Procedimentos Metodológicos Na Psicologia Social
Procedimentos Metodológicos Na Psicologia Social
Procedimentos Metodológicos Na Psicologia Social
psicologia social
Apresentação
A psicologia social estuda o ser humano em suas relações, as quais são dinâmicas e construídas
socialmente. Na atualidade, há uma diversidade metodológica a fim de compreender a
complexidade dessas relações e os seus processos subjetivos. Método e prática profissional estão
intimamente conectados, pois o método não deve ser algo apenas a ser aplicado, mas sim
praticado. Assim, os procedimentos metodológicos na psicologia social refletem também a prática
profissional.
Bons estudos.
A política de assistência social tem, entre os seus objetivos, a prevenção de situação de risco, por
meio do desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários. O trabalho social com famílias acontece mediante a atuação em equipe
interdisciplinar – com profissionais de ensino médio e superior, como do serviço social, da
pedagogia, das ciências sociais, etc.
Diante do caso, qual é a sua sugestão para iniciar o trabalho de psicólogo social nesse Cras?
Infográfico
A psicologia social tem três perspectivas de pensamento que embasaram sua forma de estudar a
relação entre homem e sociedade. À medida que, ao longo da história, questionamentos sobre essa
relação foram surgidos, novas formas de pensar e intervir em psicologia social emergiram.
Neste Infográfico, você vai identificar a diferença de objeto de estudo, objetivo de pesquisa e
principal metodologia utilizada em cada uma das três perspectivas: psicológica, sociológica e crítica.
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Conteúdo do livro
Para a ciência, o método diz respeito ao caminho percorrido para alcançar um determinado
objetivo. Há diferentes metodologias em pesquisas que dependem de pressupostos científicos
(dedutivo e indutivo), técnicas (qualitativas e quantitativas) e instrumentais variados. Na psicologia
social não há um engessamento da escolha do método, mas se reconhece essa pluralidade de
caminhos a serem percorridos, em que é possível escolher a técnica mais adequada a partir dos
questionamentos e dos objetivos da pesquisa.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
As referências metodológicas são os fundamentos para a pesquisa e para a
prática profissional. Na psicologia social, há um reconhecimento da diversidade
metodológica de pesquisa e atuação que depende do objeto de estudo e dos
objetivos que se pretendem alcançar.
Neste capítulo, em um primeiro momento você vai conhecer e diferenciar
as três perspectivas em psicologia social: psicológica, sociológica e crítica.
Essas perspectivas procuram responder aos questionamentos do homem
em sociedade a partir de objetos de estudo distintos e, portanto, utilizando
métodos de estudo e práticas que consideram mais adequadas para os seus
questionamentos.
A pluralidade do método em psicologia social permite que sua escolha
dependa dos objetivos a serem alcançados. A proposta do texto está em iden-
tificar os principais métodos utilizados por cada perspectiva e compreender as
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A dimensão multimetodológica da
psicologia social
As perspectivas da psicologia social partem de processos de conhecimento
distintos, ou seja, de questionamentos e visão de homem diferentes. Impli-
cam, portanto, diferentes caminhos para estudar e pesquisar os fenômenos
psicossociais. O método a ser utilizado dependerá do olhar do psicólogo
social sobre o seu objeto de estudo.
Álvaro e Garrido (2017) descrevem que as técnicas metodológicas utiliza-
das estão, tradicionalmente, relacionadas a cada uma das perspectivas em
psicologia social. Assim, pesquisas de cunho quantitativo, que exigem maior
rigor metodológico, são mais apreciadas por adeptos da psicologia social
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O delineamento de uma pesquisa deve ser guiado, portanto, pela ideia de que
nenhuma técnica é, por si mesma, apropriada ou inapropriada, mas a adequação
de cada uma delas depende da forma em que se ajusta à natureza do objeto (ÁL-
VARO; GARRIDO, 2017, p. 364).
Contexto social
A psicologia social aplicada ao contexto social está historicamente vinculada
à prática do psicólogo em contextos sociais menos favorecidos: bairros de
periferia, assentamentos, grupos marginalizados (situação de rua, idosos,
jovens, mulheres), entre outros. Para entendermos por que isso acontece,
é preciso considerar o processo histórico de surgimento dessas práticas de
atuação em comunidades (FREITAS, 2010).
Freitas (2010) descreve uma linha cronológica dessa atuação no Brasil.
Entre as décadas de 1940 e 1950 havia uma busca do Estado por prestadores
de serviços que amparassem a população menos favorecida. Na década de
1960 houve uma aproximação da psicologia com a população, na tentativa
de descaracterizar a profissão como elitista, passando a ser ofertado todo
tipo de serviço psicológico na comunidade. A atuação profissional estava
baseada na replicação de modelos da psicologia tradicional para dentro da
comunidade. É por volta de 1970 que a psicologia passa a contribuir direta-
mente com os processos de formação de consciência e participação política
da população, a partir, principalmente, dos movimentos populares, em que
foi possível estabelecer um contato mais próximo com as problemáticas
vividas pela população, divulgando e propondo alternativas. Já na década de
1980 a classe profissional de psicologia amplia a discussão e o olhar sobre
o psicólogo em comunidade, passando a ser denominada como psicologia
comunitária, ganhando status de prática da psicologia social (FREITAS, 2010).
Procedimentos metodológicos na psicologia social 11
Contexto educacional
A inserção da psicologia dentro do contexto da educação se deu, historica-
mente, por meio do diagnóstico de distúrbios e como uma atuação voltada
para a correção ou prevenção das dificuldades de aprendizagem. Ou seja, parte
de uma perspectiva individualista, em que as dificuldades de aprendizagem
dizem respeito apenas ao sujeito e em uma atuação baseada no ajustamento
(ZANELLA, 2013).
A partir da perspectiva da psicologia social, há um questionamento sobre
as concepções positivistas. O objeto de estudo deixa de ser os problemas
de aprendizagem do indivíduo e passa a ser os fenômenos escolares em sua
multidimensionalidade (institucional, pedagógica e relacional). A prática pre-
cisou ser repensada a partir da aproximação e do conhecimento da demanda
escolar/educacional e não apenas das queixas individuais (SOUZA, 2009).
Nesse sentido, é possível identificar alguns aspectos importantes para
uma práxis da psicologia escolar, que deve permitir ação e reflexão sobre a
intervenção. O ponto de partida deve ser a realidade concreta, ou seja, con-
siderando os determinantes históricos e sociais tanto da instituição quanto
dos profissionais e, principalmente, dos alunos (LIBANEO, 1984; SOUZA, 2009).
Os processos tanto de intervenção quanto de sua análise são participativos
e uma produção coletiva; a partir das relações sociais é possível promover
consciência e novos significados para o processo de ensinar e aprender (SOUZA,
2009; ZANELLA, 2013). O objetivo da intervenção está em superar a visão de
culpabilização do indivíduo — aluno ou professor — para o enfrentamento
dos desafios encontrados (SOUZA, 2009).
Souza (2009) entende que a partir dessa nova concepção foi possível
ampliar o campo de atuação da psicologia escolar, saindo dos muros da
escola e se dedicando aos processos educacionais nas mais diversas áreas,
entre elas: projetos de inclusão social (com crianças, adolescentes, idosos,
mulheres); área da saúde na prevenção de doenças; formação de educadores;
e educação inclusiva.
Contexto do trabalho
A temática do trabalho é tradicionalmente reconhecida e conceituada por
teorias da administração, que se debruçam sobre aspectos racionais e com foco
em aumento da capacidade produtiva e do lucro. Nesse processo, couberam à
psicologia os estudos em busca de normatizações do comportamento humano:
aplicação de testes, seleção, treinamento. Os serviços psicológicos prestados
eram para os empregadores e não aos trabalhadores (ZILIOTTO, 2008).
Partindo da perspectiva de que ao psicólogo social cabe questionar os
processos vigentes, fez-se necessário repensar sua atuação dentro desse
contexto e enquanto sujeito ativo nesse processo, com implicação ética nas
atividades realizadas (ZILIOTTO, 2008). Assim, as propostas de atuação no
contexto do trabalho dentro da psicologia social entendem a necessidade
de superar a atuação tradicional de dualidade entre trabalhador e empresa-
riado, reconhecendo os aspectos relacionais e dinâmicos das relações sociais
(ESTEVES; BERNARDO; SATO, 2017; ZILIOTTO, 2008). As práticas da psicologia
social no contexto do trabalho devem permitir espaços de escuta e troca
entre os trabalhadores, promovendo consciência crítica da sua situação.
A utilização de técnicas deve ser pensada dentro de seu contexto histórico,
cultural, organizacional e envolvendo as pessoas de todos os níveis de tra-
balho (ZILIOTTO, 2008).
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inicial dos profissionais. Após esse momento, foram sugeridas reuniões junto a
representantes dos grupos de coletores para formular propostas de organização
da atividade. As reuniões foram realizadas em formato de plenárias, em que
os trabalhadores apresentavam e discutiam problemas vinculados à área, bem
como potencialidades e sugestões de solução. No início de cada reunião era
repassada aos participantes a sistematização da reunião anterior. O resultado
dessas reuniões foi a elaboração de propostas para estruturação do setor de
autoria de todos os envolvidos, relativas à auto-organização da coleta seletiva,
à comercialização dos produtos e ao empreendimento dos trabalhadores.
Esteves, Bernardo e Sato (2017) ressaltam alguns pontos importantes sobre
o trabalho do psicólogo nesse exemplo. O primeiro é com relação à postura
profissional; houve um processo de aprendizagem da equipe — que não co-
nhecia a temática —, a fim de reconhecer a realidade da população. O trabalho
realizado permitiu discutir aspectos de relevância para os trabalhadores, que
se posicionavam sobre seus valores, preconceitos e a realidade em que vivem.
Outra questão diz respeito à participação efetiva dos trabalhadores no processo,
pois as decisões eram tomadas em conjunto, compartilhando, inclusive, sua
autoria no processo final.
Referências
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Procedimentos metodológicos na psicologia social 17
Nesta Dica do Professor, você vai conhecer como é realizada a intervenção psicossocial nas
políticas públicas. Para tanto, vamos repassar um breve conceito sobre políticas públicas e
apresentar alguns aspectos importantes para a intervenção na psicologia social.
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Exercícios
Relacione as colunas:
A) I – II – III.
B) III – I – II.
C) II – I – III.
D) III – II – I.
E) I – III – II.
A) Métodos quantitativos são bastante difundidos nas pesquisas, como forma de estudar
aspectos subjetivos das relações sociais.
B) Tanto métodos de natureza qualitativa quanto quantitativa têm vantagens e desvantagens, ao
escolher uma exclui-se a outra.
A) F – V – V – F.
B) V – F – F – V.
C) V – V – V – F.
D) F – V – V – V.
E) F – V – F – F.
Na prática
O processo de intervenção psicossocial na psicologia social crítica pode ser sistematizado em
alguns passos: definição e análise do tema; avaliação inicial; planejamento e intervenção;
implementação; avaliação; e disseminação.
Confira, Na Prática, o relato de uma intervenção psicossocial com adolescentes do programa jovem
aprendiz.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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