Apostila - Fruto Do Espírito

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Sumário
Introdução .................................................................................................................................. 1
Amor ............................................................................................................................................ 8
Alegria ....................................................................................................................................... 14
Paz .............................................................................................................................................. 16
Paciência .................................................................................................................................. 20
Amabilidade ............................................................................................................................. 24
Bondade.................................................................................................................................... 27
Fidelidade ................................................................................................................................. 33
Mansidão .................................................................................................................................. 37
Domínio Próprio ..................................................................................................................... 40
Conclusão ................................................................................................................................ 44
Referências Bibliográficas................................................................................................... 48
Introdução

Antes de falarmos sobre o Fruto do Espírito, tema central do nosso estudo,


é importante frisar em que contexto o Apóstolo Paulo está inserido ao escrever
a carta aos Gálatas.
A carta foi escrita entre os anos de 49 e 57, não se sabe exatamente a
data. Neste período uma parte da Galácia era dominada por Roma.
Obs. Não irei me aprofundar na história, ire, portanto, apenas citar as partes que
são importantes para nosso estudo. No curso de novo testamento é estudado
esse assunto com profundidade.

Antes de ser dominada por Roma o povo da Galácia vivia de forma


tranquila e exercia um poder razoável sobre as cidades ao redor, porém eles se
perderam quando deram lugar a práticas imorais - podemos entender práticas
imorais por vícios desenfreados e prazeres de todos os tipos.
É nesse contexto, Galácia dominada por Roma, que o Apóstolo Paulo está
inserido. Conforme podemos ver logo no início da carta aos Gálatas, entre os
versículos 6 a 10 do capítulo 11, Paulo trabalhou o tempo inteiro ensinado o
verdadeiro evangelho àquele povo, mas por algum motivo eles estavam
deixando o que Paulo ensinava de lado para viver “novas experiências”.
O motivo que os levou a abandonar o que Paulo ensinara foi a presença
de alguns falsos apóstolos para corromper os ensinamentos e trazer novas
doutrinas. Esses falsos apóstolos não agiam enquanto Paulo estava presente,
mas sempre em sua ausência.
O que acontecia era algo mais ou menos assim: Paulo ensinava que isso
é isso. O povo aprendia, praticava e vivia seus dias aplicando os ensinamentos
de Paulo. Quando o Apóstolo não estava presente, o que acontecia na maior
parte do tempo, vinham esses falsos apóstolos e diziam mais ou menos assim:
Paulo disse que isso é isso, mas isso também pode ser aquilo.
O objetivo era afastar as pessoas do verdadeiro ensinamento.
Uma das coisas que os falsos apóstolos batiam na tecla é que Paulo não
era um Apóstolo de Cristo, fato que Paulo defende com veemência nessa mesma
carta.

1 6 - Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça
de Cristo, para seguirem outro evangelho
7 - que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando,
querendo perverter o evangelho de Cristo.
8 - Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos,
que seja amaldiçoado!
9 - Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já
receberam, que seja amaldiçoado!
10 - Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a
homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo.

1
Então, quais motivos levaram Paulo a escrever a carta aos Gálatas?
Sobre isso o escritor inglês John Gill nos diz em sua obra Comentário da Epístola
aos Gálatas o seguinte:
“a ocasião e propósito desta Epístola era reivindicar o caráter do apóstolo como
tal; estabelecer a verdadeira doutrina da justificação pela fé, em oposição aos
ensinamentos de justificação pelas obras da lei; restaurar aqueles que foram
levados a se desviarem seguindo outras doutrinas; exortar os santos a
permanecerem firmes na liberdade de Cristo e em vários outros deveres do
Evangelho; e dar uma descrição verdadeira dos falsos mestres e seus pontos de
vista, para que pudessem tomar cuidado com os tais e se desviassem dos seus
princípios.”

Em resumo, o objetivo de Paulo, ao escrever a carta aos Gálatas, era pôr


o povo de volta ao lugar certo.
PS. É importante frisar que não temos apenas uma igreja na Galácia, mas sim
várias. Isso é visto no verso 2 do capítulo 1 quando Paulo escreve: “... às igrejas
da Galácia”.
PS2. Reafirmo que nosso objetivo aqui não é a parte histórica e geográfica da
Galácia, a qual fica localizada no norte da Ásia menor, mas em entender os
motivos que levaram Paulo a escrever a carta.

Seguindo um pouco mais, vamos passar brevemente por cada um dos


capítulos da carta de Paulo aos Gálatas.
Capítulo 1
Neste capítulo, como é habitual do Apóstolo nas outras cartas por ele
escritas, ele faz suas saudações e reivindica a autoria da carta para si. Em
seguida ele alerta os membros das igrejas da Galácia sobre o afastamento do
verdadeiro evangelho e encerra o capítulo falando sobre si. Nessa parte ele fala
sobre sua conversão, trabalhos, enfim, sua vida com Cristo.
Capítulo 2
Paulo, ainda escrevendo sobre si, relata sua viagem a Jerusalém onde se
encontrou com os outros Apóstolos, que aprovaram seu ministério Apostólico.
Aqui cabe uma observação. Na introdução fora dito que os falsos profetas
batem na tecla dizendo que Paulo era apóstolo coisa nenhuma, mas Paulo faz
questão de relatar sua visita a Jerusalém para provar por A mais B que os falsos
profetas mais uma vez estavam errados.
É interessante reforçar que Paulo não recebeu nenhuma orientação dos
Apóstolos, provando mais uma vez que seus ensinamentos estavam corretos.
Há também nesse capítulo o registro do encontro de Paulo com Pedro,
em que este é severamente confrontado por aquele sobre seu comportamento e
com isso Paulo reforça a importância da justificação pela fé em detrimento às
obras. Aqui Paulo é um forte combatente da licenciosidade, em que as regras

2
eram deixadas de lado. Em resumo, viver de forma a não observar nenhum
preceito.
Capítulo 3
O capítulo começa com uma repreensão severa de Paulo aos irmãos da
Galácia, pois eles estavam vivendo uma vida de desobediência e em
consequência disso um afastamento do evangelho. Nesse capítulo também
temos a confirmação da doutrina paulina da justificação pela fé e nos mostra que
a lei é importante e não devemos abandoná-la por completo. E encerra falando
dos privilégios de viver uma vida cristã.
Capítulo 4
Com foco na revogação da lei cerimonial, que nos diz respeito aos rituais
que estavam presentes na antiga aliança, Paulo escreve explicando como as
pessoas do Antigo Testamento viviam sob ela. Enfatiza aos Gálatas a não
voltarem a viver sob essa lei, visto que já estavam libertos dos seus efeitos.
Reforça todo o carinho que sente pelos irmãos dessa igreja. Fala sobre os falsos
profetas, que estavam afastando o povo da verdade de Deus, dentre outras
coisas.
Capítulo 5
Neste capítulo Paulo reforça a ideia de os irmãos pertencentes às igrejas
da Galácia viverem firmes na liberdade cristã, porém não a viver de forma
desregrada, mas sempre advertindo-os a viver contra o abuso da liberdade.
Seguindo um pouco mais, ele continua os instruindo, agora a fugir dos vícios, e
reforça que em Cristo os cristãos são livres da escravidão da lei.
Capítulo 6
Por fim, no último capítulo, Paulo encoraja os irmãos a viverem na prática
constante de mansidão para com os que se afastam da fé, amor com os santos
e em atos de bondade uns para com os outros.
Paulo, após mostrar os frutos do Espírito no capítulo anterior, mostra, com
exemplos práticos, como cumpri-los.
Como dito na introdução desse capítulo o objetivo não é trazer em
detalhes cada um dos capítulos do livro de Gálatas, mas uma breve explanação
sobre cada um deles. Ao ler essas explanações recomendo que você leia,
imediatamente, o livro de Gálatas. Acredito que você não gastará mais do que
1h ou 1h30min. Então, pare a leitura desta apostila por um momento e continue,
apenas, após concluir a carta de Paulo aos Gálatas.

3
Fruto do Espírito
Vamos começar nosso estudo sobre o Fruto do Espírito mencionando um
trecho de uma oração matinal feita diariamente por John Stott2. Ele dizia assim:
“Pai Celeste, peço que neste dia eu viva em tua presença e te agrade cada vez
mais.
Senhor Jesus, peço que neste dia eu tome tua cruz e te siga.
Espírito Santo, peço que neste dia me enchas de ti e faças teu fruto amadurecer
em minha vida: Amor, Alegria, Paz, Paciência, Amabilidade, Bondade,
Fidelidade, Mansidão e Domínio Próprio.”

John Stott orava assim diariamente. Ao ler essa oração me vem a seguinte
pergunta à mente: O que leva uma pessoa a orar isso diariamente?
A primeira resposta que consigo encontrar é que nenhum desses
atributos surgem a nós de maneira natural, ou seja, nenhum ser humano nasce
com o Fruto do Espírito em si, por isso precisamos pedir a quem o detém que
nos permita tê-lo também.
O Fruto do Espírito é, de maneira muito simples, um retrato da vida de
Jesus. Assim, só conseguiremos viver como Jesus nesta terra se tivermos em
nós o Fruto do Espírito.
Portanto, o primeiro passo para iniciar o processo de aquisição, falo
aquisição não no sentido de comprar, mas aqui no sentido de receber, do Fruto
do Espírito é se entregando ao Senhor Jesus. O acesso ao Fruto vem por meio
da Salvação, mas não nos é dado no momento da Salvação.
Quando, eu e você, aceitamos Jesus passamos a ter acesso ao Fruto do
Espírito e para tê-lo é necessário pedir a Deus.
Paulo diz no versículo 16 do capítulo 5: “Andai no Espírito, ...”. Esse trecho
nos exprime uma ordem e cabe nós cumprir ou não. Se cumprirmos poderemos
ter o Fruto vivo dentro de nós, caso não cumprirmos não o teremos.
Com esse trecho Paulo diz para permitirmos que o Espírito nos governe
e não devemos permitir que a carne tome as rédeas.
É importante frisar que a palavra fruto nos leva a entender que algo está
ligado a uma árvore, pois só árvores possuem frutos.
Nessa analogia vamos nomear a árvore de Jesus, que em João 15 3 nos
diz que é a videira verdadeira. Jesus é a videira e o Fruto do Espírito é o que
nasce dessa árvore.
Assim, para termos acesso ao fruto, como dito acima, é necessário estar
ligado à árvore.

2
John Robert Walmsley Stott, (27/04/1921 – 27/07/2011), foi um pastor e teólogo anglicano britânico .
3 "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.

4
Perceba que o tempo todo eu disse Fruto ao invés de Frutos? Fique
tranquilo, isso não foi erro de digitação, mas é porque o Fruto do Espírito é um,
é uno, é singular.
Para entender isso melhor vamos pensar no Fruto do Espírito como uma
mexerica.
Quando abrimos uma mexerica temos dentro dela vários gomos, certo? A
pergunta que faço é: um gomo é uma mexerica ou uma parte dela?
A resposta é simples: um gomo é uma parte da mexerica. Agora vamos
voltar ao Fruto. Ali temos um Fruto com vários atributos. Com isso podemos
concluir que Amor, Alegria, Paz, Paciência, Amabilidade, Bondade,
Fidelidade, Mansidão e Domínio Próprio são atributos do Fruto do Espírito.
Resumindo, o Fruto do Espírito é algo que revela a identidade de Jesus,
logo só é possível obtê-lo se estivermos ligados a Jesus. O Fruto do Espírito é
uno, ou seja, é singular, e possui nove atributos. E eles não nos são dados no
momento da conversão, mas é algo que devemos buscar diariamente na fonte.
É importante demais frisarmos em um outro ponto aqui.
Quando lemos os versículos 19, 20 e 214, também no capítulo 5, Paulo
nos mostra uma lista de coisas e as atribui à vontade da carne.
A carne pode ser traduzida como nossa natureza pecaminosa e decaída.
Por esse motivo carne pode representar nossos corpos, nossos pensamentos,
nossas emoções, nossas escolhas, nossos desejos, nossos sentimentos e
quaisquer outras coisas que são semelhantes a essas.
Em seguida, nos versículos 22 e 235, Paulo nos apresenta a lista do Fruto
do Espírito e aqui vamos pontuar mais um detalhe.
Na época de grandes filósofos havia uma coisa, que perdura até os dias
de hoje, que era chamado de lista de vícios e virtudes.
Funcionava mais ou menos assim: eram apresentadas duas listas uma
contendo os vícios e outra contendo as virtudes e o mestre ensinava das
seguinte forma: deixe de fazer isso e passe a fazer a isso. Era como se uma lista
compensasse a outra. Isso era muito válido ali, mas aqui, no livro de Gálatas,
Paulo não tem essa ideia.
O que Paulo nos apresenta é o que o poder da carne pode nos levar a
fazer se estivermos sob seu domínio e o que o Espírito pode nos levar a fazer
se estivermos sob seu domínio. Portanto, essa comparação entre vícios e
virtudes, aqui, é furada.

4
19 - Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem;
20 - idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções
21 - e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os
que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus.
5
22 - Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade,
23 - mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.

5
Abaixo temos uma lista com algumas das obras da carne citadas por
Paulo e o seu significado, citar todas é praticamente impossível, por isso
citaremos apenas algumas delas:
• Adultério → Essa obra da carne consiste em uma profanação do leito
conjugal, e é o pecado da impureza cometido por duas pessoas, quando
pelo menos uma delas é casada. O adultério é condenado pela lei de
Deus e pela luz da natureza;
• Fornicação → a qual, apesar de não ser considerada pecado por muitos
gentios ou é considerada apenas como um pecado muito pequeno, é
citada aqui entre as obras da carne, que são manifestas e devem ser
evitadas. Fornicação consiste em um pecado de impureza cometido pelas
pessoas solteiras;
• Impureza → esse nome é usado geralmente para tudo que não é virtuoso,
seja em pensamentos, palavras ou ações; e aqui especificamente pode
significar toda concupiscência anormal, tais como:
o Sodomia → Relação sexual anal entre um homem e outro homem
ou sexo anal entre um homem e uma mulher;
o Lascívia → ou licenciosidade, cortejos lascivos, e tudo o que leva
a atos de impureza ou os satisfaz, tais como palavras impuras,
gestos obscenos e coisas semelhantes;
• Idolatria → significa a adoração a outros deuses ou a imagens de
escultura;
• Feitiçaria → qualquer associação real ou pretendida com o demônio, que
procura conversar com espíritos, ou para adquirir conhecimento ilegítimo
ou para causar dano a outras criaturas; os quais, ao honrar a Satã,
roubam de Deus Sua glória, e deste modo incorrem em idolatria.
Encantamentos, adivinhação, necromancia e todo tipo de mágica estão
aqui incluídos e condenados;
• Ódio → cultivar ódio em nosso íntimo contra quem quer que seja, mesmo
contra nossos inimigos, é proibido. No texto original, está escrito
“inimizades”; pois a mente carnal nada mais é senão inimizade contra
Deus e contra Cristo, contra a lei e contra o Evangelho, contra todos os
homens bons e contra tudo o que é bom;
• Porfias ou Contendas → os quais consistem em lutas e brigas, através
de palavras escandalosas e reprováveis;
• Emulações ou Emoções → não as boas, mas as más; aquelas emoções
que se insurgem com ardor contra a honra e a alegria do outro;
• Iras → emoções violentas da mente, que buscam vingança ou causar
dano e prejuízo a outrem;
• Pelejas → contradições e objeções capciosas contínuas, expressas
através de palavras ou maquinações da mente. Essas pelejas podem
estar no coração dos homens, de acordo com Tiago 3: 146;

6
Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem
neguem a verdade.

6
• Dissensões ou Divisões → separações e facções, dissenções em
questões domésticas, civis e religiosas;
• Heresias → princípios e dogmas malignos, em relação à doutrina
verdadeira, e que são subversivos aos fundamentos do Evangelho e à
religião cristã; e são produtos das próprias invenções humanas, fruto de
suas escolhas e não possuem qualquer fundamento na Palavra de Deus;
e heresias são obras da carne, pois surgem da mente corrupta e carnal,
e são propagadas por homens com pontos de vistas carnais e pelos
aplausos das pessoas que, buscando vantagens mundanas, se entregam
aos desejos da carne.
• Invejas → torturas inquietantes e angustiantes da mente, a qual se aflige
por causa dos bens dos outros, como se ninguém pudesse estar em
condição igual ou melhor que a deles mesmos;
• Homicídios → destruição na vida dos homens, o que frequentemente é
uma consequência dos males citados acima;
• Bebedices → exceder-se ao beber vinho ou bebida forte, de maneira que
o estômago seja sobrecarregado, a mente intoxicada e o corpo debilitado
e incapaz de cumprir seus deveres. Frequentemente essa é a fonte de
muitas, senão todas, as obras da carne mencionadas anteriormente;
• Glutonarias → exceder-se na alimentação, envolver-se em farras
noturnas para comer, beber, dançar, cantar, onde se pratica impudicícias
e dissoluções.
Obs. Essa lista com suas explicações são citações literais de John Gill em sua obra
Comentário da Epístola aos Gálatas (pag. 205 a 207).

Como dito acima a lista é gigantesca e foram citadas apenas algumas das
coisas que a carne pode fazer.
Agora, que vimos um pouquinho das obras da carne, vamos pontuar, de
forma breve, sobre cada um dos atributos do Fruto do Espírito.
• Amor → o apóstolo começa com o amor, pois ele é o cumprimento da lei
e o vínculo da perfeição, sem o qual a profissão de fé é insignificante.
• Alegria → a alegria que temos no Espírito Santo, autor dela. O objeto da
alegria é Deus, não como um Deus absoluto, mas como o Deus pactual e
Pai em Cristo;
• Paz → que é outro fruto do Espírito; a qual comunica a paz de Deus na
própria consciência do homem e é uma paz produzida pelo Espírito de
Deus, como consequência da paz feita pelo sangue de Cristo;
• Paciência → isso consiste não tanto em paciência no esperar por coisas
boas — por mais graça e pela glória, através do Espírito — mas em
suportar paciente e com alegria a duração dos males do presente, através
do fortalecimento do Espírito, segundo Seu glorioso poder.
• Amabilidade → que é mostrada em atos de bondade para com o homem,
de modo natural, civil, moral, espiritual e evangélico, para o benefício tanto
da alma como do corpo.

7
• Bondade → é a benignidade que deve ser entendida e é agradável a Deus
quando praticada no exercício da graça.
• Fidelidade → tanto em palavras como em ações, o que embeleza o
Evangelho.
• Mansidão → submissão e humildade de espírito, do que Cristo é um
exemplo eminente e padrão.
• Domínio Próprio → Esse fruto do Espírito produz tanto pureza como
sobriedade.

Obs. Essa lista com suas explicações são citações literais de John Gill em sua obra
Comentário da Epístola aos Gálatas (pag. 209 a 212).

A partir de agora vamos tratar de cada um dos atributos do Fruto em detalhes.

Amor

O conjunto de atributos, que são chamadas, na verdade, de Fruto, e não


obras, devem brotar de algo e não partindo de ações.

8
O Fruto nasce em nós ao sofrermos influência do Espírito Santo e não por
merecimento humano.
O Apóstolo Paulo nos apresenta a lista de atributos começando pelo Amor
e isso não foi obra do acaso ou coisas semelhantes, ao fazer isso Paulo está
enfatizando para nós que sem o Amor nada podemos fazer.
Antes de nos aprofundarmos no tema é importante vermos o significa de
Amor no original7. A palavra usada por Paulo foi ἀγάπη (AGAPE), que significa
amor a Deus e ao próximo. Antes de vermos essas duas vertentes do Amor
vamos observar algumas coisas importantes.
Na carta aos Gálatas, sobretudo no capítulo 5, Paulo cita o seguinte:
v. 6 - Pois, em Cristo Jesus, não há benefício algum em ser ou não circuncidado.
O que importa é a fé que se expressa pelo amor.
v. 13 - Porque vocês, irmãos, foram chamados para viver em liberdade. Não a
usem, porém, para satisfazer sua natureza humana. Ao contrário, usem-na para
servir uns aos outros em amor.
v. 14 - Pois toda a lei pode ser resumida neste único mandamento: “Ame o seu
próximo como a si mesmo”.

Vemos acima, em três versículos diferentes, o Apóstolo Paulo, que a partir


de agora chamaremos apenas Paulo, enfatizando a importância do Amor.
Não podemos deixar de citar o texto que se encontra em Mateus 22:37-
40 em que Jesus é perguntado sobre qual era o mandamento mais importante.
Sobre essa pergunta Jesus responde:
Jesus respondeu: “‘Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a
sua alma e de toda a sua mente’.
Este é o primeiro e o maior mandamento.
O segundo é igualmente importante: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’.
Toda a lei e todas as exigências dos profetas se baseiam nesses dois
mandamentos”.

Esses versículos nos mostram como é importante o Amor. A resposta de


Jesus nos mostra dois tipos de Amor: 1) Amor a Deus; 2) Amor ao próximo.
Portanto, vamos seguir nosso estudo falando sobre o Amor a Deus e o
Amor ao próximo.
John Gill diz:
“o apóstolo começa com o amor, pois ele é o cumprimento da lei e o vínculo da
perfeição, sem o qual a profissão de fé é insignificante.”

7
O novo testamente foi escrito em sua maior parte em Grego, por isso quando não citado de forma
diferente, todas as incidências nesta apostila da palavra “original” se referirão à palavra escrita em Grego.

9
Com relação ao Amor a Deus Gill afirma que o homem tem o seu coração
distante de Deus, isso significa que ele está, naturalmente, cheio de inimizade
contra Deus.
Essa inimizade é desfeita quando permitimos que o Espírito de Deus
habite em nós, assim é derramado dentro de nós o Amor de Deus, que para nós
não é natural, e só passamos a conhecê-lo após a ação do Espírito Santo.
Após esse encontro com o Espírito Santo é que o homem começa a
enxergar Deus como ele realmente é e, portanto, o Espírito Santo, diz Gill, “abre
nossos olhos para ver a beleza de Sua pessoa, a idoneidade de Sua graça,
justiça e plenitude, e a necessidade de olhar para Ele para se obter vida e
salvação”.
E temos a segunda vertente que é com relação ao Amor ao próximo, que
também não é algo natural ao homem carnal.
Esse amor é a revelação de que passamos da morte para a vida, por meio
da graça.
Quando Paulo põe o atributo Amor na lista ele quer enfatizar a importância
do amor ao próximo.
Nosso foco, a partir de agora, será no nosso amor ao próximo, que não é
qualquer amor, mas um amor que vai além de uma simples declaração e a tudo
suporta.
Não é aquele amor de casalzinho de adolescentes, ou mesmo de alguns
adultos imaturos, que ao primeiro sinal de dificuldade mudam de ideia. Esse
amor presente no Fruto vai muito além de afeto, de gentilizas ou coisas do tipo.
Esse é um amor em que vamos aceitar cuidar, socorrer, incentivar, prover, ou
seja, exigirá um custo, será doloroso, vai custar alguma coisa.
Podemos resumir da seguinte forma: O amor, como fruto do Espírito, é
um amor em ação, sem blá blá blá, sem firulas, sem frescuras. É o amor que vai
te custar alguma coisa.
Vamos observar, nos textos abaixo, o que o Apóstolo João nos diz sobre
amor tanto no evangelho quanto nas cartas.
Por isso, agora eu lhes dou um novo mandamento: Amem uns aos outros.
Assim como eu os amei, vocês devem amar uns aos outros.
Seu amor uns pelos outros provará ao mundo que são meus discípulos”.
João 13:34-35
Este é meu mandamento: Amem uns aos outros como eu amo vocês.
João 15:12
Este é meu mandamento: Amem uns aos outros.”
João 15:17

10
Nos três textos acima temos palavras do próprio Jesus.
Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que amemos uns aos
outros.
I João 3:11
Se alguém tem recursos suficientes para viver bem e vê um irmão em
necessidade, mas não mostra compaixão, como pode estar nele o amor de
Deus?
Filhinhos, não nos limitemos a dizer que amamos uns aos outros;
demonstremos a verdade por meio de nossas ações.
I João 3:17-18
E este é seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e
amemos uns aos outros, conforme ele nos ordenou.
I João 3:23
Amados, continuemos a amar uns aos outros, pois o amor vem de Deus.
Quem ama é nascido de Deus e conhece a Deus.
Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
I João 4:7-8
Amados, visto que Deus tanto nos amou, certamente devemos amar uns aos
outros.
Ninguém jamais viu a Deus. Mas, se amamos uns aos outros, Deus permanece
em nós, e seu amor chega, em nós, à expressão plena.
I João 4:11,12

Os textos presentes na primeira carta de João nos mostram a importância


real de vivenciar o amor. O amor é algo essencial, fundamental e primordial na
vida de qualquer pessoa.
Desses textos de João conseguimos extrair algumas coisas. Conseguimos
enxergar ali o amor como evidência de vida e o amor como evidência de Deus.
Vamos ver cada uma dessas partes a partir de agora.
Partimos do princípio que é o Amor que prova que passamos da morte
para a vida, pois segundo o Apóstolo João, “se amamos nossos irmãos, significa
que passamos da morte para a vida, mas quem não ama continua morte”.
Amor ao próximo é evidência de que realmente não estamos mais mortos.
A vida eterna é recebida pela fé, isso é um fato, porém ela é demonstrada pelo
Amor.
Como podemos, por exemplo, viver brigando, discutindo, criando divisões
e ainda assim afirmar que existe amor ali? Isso não procede, não é verdadeiro,
não é bíblico, pois onde o amor impera essas coisas não têm espaço.

11
Para fechar essa parte vamos dar uma bela olhada no texto que está na
primeira carta de João 3:17
Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se
compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus?

O amor, portanto, evidencia vida e se não amamos, certamente estamos


mortos.
Seguindo um pouco mais no nosso estudo vamos partir do princípio de
que Deus é a fonte de todo amor. Isso é um fato e é indiscutível.
Disso podemos concluir, perfeitamente, que qualquer amor humano brota
de Deus.
Em segundo lugar precisamos ter em mente que Deus nos deu a prova,
mas não só isso, nos deu exemplo do seu amor. Isso foi revelado na cruz,
quando entregou Jesus.
E por fim, é por meio de nosso amor uns pelos outros que Deus se torna
visível às outras pessoas.
Essa última parte é corroborada com o que nos diz a primeira carta de
João 4:12:
Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus
permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós.

Depois da leitura desse verso a pergunta que surge é: é possível às


pessoas verem Deus? A resposta é sim e não.
Não, pois Deus não pode ser visto por ninguém e sim, pois como dito
acima ele é revelado a medida em que amamos uns aos outros.
Quando os cristãos amam uns aos outros de maneiras práticas,
sacrificiais, custosas e que removem barreira, diz Wright, o amor de Deus, isto é
o Deus que é amor, se torna visível. O autor continua, o Deus invisível se torna
visível no amor dos cristãos uns pelos outros.
Vamos encerrar essa parte com mais algumas citações do Christopher
Wright em seu livro Aprendendo a viver como Jesus – Um novo olhar sobre o
fruto do Espírito. O autor nos diz:
“Ninguém pode ver a Deus, mas as pessoas podem nos ver. E, quando amamos
uns aos outros, o que eles veem é o amor de Deus.”
“Quando cristãos não amam uns aos outros, não é apenas trágico; é nocivo. É
venenoso e mortífero.”

Concluímos, portanto, que sem o Amor, que nos é dado pelo Espírito,
estamos mortos. Sem o amor presente nos nossos relacionamentos teremos
brigas, discussões, divisões, dentre outras coisas e é por meio do Amor uns aos
outros que as pessoas podem ver Deus, mesmo ele sendo invisível a nossa
atitude de viver em amor o torna visível às outras pessoas por meio de nós.

12
13
Alegria

O Apóstolo Paulo nos apresenta a lista de atributos começando pelo


Amor, que falamos anteriormente, e em seguida ele fala sobre a Alegria.
Essa alegria, do grego χαρὰ, que significa gozo, palavra que no português
do Brasil perdeu seu sentido original. Gozo pode ser entendido como um
profundo regozijo. É uma alegria que temos no Espírito Santo, que como
sabemos é o autor dela.
Essa alegria, diz Gill, é o que nos permite enxergar Deus como Deus da
Salvação que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, levando em
consideração o sacrifício perfeito de Cristo.
Podemos apontar que a Alegria, como Fruto, não é um sentimento feliz,
mas um estado, uma forma de se portar.
Seguindo um pouco mais, podemos citar uma outra informação
importante. Paulo costuma tratar Alegria e Paz como um par, como uma dupla.
Ele cita, em suas cartas, a palavra alegria 21 vezes e paz, que será o nosso
próximo tópico a ser estudado, 43.
Essa citação em pares de alegria e paz pode ser visto em Romanos no
capítulo 14 versos 17 e 18 e no capítulo 15 verso 13.
Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria
no Espírito Santo.
Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens.
Romanos 14:17-18
Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que
abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo.
Romanos 15:13

Nesses textos é possível citar o seguinte, segundo Wright:


• Alegria e paz são sinais do Reino de Deus;
• Alegria e paz caracterizam nosso modo de servir e agradar a Deus;
• Alegria e paz são essenciais da esperança8 cristã;
• Alegria e paz são sinais de que o poder do Espírito Santo está
transbordando em nossa vida.
Alegria e paz, continua Wright, não descrevem apenas um estado
emocional de bom ânimo e contentamento, mas a algo profundo que o ocupa o
centro de nossa vida e de nosso testemunho cristão.

8
A palavra esperança utilizada no texto acima não é referente ao verbo esperar, em que você se senta e
fica lá esperando, mas sim com relação a esperançar, em que você pode criar esperança de algo, como
por exemplo esperança de um futuro melhor.

14
É importante parar e pensar agora: o que te alegra? Essa alegria é aquela
em que acelera o seu coração, que parece que vai saltar do peito, te deixa em
estado de êxtase.
Para caminharmos para o fim é importante frisar que a alegria deve ser
moralmente limpa e a alegria deve ser inclusiva.
Na primeira ótica não é porque você está feliz que vai cometer pecados,
não é mesmo? Assim, sua alegria deve ser plena, ser extravagante, porém
preservando sempre a santidade. E na segunda ótica devemos procurar sempre
incluir pessoas nessa alegria, como por exemplo quando for fazer um belo
churrasco convide alguém que não tenha tanta afinidade para passar contigo.
Precisamos nos lembrar sempre quem somos e o que temos dentro de
nós e andar de cabeça erguida. É fato que nem sempre estaremos 100%, mas
manter a alegria é fundamental, afinal, Cristo vive em você ou como diz Paulo:
Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!
Filipenses 4:4

Alegrar é um ato, tendo esse Fruto dentro de mim devo procurar me


alegrar constantemente, não como uma atitude sentimental, mas como um
estado.

15
Paz

É importante sempre lembrar-nos de que o Fruto nasce em nós ao


sofrermos influência do Espírito Santo e não por merecimento humano.
O Apóstolo Paulo nos apresenta, como terceiro atributo do fruto do
Espírito, Paz.
Essa paz, do grego εἰρήνη (EIRENE), significa ordem, felicidade,
segurança, isenção de ódio. É uma harmonia no coração, nos diz Anderson de
Carvalho.
Segundo John Gill a paz como Fruto do Espírito comunica a paz de Deus
na própria consciência do homem e é uma paz produzida pelo Espírito de Deus,
como consequência da paz feita pelo sangue de Cristo.
Essa paz, continua Gill, traz como efeito quietude e tranquilidade na
mente. Por fim, ele cita que esse Fruto do Espírito também se refere à paz com
os homens, com os santos e com todos os outros; pois aqueles que estão sob a
obra do Espírito de Deus, e são influenciados e guiados por Ele, procuram as
coisas que produzem a paz e a edificação entre os irmãos, e sempre que
possível desejam viver pacificamente com todos os homens.
Das citações de Gill é, nitidamente, visível que a Paz como Fruto do
Espírito deve gerar em nós tranquilidade na mente, isso significa que
independente da situação em que estamos vivendo não podemos dar lugar às
ansiedades do dia a dia. A paz deve governar nossos pensamentos.
Uma segunda coisa que podemos extrair é que devemos procurar viver
em paz como todos os homens, seja com os irmãos da igreja, seja com as
pessoas de fora.
Sobre isso Paulo nos diz em Romanos 12:18:
Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os
homens.

De forma muito resumida a paz deve, em todos os sentidos da sua


palavra, depender de mim e de você. Nós devemos ser os promotores da paz.
Uma outra definição de paz nos é dada no Antigo Testamente. A palavra
utilizada é shalom, uma palavra simples, pequena, porém carregada de um
significado profundo.
Shalom significa: bem-estar geral, ausência de medo e de necessidade e
contentamento no relacionamento com Deus, com os outros e com a criação.
Wright nos diz que a paz pode ter diferentes dimensões e cita para nós
diferentes formas de observar a paz. Ele nos diz sobre a paz que Deus fez; a
paz que Deus dá; e a paz que Deus requer;

16
Na primeira ótica, a paz que Deus fez, o Apóstolo Paulo nos ensina que
Deus a fez por meio de Jesus na cruz, Efésio 2:11-18.
Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram
aproximados mediante o sangue de Cristo.
Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira,
o muro de inimizade, anulando em seu corpo a lei dos mandamentos
expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos
dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois
em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade.
Ele veio e anunciou paz a vocês que estavam longe e paz aos que
estavam perto, pois por meio dele tanto nós como vocês temos
acesso ao Pai, por um só Espírito.

Porém essa paz ainda não é a paz como Fruto do Espírito.


A paz como Fruto do Espírito diz respeito ao nosso caráter aqui e agora,
não há algo que Deus fez outrora.
Na segunda ótica, a paz que Deus dá, pode ser dividida em Paz com Deus
e a paz de Deus.
A paz com Deus está relacionada a nossa salvação. Essa paz nos revela
uma tranquilidade e nos assegura que vamos morar com Deus, no céu,
permitindo, assim, que possamos ficar seguros com relação ao nosso futuro com
ele.
A paz de Deus é a paz de Espírito, que nos mostra que podemos viver
com ausência de ansiedades e pânicos. Essa paz nos leva a entender que
podemos e devemos confiar em Deus o tempo inteiro. Ela, reflete, também, a
presença do Espírito Santo.
Um bom texto bíblico que se encaixa perfeitamente o texto de Mateus
6:25-34.
"Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas,
quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos,
quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida,
e o corpo mais importante do que a roupa?
Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem
armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não
têm vocês muito mais valor do que elas?
Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma
hora que seja à sua vida?
"Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem
os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem.
Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor,
vestiu-se como um deles.

17
Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é
lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de
pequena fé?
Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que
vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’
Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai
celestial sabe que vocês precisam delas.
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e
todas essas coisas lhes serão acrescentadas.
Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se
preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal".

Um outro texto muito lindo e que nos revela a paz como Fruto do Espírito
é descrito por Paulo aos filipenses, que diz:
Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e
súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus
corações e as suas mentes em Cristo Jesus.

Filipenses 4:6-7
Após lermos esses dois textos podemos observar uma outra citação de
Wright, que diz:
A paz, como fruto do Espírito, não é uma simples atitude indiferente ou
despreocupada. Antes, é uma firme confiança no cuidado paterno de Deus e
uma recusa constante de dar lugar às ansiedades. É um ato de volição, de
vontade, em que escolhemos não nos preocupar, mas orar e confiar em Deus.
E a bíblia inteira nos garantes que Deus é digno de confiança. Fique em paz.

A paz de Deus não é revelada dentro da igreja, escondido no seu quarto,


mas no seu dia a dia, quando você está no trabalho, quando está com sua
família. É você o promotor da paz.
Você não deve ser, em hipótese alguma, o causador da discórdia, mas
confiar em Deus a ponto de levar as outras pessoas, que estão próximas a você,
a ficarem tranquilas e serenas.
Uma coisa que deve ficar sempre latente em nossa mente é que o Fruto
do Espírito tem a missão de tornar Cristo visível e o Evangelho atraente.
Sua missão é essa: Viver em amor, ter alegria e promover a paz.
Poderíamos encerrar essa parte aqui, mas cabe ainda um último ponto
que nos diz sobre a paz que Deus requer.
Vimos acima que temos a paz que Deus fez, por meio da cruz, e na paz
que ele dá, que nos permite viver com o espírito e com a consciência em paz,
não vivermos alienados, mas tranquilos, pois sabemos que Deus cuida de tudo.

18
Nessa terceira ótica veremos como é praticar essa paz e serei bastante
breve aqui com citações práticas de como devemos nos portar.
Praticar a paz é:
• tratar de conflitos e resolvê-los, em vez de alimentá-los, ou pior,
causá-los;
• evitar palavras e atitudes que possam causar mal-estar e divisões;
• pedir perdão o mais rápido possível, mesmo que não estejamos
errados;
• não reagir de imediato para nos defender quando alguém diz ou
faz alguma coisa contra nós; ao contrário devemos nos voltar para
Deus para que ele revele a verdade;
• evitar todo tipo de fofoca e aprender a guardar segredos.
Obs. Essas instruções foram retiradas do livro aprendendo a viver como Jesus
– um novo olhar sobre o fruto do Espírito.

Após entender sobre a paz, sua missão, e minha também, é praticá-la e


viver de acordo com o que Jesus requer de nós.
Devemos sempre sermos os promotores da paz e não os causadores da
discórdia.

19
Paciência

Depois de percorrermos algumas páginas falando sobre Amor, Alegria e


Paz chegou a hora de falar sobre a Paciência. Atributo tão lindo e por vezes tão
pouco praticado por nós.
O que é paciência? Quando buscamos o seu significado no grego, língua
em que a carta fora escrita, vamos encontrar o seguinte μακροθυμία
(MAKROTHYMIA), não faço ideia como se pronuncia isso, mas essa palavra é
carregada de um significa muito forte.
Paciência, significa, então, longanimidade. Anderson Carvalho nos diz
que se refere a uma pessoa, que com paciência suporta as injúrias da vida sem
revidar. Contém uma ideia de perseverança, que significa a qualidade de quem
não desiste com facilidade.
Outro significado para longanimidade se refere a uma pessoa de longo
ânimo.
Quando buscamos nos escritos de John Gill vamos encontrar o seguinte:
“longanimidade consiste em suportar paciente e com alegria a duração dos
males do presente, através do fortalecimento do Espírito, segundo Seu glorioso
poder.”
Gill continua:
“Esse fruto do Espírito consiste em ser lento para se irar, pronto para perdoar as
injúrias, ignorar as afrontas, suportar e tolerar uns aos outros, e ele normalmente
é acompanhado de mansidão, humanidade, afabilidade e cortesia, os quais são
demonstrados em palavras, gestos e ações.”

Perceba que todas as citações acima nos dizem uma maneira de nos
portarmos diante de tudo o que nos acontece no dia a dia.
Esse atributo nos leva a entender que não precisamos nos irar com
facilidade, mas em nos voltarmos para Deus e a Ele entregar as coisas que
achamos que são injustiças.
É buscar sempre a forma de agir de Cristo.
Se formos resumir a paciência em uma única frase é: exercer controle
sobre nossas reações a outros. Lembre-se que isso não vem a nós de forma
natural, como falamos lá na introdução, mas começa a desabrochar em nós a
partir do momento em que deixamos o Espírito Santo governar a nossa vida.
Fortalecendo a ideia apresentada acima, Wright nos diz que a paciência
como fruto do Espírito significa:
1) Capacidade de suportar por longo tempo qualquer oposição e
sofrimento que a vida traga e demonstrar perseverança sem desejo de
retaliação ou vingança.

20
2) Capacidade de tolerar as fraquezas e os defeitos de outros (cristãos
inclusive) e demonstrar paciência em relação a ele, sem nos irritarmos
com rapidez ou nos irarmos a ponto de desejarmos revidar.
Vamos ver alguns exemplos na Bíblia sobre paciência. O melhor exemplo
para começarmos é o do próprio Deus.
Quero que você pense comigo assim: Você adotou uma criança como sua
filha. Deu tudo, sustentou nos momentos mais difíceis da vida dela e quando
tudo começa a ficar em paz essa criança, agora mais adulta, resolve deixar você
de lado e simplesmente esquecer o que você fez por ela. Eu pergunto a você:
qual sua reação diante disso?
Quando lemos a história bíblica vemos um Deus extremamente paciente
com o povo de Israel.
Ele dava do bom e do melhor. O povo ficava feliz por um tempo e logo
depois começava a reclamar e murmurar. Deus, com toda a paciência, ia e
atendia o pedido do povo. E o ciclo continuava.
Podemos citar, por exemplo, dois textos bíblicos que retratam a paciência
de Deus.
Passando, pois, o Senhor perante ele, clamou: O Senhor, o Senhor Deus,
misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e
verdade;
Êxodo 34:6
Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade.
Não reprovará perpetuamente, nem para sempre reterá a sua ira.
Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou
segundo as nossas iniquidades.
Salmos 103:8 - 10

Perceba que no versículo 10 a paciência de Deus é retratada de forma


linda. O salmista diz que Deus não os tratou da segundo os nossos pecados,
nem nos recompensou segundo as nossas iniquidades.
Essa é a essência da paciência, mesmo que a outra pessoa não mereça,
devemos tratá-la sempre de forma paciente e em amor.
É fácil? Claro que não, mas é recompensador. Mesmo que a pessoa o
trate de forma imoral e suja você a devolve tudo com paciência e em amor.
Como diz o Apóstolo Paulo9: fazendo isso amontoarás brasas vivas sobre
a cabeça dele; é dessa forma que nós conseguiremos fazer o reino de Deus
crescer.

9
O trecho bíblico acima está fora do seu contexto original, fiz apenas um recorte dele para encaixar a
nossa aula como exemplo de comparação.

21
Quando vivemos nossa vida guiada pelo Espírito é que as coisas ao nosso
redor mudarão. Quando você age em amor em um local que ele não é presente
em pouco tempo o amor toma conta do lugar.
Quando você age com alegria em um local em que ela não é presente,
logo ela toma conta do lugar. Quando você age com paz em um local em que
ela não é presente, logo a ansiedade vai embora e estaremos em um local cheio
da paz e quando você age com paciência em um local em que ela não é
presente, logo o local em que está será cheio de paciência.
Não vamos conseguir mudar ninguém no grito nem no argumento, mas
na ação. É viver o evangelho, o fruto do Espírito, que fará a diferença na vida
das pessoas. O discurso deve vir acompanhado da prática, senão são só frases
de efeito.
Continuando sobre a paciência, vamos falar agora sobre a de Jesus.
Vamos relembrar a história rapidamente. Jesus escolheu 12 cidadãos,
dos mais letrados, estudiosos, cheios do Espírito Santo e com toda eloquência
possível, certo? Certo nada.
Jesus pegou uns brucutus, analfabetos, impacientes e teve que ensiná-
los com toda paciência.
Hoje admiramos Pedro, mas ele queria tocar fogo numa cidade10. E Jesus
lá tratando-o com toda paciência do mundo, de vez em quando Jesus os
ensinava através de repreensão, mas sempre paciente. A paciência de Jesus foi
revelada a eles em meio a todas as falhas e fraquezas desses homens, não em
meio a um mar de rosas.
Vemos outro lugar em que a paciência de Jesus foi testada e ele a
demonstrou. Lembra de quando Judas o traiu11, com um beijo, Jesus o tratou
pacientemente. Em seguida ele foi preso, tomou pancada, cusparada, chicotada,
ficou preso em uma cruz, enfiaram uma lança nele e a palavra de Jesus foi: Pai,
perdoa-os ...
Vamos ver o texto de I Pedro 2:20-24:
Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se,
fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus.
Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-
nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.
O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano.
O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava,
mas entregava-se àquele que julga justamente;

10
O contexto completo encontra-se em Lucas 9: 51 – 56.
11
Lucas 22: 47 – 48.

22
Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para
que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas
feridas fostes sarados.

Vimos acima um pouquinho da paciência de Deus e de Jesus, mas com


relação a nós. Como devemos nos portar?
No começo dessa lição vimos que a paciência, como fruto do Espírito, é
longanimidade e, de forma indireta, tolerância.
Uma coisa que acontece desde que mundo é mundo é a perseguição ao
povo de Deus. Quando somos perseguidos, nossas ações devem ser: ficar
surpreendidos, fazer retaliações e desistir, certo?
Claro que não. Ficar surpreendidos com algo que acontece com
frequência é no mínimo inocência, não devemos ficar surpreendidos, mas
também não devemos desistir.
Você nunca deve pensar: nossa, minha vida está muito difícil, mas se eu
desistir de Jesus, os que me perseguem me deixarão em paz e tudo ficará bom.
Nunca, nunca, nunca pense assim.
Quando somos perseguidos por causa de Jesus é porque, de fato,
estamos fazendo o que é certo. Então, continue, persevere, vá até o fim, não
desista nunca, pois sua vida não pertence mais a esta terra. O que te espera é
muito maior e melhor que isso daqui. Então, não desista nunca.
Uma segunda coisa que acontece a nós quando vivemos a paciência
como fruto do Espírito é a capacidade de perdoar uns aos outros.
Tenha em mente o seguinte: pessoas vão falhar com você, mesmo assim
esteja disposta a perdoá-las. Isso requer esforço, mas é mais saudável escolher
perdoar e viver livre do que guardar mágoa, por exemplo. Esta desgasta, aquele
traz vida.
O fruto do Espírito deve ser cultivado e isso requer esforço e luta. Lembre-
se, em momento algum disse que seria fácil, mas sempre disse que é mais
recompensador vivermos segundo o Espírito Santo.
Exerça a paciência diariamente, não só ela, mas o Amor, a Alegria e a
Paz.

23
Amabilidade

Passamos pelo Amor, Alegria, Paz e Paciência. Após ler e entender sobre
cada um desses atributos, e já praticando-os, chegamos na Amabilidade, ou
Benignidade. Vamos falar, agora, do quinto atributo do Fruto do Espírito.
Vamos começar com o seu significa no grego χρηστότης
(CHRESTOTES), que em português é benignidade. No idioma em que foi escrito
o novo testamente essa palavra significa bondade, gentileza, amabilidade ou a
disposição de bondade para com os outros. Bondade que é o nosso próximo
atributo a ser tratado.
O significado de benignidade é um pouco amplo, mas que em essência
nos leva a uma situação única: agir em benefício do outro sem buscar nada em
troca, esse é o cerne da amabilidade.
Você já esteve perto de uma pessoa gentil? Como é agradável estar perto
desse tipo de pessoa.
Ela não mede esforços para te ajudar e por vezes essa ajuda custou algo
para essa pessoa, mas ela prontamente te atende com um belo sorriso no rosto.
Podemos adicionar ao significado de amabilidade mais uma palavrinha:
generosidade.
Somente pessoas amáveis podem realizar atos amáveis. Pessoas com
essa qualidade são por todos bem quistas. Elas não querem ibope, mas
simplesmente ver o outro feliz.
Quando você começa a viver e se pega pensando mais nos outros que
em si mesmo é sinal de que a amabilidade já começou a florescer dentro de
você.
Ao falar sobre a Amabilidade Wright cita o seguinte:
A fim de ser amável com alguém, preciso me colocar em seu lugar e imaginar o
que eu mais desejaria ou precisaria que ele fizesse por mim e então fazer isso
por ele.

Esse trecho te soou familiar? Há muitos anos existiu um camarada que


falou mais ou menos assim:
Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois
esta é a Lei e os Profetas".
Mateus 7:12

Esse cidadão, pouco conhecido por nós, disse isso há mais de 2000 anos.
Seu nome, salvo engano é Jesus.
Brincadeiras à parte, Jesus disse isso no contexto do sermão da
montanha, que é um ensinamento prático do estilo de vida cristã. Paulo, alguns

24
anos depois, ratifica o ensinamento de Jesus dizendo que devemos praticar a
Amabilidade.
A Amabilidade é aversa ao egoísmo, pois ela vai te levar a pensar mais
nos outros que em si.
Em resumo: se você é amável você tem disposição de fazer algo por
alguém.
Quando pensamos na essência da amabilidade qual a primeira pessoa
que vem a sua mente?
Espero que você tenha respondido Deus. Não existe pessoa mais amável
que ele.
Até mesmo quando Deus julga, ele o faz de forma amável. Tem uma
passagem que pode ser encontrada em II Crônicas 21 em que Davi é tentado
por satanás a fazer a contagem do povo.
Em um dado momento Deus diz a Davi:
Assim diz o Senhor: Estou lhe dando três opções. Escolha uma delas, e eu a
executarei contra você".

Não convém aqui colocar as opções, mas o interessante para nós é a


resposta de Davi.
"É grande a minha angústia! Prefiro cair nas mãos do Senhor, pois é grande
a sua misericórdia, e não nas mãos dos homens".

Perceba que na hora que a corda apertou Davi optou por receber o
julgamento de Deus, pois ele é, em essência, amável ou misericordioso. Os
homens não têm isso em essência, por isso precisamos de Deus para sermos
seres amáveis.
A amabilidade é, portanto, uma qualidade daqueles que estão perto de
Deus, que levam uma vida de intimidade com o criador.
Podemos citar outro exemplo de amabilidade, o de Boaz para com Rute.
História linda que recomendo a leitura.
Wright mais uma vez nos ensina:
O antigo testamento ensinava que hesed12 (bondade, lealdade, amabilidade)
fazia parte do carácter do Deus de Israel e, por isso, devia fazer parte do caráter
do seu povo.

No antigo testamento vemos Deus querendo que o seu povo agisse de


forma amável uns com os outros e no novo testamento nada muda, esse ainda

12
Hesed é uma palavra em hebraico com vários significados. Ela é por vezes traduzida por amor, com foco
na fidelidade ou parte essencial do verdadeiro amor. Por vezes é traduzida por lealdade, que nos revela
um forte senso de compromisso em relação ao outro em razão do relacionamento entre eles. Há também
tradução dessa palavra por misericórdia, bondade.

25
é um desejo de Deus. Fato é que Paulo o coloca na lista de atributos do Fruto
do Espírito.
No novo testamento “não temos mais” a figura do Deus lá nos céus, mas
temos a amabilidade encarnada por meio de Jesus.
Quando olhamos para Jesus, o tempo inteiro ele é amoroso e cortês com
os necessitados. Em algumas situações ele foi duro, mas apenas com os
religiosos, mas com o povo, com os necessitados ele sempre esteve com
prontidão para atender. Sempre foi amável, sempre dedicado.
E é isso que ele requer de nós, como servos seus, que sejamos uma cópia
fiel sua aqui na terra.
As atitudes de Jesus são convites constantes a deixarmos o egoísmo de
lado e agir em prol do benefício alheio.
Não digo aqui para você fazer um voto de pobreza e dar tudo o que tem
e viver de caridade, mas não ser egoísta e ser sempre amável e generoso, na
medida do que as suas mãos alcançam.
Por fim, precisamos lembrar que a amabilidade é parte do Fruto do
Espírito e como tal não nasce naturalmente em nós, precisamos estar ligados ao
Espírito Santo e pedir que ele faça amadurecer isso em nossa vida a ponto de
tornar-se um hábito.
A pergunta que fica para nós ao final dessa lição é: como posso ser
amável com o meu próximo hoje e demonstrar Jesus com minhas atitudes?
Wright nos dá várias dicas sobre como ser amável no dia a dia, vejamos:
• A quem posso agradecer hoje em casa, no comércio ou no
trabalho?
• Onde posso dar um sorriso ou uma palavra de reconhecimento (por
exemplo, uma palavra de gratidão a alguém)?
• O que farei caso depare com alguém que precisa de algo? Posso
ajudar? Estou preparado para isso?
• A quem posso demonstrar a amabilidade do Senhor?
Lembrem-se sempre, como diz Paulo aos colossenses, façam tudo em
nome do Senhor Jesus, ..., como se a outra pessoa fosse Cristo.
A amabilidade tem a capacidade, assim como os outros atributos, de atrair
as pessoas para Cristo.

26
Bondade

Vamos falar, agora, sobre o sexto atributo do fruto do Espírito, Bondade.


Acredito que você já deve ter percebido, mas se ainda não te falo agora, que
cada atributo é um complemento dos demais que foram falados.
O primeiro atributo falado foi o Amor. Quando falamos sobre o Amor vimos
que ele precisa ser feito na prática, mas essa prática foi demonstrada apenas
quando falamos de Amabilidade, por exemplo. Assim, ao unirmos o Amor e a
Amabilidade temos a prática constante do Amor de Cristo.
Vimos que a Paz e a Alegria andam juntas e que para praticá-las é
necessário vivermos com bastante Paciência.
Hoje vamos falar sobre Bondade que nos permite agir, aqui sendo
redundante, de forma bondosa com muito Amor, Alegria, Paz, Paciência e
Amabilidade.
Percebe como não conseguimos desvencilhar um atributo do outro. Mas
uma coisa é fato, você pode ter em destaque, por exemplo, o Amor e a Paciência,
mas certamente que os outros, mesmo em “menor número”, estão presentes em
você.
Disso concluímos que podemos ter um atributo mais evidente que o outro,
mas que todos estão presentes, por isso é importante jejuarmos e orarmos para
que o Espírito Santo nos encha diariamente do seu Fruto.
Como dito acima hoje vamos falar sobre Bondade. Quando buscamos na
sua origem, isto é, no grego, vamos encontrar o seguinte: “bondade.” ἀγαθωσύνη
(AGATHOSYNE) significa retidão, bondade benéfica. Referindo a uma
beneficência ativa, assim é mais que benignidade. Trata-se também de uma
conduta reta”.
A definição acima nos ensina duas coisas básicas: 1) bondade é mais que
benignidade, mas um não exclui o outro. É necessário ter benignidade, ou
amabilidade, mas que a bondade está em um nível acima, se formos comparar
os dois e 2) a bondade se refere a uma conduta reta, isso significa que nos portar
de forma correta, mesmo que ninguém esteja olhando, é fundamental. Agir com
bondade quando todos os holofotes estão apontados para você é fácil, mas agir
com bondade quando ninguém está olhado é o que se busca.
Vamos seguir um pouco mais. A bondade, assim como a amabilidade,
muitas vezes é associada a generosidade. Como diz Wright: “pessoas boas nem
sempre se preocupam com o que é estritamente justo, mas preferem “pecar” por
excesso de generosidade e bondade”.
Um texto bíblico para ilustrar isso está em Mateus 20:15 que diz:
Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está
com inveja porque sou generoso?

27
O contexto desse texto é aquele em que o camarada sai para contratar
trabalhadores para fazer um serviço na roça dele. Ele sai às 6 da manhã e
contrata uns quatro trabalhadores.
Depois ele sai ao meio-dia e contrata mais cinco e por fim sai às três da
tarde e contrata mais dois.
Quando deu o fim do expediente o “cara” começou pagando de trás para
frente e os que chegaram cedo receberam a mesma quantia do que chegaram
mais tarde e isso os revoltou.
Isso acontece conosco o tempo todo, pois quando nos beneficia somos
os mais justos do mundo e queremos tudo correto e não agimos bem quando o
outro recebe a mesma justiça que nós, mesmo tendo feito menos.
Não vamos entrar nos pormenores do dia a dia aqui, mas no texto temos
uma expressão de bondade do dono da roça para com todos os trabalhares. Os
que foram contratados por último não têm culpa disso ter acontecido e se formos
trabalhar com justiça eles deveriam receber menos dinheiro mesmo, e acredito
que até mesmo eles devem ter pensado assim. Mas o dono decidiu ser bondoso
para com esses últimos.
O ponto central o texto acima foi a bondade do dono da roça para com
quem chegou por último. Isso nos ensina que a Bondade pode agir acima do
“justo”.
Veja que o dono da vinha não foi injusto com ninguém, pois ele pagou aos
primeiros o que era de direito, mas ele decidiu ser bondoso para com os últimos.
Isso nos ensina outra lição que ser bondoso não é ser injusto. Teríamos injustiça
se ele pagasse menos que o combinado para os primeiros. Por exemplo, se ele
combinasse pagar R$100,00 pelo dia de serviço e quem chegou primeiro
recebesse R$80,00, isso seria injustiça, mas ele simplesmente decidiu pagar
R$100,00 para todo mundo sendo, assim, justo e bondoso ao mesmo tempo.
Sobre as qualidades que existem em uma pessoa bondosa vamos ver, no
próximo parágrafo, o que diz Wright.
“Qual é então o cerne,” ou o ponto central, “da bondade? Que qualidade vemos
em alguém quando dizemos a seu respeito: “É uma pessoa verdadeiramente
boa”? Creio que um dos elementos fundamentais é a integridade, a ausência de
qualquer tipo de maldade ou engano. Uma pessoa verdadeiramente boa não tem
dissimulação. É o que parece ser. Suas palavras e comportamentos exteriores
correspondem ao que há em seu interior. Não há impostura ou fingimento.
Quando fazem o bem, não estão encenando algo para obter boa reputação ou
projeção. Pessoas boas fazem o que fazem simplesmente porque é correto. A
bondade está próxima do que significa ser puro de coração. Tem uma qualidade
transparente. Em termos mais simples, podemos contar com o fato de que a
pessoa boa cumprirá suas promessas e fará o que é correto, meramente por que
é correto.

28
Vamos resumir as palavras do Wright a seguir. Ele disse, basicamente,
que uma pessoa boa não está atrás de aplausos e reconhecimentos, ela
simplesmente age dessa forma porque é correto. Elas não fingem, elas são.
Uma pessoa boa não é dissimulada, ou em bom português, não é uma
pessoa falsa, aquelas que escondem seus verdadeiros sentimentos, mas faz o
que o parece ser bom aos olhos dos outros, querendo, de fato, o holofote.
Uma pessoa que age com bondade é, em essência, pura de coração. Não
há maldade em suas intenções e muito menos segundas intenções. É uma
pessoa íntegra e com ausência de maldade.
Com isso podemos perceber que apenas pessoas que estão ligadas ao
Espírito Santo podem agir dessa forma.
Como dito em outras partes do nosso estudo, isso não é um processo
natural, por isso precisamos ir à fonte da bondade e buscá-la dia a dia. Se você
já age assim, muito bom, continue aperfeiçoando, mas se ainda não é parte da
sua vida, comece hoje ainda a buscar isso do Espírito Santo.
Não há como falar sobre bondade e não citar o próprio Deus. Em
essência, Ele é a bondade. Perceba que todos os atributos que falamos até
agora fazem parte da essência de Deus e são revelados a nós por meio do
Espírito Santo, por isso é impossível termos essas qualidades sem estarmos
ligados diretamente à fonte.
A bondade de Deus é relatada pelo salmista em diversas oportunidades.
Louvai ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para
sempre.
Salmos 136:1
Tu és bom e fazes bem; ensina-me os teus estatutos.
Salmos 119:68

A bondade de Deus foi experimenta por Moisés quando Deus diz: “Farei
passar diante de ti toda a minha bondade”.
Dizer que Deus é bom, diz Wright, é afirmar que ele é generoso e
confiável. Nele não existe engano nem desonestidade. Como diz uma célebre
frase: “Deus é bom o tempo todo. O tempo todo Deus é bom”.
Outro exemplo de bondade, esse andando por aqui, foi Jesus. O tempo
todo vemos Jesus agindo com bondade. Ser bondoso é também agir com justiça.
Mesmo que oferecessem a Jesus o caminho mais fácil ele sempre optou pelo
que era correto. Isso é uma das características de alguém bondoso.
Antes de prosseguir vamos ver um exemplo “humano” de bondade.
Vamos ver um pouquinho sobre Daniel. Em momento algum de sua história ele
agia de outra forma senão bondosamente. Dedicava-se ao correto e mesmo

29
quando ameaçado de morrer, na cova dos leões, manteve sua atitude da mesma
forma.
Vamos caminhar um pouco mais. Como todo bom fruto, a bondade vem
de uma árvore, isso falamos lá na introdução. Só podemos dar bondade do lado
de fora se ela estiver presente do lado de dentro. A bondade, diz Wright, é algo
do coração.
Vamos dar uma olhadinha no texto de Lucas 6: 43-45:
Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto.
Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos
dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos.
O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do
mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração
fala a boca.

Do texto acima podemos constatar que só conseguimos fazer, de


verdade, as coisas do lado de fora quando elas existem do lado de dentro.
Já reparou que tudo que as pessoas fazem apenas para se aparecer uma
hora ou outra aparece a real intenção ou a verdade?
Só consegue manter a constância em atos de bondade quem a tem viva
dentro de si.
A bondade nos leva, segundo Wright, por dois caminhos:
1) Sermos bons em pensamentos, atitudes, palavras e ações; e
2) Fazermos o bem, não como idealistas, mas como praticantes do bem.
Vimos alguns exemplos sobre bondade de várias pessoas diferentes, mas
e como nós devemos nos portar no dia a dia?
Somos alertados na palavra que não somos salvos pelas obras, ou seja,
realizar bons feitos não nos dará a salvação, que é recebida por meio da fé em
Jesus. Mas ao sermos salvos devemos agir com bondade o tempo todo.
Ao agir com bondade, disse Jesus, as pessoas poderiam louvar a Deus.
Isso significa que quando agimos com bondade estamos revelando o Pai.
Agir com bondade nos leva a odiar tudo aquilo que é mau. Devemos
sempre viver de forma que possamos cuidar uns dos outros, repartindo aquilo
que temos. E não devemos, nunca, nos cansar de fazer o bem.
Vamos ver alguns textos bíblicos que nos revelam como deve ser nossa
atitude com base na bondade.
O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem.
Romanos 12:9

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E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo
sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra;
2 Coríntios 9:8

E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não
houvermos desfalecido.
Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos
domésticos da fé.
Gálatas 6:9,10

Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo,


frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus;
Colossenses 1:10

E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.


2 Tessalonicenses 3:13

As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como


convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem;
Tito 2:3

Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção,


gravidade, sinceridade,
Tito 2:7

O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar
para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.
Tito 2:14

Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes


obedeçam, e estejam preparados para toda a boa obra;
Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando
toda a mansidão para com todos os homens.
Tito 3:1,2

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Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que creem em
Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas
aos homens.
Tito 3:8

E os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras, nas coisas


necessárias, para que não sejam infrutuosos.
Tito 3:14

Perceba como todos os textos nos dizem para fazer boas obras? O
atributo da bondade é aquele que nos fará agir de forma bondosa para com todas
as pessoas, mesmo que eles caçoem da nossa forma justa e correta.
Como diz Wright: “Faça o que é bom! Faça o que é certo! E deixe as
consequências nas mãos de Deus.”
Encerro essa parte com mais uma citação do autor acima. Ele nos diz:
“A cruz é a expressão suprema da bondade de Deus, e a ressureição provou
sua vitória. A bondade vence o mal... Quando enfrentamos o mal presente no
mundo com amabilidade e bondade, não apenas produzimos o fruto sobrenatural
do Espírito de Deus em nós, mas também vivemos no poder da cruz e da
ressurreição.”

Deus é bom e requer de nós que em tudo sejamos bons.

32
Fidelidade

Estamos numa bonita caminhada até agora, sei que essa frase soou meio
brega, rsrsrs, e entender, sobretudo, praticar cada um dos atributos do fruto é
muito importante e gratificante. Praticá-los no dia a dia vai exigir de nós
fidelidade.
E nesse momento vamos falar sobre ela, nosso sétimo atributo na lista do
fruto do Espírito. Como já é de costume, e você já deve ter percebido isso, gosto
muito de falar sobre a origem e significado da palavra, mais sobre o significado
do que da origem e com a fidelidade não será diferente.
A fidelidade, do grego” πίστις (PISTIS), significa fé. O sentido é de
fidelidade a verdade, lealdade com o seu próximo, segundo Anderson Pedro de
Carvalho.
Segundo John Gill:
“Fé, embora possa significar fidelidade tanto em palavras como em ações, o que
embeleza o Evangelho, ainda assim não se pode excluir a fé em Cristo, como
geralmente é interpretado; pois essa fé não é própria do homem e nem todos a
têm; ela é um dom de Deus, uma operação de Seu poder e a obra de Seu
Espírito, por isso Ele é chamado de Espírito da fé, portanto a fé deve ter lugar
entre seus frutos. Essa fé é demonstrada quando alguém crê em Cristo para a
salvação, quando abraça as doutrinas do Evangelho e as professa, o que é
chamado de profissão de fé. Quando isso acontece é porque procede do Espírito
de Deus.”

Ao observar os escritos acima, tanto o significado da palavra quanto a


explanação feita por Gill, vamos ver que a fidelidade é uma maneira de nos
portarmos fiel o tempo inteiro não só a Deus, mas também aos nosso irmãos.
Aqui, acredito que caiba um frase, da qual gosto muito: princípios são
inegociáveis. A fidelidade, como um fruto do Espírito, quando somada a
bondade, nos permite viver de forma irrepreensível, seja à vista de todos seja no
secreto.
Como disse Gill, no finzinho da sua explanação, a fidelidade em prática
pode ser chamada de profissão de fé, isso significa que é a forma como agimos
no dia a dia. Quando mantemos a nossa vida e atitudes de forma fiel é certeza
que isso procede do Espírito Santo.
Quando pensamos em uma pessoa fiel podemos perceber que ali há
honestidade e integridade e essa pessoa é digna de confiança. Esse é aquele
tipo de pessoa que você pode entregar algo de valor e pedir para guardar que
quando voltar a coisa estará intacta.
Na vida de uma pessoa fiel não existe espaço para trapaças, joguinhos
de enganação, nada. Há somente um caráter aprovado e uma pessoa de
palavra.

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Uma pessoa confiável, segundo Wright, é alguém que passou pelo teste
do tempo e por isso não precisa ficar sendo testada continuamente.
Com isso em mente vamos caminhar um pouco mais. Quando olhamos
com muita atenção a nossa volta vamos encontrar uma pessoa que sempre se
mostrou digna de confiança e que nunca errou e nem nunca vai errar. Essa
pessoa é o próprio Deus.
Assim como Amor, Alegria, Paz, Paciência, Amabilidade e Bondade, a
Fidelidade também faz parte do caráter de Deus e isso é revelado a nós por meio
do Espírito Santo, assim é importante estarmos ligados à árvore e pedir
continuamente que Ele nos encha com seu Espírito.
Vamos ver alguns textos bíblicos que afirmam essa boa característica em
Deus.
Proclamarei o nome do Senhor. Louvem a grandeza do nosso Deus!
Ele é a Rocha, as suas obras são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos.
É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto ele é.
Deuteronômio 32:3-4
Todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade para com os que
cumprem os preceitos da sua aliança.
Salmos 25:10
Pois a palavra do Senhor é verdadeira; ele é fiel em tudo o que faz.
Salmos 33:4

A fidelidade de Deus pode ser provada, tranquilamente, quando olhamos


para o povo de Israel. Todas as promessas que Deus havia feito a Abraão foram
cumpridas integralmente.
Deus disse que cuidaria do povo quando saísse do Egito, cuidou. Disse
que daria uma terra melhor para o seu povo, deu. Eles andaram por 40 anos e
não houve desgaste de roupas e sapatos. Deus fora fiel a tudo o que disse.
Percebeu que tudo foi escrito no passado? Isso significa que atualmente
Deus não é digno de confiança, certo? Absolutamente errado.
Quando caminhamos alguns anos à frente, e põe alguns nisso, chegamos
no Novo Testamente. Jesus, os Apóstolos, as igrejas, todos, sem exceção
puderam experimentar a fidelidade de Deus.
Se caminharmos um pouco mais chegamos aos dias de hoje e, também,
poderemos provar da fidelidade de Deus. Certamente você tem algo a contar
sobre a fidelidade a Deus. Quero te convidar a parar um pouquinho agora, antes
de continuar a leitura, e começar a lembrar da fidelidade de Deus sobre a sua
vida. Em seguida anote em um papel para que você se lembre o tempo todo o
quanto Ele é bom e fiel.

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Paulo reforça a fidelidade de Deus ao escrever à igreja de Coríntios e de
Tessalônica, pois ele experimentou na pele a fidelidade de Deus.
Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso
Senhor.
1 Coríntios 1:9
Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é
fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar.
Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o
possam suportar.
1 Coríntios 10:13
Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, alma
e corpo de vocês seja conservado irrepreensível na vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo.
Aquele que os chama é fiel, e fará isso.
1 Tessalonicenses 5:23,24

É sempre bom frisar: “Deus é inteiramente digno de confiança”, por isso


não precisamos ter medo de confiar em sua fidelidade. Fomos criados,
principalmente a geração que hoje tem seus 30 anos ou menos, a ver todos os
processos de forma rápida, é o que chamamos de geração micro-ondas.
Deus sempre fará. Deus sempre fará. Deus sempre fará, tenha paciência,
pois ele é fiel e você nunca ficará na mão. Aprenda a esperar em Deus. Isso é a
melhor coisa que podemos fazer.
Lembra que Paulo diz que fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova
das coisas que não vimos. Espere, pois já aconteceu, pode não ter chegado
ainda, mas já está pronto, pois como já foi dito anteriormente, precisamente na
parte sobre a Paz, Deus é digno de confiança, logo podemos, tranquilamente,
esperar nele, pois ele é fiel.
Infelizmente nós é que não somos. Quantas e quantas vezes somos infiéis
a Deus. Quantas vezes, por pressa ou ansiedade, “traímos” Deus?
Exemplos de infidelidade na palavra temos de monte, mas vou citar
apenas um: povo de Israel. Deus lá, fiel em tudo e o povo vacilando. Foi assim
na travessia do Egito para Canaã, foi assim já instalado na terra. Foi assim a
cada juiz levantado, mas em tudo isso Deus lá se mostrando fiel o tempo inteiro.
Nossas atitudes precisam em tudo se mostrarem fiel ao que Deus requer
de nós e devemos nos esforçar ao máximo para que isso aconteça.
Viver fiel a Deus vai custar caro, momentaneamente, mas é a melhor coisa
que podemos experimentar.
Vamos observar duas pessoas: Estevão e Paulo. O primeiro, diz Lucas,
era cheio do Espírito Santo, reto em todos os caminhos, exemplo de fidelidade
ao Senhor. Quando morreu, Paulo (Saulo) estava lá, vendo tudo. Mesmo sendo
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apedrejado até a morte Estevão se mostrou fiel ao Senhor. Nunca se desviou
nem por um milímetro e pôde, ao fim da vida, experimentar o maior presente da
fidelidade a Deus, que é o céu.
Paulo, que esteve presente no homicídio de Estevão, também viveu uma
vida de fidelidade a Deus. Mesmo apanhando, tomando surra, vivendo o
naufrágio de navio e mais um monte de coisas Paulo se mostrou fiel o tempo
inteiro.
O que vemos no exemplo de Paulo, Estevão, Moisés, Pedro e tantos
outros citados na bíblia é não só a fidelidade, mas também uma lealdade. A
lealdade somada à fidelidade nos permite viver com dedicação total a Deus.
Fidelidade, diz Wright, significa saber em quem você crê de fato, quem
você ama de fato e com quem está comprometido acima de tudo. Significa saber
ao certo em função de que você deseja viver e pelo que está disposto a morrer.
Podemos resumir que a fidelidade é o que nos permite vivermos longos
relacionamentos de forma saudável. Esses relacionamentos são de todos os
tipos: amizade, trabalho, casamento, liderança, dentre outros.
Viver de forma fiel é viver uma vida em que você e eu seremos sempre
dignos de confiança e caso precise morrer por uma causa é a fidelidade e a
lealdade que nos permitirão não nos desviarmos sequer por um milímetro.
Viva de forma fiel a Deus e em todos os seus relacionamentos em todos
os momentos da sua vida.
Não podemos encerrar essa aula sem um texto bíblico muito conhecido e
poderoso que está em II Timóteo 4:7 – 8:
Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.
Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará
naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua
vinda.

Viva sempre de forma fiel tanto a Deus como ao seu próximo.

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Mansidão

Há um ditado que diz: “Manso como um ganso”, rsrsrs, mas gansos não
são tão mansos assim e o ditado é apenas uma forma irônica de dizer que a
pessoa não está mansa. E é com essa piadinha, bem ruim, que começamos
nossa conversa sobre a mansidão.
A Mansidão é o oitavo atributo do fruto do Espírito e em conjunto com a
paciência revelam nossas formas de reação às intempéries do dia a dia.
A paciência nos ensinou a suportar as coisas ruins que vêm até nós sem
nos enraivecer. A mansidão nos ensina a não reagir a essas mesmas coisas de
forma agressiva.
A mansidão nos leva a agir o tempo todo com suavidade, sem
agressividade seja ela de palavras, de gestos ou mesmo partindo para pancada.
É a mansidão que nos permite agir com calma.
No grego, segundo Anderson de Carvalho, a mansidão, πραΰτης
(PRAYTES), significa brandura, submissão dócil. Primeiramente, aponta para a
submissão à vontade divina e em segundo lugar trata-se da atitude de negação
dos seus direitos pessoais para com o próximo.
Vemos que temos duas vertentes: ser submisso à vontade de Deus e agir
de forma mansa com os demais mesmo que tenhamos o direito de explodir.
Perceba que você não renuncia a um direito, você renuncia as formas exaltadas
para recorrer ao que é seu.
Você procura resolver tudo da forma mais branda possível. Como diz em
Provérbios 15:1 a palavra branda desvia o furor. Não é porque o direito é seu
que você vai ser agressivo, mas procurará resolver tudo de forma correta e
mansa. Uma resposta branda é muito mais forte, firme e clara do que uma
resposta agressiva e gera muito mais efeito.
Gill, nos diz, complementando o que fora dito acima, que a mansidão
consiste em não pensar coisas muito elevadas sobre si mesmo, em caminhar
em humildade com Deus, reconhecendo cada favor, sendo grato por toda
bênção, dependendo de Sua graça e comportando-se com modéstia e
humildade entre os homens.
Então perceba, para concluirmos a introdução, que sermos submissos a
Deus e agir de forma pacífica e mansa em relação aos outros é o que buscamos
em relação ao fruto da Mansidão em conjunto com a Paciência.
Como dito várias vezes, e você já está craque nisso, cada atributo
complementa o outro de modo que eles não são características isoladas, mas
um conjunto que deve fazer parte de cada cristão. Então, devemos buscar
diariamente ao Espírito Santo para que nos dê o fruto dele.
A mansidão, diz Wright, se revela quando aprendo que a forma
semelhante a Cristo de reagir a conflitos e desavenças, rejeição, injustiça ou
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palavras ríspidas proferidas contra mim não é com gritaria e autodefesa, não é
com palavras ríspidas e agressivas, não é com gestos e expressões faciais
cheios de ira, não é com hostilidade e provocação. Antes, é com suavidade,
controlando a língua e mantendo a calma.
Ah, então você está falando que devo “aguentar” calado a tudo, é isso?
Não, absolutamente não, apesar de que algumas vezes isso será necessário. O
que estou querendo dizer, e os outros autores também, é que não devemos ser
grossos, mas responder com brandura às agressões feitas a nós. É entender
que não se apaga fogo com gasolina. É entender que do outro lado também
existe uma pessoa, com sentimentos, e não é porque você está com raiva ou
chateada que tem o direito de ser agressivo.
O convite da mansidão é para que você seja o tempo inteiro consciente
do que está acontecendo e ter o controle sobre suas atitudes agressivas, manter
a calma e controlar a língua. Salomão nos diz em Provérbios que controlar a
língua é atitude de pessoas sensatas, ou como aprendemos hoje, de pessoas
mansas.
Entendido isso, vamos continuar caminhando um pouco mais. Vamos
começar falando da mansidão com o ser mais manso de todos. Deus.
Deus agiu com várias pessoas no Antigo Testamente de forma terna, de
forma mansa, demonstrando toda sua paternidade. Ao ler alguns textos que
tratam do cuidado de Deus eu sinto o coração ficar quentinho, por saber que ele
é manso e nos trata com ternura.
Davi o chama de pastor que cuida muito bem das ovelhas. Hagar, quando
expulsa por Abraão foi cuidada por Deus e o chamou de El-Roi, que significa o
Deus que me vê. Há tantas e tantas histórias do cuidado de Deus para com o
povo com mansidão e ternura.
Exemplo clássico: Elias. Trancou-se na caverna e Deus poderia chegar
de voadora no pescoço dele, mas não o fez. Ele não estava no trovão, não estava
no terremoto, mas estava na brisa suave, ou com voz mansa. Deus cuidou muito
bem de Elias e fato é que em seguida ele ergueu a cabeça e voltou a agir.
Vimos Deus em momentos de contemplação, Davi, em momentos de
necessidade, Hagar, e em momentos inclusive de depressão, Elias, Deus
sempre os tratou de forma mansa, de forma terna. De uma forma que acalenta
o coração. E é isso que ele requer de nós no dia a dia. Que tratemos o nosso
próximo com mansidão, pois não sabemos como pessoa está por dentro.
Vimos um pouquinho sobre Deus, agora vejamos exemplos de Jesus. Ele
viu uma mulher samaritana recolhendo água e a tratou como? De forma mansa,
de forma terna. Quando Jesus fora preso, sempre agindo de forma mansa. Após
a ressureição, ao tratar Pedro, sempre de forma mansa. Percebe que o que cura
as pessoas não é esbravejar, mas ser manso e terno. Em todos os casos citados
acima vemos a restauração presente após uma atitude de mansidão tanto de
Deus quanto de Jesus em relação ao errante.

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Por exemplo Pedro, depois de Jesus ter subido, foi ao templo orar e
encontrou um camarada pedindo dinheiro. Pedro olhou para ele e agiu de forma
mansa e deu uma ordem: levante-se e anda e em seguida entrou com ele no
templo.
Já ficou provado por a + b que ao tratar o outro com mansidão temos a
restauração e em grande parte das situações a pessoa volta melhor. Temos mais
um exemplo, que é Paulo. Viveu na pele a mansidão após receber Jesus.
Paulo escreveu quase que a metade das cartas do novo testamento.
Fundou algumas igrejas, não só fundou como cuidou de cada uma delas.
Sempre sendo duro, porém com muita mansidão.
A nossa missão ao ler esses exemplos é a partir de hoje procurar tratar
todos as pessoas com mansidão, pois isso traz restauração. Não é para se
exaltar, não é para gritar, não é para esbofetear, não é para ser desumilde. Você
pode até ser duro, porém sempre manso e terno.
Para encerrar vamos a uma citação de Wright: Se Deus foi manso e
repleto de graça para comigo e se desejo ser tratado com mansidão quando
cometo erros, devo orar para agir desse modo com outros. Como pecador
perdoado, devo acolher outros na comunhão dos perdoados. Devo permitir que
o fruto do Espírito amadureça em minha vida e em meus relacionamentos.
Seja manso em todas as suas atitudes.

39
Domínio Próprio

Chegamos ao nosso último atributo do Fruto do Espírito, Domínio Próprio,


e como você já sabe, e eu “tô” careca de saber, literalmente, hahaha, vamos
começar com a palavra no original, na língua em que foi escrita – o grego.
Assim, Domínio Próprio - ἐγκράτεια (EGKRATEIA) - significa temperança,
autocontrole, “continência.” Souter; “domínio sobre os desejos e as paixões,
especialmente apetites sexuais” Thayer. A ideia é de uma pessoa que tem
controle nos seus desejos e paixões.
Perceba, acima, que temos temperança e autocontrole, mas vemos
também que temos algo ligado aos nossos apetites sexuais. Nossas escolhas
com relação ao nossos desejos.
Tendo isso em mente vamos ler o que Paulo escreve no versículo 19 do
capítulo 5 da carta aos Gálatas:
Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e
libertinagem;

Observe que ele começa, na primeira obra da carne, falando sobre a


imoralidade sexual. E ao olharmos o verso 21 veremos que ele encerra com
outro atributo ligado aos desejos sexuais:
e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes
já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus.

Ele abre e fecha a listagem das obras da carne com atitudes que estão
relacionadas aos nossos apetites sexuais. A pergunta que fica é: Por quê?
Antes de respondermos o porquê disso, vamos ver o que John Gill, amigo
que caminhou conosco por todas os atributos, nos diz:
temperança; ou “continência”. Esse fruto do Espírito produz tanto pureza como
sobriedade, e, mais especificamente, moderação no comer e no beber.

Gill chama o domínio próprio de temperança e nos diz que é a capacidade


de nos portarmos com pureza e sobriedade, isso significa que de alguma forma
devemos ter controle sobre nossos apetites, sejam eles quais forem.
Então perceba que Paulo ao começar e encerrar a lista das obras da carne
fala sobre nossos apetites sexuais, pois é a “coisa” que mais nos leva a cair,
porque na maioria das vezes não temos tanto controle sobre essa área. O nosso
apetite sexual nos leva a nos descuidar. A não vigiar tanto, aliás, “também somos
filhos de Deus”, é o que dizem. Enfim, Paulo enfatiza isso, pois sabe que se uma
pessoa consegue domar seu apetite sexual, seus impulsos, ele é capaz de
dominar outras áreas com mais facilidade.
Com isso, podemos concluir que Domínio Próprio é, sobretudo, controle
sobre nossos apetites, ou impulsos.

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Tendo isso em mente vamos caminhar um pouco mais. Nos outros oito
atributos falamos que todos eles, ou seja, Amor, Alegria, Paz, Paciência,
Amabilidade, Bondade, Fidelidade e Mansidão, fazem parte do caráter de Deus,
fazem parte da sua essência.
Mas quando pensamos em Domínio Próprio podemos afirmar que este é
o único atributo que não faz parte do caráter de Deus, pois Ele não possui
desejos, ou impulsos, ao pecado. Apenas nós, seres humanos, é que possuímos
isso.
Pensar em Domínio Próprio nos leva a entender que isso é algo de que
nós precisamos, mas que Deus não. O Domínio Próprio, diz Wright, é o que nos
capacita e nos dá poder para controlar nossos desejos pecaminosos.
Acredito que a essa altura já ficou claro qual a “missão” do Domínio
Próprio: permitir vencer nossos impulsos e apetites que nos levam a pecar.
Independentemente de não ser uma característica presente no caráter de
Deus precisamos do Espírito Santo para nos capacitar e permitir viver esse
atributo do Fruto do Espírito, pois sem ele não conseguiremos superar nossos
impulsos e dificuldades.
Não só Paulo, mas também Pedro bate nessa tecla. Em sua segunda
carta ele faz uma lista semelhante à de Paulo em Gálatas e ele afirma que o
Domínio Próprio é algo que devemos acrescentar a nossa fé.
Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o
conhecimento;
ao conhecimento o domínio próprio13; ao domínio próprio a perseverança; à
perseverança a piedade;
à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor.
Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em suas vidas,
elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo,
sejam inoperantes e improdutivos.
Todavia, se alguém não as tem, está cego, só vê o que está perto, esquecendo-
se da purificação dos seus antigos pecados.

Vimos que ambos os apóstolos estão alinhados aos pensamentos e


ensinamentos. Isso significa que não podemos ter uma vida nessa terra sem
Domínio Próprio. Com isso, podemos concluir que há paixões e motivações que
devem ser mantidas sob controle. E é para mantermos esse controle que
dependemos do Espírito Santo, pois nós não temos condições de fazer isso
sozinhos.
Wright diz que o pecado tem poder próprio que age em oposição a nossas
melhores intenções, foge rapidamente de nosso controle e nos arrasta consigo.

13
O termo Domínio Próprio citado por Pedro é o mesmo citado por Paulo em sua lista do Fruto do
Espírito.

41
Ele continua, Paulo conhecia muito bem o poder do pecado e da carne e sabia
que o único poder capaz de os controlar era o Espírito Santo.
Ele conclui falando o seguinte: Parte da obra do Espírito Santo dentro de
nós consiste em como ele nos capacita para que refreemos os desejos e
impulsos pecaminosos que ainda estão à espreita dentro de nós.
Domínio Próprio é esforço. É procurar submeter nossas vontades ao
domínio do Espírito Santo. É, portanto, uma escolha que fazemos.
Sobre o Domínio Próprio temos dois exemplos que podemos citar. O
primeiro de José, que está em Gênesis 39. Nessa história, como bem sabemos,
a esposa do chefe de José ficava dando em cima dele o tempo todo. Ela falava
coisas assim: “Ei, psiu, vem aqui, deita comigo”. Isso era diário, porém José
lutava diariamente, pois o convite era muito tentador.
Em um belo dia, quando não havia ninguém em casa, ela pensou é hoje
que a casa treme. Ela agarra José e ele faz o quê? Sai correndo, pois ele tinha
consciência que não podia desonrar a Deus, em primeiro lugar, e nem ao patrão
dele. José teve Domínio Próprio e fugiu. Praticou o Domínio Próprio.
O outro personagem foi o grande Rei Davi, essa história começa e II
Samuel 11.
Davi em um “belo” dia de guerra, onde deveria estar, estava em seu
terraço. Olhou para algum canto e viu uma mulher se lavando. Deu ordens aos
seus guardas e mandou buscá-la.
Perceba os contrastes. Um estava dentro e fugiu do mal. O outro estava
fora e mandou trazer o mal para dentro. Essa escolha de Davi, ou seja, com o
fato de não ter tido Domínio Próprio, resultou em muitas coisas. Traição,
homicídio, desestrutura familiar, dentre outras coisas.
Traição, pois Bate-Seba era casada. Homicídio, pois o Rei mandou matar
Urias. Desestrutura familiar, pois isso foi a brecha para destruição da família de
Davi, onde tivemos irmão matando irmão e mais outras coisas.
Não é necessário trocarmos nossa paz e renunciar ao Domínio Próprio
por um prazer momentâneo. José entendeu muito bem isso, Davi, não.
Não podemos encerrar essa parte falando apenas de apetites sexuais, ou
imoralidade sexual, pois existem outras áreas em que o Domínio Próprio precisa
ser exercido.
Devemos ter Domínio Próprio sobre nossos acessos de raiva. Sobre a
comida, aqueles irmãos que comem parecendo que o mundo vai acabar a
qualquer segundo. Você tem domínio sobre seu tempo ou vive na correria? E a
língua está igual uma metralhadora? Paulo trabalha sobre a língua na lista das
obras da carne quando cita dissensões e discórdias.
Enfim, são tantas áreas que devemos deixar sob o controle do Espírito
Santo.

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O Domínio Próprio não é algo exclusivo aos jovens, mas a todas as
pessoas. Devemos praticá-lo o tempo todo.
Paulo começa com Amor, diz Wright, que é uma qualidade que direciona
nossos pensamentos e nossas ações para fora, para outros. E termina com
Domínio Próprio, uma qualidade que direciona nossos pensamentos e ações
para dentro, para nós mesmos, com vistas ao nosso bem e ao de outros.
Vamos encerrar essa aula com a seguinte citação de John Gill:
Pode ser observado que o fruto do Espírito se opõe às obras da carne. Assim, o
amor se opõe à inimizade, o gozo se opõe às emulações e invejas; a paz se
opõe às porfias, pelejas e dissensões; a longanimidade, benignidade, bondade
e mansidão se opõem às iras e homicídios; a fé se opõe à idolatria, feitiçaria e
heresia; e a temperança se opõe ao adultério, fornicação, impureza, lascívia,
bebedices e glutonarias.

Domínio Próprio não é algo que podemos abrir mão ou deixar de lado,
mas algo essencial que nos manterá o tempo todo centrados. Praticar o Domínio
Próprio é praticar, necessariamente, a disciplina, pois ele não nos permitirá cair
em tentações que nos são oferecidas de forma diária.
Escolha hoje viver o Fruto do Espírito em sua vida e permita que a Árvore
gere o Fruto em você.

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Conclusão

Chegamos ao final do nosso estudo sobre o Fruto do Espírito. Passamos


por cada um dos seus atributos, entendendo o seu significado e o seu efeito.
Porém, entender sobre cada um dos atributos não te torna cheio deles e é
necessário buscá-los diariamente.
É a minha, e a sua, busca diária que nos farão semelhantes a Cristo.
Porém, antes de encerrar definitivamente nossos estudos precisamos
entender algumas coisas que Paulo escreve no finzinho do versículo 23, no
versículo 24 e 25 do capítulo 5 da carta aos Gálatas.
mansidão, e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que
pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os
seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.
Gálatas 5:23b - 25

Nossa diversão começa no trechinho: Contra essas coisas não há lei.


Esse trecho que parece bastante simples, e realmente é, nos diz algumas
coisas interessantes.
A primeira delas é que no grego a palavra Contra (Kata) significa “a
respeito de” ou “em relação à”.
Assim, podemos pensar nesse versículo da seguinte forma: Em relação
ao Amor, a Alegria, a Paz, a Paciência, a Amabilidade, a Bondade, a Fidelidade,
a Mansidão e ao Domínio Próprio não há lei, pois essas virtudes, ou atributos,
são relativos ao caráter de uma pessoa, logo não posso obrigar ninguém por
meio da lei a se comportar assim.
Em outras palavras, a lei aqui é irrelevante.
Pense comigo: a partir de hoje é criada uma lei para que quem não agir
com Amabilidade e Amor sejam presas. A pergunta que fica é: haverá presídios
suficientes?
Por ser uma questão de caráter, uma questão interior, é que não é
possível obrigar ninguém ter essas coisas por meio de leis.
Esse ponto corrobora com o que falamos em aulas anteriores: é somente
por meio do Espírito Santo que podemos vivenciar o Fruto do Espírito.
Com isso, podemos concluir que o fruto do Espírito, diz Wright, é uma
questão de caráter. O tipo de atitude e de comportamento que Paulo relaciona
não é decorrente das regras que observamos, mas da pessoa que somos. É um
modo de vida, continua Wright, que flui da pessoa que estamos nos tornando,
ao crescermos semelhantes a Cristo.

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Portanto não adianta termos leis e mais leis obrigando-nos a agir daquela
forma, pois é uma questão de caráter e dependentes, totalmente, do Espírito
Santo para que os atributos do Fruto do Espírito se manifestem em nós.
Para encerrar essa parte vamos a mais uma citação de Wright: “O fruto
do Espírito se desenvolve de modo conjunto dentro da vida do cristão, com
unidade, inteireza e equilíbrio. Todas as partes do fruto trabalham
coordenadamente e fortalecem umas às outras”.
Acredito que essa citação encerra o tema contra essas coisas não há lei.
Outra coisa linda encontramos no verso 24:
Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas
paixões e os seus desejos.

Sobre a carne falamos em aulas anteriores, porém vamos dar uma


relembrada. Carne significa nossa natureza pecaminosa que pode ser revelada
por nossas atitudes, pensamentos, vontades etc.
Paulo diz, no texto acima, que essas coisas foram abandonadas. Para se
referir a isso ele usa a palavra crucificaram. Isso, diz Wright, não é uma
orientação ou uma instrução, mas uma afirmação, algo que é real.
Com isso podemos ficar tranquilos, pois nunca mais teremos desejos
pecaminosos, certo? Errado. Esses desejos serão extintos quando
ressuscitarmos com Cristo. Porém enquanto estamos aqui eles estarão batendo
à porta diariamente.
Precisamos lembrar sempre que é pela graça que fomos salvos e por ela
que seremos, diariamente, ensinados.
Viver pela graça nos leva a lutarmos diariamente contra certos tipos de
atitudes.
No versículo 1 do capítulo 5 da carta aos Gálatas Paulo diz: Foi para a
liberdade que Cristo nos libertou. Portanto permaneçam firmes e não se deixem
submeter novamente a um jugo de escravidão.
Em outras palavras: fomos libertos e a luta para não voltar atrás é diária
e por isso dependemos totalmente da graça de Deus sobre nós. Somente assim
é que conseguiremos vencer nossa natureza pecaminosa.
E como tornar esse processo mais “fácil”? É sempre bom lembrar, diz
Wright, que existem lugares que não devemos ir; coisas para as quais não
devemos olhar; relacionamentos com os quais não devo brincar; palavras que
jamais devo permitir que saiam da minha boca; conversas das quais não devo
participar ou que não devo passar adiante; sentimentos que devo repreender e
reprimir; desejos que não devo satisfazer; atitudes em relação a outros que não
devo ter; dentre outras coisas que você se lembrar.
Perceba que ao lermos essas atitudes podemos pensar: mas então
preciso ir para um lugar deserto sem nada nem ninguém para viver assim?

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Claro que não, lembre-se que é a natureza humana que é perversa e não
o local. Você pode ir para qualquer lugar que ela estará com você. É por isso
que precisamos do Espírito Santo, pois é somente Ele que pode me levar a viver
uma vida pura e simples.
Lembre-se sempre: A morte da Carne é vida do Espírito, diz Calvino,
porém o contrário também é verdadeiro. A vida da Carne é a morte do Espírito.
Por isso é que devemos crucificar, diariamente, nossas paixões e desejos.
Por fim, vamos ao verso 25, que nos diz:
Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.

Que coisa mais linda é essa declaração. Quando decidimos viver pelo
Espírito também devemos andar no Espírito.
O verbo andar está no modo imperativo. Isso significa que ali temos uma
ordem.
Seria algo mais ou menos assim: Você deve viver pelo Espírito, mas não
só isso, você deve andar segundo o que o Espírito quer.
O trecho acima no original é mais ou menos assim: Uma vez que vivemos
pelo Espírito, pelo Espírito marchemos.
Viver pelo Espírito é de simples entendimento. Isso nos revela o seguinte:
Deus nos concedeu nova vida, por meio da salvação, e agora estamos
espiritualmente vivos.
E andar, ou marchar, pelo Espírito o que significa?
Aqui a melhor ilustração é com nossos caros e honrados militares. Talvez
você conheça alguém que pertence às forças armadas, exército, marinha,
aeronáutica, ou à polícia ou ao corpo de bombeiros militar. Quando estiver com
uma pessoa pertencente a uma dessas forças de segurança pergunte sobre a
marcha.
Funciona mais ou menos assim: Tem uma pessoa a frente do pelotão que
fica dando todas as ordens. Ora ele grita: direita volver! Ora ele grita: frente para
a retaguarda! Dentre outras ordens.
A pessoa que pertence ao pelotão deve, obrigatoriamente, obedecer a
todas as ordens, pois sabe e confia que o seu líder o está guiando da melhor
forma possível.
Saindo do meio militar e partindo para o Espírito Santo é ele que é o líder
do pelotão. As vezes ele vai gritar: não passa por aí! As vezes ele vai gritar: para
já com essa conversa! Ele também pode gritar: não aja dessa forma!
É uma escolha ouvir ou não, mas precisamos entender e obedecer
cegamente aos seus comandos, pois ele sabe o que está fazendo.
Andar pelo Espírito é obedecer cegamente a Ele.

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Ele disse para Amar, então devemos amar. Ele disse para sermos
Alegres, então devemos ser alegres. Ele disse para termos Paz, então devemos
ter paz. Ele disse para termos Paciência, então devemos ter paciência; Ele disse
para termos Amabilidade, então devemos ter amabilidade. Ele disse para termos
Bondade, então devemos ter bondade. Ele disse para termos Fidelidade, então
devemos ter fidelidade; Ele disse para ter Mansidão, então devemos ter
mansidão. Ele disse para ter Domínio Próprio, então devemos ter domínio
próprio.
A melhor parte é sabermos que ele não só disse para termos todas essas
coisas, ele também disse que daria a nós se o buscarmos e pedirmos isso.
Andar pelo Espírito e Viver pelo Espírito é o que o Espírito pede a nós.
Quero encerrar essa parte, e nosso estudo, com uma citação muito linda
de John Stott. Ele escreve em seu livro O discípulo radical o seguinte:
Semelhança a Cristo e a habitação do Espírito em nós.
Falei muito sobre a semelhança a Cristo, mas como é possível para nós?
Evidentemente, com nossas próprias forças, não é. No entanto, Deus nos deu
seu Espírito Santo para nos capacitar de modo que cumpramos seu propósito.
Wiliam Temple costuma ilustrar essa questão usando Shakespeare como
referência: “De nada adiante me dar uma peça como Hamlet ou Rei Lear e dizer
que devo escrever uma peça semelhante. Shakespeare era capaz de fazê-lo. Eu
não sou. E de nada adianta me mostrar a vida de Jesus e dizer que devo viver
de forma semelhante. Jesus era capaz de fazê-lo. Eu não sou. Mas se a
genialidade de Shakespeare viesse habitar dentro de mim, então eu poderia
escrever peças como as dele. E se o Espírito de Jesus viesse habitar dentro de
mim, então eu poderia viver como ele.
O propósito de Deus é nos tornar semelhantes a Cristo e, para isso, Deus nos
enche com seu Espírito Santo.

Por isso digo vivam pelo Espírito e de modo nenhum satisfarão os desejos
da Carne. Decida hoje, decida agora, a viver diariamente sob o domínio do
Espírito.
Peça isso a Deus todos os dias, faça jejuns específicos e não pare até se
tornar alguém totalmente semelhante a Jesus.
O espírito de Shakespeare nunca poderá habitar em você, mas o de
Jesus, sim. Busque-o agora mesmo e viva cheio do Espírito.
É estar ligado à Árvore que gera o fruto do Espírito.

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Referências Bibliográficas

Wright, Christopher J. H. Aprendendo a viver como Jesus: um novo olhar


sobre o fruto do Espírito. Editora Mundo Cristão
Pedra de Carvalho, Anderson. Gálatas: Comentário do Novo Testamento
Versículo por Versículo. Publicado de maneira independente por Anderson
Pedra de Carvalho pela Amazon.
Gill, John. Comentário da Epístola aos Gálatas (Exposição de Toda a Bíblia).
Editora O Estandarte de Cristo
Calvino, João. Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses (Série
Comentários Bíblicos). Editora Fiel.

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