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Mesa Redonda
As letras e as vozes indígenas:
d o mundo Wirîsan yamî: mulheres do circum-Roraima nas narrativas indígenas Profª. Drª. Sonyellen Fonseca F. Fiorotti – PÓS-DOUTORANDA PPGL/UFRR LEIS E SOCIEDADE NÃO INDÍGENA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 LEIS 9.394/1996 11.645/2008: “torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio”. ESFERAS HISTÓRICA, SOCIAL, POLÍTICA, EDUCACIONAL. SOCIEDADES INDÍGENAS
COSMOVISÃO: ORIENTADAS POR ASPECTOS
COSMOLÓGICOS; AMIZADE COSMOLÓGICA, POEMA DO MUNDO (RIBEIRO, 2022); ALIANÇAS AFETIVAS (KRENAK, 2015). COSMOS É A CONSTANTE RELAÇÃO DAS GENTES, SEJAM ELAS GENTES PERTENCENTES AOS REINOS ANIMAL, VEGETAL OU MINERAL (FIOROTTI, 2023). A ARTE É A MANIFESTAÇÃO DOS DIÁLOGOS ENTRE AS GENTES DOS COSMOS (FIOROTTI, 2023); “DICOTOMIA INFERNAL” DO MUNDO OCIDENTAL (VIVEIROS DE CASTRO, 2015) PANTON PIA’
PANTON EM MAKUUSI MAIMU QUER DIZER HISTÓRIA.
SEVERINO BARBOSA, INDÍGENA MAKUXI, MORADOR DA COMUNIDADE INDÍGENA SÃO JORGE, TERRA INDÍGENA SÃO MARCOS. PANTON PIA’ – PERTO DA HISTÓRIA, JUNTO COM A HISTÓRIA PROJETO COORDENADO PELO PROF. DR. DEVAIR FIOROTTI DE 2006 A 2020 CONTEMPLADO PELO CNPq/CAPES. ENTREVISTOU 39 ANCIÃOS E ANCIÃS DAS TERRAS INDÍGENAS SÃO MARCOS E RAPOSA-SERRA DO SOL. WIRÎ’SAN YAMÎ – AS MULHERES
DESLOCAMENTOS: INDÍGENAS, EMPOBRECIDAS PELA
COLONIZAÇÃO, IDOSOS E IDOSAS, FALANTES DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO NO MÍNIMO SEGUNDA LÍNGUA, SEMI OU ANALFABETOS COM RELAÇÃO A LETRA ALFABÉTICA, MUITO DISTANTES DOS GRANDES CENTROS URBANOS E DAS METRÓPOLES. PRESENÇA DAS MULHERES DENTRO DE NARRATIVAS CONTADAS DENTRO DO PROJETO: MAKUNAIMA PANTONÜ – A HISTÓRIA DE MAKUNAIMA (FIOROTTI, FLORES, 2018), KA’SANA PANTONI – A HISTÓRIA DO URUBU-REI (RAPOSO, 2023) AL: [...] pra esse Makunaima pegar esse nome de Makunaima porque nasceram gêmeos. Nasceu ele e uma irmã. Nome desse Makunaima, pega o nome porque eles nasceram gêmeos, aí botaram Makunaima, língua nossa. [...] Makunaima significa é gêmeo, são gêmeos. [...] Nossa língua né. Quando nascem duas crianças, diz: "Como nasceu a criança?" "Nasceu maku'naivê", né, maku'naivê. O que é "Makunaima"? São gêmeos, né, "macunaivê" que nasceu gêmeos. Então eles nasceram assim gêmeos. Aí o pai né, o pai disse assim, o pai dele, Orom, o pai de Makunaima, Orom né. Orom, pai do Makunaima, Orom. Aí nasceu, o pai dele perguntou: "O que nasceu?" "Nasceu duas pessoa aqui." "Quem?" "Makunaivê" "Makunaivê". Nasceram né, nasceram gêmeas. "Ah, então vai ser Makunaima." Makunaima nasceram, né, Makunaima. A irmã, a irmã Makunupa', Makunapa', a irmã dele. Makunaima ele, Makunupa' a irmã. Se criaram juntos, se criaram. Naqueles tempos uma pessoa, quando ficasse homem, se formava, não casava com gente de longe, como hoje em dia tá existindo né. Nasciam, se criavam junto, se amigava junto naqueles tempos. Assim tá na história né. Eu nunca vi, mas quem contava, finado meu avô contava essa história. Então ficaram, se formaram né, ficou com a irmã dele, andavam juntoscom a irmã. Lá tiveram dois filhos, que é Insikiran, mais velho, Anikê, não, Anikê mais velho e Insikiran mais novo. Esses são os filhos do Makunaima. DF: E quem foi a esposa do Makunaima? TS: Porque aí têm muita versão que muita gente fala. Uns dizem que eram deuses. Deuses, por quê? Porque eles chamavam deus, por quê? De tudo quase tudo eles faziam, até tipo milagre. Eu, pelo meu conhecimento, meu pai também não conta muita coisa, contava um pouco, dizia que eram pessoas que eram sábios. O que eles dissessem, por exemplo: transformavam uma coisa, transformava uma pessoa em qualquer coisa. Encantavam, vamos dizer assim, uma pessoa vinha, pr'aí! Né? Aí a pessoa parava ali, já transformava em uma pedra também, uma qualquer coisa, uma árvore. Aí pronto, aí fazia. E eu ouvi dizer que todas aquelas escritas, que tem hoje naquelas pedras, diziam que eram deles, porque pra eles tudo parecia ser mole. Passavam com o dedo ali, desenhando qualquer coisa na pedra, ali era tudo mole. E hoje a gente vê, parece assim um sinal. Ele disse que um dia, um desses índio que eles contrataram, né, foram, foram, foram, ficaram muitos dia por dentro do mato e o índio localizou a aldeia deles lá, eles eram vinte homem, tudo bem armado. Aí cercaram a aldeia deles quase de noite, cercaram a aldeia deles, né, pra atacar de manhã cedinho. Aí diz que ele tava de manhã cedinho, cercado mesmo a aldeia, bem cercada, né. Tudo armado até os dente. Quando foi o dia clareando diz ele que saiu uma mulher lá de dentro dum, dum barraco daqueles, comé, dum, saiu fora assim, né, foi no mato, voltou, né. Aí levantou outro índio. Aí eles deram sinal pra atacar, né. Era pra atacar. Diz que atacaram lá, mataram índio de todo jeito, ainda conseguiu fugir índio, mas mataram muitos. Ele diz que quando terminou tudo mesmo, eles queimavam tudo, tocavam fogo em tudo o que podia. Ele entrou dentro dum barraco daqueles, dum, num sei como é que era os negócio lá dos índio, né, um barracão daqueles que eles entram lá dentro. Tinha uns cesto assim, aí, ele me contando. Ele me contou bem assim: “Rapaz, quando eu vi um balaio daquele mexeu assim...” Que ele levantou assim tinha uma menininha assim, de uns seis anos, cinco, seis anos. Aí ele disse: “Rapaz, a menininha parecia gente, rapaz. Pois ela chegou aqui, chegou na minha frente assim, chega ela se ajoelhou e botou as mãozinha assim, ó, pra mim, ó!” Ele disse: “Parecia gente!”, ele falou. (FIOROTTI, NO PRELO) RS: Essa história foi assim... O fazendeiro, ele cercou a área. […] parece que foi destruída essa comunidade no ano de cinquenta e dois, cinquenta e três, a Serra do Banco, quando nós éramos uma comunidade. Aí o dono, o fazendeiro, ele se zangou lá com um de nosso parente por causa da filha dele, do morador de lá, e aí chamavam ele de Luiz Pajé, e era um pajé mesmo. E aí, antigamente, muitos brancos levavam mesmo os indígenas assim: “Não, deixa eu levar a tua filha, ela vai estudar, com minha esposa, botar ela pra estudar, pra brincar com meus filhos aqui.” Foi assim que levaram, levaram a menina, ela tinha dez anos. Aí pra lá ficou dois, três, quatro anos; ela se formou pra lá. Ficou mocinha pra lá. Ele aí começou a gostar dela, ficou com ela assim. Aí quando a mulher dele percebeu, ele já tava com ela. Aí a mulher dele também, como é que diz assim, não gostou. Ficou brigando com ele e tal. Aí ela já sabia e foi embora pro Rio de Janeiro, fez uma viajem. […]. Aí ele foi embora e tirou ela, alugou uma casa e deixou ela em outra casa, aí foi embora. Aí mulher dele pegou ela dessa casa e mandou ela pra casa da mãe dela, que morava aí na Serra do Banco. […] aí a mãe dela foi lá, buscou ela e levou lá pra comunidade. Quando ele chegou lá do Rio de Janeiro, ela não tava mais. Ele ficou doido. Aí veio atrás dela. Aí na fazenda dele, ele vinha de teco-teco nesses tempos, aquele avião pequeno, chamava teco-teco. Aí chegou aí, aí chegou atrás dela, ela já tava aí com a mãe dela: “Eu vim buscar ela”, aí ela não quis mais ele. Quando ela chegou com a mãe dela, ela não quis mais voltar com ele, aí ele ficou doido. Aí falou com o meu avô, com o pai dela, tudo deram, pra ajeitar ela, pra ele levar ela de volta pra morar com ele, né? Só que ela não quis mais, nem o pai dela também não quis mais, nem... O meu avô disse: “Se ela não quer, o que é que eu vou fazer, né? Obrigar ela eu não vou, fazer ela voltar com o senhor.” Aí ele zangou, por causa dela ele zangou. Aí ele disse que não queria mais ninguém, porque ninguém queria ajudar ele levar ela pra lá, pra morar com ele: “Então vocês podem ir embora daqui; aqui é o meu lugar, é a minha fazenda.” Aí o que é que nós fizemos? Fomos embora. Aí, porque nesse tempo não tinha a FUNAI, assim como hoje (FIOROTTI, Devair. Projeto Panton pia’). Fonte: Mapa da Violência 2015 – violência contra as mulheres JOENIA WAPICHANA – 1ª Presidenta da Funai Sonia Guajajara – Ministra dos Povos Indígenas Bernaldina José Pedro (in memoriam) HISTÓRIAS CONTAM MUITO MAIS DO QUE AS NARRATIVAS OFICIAIS REGISTRARAM; APESAR DE TODA VIOLÊNCIA, MORTE, EXPLORAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO IMPOSTA AOS POVOS INDÍGENAS, EM ESPECIAL ÀS MULHERES, ELAS CONTINUAM A OCUPAR VÁRIOS ESPAÇOS NA POLÍTICA, NAS ARTES, NA CIÊNCIA, NA EDUCAÇÃO, NA LITERATURA E PRINCIPALMENTE, NO REENCANTAMENTO DO MUNDO. ENSINANDO QUE SEM COLETIVIDADE NÃO HÁ CONTINUIDADE DO SER HUMANO SOBRE ESTA TERRA. Muito obrigada Tenki