Aspectos Epistemológicos E Cognitivos Da Educação Ambiental E Mobilização Social em Saneamento Na Bahia
Aspectos Epistemológicos E Cognitivos Da Educação Ambiental E Mobilização Social em Saneamento Na Bahia
Aspectos Epistemológicos E Cognitivos Da Educação Ambiental E Mobilização Social em Saneamento Na Bahia
RESUMO
A questão ambiental sempre esteve presente na vida do homem influenciada por vários
modelos epistemológicos conforme os interesses político-ideológicos envolvidos. Assim, o
objetivo deste artigo é apresentar um recorte dessa trajetória e tratar o conhecimento desde
sua produção até a ação, tendo o Projeto de Educação Ambiental e Mobilização Social em
Saneamento – PEAMSS – como pano de fundo para reflexão. Trata-se de um trabalho
bibliográfico que nos permite refletir criticamente sobre os diferentes paradigmas que
permeiam a questão ambiental, tomando um pequeno recorte dos resultados de uma pesquisa
de campo para avaliação do conhecimento adquirido no PEAMSS como exemplo para essa
reflexão. Na conclusão, discute-se o conhecimento como algo que brota de uma interação
entre o sujeito e os desafios do mundo empírico e do mundo lógico.
ABSTRACT
The environmental issue has always been present in human life influenced for several
epistemological models according to the political and ideological interests involved. So, this
article's goal is to present a glimpse of this trajectory and to treat the knowledge from the
production until action, with the Environmental Education and Social Mobilization for
Sanitation Project - EESMSP - as a backdrop for reflection. It's a bibliography research paper
that enable critical reflection about different paradigms on environmental issue, taking a
clipping of the results of a field survey to assess the knowledge acquired on EESMSP, as an
example to this reflection. In conclusion, it discusses knowledge as something that comes up
from interation between the subject and challenges of the empirical world and the logical
world.
² Doutor em Educação, participa do grupo de pesquisa Gestão, Educação e Direitos Humanos – [email protected]
1 INTRODUÇÃO
Para Bacon todo arcabouço científico ou filosófico que não coubesse no método
científico, deveria ser descartado para que houvesse a renovação da ciência.
Descartes no séc. XVII, conforme Grun (2009), dá continuidade a esse processo
iniciado por Bacon ao “propor uma física matemática que deixa de ser especulativa e passa a
intervir direto na natureza” com enormes conseqüências para a nossa relação com o meio
ambiente. Interessante é como Descartes “descarta” os costumes e a cultura como meios para
determinar a veracidade de fatos, uma vez que considera que nas culturas há “tanta
divergência e discórdia quanto entre os próprios filósofos” (GRUN, 2009, p.66). E, é assim,
que ele ataca a confiança que a filosofia escolástica tem nos sentidos, pois acha que isto
constitui uma falha conceitual séria, uma vez que a crença nos sentidos conduz a erros e
interpretações equivocadas.
Com suas reflexões a respeito da existência em que é bastante o pensamento para
saber que existe, Descartes conclui que o lugar e o corpo não são necessários para a
existência. Com isso, deduzimos os efeitos devastadores e em cascata que esse pensamento
vai ter sobre o meio ambiente.
Assim, Grun (2009) nos mostra como Descartes influenciou os debates na Filosofia
Ambiental contemporânea, na Ética Ambiental, na Educação Ambiental, na distinção entre
objeto e sujeito, corpo e alma, natureza e cultura. “O corpo então é descartado junto com a
natureza, os sentidos e o bom senso”.
Com isso, o pensamento científico de Descartes calcado no antropocentrismo, abre
caminho para o desenvolvimento da técnica e da exploração do meio ambiente sem os mitos e
sem os medos do passado escolástico e cada vez mais nos afastamos da natureza, subjugando-
a a mero objeto de domínio e satisfação das nossas necessidades como se nós mesmos não a
ela pertencessemos e a episteme da questão ambiental toma então o grau dos óculos dessa
nova ordem de dominação.
Porém, enquanto uns pulverizam e fragmentam, outros aglutinam, faz as junções
naturais como Espinosa, considerado por Sawaia (2009), o precursor da ética e da educação
ambiental com base nas paixões humanas, ao oferecer a construção de um paradigma
ecológico, que conecta todas as coisas, pessoas, objetos, animais e planeta em uma só trama.
Compare-se isso hoje com o holismo e com as redes e conexões ocultas propostas por Capra
(2002).
Na visão de Espinosa, Deus e Natureza constituem uma coisa só, afirma que “a
Natureza é o ser fundante de todos os seres, é a substância que existe no interior de todos
eles” (SAWAIA, 2009, p.81). É este sentido de simbiose e de holismo que torna Espinosa tão
próximo dos problemas ecológicos contemporâneos, dai a razão de o seu pensamento ser tão
útil na fundamentação da ética na questão ambiental.
E é nesse sentido que trazemos à tona “o retorno à natureza” colocada por Hermann
(2009) através da visão de Rousseau, que indica a natureza como um “conceito filosófico
Estruturante”, o fio condutor para empreender uma reforma moral e intelectual da sociedade,
que lhe permitisse projetar a vida com liberdade e igualdade. Os influxos de seu pensamento
conforme afirma Hermann (2009), prosseguiram em vários âmbitos e ele é hoje também
reconhecido como um dos precursores do movimento ecológico, pois, mesmo sem conhecer
as consequências destrutivas que o capitalismo através do progresso e da revolução industrial
causou aos recursos naturais do planeta, contribuiu para a criação de uma nova mentalidade a
respeito de nossas relações com a natureza.
Participa também dessa nova mentalidade, Karl Marx, considerado por seus analistas
um pensador transdisciplinar e autor, conforme Loureiro (2009), de uma teoria revolucionária
que procurava a ruptura com os padrões culturais, filosóficos e científicos da época,
indispensável aos que almejam uma sociedade socialmente justa, culturalmente diversa e
ecologicamente viável, como contribuição às reflexões e práticas dos educadores ambientais.
Até a Psicanálise de Freud e Winnicott segundo Plastino (2009), influenciou a
percepção da natureza, pois a maneira segundo a qual a teoria psicanalítica concebe a natureza
externa e a natureza humana mudou significativamente ao longo da obra de Freud, e sofreu
uma profunda inflexão na obra de um dos principais autores pós-freudianos: Donald
Winnicott. No início da obra freudiana, o pano de fundo da elaboração do pensamento
psicanalítico foi a concepção que o paradigma moderno construíra sobre a Natureza,
divorciada do homem e como objeto de dominação.
Nessa perspectiva, o homem deixou de ser visto como integrado à natureza,
divorciando-se dela e mantendo apenas uma relação de oposição e dominação, assumindo
uma postura antropocêntrica, assim:
“O processo de conhecimento, finalmente, foi igualmente mutilado, fazendo
da ciência a única forma de conhecimento admissível, e o “experimento”, a
única modalidade de experiência válida como fonte de saber. Legitimada
pela fabulosa eficiência manipulatória que demonstrou no mundo da matéria,
esta perspectiva reducionista fechou radicalmente a possibilidade de pensar a
extrema complexidade da natureza e do ser humano, bem como das relações
entre ambos, deixando o homem inerme para lidar com os evidentes
processos de destruição da natureza e de autodestruição da espécie”
(PLASTINO, 2009, p.140).
Baseado nos depoimentos, todos os temas relacionados com saneamento básico foram
os mais apreendidos. Isto prova que o maior interesse da população com esse projeto era
resolver seus problemas relacionados a saneamento por isso, provavelmente, a maior
aprendizagem nessa área. O questionário contemplou, ainda, outro aspecto que denuncia este
fato: quais ações os multiplicadores pretendem desenvolver em seus municípios? As ações
citadas pelos participantes mostraram que as intenções de promover ações de conscientização
e propor ações de melhoria para a vida da população foram categorias frequentemente
evocadas pelos mesmos, o que torna mais evidente a preocupação com a utilização do
conhecimento para solução de problemas.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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In: CARVALHO, I. C. M. de; GRUN, M.; TRAJBER, R. (Orgs.), Pensar o Ambiente: bases
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Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.
MOLON, Susana Inês. Vygotsky: um pensador que transitou pela filosofia, história,
psicologia, literatura e estética. In: CARVALHO, I. C. M. de; GRUN, M.; TRAJBER, R.
(Orgs.), Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO,
2009.
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67-72 Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org>. Acesso em 28 out 2011
PERNAMBUCO, Marta Maria; SILVA, Antonio Ferreira G. da. Paulo Freire: a educação e a
transformação do mundo. In: CARVALHO, I. C. M. de; GRUN, M.; TRAJBER, R. (Orgs.),
Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.
SAWAIA, B. B. Espinosa: o precursor da ética e da educação ambiental com base nas paixões
humanas. In: CARVALHO, I. C. M. de; GRUN, M.; TRAJBER, R. (Orgs.), Pensar o
Ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.
__________. Heidegger: “salvar é deixar-se ser”. In: CARVALHO, I. C. M. de; GRUN, M.;
TRAJBER, R. (Orgs.), Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade, UNESCO, 2009b.