Práticas
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Práticas
DOI: http://dx.doi.org/10.29380/2020.14.07.38
Recebido em: 31/08/2020
Aprovado em: 07/09/2020
Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 7, p. 1-17, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/
Resumo:
Abstract:
This study is an excerpt from a term paper in the Specialization course in School Management. We
aim to present Didactics as a fundamental discipline for the training of teachers in the Pedagogy
course. To achieve this goal, we carried out a Case Study with support in bibliographic, documentary
and field research; and we used as a tool for data collection a semi-structured interview script applied
to four students graduating from the Pedagogy course at a public university in Ceará. The data
contribute to the theme in question by pointing out an understanding of the role of Didactics as a
discipline and field of knowledge with regard to teacher training, since only then can it bring
effective contributions to the constitution of theoretical and practical knowledge of teaching work,
especially those related to the teaching and learning processes.
Resumen:
Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 7, p. 2-17, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/
INTRODUÇÃO
No decorrer do desenvolvimento das práticas docentes muitos professores sentem dificuldade para
desempenhar suas atividades no ensino dos diversos conteúdos escolares. Nesse sentido, aponta-se a
Didática como uma disciplina de mediação no processo do aprender e do ensinar. Assim, no presente
artigo temos como objetivo refletir sobre o papel da Didática para a formação de professores no
curso de Pedagogia.
Para Passos (2006), a trajetória da Didática como disciplina integrante dos cursos de formação de
professores em nível superior é historicamente marcada por quatro momentos (GARCIA, 1994;
OLIVEIRA; ANDRÉ, 1997).
A primeira fase se estende de sua implantação, em 1939, como curso e disciplina até o início da
década 1950. É caracterizada, inicialmente, por dificuldades na delimitação do objeto e conteúdo e,
em seguida, pela influência escolanovista com destaque para os conteúdos técnicos e metodológicos
(GARCIA, 1994).
O segundo período, que se prolonga da década 1950 até meados dos anos 1970, é marcado pelo
caráter normativo ou prescritivo, predominância da dimensão técnico-metodológica, pretensa
neutralidade científica, e ausência de questionamento sobre os determinantes e fins sócio-políticos da
Educação. Esse período é caracterizado por Oliveira e André (1997, p. 18), como “[...] o da
construção da Didática na perspectiva do liberalismo”.
A terceira fase, situada entre a segunda metade da década 1970 e a primeira metade da década 1980,
caracterizou-se como um período marcado por críticas e denúncias à Didática Tecnicista, teve por
marco fundante o I Seminário “A Didática em questão”. Nessa época, observou-se, por um lado, um
movimento de negação e, por outro, o início de esforços teórico-práticos para reconstrução desse
conceito. Nesse sentido, são de grande relevância os encontros nacionais da área, como o Encontro
Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), dentre outros.
No quarto período, que se inicia na segunda metade da década 1980 até os dias atuais, os
especialistas da área procuram articular o saber didático à questões metodológicas, epistemológicas e
ideológicas, compreendendo o ensino como prática social concreta, devendo ser abordado nas
múltiplas dimensões implicadas, evitando os reducionismos dos momentos anteriores. Neste período
são defendidas diferentes alternativas para o ensino da disciplina: ruptura com o tecnicismo
pedagógico do momento liberal; o compromisso com a democratização da escola pública, com o
ensino voltado para os interesses das classes populares e, consequentemente, com a negação das
relações de exploração, opressão e dominação no seio de um dado projeto histórico de sociedade; e o
não desconhecimento do papel que o ensino e a escola vem cumprindo no sentido de favorecerem, ao
mesmo tempo, a reprodução e a transformação social (OLIVEIRA; ANDRÉ, 1997). De acordo com
Passos (2006), a trajetória da Didática revela um significativo avanço no sentido de buscar a
superação das críticas diante das mudanças e transformações que ocorriam, bem como da
reconstrução do campo frente às novas exigências colocadas. Nessa direção, os Encontros Nacionais,
estudos e pesquisas pedagógicas vivenciados por pesquisadores da área têm sido importantes para
consolidar e aperfeiçoar ainda mais os estudos e as práticas da Didática.
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Práticas pedagógicas e o fazer docente
Diante das leituras sobre a Pedagogia e a Didática, torna-se primordial apresentar as concepções de
alguns autores sobre a prática pedagógica, como se constitui no fazer docente e o que deve orientar a
prática docente.
A partir disso, podemos afirmar que em meio a uma sociedade cheia de mudanças e transformações
constantes, o professor deve passar por uma formação que lhe dê subsídios à sua prática. É
importante ter em mente que tudo com o que ele se depara irá refletir não só em sua prática, como
também na educação/formação dos alunos.
Ao falar em práticas pedagógicas e no que as constituem, deve-se ressaltar que as mesmas são
formadas pelos saberes (as teorias, estudos, pesquisas, formação) e as vivências (experiências) dos
docentes para, assim, desenvolver suas práticas docentes a partir de uma compilação de tudo isso.
Compreender a prática pedagógica e o tipo de ensino é refletir sobre as dimensões que os envolvem.
O ensino é uma prática social concreta, dinâmica, multidimensional, interativa, sempre inédita e
imprevisível que sofre influências de aspectos econômicos, psicológicos, técnicos, culturais, éticos,
políticos, afetivos etc. (PASSOS, 2006). Portanto, as práticas de ensino sofrem influência de diversos
aspectos. Assim, a prática do professor não é uma prática única, pronta e acabada, está sempre se
transformando, evoluindo, o que possibilita melhorá-la e adequá-la a cada dia.
O trabalho docente é marcado por aspectos sociais, culturais e psicológicos (afetivos). Apresenta
características sociais porque é um trabalho realizado com e voltado para pessoas; cultural porque
esses seres humanos são envolvidos por toda uma cultura à sua volta; e psicológicas por envolver
seres constituídos por cognição, afetividade e comportamentos.
Segundo Tardif (2012), o objeto do trabalho docente são os seres humanos, e estes possuem
características peculiares que devem ser levadas em consideração. Ou seja, cada indivíduo tem suas
características, são seres heterogêneos, têm necessidades, interesses e comportamentos diferentes.
Quanto ao aspecto psicológico do trabalho docente, o autor aponta que essa característica é uma
dimensão que pode funcionar como um elemento facilitador ou bloqueador do processo de ensino e
aprendizagem.
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mas igualmente de perceber e sentir suas emoções, seus temores, suas
alegrias, seus próprios bloqueios afetivos (TARDIF, 2012, p. 130).
O professor deve trabalhar em suas práticas cotidianas também o lado emocional e não apenas o
técnico do fenômeno educativo; como vemos frequentemente. O professor que pensa em seus alunos,
nas situações vivenciadas por eles e que tenta entender o que os afeta e quais são suas dificuldades,
consegue trabalhar muito melhor com os alunos no sentido de compreender suas realidades e tentar
ajudá-los de alguma forma. Já o professor que a partir do momento que entra em sala de aula procura
ser apenas um profissional que somente leciona, aplica atividades, trabalhos, avaliações, dá notas e
não procura sequer conhecer seus alunos, não produzirá uma aprendizagem eficaz. Esse tipo de
postura adotada é desenvolvida por diversos profissionais da área e termina por acarretar prejuízos na
formação dos estudantes.
De acordo com a afirmação do autor, podemos dizer que o professor deve estar sempre em meio
termo ao que se refere aos alunos. Por exemplo, nunca ser muito flexível, como também não ser
rigoroso demais, pois, se existir muita flexibilidade, os estudantes acham que é uma abertura e que o
professor vai deixá-los fazer tudo que quiserem. Porém, sendo rigoroso demais, cria-se uma barreira
que impede de que seja estabelecida alguma aproximação, fazendo com que o aluno não tenha
interesse pelas aulas. Isso contribui para que não haja um bom aproveitamento do ensino e,
consequentemente, não possibilita que haja uma aprendizagem significativa.
Para que se tenha uma efetiva prática docente, precisa haver a presença de saberes que fundamentam
e auxiliam as suas práticas. Com relação às práticas docentes, diversos estudiosos da área apresentam
concepções a respeito dos saberes que constituem e orientam as mesmas. De acordo com Tardif
(2012) a prática docente não é mera transmissão de conhecimento, o saber docente é um saber plural
oriundos da formação profissional, de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.
Sobre os saberes disciplinares instituídos pelas Instituições de Ensino Superior, eles integram-se às
práticas docentes também através das formações iniciais e contínuas, ocorrendo através das diversas
disciplinas cursadas durante o curso de graduação e estágios curriculares obrigatórios. Estes saberes
correspondem aos diversos campos do conhecimento.
Os saberes curriculares estão embutidos sob a forma de programas escolares (objetivos, conteúdos,
métodos) que se espera que os professores aprendam a aplicar.
Já os saberes experienciais são as experiências das rotinas do trabalho dos professores. São as
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práticas da sua profissão que produzem e desenvolvem esse tipo de saber.
Os professores que têm um vasto saber tanto profissional quanto experiencial e a partir desses
saberes fazem uma relação da teoria com a prática em suas ações docentes, desenvolverão um ensino
com bons resultados nas aprendizagens e formação dos alunos.
Em nosso meio, durante o trabalho docente cotidiano, como também entre os discursos de
pesquisadores da área da educação, há dois termos usuais e importantes, que por estarem sendo
discutidos nesta seção julgamos importante apresentarmos suas diferenças e especificidades: trabalho
docente e trabalho pedagógico.
Ao falar de trabalho docente e trabalho pedagógico, Libâneo (2009) citado por (FRANCO, 2012, p.
99) tem a posição de que "[...] todo trabalho docente é pedagógico, mas nem todo trabalho
pedagógico é atividade docente. A base da formação do docente são os estudos pedagógicos". Todo
o trabalho docente está introduzido, ligado e fundamentado no pedagógico. Por exemplo, o trabalho
desempenhado por um coordenador ou supervisor pedagógico em uma escola é um trabalho
pedagógico, no entanto, não se pode dizer que é um trabalho docente. O trabalho docente refere-se
estritamente ao trabalho do professor. O trabalho pedagógico engloba diversas ações voltadas para o
processo de ensino e aprendizagem. Assim, podemos concluir que todo trabalho docente é um
trabalho pedagógico porque o trabalho docente tem como foco o ensino e aprendizagem dos alunos.
Para Libâneo (2009) apud Franco (2012) há quatro condições necessárias para caracterizar a
atividade docente como uma prática pedagógica: i) identificação dos conteúdos que contribuem para
o desenvolvimento cognitivo dos alunos; ii) organização didática desse conteúdo; iii) planejamento
do espaço e do tempo didático; iv) apoio e vivência de práticas culturais institucionais.
Nesse sentido, entendemos que este autor não defende um tipo de trabalho do professor que se
preocupa apenas com os conteúdos e planejamento, ele defende que o professor deve também ter
vivências de práticas culturais na instituição. Ou seja, o professor não deve ser apenas aquele
professor tradicional, conteudista, ele deve estar sempre inserido em projetos da escola, em
atividades artísticas e interdisciplinares.
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É relevante ressaltar que o discente ao terminar um curso de licenciatura não basta ter bastante
conhecimentos teóricos e práticos se ele não domina os conteúdos com os quais irá trabalhar. Como
afirma Pimenta (1990 apud FRANCO, 2012), ele precisa ter uma boa formação no que se refere aos
saberes teóricos, pedagógicos e práticos. No entanto, deve ter também saberes de conteúdos que irá
utilizar no seu cotidiano, dos assuntos que irá abordar e discutir em suas aulas. Sobre isso, a autora
afirma ainda que a boa formação docente não resulta do mero repasse de conhecimentos científico,
mas precisa que o formando reelabore esses conhecimentos, transformando-os em saberes elaborados
com base na prática.
Na atuação prática, o discente irá encontrar a realidade, as dificuldades e as verdadeiras situações que
muitas vezes as teorias não apresentam nem explicam. É justamente por isso que se torna necessário
o aluno reelaborar os seus conhecimentos. Pois, assim, ele integrará os conhecimentos teóricos
relacionando-os com a prática e vice-versa, podendo, então, compreender melhor o sentido e o modo
como se realizam as ações. Nesse sentido, Pimenta (1999 apud FRANCO, 2012) destaca a
importância da prática como esclarecedora da teoria nela impregnada e também considera a prática
como espaço de significação da teoria.
METODOLOGIA
O presente trabalho trata-se de um Estudo de Caso, no qual as informações foram obtidas por meio
de pesquisas bibliográficas, estudo documental e de campo. O Estudo de Caso é um meio para se
coletar dados preservando o caráter unitário do objeto a ser estudado. Tal método de pesquisa,
segundo Stake (1998) caracteriza-se como um estudo aprofundado de uma unidade em sua
complexidade e em seu dinamismo próprio.
identificação, localização e compilação dos dados inscritos em livros, artigos de revistas, publicações
de órgãos oficiais etc.”. Para tanto, foram realizadas pesquisas e estudos a partir dos autores: Libâneo
(1994), Tardif (2012), Passos (2006) dentre outros. Realizando-se também a pesquisa documental,
que conforme Carvalho (1988) é aquela realizada a partir de documentos considerados
cientificamente autênticos (não-fraudados). Na pesquisa documental, analisou-se a ementa da
disciplina de Didática do curso de Pedagogia de uma universidade pública do Ceará.
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Quanto à pesquisa de campo, é importante destacar que segundo Lakatos e Marconi (1996), trata-se
da pesquisa em que se observa e coleta os dados, tal como ocorrem espontaneamente, no próprio
local em que se deu o fato em estudo, caracterizando-se pelo contato direto com o mesmo, sem
interferência do pesquisador”.
Quanto aos sujeitos de pesquisa, entrevistamos quatro alunas egressas do curso de Pedagogia de uma
Universidade pública do Ceará. A escolha por esta quantidade ocorreu de acordo com a disposição
dos mesmos e a disponibilidade de tempo para executar a pesquisa. É importante mencionar que
todos os entrevistados vivenciaram as mesmas aulas e estudos durante a realização da disciplina de
Didática, bem como também, estão atuando como professoras da rede pública municipal do Ceará,
sendo três de Fortaleza e uma de Maracanaú, com média de idade de vinte e oito anos, podendo,
assim, colaborar com informações e dados acerca de suas práticas docentes de forma similar por
estarem em um mesmo contexto tanto de formação como de atuação.
Os dados foram analisados de forma analítico-descritiva, a partir de cada questão proposta, seguindo
a ordem do roteiro das entrevistas à luz do referencial teórico adotado neste estudo e com os
objetivos pretendidos na pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A disciplina de Didática foi cursada pelas entrevistadas do curso de Pedagogia com uma carga
horária de 120 horas. De acordo com a ementa, os objetivos gerais da disciplina eram: refletir
criticamente sobre a relação existente entre a problemática educacional e a realidade social; construir
uma visão crítica e ampla do trabalho do professor; analisar as características e peculiaridades do
trabalho docente, inserindo-o no contexto atual; compreender o papel da Didática no
desenvolvimento do trabalho docente; identificar e analisar as competências e saberes docentes
necessários ao desempenho de uma prática pedagógica crítica e criativa no contexto atual, entre
outros.
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textos, elaboração de planos/projetos de ensino e uma avaliação subjetiva.
A seguir, apresentamos e discutimos cada questão abordada na entrevista. E é possível notar que
estas consideram a disciplina de Didática como importante, destacando que a mesma proporcionou o
conhecimento das práticas pedagógicas e das metodologias utilizadas em sala de aula. Isso vai ao
encontro do que apontamos em nossa fundamentação teórica, destacando que a Didática reúne em
seu campo de conhecimentos os objetivos, os meios e os modos de ação pedagógica na escola. Ao
falar de meios e modos de ação pedagógica, estamos nos referindo às metodologias aplicadas dentro
e fora de sala de aula.
Professora B: Sim, porque é uma disciplina que nos leva a refletir sobre a nossa
prática pedagógica (prática que iremos ter) no processo de ensino e aprendizagem,
como também, sobre as metodologias e técnicas utilizadas em sala de aula.
Diante das respostas referentes à primeira questão podemos dizer que as professoras cursaram a
disciplina pelo fato de a mesma proporcionar o conhecimento das práticas pedagógicas e
metodologias. Ou seja, percebemos que, para elas, as metodologias é o que se destaca, é um ponto
principal visto na disciplina. Todavia, a Didática não pode ser reduzida a metodologia. Enquanto
disciplina, ocupa um lugar de destaque apresentando-se como teoria e prática do ensino. A mesma
estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino. Tal concepção é
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percebida claramente na fala da professora A, ao dizer que a disciplina fez com que aprendessem
“como” e o “que fazer” dentro e fora de sala de aula, como lidar com situações e conteúdos
propostos em tal ambiente.
A professora D também afirma que foi através da disciplina de Didática que ela pôde se apropriar de
metodologias de ensino de maneira mais eficaz, ou seja, sem a disciplina referida, ela não teria tido
essa oportunidade. Por isso, também consideramos a disciplina de Didática como a base, o apoio
para a realização do trabalho profissional do professor; como diz a professora A.
Cabe destacar que a professora D ainda nos chamou a atenção ao dizer que foi nesta disciplina que
ela começou a fazer as leituras de José Carlos Libâneo, apontando que este autor traz um bom
embasamento para a prática profissional. De fato, este autor apresenta muito bem a Didática
enquanto disciplina, seus estudos e contribuições para a formação docente. Acreditamos que é
importante à formação docente a leitura das obras do referido autor, pois o mesmo apresenta ricas
contribuições tanto no que se refere à profissão docente, à Didática, práticas pedagógicas, como
também à escola em seu contexto, suas dimensões, dentre muitos outros assuntos que perpassam pela
Educação.
É relevante destacar que a professora C mencionou a importância de ter cursado a disciplina porque,
através dela, pode compreender o significado da avaliação para a construção do planejamento, como
também exemplos de situações que poderia vivenciar em sala de aula, metodologias e práticas
pedagógicas. Ou seja, para ela, o que mais se destacou como importante foram as discussões sobre a
avaliação, seus diversos tipos e o papel da mesma para a construção do planejamento.
Libâneo defende que a avaliação é uma tarefa didática necessária que acompanha o professor em
todo o seu trabalho. É através da mesma que o docente poderá refletir se os seus objetivos estão
sendo alcançados, se as aprendizagens estão sendo satisfatórias e a partir disso buscar as correções e
ajustes que forem preciso.
Professora A: Acredito que sim. Tive. De certa forma, creio que se não fosse também
a disciplina de Didática não saberia como conduzir os meus planos e planejamentos
de aula, por exemplo.
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e refletirmos sobre a nossa prática docente quando estivéssemos em prática.
Professora C: Sim, a disciplina de Didática proporcionou ter uma melhor visão sobre
a avaliação como ferramenta para o planejamento, identificar problemas
encontrados em sala de aula e a aplicação de metodologias.
Para todas as professoras entrevistadas houve uma boa aprendizagem no que se refere à Didática e
suas contribuições para a prática docente. Todas elas apontam que através da disciplina de Didática
obtiveram uma aprendizagem sobre os planejamentos.
Percebemos que para três professoras, o que a disciplina de Didática contribuiu mais para a
aprendizagem de práticas docentes diz respeito às metodologias (práticas de ensino), tendo em vista
que a disciplina de Didática estuda e trabalha justamente os meios, modos de ações pedagógicas, ou
seja, a prática em si. Em segundo lugar, para elas, vem o aprendizado sobre os planejamentos. Em
seguida, temos dois pontos citados por duas professoras: a avaliação e o uso das tecnologias como
recursos pedagógicos em suas aulas.
Essas respostas nos remetem ao que Rays (2011 apud CANDAU, 2011, p. 44) afirma:
Professora A: Sim, contribuiu e ainda contribui como uma orientação do que eu iria
encontrar pela frente em minha prática docente.
Professora C: Sim, como através da base teórica oferecida pela disciplina para uma
boa prática pedagógica.
Professora D: A disciplina contribuiu demais para a minha prática, pois quando estou
em sala de aula lembro dos vídeos e da fala da professora, quando dizia que
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deveríamos articular os conhecimentos adquiridos sobre as metodologias de ensino
de forma crítica.
A professora C informa que a disciplina contribuiu para a formação profissional através da base
teórica oferecida e isso ajudou para que ela tivesse uma boa prática pedagógica. Ao falar que a
disciplina contribuiu através da base teórica oferecida, entendemos que a base teórica foi uma base
que proporcionou conhecimentos que serviram para a sua prática pedagógica.
A professora A também diz que a disciplina contribuiu e contribui para uma orientação do que ela
iria encontrar em sua prática docente. Entendemos que a orientação do que ela vivenciaria em sua
prática seria por meio de práticas, metodologias que poderiam ser utilizadas.
A professora B respondeu que a disciplina contribuiu para a sua aprendizagem no sentido de fazê-la
refletir sobre a importância da interação do conhecimento entre aluno e professor no processo de
ensino e aprendizagem, onde o aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem. Vemos que, para essa
professora, além da aprendizagem de metodologias e técnicas utilizadas em sala de aula, ela também
pôde compreender e refletir sobre a prática pedagógica que iria desenvolver. Podemos observar,
ainda, que para esta professora, a aprendizagem que se refere à reflexão sobre a sua futura prática
docente foi de grande importância, isso pelo fato de levar a uma reflexão de situações cotidianas de
práticas docentes, como também de compreender que o aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem.
Isso a ajudou a ter uma melhor visão sobre o aluno. Esse entendimento exclui a concepção que
alguns professores mais tradicionais têm, de que o docente é o sujeito ativo da aprendizagem dos
alunos. Ao falar sobre o aprendizado que obteve sobre a importância da interação (relação) do
conhecimento, aluno e professor, onde o aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem, corrobora o
pensamento de Cunha (1987 apud CUNHA et al., 2012, p. 151) ao dizer que “Um professor que
acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com sua aprendizagem e com seu nível
de satisfação, exerce práticas de sala de aula de acordo com essa posição. E isso é também relação
professor-aluno.”.
A professora D relatou que a disciplina contribuiu muito para sua prática, porém destacou também a
aprendizagem de sempre articular os conhecimentos adquiridos de forma crítica e em tudo o que for
fazer, questionando sempre sobre os objetivos a serem alcançados.
A quarta questão do roteiro buscava saber das entrevistadas, o que hoje, durante sua prática
profissional, aplicam e utilizam das aprendizagens da disciplina de Didática que cursaram. A esta,
obtivemos as seguintes respostas:
Professora C: Utilizo, por meio das práticas utilizadas em sala; tendo uma melhor
visão da relação aluno-professor como contribuintes para o processo de ensino e
aprendizagem; a reflexão sobre a minha prática para obter um bom planejamento;
dar um novo significado ao papel da avaliação através do acompanhamento
individual do aluno, pois a avaliação é constante; e a compreensão das situações de
sala para a construção de novas práticas pedagógicas.
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Professora D: Atualmente trabalho com turmas de alfabetização na rede pública de
Fortaleza e sempre reflito sobre o que absorvi durante a disciplina e minha prática
em sala de aula. Verifico também que minha postura com as metodologias de ensino,
mais tradicional ou construtivista, fazem a diferença na aprendizagem das crianças.
O comportamento das crianças diante da minha metodologia varia de acordo com a
metodologia aplicada.
Por meio das respostas a essa questão podemos verificar que mais uma vez as professoras destacam o
planejamento e as metodologias como dois pontos mais relevantes em suas aprendizagens e que
utilizam e aplicam em suas práticas docentes atuais. Por exemplo, as professoras A, B e C falam
sobre os planejamentos.
A importância do planejamento no trabalho docente, é apontada por Libâneo (1994), dado que inclui
previsão e organização das atividades didáticas conforme os objetivos propostos, revisão e
adequação durante a execução. Sendo uma programação, pesquisa e reflexão ligadas à avaliação.
Percebemos que, das aprendizagens adquiridas com a disciplina de Didática, o que duas professoras
aplicam e utilizam são os planejamentos, em primeiro lugar. Em segundo lugar, estão as
metodologias (práticas de ensino), como citam as professoras C e D. E em terceiro lugar, as
professoras B e C citam a avaliação, reconhecendo o seu verdadeiro papel enquanto instrumento de
acompanhamento e verificação da aprendizagem dos alunos.
Partindo do posicionamento deste autor endentemos que por meio da avaliação o professor verifica
os resultados das aprendizagens dos alunos, se correspondem aos objetivos pretendidos, e a partir
disso ter um direcionamento para as suas atividades didáticas. É aí que o docente poderá reconstruir
os seus objetivos e os seus planos didáticos.
A quinta e última questão do roteiro indagava que, tendo em vista a formação de futuros professores
pedagogos, que sugestões as docentes apontariam para a disciplina de Didática face à experiência
profissional adquirida ao longo de sua prática pedagógica. Ao que nos responderam:
Professora A: Não sei se seria pertinente, mas o que todos sentem necessidade é da
união entre teoria e prática. Experimentar ao menos parte do que recebemos
teoricamente em sala de aula seria uma oportunidade de aprendizagem bem melhor.
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a identificação de situações de conflito.
Diante das respostas das docentes entendemos que para três delas o ponto mais importante como
sugestão para a disciplina de Didática é que haja uma relação entre a teoria e prática. As professoras
A, C e D sinalizam que se na disciplina houver essa relação da teoria com a prática, como na
disciplina de Didática com os estágios em sala de aula, a aprendizagem que teriam sobre as práticas
seria maior. Como cita a professora C: “[...] é necessária a vivência em sala para o exercício da
profissão do professor”.
Vale destacar que a professora B aponta como sugestão para a disciplina de Didática que a mesma
trabalhe com os futuros professores a importância de estarem sempre buscando uma formação
continuada, mesmo depois de terem terminado o curso de graduação, pois dessa forma haverá
mudanças e progressos em suas práticas pedagógicas. Podemos entender que apenas o curso de
graduação não dá conta da complexidade do fazer docente, mesmo que seja um curso que forme
adequadamente faz-se necessário que o professor busque atualizar-se, dando continuidade à sua
formação.
Podemos destacar que a questão da relação teoria e prática mencionada pelas professoras A, C e D é
um dos pontos que precisa ser reforçado nos cursos de formação de professores, pois é através dessa
relação que a aprendizagem será potencializada, assim como a elevação da qualidade das práticas
docentes. Essa questão sobre a relação teoria e prática não é uma questão nova, muito se discute
sobre ela, como por exemplo a dificuldade que muitos estudantes encontram em disciplinas do curso
de Pedagogia, onde a relação teoria com a prática apresenta fragilidades.
De tudo o que foi discutido até aqui, podemos afirmar que mesmo diante de todas as contribuições
que a disciplina de Didática proporcionou às professoras entrevistadas, há uma necessidade de se
trabalhar mais na referida disciplina a relação entre teoria e prática, para que haja uma proximidade
das teorias estudadas com as práticas docentes e há a necessidade que a Didática seja compreendida
de forma superior à sua dimensão técnica ou instrumental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos dados e da análise, concluímos que a Didática, enquanto campo de conhecimento, estuda
os objetivos, conteúdos, meios e modos de ações pedagógicas na escola. Trazemos no presente artigo
dados empíricos e atuais que corroboram a leitura da Didática enquanto disciplina que apresenta-se
como teoria e prática do ensino e, por isso, ocupando lugar de destaque nos cursos de formação de
professores.
Concebendo a Didática para além de sua mera dimensão técnica/instrumental, a partir dos
depoimentos observamos que a mesma é uma disciplina fundamental para a formação de professores,
pois lhes propicia um conhecimento sobre como trabalhar com os conteúdos nas aulas, qual a função
de seus planejamentos didáticos, os tipos e as funções da avaliação e situações encontradas em seu
cotidiano. É também na disciplina de Didática que o aluno tem um contato com as técnicas e
metodologias que deverão ser aplicadas em sala de aula e poderá refletir sobre o seu futuro trabalho
profissional como professor.
De acordo com as entrevistas realizadas com as docentes, em meio a tantas aprendizagens é apontado
também como aprendizado relevante durante a disciplina de Didática a importância de haver uma
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interação do conhecimento entre aluno e professor no processo de ensino e aprendizagem, onde o
aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem.
Com isso, nota-se que a experiência de cursar a disciplina de Didática é primordial, pois através dela
os licenciandos podem aliar os conhecimentos teóricos aprendidos nas demais disciplinas já cursadas
com os conhecimentos teóricos e práticos da Didática. Na união das teorias estudadas com as teorias
e práticas da Didática se estabelece uma relação entre as mesmas permitindo que os objetivos
teóricos sejam convertidos em uma boa prática.
É através da disciplina de Didática que os discentes obtêm uma formação sobre o empírico docente,
compreenderão o processo de ensino e aprendizagem e como lidar diante de problemas ou conflitos
encontrados em sala de aula. A disciplina referida traz em seu bojo a proposta de fazer com que os
professores desenvolvam metodologias mais eficazes durante o seu trabalho, considerando o
contexto social, político, cultural e econômico em que os conteúdos de ensino são produzidos e
desenvolvidos junto aos estudantes.
A Didática nos cursos de formação de professores permite a qualidade do trabalho do futuro docente,
fazendo com que sua prática proporcione uma boa formação para seus alunos.
Esperamos que com o estudo realizado, ao trazermos alguns dados coletados no âmbito da dimensão
empírica da formação docente, possamos ter contribuído para um maior reconhecimento da
importância e contribuições que a disciplina de Didática proporciona aos estudantes, não só do curso
de Pedagogia, como dos cursos de formação de professores nas mais diversas áreas do
conhecimento.
Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 7, p. 15-17, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/
REFERÊNCIAS
FRANCO, Maria Amélia do R. S. Pedagogia e prática docente. São Paulo: Cortez, 2012. (Coleção
Docência em Formação: saberes pedagógicos).
GARCIA, Maria Manuela Alves. A Didática no Ensino Superior. Campinas, SP: Papirus, 1994.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996.
OLIVEIRA, Maria Rita N. S.; ANDRÉ, Marli Eliza D. A. A prática do ensino de Didática no
Brasil: introduzindo a temática. In: ANDRÉ, Marli Eliza D. A.; OLIVEIRA, Maria Rita N. S.
(orgs.). Alternativas no ensino de Didática. Campinas: Papirus, 1997, p. 7-18.
Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 7, p. 16-17, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/
Notas:
*** Graduando em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP).
Contato: [email protected].
Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 7, p. 17-17, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/