Frei PT Amor Perdição+gil Vicente Farsa

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Teste de avaliação 5

Nome ____________________________________________ Ano ___________Turma __________ N.o _________

Unidade 3 – Camilo Castelo Branco – Amor de Perdição

Grupo I

Texto A

Lê a Introdução de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.


Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das cadeias da Relação do Porto, li,
no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte:
Simão António Botelho, que assim disse chamar-se, ser solteiro, e estudante na Universidade
de Coimbra, natural da cidade de Lisboa, e assistente na ocasião de sua prisão na cidade de
5 Viseu, idade de dezoito anos, filho de Domingos José Correia Botelho e de D. Rita Preciosa
Caldeirão Castelo Branco; estatura ordinária, cara redonda, olhos castanhos, cabelo e barba
preta, vestido com jaqueta de baetão azul, colete de fustão pintado e calça de pano pedrês. E fiz
este assento, que assinei – Filipe Moreira Dias.
À margem esquerda deste assento está escrito:
10 Foi para a Índia em 17 de março de 1807.
Não seria fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor, se cuido que o degredo de um moço
de dezoito anos lhe há de fazer dó.
Dezoito anos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que
ainda não sonha em frutos, e todo se embalsama no perfume das flores! Dezoito anos! O amor
15 daquela idade! A passagem do seio da família, dos braços da mãe, dos beijos das irmãs para as
carícias mais doces da virgem, que se lhe abre ao lado como flor da mesma sazão e dos mesmos
aromas, e à mesma hora da vida! Dezoito anos!… E degredado da pátria, do amor e da família!
Nunca mais o céu de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem reabilitação, nem
dignidade, nem um amigo!… É triste!
20 O leitor decerto se compungia; e a leitora, se lhe dissessem em menos de uma linha a história
daqueles dezoito anos, choraria!
Amou, perdeu-se, e morreu amando.
É a história. E história assim poderá ouvi-la a olhos enxutos a mulher, a criatura mais bem
formada das branduras da piedade, a que por vezes traz consigo do céu um reflexo da divina
25 misericórdia; essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os infelizes, não choraria se lhe
dissessem que o pobre moço perdera a honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida,
tudo, por amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?!
Chorava, chorava! Assim eu lhe soubesse dizer o doloroso sobressalto que me causaram aquelas
linhas, de propósito procuradas, e lidas com amargura e respeito e, ao mesmo tempo, ódio. Ódio,
30 sim… A tempo verão se é perdoável o ódio, ou se antes me não fora melhor abrir mão desde já de
uma história que me pode acarear enojos dos frios julgadores do coração, e das sentenças que eu
aqui lavrar contra a falsa virtude de homens, feitos bárbaros, em nome de sua honra.
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, Edição genética e crítica de Ivo Castro,
5.a edição, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2012.

Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano 291


1. Tendo em conta o conhecimento que deténs da obra, indica a funcionalidade da transcrição do
livro das entradas dos presos, relacionando-a com a intenção do autor-narrador. (20 pontos)

2. A frase «Amou, perdeu-se, morreu amando» (l. 22) apresenta-se como uma síntese da vida de
Simão Botelho. (20 pontos)
Comprova a veracidade da afirmação com elementos textuais.

3. Explicita a intencionalidade subjacente ao diálogo estabelecido pelo narrador com o narratário.


(20 pontos)

Texto B

Lê, agora o seguinte excerto da mesma obra.


Ao anoitecer, Simão, como estivesse sozinho, escreveu uma longa carta, da qual extratamos os
seguintes períodos: «Considero-te perdida, Teresa. O sol de amanhã pode ser que eu o não veja.
Tudo, em volta de mim, tem uma cor de morte. Parece que o frio da minha sepultura me está
passando o sangue e os ossos.
5 Não posso ser o que tu querias que eu fosse. A minha paixão não se conforma com a desgraça.
Eras a minha vida: tinha a certeza de que as contrariedades me não privavam de ti. Só o receio de
perder-te me mata. O que me resta do passado é a coragem de ir buscar uma morte digna de mim
e de ti. Se tens força para uma agonia lenta, eu não posso com ela. Poderia viver com a paixão
infeliz; mas este rancor sem vingança é um inferno. Não hei de dar barata a vida, não. Ficarás sem
10 mim, Teresa; mas não haverá aí um infame que te persiga depois da minha morte. Tenho ciúmes
de todas as tuas horas. Hás de pensar com muita saudade no teu esposo do céu, e nunca tirarás de
mim os olhos da tua alma para veres ao pé de ti o miserável que nos matou a realidade de tantas
esperanças formosas.
Tu verás esta carta quando eu estiver num outro mundo, esperando as orações das tuas
15 lágrimas. As orações! Admiro-me desta faísca de fé que me alumia nas minhas trevas!… Tu
deras-me com o amor a religião, Teresa. Ainda creio; não se apaga a luz que é tua; mas a
providência divina desamparou-me.
Lembra-te de mim. Vive, para explicares ao mundo, com a tua lealdade a uma sombra, a razão
por que me atraíste a um abismo. Escutarás com glória a voz do mundo, dizendo que eras digna
20 de mim.
À hora em que leres esta carta…»
Não o deixaram continuar as lágrimas, em depois a presença de Mariana.
Camilo Castelo Branco, op. cit., cap. X.

4. Refere os valores expressos na carta de Simão que o caracterizam como um herói romântico.
(20 pontos)

5. Confirma que as metáforas são reveladoras da interioridade da personagem. (20 pontos)

292 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano


Grupo II
Lê o texto seguinte.

Manoel de Oliveira, «um dos grandes do século XX», homenageado em Nova Iorque
O Lincoln Center de Nova Iorque exibe, entre quinta-feira e sábado, os quatro filmes de
Manoel de Oliveira, produzidos pelo realizador na década de 1970, início dos anos 80, que
compõem a Tetralogia dos Amores Frustrados.
«Decidimos mostrar a “Tetralogia dos Amores Frustrados” como uma homenagem a Manoel
5 de Oliveira, um dos grandes cineastas do século XX. Estes primeiros filmes são raramente
mostrados, por isso quisemos fazer algo especial e trazer cópias em 35 milímetros de Portugal»,
explicou o diretor de programação da Film Society do Lincoln Center, Florence Almozini, à
agência Lusa.
A tetralogia inclui os filmes O Passado e o Presente (1972), Benilde ou a Virgem Mãe (1975),
10 Amor de Perdição (1979) e Francisca (1981), todos baseados em obras da literatura portuguesa.
«A produção de Oliveira aumentou exponencialmente nas últimas décadas da sua vida, mas
foram os quatro filmes que fez em Portugal, entre 1972 e 1981, quando já estava na casa dos 60
anos, que estabeleceram a sua reputação internacional», escreve a organização na apresentação da
mostra.
15 Nos filmes, que adaptam obras de Camilo Castelo Branco, Agustina Bessa-Luís, Vicente
Sanches e José Régio, o realizador aborda as dificuldades de comunicação nas relações entre
homens e mulheres, assim como a intangibilidade do amor absoluto.
Sobre os filmes, o Lincoln Center diz que «estas adaptações literárias se estenderam no tempo,
mas mantiveram sempre o foco».
20 «Movendo-se austeramente, mas pulsando com energia sensual, bebendo de convenções
teatrais do século XIX, mas confiando, da mesma forma, em gestos meta-autorreflexivos, estes
filmes assinalaram a chegada de uma voz cinemática sem paralelo", defendem os organizadores,
Dennis Lim e Florence Almozini.
«A sua morte [de Manoel de Oliveira], em 2015, aos 106 anos, privou o cinema de uma das
25 suas lendas vivas e de um dos seus mais produtivos e surpreendentes artistas», conclui o Lincoln
Center na apresentação da mostra.
Rádio Renascença, 24 de fevereiro de 2016
(disponível em www.rr.sapo.pt, consultado em março de 2016).

1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a única opção que permite obter
uma afirmação correta. (35 pontos)

1.1 Manoel de Oliveira, segundo a organização da amostra, deve o reconhecimento


internacional, enquanto realizador/produtor,
(A) ao aumento vertiginoso da sua produção no final da sua vida.
(B) por ser o mais idoso dos realizadores mundiais.
(C) aos filmes que compõem a Tetralogia dos Amores Frustrados.
(D) aos filmes produzidos nas últimas décadas da sua vida.

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1.2 Os filmes da Tetralogia dos Amores Frustrados apresentam temáticas comuns, nomeadamente,
(A) a extensão temporal.
(B) a coexistência da austeridade e da sensualidade.
(C) as dificuldades de comunicação entre homens e mulheres e a concretização do amor
absoluto.
(D) as complexas relações comunicacionais entre homens e mulheres e a utopia do amor
absoluto.

1.3 A utilização de «por isso» (l. 6) contribui para a coesão


(A) referencial.
(B) lexical.
(C) interfrásica.
(D) frásica.
1.4 A oração «que estabeleceram a sua reputação internacional» (l. 13) é uma oração
subordinada
(A) substantiva completiva.
(B) adjetiva relativa restritiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) adverbial consecutiva.

1.5 A expressão sublinhada em «a intangibilidade do amor absoluto» (l. 17) desempenha a


função sintática de
(A) complemento do nome.
(B) modificador restritivo do nome.
(C) modificador apositivo do nome.
(D) predicativo do complemento direto.
1.6 Os processos de formação das palavras «tetralogia» (l. 3) e «intangibilidade» (l. 17) são,
respetivamente,
(A) composição e derivação.
(B) derivação e composição.
(C) Amálgama e composição.
(D) Amálgama e parassíntese.

1.7 A anteposição do pronome «se» (l. 18) justifica-se pela


(A) presença de uma expressão adverbial enfática.
(B) sua integração numa oração subordinada relativa.
(C) sua integração numa frase em discurso indireto livre.
(D) sua integração numa oração subordinada completiva.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados. (15 pontos)

2.1 Identifica o tipo de dêixis assegurado pelo determinante «Estes» (l. 5).

2.2 Identifica a função sintática do constituinte sublinhado em «escreve a organização na


apresentação da mostra» (ll. 13-14).

2.3 Indica o antecedente do determinante possessivo que ocorre em «um dos seus mais
produtivos e surpreendentes artistas» (l. 25).
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Grupo III
«O amor eterno é o amor impossível.»

Eça de Queirós

Redige um texto de opinião, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, em


que apresentes uma reflexão sobre a afirmação apresentada
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo. (50 pontos)

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há que
atender ao seguinte:
о um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
о um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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Teste de avaliação 6

Nome ____________________________________________ Ano ___________Turma __________ N.o _________

Unidade 3 – Camilo Castelo Branco – Amor de Perdição

Grupo I

Texto A

Lê o seguinte excerto de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.


Mariana colou os ouvidos aos lábios roxos do moribundo, quando cuidou ouvir o seu nome.
«Tu virás ter connosco; ser-te-emos irmãos no céu… O mais puro anjo serás tu… se és deste
mundo, irmã; se és deste mundo, Mariana…»
A transição do delírio para a letargia completa era o anúncio infalível do trespasse.
5 Ao romper da manhã apagara-se a lâmpada. Mariana saíra a pedir luz, e ouvira um gemido
estertoroso. Voltando às escuras, com os braços estendidos para tatear a face do agonizante,
encontrou a mão convulsa, que lhe apertou uma das suas, e relaxou de súbito a pressão dos dedos.
Entrou o comandante com uma lâmpada, e aproximou-lha da respiração, que não embaciou
levemente o vidro.
10 – Está morto! – disse ele.
Mariana curvou-se sobre o cadáver, e beijou-lhe a face. Era o primeiro beijo.
Algumas horas volvidas, o comandante disse a Mariana:
– Agora é tempo de dar sepultura ao nosso venturoso amigo… É ventura morrer quando se
vem a este mundo com tal estrela. Passe a senhora Mariana ali para a câmara, que vai ser levado
15 daqui o defunto.
Mariana tirou o maço das cartas debaixo do travesseiro, e foi a uma caixa buscar os papéis de
Simão. Atou o rolo no avental, que ele tinha daquelas lágrimas dela, choradas no dia da sua
demência, e cingiu o embrulho à cintura.
Foi o cadáver envolto num lençol, e transportado ao convés.
20 Mariana seguiu-o.
Do porão da nau foi trazida uma pedra, que um marujo lhe atou às pernas com um pedaço de
cabo. O comandante contemplava a cena triste com os olhos húmidos, e os soldados que
guarneciam a nau, tão funeral respeito os impressionara, que insensivelmente se descobriram.
Mariana estava, no entanto, encostada ao flanco da nau, e parecia estupidamente encarar
25 aqueles empuxões que o marujo dava ao cadáver, para segurar a pedra na cintura.
Dois homens ergueram o morto ao alto sobre a amurada. Deram-lhe o balanço para o
arremessarem longe. E, antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir na água, todos viram, e
ninguém já pôde segurar Mariana, que se atirara ao mar.
À voz do comandante desamarraram rapidamente o bote, e saltaram homens para salvar
30 Mariana.
Salvá-la!…
Viram-na, um momento, bracejar, não para resistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver de
Simão, que uma onda lhe atirou aos braços.
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, Edição genética e crítica de Ivo Castro,
5.a edição, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2012.

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1. Indica o duplo sentido da expressão «Ao romper da manhã, apagara-se a lâmpada» (l. 5). (20 pontos)

2. Descreve o ambiente que se vive a bordo quando Simão está a ser preparado para ser sepultado
no mar, apoiando a tua resposta em elementos textuais. (20 pontos)

3. Interpreta a última frase do excerto, relacionando-a com a abnegação de Mariana ao longo da


obra. (20 pontos)

Texto B

Lê o seguinte excerto da Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente.


Renego deste lavrar1 Antes o darei ao diabo
e do primeiro que o usou 20 que lavrar mais nem pontada
ao diabo que o eu dou já tenho a vida cansada
que tam mau é d’aturar. de jazer sempre dum cabo5.
5 Oh Jesu que enfadamento Todas folgam e eu não
e que raiva e que tormento todas vem e todas vão
que cegueira e que canseira. 25 onde querem senam eu.
Eu hei de buscar maneira Ui que pecado é o meu
dalgum outro aviamento2. ou que dor de coração?

10 Coitada assi hei d’estar Esta vida é mais que morta


encerrada nesta casa sam eu coruja ou corujo
como panela sem asa3 30 ou sam algum caramujo
que sempre está num lugar. que nam sai senão à porta?
E assi hão de ser logrados E quando me dão algum dia
15 dous dias amargurados licença como a bugia
que eu posso durar viva que possa estar à janela
e assi hei d’estar cativa 35 é já mais que a Madanela
em poder de desfiados4. quando achou a aleluia6.
Gil Vicente, As obras de Gil Vicente, direção científica de José Camões,
vol. II, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001.
1
v. 1: odeio costurar. 2 Aviamento: solução. 3 v. 12: compara-se a objeto sem utilidade. 4 vv. 17-18: prisioneira a fazer travesseiros de
franjas. 5 vv. 21-22: já estou cansada de estar no mesmo sítio. 6 vv. 32-36: quando me deixam ir à janela, pensam que sou mais feliz
que Madalena quando viu Cristo ressuscitado.

4. Comprova, com elementos textuais, que o excerto apresentado nos elucida sobre o quotidiano
das jovens solteiras. (20 pontos)

5. Mariana, personagem de Amor de Perdição, e Inês são figuras radicalmente opostas. Justifica.
(20 pontos)

Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano 297


Grupo II
Lê o texto seguinte.
Neste transcurso de 80-81, sobressaltos e azares tornaram a vida de Camilo um inferno. Ainda
e sempre o que mais o assoberbava, além da loucura de Jorge, cujos desatinos iam até o fogo
posto, eram as necessidades prementes de pecúnia. Calcule-se, por isso, com que alvoroço lhe
luziu a esperança dum bom partido para Nuno! Mas era preciso raptar uma menina, pacóvia de
5 todo e candidata a tuberculosa, se não estava já num passo adiantado da doença, e Camilo
entregou-se de alma e coração ao estudo deste projeto.
Os sucessos brilhantes da literatura realista, se não lhe empeceram a pena, não deixavam de o
perturbar. Estacou, estamos a vê-lo estático, como o viandante que entreviu outro caminho correr
paralelo com o seu, na aparência de melhor trilho. Mas a pausa foi de pouca dura. Breve se
10 desmascaravam as posições de parte a parte e, Camilo, sempre que apanhava os adversários ao
alcance da pontaria, que era certeira, abria fogo.
Muitos dos seus comentários e apreciações decorreram no domínio privado e foi necessário
que os anos dobassem sobre eles até poderem ser divulgados. Encontram-se na qualidade de
anotações a livros lidos e em passagens de cartas suas para este e aquele, fruto do mais estrito e
15 íntimo comércio epistolar. Por isso nos perguntamos: trazidos à audiência, semelhantes
testemunhos revestem-se do arbitrário que não deixa de ferir-lhes o facto de estarem destinados
precisamente a objetivo contrário ao da publicidade? Ou a circunstância de espelharem o
pensamento reservado de Camilo em tal e tal emergência não lhes instila antes um mérito
superior: a virtude de serem espontâneos e por conseguinte trazerem o selo da boa e leal
20 franqueza?
[…]
É por esta altura que os seus padecimentos físicos se agravam. Fugia-lhe a vista. De noite, para
trabalhar, precisava de acender muitas velas. A sua banca lembrava um altar na exposição do
Santíssimo. As luzes que assim estrelavam o ambiente acabavam por causar-lhe intoleráveis dores
25 de cabeça. Mas porfiava de pena em punho, uma pena melhorada agora, pode dizer-se, de todas as
aquisições estéticas, arrebanhadas na corrente realista.
[…]
Aquilino Ribeiro, Camões, Camilo, Eça e alguns mais, Lisboa, Bertrand, 1975.

1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a única opção que permite obter
uma afirmação correta. (35 pontos)

1.1 O segmento «um inferno» (l. 1) desempenha a função sintática de


(A) complemento direto.
(B) predicativo do complemento direto.
(C) complemento indireto.
(D) predicativo do sujeito.

298 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano


1.2 A locução conjuncional «sempre que» (l. 10) introduz um nexo
(A) temporal.
(B) causal.
(C) final.
(D) condicional.

1.3 A oração «que era certeira» (l. 11) classifica-se como subordinada
(A) substantiva completiva.
(B) substantiva relativa.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) adjetiva relativa restritiva.

1.4 A oração «que os anos dobassem sobre eles» (l. 13) desempenha a função sintática de
(A) predicativo do sujeito.
(B) sujeito.
(C) complemento direto.
(D) complemento oblíquo.

1.5 «Por isso» (l. 15) assegura, no texto, a coesão


(A) frásica.
(B) interfrásica.
(C) referencial.
(D) lexical.

1.6 O sujeito da frase «Fugia-lhe a vista» (l. 22) é


(A) subentendido.
(B) indeterminado.
(C) simples.
(D) composto.

1.7 A conjunção «Mas» (l. 25) tem valor de


(A) oposição.
(B) adição.
(C) alternância.
(D) conclusão.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados. (15 pontos)

2.1 Classifica a oração «cujos desatinos iam até o fogo posto» (ll. 2-3).

2.2 Refere a função sintática desempenhada pelo segmento «pacóvia de todo e candidata a
tuberculosa» (ll. 4-5).

2.3 Identifica o referente do pronome pessoal presente em sublinhado em «não lhes instila
antes um mérito superior» (ll. 18-19).

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Grupo III
«Existem “más companhias”? Claro que sim e os pais devem estar atentos.
Quando está em risco a saúde e a segurança dos filhos adolescentes os pais devem intervir!»

Daniel Sampaio

Partindo da citação transcrita, redige um texto de opinião, com um mínimo de duzentas e um


máximo de trezentas palavras, em que apresentes um ponto de vista pessoal sobre o assunto.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo. (50 pontos)

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há que
atender ao seguinte:
о um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
о um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

300 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano


«contínuos terrores» em que vive e que os oculta, ů͘ ϭϮ͖ ͨƉƌĞŐƵŶƚĂŶĚŽ ƵƹƐ ĂŽƐ ŽƵƚƌŽƐ͕ͩ ů͘ ϮϬͿ͕ ƋƵĞ
deliberadamente, de Manuel de Sousa Coutinho. No mostram o desenrolar da ação, conferindo-lhe igual-
diálogo inicial com Telmo Pais, revela a origem desse mente grande visualismo; também os advérbios e as
seu estado: o desaparecimento de D. João de Portugal, expressões adverbiais concorrem para ilustrar esse
seu primeiro marido, em Alcácer Quibir. Telmo movimento das gentes («correndo a pressa», l. 15; «ir
demonstra não acreditar na morte do seu amo, contri- pera alá», l. 16), não esquecendo o pleonasmo sabia-
buindo para o adensamento da perturbação de D. mente utilizado («escaadas pera sobir acima», l. 30;
Madalena por recear que sua filha Maria se aperceba «entrando assi dentro per força», l. 41).
das incertezas que a assombram e as de Telmo tam- Grupo II
bém, sendo este receio manifesto ao longo da obra. 1.1 (C); 1.2 (C); 1.3 (A); 1.4 (C); 1.5 (D); 1.6 (B); 1.7 (C).
– D. Madalena procura acreditar que o seu primeiro 2.1 Trata-se do título de uma obra.
marido se encontra morto, o que lhe permite recusar 2.2 Valor de oposição.
o facto de se sentir culpada, como o revela a Frei 2.3 «massas populares».
Jorge, na Cena X. A ilusão em que (in)conscientemente
Grupo III
crê é uma forma de evitar o desespero de perder o
– Definição de lealdade: fidelidade ao próximo,
homem que ama, de evitar o medo da morte de sua
firmeza/constância no apoio a alguém, a alguma insti-
filha, pela certeza de que esta sucumbiria perante a
tuição ou causa;
verdade.
– Presença (ou não) da lealdade na sociedade atual:
–…
hoje em dia este princípio é muito importante; numa
sociedade em constante mudança, é necessário
Teste 4 (p. 285) contarmos com a lealdade dos outros, quer a nível
Grupo I pessoal, quer profissional. Infelizmente, muitos são os
Texto A casos em que outros valores falam mais alto, por
1. D. João de Portugal está convicto de que D. exemplo, o valor do dinheiro (exemplos: na política, na
Madalena o traiu conscientemente, casando com economia, no desporto, …);
outro homem mal teve notícias da batalha funesta de – Educação para a lealdade: uma educação que
Alcácer Quibir. Tal pecado exigiria, portanto, que D. considere o indivíduo no seu todo, deve cultivar os
Madalena pedisse perdão a Deus pelos seus pecados. princípios fundamentais das relações humanas, sendo
2. Esta cena precipitará a tragédia da família: estando a lealdade e a confiança no outro fundamentais;
D. João de Portugal vivo, toda a vida construída por D. – Lealdade como sinónimo (ou não) de inteligência:
Madalena com Manuel de Sousa Coutinho e a filha de quem não é leal não é de confiança, quando é desleal
ambos, Maria, será destruída. O casal terá de se uma vez, perde a credibilidade junto do outro e isto
separar, dando entrada cada um em seu convento, não é um ato inteligente. Por outro lado, se uma
assistindo, no entanto, primeiro, à morte da filha, determinada circunstância da vida nos está a ser
coberta de vergonha. prejudicial, não a devemos manter indefinidamente só
3. A ansiedade de D. Madalena revela-se, no seu dis- por lealdade, até porque, provavelmente já não a
curso, através das interpelações a Deus («Deus tenha devemos, em termos racionais;
misericórdia de mim!», l. 30; «Jesus», l. 31), das – Reflexão final: num mundo em que já há tantos
repetições sucessivas («esse homem, esse homem», obstáculos para ultrapassar, os valores e princípios da
ll. 30-31; «Esse homem», l. 31), das frases incompletas convivência humana, como a lealdade, devem ser
(«E esse homem, esse homem…», ll. 30-31; «Esse cultivados e facilitam os laços que estabelecemos com
homem era…», l. 31) e das interrogações sucessivas os outros.
(«levaram-no aí de donde?… De África?», l. 31).
Texto B Teste 5 (p. 291)
4. A personagem coletiva («gentes» do povo) está Grupo I
sempre presente ao longo do texto. É alertada pelo Texto A
pajem do perigo que corre o Mestre e acorre aos 1. A transcrição do excerto confere um cariz
Paços para o defender. A sua presença é determinante documental à obra, apresentando-o como parte
para legitimar o ato cometido pelo Mestre: a morte do integrante da ficção, pretendendo, assim, o autor-
Conde Andeiro. narrador conferir verosimilhança à ação a narrar e
5. Para o dinamismo do discurso de Fernão Lopes sugerir um certo paralelismo entre a história de Simão
contribuem a seleção de verbos que sugerem movi- Botelho, seu tio, e a sua própria vida, visto encontrar-
mento («ir rijamente a galope», l. 2; «saiam aa rua», l. se preso na mesma cadeia no momento da escrita, por
6; «alvoraçavom-se nas vontades», l. 7; «Cavalgou logo amor a uma mulher.
a pressa», l. 9), a utilização de compostos verbais 2. Simão «amou»: «O amor daquela idade!» (ll. 14-15);
(«começaŶĚŽ Ă ĨĂůĂƌ ƵƹƐ ĐŽŵ ŽƐ ŽƵƚƌŽƐ͕ͩ ů͘ ϲ͖ «A passagem […] para as carícias mais doces da
«começavom de tomar armas», l. 7), assim como do virgem, que se lhe abre ao lado como flor da mesma
gerúndio («braadando pela rua», l. 3; «indo pela rua», sazão e dos mesmos aromas, e à mesma hora da

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vida!» (ll. 15-17). Simão «perdeu-se»: «sua prisão na Teste 6 (p. 296)
cidade de Viseu» (l. 4); «Foi para a Índia em 17 de Grupo I
março de 1807.» (l. 10); «E degredado da pátria, do Texto A
amor e da família!» (l. 17); «o pobre moço perdera a 1. O apagamento da luz indica a morte de Simão, que
honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe» se dá «ao romper da manhã», à primeira luz do dia,
(l. 26). Simão «morreu amando»: «o pobre moço podendo o nascer do sol significar o reencontro com
perdera a […] vida, tudo, por amor da primeira mulher Teresa «à luz da eternidade».
que o despertou do seu dormir de inocentes dese- 2. O ambiente é de tristeza, de profundo pesar.
jos?!» (ll. 26-27). Mariana segue o cadáver até à amurada, o coman-
3. O narrador, ao dialogar com o narratário, «a minha dante contempla comovido os preparativos para o
leitora» (l. 25), pretende envolvê-lo na história, procu- lançamento do corpo ao mar («contemplava a cena
rando a sua empatia relativamente à personagem triste com os olhos húmidos», l. 22) e os soldados,
principal, conduzindo-o a assumir a sua posição contagiados pelo ambiente pesaroso e solidários com
enquanto narrador daqueles acontecimentos: sentir a dor que testemunham, descobrem-se («tão funeral
«o doloroso sobressalto» (l. 28), a «amargura e respeito os impressionara, que insensivelmente se
respeito e, ao mesmo tempo, ódio» (ll. 29-30). descobriram», l. 23). Tudo se precipita quando o corpo
Texto B é lançado e Mariana se lhe junta.
4. Simão assume-se como herói romântico ao repudiar 3. Mariana, que ao longo da obra reprimiu os seu
a resignação, ao recusar uma vida sem Teresa a seu afeição por Simão, em prol da felicidade deste com
lado. A defesa da honra assume-se como o valor que Teresa, encontra na morte a concretização do seu
norteia a personagem, revelando-se individualista e amor, abraçando o seu corpo para a eternidade, como
egocêntrico nessa sua decisão de matar o «infame» (l. se o destino lhe reservasse essa graça no final, atiran-
10), o «miserável que [lhes] matou a realidade de do-lhe para os braços o corpo do amado («que uma
tantas esperanças formosas» (ll. 12-13). onda lhe atirou aos braços»).
5. A personagem revela-se profundamente descrente Texto B
quanto ao seu futuro, ciente da proximidade da 4. O excerto dá-nos a conhecer as tarefas desem-
desgraça e da morte, como se pode verificar nas penhadas pelas jovens solteira, nomeadamente cos-
metáforas «Tudo, em volta de mim, tem uma cor de turar («Renego deste lavrar», v. 1) e fazer travesseiros
morte» (l. 3), «Parece que o frio da minha sepultura de franjas («desfiados», v. 18), bem como os seus
me está passando o sangue e os ossos» (ll. 3-4), «um divertimentos («Todas folgam […]/ todas vem e todas
abismo» (l. 19), «quando eu estiver num outro vão/ onde querem», vv. 23-25, e «estar à janela», v. 34).
mundo» (l. 14). A metáfora «este rancor sem vingança 5. Efetivamente, as duas personagens são extrema-
é um inferno» (l. 9), exprime a dimensão do ódio que mente diferentes uma da outra: enquanto Mariana é
sente por aquele que considera seu rival, ódio que o uma personagem calma, compassiva, abnegada, gene-
consome e que somente se aplacará com a vingança. rosa, Inês é impaciente, preguiçosa, invejosa, dissimu-
Também o amor eterno por Teresa é visível na lada, mentirosa.
metáfora «esposo do céu» (ll. 11-12), sendo ela a sua
Grupo II
única crença, a «luz» (l. 16) que alumia as «trevas»
1.1 (B); 1.2 (A); 1.3 (C); 1.4 (B); 1.5 (B); 1.6 (C); 1.7 (A).
(l. 15) em que se encontra, por se sentir desamparado
2.1 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
pela providência divina.
2.2 Modificador apositivo do nome.
Grupo II 2.3 «(semelhantes) testemunhos».
1.1 (C); 1.2 (D); 1.3 (C); 1.4 (B); 1.5 (A); 1.6 (A); 1.7 (D).
Grupo III
2.1 Dêixis espacial.
– O conceito de «más companhias» sempre foi, e será,
2.2 Sujeito simples.
dúbio, surgindo, frequentemente, associado a hierar-
2.2 «o cinema» (l. 24).
quias sociais: o(a) amigo(a) do(a) filho(a) será uma
Grupo III «má companhia» pois é pobre, os seus pais estão
O amor eterno é o amor impossível: desempregados ou têm profissões consideradas «sim-
– O amor confrontado com obstáculos (impedimentos plórias»; esta postura dos pais conduz, muitas vezes, à
familiares e/ou sociais, distância, não correspondên- desobediência, pois os jovens/crianças não compreen-
cia, etc.) aumenta de intensidade e persiste, muitas dem estes (pre)conceitos, considerando-os injustos…
vezes, ao longo da vida; – Serão «más companhias» aquelas que conduzem ao
– A literatura, reflexo da vida real, é testemunha viva afastamento dos jovens/crianças do seu caminho
das grandes histórias de amores impossíveis e eternos natural: um bom desempenho na escola, uma relação
(desde os mitos de Píramo e Tisbe, Tristão e Isolda, a salutar com os colegas, amigos e familiares, um exer-
Romeu e Julieta, de William Shakespeare, e Amor de cício consciente e correto da cidadania, a assunção de
Perdição, de Camilo Castelo Branco); comportamentos conducentes a um desenvolvimento
–… físico e mental adequado...

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– A atenção dos pais a quaisquer sinais de afasta- Grupo II
mento deste caminho é essencial, devendo intervir, 1.1 (C); 1.2 (D); 1.3 (A); 1.4 (D); 1.5 (B); 1.6 (C); 1.7 (A).
procurando dialogar com os seus filhos no sentido de 2.1 Pretérito imperfeito do modo conjuntivo.
os alertar para as consequências do mesmo; contudo, 2.2 Complemento oblíquo.
não existem fórmulas milagrosas para essa interven- 2.3 «Paris» (l. 34).
ção, pois «cada caso é um caso» e, por vezes, o diálogo Grupo III
não é eficaz, nem a proibição a melhor solução Vários tipos de Amor:
(havendo, no entanto, casos em que tal é necessário)… – Amor desinteressado e incondicional: entre pessoas
(amor paternal/maternal e filial); entre pessoas e
Teste 7 (p. 301) animais (de estimação, sobretudo); locais (a casa da
Grupo I nossa infância, a casa/quinta/monte dos nossos avós/
Texto A tios/padrinhos…); objetos com valor sentimental (brin-
1. Afonso, como homem nobre e de valores que era, quedos da infância, roupas preferidas, livros, CDs…);
confiava que o interesse de seu filho Pedro por Maria – Amor interesseiro: amor como um luxo; pessoas que
Monforte seria passageiro, já que esta não correspon- falsamente «amam» com segundas intenções (amiza-
dia aos padrões morais e sociais em que fora educado des hipócritas, casamentos por interesse e outro tipo
Pedro. No entanto, estava enganado: Pedro não tinha de relacionamentos que simulam amor/ amizade em
nem a nobreza do pai, nem os seus elevados padrões troca de dinheiro, favores, …);
de conduta e acaba por casar com Maria Monforte. – Custos do amor: o primeiro tipo de Amor não custa
2. Enquanto Sequeira ficou deslumbrado com a beleza absolutamente nada, dar e receber amor é uma troca
de Maria Monforte («– Caramba! É bonita!», l. 23), natural e instintiva; o segundo tipo de Amor pode
Afonso da Maia fica cabisbaixo e é assaltado por visões envolver dinheiro, favores, compadrio e até corrupção.
premonitórias do destino fatal do filho («Afonso […] – Reflexão final: devemos refletir sobre as nossas
olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate que prioridades em termos de sentimentos e o tipo de
agora se inclinava sobre Pedro […] como uma larga relacionamentos que queremos escolher para a nossa
mancha de sangue», ll. 24-25). vida, …
3. A sombrinha vermelha de Maria Monforte que, du-
rante o passeio, cobre quase totalmente Pedro da Teste 8 (p. 306)
Maia e lembra a Afonso uma mancha de sangue, é um
Grupo I
indício da desgraça que virá a desabar sobre a família
Texto A
com o suicídio de Pedro, quando abandonado pela
1. O público feminino que está a assistir às corridas no
mulher.
hipódromo encontra-se totalmente desenquadrado
Texto B em tal ambiente. As senhoras estão vestidas como se
4. Maria Eduarda é descrita como «uma senhora alta, fossem à missa («A maior parte tinha vestidos sérios
loira» (l. 6), «maravilhosamente bem feita» (l. 8), com de missa», l. 5) e mantêm uma atitude de imobilidade,
«cabelos de oiro» (l. 9). No entanto, é a sua «carnação adequada a uma procissão, mas não a um evento
ebúrnea» (l. 7) e o seu «passo soberano de deusa» desportivo («numa fila muda, olhando vagamente,
(l. 8) que provam a sua ascendência. Maria Monforte é como de uma janela em dia de procissão», ll. 2-3).
caracterizada, no texto A, como tendo a «face, grave e Destacam-se algumas tentativas de imitar o glamour
pura como um mármore grego» (l. 17), o que faz com das corridas de cavalos inglesas («Aqui e além um
que ambas partilhem características clássicas afins e desses grandes chapéus emplumados à Gainsborough,
que as distinguem de todas as outras mulheres. que então se começavam a usar, carregava de uma
5. Um dos recursos tipicamente queirosiano é o sombra maior o tom trigueiro de uma carinha miúda»,
emprego de empréstimos (por exemplo, galicismos ll. 5-7), tentativas essas falhadas até porque o próprio
«coupé», l. 1; «poseur», l. 6; «chic», l. 14; e «griffon», meio envolvente não lhes é favorável («a condessa de
l. 28) que mostra o cosmopolitismo de Eça, algo muito Soutal, desarranjada, com um ar de ter lama nas
apreciado na sociedade do século XIX; outro é o uso saias», ll. 14-15).
expressivo do adjetivo – «uma esplêndida mulher, com 2. Entre outros, podemos destacar o tom corrosivo da
uma esplêndida cadelinha griffon, e servida por um adjetivação, neste caso tripla, em «as peles apareciam
esplêndido preto!» (ll. 27-28), a destacar o caráter de murchas, gastas, moles» (l. 8), que explicita como o
exceção não só da mulher, mas de tudo e todos os que vestuário das senhoras em nada contribuía para abri-
a rodeiam; por último, são também de salientar as lhantar o evento; o uso expressivo e depreciativo do
personificações/metáforas que se sucedem em «a diminutivo, em «as duas irmãs do Taveira, magrinhas,
tarde morria» (l. 21), «as terras […] já se iam loirinhas, […] vestidas de xadrezinho» (ll. 9-10), que
afogando» (l. 22), «a água jazia lisa e luzidia» (l. 23), demonstra a pálida cópia que constituíam em relação
«grossos navios […] dormiam» (l. 24) e que revelam às inglesas; o uso da metáfora, em «um canteirinho de
como tudo adormece quando o dia acaba e a noite camélias meladas», que revela, pelo seu ar de enfado,
chega. o pouco interesse pelas corridas.

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