A Cabra Edição 315
A Cabra Edição 315
A Cabra Edição 315
deoutubro
março de
de 2023
2023
Os registos impressos de
“pensadores do mundo”
Vitalino Santos, José de Albuquerque, Teresa Gomes e Paulo Sérgio Santos contam a
história de uma secção fundada há 40 anos. Casa do jornalismo académico sobreviveu
às adversidades dos tempos.
S
em data marcada na sua certidão de nascimento, em outu- A origem do nome do primeiro jornal produzido pela SJ/AAC reme-
bro de 1983 surgiu a Secção de Jornalismo da Associação te à revista criada por Paulo Marques, membro da Secção Filatélica da
Académica de Coimbra (SJ/AAC), no seio de uma academia AAC, intitulada “Cábula Filatélica”. Para Vitalino Santos, era “um nome
imersa no espírito da reivindicação estudantil. Um grupo de jo- irónico”, que representava “o local coletivo onde se vai buscar algo que
vens alunos levou a cabo a tarefa de construir um novo lar para as já não se lembra bem”, ou seja, um auxiliar de memória. Durante o seu
práticas jornalísticas, em torno da realidade contemporânea uni- tempo de publicação, A CÁBULA lançou apenas cinco edições, cessando
versitária. Marcada por variadas a sua atividade em 1984. O seccionis-
publicações, a SJ/AAC contou no ta explica que o terminar do perió-
seu repertório com a revista Via dico não se deveu à falta de dispo-
Latina, os jornais A CÁBULA e A nibilidade nem de vontade dos seus
GAZETA ACADÉMICA, e os ele- membros, mas sim a dificuldades
mentos ainda ativos: o Arquivo e financeiras e a divergências inter-
o Jornal Universitário de Coimbra nas quanto ao conteúdo divulgado.
- A CABRA. Apesar das dissonâncias e concor-
dâncias, relembra um “ambiente
Uma fundação marcada pelos agradável”, em que todos partilha-
ares de Abril vam o gosto pelo jornalismo.
Em 1982, os fundadores da SJ/AAC
reuniram-se para debater as formas Necessidade de renovar a casa
que possibilitariam a produção de Para colmatar a falta de um jor-
jornalismo impresso à academia de nal, em janeiro de 1987 nasceu A
Coimbra. Numa dessas discussões GAZETA ACADÉMICA. Esta pro-
estava Vitalino Santos, na altu- dução, que se queria distanciar do
ra estudante na área da saúde, que formato e conteúdo d’A CÁBULA,
se inscreveu na secção logo após a contou com 11 edições impressas,
sua fundação e que ainda hoje vive até março de 1990. Depois de um
do setor jornalístico. Quanto à sua período de publicações irregula-
experiência na estrutura da Casa, res, e para sustentar a SJ/AAC, em
descreve: 1991 apareceu A CABRA, conce-
bida pelos universitários José de
“quase troquei as aulas pela SJ/ Albuquerque, Teresa Gomes e João
AAC porque, na altura, via-a Saraiva. O nome do órgão de comu-
como algo muito importante e nicação, que ainda hoje mata a sede
construtivo para a minha vida” de informação dos alunos e habitan-
tes de Coimbra, é inspirado por um
Ao fazer uma viagem ao passado, dos sinos da Torre da Universidade.
recorda que, nos primeiros tempos, Assim, Teresa Gomes ilustra:
vendiam-se as edições em papel nas
cantinas e numa banca montada à “o Cabrão toca a cada hora, mas a
porta da secção. Cabra abre e fecha o dia. Ela reúne os
Num momento em que ainda se Arquivo estudantes, chama-os para atuarem”
faziam sentir os ares promissores Fundadores do Jornal A CABRA: Teresa Gomes,
de uma nova era, trazidos pelo 25 José de Albuquerque e João Saraiva Numa associação académica domi-
de abril de 1974, o acesso à livre in- (de baixo para cima) nada por publicações partidárias, os
formação e a capacidade de ser informado e de informar foi “uma fundadores sentiram a necessidade de desenvolver um órgão de comu-
reivindicação democrática dos jovens”, evoca Vitalino Santos. Como nicação que não se submetesse a qualquer força política. Nesse sentido,
novo estudante, lembra-se como olhava o setor nessa época: “o jorna- acreditavam que A CABRA devia cumprir o papel de ser “a voz dos es-
lismo era uma esperança para mim e via os jornalistas como pessoas tudantes”. Os momentos iniciais foram marcados pela dificuldade de
muito importantes para a sociedade”, o que o incentivou a tentar rea- provar a credibilidade do seu trabalho e de recolher fundos monetários
lizar um trabalho semelhante ao destas personalidades. para sustentar o jornal e pela falta de colaboradores e de meios de pro-
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Tiago Paiva
dução. Num esforço de contrariar estes obstá- Em 2013, o Jornal A CABRA sofreu uma para- prendeu as pessoas e permitiu a continuidade
culos, procuraram tornar o periódico “apete- gem, derivada da falta de redatores. Para Paulo do jornal”. Acrescenta que outra das grandes
cível” ao aumentar a diversidade de conteúdos. Sérgio Santos, que também foi diretor do jor- forças deste periódico é a colaboração de estu-
Tudo isto partiu de engenho e dedicação com o nal, a diminuição de estudantes interessados dantes de diversos cursos.
intuito de ser “o contra poder da Direção-Geral em fazer parte das secções deveu-se à redu- Passados 40 anos desde a sua fundação, Paulo
da AAC”, como explica José de Albuquerque. ção da duração dos cursos com o Processo de Sérgio Santos reflete que, no presente, “quem
Seguindo o exemplo dos antigos da SJ/AAC, Bolonha e às distrações trazidas pela expansão faz parte da SJ/AAC são pessoas que se apai-
os estudantes vendiam as edições impressas da internet. O seccionista conta que, em 2011, xonaram por ela e que criaram amizades que
à porta das cantinas. José de Albuquerque ga- quando entrou para a SJ/AAC, existiam ple- as fizeram ficar”. Ao mesmo tempo, Vitalino
rante que o jornal “fazia por ser incómodo”, o nários onde era o único redator presente. Em Santos valoriza a união de forças entre todos e
que causou críticas e ameaças após o lançamen- novembro de 2014, foi um dos estudantes que a energia da juventude. “O mundo é um soma-
to dos primeiros números. Contudo, Teresa trouxe de volta o jornal. Na opinião de Paulo tório e um jornal é um produto coletivo”, rei-
Gomes assegura que nunca desistiram, porque Sérgio Santos, A CABRA tem um papel de mo- tera o antigo estudante que presenciou o início
acreditavam na importância do trabalho que nitorização junto da Universidade de Coimbra da SJ/AAC. Teresa Gomes acredita que “os jo-
estavam a desenvolver, prezando a honestida- e da AAC, visto que “o jornalismo é um garante vens mais brilhantes são os que dão voz às suas
de e a verificação dos factos. Em menos de um da democracia e da verdade”. Graças à publici- opiniões e escutam as dos outros”, atitude que
ano, o Jornal A CABRA cresceu em número de dade feita, no primeiro plenário de marcação os faz crescer como “pensadores do mundo”.
páginas e de exemplares impressos, conseguin- de horários de redação apareceram mais de 40 Citando as palavras de Mário Soares aquando
do atingir não só a academia, como também a pessoas e, nesse ano, saíram duas edições im- da comemoração do primeiro centenário da
cidade. Teresa Gomes fala até de um alcance pressas. Ainda assim, o antigo redator parti- AAC, José de Albuquerque frisa:
internacional, com alunos estrangeiros a que- lha que muitas pessoas foram abandonando o
rerem colaborar na redação de artigos. Já em projeto. “todos somos responsáveis pela saudade
2003, deu-se início a uma nova etapa: a publi- A solução surgiu em setembro de 2015, com com que te recordarão no futuro”
cação de artigos no ‘site’, que ainda se mantém. um novo modelo de curso de jornalismo trazi-
do por Paulo Sérgio Santos.
Resistente a qualquer impasse
Corria o ano de 2004 quando a SJ/AAC se “esse é o momento que marca a diferença na
lançou no projeto de reativação da Via Latina, vida da SJ/AAC, porque o curso se man-
revista histórica que nasceu em 1889. Paulo tém até aos dias de hoje”
Sérgio Santos, seccionista e diretor da última
edição produzida, fala de “uma revista engra- Contrariamente ao formato anterior compos-
çada de fazer, em que houve um esforço para to por módulos isolados, a obrigatoriedade de
ter grandes nomes do panorama nacional de participação na publicação online e impressa
várias áreas”. Embora lamente que a Via Latina foi, para Paulo Sérgio Santos, “a âncora que
esteja suspensa desde 2015, ano de publicação
da 12ª edição, mostra-se reticente quanto ao Com colaboração de
seu regresso, visto que “nunca teve sustenta- Gabriela Moore e Disa Palma
bilidade financeira”.
04 UMA HISTÓRIA AINDA EM CONSTRUÇÃO 37de
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2023
RECUPERAÇÃO DE RÚBRICAS
DESCONTINUADAS
Estórias da Cabrochinha
- POR SIMÃO MOURA -
2084
H
á um novo busto do reitor no corre- É mais fácil cobrir eventos na Baixa. A polí- deixarem continuar. As respostas são tantas
dor, o porteiro deitou-me um olhar cia já não patrulha as obras do Metro Mondego, como as expulsões da Assembleia Magna. A
meio tinhoso e está um gajo a uri- sempre conseguimos ir de A a B em paz. A cons- teoria prevalente é que toda a gente gosta de
nar para a nossa única janela. Tudo normal na trução civil não é vista lá há 30 anos e ainda es- ter um bode expiatório. Na sua ausência, uma
frente editorial. Há algumas décadas suposta- tamos por ouvir o que a Câmara planeia fazer cabra há de servir.
mente ainda tínhamos uma câmara, alguns quanto a isso. Se calhar não repararam. Posto Ao mesmo tempo, há que mostrar a tolerân-
gravadores e um computador. Agora temos te- isto, tudo o que se refere ao assunto desaparece cia do regime. Em vez de mandarem a secção
lemóveis, o desprezo da população em geral e da internet. para o bilhar grande, mandam publicar pro-
‘stickers’ de um tipo com olhar amistoso. Verdade seja dita, nem o que está em papel paganda de vez a vez e dão-lhe com o taco, dia
Não impede o Departamento da Verdade da está a salvo. O nosso último impresso (há três após dia, para a manter humilde.
Câmara Municipal de nos ameaçar de partir anos) saiu com uma única página preenchida. A tvAAC foi tomada pela DG e a RUC ques-
tudo o que temos, como se ainda tivéssemos O resto foi cortado por uma mui moderna cane- tionou o seu direito de ver os artigos antes de
alguma coisa que valha a pena partir. Mais ta azul. Há que abraçar o progresso. serem publicados. A RUC já não existe. Ficamos
um dia ou dois e vamos para o mesmo sítio que Enquanto o resto do mundo tão prazerosa- nós que, honestamente, já só fazemos verdadei-
as repúblicas: um buraco que começa com "c" e mente passa dos lápis às canetas, nós regre- ro jornalismo à socapa, publicado a partir de
acaba em "aralho". dimos para a idade da pedra. Há ano e meio a cibercafés em contas alternativas.
No outro dia, apanharam dois redatores a as- internet foi abaixo em toda a AAC (outra vez). O tipo que estava a urinar para a nossa ja-
sistir à condecoração do reitor com o cargo vi- Eventualmente voltou para todos, menos para nela já acabou. Alguém cuspiu para a nossa
talício. Foram expulsos da universidade no dia nós. porta e ouvem-se pegadas apressadas no cor-
seguinte. Entre isso e pagarem 10 mil euros em É de perguntar porque continuamos a bater redor a vir nesta direção. Continua tudo nor-
propinas para comer zeros, ficaram a ganhar. no ceguinho. Mais relevante é o porquê de nos mal na frente editorial.
UNIVER CIDADE
- POR SOFIA MOREIRA -
O destino não vem do exterior para o homem, ele emerge do próprio homem.
- RAINER MARIA RILKE
I
naugurada em 1290, a Universidade de ção do arquiteto Cottinelli Telmo. O Conselho contrar o bar da FLUC. Com capacidade para
Coimbra (UC) dispõe de edifícios simbóli- Superior de Obras Públicas exigia harmonia 80 pessoas, o café serve desde pastelaria a al-
cos por toda a cidade, tão integrada no pa- entre o tom clássico da Porta Férrea e o moder- moços completos. Há sempre pessoas sentadas
norama académico que se tornou uma extensão no da planta da FLUC, mas o arquiteto super- nas mesas a conversar ou a estudar, de maneira
da instituição. Desde o Jardim Botânico, para visor usou como justificação a funcionalidade a que a sua relevância como ponto de convívio
onde os alunos vão relaxar à sombra de uma ár- e eficiência do projeto para o manter como o entre os estudantes é incontestável.
vore, à Faculdade de Letras da UC (FLUC), por idealizado. Cottinelli Telmo fez prevalecer a Regido pelos Serviços de Ação Social da UC,
onde passam stressados com exames, tudo é sua vontade, numa reivindicação de equilíbrio o bar tem sido pauta de discussões no meio
UC e, ao mesmo tempo, tudo é Coimbra. entre o antigo e o atual. académico. Foi divulgada uma proposta para
Porém, não foi de um dia para o outro que os A planta foi aprovada e, em 1951, a faculdade foi a concessão do estabelecimento a instituições
edifícios universitários foram erguidos. Na al- inaugurada. De formato quadrangular, é dividi- privadas, o que culminou em protestos por
tura em que a UC foi fundada, dispunha apenas da em sete pisos: três no subsolo, três acima e um parte dos estudantes da FLUC na quinta-feira,
da Faculdade de Direito. A sua vizinha FLUC sótão. À entrada, são quatro as estátuas expostas. dia 28 de setembro. Sob o argumento de que
só foi inaugurada em 1911, ainda que, de início, Altas e imponentes, representam pensadores da pode haver aumento de preços e precarização
ocupasse o espaço onde está hoje a Biblioteca antiguidade clássica: Demóstenes, simbolizando da situação dos trabalhadores, alunos parti-
Geral. Apenas durante o Estado Novo, mais de a Eloquência; Aristóteles, a Filosofia; Tucídides, a ciparam na manifestação gritando “o bar é
quarenta anos depois, a faculdade ganhou a História; e Safo, única figura feminina, alusiva à de todos e o privado só de alguns”, e assim de-
forma que tem atualmente. Poesia. O escultor Barata Feyo procurou fazer re- monstraram o seu desejo de manter a UC dona
Foram precisos quatro anos e alguns percal- ferência às atividades pedagógicas ali praticadas. do seu próprio destino.
ços para a concretização do projeto da FLUC, Após passar pelos sábios, basta atravessar os
elaborado por Alberto José Pessoa, sob orienta- portões do prédio e subir as escadas para en-
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PASTELARIA UNIVERSIDADE
Por volta das 6h30 já se faz fila para os folha-
SANTA CRUZ dos de sabores variados e para o pão quentin-
Momentos que passam, saudades que fi- ho com chouriço. Em contrapartida com as
cantinas amarelas, os produtos confeciona-
cam. Local indicado para ganhar um ingresso
dos albergam uma quantidade aceitável de
dourado para os cuidados intensivos. Neste farinha (talvez se a cortassem pela metade a
campo minado, pratica-se uma abordagem senha reduzisse para dois euros).
alternativa ao futebol: qualquer penálti pode
culminar num pendurar de botas com saída
de maca.
OBITUÁRIO*
MAGNAWARDS * A única rúbrica sobrevivente, mas se calhar não devia
A abrir o ano letivo com chave de ouro, a Assembleia Magna de dia - POR CABRA COVEIRA -
27 de outubro foi pobre em quórum, mas rica em “Magnawards”.
o fazem. Aos comunas? Batem as
Prémio Liberdade para Falar, Liberdade para Ouvir manifs todas e não calam a boca
“Vocês têm o direito de falar 5, 10, 15, 20 minutos. Também é certo que a partir nas Magnas.
dos 5 ninguém vos ouve”, Vidal para um grupo de estudantes organizado Dizem-se irreverentes, mas a
malta só lê a Cabra por minha
Prémio SASUC GO daqui para fora causa... E coitados dos escravos
“Tenho que ir porque preciso de jantar e a bateria do meu celular está aca- que lá escrevem, que nem opi-
bando e vou ficar sem o aplicativo dos SASUC”, estudante que depois volta nião podem ter. Abril Sempre!
ao púlpito com uma marmita de prato social Quem chora não mama RIP Via Latina.
Ai achavam que não chegava A SJ pode estar enterrada, mas
Prémio Candidata-te à ARE a vossa hora? Vou-vos dar uma a Cabra Coveira vai continuar
“Mas estamos a brincar com os estatutos ou quê?”, Jéssica Sá prendinha. A SJ diz-se muito a saber os vossos podres. Big
escrutinadora, mas depois não Brother is watching you.
Prémio Miss Simpatia os tem no sítio para revelar o Patrocinado pela rede:
“Só cumprimentar aqui o Gonçalo, que é um colega bastante participativo que sabe. Mas porque é que têm DG_Gabinetes_5G e dados
em AM, estava a estranhar ainda não ter participado hoje”, João Caseiro medo? Vão-vos associar à DG? Já móveis do Tomázio_2G.
06 UMA HISTÓRIA AINDA EM CONSTRUÇÃO 37de
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Clara Neto
L
A 25 de novembro de 1983, pouco tempo rejeitadas, uma vez que iria entrar num “mun- os aspetos mais difíceis de resolver, ainda que
depois da origem da Secção de Jornalis- do de negócios onde tudo se troca” e isso seria houvesse sempre uma “dedicação a 100%”.
mo da Associação Académica de Coim- “trair o espírito irreverente inicial”, confessa Apesar dos erros que “fazem parte da natureza
bra (SJ/AAC), sai o número zero do Jornal A o antigo seccionista. Preferiram “morrer com dos projetos”, Francisco Fontes recorda as am-
CÁBULA. Numa universidade “onde ninguém dignidade”. No dia 2 de abril de 1986, sai o últi- izades e a diversão: “foi uma aventura interes-
conhece ninguém e onde não existe um es- mo número d’A TRIBUNA DE COIMBRA. sante, uma fase bonita”.
paço cultural e informativo que possa chegar No primeiro dia do ano de 1987 é lançado
a todos”, como se lê no editorial da primeira o número zero d’A GAZETA ACADÉMICA.
edição, o jornal propunha-se a ser um espaço Segundo Francisco Fontes, antigo chefe de
de comunicação entre os estudantes. Ao lon- redação do jornal, a publicação contava com
go das cinco edições, foram destacados var- uma linha editorial semelhante à d’A CÁBULA,
iados temas, como a visita de Mário Soares à ainda que mais generalista, uma vez que acaba
AAC e a questão da habitação estudantil. Em por ser “ditada pela dinâmica da Académica e
1984, a publicação conheceu o seu fim. Antó- da Universidade”. No início, o jornal foi pos-
nio Marinho e Pinto, um dos fundadores da SJ/ sível graças aos fundos que a secção recebia da
AAC, considera que o abandono da ideia funda- AAC, bem como da publicidade que fazia. Ain-
cional foi uma das causas do término. A secção da assim, era difícil suportar os custos e, por
não voltaria a ter outro jornal até à A GAZETA uma questão de sustentabilidade, aprenderam
ACADÉMICA, em 1987. a paginar com os técnicos da FIG Indústrias
Durante este interregno na atividade jor- Gráficas, onde era produzido o jornal.
nalística da secção, surge outro jornal virado Francisco Fontes refere que a montagem do
para o público académico – A TRIBUNA DE CO- jornal impresso era feita numa mesa de luz
IMBRA. Este foi um projeto pessoal de António emprestada pela Secção Filatélica da AAC.
Marinho e Pinto, com a ajuda de outros mem- “Não tivemos uma regularidade perfeita, ain-
bros da secção. Deste modo, a 27 de fevereiro da que a tenhamos procurado”. O antigo chefe
de 1985 sai à rua o número zero d’A TRIBUNA de redação acrescenta que houve períodos em
DE COIMBRA. Ao longo de 42 edições, a pub- que não publicaram, devido à “contingência
licação informou sobre “o que era importante do financiamento”. Glória Bairras, que acom-
na vida de uma academia e de uma cidade en- panhou o início d’A GAZETA ACADÉMICA
volvidas pelo mundo académico”. Houve ofer- enquanto redatora, aponta também a logísti-
Clara Neto
tas para profissionalizar o jornal, mas foram ca e a obtenção de verbas económicas como
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Das Corridas de Garraios à arena vazia UC discute possibilidade de passar a As imagens do Assalto
A CABRA, edição nº289 fundação A CÁBULA, edição nº4
Abril 2018 A CABRA, edição nº278 Novembro de 1984
Novembro de 2016
Centenário da AAC
Cesário Silva: "Tu Mário Soares preside
queres, tu tens" à comissão de honra
A CABRA, edição GAZETA ACADÉMICA,
308 edição nº4
Maio de 2022 Maio 1987
Cao Sap
Cao Propinas
A CABRA, Espaciais
edição nº53 A CABRA,
Dezembro edição nº9
de 1999 Outubro de
1992
ISTO NÃO É
UMA CRISE DE MEIA IDADE
1983
Fundação da Secção
1991
Fundação do Jornal
Universitário de
Coimbra - A CABRA
2004
Reativação da
1987
mais antigo da SJ/
AAC ainda em fun-
cionamento é hoje
2003 vado em 2004, sob a
alçada da Secção de
Jornalismo da AAC,
Fundação d’A um jornal de referên- Criação do site assumindo a cobertu-
GAZETA cia no panorama do acabra.net ra da Semana Cultur-
ACADÉMICA jornalismo local. É a Fundação do al da Universidade de
Surge como con- única publicação uni- 'website' do Jornal A Coimbra. Herdava-se
tinuação d’A CÁBU- versitária no país que CABRA. "À meia noite assim uma publi-
Fundação d’A LA, quatro anos ainda imprime em pa- do dia 7 de outubro cação centenária,
CÁBULA após a edição da úl- pel, uma vez por mês, de 2003, ao comando que desempenhou
Foi a primeira tenta- tima. A sua primei- mantendo a produção de Rui Justiniano e um papel fulcral na
tiva de uma produção ra edição é de 1987 e online todos os dias. João Pedro Pereira, divulgação de in-
jornalística dentro da termina em 1990. “O Nº 0 d'A CABRA nasceu acabra.net. formação e opinião
SJ/AAC, que chegou não será apenas mais Quase oito anos de- anti-regime durante
a ter cinco edições, um número, será pois, o 'site' contin- o período ditatorial
que se pautavam pelo o primeiro de uma ua a afirmar-se no e a crise académica.
humor e por seguir as série, será o assinar panorama do jornal- A revista foi berço e
principais polémicas de um compromisso ismo universitário.” escola de escritores
da academia. com a Academia. (edição nº223) de renome a nível
Queremos ser, de local e nacional,
uma forma con- como Manuel Alegre
sciente, o espelho e Vergílio Ferreira.
do pensar e do sen-
tir de toda a aca-
demia, o local priv-
ilegiado de debate”
(edição nº223).
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2022
Criação do Arquivo
Em 2022 é criado o
mais recente projeto
da SJ/AAC, o Arqui-
vo, para partilhar
com a comunidade
A
sas “ÉXTÉGUES da Isabel”, rúbrica habitual
s paredes que dão corpo à sala da de Direito relembra como “a secção já existia nas edições impressas.
Secção de Jornalismo da Associação há uns três ou quatro anos” e voltou à atividade Se me perguntassem sobre a Secção de
Académica de Coimbra (SJ/AAC) quando os fundadores “Zé Tó”, Teresa Gomes Jornalismo, no topo da minha lista estariam o
contam histórias sobre um passado formado e João Saraiva decidiram “criar outro jornal e empenho, a criatividade e a transparência pre-
pelo esforço coletivo, pelo convívio e, sobre- gerir a Casa com novas pessoas”. dominantes num espaço que, todos os dias, se
tudo, pelo uso da palavra em prol da academia O antigo seccionista revela como este era um preocupa em estabelecer a ponte entre a ver-
e da cidade. Ao longo de 40 anos, foram várias lugar onde se “deixava entrar toda a gente” e dade e os estudantes. Falaria com orgulho dos
as pessoas que por lá passaram, trabalharam e havia espaço para “trabalhar no duro, es- momentos de aprendizagem, trabalho e conví-
que, mesmo por pouco tempo, deixaram a sua crever e bater texto”, assim como “conviver, vio que partilhei com colegas seccionistas, de
marca. Hoje, são recolhidos os testemunhos de fumar e dar à língua”. Já na altura o ambien- dia e de noite, desde que aqui cheguei, em outu-
antigos membros da SJ/AAC, que abraçam com te na SJ/AAC era marcado pelos “convívios e bro de 2021. Não poderia deixar de mencionar
carinho as memórias de um tempo a recordar. pelo trabalho que, muitas vezes, ia pela noite que, neste lugar especial, com 40 anos de his-
António Nunes, atual professor de História fora até alta madrugada”. Passavam-se dias e tória, apenas fiz parte de dois. Mesmo assim,
em Vila Franca de Xira, conta como se vivia a noites na secção em torno de “um espírito de passei aqui mil vidas, marcadas pela amizade
SJ/AAC nos seus primórdios, quando ainda se família e de estima entre as pessoas”, expõe e crescimento pessoal, à mistura com alguns
fazia circular a GAZETA ACADÉMICA. Mais António Nunes. Entre recordações, também obstáculos, como é natural em qualquer Casa.
tarde, esta viria a ser substituída pelo Jornal Carla Silveira, juíza e esposa do professor, re- Por fim, deixaria bem clara a minha intenção:
Universitário de Coimbra - A CABRA, que, du- lata como começou a integrar o espaço, fruto perder o contacto com a SJ/AAC não está nos
rante alguns anos, passaria a ser o seu prin- da sugestão de Pedro Menezes, colega de curso meus planos, nem nos daqueles que dividem
cipal projeto. “Foi o José de Albuquerque (“Zé e membro da SJ/AAC. este espaço comigo.
Tó”) e a Teresa Gomes que me convidaram, Por vários anos, na década de 90, Carla Silveira
porque tinham falta de pessoal e sabiam que tratou da revisão de textos e do grafismo do Com coolaboração de
eu escrevia para outros jornais e revistas”, ex- Jornal A CABRA, publicação que viria a dirigir Eduardo Neves e Disa Palma
pressa. Após o verão de ’89, o então estudante em 1992, dois anos após a sua entrada. A juíza Fotos cedidas por António Nunes
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A SJ tem personalidade(s)
12 UMA HISTÓRIA AINDA EM CONSTRUÇÃO 37de
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De olhos postos na
Secção de Jornalismo
Personalidades da cidade refletem sobre importância, dificuldades e soluções
para a SJ/AAC. “Não subserviência e independência” são qualidades
destacadas pelo diretor-adjunto do Diário de Coimbra.
- POR DANIELA FAZENDEIRO, RAQUEL LUCAS E LUÍSA RODRIGUES -
A
o longo das suas quatro décadas de a outras áreas. Quanto às dificuldades enfren- a tvAAC, conseguem atingir”. Isto deve-se às
vida, a Secção de Jornalismo da As- tadas pelo Arquivo, devido à falta de espaço, o edições impressas produzidas pela secção, que
sociação Académica de Coimbra (SJ/ docente reconhece “os quilómetros de docu- fazem com que a informação chegue às pessoas
AAC) assumiu a missão de informar a academ- mentação que são necessários acomodar con- “da forma mais pessoal possível”.
ia e a cidade, através das diversas publicações stantemente”. Nesse sentido, apresenta como Além do mais, o estudante considera que a
que criou. Com o intuito de perceber a visão possível solução “um espaço de arquivo par- secção “abre horizontes” acerca da vivência
das várias entidades coimbrãs, o Jornal A tilhado” entre a associação dos estudantes e coimbrã, em especial para as pessoas de outras
CABRA sentou-se à mesa com a Direção-Ger- a universidade. Numa reunião conjunta com cidades. “Ter quem organize o património da
al da AAC (DG/AAC), a Câmara Municipal de uma direção anterior da SJ/AAC, o vice-reitor academia é importante para ter uma memória
Coimbra (CMC), a reitoria da Universidade de sugeriu a possibilidade de implementar es- histórica catalogada”, assegura Gonçalo Pina,
Coimbra (UC), órgãos de comunicação social e tratégias de divulgação de atividades culturais em relação ao projeto de Arquivo da SJ/AAC.
seccionistas da Casa. para apoiar o espaço, como a cobertura da Se- Diretamente do quinto piso do edifício-sede,
mana Cultural da UC. o presidente da tvAAC, Diogo Mateus, partil-
Uma secção que “enriquece a universidade” Por sua vez, o presidente da CMC, José Manuel Sil- ha da mesma opinião. “O Arquivo, a par com
O presidente da DG/AAC, João Caseiro, va, confessa não conseguir imaginar Coimbra sem o Jornal A CABRA, é um dos projetos mais im-
valoriza a importância da SJ/AAC junto da a SJ/AAC, “sendo uma
comunidade estudantil ao afirmar ser “um escola de jornalismo
dos melhores mecanismos de informação da com um trabalho crítico
academia”. Nesse sentido, refere o trabalho e apaixonado que enri-
desenvolvido pelo Arquivo da secção na quece a vida da cidade”.
preservação de documentação, que contribui No futuro da autarquia
para perceber de que forma a história se está a perspetiva de um
repete. Menciona ainda “a dupla função” do maior apoio cultural, no
órgão da Casa, com as vertentes informativa sentido de compensar
e pedagógica. O dirigente preza a construção “os erros do passado” no
de pensamento desempenhada pelo Jornal que toca à gestão cama-
A CABRA, que ajuda os estudantes a tomar- rária. Por fim, cogita a
em decisões conscientes.No sentido de obter hipótese das associações
mais contribuições financeiras para as estru- diversificarem as suas
turas culturais da Casa, João Caseiro acredita fontes de financiamento
que “levar o nome da AAC além de Coimbra” para alcançarem a sua
é uma das soluções possíveis. Numa consid- autonomia.
eração final, reforça o papel impactante do
jornalismo praticado pela SJ/AAC, que, a seu A presença da
ver, “nunca vai perder a sua influência”. SJ/AAC no
Na mesma linha de ideias, o vice-reitor com jornalismo local
a pasta para a Cultura, Comunicação e Ciência Entre parcerias e af-
Aberta da UC, Delfim Leão, parabeniza a SJ/ inidades, quem divide
AAC quanto à atenção dada a “necessidades e a atividade jornalística
questões próximas à comunidade estudantil”. com a SJ/AAC também
O docente considera que estes são assuntos que tem uma palavra a dizer
não são abordados pela “comunicação ‘main- em relação ao trabalho
stream’”, elementos-chave para o órgão de in- que esta desempenha. A
formação. Dessa forma, acredita que a SJ/AAC partir do segundo piso
deve ser ambiciosa em relação ao seu posicion- da Associação, o pres-
amento no seio da AAC e da UC. “A existência idente da Rádio Uni-
de uma secção como a de jornalismo, com 40 versidade de Coimbra
anos de atividade, é algo que enriquece a uni- (RUC), Gonçalo Pina,
versidade”, reitera. reconhece a proximi-
Além do já mencionado, Delfim Leão sali- dade que o Jornal A
enta a valorização curricular proporcionada CABRA tem com a co-
pelo envolvimento na secção, quer para quem munidade estudantil,
Gustavo Eler
estuda jornalismo, quer para quem pertence que “nem a RUC, nem
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portantes que existem em toda a Associação entre a academia e os seus estudantes. O jornal- Além de mais, Tiago Santos defende que o
Académica, porque o passado serve para perce- ista acredita que “há muitas populações que só trabalho dos órgãos culturais deve ser encara-
ber o presente e, quem sabe, prever o futuro”, se informam através do impresso”, o que tor- do como um local propício ao desenvolvimen-
sublinha. O dirigente acredita que a parceria na desejável o renascer de projetos em papel, to artístico da cidade. Por fim, faz uma reflex-
com o Diário de Coimbra (DC) é vantajosa, como a Via Latina. ão sobre o impacto do Processo de Bolonha no
pois leva a academia e a universidade além Ensino Superior: “As grandes transformações
portas. Refere ainda que o conteúdo explora- Entre amigos e colegas que a comunidade académica sofreu alteraram
do pelo jornal universitário é possível graças Entre os seccionistas da casa é consensual completamente a vivência universitária, o que
ao caráter voluntário da equipa, focada em que a SJ/AAC é um órgão fundamental para o trouxe mudanças drásticas ao envolvimento
transmitir a verdade, sem obter qualquer re- funcionamento da comunidade académica. O dos estudantes nas secções da AAC”.
torno financeiro. presidente do Centro de Informática da AAC, Desde 1983 que a SJ/AAC se esforça para
Assim como os restantes entrevistados, Paulo Nogueira Ramos, afirma que testemun- evoluir o trabalho que desenvolve. A vertente
também João Luís Campos, diretor-adjunto hou uma das “fases menos felizes” da história crítica e escrutinadora, valorizada pelos en-
do DC, aponta para a relevância ligada “ao pa- da secção, quando o seu desaparecimento trevistados, reflete-se no trabalho que vem
pel formativo que o Jornal A CABRA assume” parecia iminente. O estudante acredita que a desenvolvendo desde a sua criação, e na con-
para os estudantes. Na sua opinião, outro as- estrutura assume um papel inovador e, assim, strução de uma narrativa ainda por escrever. A
peto que caracteriza a publicação prende-se contribui para uma sociedade melhor. criação de um site para o Arquivo, a realização
com o seu estatuto editorial isento. O jornal- Pedro Andrade, antigo presidente da Secção de reportagens multimédia e o esforço pela
ista constata: “nunca vi o jornal conotado com de Fado da AAC, segue a mesma linha de pen- reativação da Via Latina são algumas das am-
qualquer corrente, nota-se que há um cuidado samento. Para o antigo dirigente, a SJ/AAC di- bições da secção. A perspetiva de um futuro,
grande em como todos devem ser retratados namiza vários projetos, como o Arquivo, que in- com uma redação em crescimento, que se ded-
do mesmo modo”. fluenciam de forma positiva o meio académico ica a modernizar uma secção emblemática, é o
No que diz respeito à importância de uma co- “pela recuperação de momentos históricos em- que motiva quem se compromete a lutar pelos
municação social autónoma, João Luís Cam- blemáticos”. Por sua vez, Tiago Santos, antigo próximos 40 anos.
pos confessa que, “infelizmente, a tendência membro do Centro de Estudos Cinematográfi-
é haver menos projetos que sejam verdadeira- cos e diretor do Festival Caminhos do Cinema
mente livres, porque estão sempre reféns de Português, ressalva a posição crítica que a SJ/
um ou outro interesse”. Assim, realça a “não AAC desempenhou ao longo do seu percurso,
subserviência e independência” personifica- que considera ser essencial para acompanhar a Com colaboração de Daniel Oliveira ,
das pelo Jornal A CABRA, ao servir como ponte história contemporânea da AAC e da academia. Ana Filipa Paz e Gabriela Moore
4. Vens à AAC, para onde vais? 10. Onde estás quando o jornal sai?
a)Tó Nogueira a)Qual jornal? A CÁBULA ou A GAZETA ACADÉMICA?
b)Nunca de lá saíste b)A chorar ao telefone com a tesoureira
c)Esconder-te na casa de banho c)A pesquisar no Google Maps onde fica o Polo II para ir dis-
tribuir jornais
5. Quem é a tua maior inspiração?
a)Quem inventou o cigarro tanto transcrever.
b)As vozes da minha cabeça a vida a trabalhar para a secção e já te cresceu um calo no mindinho da mão direita de
c)O gajo da Garrafeira Se escolheste mais vezes a alínea c) és o Redator escravo, subserviente e gostas. Passas
tas mais há cerca de três edições e estás a uma vírgula mal posta de pôr fogo à secção.
Q
uatro décadas depois, para lá da porta balhos. “A partir do nosso espólio, pretendemos ser em papel, fator diferenciador dos restantes jornais
mais discreta do piso 2 do edifício-sede o Arquivo não só da secção, mas da comunidade, universitários nacion ais.
da Associação Académica de Coimbra porque é isso que a SJ/AAC faz: contar o percur- Projetos passados também bateram à porta para
(AAC), ainda se colocam mãos, teclados e canetas so da academia, acompanhá-la, escrutiná-la”, ref- serem reerguidos, como é o caso da Via Latina. De-
à obra. Para iniciar o novo ano, a Secção de Jornal- ere a também coordenadora, Disa Palma. Vão ser scontinuada desde 2015, a ideia é voltar aos mold-
ismo da AAC (SJ/AAC) tem planeada uma receita ainda realizadas entrevistas a personalidades com es originais, como destaca a presidente da SJ/AAC,
em dose tripla: a aposta no Arquivo, a retoma da percursos marcantes, além dos dirigentes, para que Luísa Macedo Mendonça. “Esta recuperação vem
Via Latina, e a continuidade do Jornal Universi- estas não se “percam no tempo” e para fazer a pon- da necessidade que temos de um espaço de opinião
tário de Coimbra - A CABRA. te entre o passado e presente da história que “não seguro”, diz, em contraste com a bolha das redes
Entre a azáfama diária, são muitas as histórias se repete, mas rima”, acrescenta. sociais. “É algo com história e impacto em termos
que se ouvem relatar. As prateleiras da sala guar- “Manter o espírito reivindicativo e atento e tor- académicos, pelo que é um orgulho termos algo
dam muitas daquelas que já foram contadas e nar a produção mais crítica quanto aos problemas desse calibre sob a alçada da secção”, acrescenta.
que ganham agora uma nova vida. Um dos no- da academia e da cidade” são alguns dos pilares Englobar a “informação, opinião e história” num
vos projetos passa pela catalogação e digitalização para o novo ano do jornal, como revela Ana Fili- só sítio é um dos pontos que distingue a Casa, se-
dos documentos. A criação de um “espaço de pa Paz. A atual diretora considera que o projeto se gundo Luísa Macedo Mendonça. “Os três projetos
preservação da memória da AAC para que esta tem mostrado um lugar de projeção de diferentes que gerimos têm a sua identidade própria e vamos
não se cristalize” foi um dos motes principais do realidades, o que coincide com o espírito da AAC. fazer o possível para a preservar”, aponta. A ne-
Arquivo, como realça uma das coordenadoras, “Somos um jornal pela academia e não consegui- cessidade de captação de associados de diferentes
Joana Carvalho. Já foram digitalizadas todas as mos fugir dessa realidade, temos de a abraçar e áreas científicas é um dos pontos priorizados por
edições em papel d’A CABRA, em parceria com a usá-la a nosso favor”, refere. A par do curso de jor- toda a equipa. “Num ano piloto em termos de ini-
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. nalismo, mantêm-se as publicações diárias online e ciativas, estamos a precisar como nunca de pessoas
Rotular todas as edições dos jornais para se dis- as edições periódicas. Apostar no multimédia é um e só temos a ganhar com isso”, apela.
ponibilizarem online faz parte da ordem de tra- dos planos, apesar de a prioridade serem as edições
P
onto prévio: não sou, de todo, uma pes- Não é novidade para ninguém, nem são de riação de fundos, de estabelecimento de parcerias,
soa desinteressada em relação à Via agora, as dificuldades que o jornalismo atraves- de procura de interessados em publicidade (ainda
Latina. Fui diretor da última edição sa. Dificuldades essas que causaram a morte a que seja uma procura quimérica) ou de mecenas,
que viu a luz do dia, em 2015. Escrevi, para essa muitas edições em papel, emblemáticas, de jor- grandes empresas que, sem contrapartida, quei-
mesma edição, um texto sobre a minha avó, que nais e revistas por esse mundo fora. Algumas ram ver o seu nome associado a uma revista cente-
tinha falecido nesse mesmo ano. Escrevi, aliás, migraram para o digital, ganhando nova vida nária. A um Fórum de Confrontação de Ideias.
textos para várias edições da Via Latina. E sem- e formato, outras cumpriram a lei imutável da É assim que aparece na ficha técnica. Fórum
pre com o prazer de estar a contribuir, de forma Natureza e extinguiram-se. O tema financei- de Confrontação de Ideias. Desde 1889, com in-
genuína e humilde, para algo maior do que eu. ro não é novo para a Secção de Jornalismo da terregnos maiores ou menores. E é essa essência
Portanto, anseio o dia em que haja nova edição Associação Académica de Coimbra, bem como que eu não quero que se perca. Portanto, este é
da revista Via Latina e que possa deixar de dizer para muitas outras secções da casa. As fontes o meu contributo. Confrontem-se ideias. Faça-
que fui o diretor da última edição. Todavia, há de receita de outrora, como a Queima das Fitas, se mais e melhor. Mas sempre com um ponto
um ponto que deve estar assente e que foi sem- minguaram a tal ponto que impediram o regu- bem assente e concreto: a Via Latina tem de ser
pre levantado por mim quando se falava numa lar funcionamento, conforme muitos de nós o autossustentável, tem de se assumir como um
nova edição da Via, como carinhosamente lhe conhecemos, da nossa secção. farol, um exemplo a seguir. Não pode fechar
chamamos: sustentabilidade. É um conceito em E é por isso que volto à questão da sustentabili- a porta a quem vem atrás, mas antes deixá-la
voga nos dias de hoje, ligado principalmente à dade. A secção, um laboratório incrível de jorna- bem escancarada.
parte ambiental. Mas é a sustentabilidade fi- lismo, precisa agora de ser também um espaço de
nanceira que me preocupa. aprendizagem e exploração, por exemplo, de anga-
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“
editorial para alertar para a necessidade ur-
Quando pensámos nesta Edição Especial, por nos ouvir. Mais concretamente, que insti- gente de nos unirmos em volta de um poten-
pensámo-la com o intuito de relembrar tuições como a Câmara Municipal de Coimbra, cial comum que já foi, mas que já não é mais: o
antigas personalidades que por cá pas- a Reitoria e outras não esperem o contacto do nome presente no panorama nacional da velha
saram e histórias que, durante 40 anos, cá grupo de estudantes, mas que o procurem, que e ilustre Associação Académica de Coimbra.
surgiram. Neste editorial não podemos dei- se lembrem e acreditem nele. A falta de recur- Podemos fazê-lo começando por reconhecer
xar de vincar que dar os parabéns à Secção de sos é transversal a qualquer associação cultu- e apoiar o valor e a importância dos projetos
Jornalismo significa também refletir sobre o ral feita por voluntários e estudantes, mas a que a compõem. Não sejamos consumidos pela
potencial gigante que esta secção tem de ser falta de atenção e reconhecimento é uma epide- distância desconfiada que caracteriza a nossa
cada vez maior e de tornar maior aquilo que mia muito maior. Não nos vejam como miúdos geração. Não olhemos para esta Casa como
já cá existe. que tentam brincar ao mundo real. Vejam-nos um palco para ascender individualmente,
A verdade é que só conseguimos honrar o como parceiros com quem podem trabalhar. mas como um trampolim para alcançarmos,
trabalho realizado até agora e o compromisso em conjunto, o seu potencial máximo. Este só
assumido por esta direção pegando neste pro- Cara cidade, será alcançado se o trabalho das nossas sec-
jeto e exigindo mais por ele. Quantas pessoas O nosso trabalho é um espelho da admira- ções e núcleos tiver em mente um fim comum:
referem a importância que tem a Secção de ção que sentimos por ti, Coimbra. Acontece-te o estudante de Coimbra, que também tem de
Jornalismo sem lá nunca ter entrado. Quantas um fenómeno único de honesta e conformada fazer a sua parte.
pessoas formulam juízos do trabalho realizado dependência da saudade. Isso faz com que te- Tu, que és Académica, reconhece, envol-
sem nunca o terem consumido. Quantas pes- nhas dificuldade em ver os potenciais de futu- ve-te, honra a tua condição de associado da
soas carregam a hipocrisia de reconhecer mé- ro que cá existem. Para a AAC e, em particu- Associação Académica de Coimbra.
rito a uma casa que não conhecem. Não pode- lar, a SJ crescer, precisamos que tu estejas do
mos aceitar que daqui a 40 anos continue tudo nosso lado e projetes o que aqui é feito. Só assim Luísa Macedo Mendonça, Presidente
SJ/AAC
na mesma. voltaremos a atingir importância nacional e
Ana Filipa Paz, Diretora Jornal A Cabra
Sendo assim, deixamos aqui uma carta aber- internacional. Só assim preservaremos esse
ta aos leitores para quem fazemos o nosso sentimento de saudade para o futuro. Ninguém
trabalho: sente saudade do que não é feito.
FICHA TÉCNICA Diretora Ana Filipa Paz Conselho de Redação Luís Almeida, Francisco Barata,
Tomás Barros, Carina Costa, Inês Duarte, Filipe Furtado,
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Equipa Editorial Daniela Fazendeiro & Alexandra Leonor Garrido, Hugo Guímaro, Luísa Macedo Mendonça,
Depósito Legal nº478319/20 Guimarães & Simão Moura (Ensino Superior), Raquel Lucas Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel,
Registo ICS nº116759 & Tiago Paiva (Cultura), Larissa Britto & Daniel Oliveira & Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva, Joana Carvalho
Fábio Torres (Desporto), Ana Cardoso & Eduardo Neves
Propriedade Associação Académica de Coimbra & Sofia Ramos (Ciência & Tecnologia), Clara Neto & Sofia Fotografia Clara Neto, Tiago Paiva, Miguel Santos
Variz Pereira & Luísa Rodrigues (Cidade), Sofia Ramos Capa Pedro Mendes
Morada Secção de Jornalismo (Fotografia) Programa Daniela Mendes
Rua Padre António Vieira, 1 Paginação Ana Filipa Paz e Lucas Yamamoto
300-315 Coimbra Colaborou nesta edição Larissa Britto, Ana Cardoso,
Gustavo Eler, Daniela Fazendeiro, Alexandra Guimarães, Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.
Tiragem 2000 Raquel Lucas, Luísa Macedo Mendonça, Gabriela Moore, Telf.239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected]
Sofia Moreira, Simão Moura, Clara Neto, Eduardo Neves,
Disa Palma, Tiago Paiva, Ana Filipa Paz, Sofia Ramos, Produção Secção de Jornalismo da Associação
Cristiana Reis, Luísa Rodrigues, Miguel Santos Académica de Coimbra