u e p ró p rio “ p ro c e s so ” , d e ix a r d e
m
A pe sso a v erdadeiram ente
re ligio sa não é aque la c obert a
po r uma crost a de crenças,
do gm as, rituais. A pe sso a
re ligio sa não tem crenças; vive
de mom ento a momento...
de sc o brindo o novo.
“ p ro je ta r” e p e rm a n e c e r em p a r a h a v e r tr a n q ü ilid a d e
s ilê n c io ? N e s s e s ilê n c io , p o r m e n ta l? N e s s a tr a n q ü ilid a d e ,
c e r to , p o d e m -s e c o n h e c e r h á p r o f u n d e z a s q u e a m e n te d e
g ran d es p ro fu n d e z a s, q u e a m o d o n en hu m p o d e c o n c e b e r;
m e n te c o n s c ie n te n ã o p o d e m a s u m a m e n te tr a n q ü ila
n u n c a e x p e r im e n ta r e r e te r ; c o n h e c e e ss a s c o isa s. Q u a n d o
p o r q u e , n o m o m e n to em q u e a m e n te p o d e e x p e r im e n ta r sem
a m e n t e c o n s c i e n t e i n te r v é m e r e te r , sem a r m a z e n a r a
e n c o n tra p r a z e r n a q u e la e x p e riê n c ia c o m o le m b ra n ç a ,
e x p e riê n c ia , n a s c e o
só e n tã o é e la c a p a z d e r e c e b e r
“ e x p e r im e n ta d o r ” s e p a r a d o d o
o q u e é a te m p o r a l, e te r n o ; e ,
o b j e t o cia e x p e r i ê n c i a ; e
sem u m v is lu m b re d e s s a
c o m e ç a , a s s im , a d iv is ã o . H á '
e te r n id a d e , a v i d a é u m a s érie
e n t ã o o c o n f l i to d o
d e lu ta s v ã s , u m p ro c e s s o
“ e x p e r im e n ta d o r ” q u e q u e r
i n te r m i n á v e l d e l u t a s e d e
a lc a n ç a r o q u e se a c h a a lé m
s o frim e n to .
d e le p r ó p r io .
A c o m p r e e n s ã o n ã o re s u lta d e
E is p o r q u e é im p o rta n tís s im o ,
fu g a , m a s d e c o n s ta n te
a s s im m e p a r e c e , c o m p r e e n d e r
v ig ilâ n c ia , em q u e n ã o h a ja
to d o e sse “ p r o c e s s o ” d o d e s e jo :
c o n d e n a ç ã o nem c o m p a ra ç ã o .
o d e s e jo q u e e s tá s e m p re
A c o n d e n a ç ã o e a c o m p a ra ç ã o
c r ia n d o a d u a lid a d e d o “ e u ” ,
s ã o p r o d u to s d o d e s e jo . L iv re
q u e é o e x p e r im e n ta d o r
d e d e s e jo , a v ig ilâ n c ia se to r n a
s e p a r a d o d a c o isa
c l a r a , s im p l e s ; h á p e r c e p ç ã o
e x p e rim e n ta d a , o p e n s a d o r
im e d ia ta , sem a n á lis e n e m
q u e e s tá s e m p re d o m in a n d o ,
ju lg a m e n to . Q u a n d o e s tá
c o n tr o la n d o , m o ld a n d o o
p e n s a m e n to , p e rs e g u in d o a c ô n s c ia , sem e s c o lh a , a m e n te
e x p e riê n c ia m a is a p r a z ív e l. a lc a n ç a im p e rc e p tiv e lm e n te
a q u e le e s ta d o em q u e se a c h a
E m v is ta d e tu d o is s o , p o d e o a tr a n q ü ilid a d e ; e e n tã o é
p e n s a m e n to , q u e é u m p ro c e s s o p o s s ív e l a e x is tê n c ia d a
m u ito c o m p le x o , te r m in a r , R e a lid a d e .
4) *
• Q u e sig nifica ção tem a m orte fí s ic a na v id a do in d iv íd u o ?
N ã o é ela a grande libertadora de todas as nossas m isérias?
A m o r te re s o lv e -n o s to d o s o s E s ta m o s s e m p r e c o m m e d o d o
p r o b le m a s ? E p o r q u e é q u e d e sc o n h e c id o , d o a m a n h ã , e
ta n to s d e n ó s te m e m o s a m o rte ? p o r is s o n o s p o m o s a p r o c u r a r
Q u a n t o m a is v e lh o s fic a m o s , m e io s e m o d o s d e e v i ta r a q u e le
t a n t o m a i s a n s io s o s n o s f in d a r . O u , a in d a ,
to rn a m o s . P o r q u ê ? E a m o rte , ra c io c in a m o s lo g ic a m e n te ,
a t e r m i n a ç ã o d o e s t a d o f ís ic o , d iz e n d o q u e tu d o se a c a b a e
d is s o lv e o s n o s s o s c o m p le x o s re n a sc e ; m o rro , d e c o m p o n d o -
p e n s a m e n to s ? O p e n s a m e n to m e fis ic a m e n te , p a r a q u e p o s s a
n ã o t e m c o n t i n u i d a d e ? E le re n a s c e r so b o u tra fo rm a , ou
p o d e n ã o c o n t i n u a r e m m im ; a n im a r o u tra e n tid a d e . P o r
o p e n s a m e n to , p o ré m , é m e io d a r a z ã o e d a ló g ic a ,
c o n tín u o ; e o p e n s a m e n to , q u e tr a n s c e n d e m o s o te m o r d a
é c o n tín u o , n u n c a p o d e m o r t e , e f ic a m o s s a t i s f e i t o s .
e n c o n tr a r a lív io d a s su a s O u , ta m b é m , s a tis fa z e m o - n o s
m is é r i a s . co m a c re n ç a n u m a v id a fu tu ra ,
e m a lg o p o s te r io r à m o r te , a
A s s im , p o is , te m e n d o a m o rte ,
q u e a m e n te p o s s a a p e g a r - s e .
n u tr im o s te o r i a s , e s p e r a n ç a s d e
c o n tin u id a d e ; d iz e m o s q u e A m e n te , p o is , e s tá
d e v e h a v e r re in c a rn a ç ã o , q u e p e re n e m e n te e m b u s c a d e s u a
d e v o re n a s c e r p a r a te r u m a p r ó p r i a c o n tin u id a d e ; m a s o
o p o r tu n id a d e m a io r n a q u e é c o n tín u o é o “ c o n h e c id o ” ,
p ró x im a v id a . N ã o m e a c a b o . e o c o n h e c id o ja m a is p o d e
E q u a l é o v a lo r d c to d a s a s e n c o n tr a r o in c o g n o s c ív e l. E s te
m in h a s a c u m u l a ç õ e s , d o s é q u e é o n o sso p ro b le m a , n ã o
c o n h e c i m e n to s e e x p e r i ê n c i a s a c h a is? E m p le n a v id a ,
q u e a c u m u le i, se n ã o p u d e r e s ta m o s m o r r e n d o , p o is s o m o s
p r e e n c h e r - m e n a p ró x im a r e s u lta d o d o c o n h e c id o .
v id a , o u r e s s u s c ita r n o f u tu ro , N u n c a , p o r u m m o m e n to ,
o u e n c o n tr a r u m lu g a r n o re je ita m o s to d a s a s c o is a s q u e
céu? c o n h e c e m o s e n o s d e s p o ja m o s
93
i
í1
d e n tr o d e s s a e s fe ra d o p e lo m e n o s te m p o r a r ia m e n te .
“ c o n h e c id o ” , o c o n h e c id o d e P o r é m , o p ro b le m a re a l, o
96
te m o r a o d e s c o n h e c id o , M a s , q u a n d o re c o n h e c e m o s as
p e r s is te , c o m o u m a ú lc e r a . lim ita ç õ e s d a m e n te , d o
c o n h e c id o ; q u a n d o
N e s s a s c o n d iç õ e s , p e rc e b e m o s q u e som o s
lim ita d o s , e e s ta m o s c ô n s c io s
c o m p re e n d e n d o q u e a m e n te
d is so to ta lm e n te , isto é , ta n to
a p e n a s fu n c io n a d e n tr o d o
c a m p o d o c o n h e c id o , n ã o c o n s c ie n te m e n te c o m o n a s
c a m a d a s m a is p r o f u n d a s d a
p o d e m o s p e r m a n e c e r c o m p le ta
n o s s a c o n s c iê n c ia , — há um a
e p a s s iv a m e n te c ô n s c io s d o
c o n h e c id o , sem fa z e rm o s c o m p le ta c e s s a ç ã o d a
a tiv id a d e d a m e n te ; a m e n te ,
n e n h u m m o v im e n to p o s itiv o
c o m o p e n s a m e n to , c o m o “ e u
p a r a d e n tr o d o d e s c o n h e c id o ?
I s s o s i g n if i c a : e s t a r a b e r t o à s e i” , d e i x a d e e x is tir . H á e n t ã o
a p o s s ib ilid a d e d e m a n if e s ta r -
m o r te , a o d e s c o n h e c id o , a o
se o d e s c o n h e c id o .
R e a l . S ig n ific a q u e
p ro s s e g u im o s c o m o c o n h e c id o M a s n ã o p o d eis c h a m a r o
p e la m e lh o r m a n e ira q u e d e s c o n h e c id o ; n ã o p o d e is
po dem os e conhecem os ch am ar D eu s, a V e rd a d e , ou
p e rfeita m e n te a s s u a s q u e n o m e lh e d e is . O q u e se
lim ita ç õ e s ; e , c o n h e c e n d o -a s , c o n h e c e é p u rg a tó rio , é
n ã o h á “ p ro je ç ã o ” n o fu tu ro , in fe rn o ; o d e s c o n h e c id o é o
n o a m a n h ã . N ã o h á m a is m e d o c é u . M a s o in c o g n o s c ív e l
a o d e s c o n h e c id o ; a m o r te já n e n h u m a r e la ç ã o te m c o m o
n ã o é u m a c o is a te m ív e l; o q u e c o n h e c id o ; só se m a n ife s ta
n ã o s i g n if i c a t e r m o s a g o r a u m a q u a n d o a m e n t e e s t á de todo
n o v a te o r ia , u m a n o v a tr a n q ü ila . A m e n te c o m o
e x p lic a ç ã o e q u e d e v e m o s p e n s a m e n to d e v e d e ix a r d e
in s titu ir n o v o s g r u p o s p a r a e x is tir, d e v e m o r r e r , e só e n tã o
d i s c u t ir s o b r e o q u e e x is te p o d e s u rg ir a R e a lid a d e
a l é m , p o i s is s o é i n f a n t i l . E te rn a .
97
c o m p le ta m e n te d o p a s s a d o ; p ra z e r e d e d o r. E co m um a
n u n c a d e ix a m o s a m e n te s e r ta l m e n t e p r o c u r a m o s
v a z ia to ta lm e n le , c o n s c ie n te e convencer a nós m esm os d e qu e
in c o n s c ie n te m e n te n u a , n ã o h á m o r te , in v e n ta n d o
d e s p o ja d a in te rio r m e n te d e te o ria s , a c r e n ç a n a
to d a s a s s u a s e x p e r iê n c ia s , d e r e e n c a r n a ç ã o , n a r e s s u rr e iç ã o ,
to d a s a s s u a s c r e n ç a s , d e to d o e n f im t o d a s a s i n u m e r á v e i s
o seu s a b e r, p a r a q u e o ilu s õ e s c r i a d a s p e l a m e n te ,
d e s c o n h e c id o p o s s a te r p a r a fu g ir d e s u a p r ó p r i a
e x is tê n c ia . c a r a c te r ís tic a c o g n itiv a .
A s s im , se b e m e ste ja m o s
A f in a l d e c o n ta s , q u e é q u e
v iv o s , e s ta m o s m o r re n d o
sa b e m o s? N a re a lid a d e , q u e
d e n tr o d o c a m p o d o
s a b e is v ó s ? S a b e is o c a m in h o
c o n h e c id o .
d e v o s s a c a s a ; te n d e s c e r to s
c o n h e c im e n to s , c e r ta s n o ç õ e s
S e m d ú v id a , se d e s e ja is
p o lític a s o u e c o n ô m ic a s ; s a b e is
d e s c o b r ir o q u e é im o rta l, o q u e
d e se m p e n h a r-v o s d e um c a rg o ;
se a c h a a lé m d a m e n te , e n tã o
s a b e is a im p o rtâ n c ia d o v o s s o
a m e n te , q u e é o c o n h e c id o ,
se g u ro , a m a rc a d o v o sso
te m d e a c a b a r - s e ; d e v e m o r re r
c a r r o ; e te n d e s u m p o u q u in h o
p a r a si m e s m a . T e n d e s lid o a
d e c o n h e c im e n to d e v o s so s
re s p e ito d e to d a s e ss a s c o is a s ,
p r ó p r io s d e s e jo s e a p e tite s , d a s
o u m e te n d e s o u v id o
e x p e riê n c ia s e r e a ç õ e s q u e s ã o
f r e q u e n te m e n te ; e , e n tr e ta n to ,
p ro d u to d o v o sso
a m e n te c o n tin u a s e m p r e a
c o n d ic io n a m e n to .
b u s c a r u m a re s p o s ta , a
A f o r a i s s o , q u e m a is s a b e i s ? p e r g u n ta r o q u e e x is te a lé m d a
C o n h e c e is a lu ta p e r e n e p a r a m o r te . T o d a s a s s o c ie d a d e s
s e r a l g u m a c o i s a : s e s o is e s tú p id a s p r o s p e r a m à c u s ta d o
p r e s u n ç o s o , o rg u lh o s o , lu ta is v o sso a p e tite d e s a b e r o q u e
p a r a s e r h u m ild e , e tc . R is tu d o e x iste a lé m ; e q u a n d o v o -lo
o q u e s a b e m o s. V iv e m o s d iz e m , s e n tis - v o s s a tis fe ito ,
d e n tr o d e s s a e s fe ra d o p e lo m e n o s te m p o r a r ia m e n te .
“ c o n h e c id o ” , o c o n h e c id o d e P o r é m , o p ro b le m a re a l, o
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te m o r a o d e s c o n h e c id o , M a s , q u a n d o re c o n h e c e m o s as
p e r s is te , c o m o u m a ú lc e r a . lim ita ç õ e s d a m e n te , d o
c o n h e c id o ; q u a n d o
N e s s a s c o n d iç õ e s , p e rc e b e m o s q u e som o s
lim ita d o s , e e s ta m o s c ô n s c io s
c o m p re e n d e n d o q u e a m e n te
d is so to ta lm e n te , isto é , ta n to
a p e n a s fu n c io n a d e n tr o d o
c a m p o d o c o n h e c id o , n ã o c o n s c ie n te m e n te c o m o n a s
c a m a d a s m a is p r o f u n d a s d a
p o d e m o s p e r m a n e c e r c o m p le ta
n o s s a c o n s c iê n c ia , — há um a
e p a s s iv a m e n te c ô n s c io s d o
c o n h e c id o , sem fa z e rm o s c o m p le ta c e s s a ç ã o d a
a tiv id a d e d a m e n te ; a m e n te ,
n e n h u m m o v im e n to p o s itiv o
c o m o p e n s a m e n to , c o m o “ e u
p a r a d e n tr o d o d e s c o n h e c id o ?
I s s o s i g n if i c a : e s t a r a b e r t o à s e i” , d e i x a d e e x is tir . H á e n t ã o
a p o s s ib ilid a d e d e m a n if e s ta r -
m o r te , a o d e s c o n h e c id o , a o
se o d e s c o n h e c id o .
R e a l . S ig n ific a q u e
p ro s s e g u im o s c o m o c o n h e c id o M a s n ã o p o d eis c h a m a r o
p e la m e lh o r m a n e ira q u e d e s c o n h e c id o ; n ã o p o d e is
po dem os e conhecem os ch am ar D eu s, a V e rd a d e , ou
p e rfeita m e n te a s s u a s q u e n o m e lh e d e is . O q u e se
lim ita ç õ e s ; e , c o n h e c e n d o -a s , c o n h e c e é p u rg a tó rio , é
n ã o h á “ p ro je ç ã o ” n o fu tu ro , in fe rn o ; o d e s c o n h e c id o é o
n o a m a n h ã . N ã o h á m a is m e d o c é u . M a s o in c o g n o s c ív e l
a o d e s c o n h e c id o ; a m o r te já n e n h u m a r e la ç ã o te m c o m o
n ã o é u m a c o is a te m ív e l; o q u e c o n h e c id o ; só se m a n ife s ta
n ã o s i g n if i c a t e r m o s a g o r a u m a q u a n d o a m e n t e e s t á de todo
n o v a te o r ia , u m a n o v a tr a n q ü ila . A m e n te c o m o
e x p lic a ç ã o e q u e d e v e m o s p e n s a m e n to d e v e d e ix a r d e
in s titu ir n o v o s g r u p o s p a r a e x is tir, d e v e m o r r e r , e só e n tã o
d i s c u t ir s o b r e o q u e e x is te p o d e s u rg ir a R e a lid a d e
a l é m , p o i s is s o é i n f a n t i l . E te rn a .
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