Port11 - Livro de Testes - Mensagem (1) - 11-15
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Grupo I
Texto A
O filho mais velho escreveu a seu pai queixando-se de não poder viver com seu irmão, temeroso do génio
sanguinário dele. Conta que a cada passo se vê ameaçado na vida, porque Simão emprega em pistolas o
dinheiro dos livros, convive com os mais famosos perturbadores da academia, e corre de noite as ruas insul-
tando os habitantes e provocando-os à luta com assuadas. O corregedor admira a bravura de seu filho Simão,
5 e diz à consternada mãe que o rapaz é a figura e o génio de seu bisavô Paulo Botelho Correia, o mais valente
fidalgo que dera Trás-os-Montes.
Manuel, cada vez mais aterrado das arremetidas de Simão, sai de Coimbra antes de férias e vai a Viseu
queixar-se, e pedir que lhe dê seu pai outro destino. D. Rita quer que seu filho seja cadete de cavalaria. De
Viseu parte para Bragança Manuel Botelho, e justifica-se nobre dos quatro costados para ser cadete.
10 No entanto, Simão recolhe a Viseu com os seus exames feitos e aprovados. O pai maravilha-se do talento
do filho, e desculpa-o da extravagância por amor do talento. Pede-lhe explicações do seu mau viver com
Manuel, e ele responde que seu irmão o quer forçar a viver monasticamente.
Os quinze anos de Simão têm aparência de vinte. É forte de compleição; belo homem com as feições de
sua mãe, e a corpulência dela; mas de todo avesso em génio. Na plebe de Viseu é que ele escolhe amigos e
15 companheiros. Se D. Rita lhe censura a indigna eleição que faz, Simão zomba das genealogias, e mormente
do general Caldeirão que morreu frito. Isto bastou para ele granjear a malquerença de sua mãe. O correge-
dor via as coisas pelos olhos de sua mulher, e tomou parte no desgosto dela, e na aversão ao filho. As irmãs
temiam-no, tirante Rita, a mais nova, com quem ele brincava puerilmente, e a quem obedecia, se lhe ela
pedia, com meiguices de criança, que não andasse com pessoas mecânicas.
20 Finalizavam as férias, quando o corregedor teve um grave dissabor. Um dos seus criados tinha ido levar a
beber os machos, e, por descuido ou propósito, deixou quebrar algumas vasilhas que estavam à vez no para-
peito do chafariz. Os donos das vasilhas conjuraram contra o criado; espancaram-no. Simão passava nesse
ensejo; e, armado dum fueiro que descravou dum carro, partiu muitas cabeças, e rematou o trágico espetá-
culo pela farsa de quebrar todos os cântaros. O povoléu intacto fugira espavorido, que ninguém se atrevia
25 ao filho do corregedor; os feridos, porém, incorporaram-se e foram clamar justiça à porta do magistrado.
Domingos Botelho bramia contra o filho, e ordenava ao meirinho-geral que o prendesse à sua ordem.
D. Rita, não menos irritada, mas irritada como mãe, mandou, por portas travessas, dinheiro ao filho para
que, sem detença, fugisse para Coimbra, e esperasse lá o perdão do pai.
O corregedor, quando soube o expediente de sua mulher, fingiu-se zangado, e prometeu fazê-lo cap-
30 turar em Coimbra. Como, porém, D. Rita lhe chamasse brutal nas suas vinganças, e estúpido juiz de uma
rapaziada, o magistrado desenrugou a severidade postiça da testa, e confessou tacitamente que era brutal e
estúpido juiz.
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, Edição genética e crítica de Ivo Castro,
Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2007, pp. 27-28.
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Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Explicita o relacionamento entre Simão Botelho e a sua família, indicando a relação de sentido presente na
apresentação dos dois irmãos.
2. Compara as reações do corregedor e de D. Rita perante os comportamentos do filho mais novo, fundamentando
a resposta com citações textuais pertinentes.
3. Comprova que o episódio do chafariz, protagonizado por Simão Botelho, concorre para a construção da perso-
nagem enquanto herói romântico.
Texto B
4. Explicita as considerações, aparentemente paradoxais, que o narrador tece relativamente à verdade, indicando
a sua intenção.
5. Classifica o narrador do excerto quanto à presença, ciência e posição, justificando a tua resposta.
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Grupo II
Lê o texto seguinte.
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1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a opção que te permite obter uma afirmação correta.
1.1 A confirmação da afirmação, relativamente a Camilo Castelo Branco, «um óbvio e pouco convincente
lance de modéstia» (l. 6) surge na expressão
(A) «Camilo Castelo Branco termina com uma profecia dubitativa» (ll. 1-2).
(B) «talvez me regozije de ver […] esta 5.ª edição do Amor de Perdição quase esgotada» (ll. 3-4).
(C) «Camilo […] caracteriza o sucesso editorial da obra como “um êxito fenomenal e extralusitano”»
(ll. 15-16).
(D) «o Amor de Perdição foi, de facto, aquilo a que hoje chamaríamos um best-seller» (ll. 16-17).
1.2 Atualmente, o êxito de Amor de Perdição é comprovado pela
(A) assunção, por Camilo Castelo Branco, do sucesso fenomenal da obra.
(B) forma como se celebrou a sua primeira edição.
(C) contribuição de Camilo para realçar a importância da obra.
(D) vigésima edição da obra na primeira metade do século XX.
1.3 Amor de Perdição, contrariamente ao que acontece com a maioria das obras,
(A) é alvo de homenagens normalmente reservadas aos escritores.
(B) surge como um best-seller.
(C) aproxima-se de uma obra-prima.
(D) foi um êxito editorial.
1.4 Dos motivos apontados para a aproximação de Amor de Perdição a uma obra-prima, desmontados por Abel
Barros Baptista, exclui-se
(A) a abordagem do livro no ensino secundário por várias gerações.
(B) a aproximação da obra à peça Romeu e Julieta, de Shakespeare.
(C) a modernidade do livro.
(D) o paralelo estabelecido entre a situação dos protagonistas da obra e a vida do próprio autor.
1.5 Com o segmento entre travessões (ll. 27-28), o autor pretende
(A) explicitar a afirmação apresentada anteriormente.
(B) apresentar uma opinião pessoal.
(C) comprovar o discurso posterior.
(D) tecer uma consideração acerca do discurso anterior.
1.6 A função sintática desempenhada pelo segmento sublinhado em «talvez me regozije de ver […] esta 5.ª
edição do Amor de Perdição quase esgotada» (ll. 3-4) é a de
(A) complemento direto.
(B) predicativo do complemento direto.
(C) complemento do nome.
(D) complemento oblíquo.
1.7 No excerto «Barros Baptista acha que o livro é “bastante moderno” e “muito menos linear e convencio-
nal” do que geralmente se pensa» (ll. 29-30), as palavras sublinhadas são
(A) uma conjunção e um pronome, respetivamente.
(B) pronomes em ambos os contextos.
(C) um pronome e uma conjunção, respetivamente.
(D) conjunções em ambos os contextos.
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2. Responde aos itens apresentados.
2.1 Classifica a seguinte oração: «[…] que nunca se teve propriamente em baixa conta […]» (ll. 6-7).
2.2 Identifica a função sintática do segmento sublinhado em «Barros Baptista começa por desmontar a ideia
de que sucessivas gerações de estudantes estudaram o livro no ensino secundário» (ll. 19-20).
2.3 Indica o antecedente do pronome sublinhado em «a vida do romancista na cadeia portuense não era bem
a que se julga» (ll. 24-25).
Grupo III
«O homem fatal, afinal, existe nos sonhos próprios de todos os homens vulgares, e o romantismo não é
senão o virar do avesso do domínio quotidiano de nós mesmos.»
Bernardo Soares
A partir da citação transcrita, elabora um texto expositivo, de cento e trinta a cento e setenta palavras, sobre
a construção do herói romântico em Amor de Perdição.
Deves ser elucidativo quanto ao tema que estás a tratar e fundamentar as tuas ideias, através de exemplos
da obra em questão.
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