Modos de Vida, Experiências Trans e
Modos de Vida, Experiências Trans e
Modos de Vida, Experiências Trans e
Artigo Original
Como citar: Melo, K. M. M., & Lopes, R. E. (2023). Modos de vida, experiências trans e
enfrentamentos: considerações para a ação técnica em terapia ocupacional social. Cadernos Brasileiros de
Terapia Ocupacional, 31(spe), e3225. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO246532251
Resumo
Este artigo decorre de uma pesquisa que teve como objetivo central compreender
como pessoas trans constroem estratégias de enfrentamento às condições de
marginalização ao longo de suas histórias de vida. Para tanto, tomamos a história
oral de vida como metodologia de apreensão de dados, além de ferramentas da
etnografia, como a observação. Os dados foram organizados a partir do conceito de
modos de vida, à luz da perspectiva de Isabel Guerra, disposta em três eixos centrais:
o sistema e os atores sociais; a história e o cotidiano; o objetivo e o subjetivo na
percepção do real. Além disso, procedemos as análises por uma perspectiva
interseccional, e os resultados indicaram que as imposições do sistema sexo-gênero-
desejo operam desde as primeiras etapas da vida, numa engrenagem que articula
diversos atores e instituições sociais, como também os acessos às condições
concretas de operacionalização da vida. A forma pela qual essas imposições e limites
são percebidos media as principais estratégias de enfrentamento, que agregam a
reconfiguração da rede de suporte e a luta pelo reconhecimento, que, no caso das/os
interlocutoras/es da referida pesquisa, deu-se através da educação e dos espaços do
movimento social. A análise amparada no conceito de modos de vida ofereceu uma
potente lente para reconhecer as demandas desse grupo, apresentando-se como
possibilidade teórico-metodológica para a terapia ocupacional social.
Palavras-chave: Identidade de Gênero, Sexualidade, Terapia Ocupacional Social.
Abstract
This article stems from a doctoral dissertation whose main objective was to
understand how transgender people build strategies to cope with conditions of
marginalization throughout their life histories. To this end, the oral history of life
Recebido em Dez. 7, 2021; 1ª Revisão em Mar. 31, 2022; 2ª Revisão em Maio 5, 2022; Aceito em Jul. 11, 2022.
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso,
distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31(spe), e3225, 2023 | https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO246532251 1
Modos de vida, experiências trans e enfrentamentos: considerações para a ação técnica em terapia ocupacional social
Introdução
A pesquisa que dá origem a este artigo decorre daquilo que vem sendo debatido na
terapia ocupacional social acerca da necessidade de subsídios teóricos que possibilitem a
elaboração de uma ação técnica que leve em consideração os sujeitos individuais e
coletivos nos seus contextos de vida, os aspectos macroestruturais que os permeiam e os
recursos disponíveis para sua participação na vida social.
Diversos sujeitos e grupos vêm se compondo como destinatários das ações da terapia
ocupacional social; no cenário das múltiplas vivências em uma sociedade desigual,
marcadores sociais da diferença 1 atravessam suas experiências e determinam, em
complexas relações históricas, políticas, sociais e culturais, lugares de existência,
possibilidades de operacionalização da vida e composição dos fazeres.
Os marcadores de gênero e sexualidade — num atravessamento com outros
marcadores sociais da diferença — têm determinado lugares específicos nas dinâmicas
sociais na medida em que localizam vivências que não se constituem dentro de moldes
e normativas sociais. Nesse sentido, as margens passam a ser lugares comuns para alguns
grupos, tais como as pessoas trans.
As invisibilidades, negações e marginalizações resultantes dos discursos hegemônicos,
no interior dos sistemas normativos, produzem sujeitos cujas experiências de resistência
passam não somente pela construção de seus corpos e identidades, mas também pelas
lutas permanentes em decorrência do lugar de anormais que ocupam. Essas histórias fora
da norma produzem resistências e enfrentamentos nos cotidianos e nos percursos, que
são individuais embora repercutam coletivamente.
Portanto, o objetivo deste estudo é compreender como pessoas trans constroem
estratégias de enfrentamento às condições de marginalização que lhes são impostas no
1
Os marcadores sociais da diferença apontam para uma perspectiva que visa compreender a produção das desigualdades sociais
tomando como ponto de partida diferenças que são social, cultural e historicamente construídas (Melo et al., 2020).
nível das práticas cotidianas ao longo de suas histórias de vida. Interessa-nos conhecer
como esses cotidianos são reelaborados, como projetos de vida e fazeres são formulados
e realizados, e, sobretudo, como é possível pensar estratégias que se imponham a essas
invisibilidades e marginalizações, à negação de direitos e ao acesso à cidadania.
Para tanto, aciona-se o conceito de modos de vida como trazido pela socióloga
Guerra (1993), tomando-se três eixos estruturantes: o sistema e os atores sociais; o
cotidiano e a história; o objetivo e o subjetivo na percepção do real.
É importante compreender que, ao pautarmos a ideia de modos de vida como lente
analítica, buscamos informar a terapeutas ocupacionais sobre processos que envolvem a
construção de lugares sociais e dinâmicas para operacionalizar a vida a partir da forma
pela qual esses mesmos lugares são assimilados e/ou resistidos.
Modos de vida
Pontuar a dinamização da vida social é um dos elementos centrais para compreender
como determinados segmentos populacionais se organizam e operacionalizam suas
vidas. Trabalho, educação, lazer, acesso a bens e serviços, ou mesmo atividades
aparentemente simples, como alimentar-se, socializar, trabalhar, não estão postos de
maneira linear nos dados cursos de vida para todos os sujeitos, e algumas variáveis
influenciarão diretamente o exercício da cidadania e da vida, passando por
especificidades históricas, econômicas, políticas e sociais.
De acordo com Lobo (1992), o estudo da temática dos modos de vida teve suas
origens na teoria social, principalmente na sociologia francesa. O modo de vida adquire
“estatuto de conceito que propõe um fio condutor para a análise das práticas sociais; a
construção simultânea e articulada de relações sociais, das representações e do campo
simbólico” (Lobo, 1992, p. 13).
Retomando a história do conceito e a compreensão do que foi acionando o seu
debate, o constructo modos de vida, de acordo com Braga et al. (2017), foi sendo
mobilizado, a princípio, a partir de diferentes perspectivas em estudos marcados pela
necessidade de analisar características da passagem das sociedades pré-capitalistas para as
sociedades industrializadas.
No pensamento sociológico moderno, contudo, os estudos sobre os modos de vida
não ficam restritos às condições da classe operária fabril. Os estudos feministas, bem
como os sobre as desigualdades de gênero, por exemplo, também se tornam um campo
fértil para se pensar os modos de vida. Nessa vertente, ainda de acordo com Lobo (1992),
a temática está centrada na articulação entre práticas produtivas e reprodutivas – com
ênfase nestas, como o trabalho doméstico na construção dos lugares e tempos sociais,
abrindo espaço para a temática nos estudos sobre as famílias, mais especificamente, sobre
as trabalhadoras, conforme amplamente discutido por Nabarro (2014).
Wirth (1938), Rambaud (1969), Lefevbre (1970) e Lacascade (1981) foram alguns
dos autores que se dedicaram a discutir mais profundamente as mudanças nos modos
de vida. Isso se configura de maneira mais conceitual nas reflexões propostas por esses
autores acerca das sociedades rurais no contexto do avanço da industrialização e
consequente urbanização, sendo que o debate sobre o conceito ressurge, com certa força,
entre o fim dos anos 1970 e o início dos anos 1980.
Lobo (1992, p. 10) defende que a re-emergência dos modos de vida sintetiza sua
importância nos estudos sobre a classe trabalhadora não exclusivamente voltados para
práticas político-institucionais ou para as condições e padrões de vida e indicadores
sociais, mas enfatizando as práticas cotidianas, as tradições, a diferenciação interna das
classes trabalhadoras, suas representações, tanto quanto a internalização subjetiva de suas
condições materiais de existência. Assim “as questões colocadas apontam para formas de
construção dos modos de vida não como estratégias definidas, mas como hábitos e
práticas que permeiam os campos sociais”.
O estudo dos modos de vida é fértil para se compreender práticas de resistência, uma
vez que essa concepção aponta para preocupações voltadas aos aspectos microssociais,
ou seja, aqueles que buscam explicações a partir da agência dos sujeitos (Lobo, 1992),
ao mesmo tempo em que pode ser utilizado para identificar heterogeneidades numa
sociedade complexa (Velho & Viveiros de Castro, 1978). Portanto, os modos de vida
têm sido construídos e representados sempre numa dimensão coletiva (Monteiro et al.,
2019), cuja formação envolve um conjunto de códigos pelos quais o grupo que os
vivencia assegura a sua existência e a sua continuidade.
La Blache (1954) demonstra que o modo de vida envolve um conjunto de
características e traços que singularizam os atores sociais, incluindo técnicas e padrões
culturais semelhantes em vários contextos. Nesse sentido, Guerra (1993), discute que ao
analisar os modos de vida:
devem-se levar em conta três dimensões, que geralmente são pouco utilizadas:
o sistema e os atores sociais; a história e o cotidiano; e o objetivo e o subjetivo
na percepção do real. Essas três dimensões deveriam ser articuladas de modo
a combinar a força da estrutura com a possibilidade de ação dos indivíduos, o
nível da vida cotidiana articulado com o econômico, o político, o cultural,
bem como as redes de poder estabelecidas nas articulações entre as diferentes
esferas do social (Guerra, 1993, p. 62).
visão de pureza que delineia o social, mas, antes, o que perturba a identidade, o sistema,
a ordem (Miskolci, 2015), e, para efeito de biopolítica, fica relegado ao não
reconhecimento nas esferas da cidadania e, muitas vezes, do humano.
É daqui que refletimos sobre os modos de vida nas experiências trans. Falar dessas
experiências nos convida a pensar sobre o lugar do corpo nas práticas sociais, sobre como
os códigos a ele implicados operam no lugar social dos indivíduos que carregam neles as
marcas da diferença e, principalmente, sobre como essa diferença produz desigualdades
sociais. Nesse sentido, toma-se o corpo trans como uma produção sócio-histórica,
cultural e política, em construção permanente e maleável.
As práticas que envolvem a transformação dos corpos de pessoas trans, as relações
familiares e com o mercado de trabalho, os espaços de circulação, inserção e permanência
– como no caso da educação formal, as formas de sociabilidade e as diversas formas de
violência vivenciadas por esses sujeitos trazem à cena mais do que a necessidade de
compreender a maneira pela qual as dissidências de gênero interferem na dimensão
prática da vida, ou a evidência da necessidade de ampliação de acesso a direitos, elas nos
informam sobre outros modos de viver, fora dos marcos normativos, exigindo a
elaboração e reelaboração constante de estratégias de enfrentamento.
Método
Os dados apreendidos para a elaboração das análises que se seguem tomaram a
história oral de vida e algumas técnicas de observação etnográfica como estratégias
metodológicas. Essa elaboração foi categorizada pelos três eixos propostos por Guerra
(1993): o sistema e os atores sociais; o cotidiano e a história; o objetivo e o subjetivo na
percepção do real.
Os objetivos da pesquisa da qual decorre este texto justificam as escolhas
metodológicas feitas, uma vez que a história oral de vida permite acessar um conjunto
da experiência de vida de uma pessoa, que encadeia sua história, segundo a sua vontade,
sendo soberana para revelar ou ocultar casos, situações e pessoas (Meihy, 1996). O
depoente é considerado o sujeito primordial, tem a liberdade para dissertar sobre a sua
experiência pessoal e participa em todo o processo.
A história oral é um instrumento privilegiado por recuperar memórias e resgatar
experiências de histórias vividas, trabalhando com o testemunho oral de indivíduos
ligados por traços comuns. Como consequência, a história oral produz fontes de
consulta para estudos que podem ser reunidas em um acervo aberto a pesquisadores.
Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias
profissionais e momentos à luz de depoimentos de pessoas que deles participaram
(Cappelle et al., 2010).
O método possibilita o acesso à forma pela qual os/as interlocutores/as de pesquisas
enxergam suas experiências no tempo; através da narrativa de uma história de vida,
delineiam-se as relações com os membros de seu grupo, sua profissão, sua camada social,
da sociedade global, que cabe ao pesquisador desvendar (Lang, 1996). Ao mesmo tempo,
tendo em vista os objetivos da pesquisa e os propósitos da história oral, elencou-se ainda
a observação, técnica oriunda do método etnográfico, como ferramenta para apreensão
de dados.
Assim, a apreensão dos dados passou pela gravação das entrevistas, transcrição,
transcriação (Caldas, 1999) e composição textual junto aos/às interlocutores/as, além da
sistematização dos diários de campo referentes à observação. Os dados apresentados
foram acessados e construídos entre fevereiro de 2017 e fevereiro de 2019, de maneira
mais sistemática, mas o contato com os/as interlocutores/as se estendeu até 2021.
A pesquisa teve como parâmetros os pressupostos éticos sugeridos por Cappelle et al.
(2010), ao afirmarem que a produção e o tratamento dos dados devem ser seguidos da
revisão e aprovação dos/as interlocutores/as. De acordo com esses autores, também deve-
se preservar suas identidades, o que foi igualmente seguido na construção deste texto.
Cidade de Atividade
Nome Identificação* Idade Escolaridade Estado civil
moradia central
Prostituição e
São Paulo - Ensino médio
Bianca Travesti 32 anos movimento Solteira
SP completo
social
Ensino superior
completo (duas
Mulher São Paulo -
Marcela 29 anos Contadora graduações: Casada
transexual SP
Economia e
Contabilidade)
Cidade do
Mulher Ensino médio
Talita 19 anos interior Prostituição Solteira
transexual incompleto
paulista
Cidade do Professor da rede Pós-graduação
Homem trans
Dan 28 anos interior municipal de completa Solteiro
não-binário
paulista ensino (doutorado)
Cidade do Professor da rede Ensino superior
Solteiro
Tiago Homem trans 28 anos interior municipal de completo
(namorando)
paulista ensino (Geografia)
*
As identidades aqui apresentadas são autoatribuídas. Travesti, transexual, não-binário, homem trans e mulher
trans compõem, para fins deste texto, um espectro do termo guarda-chuva pessoas trans. É importante dizer que
não vamos nos ater à discussão que elenca as diferenças entre os termos, uma vez que elas passam muito mais por
2
As histórias narradas podem ser acessadas integralmente no capítulo “As Histórias” da tese “Entre rupturas e permanências:
modos de vida e estratégias de enfrentamento à vida nas margens no cotidiano de pessoas trans”, da qual decorre este artigo
(Melo, 2020).
uma construção permeada por disputas dos saberes “Psi”, dos aparatos jurídicos e linguísticos — entre outros —
e que não respondem aos objetivos deste texto.
Discussão
Como previamente mencionado, as análises foram divididas em três categorias de
acordo com as variáveis dos modos de vida, como proposto por Guerra (1993): 1) O
sistema e os atores sociais; 2) O cotidiano e a história; 3) O objetivo e o subjetivo na
percepção do real.
Essas variáveis não são dissociadas umas das outras e só fazem sentido,
conceitualmente, se articuladas entre si, considerando as macro e micro dimensões da
vida social. A opção pela segmentação dessas variáveis ocorreu unicamente visando a
análise dos dados.
Um dia eu saí com a minha mãe, eu nem me lembro pra onde fomos... Acho que
comprar alguma coisa... Eu tinha uns 7 ou 8 anos. (...) tinha uma menina com
uma boneca que eu achava linda, já tinha visto na televisão, mas nunca tinha
visto tão de perto, e eu me aproximei dela e começamos a brincar... Ela não tava
incomodada, sabe, mas o pai dela veio que nem o louco, arrancou a boneca da
minha mão com uma cara bem feia, e tirou a menina de perto de mim. Eu fiquei
envergonhada demais, mas a pior parte foi quando a minha mãe me olhou, e
começou a brigar comigo, dizendo que eu tinha que querer brincar de outras coisas,
me bateu... (Bianca, 24/06/2018).
Bianca, assim como todos/as os/as demais interlocutores/as, narra situações vivenciadas
na infância em que aspectos ligados às expectativas sociais acerca da construção das
identidades generificadas foram marcadas pelo que Lorena (2018) chama de postura
transitória e desviada em relação às imposições do sistema sexo-gênero-desejo. Se o
sistema sexo-gênero-desejo mobiliza suas engrenagens ao longo de diversos momentos
do curso de vida dos sujeitos, é na infância que ele opera de maneira mais estruturante,
considerando-se as instituições sociais que os tutelam e assumem o controle e o
policiamento da norma (César, 2008). Lorena (2018) pontua, ainda, que as infâncias
trans — que em uma atitude de recusa às masculinidades e feminilidades que lhe são
impostas como naturais e únicas passíveis de reconhecimento — constroem outros
modos de viver, lidos socialmente como desviantes e minoritários.
Nossos/as interlocutores/as narraram experiências nas quais o sistema sexo-gênero-
desejo, no atravessamento com outros marcadores sociais da diferença, opera no sentido
de construir sujeitos a partir de normativas que determinam comportamentos aceitáveis,
escolhas esperadas, condutas, gostos/afinidades previamente determinadas e todo um
repertório que envolve os modos de viver nos espaços públicos e privados e,
consequentemente, as formas pelas quais os sujeitos elaboram seus enfrentamentos.
É por meio das tecnologias de gênero (Moutinho, 2014) que se impõem as
proposições e normativas do sistema sexo-gênero-desejo, acionadas através dos atores e
instituições sociais que atravessam as mais diversas práticas e espaços acessados e
apreendidas pelos sujeitos no âmbito do cotidiano, exigindo que eles elaborem
estratégias de existência em meio ao contexto que os permeia.
Ao demonstrar interesse por um brinquedo que, de acordo com os pressupostos da
heteronormatividade, deveria ser utilizado apenas nas práticas de sociabilidade de
meninas, Bianca acaba por desafiar o pai da menina com quem estava dividindo o
brinquedo, que a interpela e constrange autorizado pelo discurso implicitamente
naturalizado de que “boneca não é coisa de menino”, tornando ilegítimo seu interesse
por ela.
O brinquedo, nesse contexto, é um elemento-chave de uma complexa rede de
pressuposições estruturantes de expectativas não somente da mãe de Bianca, que
também a reprime, mas do pai da menina, de modo a ser compreendida como uma
sofisticada tecnologia de gênero 3 que opera no interior do sistema sexo-gênero-desejo,
na medida em que constrói práticas e discursos, e que “acabam por antecipar o efeito
que se supunha causa” (Bento, 2011, p. 549), de maneira que seus usos são anteriores
ao próprio sujeito (Lauretis, 1994).
A ilegitimidade do uso da boneca por Bianca autoriza o pai da menina a tratá-la de
maneira hostil e é também o elemento reforçador da resposta dada por sua mãe. Na
sequência, Bianca comenta:
3
Ver mais e na íntegra em Lauretis (1989).
Se até a minha mãe me bateu por causa disso, o que eu ia esperar das pessoas na
rua? Foi assim a vida inteira. (Bianca).
Uma vez, numa briga com os meninos da minha sala, uma colega veio me
defender, dizendo ‘A tia disse que ela é doentinha’. Alguns meninos pararam,
outros continuaram... (Marcela).
Essa recordação compartilhada nos ajuda a apreender como Marcela era lida e construída
pela professora para seus colegas de classe e, para tanto, acionamos a proposição de
Carvalho (2011) quando afirma que olhar a partir dos marcos patologizantes retira a
carga moral sobre as transgressões do sistema sexo-gênero-desejo; no entanto,
Se por um lado a escola vai se impondo nessa cena como um lugar regulatório das
normas, essa leitura possibilitava que algumas crianças não mais importunassem
Marcela, e ainda “a defendessem” (como no caso da menina da situação mencionada
acima), visto que, tomando-se o pressuposto patologizante, já não se tratava de um
desvio de ordem moral, colocando sua experiência no campo da inteligibilidade ao tratá-
la como um menino doente, uma vez que desestabilizava as concepções normativas
construídas por meio do aparato do sistema sexo-gênero-desejo.
Eu não ligava não... Pelo menos assim algumas crianças não me infernizavam...
Algumas... (risos). (Marcela).
A mobilização desse discurso acaba relegando um lugar mais protegido no campo das
relações escolares na experiência de Marcela, o que não se percebe no repertório de
possibilidades de proteção na experiência de Bianca.
A igreja evangélica foi a instituição que se destacou em boa parte das vivências de
sociabilidades e construção de significados na experiência de Dan. Dan descobriu sua
homossexualidade no início da adolescência, sendo que a imposição da
heteronormatividade tornou-se evidente quando ele se envolveu com a filha do pastor.
Tomando essa instituição, assim como a escola nas experiências de Marcela e Bianca,
como potencial reguladora dos códigos morais que visam à manutenção do sistema sexo-
gênero-desejo, o discurso acerca da família tradicional tem um papel decisivo,
especialmente a partir daquilo que se convencionou chamar de fundamentalismo cristão.
Para interditar e normalizar sexualidades, o discurso religioso fundamentalista precisa se
articular estrategicamente a outros discursos, estender seus domínios na instituição
familiar, na medida em que funda um padrão de família permeado por um determinado
sistema de valores.
As igrejas, como instância de vigilância e lócus enunciativo, nesse contexto, tornam-
se o campo discursivo de ação no que diz respeito ao confronto de moralidades em
relação aos gêneros e às sexualidades; na experiência de Dan, foi espaço de diversas
violências. No âmbito da vida prática, essas violências resultaram na perda de um
importante espaço de sociabilidade e de um lugar de liderança e, portanto, da
participação em atividades significativas, na deslegitimação da expressão do seu desejo
afetivo e sexual, na vergonha da mãe, na culpa, no conflito entre aquilo que Dan sentia
e aquilo que lhe era cobrado, entre outras perdas. A expulsão da igreja e o subsequente
emprego que lhe foi conseguido como um castigo, tornaram-se sua “carta de alforria”.
Ele buscou constituir novas práticas de sociabilidade ao mesmo tempo em que se
dispunha a conhecer aquele universo que foi atribuído à sua transgressão: baladas, festas,
bebidas e circuitos de “pegação”, enfrentando as práticas excludentes com a construção
de novas sociabilidades, espaços de circulação e de um novo repertório na multiplicidade
de experiências tomadas como positivas em torno daquilo que lhe era negativado pelos
códigos morais da igreja que frequentava. Dan aponta a educação (nessa experiência,
localizada com sua entrada em um cursinho pré-vestibular e posterior aprovação em um
curso de graduação localizado em um campus fora de sua cidade natal) como elemento
de rompimento com os pressupostos daquilo que o fazia compreender-se como diferente
e, logo, inadequado.
É importante destacar que o enfrentamento produzido pelos/as interlocutores/as
desta pesquisa não se dirige especificamente ao sistema que produz a violência sofrida,
mas às suas consequências, criando ferramentas de resistência para compor corpos e
experiências de masculinidade e feminilidade, em contraposição às identidades de
gênero previamente estabelecidas pelo aparato biológico.
O cotidiano e a história
Uma situação vivenciada no campo desta pesquisa, que envolvia o atraso para um
dos encontros para a entrevista em decorrência da mudança de rota e a necessidade de
acompanhar Bianca para chegar até o lugar combinado, surge como mote para pensar
as questões referentes ao cotidiano de negociações de pessoas trans para circulação no
espaço público. Essa situação denunciava um dos aspectos mais relevantes do cotidiano
de travestis e mulheres trans que se prostituem: a violência e a sua naturalização por
parte da sociedade em geral (Peres, 2005).
É no cotidiano que a experiência da abjeção é vivida de maneira concreta, resultando
em práticas de violência de diferentes níveis (Pelucio, 2007), de modo que é no interior
do cotidiano que as ideias, valores, concepções e criações são apreendidas (Galheigo,
2020), compondo o tecido social que possibilita as diferentes formas de desenvolver
práticas e conduzir as dinâmicas da vida.
Silva et al. (2016) apontam a violência cotidiana enfrentada por travestis e mulheres
trans que se prostituem como naturalizada no imaginário social; Pelucio (2007, p. 79)
afirma que “as situações de violência podem vir tanto dos clientes, como da polícia e,
não raro, de pessoas de seu grupo de convivência”, ao pontuar o recorte específico de
pessoas trans que se prostituem, grupo do qual Bianca faz parte. Fora dos circuitos de
prostituição, isso se confirma através dos dados sobre a violência que esse público
enfrenta no Brasil (Carrara & Vianna, 2004): 10% dos sujeitos entrevistados sentem
ódio e aversão por pessoas trans, sendo maior a parcela confessada por homens.
Nesse contexto, medo, necessidade de proteção e sobrevivência são palavras
frequentes nas narrativas acerca dos cotidianos de todos/as os/as interlocutores/as deste
estudo. Quando Bianca precisa esperar por uma amiga para ir a um compromisso por
“medo de ser espancada novamente”, associa-se esse fato a inúmeras variáveis, entre elas,
o horário que estava saindo de casa e o espaço que acessaria. Assim, deparamo-nos com
elementos para pontuar a violência como ponto de partida para a reelaboração das
estratégias de mobilidade, acionando duas categorias que nos ajudam a pensar os
cotidianos e a construção de estratégias frente a essas experiências: o deslocamento
espacial e os horários de circulação.
Esse deslocamento espacial não é aquele debatido por Osborne (2004), Emakunde
(2001), Pelucio (2007) e Askabide (2006), que se refere à rotatividade, diretamente
ligada à prostituição enquanto atividade laboral, nem aquele debatido por Piscitelli
(2009) e Mayorga (2011) quando discutem sobre questões relativas ao trânsito, à
circulação e à imigração de mulheres para prostituição, tomando a categoria
deslocamento, dentre outras leituras, como uma estratégia de acesso à oportunidades
econômicas e sociais em outros lugares que não os de origem (Rodrigues, 2016). O
deslocamento espacial, aqui, diz respeito às possibilidades de mobilidade na cidade para
além das atividades de prostituição, enquanto elemento integrante de um conjunto de
práticas que envolvem a manutenção da vida, que setorna ponto central nas narrativas
sobre cotidianos das pessoas trans que foram nossas interlocutoras, especialmente as de
baixa renda.
A negociação dos deslocamentos se relaciona diretamente com as demarcações dos
espaços urbanos nas dinâmicas intrínsecas da cidade que, nesse contexto, surge como
um cenário cheio de antagonismos e conflitos, onde as pessoas se deslocam em suas
superfícies lotadas de conteúdos culturais que, por sua vez, oferecem sentidos e normas
que funcionam como substrato para as interações. Essas interações são mediadas pelas
relações de poder que, nesse âmbito, expressam-se por meio da heteronormatividade
(Pelucio, 2007), mas não somente. Na experiência de Talita, acessar o espaço público
durante o dia implica diretamente encarar alguns constrangimentos:
(...) eu pego ônibus pra onde eu tiver que ir. Eu tenho mais medo de pegar Uber
do que de pegar ônibus, já sofri preconceito de um motorista, e fiquei morrendo de
medo de ele fazer uma graça comigo, (...). Quando você tem dinheiro, você
também pode comprar umas roupas mais bonitas, arrumar o cabelo, aí as pessoas
veem e falam: é trava, mas é limpinha. (...). Mas aí se você é pobre, a história é
outra: banco, fila, lugar que vai o povão... O povão é mais mal educado que o
povo estudado... Eles te excluem também, mas é de outro jeito. (Talita,
29/05/2018).
Ter acesso a alguns recursos, especialmente os materiais, oferece ferramentas para que
as situações de preconceito sejam enfrentadas, sem perder de vista que, conforme
Oliveira (2019), ‘passar por’ é um resultado da interação, da contextualidade e,
especialmente, de quem faz parte das relações e situações contingentes que envolvem os
interlocutores. Dito de outra forma, Talita, que possui poucos recursos financeiros,
baixo grau de escolaridade e pouco amparo das políticas sociais, conta com poucas
ferramentas para enfrentar as poucas possibilidades de mobilidade espacial.
É comum que se relacione a realidade social das travestis à pobreza, ao tráfico e às
favelas (Carrara & Vianna, 2004). Assim como é possível sugerir que entre as travestis
há “predominância de negros e pardos, indicativo de seu pertencimento aos extratos
mais pobres da sociedade brasileira” (p. 235). É preciso que se estabeleçam essas relações
para considerar os níveis de exclusão social, econômica e cultural a que estão submetidas
as travestis, visto que muito do que se considera parte do projeto travesti pode ser
pensado “em termos de padrões socioeconômicos mais abrangentes de desigualdade”
(Kulíck, 1998, p. 61). Esse quadro sugere que a realidade social onde é produzida a
identidade travesti e a sua própria reprodução enquanto identidade coletiva é fruto, entre
outras coisas, das condições materiais de vida e da sua inserção numa classe social
específica. Não estamos dizendo que a identidade travesti é generalizadamente um
produto da pobreza, ou que a pobreza define essa identidade de gênero. Mas é possível
dizer que entre todas as determinações que refletem na construção das identidades
culturais dos sujeitos, a classe social — e, portanto, o contexto socioeconômico — é
também central (Ferreira, 2014). Essa centralidade marca, entre outras, uma ferramenta
importante para as possibilidades de enfrentamento no cotidiano: a passabilidade 4.
Relacionando a passabilidade com a classe, nas estratégias de mobilidade, a história
de Marcela, que diferentemente de Talita, classifica-se como mulher transexual, branca
e de classe média, oferece-nos outras experiências para apreender os recursos disponíveis
para seu enfrentamento.
Marcela dispõe de recursos financeiros que lhe permitem construir-se numa estética
que minimiza o impacto das negativas em torno das práticas de circulação. Entre bolsas
de marca, cabelos arrumados, unhas e sobrancelhas bem feitas e um rico vocabulário,
Marcela garante condições de circulação em espaços “onde as pessoas são mais bem
instruídas”.
O capital cultural e econômico de Marcela delineia práticas e espaços de circulação
mais protegidos. Isso não implica dizer que Marcela só circula em ambientes onde sua
identidade de gênero é respeitada, dado o grau de instrução das pessoas que compõem
4
Termo êmico utilizado para expressar a capacidade de “passar por” uma dada identidade de gênero correspondente àquela
atribuída pelo sexo biológico. Sugere-se ver mais em Duque (2017).
esses espaços; ela também vai ao banco, ao supermercado e a salões de beleza, mas a
escolha desses lugares e a forma como são acessados garantem menor exposição a
situações de constrangimento, ainda que ela acione, em determinadas circunstâncias, a
presença do marido para facilitar essa circulação.
Tiago não lança mão dessa estratégia para transitar nos espaços públicos. A estratégia
que ele utiliza é a reconfiguração desses espaços nas suas dinâmicas cotidianas. A
reelaboração dos circuitos acessados e a reconfiguração dos espaços de pertencimento
ganham corpo e força em sua história de vida, especialmente após seu processo de
transição identitária. Tiago afirma:
Eu não saio muito. Minha vida se resume ao trabalho. (...) Minha sociabilidade
hoje é muito restrita. (...) Quando preciso, saio, enfrento a vida, mas perto de como
é constituída a minha rotina, essas coisas são pequenas, porque acontecem com
muito pouca frequência. (Tiago, 21/11/2017).
percebidas que Bianca, por exemplo, integrante ativa do movimento social, constrói
ferramentas para essa operacionalização tanto na dimensão concreta da vida, quanto na
subjetiva.
Os espaços do movimento social para alguns dos/as nossos/as interlocutores/as foram
fundamentais pra que tomassem consciência de sua realidade, como estratégia de
enfrentamento a ela. Na história de Bianca, o movimento social se compõe como o lócus
onde é possível denunciar o cenário de violência e discriminação no qual ela e outras
pessoas trans vivem, em resposta às imposições do sistema sexo-gênero-desejo e às
consequentes práticas que ele acaba por não somente anunciar, como produzir.
O sistema te diz que você tem que aceitar esse lugar [da humilhação] e funcionar
nessa invisibilidade pra não criar problemas nem pra você nem pra ninguém. Aí
vem um espaço desses que o movimento social organiza, marcha, luta... Meus olhos
brilharam... (...) ali foi muito marcante pra mim... Foi a vida dizendo: O mundo
é injusto e você não tem que aceitar! (Bianca, 24/06/2018).
Aí você quer ir num lugar e não pode, você quer um emprego decente e não te
aceitam, você quer fazer coisas simples e não pode. Eu acho bem injusto isso! Eu
sei que eu sou diferente, e as pessoas não aceitam, mas eu não posso fazer nada a
respeito disso isso, e eu tenho direito de ser quem eu sou! (Talita, 03/04/2018)
Eu gosto de estar nesses espaços de formação política, mas não me vejo como uma
figura que tem força pra estar no movimento social organizado. Sou macho, mas
antes fui mulher, viu! [risos] (...) eu acho que essas pessoas que dão a cara devem
sofrer muito mais... (Tiago, 03/12/2019).
Sou muito discreta, eu não gosto dessa coisa de vincularem o fato de eu ser uma
mulher transexual à prostituição ou ao barraco, à falta de educação. (Marcela,
20/05/2018).
Referências
Askabide, A. (2006). Violéncia de género y prostitución: la violência de género contra el colectivo de mujeres
que ejercen la prostitución. Bilbao: Ediciones Mensajero.
Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia
Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103.
Bento, B. (2011). Na escola se aprende que a diferença faz a diferença. Revista Estudos Feministas, 19(2), 549-559.
Bento, B. (2014). Nome social para pessoas trans: cidadania precária e gambiarra legal. Contemporânea,
4(1), 165-182.
Braga, G. B., Fiúza, A. L. C., & Remoaldo, P. C. A. (2017). O conceito de modo de vida: entre
traduções, definições e discussões. Sociologias, 19(45), 370-396.
Braz, C. (2019). Vidas que esperam? Itinerários do acesso a serviços de saúde para homens trans no Brasil
e na Argentina. Cadernos de Saude Publica, 35(4), 1-13.
Butler, J. (2003). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Caldas, F. L. (1999). A cidade dos excluídos: um projeto em história oral. Caderno de Criação, 6(20), 1-15.
Cappelle, M. C. A., Borges, C. L. P., & Miranda, A. R. A. (2010). Um exemplo do uso da história oral
como técnica complementar de pesquisa em Administração. In Anais VI Encontro de Estudos
Organizacionaisda Anpad – EnEO, 2010. Rio de Janeiro: Anpad.
Carrara, S., & Vianna, A. (2004). As vítimas do desejo: Os tribunais cariocas e a homossexualidade nos
anos 1980. In A. Piscitelli, M. F. Gregori & S. Carrara (Orgs.), Sexualidade e saberes: convenções e
fronteiras (pp. 365-383). Rio de Janeiro: Garamond Universitária.
Carvalho, M. F. L. (2011). Que mulher é essa? Identidade, política e saúde no movimento de travestis e
transexuais (Dissertação de mestrado). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Carvalho, M. F. L. (2015). “Muito prazer, eu existo!”: Visibilidade e reconhecimento no ativismo de pessoas
trans no Brasil (Tese de doutorado). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
César, M. R. A. (2008). A invenção da adolescência no discurso psicopedagógico. São Paulo: Editora UNESP.
Duque, T. (2017). “A gente sempre tem coragem”: identificação, reconhecimento e as experiências de
(não) passar por homem e/ou mulher. Cadernos Pagu, (51), e175110
Emakunde. (2001). La prostitución ejercida por mujeres en la C.A.E. Vitoria-Gasteiz: Gráficas Santamaria.
Ferreira, G. G. (2014). Travestis e prisões: A experiência social e a materialidade do sexo e do gênero sob o
luso-fusco do cárcere (Dissertação de mestrado). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre.
Foucault, M. (1988). História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal.
Foucault, M. (1993). Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal.
Fraser, N. (2003). A justiça social na globalização: Redistribuição, reconhecimento e participação. Revista
Critica de Ciencias Sociais, 63, 7-20.
Galheigo, S. M. (2020). Terapia ocupacional, cotidiano e a tessitura da vida: aportes teórico-conceituais
para a construção de perspectivas críticas e emancipatórias. Cadernos Brasileiros de Terapia
Ocupacional, 28(1), 5-25.
Goellner, S. V. (2005). Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Revista Brasileira de
Educação Física e Esporte, 19(2), 143-151.
Guerra, I. (1993). Modos de vida: novos percursos e novos conceitos. Sociologia - Problemas e Práticas, (13), 59-74.
Kulíck, D. (1998). Travesti: sex, gender and culture among brazilian transgendere. Prostitutes. Chicago:
University of Chicago Press.
La Blache, V. (1954). Princípios de geografia humana. Lisboa: Cosmos.
Lacascade, J. L. (1981). Reemergences actuelles du thème modes de vie. Approches Sociologiques des Modes
de vie: débats en cours, (1), 147-204.
Lang, A. B. S. (1996). História oral: Muitas dúvidas, poucas certezas e uma proposta. In J. C. S. Meihy
(Org.), (Re)Introduzindo a história oral no Brasil (pp. 35-61). São Paulo: Xamã.
Lauretis, T. (1989).Technologies of gender. Bloomington: Indiana University Press.
Lauretis, T. (1994). A tecnologia do gênero. In H. B. Hollanda (Org.), Tendências e impasses: o feminismo
como crítica da cultura (pp. 206-242). Rio de Janeiro: Rocco.
Lefevbre, H. (1970). La revolution urbaine. Paris: Gallimard.
Leontiev, A. (1978). O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo: Centauro.
Lobo, E. S. (1992). Caminhos da sociologia no Brasil: modos de vida e experiência. Tempo Social, 4(1/2), 7-15.
Lopes, R. E. (2016). Cidadania, direitos e terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.),
Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 29-48). São Carlos: EdUFSCar.
Lorena, J. P. (2018). Infâncias Queer nos entrelugares de um currículo: a invenção de modos de vida
transviados (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Mayorga, C. (2011). Cruzando fronteiras: prostituição e imigração. Cadernos Pagu, (37), 323-355.
Meihy, J. C. S. B. (1996). (Re)introduzindo a história oral no brasil. In Anais do 1º Encontro Regional de
História Oral. São Paulo: FFLCH/Xamã.
Melo, K. M. M. (2016). Terapia Ocupacional Social, pessoas trans e Teoria Queer: (re)pensando
concepções normativas baseadas no gênero e na sexualidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da
UFSCar, 24(1), 215-223.
Melo, K. M. M. (2020). Entre rupturas e permanências: modos de vida e estratégias de enfrentamento à vida
nas margens no cotidiano de pessoas trans (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos,
São Carlos. Recuperado em 7 de dezembro de 2021, de
https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/15263
Melo, K. M. M., Malfitano, A. P. S., & Lopes, R. E. (2020). Os marcadores sociais da diferença: contribuições
para a terapia ocupacional social. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(3), 1061-1071.
Miskolci, R. (2015). Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica Editora.
Monteiro, H. L. S., Silva, C. N., & Paula, C. Q. (2019). Modo de vida e territorialidades na comunidade
pesqueira de Achada Ponta – Santa Cruz (Cabo Verde). Boletim Gaúcho de Geografia, 45(1/2), 8-27.
Moutinho, L. (2014). Diferenças e desigualdades negociadas: raça, sexualidade e gênero em produções
acadêmicas recentes. Cadernos Pagu, (42), 201-248.
Nabarro, S. A. (2014). Modo de vida e campesinato no capitalismo: contribuições, limites e a construção de um
entendimento do campesinato como modo de vida (Tese de doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo.
Oliveira, J. F. Z. C. (2019). “E travesti trabalha?”: divisão sexual do trabalho e messianismo patronal
(Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Osborne, R. (2004). Trabajador@s del sexo Derechos, migraciones y tráfico en el siglo XXI. Barcelona: Bellaterra.
Pelucio, L. (2007). Nos nervos, na carne, na pele: uma etnografia sobre prostituição travesti e o modelo
preventivo de AIDS (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
Peres, W. (2005). Subjetividade das travestis brasileiras: da vulnerabilidade da estigmatização à construção da
cidadania (Tese de doutorado). Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Piscitelli, A. (2009). Tránsitos: circulación de brasileñas en el ámbito de la transnacionalización de los
mercados sexual y matrimonial. Horizontes Antropológicos, (31), 101-136.
Rambaud, P. (1969). Société rurale et urbanisation. Paris: Éditions du Seuil.
Fonte de Financiamento:
Editora Convidada
Profa. Dra. Daniela Tavares Gontijo