CxXacriaba ComMaisVelhos
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Presi dente da Repbl i ca
Lui z I nci o Lul a da Si l va
Mi ni stri o da Educao
Fernando Haddad
Secretri oExecuti vo
Jai ro Jorge da Si l va
Secretari a de Educao Conti nuada, Al f abeti zao e
Di versi dade
Ri cardo Henri ques
COM OS MAIS
V E L H O S
OEIX
UFMG Uni versi dade Federal de Mi nas Gerai s
Rei tora Ana Lci a Al mei da Gazzol a
FALE Facul dade de Letras
Di retora El i ana Amarante de Mendona
Ncl eo de Pesqui sas Transdi sci pl i nares Li teraterras:
escri ta, l ei tura, tradues
Coordenadora Mari a I ns de Al mei da
OEI X Organi zao da Educao I nd gena Xacri ab
Presi dente Franci sco de Souza Santos
Ficha catalogrfica elaborada pelas bibliotecrias da FALE/UFMG
ndios Xacriab
I39c Com os mais velhos / Povo Xacriab; [pesquisaram,
gravaram, escreveram, transcriaram, os professores
xacriab Abel Nunes ... [et al.] e os estudantes de Letras,
Msica, Cincias Sociais, Alice Bicalho ... [et al.]].
Belo Horizonte : FALE/UFMG : CGEEI/SECAD/MEC,
2005.
156 p. : il., fotos
ISBN: 85- 87470-76-0
1. ndios Xacriab. 2. Literatura indgena Brasil.
3. ndios Xacriab Histria. 4. ndios Xacriab Usos e
costumes. I. Ttulo.
CDD : 898
Povo Xacriab
COM OS MAIS
V E L H O S
OEIX
Literaterras/FALE/UFMG
CGEEI/SECAD/MEC
2005
Pesquisaram, gravaram, escreveram, transcriaram, os professores xacriab
Abel Nunes, Adilson Gomes, Adilson Queiroz, Adimar Seixas, Adnan Arajo,
Ailsa Antnia Santana, Azilda da Mota, Claudiana Alkimim, Cleuza Cavalcante,
Creusa Ferreira, Diana Pereira, Ducilene de Arajo, Eder Possidnio, Edney
Possidnio, Edvaldo Gonalves, Elisngela Dourado, Elza Lojo, Elzio Mares,
Eulina Cavalcante, Gislio Alves, Graa Edvirges dos Santos, Iracema Macedo,
ris Gomes, Ivenira Ferreira, Janete Ramos, Janine Ribeiro, Joo Pinheiro dos
Santos, Jonesvan Pereira, Jos Luiz Seixas, Jos Xavier, Jucilene Viana,
Juvenil Gomes, Juvenira Ferreira, Lenice Pinheiro, Manoel Gonalves, Manoel
Pereira, Marcelo Corra, Mrcia Pereira, Marciel Bispo, Maria Aparecida
Evaristo, Maria Jos Alkimim, Marli Gonzaga, Marly Gonalves, Mauro Nunes,
Merenice Nunes, Nelson Gomes, Nilma Rodrigues, Nilson Gomes, Otaclio
Gomes, Quitria Edneuza Farias, Rosnia Gonalves, Rose Meiry Ferreira,
Sidnia de Souza, Sidney Pinheiro, Snia Fernandes, Valdeniza Cardosos,
Valdete Pinheiro, Valdir Nunes, Vanginei Leite, Wilson de Oliveira Bezerra
E os estudantes de Letras, Msica, Cincias Sociais
Alice Bicalho, Beatriz de Almeida Matos, Csar Gonalves, Daniel Magalhes,
Elza Gonalves Silveira, Gabriel Senna Castello Branco, Izabela DUro, Joo
Rocha, Morena Tomich, Nara Nunes Resende, Srgio Antonio Silva.
Coordenao de pesquisa e oficinas de texto
Maria Ins de Almeida e Sonia Queiroz
Produo editorial
Edies Cip Voador
Coordenao e organizao
Maria Ins de Almeida
Diagramao e arte-final
Morena Tomich
Fotos
Marcos de Almeida Matos
Apoio
CNPq, CENEX/FALE, FUNAI
Dona Er c i na Bi s po de Sant a na
Terra me, meu f i o
Caboca da mat a
A met ade os uso
As pal avra ds, o subei o da Iai nossa
Se u Em l i o Gome s
Quando o t udo era t odo
O que no t em mdi co mat a
Tem out ras monas
Se u Eva r i s t o Gome s
Es s a Te r r a
Se u J o o Se i x a s
Recei t as medi ci nai s
Se u Os wa l do Fe r na nde s
A caa da ona
Pi ment a nos ol hos
Duas hi st ri as de caada
Bem mal se pagam
O papagai o que sabi a l er
Dona Ma r i a Pe r ei r a
Hi st ri a das t rs i rms
S U M R I O
9
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25
29
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41
43
45
47
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63
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77
81
83
Dona Ma r i a Gome s
Conversa com Dona Mari a Gomes
Seu Es t c i o Per e i r a
Hi st ri a do Z e a Mari a
Se u Ra i mundo Gome s
A mona
Se u S l vi o J os de Ar a j o
Caramuru
Se u J os Fi za
Mal i nt enci onados
Se u Er nandi J os Dour a do
A hi st ri a do meni no e o di nhei ro
E se quebrar
Ma nue l Gon a l ve s Mac e do
O desej o da mul her grvi da
Dona Pe dr e l i na Fi uza
Hi st ori nha do l obi somem
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89
9 3
95
1 0 9
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1 1 5
117
1 1 9
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1 2 5
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135
1 3 9
141
1 4 9
151
Dessa nossa histria eu no tenho muito que contar:
s o viver que eu alcancei;
que o viver xacriab que os meus avs contavam,
que os meus parentes contam.
Seu Emlio Gomes
Dona Ercina Bispo de Santana
Aldeia Brejo Mata Fome
11
Ter ra me, meu f i o.
ia, meu o,
Quando os possro invadiu aqui,
quer dizer: foi invadido pelos talo donos.
Porque muitos xacriab vendero
a metade deles da terra.
Vendeu, vendeu pros povo de fora.
Masimiro vendeu dois lugar,
quer dizer:
um l emriba vendeu po nado Santo.
Vendeu
e no recebeu,
cou l de graa,
l na passage pra csim, ante c embaixo.
que voc no sobe l, da posio adonde ,
adonde tem um p de manga grande, l na beira do
riacho pra csim dela, do Son Gonsale at c mais pra
baixo.
12
Na beira do riacho no tem um p de manga
grande? Na birinha do riacho, pois , dali parriba,
fora na estrada, assim, sem ser no morro, aquilo ali era
nosso.
Ele peg e vendeu po nado Santo.
Vendeu no, deu
escondido de mim,
pois bom.
E ali do oto lado.
Aqui eu comprei de compade Neco,
e ali do oto lado, onde tem a Funaia hoje,
meu o,
ali foi comprado
de l, e daqui quem comprou foi eu.
Eu comprei e foi, eu comprei a troco de uma vaca.
Eu deu uma vaca a compade Neco
por o direito, terra no.
Terra no, que no se compra me no.
13
E a terra me
j viu?
Eu dei uma vaca pelo direito de compade Neco,
aqui neste trecho daqui. Da gua fria pra c e dali
assim, pracul assim, era Saluzim. Saluzim pra l, e
compade Neco aqui nesse trecho. Eu comprei aqui de
compade Neco, comprei ali. Comprei l do oto lado,
onde tem a Funaia hoje. Foi comprado de compade
Neco.
C no t veno aquele p de cco na frente de
Rodrigui? Assim no canto. Assim de lado. No tem
aquela moiteira de mato, assim? Ali era a fornaia, ali
era a fornaia.
E as palavra Xacriab: os Peedao...
Eu quase no prisionisso, no.
A meu o,
eles vendero.
O Masimiro vendeu l pro tal de Joo Rusaro. Ali
em cima, acul, ali emriba: esse trecho a foi vendido
at l em cima. Assim, esse trecho daqui foi vendido
tudo. O nado Santo vendeu esse trecho assim, pra
14
cul, acho que foi pra esse Joo Rusaro tambm. No
sei pra quem foi, no.
Eu s sei diz que l em cima,
na barra,
tinha um home l que tava trabaiano, l
num lug desse.
Esse povo que tava trabaiano
no direito que eles compraro da terra,
dessa terra aqui,
meu o.
Ontonci.
Foi da conduta que teve uma ventona.
Eu no sei se deu com chuva,
ou se foi s o vento.
A, na barraca l, ali em riba na barra,
o homem bot uma ispingarda assim, na furquia.
E a cama dos menino era assim imbaixo
e a ispingarda por cima.
Ah bom,
no vento que deu,
15
meu o,
meu bom Jesus da Lapa,
o homem chamava Joo,
era Joo,
era isso mesmo.
Que foi da cuada
que essa porcali at tava cumeno o dinheiro dele
trabaiado
e ela gasapiano.
Bom,
a deu um vento,
meu o, derrub a barraca assim
e a ispingada caiu de boca.
No sei como foi no.
E atir,
dispar,
dispar na menina,
na mocinha,
assim, meu Deus,
ela tava bem assim,
disparo l nela, assim de lado,
nos peito, mas de lado.
Se fosse assim, tinha matado.
16
meu o,
acho que no morreu, no.
Penso que no,
pruque a me carreg ela logo no to dia,
levou ela pa Manga.
Agora, a meu o,
nessa conduta que ela lev ela pra l,
ela no volt com ela mais no.
Volt c mais no.
Tomm foi s.
E essas invadio danada ali do to lado, que
peg e vendeu iscondido de mim, j viu?
Tudo esse povo de fora
aqui pra cima, esse povo
aqui parriba, tudo foi
vindido,
meu o.
Vicente Calango vendeu, Santo ruim ali vendeu,
Massimiro vendeu, Doca vendeu, Joo do Z Gomes
17
vendeu, irmo de Doca...
S dos que eu sei.
Tudo foi vendido terra aqui, j viu?
Por isso que o povo de fora invadiu pra tom:
pruque compr. Pruque compr na mo dos tali
donos.
ia, Doca compr, Santo Cago compr carro,
Vicente calango compr carro de gasulina, Doca
compr carro de gasulina, Joo compr carro de
gasulina, tudo com dinheiro de terra.
por isso que eu falo,
meu o,
falo a minha verdade.
Eu no gosto de mentira e nem levant farso a
ningum, j viu?
Pur isso que o povo de fora tom conta, j viu?
Que foi a luta do meu o,
que meu o peg essa cruiz e jog nas costa pa
defend esse lug, j viu?
Pa defend esse lug,
como ele falava,
18
que essa cruiz ele peg e bot nas costa.
E essa cruiz,
ele sabia que murria,
mas essa cruiz ele no tirava ela das costa dele,
e foi com certeza
Eu no.
S pruque
meu o,
toda veiz que vinha,
ele comia,
que ele vinha,
ele comia.
Quem fazia o piro era ele,
ele fazia o pirozinho gostoso que ele gostava.
Eu no tirava as carne,
os pedao separado,
eu dizia assim:
meu o, agora c tira,
c esci os pedao que c gosta.
E ele tirava aqueles pedao que ele gostava, comia.
Eu diz:
Cheg, meu o?
Ele diz:
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Cheg, me.
Eu diz:
s veiz voc ainda qu, meu o.
Ele diz:
No. Pra mim, minha me, agora cheg, graasa
Deus. T com minha barriga cheia, hoje eu sei que
comi.
Ro-sa-li-no,
meu o,
Rosalino.
O nado Germe, o nado Salum, o nado
Jermano Gomi, Agustim... quem era mais, meu Deus,
que eu no t lembrada? Tudo, meu o, que luit
nesse mundo de Deus, de Belo Horizonte. Esse mundo
andano pa defend essa terra e nunca defendeu.
Rudrigue, no. Rudrigue, no, que Rudrigue,
nesse tempo, no era gente, no. Rudrigue era
pequeno, e at and bem na verdade, sim.
E o nado Biniditim, o nado Biniditim do
Sumar, tambm.
20
Tudo nessa luta dessa terra
meu o
Toda veiz, todo ano que esse povo ia,
todo mundo do pessoali daqui dava dinheiro
pesse povo ir
pra esse povo ir, e nunca liberava, no sinhor.
Quem vei liber ela, com as fora de Deus,
foi meu fio.
foi meu fio Rosalino que liber essa terra
com os milagre,
com as fora de sinhoro So Joo.
Meu o,
uma criana
um anjo
meu o
Pruque Rosalino era uma criana novinha
j pens?
Meu o
e os mais vio caminh toda vida.
S quem nunca foi em viagem nenhuma foi meu
pai. Agora, meu pai nunca foi, mas s dava o dinheiro,
dava o dinheiro peles tudo que ia. Dava pu nado
21
Jermano, o nado Agustim, e esse menino... cume? que
falei... Finado Jermano. O nado Biniditim, o nado
Salum, tudo pa po Rio de Janeiro, Berolizonte.
Tudo a refm dessa defesa,
pa defend essa terra,
mas nunca pde defend,
no sinhor.
Quem vei defend ela foi meu o
meu o.
Meu o,
uma criana,
uma criana que pudia t uns cinqenta ano j
pura.
A meu o,
foi o tempo da luta de meu o,
j viu?
Foi na derradra viagem
foi mais assim: no dia que eles tiraro...
Os fariseu
tir a vida do meu o,
os pessoali do Proau, de Vage,
desse mundo de c tudo, tudo,
meu o, j se tava retirano,
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j tava retirano!
Que ele ainda fal assim:
me, quando o pessoali, esse pessoali de fora, que
t dento da ardeia, daqui da rea, sair. Que tiv sado
tudo pra fora...
Agora
os ndios que saiu e tiv fora,
minha me,
eu vou atrais,
eu vou atrais e trago nem que sab marrado,
mais eu tem que traz e bot dento do lugar, dento da
ardeia.
Fora no ca, no.
Tudo isso ele fal pra mim.
j viu?
tanto, que quando esses pessoale, esses possro
tava sano pra fora...
meu o,
meu o,
foi o tempo que tiraro a vida de meu o.
23
os possro j tava sano. J tava quase com uns
treis dia a quatro que nis j tava sabeno notia que
eles tava mudano. Mudano tudo pa Tacarambi, l
pa Tacarambi. Pum tali de lug que puisero nome
de Funainha, n? C pu de tris assim, Tacarambi,
a cidade t assim, e agora zero aquela barracada.
Barracada de fora a fora, de c do campo da Sariema,
ali zero tudo de barraco pesses possros que tava
saino pra l. Tudo dessa conduta, meu o, dessa luta
dessa terra aqui
meu o.
25
Caboca da Mat a
Deixa no ser to chover
i meu o,
a dana do Tor
quem no dana ele,
os ndio que no dana ele,
t na forma de ndio mas no ndio no!
Ma s n o ndi o n o
Tem a cantiga,
tem a cantiga, meu Deus...
Como que , papai do cu?...
Meu Jesus Cristo, meu o de Deus...
A caboca da mata....
A CABOCA DA MATA!
Que a dona da mata ona caboca que canta
assim:
Aaa caboca da maata
a cab- cada mata
l a chegoou
c h e g o o u
Acabocadamata
26
Euquer vadi
a caboocada mata
Euque r vadiaaaaa
Raimundo que bom pra cantar ela. Se voc
levasse pra cantar Raimundo... Pro modele cantar
tudo pra voc...
Eu dano
dano ela bem
na verdade
uma vez
mas hoje, agora, minhas perna num d. Com
esse negcio de ter dor assim nas perna, ter dor assim
num canamento de infusado, que eu num gento.
Principeio, mas num gento acabar.
E ele dana. Dana e canta. Ele dana e canta.
Raimundo. Em toda paragem que chega, meu
o, eles manda ele danar, manda ele cantar. E se
os companheiro souber, ele vai e dana mais os
companheiro, que pra modeles ver.
E tem outa cantiga tambm, daquele menino de...
Acho que Jos, Joo. Daqui do Virgino, do Virgino
no, do Barrero, que canta.
Xeu ver, meu lho, ver como , Meu Deus...
Sim, que canta assim:
27
minhabarriiiga quer cum
No:
minhabarriga t com foome
E minhabocaqu cum
Ca l a a bo o oca minhabar r i iga
De i x a no S e r t o chuv
bonito. N?
minhabarriga t com f o me
mnhabca qu cum
Ca l a a bo o oca minhabar r i iga
De i x a no S e r t o chuv
Mas bonito pra quem puxa essa cantiga, moo!
Mas bonita! Eu achei!
minhabarriga t com f o me
mnhabca qu cum
Ca l a a boooca minhabar r i iga
De i x a nu S e r t o chuv
Pra quem num tem flego, meu flego num d
pra incumpridar. Mas bonito cumprida. A linha
tem tudo pra puxar.
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A met ade os us o
Era essa unha danta, a unha danta que marga
iguali veneno. Pior que pele de gado.
A agora, meu pai ia l no Tabulero, rancava ela.
Chegava em casa, minha me rapava, limpava ela bem
limp.
Rapava e, depois, ali agora, panhava. J tinha o
mel de abeia: o de mandassia o de manduri, de jata...
, x v, ... esses trs, era.
A agora, rapava a raiz bem rapadinha, bem
ninha e, a agora, misturava no mel de abeia e batia
ela
bem batidinha
bem batidinha
bem batidinha. Cabava, dava ns tudo pra comer.
Meu o, era com poucas palhetadas
1
, mas da pra
c....
A metade tambm os uso, os uso meu i...
30
A unha danta servia pra esses difruo: pro catarro,
pra essas doena que o povo chama,
e eu no falo o nome dela no, deitado de gripe... Eu
no falo o nome desse trem no.
pra isso meu o, pro catarro. E tratava assim :
o difruo ou catarro, era assim.
Mas essa doena que eles fala o nome a, com
aquele pr a z e r, enquanto chamar aquilo dende casa
nacaba no.
Ah bom,
da meu o, eu era pequeni...
eu preciso falar pra voc,
eu era pequena assim .
E minha me ia pra missa e levava eu, J... No, eu
compade Duque e J. Compade Duque, o nome dele
Gumercino.
A ela sentava nis na beira da casa. E dizia
assim:
Oh meus , cs num levanta da no. Cs ca a
sentad.
Ali ns cava. A agora, eu cava que nem um
31
papagi, n? Escutano que quo pade falava.
Ah bom,
que que o pade dizia, que que o povo falava...
A meu ,
duas coisas dali t descrito aqui na cabea... Otas
coisa no.
Mas isto t aqui na cabea, num sai NUNCA!
A primeira palavra o pade falou assim, diz:
i meu povo, todos os ano que o povo dimud
os uso, Jesus dimuda as doena.
, ou num ?
Num t crto?
Repara os modo das doena hoje, meu . Que tem
doena nesse mundo que c num sabe do mundo, que
ningum nem sabe qual o nome dela.
Bom, a...
ns foi escutano.
A naquilo, a vai um tempo.
A quando chegou mais na frente, o pade falou
assim:
tra, eu vou explicar pra vocs: As mulheri que
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encurtar as suas roupa, Jesus suspende a chuva.
ou num ?
Cad a chuva,
n, meu i?
Cad ela?
O que ?
a porcaria, a porcaria das porquera dos usos,
meu o.
Que t
no mundo-todnho-de-Deus-nosso-senhor.
As mui s t tapando s aqui os quarto e aqui os
bico dos peitjo, e mais nada. O que diz assim, costa,
barriga...
Pegou daqui dos p das virilha pra baixo, t tudo
no tempo.
N? T tudo no tempo.
Aquilo, meu o, aquilo modo? Pelo amor de
Deus!
No, de primeiro as roupa tudo era, de grandes e
pequenos, tudo era composto, as roupinha tudo boa.
Chuva chovia
ms-intirmzm-de-Deus-nosso-senhor.
33
Feo no embebedava, feo madurecia,
arrancava o feo e jogava assim por cima do estaleiro,
tudo em riba dos pau. Num nascia um p, meu o,
salvava todinho.
A chuva chovia
o quanto Deus queria
As estrada era tudo praina. Assim .... E s sabia
que tinha estrada porque - o que era estrada - porque
c via s a linha da estrada, mas no via buracos, c
no via desbronco, no senhor.
E hoje, meu o, no lugar que t as estradas, c v,
acabou.
Esta a me da verdade,
A terra me - j viu?
esta aqui a me da verdade,
a me da riqueza maior do mundo que existe nesse
mundo-de-Deus.
Esta me aqui ,
toda riqueza s t a,
s tem dela.
Mas ela t fraca,
34
meu , c v, o sinal que aonde eras estrada, que
j t acabada. J esto passando pra por l fora. Agora
c v, fora dos beio do que era as estrada, j. C v, t
cerceado assim, fora assim , de fora a fora feito coisa
que foi riscada, j viu?
Tudo pra desborcar, pra desborcar pra dentro
daqueles valito que j t aberto traveis.
1
H, dicionariazada, a expresso em duas palhetadas
signicando com muita facilidade e rapidez, sem demora,
de pronto. Neste trecho, ouve-se D. Ercina dizer poucas
paetadas. Pelo sentido que se segue no texto, atribuimos
a palhetadas o sentido de duas palhetadas, dando
expresso poucas paetadas o sentido de algo feito com
muita facilidade.
35
As pal avra d s , o s ubei o da
I ai nos s a
Tamm meu o, tem mais coisa, mas a cabea
num d no.
A senhora fala as palavra?
Dos mais vi? Do povo a? Desse povo que nis
falava?
Xacriab.
Er a meeeu pai , e r a meeeu pai ,
mi nha me Precisa ver o finado Estevim, dizia assim:
moo, quando m- me m rreu, mar meu
pai tiiinhuuma roa di ba-ta-ta.
J que bom pra remedar, menino:
tinhuma roa di ba-ta-ta.. Eu mais meu pai foi l.
Eu mais d - t , assim mame mooorreu. E ponh a
mo bem no MULUNDU da batata.
Mais uma batata!
36
Que batata dava grande, n? Era cada cabea
assim,
meu o! Hoje nem isso batata t dando mais.
Mas as fala deles tudo era assim, tudo
d i s p d a o ! um dispedao: m a i s o o o l h a
q u e c o o o o i s a a , m a i s o l h a c o m q u e
f u l a n u u vai . As palavra deles tudo era assim. Tudo
era assim, aos pedao, aos pedao. Eu mesmo, tem veiz
que eu converso assim, mas... Um bando de gente de
fora, eles num entende minhas palavra no. Eles num
entende no. Procura duas, tris veiz pra saber o que
que eu t falando.
E s tinham que fazer algumas
dana, de primeiro?
Dana? A dana era o Tor, meu i, a dana era
o Tor que eles danavam. Aqui, aqui tem, eu que num
sei se gento ir l no, mas num longe no, acol,
. Acol tem, tem um terrero de lagedo. Tem a lapa,
tem aonde eles vadiava, tem caco de panela, tem gua
denda grota, dentro da lapa, ali , naquele morro ali,
. Camilo sabe de l. Camilo sabe. E era pra modele
lev eu l. L nesse lugar, pra modeu assuntar bem.
Porque l assim me contou Laura, eu no sei
se mentira dela no ela me contou pra mim assim:
37
que quando a gente chega l, que l d meio que um
encanto, n? o meidum encanto.
Diz que quandagente chega l tem uma juriti que
canta. Que vem cantando, a juriti. Ela vem cantando,
vem cantando, que quando chega perto, ela agora j
dimuda, j dimuda a cantiga, j faz miar que nem
gato.
encanto.
encanto que tem,
pois bom.
E antnce, essa, a dona da aldeia, da aldeia, meu
o, , sem mentira nenhuma, ali no pedao da noite,
al a barra de dez pra onze hora da noite, j
aconteceu aquilo por duas veiz.
Por duas veiz, bem aqui nesse rumo aqui, naquela
grota que desce aqui, .
Nessa grota que desce a. Ali, . Ali ela deu um
subeio. Ela deu um subeio. Eu tava daqui a porta
tava aberta, ainda tinha fechado no. Num inda tinha
38
acabado de rezar. Eu tava rezando. Ela deu subeio no
rumo daquele pau grande, daquelaruera l, . Mas na
grota! Um subeio. Mas um assubeio, meu o, mas
um assubeio f i n o que num tem mais
pra donde. Bom, eu assuntei feito tarudo, cabou.
A passou, passou, passou uns pouco de dia
assim, feito coisa assim de um ms, ela tornou a dar
otro subeio. Na mesma confrontao. Mas na grota
a. Que de l o subeio vem direitim assim, aqui nessa
porta a, .
Quem essa?
a ona caboca. a ona caboca. Qu a Iai
nossa.
Por duas veiz meu i, ela deu o subeio a, .
Que ela visita todas aldeia. Toda aldeia de ndio
ela vai visitar. Em todas elas. E aqui em cima no morro,
ali na... ela ca confrontando ali aquele... Al i aquel e
morro al i de. . . onde o compadre Diti botou aquela
roa. Que Jus comprou de compaDiti. Fica naquela
confrontao em cima do morro.
Mas diz Camilo, moo, que uma coisa bonita.
Camilo mesmo num falou pra mim no, foi Laura.
E cou dele me levar l. Num dia desse mesmo,
Laura tava falando aqui que ia conversar, ia falar pra
39
Camilo, pra mode ir mais eu e chamar esses povo que
trabaia, que t trabaiando aqui na FUNAIA, pra ir l
com mquina pra tirar o retrato de l dessa lapa e do
terrero.
Mas que coisa mais linda, meu i. Diz qu
um praino assim limp! Assim-assim, t assim aqu
terrero assim...
Agora tem a lapa, e denda lapa tem gua, passo
camim dgua.
Agora, eu num sei se vai assi m
ou se evem assi m.
A que eu num sei.
Mas deve ter uma gua frinha que faz prazer,
meu o.
Seu Emlio Gomes de Oliveira
Aldeia Pedra Redonda
43
44
fazia biscoito pra cum.
Era tudo de barro.
Cozinha tambm era panela de barro. E a raiz de
coit era comida deles l, na panela de barro. O prato
era de barro, esculatera de barro ento fazia os tachos
tambm de barro.
O sabo que usava pra lavar ps, banha, era
sabo dicuada. Quando no tinha sabo, raspo do ju.
Raspando o ju preles tomar banho; preles lavar a
cabea. Ento isso que era o sabo deles.
A folha de tambor tambm era o sabo deles.
Quando tinha que nesse tempo chovia muito,
tinha seis meses de chuva, tinha outra alimentao
deles peixes nos rios, nas lagoas, no Itacorombi.
Tinha, que cou tudo para o lado do branco. Os ndios
iam pescar era a alimentao deles. Eles pegavam as
folhas de tambor, a casca, e batiam na lagoa pra pegar
o peixe. Modo deles comer.
E depois vem da pra c.
Na tradio deles, na religio deles, eles levavam
tudo pra comer l, pra fazer o aru, pra comer nos dias
durante a religio deles. S que era uma vida boa,
porque eles tinham uma vitamina, um remdio.
45
46
tem a raiz de desenrrola
tem a raiz de arconf
de coinana
tem de encruziada, cabo-verde e perdiz
o batatinha, a sarsa caroba, marmela
tem a sarsa parrela
tem o sexto-feirinho, arcans e doreti
o pau-terra, a sambaba
tem a catinga de porco
o aroeiro, imburana vermelha e imbu
casca de imbu, casca do angico
Ento aqui na mata tem.
o nosso remdio.
Tudo tem a sua nalidade
Ento tudo pra Ns uma parte muito boa.
1
O Ns maisculo a unidade Xacriab portanto concorda no
singular.
47
Tem out ras monas
I
Tinha duas moas andando juntas que, quando
chegaram numa poa de gua, uma falou pra outra:
irm, quer ver eu virar uma ona pra matar
uma nuvia.
Eu quero ver.
A tinha uma cama-do-gato uma se enrola na
cama-do-gato e fala pra outra:
Olha, quando eu vier de l, da poa do cu,
voc pega essas duas folhas e pe na minha boca?
Ponho.
Ento a uma foi, enrolou na cama-do-gato, virou
ona, derrubou uma nuvia, derramou sangue da nuvia.
Quando voltou pra desencantar, pra outra botar aquilo
na boca, a outra no agentou abriu p de carreira. A
outra no teve coragem pra desencantar ela. A a uma
foi e cou encantada.
Ela a ona cabocla. Ela a chefa da nossa terra.
Tem gente que conversa com ela. Tinha o Estevo,
que conversava com ela. E ela pedia comida, e a comida
48
ia. E se falasse mal dela, ela ia e batia na pessoa. Outro
dia mesmo eu cheguei a ver ela, de vista. Ela parecia a
noite, no mexia com ningum, com nada. Cachorro,
cachorro ela gostava de bater. E cachorro novo, ela
fura a cabea dele, bebe o sangue. Eu vi muitas vezes
ela fazer na casa do meu pai. Ns estvamos tudo
junto em casa; ela chegou, conversou e nem foi difcil
conversar com ela. Ela gosta muito de me. Ela quase
no mata mais novilhas.
49
II
Iai era uma v, uma ndia igual a Ns. Ela saiu.
Ela e um irmo. A ela falou pro irmo:
Eu no como carne, mas eu vou matar uma rs.
S vou beber o sangue, porque eu no como carne.
E ela falou tambm:
Toma aqui esse cachimbo e ca com ele. Eu
vou matar a rs e beber o sangue e vou vir com a boca
aberta; a voc me d o cachimbo preu desencantar.
A, ela acendeu o cachimbo, tirou trs fumaadas
dele e deu ao irmo.
Quando eu voltar com a boca aberta, voc pe
o cachimbo na minha boca.
Ela foi. Ela matou. Ela bebeu. Mas quando voltou
como ona, o irmo cou com tanto medo que correu
com o cachimbo na mo. A no deu tempo dela
desencantar. A ela continuou sendo ona encantada
pro resto da vida.
Ela a protetora dos ndios Xacriab aqui, abaixo
de Deus.
Seu Evaristo Gomes de Oliveira
Aldeia Catinguinha
53
Es s a t er ra
Mas por causa de que a luta dessa terra, no meu
conhecimento eu t com 63 anos, de idade. Anto
quando eu entendi por gente, j conheci a luta dessa
terra, dos ndio Xucriab. Os ndo, eles num do valor
neles, num do valor nela, carovel
1
.
Essa terra, ela foi uma dardiva de nossa rainha,
que a Princesa. E no tem homem que compra. Essa
foi a herana da terra, que Deus deixou. Num tem bom
dizer que compra essa terra, porque ela foi escriturada
pela unio dos ndio que foram nascidos dendessa
Reserva.
Essa foi uma terra escriturada. Como tem na nossa
Reserva, a nossa Caboca. Toda vida meu tronco vi
no acertava questo, ele mandava era ela acertar. Se o
cara tale vez entrava pra acertar questo, o outro desse
parte fora, teimasse, ele mandava a Cabocla acertar.
Anto essa Cabocla pegava e dava um coro nele.
Se ele tivesse uma criao, ela ia l, passava a mo
no que ele tinha, derrubava tudo, rastava e botava
na porta da varanda. Ele ia com dois, treis, subia em
54
cima do pau: V mat esse trem, v mat essa ona,
v mat essa ona. Quando o galo cantava,o dia ia
manhecendo: Ela num vem mais no, ele entrava,
quando amanhecia o dia, que ele ia abrindo a porta,
caa um bocado pro lado de dentro.
Da ele ia pensar a vida, que esse negcio era
encantado, no dava pra ele ver e nem atirar nela. Ele
passava a conhecer quem o dono da terra... O dono
da terra uma dona invisvel, que precisa saber a
pessoa que conversa com ela.
Ela um respeito dendessa Reserva. Ns temos
que respeitar esse respeito. E tem muita gente que
no tem o conhecimento. Mas se chegar a entrar uma
pessoa de fora e disser assim: Vamo intr contra os
ndio daqui! Dizer que a nossa Cabocla ...a nossa
Reserva.... Ela d o coro pra conhecer essa rea, ela tem
respeito pra quem reconhece. Pra quem no conhece...
Agora eu fao o teste pra qualquer um o de
Deus, pra isso Deus me deu licena. Deus me deu
licena dendessa Reserva. Eu converso com ela, dou
pinga a ela, dou fumo pra ela pitar, dou de tudo na
minha mesa e eu chamo qualquer um desses caboclos.
Eu chamo ela na mesa.
Anto, se o cara no acreditar, eu mando ela
55
dar um castigo nele, pra ele conhecer se tem ela aqui
denda Reserva ou se no tem.
Para isso Deus me deu essa licena, que eu
trabalho com ela na minha mesa.
1
Carovel: Seu Evaristo diz que os ndios so pessoas caro.
Traduzimos por carovel, que tem o mesmo sentido (= pessoa,
terra de muito valor e frtil) por ser palavra neutra, e assim
resolvemos um problema de concordncia e zemos com que o
adjetivo compreendesse ndios e terra.
Seu Joo Seixas
Aldeia Vagem
59
Recei t as Medi ci nai s
O vim da brana serve pro parente melhor
quorqu tipo de dor que sinti: dor nus peito, s veiz
ua dor dos lado da custela, mesmo uma inamao
nos rim do parente. pra isto que o vim da brana
serve. Que tomem bastante remdio que a gente
indica faz.
Tem a marva branca e a favela branca. Aquela
gua serve pra dor de barriga sempre e pra refrescar a
dor de barriga do parente, quando t sentindo bastante
quentura.
Tambm tem a casca do angico preto. boa pra
curar gripe de parente quando t sentindo quorqu
coisa assim: remostro de gripe. muito boa e muito
bom faz o vinho da casca do angico preto pra cur as
gripe dos parente quando t assim.
Tambm tem o barbatimo que dos Gerais.
bom pra inamao nos rim. bom tambm pra
quorqu tipo de inamao que teja atingindo as veiz
o organismo da pessoa. o vinho do barbatimo. do
Gerais.
60
Tambm tem a unha danta, boa pra pessoa tom
pra mior esse pobema de sangue fraco. Tanto faz a
raiz como a madeira. Tudo remdio bom pra esse
tipo de coisa que a pessoa t sentino.
Tambm tem o arcanfozinho das Gerais. bom
pra coisa de estmbu. Mior alguma coisa que a pessoa
t sentino que o estmbu no t funcionando o apetite.
A raiz do arcanfozinho muito boa pra melhor esse
tipo de coisa, pobema de estmbu.
Seu Oswaldo Fernandes Ribeiro
Aldeia Barreiro
63
Pai, o senhor gosta muito de contar histria... Tem
alguma histria que o senhor est lembrado e quer contar?
Tem uma historinha que meu pai contava, mas
histria de caso acontecido, de caa:
A caa da ona
Uma vez tinha um pessoal a com um caador e
eles foram pro mato caar.
Indo, achou uma espera muito boa, e isso era no
Corch. O Corch ca aqui um pouco, uma distncia
aqui da reserva a umas duas lgua. O Corch era um
crrego muito fundo, aquele poo fundo, mas tinha
um bebedor onde os bicho bebia.
E ali o caador olhou l, caou uma espera...
Tinha um pau torto no meio, deitado assim, em
cima da gua, o caador olhou assim, diz:
Aqui vai dar certo.
Subiu l, armou a rede e sentou l pra esperar os
bicho chegar, pra ele matar.
Esse era um tempo de lua clara e estava muito
importante a lua.
64
Chegou bem tarde da noite, ele esperando,
de onze pra meia noite, ainda num tinhaparecido
nenhum bicho. Chega duas onas brincando uma com
a ta: vai pra frente, volta pra trs, correndo atrs da
ta, brincando. Aquela vadiao l.
Quando ele olhou aquilo, que viu as duas ona
correndo uma atrs da ta, ele comeou a car com
medo, mas depois resolveu ainda car, dar um
tempo.
Ele pensou de atirar numa...
...mas pudia a ta ona pegar ele.
Porque a espingardinha era espingardinha
passarinheira...
...s de um tiro s, num tinha condio.
A deu aquele tempo l e cou esperando pra ver
se a ona ia embora...
...e a ona nada ia embora.
Corre pra l, corre pra c. Aquela lua clara
E ele l, na moita de l, esperando.
Depois, mais tarde, vem essa ona, uma correndo
atrs da ta, correu
Subiu bem em cima
do pau onde ele estava!
E ele com o maior medo! Quando viu, a ona
65
estava pertim dele! Encostadim com a cabea j perto
da rede dele. Num deu tempo dele pegar a espingarda,
pegou o faco. O faco muito amolado:
Armou em cima da cabea da ona, a ona tirou a
cabea fora, o faco bateu em cima do pano da rede l
na corda, cortou. E ele desceu: caiu de cima no poo
fundo, at bater no fundo da gua!
Ele saiu de l pelas raiz de pau, saiu pra cima. L
dendo poo cou a espingarda e o faco que ele num
pode recuperar. Com isso ele vai, volta embora pra
casa, mas ainda ouve aquela bataria, aquela batidada,
sai assombrado!
Foi embora e teve que chegar em casa molhado,
sem caa nenhuma.
67
Pi ment a nos ol hos
Aqui teve um ndio que saiu pra caada. Saiu com
dois cachorrim. Os cachorrim saiu latino. No meio da
mata, cachorro acuado, foi ver o que era. E era a ona
que tava sentada. Ele foi chegando, que viu a ona,
linhavou na carreira pra trs. E l na frente, tinha um
p dimburana torto. Ele subiu, chegou em cima do p
de imburana pra mo de livrar da ona.
E por l os cachorros deram um imbalao nessa
ona e vieram na carreira. Ele pensando que tava bem
guardado, e a ona veio bem na direo do imburana
pra subir. Quando ele pensou que no, a ona chegou
bem pertinho dele. Os cachorro de baixo latindo.
Mas ele tava com um mi de pimenta no bolso.
Ele pegou e sameou essa pimenta de l de cima pra
baixo, caiu bem nos olhos dela. A ela pulou no cho.
Quando ela pulou no cho, os cachorros caram
mordendo ela.
Mas l da imburana ele caiu e saiu tombando:
Queta, ona! Me deixa ona.
E saiu na carreira. A cagou nas calas tudo.
68
Quando chegou na sua casa, falou pra mulher:
Eh, mui, c num sabe de nada.
Que foi, marido?
Ele foi e falou assim:
Ah, eu matei uma ona ali. A ona cou morta
l.
E agora, como de nis ipanh?
A ele:
Nada, eu vou, Maria.
Mas c ta num fed de bosta!
Ah, mas quando eu mato uma ona, eu chego a
cagar nas calas.
69
Duas hi s t r i as de caada
I
Uma vez, uns caadores foram caar ona. O Luiz
Pimenta e dois irmos e um primo. A eles foram pro
mato, caar ona. Tinha ona matando muito gado
desse Luiz. s vezes se ouvia l no Pasdos Bicho. L,
ela matou muito gado. Ficava entre a Santa Cruz na
subida da Ribera dItacarambi e l no Japur; tem o
lugar com o nome de Pasdos Bicho.
Intonce, eles foram caar essa ona e l
encontraram a Ona. Cachorro deu com a ona.
Correu, a ona correndo na frente, cachorro atrs e
eles perseguindo. Adiante, a ona entrou den duma
lapa e os treis matadores de ona , atrs. A ona entrou
denda lapa e eles entraram l dentro.
Chegaro l denda lapa. J bem distante a ona
atacou e eles iam voltando e um! O irmo d Olisses
era um deles. J ela parou na zagaia, a ona veio de
cima, e parou na zagaia uma arma que , assim,
dispetar ona. A ona chegava e pregava nela e cava
um ferro grande feitde ferro, que tem uma guarda.
70
E a ona cava vai e vai pra frente, volta pra trs e
ele segurando, tambm ele j tava cansado. O Olisses
cheg com uma carabina pra atirar na ona. A carabina
engasgou a bala, a ele cou gritando:
Ou! Traz aqui gente, quem t l fora traz aqui
uma cartuchera, que a ona t vencendo! Ela que vence
nis!
E ningum conseguia entrar na lapa.
A o vi Olisses, um dos que estavam l tambm,
falou que alevasse a cartuchera que a ona tava j
quase vencendo. A ns fomos l dentro correndo.
Mas, depois de muito trabalho pra desengastalhar a
bala, o irmo do Olisses atirou na ona, j matou.
Ficou cheio de home l fora e ningum teve
coragem de entrar dentro. S depois pegaram a ona e
levaram pra fora, amarraram e rastaram ela e a acabou
a matao de gado.
71
II
Ele era novo e um velho tava querendo fazer
caada nessa poca. Essa regio nossa tinha muita
caa. Aqui na Reserva tinha muita caa.
Chegando l na morada do Riacho, perto do
rumo da Prata, acharam uma anta, o menino atirou e
ela saiu correndo. Os cachorros saram com ela.
Chegou numa descida duma grota muito funda.
A anta tinha descido pra gua. Chegando l pra beber
gua, a anta morreu l. Atrs veio o velho com a
espingarda na mo. Chegou perto, a anta tava deitada,
cansada. O velho olhou e falou:
Agora eu vou l em casa, t cansaddimais.
Chama os menino aqui, , pra poder vir panhar isso
aqui.
O menino foi atrs e trouxe sua turminha de
irmos. O velho veio junto ver o servio:
Cs entrem a pra pegar essa caa queu matei,
uma anta, panha l!
Ajuntaram uns cinco, pelejaram com essa anta.
72
Ningum conseguiu tirar ela de l, nem os cinco.
Ah, mas ocs num to com nada, ocs num so
de nada. Deixa a, deixa eu descansar mais um pouco
que eu vou apanhar.
Pois, na hora, o velho desceu l, depois de
descansar um pouco, ele desceu l na grota. Pegou
na anta com um brao e saiu escorando assim, com a
espingardinha. Rastou at botar ela l em cima. L em
cima, jogou ela no ombro e levou embora.
Velho, que muito forte, precisa de muito talento.
Caboclo Vi.
73
74
C no me come. Vamos caar nossos dereito:
se eu tiver errada, c me come e seu no tiver, c no
vai me comer.
T bo
A ona saiu rebolando na frente e a raposa atrs.
Chegou na frente, tinha um cavalo vio.
Cavalo, o bem com o qu se paga?
Paga com o mal. Porque no tempo que eu era
novo, meu dono me dezelava, no me dava rao, mas
me botava na cercadaria e eu comia, tava gordo. Hoje
estou pelado, cheio de piolho. Ela no me zela, por isso
que eu falo.
A ona, para a raposa:
ia, eu no falei que te como?
No come no. Vamos mais pra frente.
Chegaram na frente, um boi:
Boi, porque se paga, o mal com o qu se paga?
Paga com o mal, porque no tempo de eu novo,
meu sinh me carregava e eu carreava. Ele tratava bem
de mim, punha eu no paiero, me botava no capim, e
eu vivia gordo. Hoje eu t aqui pelado, todo cheio de
piolho, tudo pelado, com fome.
E a ona, para a raposa:
ia, eu no falei que te como, e que o bem se
75
paga com o mal?
Vamos pra frente.
Chegaram na frente, tinha um homem sentado na
porta. E a ona:
Home, o mal com o qu se paga, conforme?
Pru qu?
porque eu t parida de novo, com treis dias.
Estava passando ali, a raposa falou pra mim que eu
soltava ela, que ela no ia me comer. A eu falei pra ela
que ela ia me comer, sim, que eu estava com treis dia
de parida e meus lhos iam morrer de fome. Bora l
pra ver.
A ela voltou pra trs, rebolando, e quando chegou
perto da lapa, falou:
Era aqui que oc tava, n, raposa?
, a que eu tava chocando esses lhotes de
ona.
E o homem:
Ento ca a, ona, que esses lhotes devem de
ser os seus, e eu vou fechar a lapa com essa pedra pra
raposa nenhuma fazer mal proc.
E tudo cou como era antes.
77
78
no.
E a voltou embora, sem aprender.
E o que aconteceu com a ona? Ela fez uma casa,
mais a raposa de scia, e ali estavam morando as duas
dentro da casa, de uma s casa. O que aconteceu? A
ona, muito malcriada, vez em quando queria pegar a
raposa e a raposa tava assombrada porque fazia parte
na casa, mais tava vendo a hora de morrer. que a
ona queria pegar ela.
A, quando, naquele tempo, naquele dia l, o
papagaio voltou pra casa anterior, voltou de morada
l de novo, viu uma conversa falando que vinham uns
caadores naqueles dias, para fazer caada no campo,
num poo l, no bebedouro, que aonde os bicho
bebiam naquela regio.
Quando o papagaio soube daquela histria toda,
e no tempo que os caadores iam l fazer as caadas,
ele escreveu bastante carta e mandou para os bichos
no campo, para que ningum, naqueles dias, fosse l
naquele bebedouro no, porque j tavam chegando
esses caadores pra matar os bichos. Ele falou com
o urubu, arubu avuou com as cartas, andorinha com
um bocado de carta, foi esparramando l pro meio da
selva, da mata, avisando os bichos. Cada uma chegava
79
numa casa novamente, entregava uma carta pros
animais, pros pssaros, e todo mundo cou esperto,
naqueles dias ningum ia beber naquele lugar, pra no
perder a vida.
O que aconteceu? Chegou a carta na casa da
raposa, e a ona l. A raposa esperta chegou, leu a carta
dela primeiro:
T bom!
Chegou a ona:
Oh, amiga raposa, mas, ento, l essa carta pra
mim. O que vem dizendo a?
A raposa, muito traidora, falou pra ona:
No, essa carta sua incovidando voc, que tal
dia l, se oc fosse naquele poo, que l tendo muita
caa l boa proc pegar. Aviso que tem chegado proc
l. Agora ieu no, a minha carta ta avisando que a
minha famlia t doente. Voc pode ir l.
Ah, t bom.
Ento a ona cou sequiosa e a foi, quando deu
nos dias, ela levantou cedo e arribou pra l pro poo.
Mais no deu outra, os caadores tavam l esperando,
e caa nenhuma chegava. A nica caa que chegou
foi essa ona l pra beber. Chegou l no poo, eles
apanharam ela e mataram. E a esperaram uns dia l.
80
Mas no apareceu mais caa nenhuma. A, voltaram
embora.
Ento, o que aconteceu nessa histria? Os
caadores no voltaram sem caa. Somente essa ona
que eles puderam apanhar.
Ela mostrou pros animais quanto vale o valor da
leitura.
Dona Maria Pereira da Conceio
Aldeia Brejo Mata Fome
83
Hi s t r i a das t rs i r ms
O rei tinha treis a. Duas se casou cou uma. Uma
por nome de Silivana, quera a mais feia que tinha. A
depois quando um dia, ela tava suspirando:
Ai! Aiai.
Madrugada.
Ai! Aiai.
Quando foi bem cedo o pai perguntou:
Que que teve Silivana, que tava suspirando?
Nada.
Quando noutro dia, s mesmas horas, ela falou:
Meu pai tinha treis a.
Duas j casou.
E eu por ser a mais bonita
e por ser a mais formosa
quei sem casarei
e quei sem casarei.
O pai de Silivana chamou um nego pra ajudar a
84
lha a se casar e falou:
Nego, fale pra sexpor esses homens tudinho,
rapaz e tudo traga pra c. Diz a eles que vem c.
A o nego correu, trouxe esses homens tudo e
rapaz e encheu a sala, a varanda e os ptio da casa na
frente. A levaram e:
!
Repara a qual desses rapaz. Tudo, que sem
graa.
Ela entrou e olhou num, olhou noutro, olhou at
sair fora. Olhou neles todo e voltou:
No meio de tanto homem,
no achei um pa mingra
S achei Condo da Lapa
que tem mulher e o,
que tem mulher e i.
O rei mandou chamar Condo da Lapa:
Al, nego, diga a Condo da Lapa, pra matar a
condessa pa casar com Silivana.
Nego foi.
Tetetete. E quando nego chegou l:
Conde! O rei mandou c matar dona
85
condessa pa casar com Silivana.
Oh, diacho! Matar um bem querer, pra querer
um mal-querido.
Por que ela era muito feia.
A dona Condessa falou:
No matar de facaria
nem tambm de tiraria,
c me mata de toaia
que uma morde dalguia
que uma morde dalguia.
Nisso, ela j cortou e foi cair no derradeiro degrau
do palcio. E tetetete, foi chegando nego. Silivana tava
que ela tava vexada. E quando ele apertava a toaia,
quando a mui ia chorando mais os o tudo ao redor
dela. Quando ia tomar o flego, afrouxava. Quando ia
interar umas treis veiz, dona condessa falou:
Que o sino bateria
quem ser que morreria
para ser minha companhia
para ser minha companhia
86
E que quando ele foi apertando a toaia desce nego
de lado:
Condo da Lapa, c num mata dona condessa
no, por que Silivana, no palcio, morreu.
A os passarinho passando por revista. Condo
aproveitou que o nego falou pra num matar Condessa,
pegou ela e escondeu ela longe de Silivana.
Dona Maria Gomes
Aldeia Brejo Mata Fome
89
Conver s a com
Dona Mar i a Gomes.
Saia inda era de cordo, inda assim.
Era feita de qu a roupa?
Feita do pano dalgodo.
E pra car da cor que eles queriam, que eles
passavam?
a n i l i .
Anili?
anili assim. A roupa cava azulzinha assim.
Como era a comida deles antigamente?
A comida
era feo,
arroz,
quando podiam comprar. Quando no podiam,
feo com farinha.
Tinha vez que era s com salo.
Sem gordura sem nada.
Eles usavam cozinhar em panela de barro?
de barro.
90
Era panela de barro. De cana.
Mas como que fazia com a cana?
Batia a cana, tirar a garapa e quando
aparecia rapadura, fazia rapadura.
E eles no tinham outras vasilhas a no ser
as de barro e eles s fazia alguma coisa s com as
vasia de barro?
S com as vasia de barro.
Prato de barro.
Tudo de barro.
Como era o jeito deles namorar?
Era espiando os buraco da parede.
Os buracos da parede.
Era jogando os torro nas namorada tudo.
E no tinha de ir na casa das namorada no?
Tinha no.
Viiixe!
No senta junto. Namora de longe.
Quando ia pra tratar dos casamento, como
que eles faziam?
Pra tratar dos casamento tinha:
Tratar de s ver no dia.
Encontrava s no dia.
Eles cava t no dia do casamento sem se
91
encontrar?
At no dia de casar,
sem encontrar.
Que remdio eles usavam?
S remdio assim. Da mata assim.
Num procurava mdico no?
Percurava no. Nesse tempo acho que nem
tinha. Remdio era na oresta mesmo.
O marido da senhora como foi?
Desse mesmo jeito.
Foi jogando torro?
Foi no. Jogando torro no. A gente encontrava
perto dos outro.
Do casamento no, porque ns no era casado.
Ns ajuntemos j a de pedra. A gente ajunta.
Mas como que foi pedir namoro a
senhora?
Ele morava l em casa, l no barreiro junto de
ns.
Ah! Mas mesmo foi sem namoro?
.
Remdio assim na mata pra fazer.
Pra fazer umbu, burana vermelho, de cheiro.
92
Esses remdio serve pra que?
Pa gripe, pra gente beber assim, pra coisa
diestamo assim.
Erva cidreira,
pra gripe.
Capim santo,
pra gripe.
Tudo remdio de gripe.
E antigamente era s esses remdios?
, s esses remdio.
E a senhora no sabe mais nada sobre os
velhos?
Num sei no.
A senhora inda tem umas vasia dessas de
barro?
Tem no.
E agora acabou?
Cabou.
Tem de alumnio.
As roupa era dalgodo. Era comprida.
Que eles vestiam?
Que eles vestiam assim. Era comprida assim.
Seu Estcio Pereira dos Santos
Aldeia Catinguinha
95
Hi s t r i a do Z e da Mar i a
Ento a gente vai falar o nome do Z. Ele era um
coitado fraco, no tinha nada em casa, falaro...
Ele falou com a mui:
mui, ca a. Eu vou desistir no mundo.
Tudo que vim eu topo.
Ento ele andou, viajou. No momento em que
ele vai andando, encontrou um moo muntado numa
burrona. O moo chegou nele falou:
Pronde c vai?
Eu vou andando aqui pelo mundo. Tudo que
vim eu topo.
Tudo que vim c topa memo?
Topo.
Ento munta na garupa dessa burra aqui.
A ele foi e muntou na garupa da burra. O moo
falou:
Fecha os io.
Fechou os io e andou.
Quando eu mandar c abri os io, c abe os
io.
96
Ele foi. Quando chegou na cancela da fazenda
dele, ele mandou:
Abe os io.
Abriu os io. O moo oi e falou:
Aqui ! Essa aqui minha fazenda. onde c
vai trabaiar. Torna a fechar os io de novo.
Ele fechou os io. Andou, viajou. Quando chegou
na sede, ele mandou otra vez:
Abe os io.
Ele abriu.
Essa aqui minha sede. Agora torna a fechar
os io de novo.
Viajou. Quando ele chegou na casa dele mesmo,
pediu:
Abe os io. Agora c j t na minha casa.
Uai?!
Zapeia a agora.
A ele dizapou e cou oiando mais umas moa
dele. Depois ele cou por ali:
ia, c t vendo aquelas trs moa l? Aquelas
trs moa minha. Uma chama Joana, a otra Ana, a
otra Maria. Uma daquelas moa, c vai trabaiar com
ela amanh.
Ah! Tem problema no.
97
A zeram janta, deu ele, ele jantou, drumiu.
Foi de manh cedo, o Moo chegou e falou:
Z, oc vai derrubar um pau que tem l na
beira do riacho. C tem que derrubar ele, turiar ele e
jogar tudo pro lado de l. Mei dia a Maria vai levar o
almoo pra voc.
Tudo bem.
Pegou o machado e foi. Chegou l, ele mostrou
o pau pro Z. O pau tinha mais ou menos cento e
ciquenta de roda. De roda! E Z bateu esse machado e
s saa era fogo. Nada de entrar nesse pau.
ta Meu Deus! Eu falei que tudo que viesse eu
topava, mas agora incravei, agora danou. Agora num
vai ter jeito pra mim no!
Foi dez horas, Maria chegou. Ele tava sentado,
pensano, maginano a vida. Maria foi e falou pra ele:
Qu que c tem, que t maginano e pensano?
ta Maria! Eu falei pro seu pai que tudo que
viesse eu topava. Mas esse aqui eu me enganei, aqui eu
num topo no. Aqui eu bato o machado e s sai fogo.
Eu num tenho condio de derrubar esse pau.
Z, oc me ama?
Te amo sim.
ia, ento vem almoar. Senta aqui, vai
98
almoar. Se voc me amar eu vou dar um jeito prce.
Agora se voc no me amar, eu num vou d jeito no.
Fecha os io, eu vou dar um jeito pra voc. O jeito que
eu vou dar, c vai car aqui e eu vou fazer todo o jeito
pra voc. Voc vai car aqui e eu vou chegar lem casa,
depois c chega. C num vai falar que fui eu que z
prce no!
Ele sentou e foi almoar. Ela foi l, derrubou o
pau, turiou, travessou o pau poto lado do rio e deixou
l. Quando ela voltou:
Z, abe os io.
Ele j tinha acabado de almoar. Ela j tinha
derrubado o pau, turiado, carregado e jogado do lado
de l. Sentou nel. Ela pegou, veio embora e falou:
Z, c num vai junto comigo no, seno vai
descobrir fui eu que fez isso. Oc ca a.
Ele cou. Ela foi embora.
Quando foi base de meidia e mei o Moo chegou
l e perguntou:
Z, derrubou o pau?
Derrubei.
C turiou?
Turiei.
C carregou e travessou doto lado?
99
Travessei.
Tudo bem, Z, ento vou l oi.
Ele chegou l o pau tava derrubado, turiado e
travessado doto lado do rio.
T bo Z, c j fez seu servio. Amanh eu
quero que oc vai disamuntuar aquela montanha de
morro todinha e travessar doto lado de l.
ta Meu Deus! Cada vez mais pior, pensou.
Assim ele fez. Quando foi de manh cedo, tomou
o caf, viajou. A bateu que essa montanha de ferro
nem se quebrava, nem se enrolava nela, nada. Quando
foi a base de nove hora, Maria chegou com o almoo.
Achou ele sentado, maginano, descansano.
Z, qu que t acontecendo?
ta Maria, tudo que eu falei pro seu pai, tudo
que viesse eu topava, mas num t topando nada. T
pelejando pra v se desenrolo uma montanha de
morro desse aqui e num consigo nada. Eu acho que
num vai ter jeito no.
No Z, quta! Calma o juizo. J falei pra voc:
se oc me ama eu fao tudo na sua vida.
Pois , Maria, eu te amo pro resto da sua vida.
C me defende dessa vida que eu t lutando aqui?
Pode deixar, Z. Deixa tudo queto que eu vou
100
fazer. Senta aqui Z. Vai almoar e fecha os io.
Ele sentou, foi almoar e fechou os io. Ela foi
l, desamontou essa montanha de morro e travessou
proto lado do rio.
Abe os io, Z. Fica a, mas num vai falar que
fui eu que z isso pra voc no. Fica a, depois c vai
embora.
Ele cou. Ela foi embora.
Tempo levado que ela tava em casa, o Moo
chegou e falou:
Z, tudo isso c que fez? Amanh tem um
servio muito perigoso.
Mas de tudo isso eu vou te defender, pensou
Maria..
Porque ela era Maria, era de Jesus. Era no inferno
que ele trabalhava. Trabalhava no inferno. Maria era
de Jesus. Ento ela defendeu ele. Ele era Z e ela Maria.
Ento ela defendeu. A ela falou pra ele:
Z, amanh tem um servio muito perigoso,
pra voc. Pai o burro, me a cela e eu espora. Uc
pode segur em cima dele e furar ele vontade, quanto
mais c apert, mais eu furo.
Noto dia, o pai falou:
Z, amanh tem um sevio pra voc: c vai
101
amuntar num burro amanh.
Tudo bem, a gente vai.
Quando foi de manh bem cedo, ele arriou o
burro e mandou o Z sartar em cima. Z sartou em
cima desse burro e agora pegou essas espora desse
burro. E esse Z pulava... o burro pulava p l e pulava
p c. E Z batia nel com essas espora. Esse burro
urrava. Z fundava essas espora e quanto mais pulava,
mais furava. Z foi furando int que o burro virou.
Desamunta, Z!
Z desamuntou. O burro tava todo estragado.
Maria falou:
Z, tudo c venceu ele, mas amanh eles vo
fazer uma. Ns tem que fugir meia noite. , tem um
cercado l que c vai buscar um cavalo. O cavalo
primerim que chegar na porteira c pega ele. Meia
noite ns tem que fugir.
Quando deu a hora da meia noite, ela levantou,
foi na cama dele. Chegou, ele tava dormindo.
Z, pelo amor de Deus, meu pai j t acordando,
c j foi l buscar o cavalo pra nsimbora, no?
ta, Maria, esqueci, Maria, t dormindo
demais.
, Z, vai l rapidim buscar o cavalo l e eu
102
vou arrumar aqui. Enquanto c busca o cavalo, eu vou
esculpir na cozinha l. Deixar meu nome falando. Meu
esculpido ca conversando no meu lugar at ns dois
andar.
A ele pegou, foi l buscar o cavalo e quando
chegou na porteira de cercado, um cavalim desse
tamanim, bichim pichicutim.
ta, Meu Deus do cu, esse cavalim num
genta eu e Maria no. Cavalo t muito pequeno.
A ele foi e veio um cavalo. E ele la nesse
cavalo. Jogava a corda e ele pulava l longe.
ee! T danado. Esse cavalim num vai dar jeito
deu ir mais Maria, no. Cavalo t muito pequeno.
Tinha aqueles grando. Jogava o lao, pulava
fora.
Tem jeito no, o jeito pegar esse pequeno
mesmo.
Foi l e colocou cabresto nesse pequenim. Quando
puxou ele pra fora do cercado, que ele olhou, tava quase
pegando no cu. E j cou alegrim e era pequeninim.
Trouxe, chegou, jogou os arreio nesse cavalo, arriou e
os dois montou e entrou.
Quando foi mais tarde, no horrio do pai acordar
ele gritou:
103
Maria!
Oi!
Levanta, Maria, faz caf p Z.
T fazendo.
Maria!
Oi!
J fez caf p Z?
J z.
Foi, passou o tempo e ele:
Maria!
T queta.
Maria!
T queta.
Mui, vai l, Maria, t chamando ela e ela t
queta.
Quando foi na cama dela, nada dela. Quando foi
na cama do Z, nada do Z.
Marido! Pode correr atrs que Maria fugiu
mais Z.
Foi l, pegou o burro, arriou esse burro e pisou
atrs.
Quando Maria chegou no deserto, ela virou a cara
pra trs e sentiu o faro dele.
Z, meu pai evm. Pega- num- pega nis. Que
104
nis vo fazer, Z? T danado. Vo virar um p de
laranja?
Vamo.
Quando chegou no meio do serto, ele pegou e
virou p de laranja. Ela cou l em cima. A evinha o
vi no burro e sabia que na fazenda dele no tinha
esse p de laranja. Quando chegou perto do p de
laranja, ele abriu os io assim, oi p cima e l de cima
ela tacou uma mo cheia de cisco nos io dele. Cegou
ele. Foi nem pra frente, nem pra trs. A vortou pra
trs. Chegou em casa e a mui chegou.
Z, cad Maria mais Z?
ta, num encontrei no. Tinha um pezinho de
laranja bem formado l no meio da fazenda. Fui l oi
atrs e enchi os oio de cisco.
ta, marido! Era eles dois que virou, encantou.
A Maria sabe encantar, Z.
Ser que era eles mesmo?
Era. Volta pra trs. Vai l buscar eles.
Ele pisou pra trs, foi, montou e chegou no serto.
A Maria assuntou.
Z, evm meu pai de novo. Ele vai pegar nis.
Vo vira uma vaca e oc vira um boi?
Vamo.
105
O pai viu aquele boio bonito, cou oiando os
dois. A nuvia, o boi, era bonito. A num deu pra ele
seguir mais. E quando chegou l:
Z, cad Maria, Z?
Ah, num encontrei, no. Tinha uma nuvia mais
um boi l, bonito. L na sada da fazenda, mas num
quis mexer no.
Marido, era o Z mais Maria. Por que c num
pegou e trouxe? Pois , ca aqui, quem vai buscar eles
agora ieu. Agora vou alcanar eles. P car a. D
esse burro.
Trepou nesse burro e ela cortou em cima desse
burro. Quando chegou na frente, a Maria foi e falou
pro Z.
Oia, agora no mais meu pai que t vindo
no, a minha me e ela tem mais segredos que meu
pai. Ela vai achar ns e ela vai pegar ns de volta. Vo
virar um cinzro.
Vamo.
A s virou cinza. S cinza. Ficou aquele cinzro.
A me foi cortando e afundando em cima, depois
travessou. Quando ela conseguiu travessar, Maria
falou:
Ela t rompendo! Ela vai pegar ns. Vo virar
106
carrasco?
Vamo, falou Z.
A virou carrasco.
A me foi quebrando carrasco, quebrando
carrasco, quebrando carrasco e ela no tinha mais
condio de quebrar. A, ela virou pra trs e falou:
Maria, tem f em Deus. Isso que oc me fez,
c vai me pagar um dia. Qualquer dia c ca sem esse
Z. Esse Z no rouba sua vida. C vai me pagar toda
carreira que eu z atrs doc, e seu pai. Um dia oc vai
car sem esse Z.
A ela jogou a praga.
Eles conseguiram. Travessaram pro lado de c e
o Z chegou na terra dele. Quando eles tava vivendo
tudo bem, o Z alembrou da fama dele. Alembrou que
ele era casado antes que ele sasse. Tudo que viesse ele
topava. Ele alembrou da fama dele. Ele pegou e voltou
pra casa dele. Chegou na casa da fama, l ele cou.
Esqueceu da Maria. Num alembrou mais da Maria.
Quando foi um dia, ia passando um vaqueiro
nessa cidade que Maria tava morando e ela foi e falou
pro vaqueiro:
Vaqueiro, oc quer fazer um favor pra mim?
Fao. Que ?
107
que eu defendi um moo, tava sendo meu
esposo, chama Z. Eu tirei ele da grande diculdade
dele. Ele ia passar a num ser vivo, devia ser morto.
Ento voc vai passar na cidade que ele t, c vai boi
uma boiada pra ele ouvir e alembrar do passado atrs,
do bem que eu z pra ele.
Tudo bem, a gente faz.
A o Vaqueiro vai viajando. Quando chegou na
cidade em frente casa do Z, ele falou e alembrou da
cantiga:
, boi da cara preta. Segura essa criana que
tem medo de careta, boizim. Z, alembra o bem
que a Maria fez pra voc!
Quando ele alembrou, ele saiu foi doido. Ele saiu
sem camisa, foi correndo pros brao dela. A Z foi l
viver com ela de novo. Alembrou o bem que ela fez
pra ele.
Seu Raimundo Gomes de Oliveira
Aldeia So Domingo
111
A mona
O que eu tenho de falar sobre a Caboca nossa
protetora, daqui dos xacriab e de todas as Reservas,
porque ela invisvel e num comum como ns pensa,
que
Ela um...
Ela uma...
Ela uma moa.
Essa moa saiu pro mato, e l ela...
Eram duas irms. Saram pro mato. Quando
chegaram l, foram apanhar lenha. Uma cou juntando
lenha, e ela, chegou l na hora dela ir fazer os trabalhos,
falou
fulna, quand`eu vim de l, ah!, tenho uma boc`aberta.
C pega, e ponh`uma foia verde na minha boca, pra mod`eu disvir.
Pu`qu`eu venho d`to jeito, mas eu num vou fazer medo no c no.
Quando ela, de l, veio, a irm pegou, saiu. Correu.
No agentou. Subiu num pau.
Ela passou e, com isso, no desvirou mais. Ela
112
cou...
Ela cou sendo mandatria. A que comandava
a reserva. Mas ela sendo uma mesma gente. Ela cou
corregendo todas reservas. uma s, num duas no.
A chegou uns cara, aqui, de fora. Branco. Pessoas
brancas de fora do Xacriab, e foi...
Foi e falou que no tinha nada diss`aqui no.
Que isso era mentira, que num acreditava nesse povo-
daqui-de-ona-caboca no. Queria ver ela aparecer, que
ele ia plantar ela, que ele tinha coragem de dar uns dois
tiros nela.
Quando foi de noite, eles no puderam dormir.
Aquela gaiaria de manga! E virava assim, que pra eles
tava caindo tudo!
Quando foi no outro dia, as mangas, os ps de
manga, amanheceu tudo do jeito que nasceu. Tudo l,
perfeitim. Da eles cismaram, foram embora.
Quando chegou num ponto, ali onde Dom Dalesto
tem aquela fazenda, no sei se vocs conhecem, que
sobe assim pro Sumar, tinha um banco de areia. Ali
o jipe j ia passando com uma carreta atrs, cheia de
um furgo. Nesse dia, ela deu um tombo nele l, tor
as pernas do cara e arrebentou tudo. Tanto, que do que
113
l ia levando, no sobrou nada. Num tempo assim,
que todo mundo cou besta de ver uma coisa daquela
tombar um jipe com carreta e tudo! muita coisa!
Isso foi acontecido com verdade mesmo. O que a
gente v, a gente deve contar.
Seu Slvio Jos de Arajo
Aldeia Prata
117
Caramur u
que antigamente foi muito difcil pra conquistar
os ndio. Mas teve um meio muito importante que
aconteceu.
Saiu de Portugal uns tripulantes dumas caravelas. Uma
acidentou e s caram na gua. Morreu um bocado deles.
Saiu um com um bor nal de c ar t ucho.
Ele conseguiu sair pra mata e encontrou uma tribo de
ndio. E quando ele viu se assustou,
mas num tomou conhecimento.
Ele viu um pssaro assim, num pau alto. No que
ele tava com uma espingarda, atirou. No que o pssaro
caiu no cho, os ndio achou interessante e andou pra
junto dele e gloricando ele. S c vendo. Achando
aquela, a coisa mais importante. Anto receberam
ele e chamaram ele pra l onde s tavam. Ele ia ser o
cacique por causa que ele tinha aquele poder de atirar
e o pssaro cair j morto. Colocaram o nome dele de
118
Caramuru, por causa que esse pssaro tinha o nome de
Caramuru. O pssaro que o portugus tinha matado. E
ele cou cacique muitos anos.
Veio a descoberta do Brasil. Os bandeirante e as
entrada saram desbravando ouro e conquistando
os ndio. E anto chegaram nessa tribo e acharam
facilidade, porque o cacique era portugus.
O cacique pediu paz pros ndio e que obedecessem
ele e que se entregassem aos bandeirante e quele povo
das entrada.
Eles tomaram conhecimento e conquistaram os
ndio mais fcil.
Seu Jos Fiza
Aldeia Itapecuru
121
122
casa. Agora, ns tamo em trs, a, vamo pegar um
pouco desse dinhro aqui e vamo dar a esse fulano a,
mode ir l na cidade e comprar l um burro com uma
charrete, pra poder ns guardar essas coisa pra ns
carregar.
Foi, o cara saiu, foi comprar as coisas: o burro l
com as charretes. Ento, passou um pouco:
Agora ns quemo aqui em dois e ele foi pra l.
Quandele chegqui, ns vamo matar ele. A ca mais
fcil ns dividir. Ns tamo em dois, e se ns tira a vida
dele, s ca pra ns dois s.
Eles pensaram tudo isso...
De l, o outro tambm estava com a mesma idia.
Todos os trs estavam numa idia assim: toda ruim.
Porque se no estivessem, nada disso tinha acontecido
que nem foi acontecido.
O de l falou assim:
Oc sabe duma? Num tomo bebida no, mas
os dois que cou l, eles toma. Eu vou comprar ua
garrafa de pinga e levar l pra eles.
Ele comprou a garrafa de pinga, comprou um
veneno, colocou dentro da garrafa de pinga e trouxe.
Quando voltou...
Montaram os dois nele, venceram ele. Mataram
123
ele. Depois que mataram, foram assuntar numa
vasilha a que ele tinha comprado que estava dentro
da charrete. No que eles foram assuntar, tinha uma
garrafa de pinga:
bom, coitadim dele, bom. Ele ia gradar
ns, . Trouxe uma pinguinha pra ns. Vamo beber?
Vamo.
Cada um deles tomou uma dose. Acabou, no
m, morrendo todos os trs. Morreu esse que os
dois mataram. E eles dois que estavam no mau caso
que bem feito, tiraram a vida do outro morreram
tambm.
No m, nem um nem outro participou do que eles
acharam. L, todos estavam num mau cargo, numa
inteno ruim um com o outro.
Seu Ernandi Jos Dourado
Aldeia Riacho dos Buritis
127
A hi s t r i a do meni no
e o di nhei ro
que naquele tempo tinha criana. E ela era
sabida.
Um dia o menino veio e trouxe a gua. Dispois ele
falou:
O que esse alu? Fala o que que !
A ele falou.
Ento traga l.
O menino foi. Pegou e entregou pra ele. O menino
tinha o copo l e bebia.
gostoso, n!
No vou beber que sua me pode brigar por
causa desse copo.
O menino:
Pode tomar porque me no quer mais no. Nesse
caiu coisa dentro e j t podre.
Ele rumou com a bota no cho. E o menino falou:
Agora foi que desgramou tudo porque quebrou o
caquinho de mame mar. Agora que desgramou tudo!
O menino falou:
128
Eu j estou saindo. No quero mais papo com voc.
E ele disse que tinha uma festa. E ele tava indo pra
festa. E o moo perguntou:
T muito longe?
T no. Os galo t cantando. Se uc for correndo,
uc no chega l, mas se uc for devagar...
Ele saiu na estrada pensando que aquele menino
estava com bestagem. Ele esticou o cavalo. E o cavalo
no correu nada. Meteu a mo na raiz e quebrou a
mo. Ele virou pra trs, chegou l e disse:
Oh, menino! C pega esse cavale proc que eu
num quero mais no.
E ele falou:
U, e com que vai esse cavalo?
O cavalo quebrou a mo.
Se uc fosse devagar, uc j tava l, mas se foi
correndo e o cavalo quebrou a mo, quero ver uc chegar l.
Depois esse homem sumiu. Quando deu um certo
tempo, ele chegou e pegou o menino. O mesmo homem.
E levou esse menino para l. Junto de um monte de livro
que tinha ali nas telhas. O menino cou assombrado e
ele falou:
Uc sabe ler?
O que que ler? Num sei o que ler no!
129
Eu quero esses livros todos limpos, foia por
foia. Eu vou sair. Na hora que eu chegar eu te pago.
Quando ele saiu, sumiu que foi ligeirinho. Limpou.
No cou uma parte desses livros que ele no leu. E
quando ele terminou aquilo tudo, ele falou:
Cad, menino? Os livro j t tudo pronto? E c
quer dinheiro?
Quero.
Levou ele num quarto que s tinha dinheiro. O
menino j ia por todo lado, cheio de dinheiro. Ele s
queria era pr dinheiro no bolso. No estava cabendo
mais e ele:
Ponha dinheiro, moleque!
Depois, at por m, ele foi embora. Quando
chegou l, o pai dele era fraquinho. O menino estava
no terreiro e depois que o dinheiro acabou e as coisas
todas acabaram ele comeava a mal dizer. Quando
acabaram as coisas todas e o menino estava brincando
no terreiro e ele s xingando. O menino falou:
Oh meu pai, o senhor quer almoar mais o rei?
Menino, voc t cando besta?
No. Se o senhor quer almoar eu vou dar um jeito
pro senhor ir.
Como que eu vou almoar mais o rei, menino?
130
Nem roupa eu tenho pra vestir!
Eu vou virar um terno muito bonito e uma besta
muito bem arriada. O senhor vai, mas chegando algum
querendo comprar, no vende por dinheiro nenhum. E se o
senhor vender, no vende com o freio no. Tira o freio.
Ele demorou. Quando ele voltou diz que estava o
terno, tudo invocado. Sapato e tudo. Quando ele foi
l na porteira, tinha uma bestona bem arrumada e ela
era mesmo o menino. A besta, a roupa e tudo. Ele voltou.
Vestiu essa roupa, montou essa besta e foi para o palcio
do rei. Quando o rei viu, foi logo abraando aquele
moo bem vestido. E eles foram almoar.
Chegou um homem na porteira e falou:
Moo, como que , esta besta minha? Custa
o que custar, essa besta eu vou levar.
Num leva no.
Ah! Eu tenho que levar ela hoje.
Com muita implicncia ele vendeu a besta e o
menino cou triste.
O meu pai me montou dessa vez e vendeu com freio
e tudo.
Depois fechou o negcio mais o homem que
pagou. Ficou tudo combinado, tudo certo. Quando
foi bater um papo, o velho e o homem, a besta deu pra
131
urrar e cavacar.
A besta t com sede, d gua pra ela.
O homem disse que no.
Vai dar gua pra besta, t fazendo d. D gua
pra ela pra mim! Mas por favor, no tira o freio no.
pra beber, pra beber com freio.
O menino-besta encostou na beira do riacho. Ele
cavocava, olhava na gua, cheirava l, dava aquela
sopituca e no bebia. Evinha uns canoeiros de l pra c
e viram aquele servio.
Tira o freio da besta. Essa besta no vai beber
com esse freio na boca no.
No, o homem falou que no pra tirar o freio
da besta no.
Tira o freio nessa hora, moleque!
Ele no queria tirar e o canoeiro veio de l pra c
com o remo.
Tira o freio nessa hora!
Quando ele, com medo, tirou o freio, a bestona
virou um dourado e montou dentro dgua. O menino-
besta agora menino-peixe, cou olhando sengracim:
O meu pai, cum que eu vou fazer agora?
A foi embora assim mesmo e quando chegou l, o
homem j tava da sala pra cozinha, olhando.
132
O menino evm s com o freizim na mo.
Cad a besta, menino?
A besta no queria beber com freio e vinha uns
canoeiros feios. Eu tirei o freio da besta, que se eu no tirasse
ele ia rumar o remo na minha cabea.
Oh, menino, v l pra mim. Mostra onde foi.
Ento vamos.
Chegou l e mostrou:
Foi aqui.
Foi a que ela virou, menino? Foi a que ela virou
um peixo dourado e montou dentro dgua?
Que peixo dourado.
Uma grande lontra verdadeira
eu. Enfeitiado.
E virou uma lontrona.
Menino!
E montou dentro dgua. E ele vai aqui e acol
dentro dgua. E quando pensa que no, ele bate daqui,
ele bate dali.
Que grande lontra verdadeira.
Grande juriti
eu. Avuadeira.
133
Virou uma juriti e foi junto do palcio do rei.
Chegou l bateu na porta. A rainha saiu e, quando ela
olhou, era a juriti.
Eu vou virar uma jia e entrar no seu dedo. Se
chegar algum procurando por esse jia aqui, c num vende
por dinheiro nenhum. E se vender, num d na mo, joga no
cho.
E bem assim ele fez. Virou uma jia muito
importante e entrou no dedo dela. Quando o homem
viu a jia, ele falou:
Custa o que custar, mas essa jia eu vou levar.
A rainha respondeu:
Moo, como que essa jia minha voc vai
levar?
Ele mostrou um monte de dinheiro e ela resolveu
vender. Quando ele passou o dinheiro pra ela, ela tirou
a jia do dedo e rumou ela no cho e s virou caroo de
milho. A diz que encheu a sala de milho e ele cou l
olhando e falou:
Oh, tanto de mii!
E um grande galo cocoric pra eu catar ele
todinho. Virou um galo e comeu o milho que era o
menino. Entrou na fresta da porta e ele cou s catando
esse monte de milho. Estirava o pescoo s catando
134
milho. Por m ele catou o milho todo. Ele no viu, mas
o menino estava l na fresta da porta e falou assim:
Que galo cocoric
grande gato maracan
eu. Agora sou.
E virou um gato maracan e montou nele.
E s isso.
135
E s e quebrar
Era uma vez um macaco que andou. Andou at
encontrar um homem cortando lenha com a unha e
disse:
Eu nunca tinha visto homem cortar lenha com
a unha. E o homem respondeu:
Pois no tem machado, macaco.
Aqui tem, quer?
Quero. E se quebrar, macaco?
meu, no seu.
E se quebrar, macaco?
meu e no seu!
E o machado quebrou.
O macaco saiu. Andou at encontrar uma casa
com uma mulher assando po e colocando na saia.
Ui! Que eu nunca vi mulher assar po e colocar
na saia.
A mulher respondeu:
Pois no tem cesta, macaco.
Aqui tem uma. Quer?
136
Quero. E se quebrar?
Se quebrar minha, no sua.
E a cesta quebrou.
O macaco saiu. Levou um po pela cesta e
encontrou uma mulher com uma criana chorando na
rua. E ele disse:
Eu nunca tinha visto uma mulher com uma
criana chorando na rua.
A mulher disse:
que no tem po, macaco.
Aqui tem um pequeno. Quer?
Quero. E se a menina comer tudo?
Se comer tudo meu, no seu.
E a menina comeu tudo.
O macaco saiu. Levou a menina da mulher e
chegou numa festa e l homem danava com homem.
O macaco disse:
Eu nunca tinha visto homem danar com
homem!
O homem falou:
Pois no tem mulher, macaco.
Aqui tem uma. Quer?
137
Quero. E se a menina quebrar a perna?
Se quebrar minha, no sua.
E a menina quebrou a perna.
O macaco pediu:
Quero minha menina!
Mas o homem ofereceu o violo. E o macaco
disse:
Quero!
E subiu em cima de um pau e cantou.
Lingui lim lim macaquinho de angola
Lingui lim lim macaquinho de angola
Do machado passou pra cesta,
da cesta passou pro po,
do po passou pra menina,
da menina pro violo
Lingui lim lim macaquinho de angola
Manoel Golalves Macedo
Aldeia Barra do Sumar
141
O des ej o de uma
mul her grvi da
Era uma vez, tinha mulher grvida; a ela sentiu
desejo de comer um ovo cozido, mas na casa dela no
tinha esse ovo. que l, bem fraquinhos, num criavam
galinha no, de criao.
A foi passando o dia:
Marido, eu vou perder essa criana por causa
de vontade de comer esse ovo. Cum queu fao pra
mim achar esse ovo?
Ento ela pegou, foi passando, caa aqui, caa
acol. No vizinho, num achava esse ovo. Procurava,
num encontrava esse ovo. A mulher foi arruinando, foi
arruinando.
A um dia ela vinha da fonte e escutou uma voz
dentro de uma mata, que falou assim:
Ei dona, a sinhora que t com desejo de com
um ovo, vem aqui.
xe, ser quem que pode s essa voiz?
A ela falou assim, cou com medo, sentiu medo,
mas falou assim:
142
, mas eu t com desejo, com tanta vontade, v
l v o qu que qu, com f que ele me d o ovo.
Ela pegou e foi, entrou no mato, entrou no mato.
Chegou l no p duma serra e est um ninhozo de
ovo l, cheio de ovo. A voz falou:
Pode pass, apanh. Esses ovo a todo pa
sinhora, mas s que tem ua coisa; a sinhora me
prumete me d esse menino quonde elnasc? Uc
pode lev uns vo, mas se a sinhora num d o menino,
a sinhora num leva os vo, no.
Ento a grvida disse:
Eu v lev. Ele num vai atrais de menino nada.
Ele num veim atrais dessa criana, no.
A ela pegou os ovos e levou e comeu. Acabou o
desejo e cou toda satisfeita. Pass, pass, pass.
Chegou o tempo dela ganhar o menino. Um dia
ela estava bem tranqila l na casa e de vez em quando
ela lembrava:
U home, a voz num vei busc o menino, no.
Era s conversa. Aquilo foi Deus que deu aqueles vo,
porque viu que eu tava cum desejo. Num foi gente que
me deu no. Num era coisa diferente no.
Vai passando o tempo, passando o tempo, o
menino j tava sabido, dando sorriso pro pai, pra me,
143
e eles com tanta amizade no menino. A chegou um dia
em que ela estava l dentro arrumando, trocando os
panos do menino e... a voz chegou:
Ei, dona, cad o trato nosso? Eu vim busc a
criana.
meu pai do cu, cum que eu v faz agora?
E eu v busc, eu v entr, v troc o menino pa o
sinhoro.
A voz era um homem, homo alto, preto, velho
que s o diacho.
A a mulher calculou: eu entro aqui, v abri a
janela e v corr ca criana.
Ela entrou para o quarto, abriu uma porta.
Quando entrou, fechou outra vez a porta e abriu a
janela do quarto. Saltou a janela, caiu pro mundo na
carreira e falou assim:
Eu v peg cum bicho da terra pa me val.
Quando chegou, a primeira coisa que ela
encontrou foi uma pareia de boi. E falou assim:
Amigo boi, pelo amor de Deus, me acode.
E a voz atrs:
Eu quero meu bundo, eu quero meu bundo,
eu quero meu bundo.
A o boi falou:
144
O que que t aconteceno?
Por que evem uma fera pa me peg. Um bicho
que eu nem conheo pa me mat e me vale, pelo amor
de Deus.
A o boi falou:
Incosta aqui de junto de mim. Fica aqui pu
ditrais de mim. Hora que ele cheg aqui, eu meto o
chifre na barriga dele e isbagao ele aqui mesmo.
A o voz veio:
Eu quero meu bundo, eu quero meu bundo.
Quando o boi botou os olhos no bicho, falou
assim:
Deus que me livr duma fera dessa.
Jogou o rabo nas costas e chegou soprando e
pulando e caiu no mundo na carreira. Sumiu no mato
e a voz veio:
Eu quero meu bundo, eu quero meu bundo.
Atrs da mulher, e a mulher:
meu Pai do cu, cum que eu fao, pelo amor
de Deus?
Ento, l na frente, ela encontrou a ona:
amiga ona, pelo amor de Deus, me acode.
A ona falou, respondeu pra ela:
O que que que t aconteceno?
145
Evem um bicho a pa me peg, pa me mat.
Me vale, pelo amor de Deus.
Da ela:
Incosta aqui junto de mim. Hora que ele cheg
aqui, eu meto a unha na barriga desse bicho. Isbagao
ele aqui mesmo. Eu nunca achei coisa mode eu num
mat. O boi de carro, que mais pesado, eu mato e
rasto e levo, subo serra e deso serra com ele nas costa.
Agora um bicho desse aqui, eu num mato? Incosta
aqui, pode c aqui. Dexa ele vim.
A vem a voz e vem:
Eu quero meu bundo, eu quero meu bundo,
eu quero meu bundo.
Quando a ona botou os olhos no bicho, a ona
chegou engrossar o cabo no mundo, na carreira:
Deus que me livr duma fera triste dessa aqui.
Um bicho feio num vi desse jeito aqui no.
E caiu no mundo. A mulher vai correndo, vai
correndo:
meu pai do cu, amiga ona j correu. Com
quem eu vou peg agora? Pelo amor de Deus!
L na frente ela encontrou o leo:
Amigo lio, pelo amor de Deus, me acode,
amigo lio.
146
O amigo leo falou:
O que que t acunteceno?
O bicho que evem pa me cum. Eu ev na
carrera e evem esse bicho aqui me peg. Peguei cum
tudo quanto bucado de bicho a pa me acud e
nenhum me acudiu.
A o leo respondeu:
Podex. Eu s a fera mais forte daqui. Num
tem essa fera que topa cumigo. Na hora que ele cheg,
eu mato ele. Incosta aqui junto de mim, que eu cabo
com a vida dele. Eu isbagao ele.
Assim a mulher encostou, quando a voz veio:
Eu quero meu bundo, eu quero meu bundo,
eu quero meu bundo.
Quando o leo botou os olhos nesse bicho, esse
leo chegou engrossar o cabo no mundo, na carreira.
Deu linha na carreira. Chegou soprar, sua carreira:
Deus que me livr duma fera dessa. Eu quesse
trem t fora. Num quero nem papo com ele.
A a mulher foi e vai na carreira, e a voz atrs:
Eu quero meu bundo, eu quero meu bundo.
L na frente tinha uma cigarrinha. Viu a mulher
que vinha na carreira, l do olho do pau, onde ela
cantava, e falou assim:
147
dona, o que que que a sinhora t correno
desse tanto?
A mulher respondeu:
E porque evem ua fera pa me cum. Eu j
peguei com tudo qunt bicho. Ninhum me valeu, me
acudiu. A eu v intreg. Esse bicho vai me cum, vai
me mat.
A mulher j ia arrastando, cai aqui, cai acol, que
no agentava mais nada. E a cigarrinha falou:
mulh, sobe aqui no pau de junto de mim.
Fica aqui pra cima de onde que eu t. Hora que ele
cheg aqui, eu mato ele aqui.
No, amiga cigarra, eu nem no v subi no,
porque lio e ona e os bicho mais forte no deu vorta
nesse bicho, a sinhora que vai d vorta? Num adianta.
A mulher subiu, a cigarrinha entrou dentro do
nariz do bicho e foi l no juzo. Chegou l, tombou
esse bicho no cho, afundou l dentro da mente desse
bicho, enterrou l dento duma grota.
Vai tombando, tombando, tombando.
A, l na frente, o bicho bateu as botas.
Morreu.
E a cigarra cantou. E a mulher, comeu e viveu.
Dona Pedrelina Fiuza
Aldeia Brejo Mata Fome
151
152
Amanh eu vou queimar essa cachorrinha!
Ntro dia queimou.
Quando foi a noite o bicho tornou il:
S Brasileira, seus cachorro quando vm me abocar?
As cinzas da cachorra tornaram a latir e a o bicho
tornou a voltar. Ela falou:
Amanh eu vou jogar as cinzas dessa
cachorrinha, que no quer deixar ningum encostar
aqui, no mato.
Ntro dia, ela pegou as cinzas da cachorrinha e
jogou fora.
O bicho chegou de noite:
S Brasileira, seus cachorro quando vm me abocar?
No respondeu. T silncio.
J entrou.
J entrou l pra dentro.
J agarrou essa S Brasileira.
Ela gritou:
Oh, Bicho do zonho!
p te oi.
Oh, Bicho do boco!
153
p te cume.
Oh, Bicho doreo!
p te ban.
Oh, Bicho do narigo!
p te su.
Oh, Bicho do mozo!
p te peg.
Oh, Bicho do pezo!
p te peg.
E pegou essa S Brasileira e engoliu e tornou a
soltar ela do mesmo jeito: viva. E acabou a historinha
do Lobisomem.
Presi dente da Repbl i ca
Lui z I nci o Lul a da Si l va
Mi ni stri o da Educao
Fernando Haddad
Secretri oExecuti vo
Jai ro Jorge da Si l va
Secretari a de Educao Conti nuada, Al f abeti zao e
Di versi dade
Ri cardo Henri ques
P
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v
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