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ATOS DE PESQUISA EM EDUCAO - PPGE/ME

ISSN 1809-0354 v. 8, n. 2, p.550-567, mai./ago. 2013


DOI 10.7867/1809-0354.2013v8n2p550-567
A REDE SOCIAL FACEBOOK NA FORMAO CONTINUADA DE
PROFESSORES: UMA POSSIBILIDADE CONCRETA

FACEBOOK SOCIAL NETWORK IN CONTINUING EDUCATION TEACHER: A
CONCRETE POSSIBILITY


FERREIRA, Jacques de Lima
[email protected]
Pontifcia Universidade Catlica do Paran

MACHADO, Mrcia Freire Rocha Cordeiro
[email protected]
Pontifcia Universidade Catlica do Paran

ROMANOWSKI, Joana Paulin
[email protected]
Pontifcia Universidade Catlica do Paran


RESUMO Este artigo apresenta uma pesquisa de abordagem qualitativa do tipo
descritiva que envolveu dezoito professores que atuam em diferentes nveis de
ensino que frequentaram a disciplina Formao de Professores - Processos e
Profissionalizao Docente da Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR)
realizada no segundo semestre de 2012 como uma formao continuada
universitria. O objetivo da investigao foi examinar a interao de professores na
rede social facebook desenvolvida em uma disciplina de curso de formao
continuada em nvel de ps-graduao stricto sensu indicando os nveis dessa
interao. A disciplina toma como ponto de partida a prtica dos participantes quanto
aos seus prprios processos de formao, considerando trs nveis de abordagem,
a saber: descrio e problematizao dessa prtica, interpretao e compreenso
como prope Martins (1998). A discusso e a reflexo deste artigo encontram-se
pautadas na temtica do seminrio que apresentou como proposta: As tecnologias
da informao e comunicao na formao de professores. A realizao do
seminrio seguiu os encaminhamentos de Severino (2010), roteiro didtico,
interpretativo e de questes. Para o desenvolvimento dessas fases foi criado um
grupo fechado no Facebook denominado: Formao de professores, ambientao
dos participantes no grupo como ambiente para os estudos e debates. Nas
discusses e reflexes realizadas foram considerados os comentrios dos
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participantes e as interaes ocorridas, em que se verifica um primeiro nvel de
acesso ao espao sem interao, um segundo nvel de participaes restritas para
posterior ampliao e aprofundamento. Nesse processo se inclui despir-se de
preconceitos em relao rede social Facebook e reconhecer que essa interface
pode se tornar uma possibilidade para construir e fomentar novas prticas
inovadoras de aprendizagem num processo de ensinar e aprender, alm de
ampliao do compromisso poltico, social e tico.
PALAVRAS-CHAVE: Formao Continuada. Redes Sociais. Facebook. Formao
de Professores.

ABSTRACT This article presents a qualitative study that involved a descriptive
eighteen teachers working in different educational levels who attended the discipline
Teacher - Processes and Professional Lecturer at the Catholic University of Paran
(PUCPR) held in the second half of 2012 as a form of continuing education
university. The aim of the research was to examine the interaction of teachers in the
social network facebook developed into a discipline of continuous training course at
post-graduate levels indicating the strict sense of this interaction. The course takes
as its starting point the practice of the participants regarding their own training
processes, considering three levels of approach namely: description and questioning
this practice, interpretation and understanding as proposed by Martins. The
discussion and reflection this article are guided by the theme of the seminar which
presented as a proposal: The information and communication technologies in teacher
education. The seminar followed the referrals Severino (2010), didactic script,
questions script and interpretive. For the development of these phases has created a
closed group on Facebook called: Teacher training, the participants in the group
setting as environment for studies and debates. In discussions and reflections were
considered the comments made by the participants and the interactions occurring,
where there is a first level of access to space without interaction, a second level of
restricted shares for further expansion and deepening. In this case falls undress
themselves of preconception in relation to the social network Facebook and
recognize that this interface can become an opportunity to build and foster new
innovative learning practices in teaching and learning process, in addition to
expanding the political, social and ethical commitment.
KEYWORDS: Continuing Education. Social Networks. Facebook. Teacher
Education.


INTRODUO

Vivemos um momento mpar na educao brasileira em que a formao de
professores est na agenda de prioridades das polticas pblicas, bem como nos
projetos pedaggicos institucionais. Alm disso, O processo de globalizao e o
avano da cincia e do conhecimento provocaram mudanas paradigmticas na
sociedade e, por conseguinte, na educao (BEHRENS, 2006, p. 14), o que implica
em novos desafios para os processos de formao e prtica docente. Considerando
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esse contexto, a anlise realizada pondera sobre a fragmentao e a desarticulao
do processo de formao dos professores (MARTINS; ROMANOWSKI, 2010).
Outro aspecto a examinar, reporta-se ao desenvolvimento acelerado das
Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs), que na sociedade
contempornea desenvolveram formas surpreendentes de armazenar, recuperar e
disseminar o conhecimento. Esse novo modo de sistematizao do conhecimento
produz rpidas alteraes no cenrio educacional, de magnitudes ainda pouco
conhecidas, que necessitam ser analisadas e discutidas. Entretanto, isso requer
reflexo sobre os conceitos das prticas educativas e de tecnologia, entendidos
integrados na construo do conhecimento, na democratizao do saber e, por
conseguinte, no desenvolvimento da cidadania, como apontam Marcelo e Vailant
(2012) dentre outros autores.
Contudo, a educao abre-se progressivamente para a utilizao das TICs
em seu contexto pedaggico. Behrens et al. (2007, p.02) afirma que:

[...] longe de ser uma mudana tranquila de procedimentos didticos e de
opo crtica pela utilizao da tecnologia, trata-se de um movimento de
mudana paradigmtica que so permeadas por questes que exigem um
processo de investigao e reflexo aprofundado. Assim, os docentes
necessitam agir de maneira reflexiva para no adotarem recursos de forma
acrtica, descontextualizada dos meios e da repercusso social, econmica,
poltica e cultural no qual esto inseridos.

Essa insero das TICs ao mudar a organizao e sistematizao do
conhecimento interage com os modelos educacionais, como prope Levy (1999) ao
considerar a cibercultura, em que a lgica comunicacional favorece as redes
hipertextuais e comunicao em tempo real e em rede. A interao ocorre pela
multiplicidade de direcionamento, pois so muitos os modos de relao entre os
sujeitos no meio virtual. Essa diversidade causa novas formas de dilogo sem a
presena fsica dos sujeitos, ou seja, virtual e imaterial possibilitando novos
direcionamentos dos modelos educacionais. Um novo modo de organizar o processo
educativo, de encarar o aluno, o professor e o conhecimento se estabelece nesse
movimento.
Frente a esse contexto, a escola e, em especial, os professores so
desafiados quanto aos conceitos sobre a aprendizagem do aluno, quanto s
possibilidades e limitaes. Um dos principais desafios direciona-se para a prtica
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docente, pois o ensino dever contribuir com os aprendizes de modo que eles
passem a aprender a aprender.
Assim, a integrao crescente entre mente e mquina altera
fundamentalmente os modos pelo quais so socializadas as informaes e
produzido o conhecimento. Com efeito, isso tem sido objeto de interesse de
pesquisadores de vrias reas do conhecimento com o intuito de conhecer as
potencialidades e limites dessa relao entre mente e mquina, principalmente, na
rea educacional, em que a aprendizagem intensifica a capacidade de cognio dos
alunos por meio da interatividade e da mediao.
Este artigo resulta de investigao realizada com professores de diversas
reas do conhecimento na utilizao das TICs, numa perspectiva de aprendizagem
colaborativa num ambiente de formao continuada, tendo como interface a Rede
Social Facebook. O objetivo examinar a interao de professores na rede social
facebook durante uma formao continuada desenvolvida numa disciplina de um
programa de ps-graduao stricto sensu. Inclui apontar indicaes para uma
prtica pedaggica com a utilizao do Facebook como um recurso didtico a favor
da aprendizagem a partir dos comentrios dos participantes na rede social deste
processo. Entre os desafios da investigao na rea da educao est a busca de
caminhos alternativos e inovadores que contribuam para os processos de formao
de professores, numa perspectiva transformadora, autnoma, emancipatria e
comprometida com a formao de cidados crticos e produtores de conhecimento.

2 A FORMAO DE PROFESSORES E O USO PEDAGGICO DAS TICS

Historicamente a cincia e a educao passam por mudanas no contexto
das relaes sociais, que se intensificam no decorrer do sculo XX e neste incio do
sculo XXI. Rompem-se as barreiras de cada tempo e espao e vai-se delineando
uma nova sociedade, caracterizada pela busca da informao e do conhecimento.
Para Mercado (1999, p. 26) a informao :

[...] um recurso econmico, poltico, social e cultural extremamente
poderoso. [...] um bem revolucionrio, que pode ser utilizado ao mesmo
tempo por milhes de pessoas e que pode transformar qualitativamente o
homem. [...] a matria-prima bsica do desenvolvimento cultural e da
elevao da qualidade de vida.
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Esta busca tem afetado a vida das pessoas de forma profunda, no que se
refere produo, socializao e explorao do conhecimento, gerando
perplexidade, contradies, dvidas e incertezas.
Esta nova concepo est tambm assentada no estabelecimento de prticas
pedaggicas que agreguem a incorporao das TICs em seu fazer cotidiano
acadmico. Essa constatao desafia o trabalho docente, pois h uma presso
externa por uma educao que promova o conhecimento multidimensional,
interdisciplinar e plural.
Segundo Moran (2006, p. 29), ensinar e aprender exige hoje muito mais
flexibilidade, pessoal e de grupo, menos contedos fixos e processos mais abertos
de pesquisa e de comunicao.
As TICs possibilitam sublevar os processos e metodologias de aprendizagem,
pois criam novas chances de reformular as relaes entre alunos e professores e de
rever a relao da universidade como meio social, ao diversificar os espaos de
construo do conhecimento.
Para Serafim, Pimentel e Sousa do (2008, p. 316):

[...] a insero das TICs exige que sua utilizao ultrapasse o mero
mecanismo ou tecnicismo. No basta a incluso do computador ou de
outras tecnologias recentes para que se possa dizer que a educao est
acontecendo e que os propsitos de interatividade e de construo do
conhecimento esto sendo desenvolvidos.

Portanto, premente colocar o conhecimento disposio do maior nmero
de pessoas, dispondo de ambientes de aprendizagem que as novas tecnologias,
segundo Mercado (1999, p.25), sejam ferramentas instigadoras, capazes de
colaborar para uma reflexo crtica, para o desenvolvimento da pesquisa, sendo
facilitadoras da aprendizagem de forma permanente e autnoma.
E, especialmente no ambiente on-line, os sites hipertextuais supem:

a) intertextualidade: articulaes com outros sites ou documentos; b)
intratextualidade: novas compreenses com o mesmo documento; c)
multivocalidade: incorporar a multiplicidade das diferentes formas de
interpretar o texto; d) navegabilidade: ambiente simples e de fcil acesso e
transparncia nas informaes; e) mixagem: integrao de vrias
linguagens: sons, texto, imagens dinmicas e estticas, grficos, mapas; f)
multimdia: integrao de vrios suportes miditicos (SANTOS, 2003, p.
225).
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Segundo Bauman (2001) vivemos atualmente numa sociedade marcada pela
flexibilidade e pela fluidez nas relaes contemporneas, numa modernidade
lquida. No entanto, at pouco tempo atrs, de acordo com Moran (2006, p.29):

[...] a sala de aula era o nico espao usado para se desenvolver o trabalho
docente; hoje, com os avanos tecnolgicos, h outra realidade, em que
informaes diversas e fontes variadas de acesso ao conhecimento fazem
da aprendizagem algo no linear, e que exige criatividade dos professores
em suas prticas pedaggicas.

Essa nova forma de ensinar coloca os professores diante de um novo modo
de realizar o ensino, que pode ser melhorada e alterada quando os professores
passam por algum processo de formao. Behrens (2007, p. 450) defende que a
formao continuada exige:

[...] a elaborao de propostas aliceradas com base nas necessidades dos
docentes, com intuito de gerar a mudana desejada na prtica pedaggica e
que a mudana paradigmtica envolve os professores que atribuem
significados e aprendem a partir das suas experincias vivenciadas nos
processo de formao continuada.

Marcelo Garcia (1999, p. 23) defende que [...] ela deve capacitar professores
para um trabalho profissional que no exclusivamente de aula [...] e que [...] no
um processo que acaba nos professores [...]. O autor define como sete Princpios
da Formao de Professores, dentre os quais:

um Processo Contnuo constitudo por fases claramente diferenciadas
pelo contedo curricular; Deve estar integrada a processos de mudanas,
inovao e desenvolvimento curricular; Deve estar ligada com o
desenvolvimento organizacional da escola; Deve estar integrada aos
contedos propriamente acadmicos e disciplinares e a formao
pedaggica dos professores; Deve estar integrada a teoria-prtica; Deve
procurar o isomorfismo entre a formao recebida pelo professor e o tipo de
educao que posteriormente lhe ser pedido que desenvolva; Deve
responder s necessidades e expectativas dos professores como pessoas e
como profissionais (MARCELO GARCIA, 1999, p. 27-30).

Romanowski (2007) aponta que a formao continuada pode ser dividida em
duas categorias conforme a preposio de Demaily (1992), formais e informais. A
categoria formal pode ser considerada da seguinte maneira: universitria, escolar,
contratual e a interativo-reflexiva. Para tanto, nesta pesquisa a forma interativo-
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reflexiva estar norteando a formao dos professores neste processo de ensino e
de aprendizagem, a qual consiste na relao formador e formando, pressupondo
que o formador produz o conhecimento pela investigao para que depois possa
levar esse conhecimento prtica dos professores.
A formao continuada um processo complexo. Para alguns professores
esse processo de insero das TICs suscita novos desafios. Para Rosa e Ceclio
(2011, p. 122) no basta pr as tecnologias disposio dos professores, eles:

[...] precisam ter capacitao para us-las e conhecimentos de como
manusear seus servios e ferramentas, desenvolver discusses orientadas
sobre concepes de prtica e processo educativo, reconhecer seus limites
em relao aos contedos trabalhados e buscar o domnio desses
contedos; conhecer os objetivos do currculo que ensinam; enfim, tm de
dialogar com os alunos sobre a trajetria que vo realizar juntos, deixando
claro onde tm de chegar, como e quando.

Segundo Cortelazzo (2005), em geral, o professor descobre as
potencialidades das TICs depois de j as estarem usando, s vezes junto com os
alunos, s vezes depois deles. Outro detalhe refere-se ao fato de que as crenas
dos professores influenciam de forma determinante na utilizao das TICs em sua
prtica pedaggica. Como referendado por Marcelo Garcia e Vaillant (2012, p. 216),
os docentes no so vasos vazios quando se envolvem em uma inovao. J
trazem ideias e crenas muito assentadas sobre o que ensinar e aprender,
portanto interagem e refletem sobre a prtica docente que realizam. No
necessrio dominar perfeitamente o mundo informtica, mas os professores como
mediadores do conhecimento podem utilizar a tecnologia para potencializar a ao
pedaggica estabelecendo uma interao com os alunos com o apoio de
tecnologias.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa realizada de abordagem qualitativa do tipo descritiva que
envolveu dezoito professores que atuam em diferentes nveis de ensino que
frequentaram a disciplina de mestrado e doutorado denominada: Formao de
Professores - Processos e Profissionalizao Docente da Pontifcia Universidade
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Catlica do Paran (PUCPR) realizada no segundo semestre de 2012 como uma
formao continuada de forma universitria.
A disciplina foi desenvolvida com os seguintes procedimentos: (a) diagnstico
das experincias e prticas dos participantes sobre cada uma das temticas sobre
formao docente; (b) anlise das experincias e prticas considerando os
referenciais consultados, pesquisados e sugeridos referentes a cada temtica; (c)
sntese integrativa por meio de reflexo e participao dos participantes; (d)
proposies para novas prticas. Os procedimentos envolveram conversas, relatos
orais e escritos, aula expositiva dialogada, indicaes de referenciais para a leitura,
seminrios e discusses reflexivas desses referencias com diferentes abordagens
metodolgicas que possibilitaram trabalhos individuais e coletivos. A organizao do
seminrio temtico segue as proposies de Severino (2003) com a elaborao de
roteiro didtico, roteiro interpretativo e roteiro de questes, que a partir do objeto de
pesquisa dos participantes focalizou temas relativos formao dos professores.
Foram organizados cinco seminrios, desenvolvidos por cinco grupos com
quatro integrantes em mdia, com os problemas geradores: (i) Aspectos
pedaggicos da formao docente no ensino superior: as especificidades da
docncia universitria; (ii) Formao continuada de professores no espao da
escola; (iii) As tecnologias da informao e da comunicao na formao de
professores; (iv) Reflexo e formao de professores e a construo do
conhecimento profissional do professor.
A discusso e a reflexo focalizadas neste artigo abordam o seminrio do
tema: As tecnologias da informao e comunicao na formao de professores. O
seminrio configurou-se da seguinte forma: criao de um grupo fechado no
Facebook denominado: Formao de professores (Figura 1), ambientao dos
participantes no grupo fechado e a disponibilizao do texto - Cenrios de
tecnologias e conectividade do livro Ensinando a ensinar: as quatro etapas de uma
aprendizagem de Denise Vaillant e Carlos Marcelo Garcia (2012). A criao da sala
foi feita com o aceite de todos os participantes. A sala serviu para mediar a
participao dos membros do grupo em relao situao problema postada no
Facebook e textos para estudos. A participao consistiu na elaborao de
comentrios e na interao com os demais participantes.
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O conjunto de textos elaborados pelos professores participantes foi alvo de
anlise da investigao realizada. A coleta dos dados foi feita da seguinte forma: (a)
acesso dirio dos pesquisadores na sala para verificao da participao; (b)
registro destes dados em uma planilha que continha o nome de cada participante e
as datas dos acessos pelos pesquisadores; (c) transcrio das perguntas e textos
pelos professores participantes; (d) sistematizao destes dados; (e) anlise dos
dados considerando as recorrncias e singularidades como prope Bardin (2009).
Na figura a seguir, pode ser visualizado o espao em que ocorreu o acesso
para as interaes entre os participantes do grupo.
Figura 1: Grupo Formao de Professores no Facebook.

Fonte: Os autores.

Todos os participantes se envolveram com a atividade proposta sem restrio
quanto ao acesso. No incio da atividade muitos professores visualizavam a
problematizao postada e o comentrio dos outros participantes, porm, no
comentavam nada e nem interagiam. Com tempo, os professores comearam a
curtir os comentrios e a postar os seus comentrios e a interagir a respeito da
situao problema que foi lanada no grupo fechado. A situao problema postada
apresentava o seguinte questionamento: qual o papel dos professores diante
desses novos cenrios educativos? Uma segunda questo aponta para: que
mudanas ocorrem na formao dos professores que contemplem os cenrios de
tecnologias e conectividade?
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A partir das interaes no Facebook foi realizada uma anlise interpretativa e
reflexiva considerando os comentrios postados, com base nas leituras realizadas
na disciplina e no captulo do livro mencionado acima.
O grupo de professores que organizou o seminrio realizou a mediao
pedaggica e a tutoria Online, observou e participou do frum de discusso
realizando intervenes, novos questionamentos e esclarecimentos sobre a questo
problema apresentada no frum.

3 FACEBOOK COMO INTERFACE NA FORMAO CONTINUADA: REFLEXES
DOS PROFESSORES NUMA PROPOSTA INTERATIVA E DE COLABORAO

O nosso desafio foi o de transformar o espao de sala de aula virtual um
espao de produo colaborativa e interativo. A finalidade a insero de novas
tecnologias na mediao com o conhecimento de modo contnuo e com ampliao
do espao da aula. A escolha da rede social Facebook como recurso ou como
ambiente virtual de aprendizagem no ensino presencial ou distncia, de acordo
com Ferreira, Corra e Torres (2012, p. 08) [...] permite que o professor
ressignifique a forma de aprender, num contexto mais interativo, participativo traz
grande familiaridade com o ambiente do Facebook, isso facilita a mediao
pedaggica e a interao. Segundo eles,

[...] muitas das plataformas de aprendizagem quando utilizada por muito
tempo sem atratividade desmotiva a participao e o interesse dos alunos,
j a rede social Facebook, permite incorporar, personalizar, redimensionar,
dinamizar e agregar sentido ao aprendizado, se tornando atrativa, sendo
que o estudante sai do papel de receptor passivo passando a ser agente
responsvel pelo seu aprendizado (FERREIRA; CORRA; TORRES, 2012,
p.08).

O Facebook, ainda de acordo com os autores, surge como um novo cenrio
para aprender a aprender e aprender com o outro, ou seja, aprender a conviver
virtualmente, num processo interativo pedaggico comunicacional que emerge no
ciberespao (FERREIRA; CORRA; TORRES, 2012, p.08).
Essa rede social possibilita que o professor utilize diferentes metodologias
para incentivar e motivar o estudante no seu processo de aprendizagem, numa viso
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de totalidade, na qual o conhecimento construdo, utilizando sensaes, emoes,
razo e intuio.
No grupo Formao de Professores no Facebook, os organizadores do
seminrio, com o objetivo de aproximar os professores no processo de interao e
colaborao da aprendizagem enviaram e-mails convidando-os a participar e a
interagir no grupo, alm de disponibilizar vdeos, links, imagens, bibliografia
complementar sobre a temtica para aprofundamento das reflexes.
A partir da observao participante dos pesquisadores organizadores do
seminrio, foi possvel identificar que por meio da situao problema postada no
Facebook os participantes apresentaram o seguinte comportamento virtual: (i) onze
membros do grupo participaram da atividade proposta na rede social e realizaram
interaes com os demais colegas; (ii) as postagens e os comentrios foram em
mdia visualizados por dezesseis professores participantes; (iii) os participantes
fizeram vrios comentrios sobre a situao-problema postada, expressando o seu
entendimento, suas angstias e dificuldades. Nestes momentos, a equipe de
pesquisadores realizou interaes, curtiu os comentrios, complementou as
proposies e indicou novas referncias.
No que diz respeito prtica pedaggica e utilizao das tecnologias nos
processos de ensino e de aprendizagem, os professores trouxeram para discusso
reflexes e apontamentos que foram sistematizados pelos pesquisadores,
considerando as recorrncias. Aps a sistematizao foi elaborada uma sntese das
contribuies. Os apontamentos inferidos durante esse processo de anlise incidem
sobre:
a) O processo educativo est relacionado com um tempo histrico, e pensar
a insero das tecnologias em sala de aula pensar as possibilidades que
estas oferecem, investigar novos modos de aprender, de pensar e de
ensinar que esto sendo gestados, um caminho para que possamos dar
respostas inovadoras aos desafios que tambm so novos;
b) Esses novos espaos requerem profissionais bem preparados e
competentes no domnio dessa prtica. Isso diferente de inserir a
tecnologia (computadores, TVs multimdias, etc.) nas salas de aula, onde
professores e alunos comportam-se de maneira tradicional, com as
caractersticas da educao tradicional, como tendncia pedaggica;
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c) Para tanto, importante buscar atualizao constante e para isso
necessrio tempo e dedicao para esse novo aprendizado, fator
dificultado pela carga de trabalho excessiva dos professores, o que implica
em limitaes para qualificar-se. Vale dizer que a rapidez com que os
alunos aprendem a manusear essas ferramentas traz angstia para os
docentes;
d) So necessrios programas institucionais que valorizem os profissionais
desde a formao at o exerccio efetivo da profisso, bem como
condies estruturais para que posteriormente estes professores possam
aplicar o que foi apreendido e aprendido durante o processo de formao;
e) A incorporao das tecnologias no fazer pedaggico requer um
desprendimento pessoal e uma prospeco positiva frente a este novo
cenrio, como uma ferramenta de busca que abre possibilidades de
pesquisa incomparveis em nossas aulas, pesquisas, ensino;
f) A insegurana e a desconfiana por parte dos professores frente s TICs
poder ser superada a partir do momento em que os docentes vierem a se
familiarizar com as tecnologias disponveis nas instituies;
g) A tecnologia pode proporcionar infinitas mudanas, no entanto o grande
problema que enfrentamos hoje o da formao de professores e que
qualquer proposta s se viabilizar na prtica se os professores forem nela
formados, ou seja, cenrios de tecnologias e conectividade s estaro
presentes na prtica dos professores se contextos formativos os
promoverem. Surge a necessidade, portanto, de aes de formao inicial
e continuada que mobilizem reflexes, tanto no que diz respeito
concepo de aprendizagem na atual sociedade de informao e
conhecimento, quanto s formas de organizao do ensino e de
concepes sobre papel do professor neste novo cenrio;
h) As TICs necessitam ser encaradas como uma ferramenta de trabalho e
grande aliada para a aprendizagem e no como inimiga ou passatempo
para o aluno que podem romper as barreiras da sala de aula tradicional e
propiciar a construo de comunidades de aprendizagem, possibilitando
transformaes na relao professor/aluno e na formao continuada dos
professores;
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i) Ressalta-se que as possibilidades de comunicao e interao e a
interface do ambiente virtual e das tecnologias, por si, no garantem a
construo da aprendizagem, assim como isso no acontece no contexto
presencial, pela simples aula tradicional;
j) necessrio fazer uma anlise do contexto em que vivemos e
trabalhamos, compreender as realidades em que se vivem e que
professores e alunos estejam cientes e abertos a mudanas em seus
papis;
k) premente reconhecer que ambientes virtuais ou presenciais no so
excludentes, mas complementares, uma vez que o foco da questo
educacional a mudana de paradigma, e no a forma de utilizar os
recursos e as ferramentas para desenvolver os ambientes.
Ou seja, a apropriao das mdias e Tecnologias de Informao e
Comunicao (TICs) coloca-nos inevitavelmente frente a uma nova realidade e faz-
nos ressignificar o conceito de conhecimento. Corroboramos a afirmativa que:

[...] atravs das ferramentas tecnolgicas, a partir de mediaes atuantes
que as potencialidades se afloram, o tempo e espao, j no so mais
problemas, proporcionando uma educao sem distncia, sem tempo,
levando o sistema educacional a assumir um papel, no s de formao de
cidados pertencentes aquele espao, mas a um espao de formao
inclusiva em uma sociedade de diferenas. Nesse entendimento, as novas
tecnologias e tcnicas de ensino, bem como os estudos modernos sobre os
processos de aprendizagem, fornecem recursos mais eficazes para atender
e motivar os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Porm, para
muitos educadores, esses recursos ainda apresentam-se como
companheiros estranhos, embora se reconhea que a sua utilizao no
processo est se tornando cada vez mais relevante. Assim, necessria a
presena desses recursos nos cursos de formao de professores e/ou
como meio pedaggico para potencializao de competncias e habilidades
(Comentrio de uma professora da Educao Bsica que participou do
grupo fechado no Facebook).

Com efeito, os contextos histricos expressam desafios a responder
resultantes das relaes sociais que os engendram, nas quais a escola se insere
com uma instituio de avanos e inovaes, mas que enfrenta conflitos e
contradies diante de resistncias, incertezas e dificuldades. Portanto, pensar na
tecnologia,

[...] como suporte para a produo e apropriao de conhecimento -
colaborao docente para uma qualificao nos processos de
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aprendizagem imprescindvel, porm, com o devido cuidado de no
cairmos em um tipo de vcio perptuo de busca pela inovao esquecendo
que temos, como educadores, uma funo formativa intelectual, mas
tambm, tica que precisa do humano, no mediatizado, para ser efetivado
(Comentrio de um professor do ensino Mdio que participou do grupo
fechado no Facebook).

As TICs podem ser consideradas como entraves e/ou como aliadas prtica
pedaggica, de acordo com o ponto de vista adotado. Sero considerados entraves
quando sua incorporao universidade, quando se restringem apenas, a
cumprimentos de ritos legais, sem o envolvimento e pertencimento da comunidade
acadmica. Sero consideradas aliadas quando se tornam acessveis a todos,
viabilizam informaes, permitem pesquisa, a criao, a interao e a mediao de
qualidade.
Ou seja, corroborando Tardiff e Lessard (2009, p. 268), as TICs podem
transformar o papel do docente, deslocando o seu centro, da transmisso dos
conhecimentos para a assimilao e a incorporao destes pelos alunos, cada vez
mais competentes para realizar de maneira autnoma tarefas de aprendizagens
complexas.
Por fim, indicao nos comentrios dos integrantes do grupo apontam para
uma potencializao de conceitos como: sensibilizar, qualificar, capacidade, ao
ativa, tempo e convencimento, estmulo utilizao de novas mdias, condies
estruturais o que sinaliza um convencimento sobre a importncia na incorporao
das TICs em suas prticas pedaggicas.
Quanto aos nveis de interao nesse ambiente virtual interativo,
especificamente o Facebook, a anlise dos registros realizados pelos participantes
permitem apontar, ainda que de modo introdutrio, os seguintes nveis de interao:
(i) acesso sala sem participao; (ii) comentrios breves sobre a questo proposta:
(iii) interao intensificada com depoimentos e anlises mais longas e aprofundadas;
(iv) formulao de novos questionamentos.
Desse modo, podemos afirmar que esse processo de formao continuada
mediado por uma rede social, como ressalta Serafim, Pimentel e Sousa do (2008,
p. 327) vai alm de transmisso de um saber abstrato e que o aprender implica
encontrar sentido no ensinado, independente do ambiente, seja ele presencial ou
virtual, e se forem possibilitadas condies para interaes entre os sujeitos, a
participao intensificada.
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4 CONSIDERAES FINAIS

A realizao desta pesquisa permitiu apontar que as TICs potencializam de
forma significativa os processos de formao continuada de professores, quando a
ao educativa assume uma perspectiva de processo educativo inovador. Entende-
se como inovador o processo que valoriza a produo do conhecimento e a
formao docente a partir da reflexo da prtica como proposio para
transformao desta prtica.
No que se refere aos processos de interao em redes sociais na formao
continuada, foi possvel perceber contribuies, pois pode favorecer o dilogo, o
compartilhamento de reflexes e indagaes, constituindo-se como um ambiente
virtual de aprendizagem formal. Foi possvel inferir, pelos comentrios dos
professores participantes, que a rede social uma interface que favorece o processo
de formao docente potencializando prticas pedaggicas para o desenvolvimento
de aprendizagem colaborativa, quando se evidencia:
a) um papel ativo da maioria dos integrantes do grupo, indicando a rede social
no s como um canal de informao, mas de comunicao, participao, e
reflexo;
b) o acesso a informaes e recursos, estabelecendo o cotejamento das
prprias informaes dos participantes por meio da reflexo, discusso e a
construo de um novo conhecimento, agora embasado e construdo a partir de
concepes particulares e experincias de vida;
c) o estabelecimento de dilogos e conexes, promovendo a troca e a partilha
de experincias ao fornecer oportunidades de debater em torno da problematizao
proposta a partir de uma diversidade de conhecimentos.
Entretanto, cabe ressaltar que este processo foi possvel considerando:
A maturidade com que o grupo encarou a proposta redundando numa
participao efetiva, franca e fundamentada;
O comprometimento assumido com a proposta do seminrio temtico por este
grupo de professores, mestrandos e doutorandos de um programa de Stricto
Sensu em educao, preocupados com a discusso da sua prpria prtica
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pedaggica a partir de um processo interativo reflexivo, favorecendo
propostas inovadoras;
A disponibilidade e adeso para experimentar o novo, ainda que os primeiros
acessos no inclussem interaes e formulaes verbais;
A promoo de interao, vrios convites escritos por e-mails, orais em sala,
e aps o acesso, proposio de novas questes por parte dos promotores do
processo, foram realizadas;
A interao foi suscitada por meio de uma problematizao tomando como
ponto de partida questes articuladas prtica docente.
Decerto que esta rede social no foi elaborada com propsitos educacionais,
no entanto, a partir destas reflexes, verificam-se potencialidades como um possvel
ambiente virtual de aprendizagem quando existe atrelado a ele uma proposta
pedaggica mediada por aes colaborativas e reflexivas.
Ressalta-se que as resistncias iniciais dos participantes vo alm do domnio
do uso das ferramentas, pois a manifestao em espaos abertos de redes sociais
envolve a superao do individualismo; maior transparncia e ocorre rompimento do
fechar a porta da sala de aula onde o professor se sentia seguro entre seus alunos.
Para tanto, faz-se necessrio os professores despirem-se de preconceito em relao
s redes sociais e reconhecer essa interface ou outra qualquer, como uma
possibilidade para construir e fomentar prticas inovadoras de ensino e
aprendizagem.
Alm disso, fundamental reconhecer as implicaes dessas mudanas no
modo de expresso e reflexo do saber docente. Ns professores ampliamos o
envolvimento com maior nmero de pessoas aumentando o nosso compromisso
educativo, poltico, social e tico.

JACQUES DE LIMA FERREIRA

Doutorando em Educao da Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR).

MRCIA FREIRE ROCHA CORDEIRO MACHADO

Doutoranda em Educao da Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR).

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JOANA PAULIN ROMANOWSKI

Doutora em Educao - USP. Bolsa Produtividade em Pesquisa CNPQ, Professora
do Programa de Ps-Graduao em Educao da Pontifcia Universidade Catlica
do Paran e consultora pedaggica do Centro Universitrio - UNINTER.

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