Fim Da Lei.
Fim Da Lei.
Fim Da Lei.
Fanhões
2023
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 1
CONCLUSÃO 8
BIBLIOGRAFIA 10
WEBGRAFIA 10
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, o nosso objetivo é explorar a perspectiva de Gálatas sobre o “fim da lei”. Procuro
apresentar uma compreensão da visão paulina em relação à função e ao propósito da lei, bem
como a sua relação com a fé em Cristo.
No contexto da Epistola, Paulo defende firmemente a liberdade que os cristãos têm em Cristo
Jesus. Ele argumenta que a salvação não é alcançada por meio da observância da lei, mas pela fé
em Jesus Cristo. É nesse contexto que surge a expressão "fim da lei", que Paulo usa para enfatizar
a mudança radical que ocorreu com a vinda de Cristo.
Ao falar do "fim da lei", Paulo não está a negar a importância e a validade da lei de Deus,
concedida no Antigo Testamento. Pelo contrário, ele reconhece que a lei é santa, justa e boa
(Romanos 7:12)1. No entanto, Paulo defende que na morte e Ressurreição de Cristo, a lei
judaica, incluindo os seus rituais e práticas distintivas, cumpriram a sua função e perderam o seu
papel central na vida do cristão.
Essa mudança de perspectiva está fundamentada na obra redentora de Jesus Cristo. Paulo afirma
que é pela morte e ressurreição de Cristo que os crentes são justificados e reconciliados com Deus.
De maneira que a lei nos serviu de apoio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos
justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo do aio.(...)2 O "fim da lei",
portanto, não significa a sua anulação total, mas o fim da sua função de trazer salvação ou
justificação diante de Deus.
1
Romanos 7:12 “Assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom.”(Almeida Revista e Corrigida, 1995)
2 Gálatas 3:24-25 (Almeida Revista e Corrigida, 1995)
1
I. A EPISTOLA AOS GÁLATAS: UM RESUMO
A Epístola de S. Paulo aos Gálatas é uma das sete epístolas que, do conjunto das
catorze que aparecem atualmente no Novo Testamento, são reconhecidas tanto por
teólogos Católicos como Protestantes como da autoria autêntica e inequívoca do
Apóstolo.3
Esta carta é dirigida (às Igrejas da Galácia), embora não à Galácia como uma única
comunidade, mas sim como uma série de diferentes comunidades da mesma região e entre os
anos de 55 e 57 do século I d.C.
Contém as características formais de uma carta, que Paulo adapta aos seus objetivos, refletindo
a linguagem e conceitos das primeiras comunidades, especialmente na forma como ele apela à
sua reputação pessoal (elementos autobiográficos – capítulos um e dois), à lógica (o argumento
teórico – capítulos três e quatro), e aos ensinamentos práticos (capítulos cinco e seis), para além
de uma mistura de formas retóricas típicas do seu tempo para defender, corrigir e exortar as
Igrejas da Galácia.
Logo nos primeiros versículos, (Gálatas 1:1-2)5 podemos identificar o tom de desilusão com o
qual Paulo começa a Epístola, identificando-se como tendo sido enviado por Deus, por Jesus e
por todos aqueles que o defendem.
Na época em que esta Epístola é escrita, nem sempre se pode falar de uma distinção
absolutamente clara entre Judaísmo e Cristianismo. Apesar de ainda hoje ser venerados pelos
Judeus ortodoxos como parte da Palavra de Deus, os cinco primeiros Livros Sagrados formam o
corpus da Lei de Moisés, mas as suas regras sobre aspetos como o culto, os alimentos, e quase
todos os aspetos da vida diária da altura, foram deixando de ser seguidos, principalmente à
medida que a Doutrina de Cristo vai sendo divulgada junto das populações de ritual pagão.
Este conflito era explorado por aqueles a quem Paulo considerava como falsos
pregadores e a quem ele acusava de estarem a enganar aqueles a quem
ensinavam, mas, mais do que isso, exprimiu a sua desilusão contra aqueles que
se deixavam enganar,(Gálatas 1:8)6
Paulo clarifica que o verdadeiro Evangelho não vem apenas da aderência à Lei, mas sim pela fé
em Jesus Cristo. Ele enfatiza também que esses falsos pregadores não estão a agir tendo em vista
os melhores interesses da comunidade, mas sim os seus próprios desejos egoístas. Segundo o
aviso que ele lança na Epístola aos Gálatas 4:17.7
Tal como veremos mais adiante, o livro dos Atos dos Apóstolos, no seu capítulo 15, descreve
como o Consílio de Jerusalém foi convocado para lidar com este conflito e para determinar se ou
não os convertidos de ritual pagão necessitavam de seguir os rituais e práticas judaicas para serem
considerados como verdadeiros Cristãos, acabando por decidir que tal não era necessário.
Isto vai de encontro ao argumento de Paulo de que a Lei é incapaz de fornecer a vida plena em
Deus, reconhecendo, em Gálatas 3:218 de que a retidão poderia, realmente advir da Lei, se a Lei
desse a vida.
Paulo aos Gálatas 2:199 afirma que a própria Lei o fez morrer para ela, de forma que pudesse
viver para Deus, explicando que aquilo que ele identifica como vida é a presença de Jesus.
6 Gálatas 1:8 “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro
evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.” (Almeida
Revista corrigida, 1995)
7
Gálatas 4:17 “Eles têm zelo por vós, não como convém; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.”
(Almeida Revista Corrigida, 1995)
8
Gálatas 3:21 “Logo, a lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se fosse dada uma lei que pudesse
vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei.” (Almeida Revista e corrigida,1995)
9
Gálatas 2:19.“Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual
me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”(Almeida Revista e Corrigida,1995)
3
Ao identificar-se com Jesus, a Vida Dele fica ativa na sua pessoa. Mesmo que a Lei defina as
qualidades da vida dos Homens em Deus, a Lei não tem a capacidade de criar uma relação viva
com Deus, a qual forma o coração da espiritualidade e base para a vida piedosa. Isso pode parecer
contradizer as afirmações do Antigo Testamento que muitas vezes associam a vida verdadeira à
observância da Lei, como as do Deuteronómio e dos Salmos. Mas em Deuteronómio 30:6-2010
observa-se que o amor a Deus, seguido da obediência à Lei, é a chave da vida
Por isso, mesmo aqui a Lei testemunha que, em si mesma, a Lei não dá vida. Diante desse
ponto de concordância, para Paulo, a vida em Cristo atinge um novo e inédito nível de
qualidade.
Os ensinamentos de Paulo sobre o fim da Lei na Epístola aos Gálatas têm sido interpretados de
formas diferentes. Alguns teólogos defendem que o que Paulo diz é que a Lei foi
completamente abolida e não é importante para os Cristãos de hoje, enquanto outros sugerem
que, embora a Lei ainda seja importante para os Judeus, mas não o era para os Gentios, que
foram salvos pela fé em Cristo.
Seja qual for a interpretação, fica claro que os ensinamentos de Paulo sobre a Lei na Epístola aos
Gálatas enfatizam a centralidade da fé em Cristo para a salvação. Já em outras Epístolas Paulo
tinha declarado que a vinda de Cristo tinha posto fim à Lei de Moisés. O Apóstolo diz na carta
aos Romanos 10:4.11
A Vinda de Cristo é, portanto, a criação de uma nova Lei, ou seja, a Lei do Espírito Santo, que
traz consigo a Liberdade e a Graça, algo que fica, também, claramente estabelecido pelo Concílio
de Jerusalém, tal como descrito nos Atos dos Apóstolos.
Quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos
e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles.
Alguns, porém, da seita dos fariseus que tinham crido se levantaram, dizendo que era
mister circuncidá-los e mandar- lhes que guardassem a lei de Moisés.
Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.
E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem
sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios
ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem.
E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo,
assim como também a nós;
e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé.
Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que
nem nossos pais nem nós podemos suportar?
Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles
também.13
O Concílio pretendia que os Cristãos vindos do ritual pagão controlassem a sua liberdade nas
questões que pudessem ser mais ofensivas para os convertidos de origem Judaica, pois, para eles
a Lei já não era, ou talvez nunca tenha sido, importante.
De acordo com a visão de Paulo a Lei, por si só, não consegue salvar as pessoas do pecado nem
da morte, sendo capaz de revelar a capacidade da Humanidade para pecar, e a sua necessidade de
ter quem a salve (Jesus). O fim da Lei não será, portanto, a recusa dos mandamentos de Deus,
mas, em vez disso, um reconhecimento de que obedecer à Lei não consegue salvar ninguém, mas
que apenas a fé em Cristo pode trazer a justificação e a vida eterna. De acordo com Cerfaux,
Paulo não rejeita imediatamente a Lei de Moisés mas apenas a reinterpreta à luz da Doutrina de
Cristo. Paulo vê a Lei como um guia para o comportamento dos Cristãos, o que estaria em
contraste com algumas das primeiras interpretações dos ensinamentos de Paulo, que acham que
ele rejeita a Lei por completo, como algo de irrelevante. A abordagem de Cerfaux, por seu turno,
12
Romanos 8:2-4.(Almeida Revista e Corrigida,1995)
13 Atos 15:4-11 (Almeida Revista Corrigida 1995)
5
ajuda a preencher a lacuna entre as teologias Judaica e Cristã, realçando a continuidade entre
ambas e a importância da herança Judaica no e para o Cristianismo.
De salientar que as opiniões de Cerfaux não são universalmente aceites, continuando a ser matéria
de debate entre os estudiosos dos primórdios do Cristianismo, embora o seu trabalho tenha sido
uma importante contribuição para a contínua discussão acerca do papel da Lei na teologia Cristã.
Por seu turno, Krister Stendahl, teólogo Sueco e estudioso do Novo Testamento, conhecido
pelos seus estudos sobre o Apóstolo Paulo e as suas análises às interpretações dos textos Paulinos,
num ensaio de sua autoria, publicado em 1961, Paul and the Introspective Conscience of the
West, faz uma critica à análise feita por Santo Agostinho e, mais tarde, por Martinho Lutero,
que consideram Paulo como estando enraizado numa espécie de paralelo entre o Judaísmo e uma
forma genérica de Cristianismo, formado pela união entre as obras e a retidão.
O problema que estamos a tentar isolar poderia ser expresso em termos hermenêuticos um pouco
assim: a interpretação dos reformadores de Paulo repousa num analogismo quando as declarações
paulinas sobre Fé e Obras, Lei e Evangelho, judeus e gentios são lidas no quadro da piedade da
Idade Média tardia. A Lei, a Torah, com os seus requisitos específicos de circuncisão e restrições
alimentares torna-se um princípio geral de (legalismo) em questões religiosas.
Se agora Deus era tão bom e poderoso que poderia justificar os homens fracos e
pecadores e rebeldes, quão mais fácil deveria ser para ele dar, a seu tempo, a derradeira
salvação aqueles a quem já justificou. Assim, as palavras sobre os pecadores, os fracos
e os rebeldes não têm um significado do presente, mas referem-se ao passado, que é
gloriosa e graciosamente apagado, assim como a animosidade de Paulo por Jesus
Cristo e a sua Igreja.16
Isto significa que o judaísmo foi associado a um tipo de religião em que se espera que os
indivíduos (ganhem) o seu caminho para a salvação. Stendahl também mostrou como a
preocupação com a psique interior levou intérpretes cristãos (como Agostinho e Lutero) a ler
seus próprios problemas como se fossem problemas de Paulo.
Uma vez que os intérpretes interpretaram mal os problemas aos quais Paulo estava a responder,
eles também perderam completamente as respostas teológicas que ele forneceu. Refutando que a
justificação pela fé era a questão principal nos escritos de Paulo, Stendahl argumentou que não
era a eterna resposta teológica a um problema humano universal, mas uma resposta a uma
situação particular envolvendo a relação entre judeus e gentios.
O trabalho de Stendahl sobre Paulo ajudou a mudar o foco da erudição do Novo Testamento
para o contexto histórico e cultural, em vez de interpretação puramente teológica. Sua ênfase em
entender Paulo como uma figura histórica, em vez de puramente teológica, teve um impacto
significativo no campo dos estudos do Novo Testamento.
15
STENDHAL, Krister. Paul and the Introspective Conscience of the West, pp.7, 8. Tradução livre
16
Idem,bidem, p.11. Tradução Livre
7
CONCLUSÃO
Em resumo, pode concluir-se que o fim da Lei tal como o Apóstolo Paulo o determina na sua
Epístola aos Gálatas tem duas interpretações principais:
- A Católica, que enfatiza a obtenção da salvação por meio da fé em Jesus e pela graça de Deus,
e não pelas obras nem pela obediência à Lei, sendo a fé uma dádiva de Deus, que deve ser
recebida com humildade e abertura de espírito, Cerfaux diz; “Abraão é o primeiro dos crentes.
Preludia o sistema da justificação cristã por sua fé, que se contrapõe em antítese à justiça
derivada das obras (não as obras da Lei, mas pela obediência à fé)” 17
Cristo é considerado o Chefe da Igreja, que, por sua vez, é considerada o Corpo de
Cristo. No Catolicismo, esta é considerada uma poderosa metáfora da unidade da
Igreja e a sua dependência de Jesus como seu Guia e Orientador.18
Já a visão dos Luteranos Agostinianos segue o conceito da justificação apenas pela fé. Lutero
acreditava na interpretação feita por Paulo de que a salvação é apenas obtida pela fé em Jesus, e
não pelas boas obras ou outros meios, Kummel diz;
No entanto, o cristão Paulo foi levado a reconhecer que a lei mantém o homem
numa prisão, desperta nele paixões pecaminosas ou o induz a autojustificar-se
perante Deus. Em ambos os casos, transforma-o em escravo que tem de servir aos
elementos do mundo (Gl 3.23; 4.3-5.9; Rm 6.14s; 7.4-6; 9.31s; 10.3). A lei não foi
capaz de conceder vida ao homem, e por obras da lei nenhuma pessoa se tornará
justa perante Deus, de modo que o homem posto sob a lei apenas pode chegar ao
20
GEORG,Werner,Kummel & W.Fuchs. Síntese Teológica do novo testamento de acordo com as testemunhas
principais: Jesus,Paulo,João. p.241
9
BIBLIOGRAFIA
KUMMEL, Georg. Werner (2003 4º Edição). Síntese Teológica do novo testamento de acordo com
as testemunhas principais: Jesus,Paulo,João.(traduzido por: Sílvio Schneider, Werner Fuchs) São
Paulo: Teológica
KÜMMEL, Werner. Georg. (1973 Edição Revista e ampliada). Introduction to the New
Testament. (traduzido: Howard Clark Kee) Abingdon Press
WEBGRAFIA
STENDHAL, Krister. Paul and the Introspective Conscience of the West. Acedido em
https://static1.squarespace.com/static/569543b4bfe87360795306d6/t/5a4d41fa085229a0323
76713/1515012617149/01Stendahl.pdf
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