Orientação Parental e TDAH
Orientação Parental e TDAH
Orientação Parental e TDAH
RESUMO
ABSTRACT
parental guidance is an important tool for the external control of children's behavior
and to improve the quality of family interaction. The aim of this study was to analyze
the benefits of parental guidance in the context of ADHD in the scientific literature. 10
articles published from 2017 to 2022 in the Pepsic, Scielo Brasil, Pubmed, Bvsalud
and Base databases were selected. The results showed that parental guidance
brought benefits to families through clear information about the disorder. It was
concluded that parental guidance is an important strategy to improve parents'
competence to deal with regulatory losses related to the negative aspects of their
children's disorder, as well as to strengthen the bonds between parents and children.
We emphasize the need for more studies that endorse the importance of guidance
for parents of children diagnosed with ADHD.
1 INTRODUÇÃO
Estudos mostraram que crianças com TDAH são menos obedientes, mais
pessimistas, dispersam-se da tarefa com facilidade, costumam discutir muito, brincar
de forma agitada, gritam com os irmãos e têm grande dificuldade em seguir as
orientações de suas mães que, por sua vez, sentem-se mais sobrecarregadas e, às
vezes, podem ser mais reativas emocionalmente com seus filhos (FARAONE;
CRUZ; LA PEÑA OLVERA, 2019). Além disso, tem sido observado na literatura que
as interações entre pais e filhos com TDAH são demarcadas por muitos conflitos e
uma rotina familiar vinculada por vários momentos de estresse (BRITO; CECATTO,
2019; TONETTO; MISHIMA-GOMES; BARBIERI, 2019). De fato, muitos pais relatam
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uma rotina altamente conflituosa, uma vez que as crianças se recusam a seguir
regras e comandos; e tarefas simples podem ser esquecidas ou postergadas, como
cuidados básicos de higiene e tarefas acadêmicas e de casa (BARKLEY, 2020).
diagnóstico de TDAH, os pais precisam ser informados sobre como o transtorno afeta
a criança nas esferas sociais, emocionais, comportamentais e acadêmicas (BRASIL,
2022; BERTOLDO; FEIJÓ; BENETTI, 2018).
Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi analisar as publicações científicas sobre
a temática de orientação de pais em casos de TDAH e os seus benefícios para o
tratamento de crianças diagnosticadas com o transtorno.
2 METODOLOGIA
A seleção dos artigos analisados no presente estudo foi realizada nas bases de
dados Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic), Scientific Electronic Library
Online (Scielo Brasil), National Center for Biotechnology Information (Pubmed),
Biblioteca Virtual em Saúde (Bvsalud) e Sistema de Bibliotecas da Unicamp
(Edubase), com os descritores: crianças, TDAH, orientação de pais, tratamento
TDAH, intervenção TDAH, ADHD e parents guidance, combinados ao uso de aspas
e operadores booleanos AND e OR. As palavras-chave foram selecionadas
conforme o objetivo do estudo.
Após a leitura do título dos artigos de acordo com os descritores, em cada base de
dados, foram selecionados 64 artigos para leitura dos respectivos resumos,
verificando a sua importância em relação ao tema deste estudo (a orientação de pais
e seus benefícios para as crianças com TDAH) e categorizados segundo os critérios
de inclusão e exclusão. Excluíram-se artigos anteriores a 2017, artigos repetidos,
artigos que não atenderam aos objetivos do estudo, não fizeram referência a
crianças e a TDAH, ou não responderam à pergunta norteadora. Fez-se a leitura
completa de dez artigos, selecionados por possuírem relevância para o tema. O
processo de triagem e seleção dos artigos está detalhado na Figura 1.
3 RESULTADOS
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Os dez artigos foram alocados em três categorias: a adesão dos pais ao tratamento;
os tipos de tratamento, incluindo o uso de medicação; os benefícios atingidos
através da orientação de pais. A revisão dos estudos publicados sugeriu que a
orientação de pais tem sido apontada como uma das principais estratégias na linha
de tratamentos do TDAH em crianças. Os estudos apontam que, quando os pais
recebem uma boa orientação sobre o diagnóstico e as melhores estratégias de
cuidados para seus filhos, é possível conseguir reduzir os sintomas do transtorno
nas crianças e melhorar o convívio delas na família, na escola e com seus pares.
4 DISCUSSÃO
Pessoas com TDAH possuem uma disfunção no cérebro que causa movimentação
constante, falha no controle dos impulsos, desatenção e outros comportamentos
julgados intoleráveis, que se revelam em comportamentos como esquecimento,
distraibilidade, impulsividade e desorganização, afetando a atividade social da
criança e interferindo na relação com pais, professores e pares (BARKLEY, 2020;
FARAONE; CRUZ; LA PEÑA OLVERA, 2019). Nesse sentido, trata-se de um
problema crônico, para o qual não existe cura, mas pode ser controlável mediante a
reestruturação dos comportamentos da criança, com a finalidade de torná-la mais
funcional, autônoma e independente, seja na vida familiar, escolar ou social
(BRASIL, 2022). Para tanto, os resultados da análise dos artigos deste estudo
evidenciaram que os tratamentos voltados para o TDAH consideram tanto as
intervenções psicossociais quanto as medicamentosas, salientando a importância do
acompanhamento de especialistas da área e da participação dos pais para o
sucesso na vida dos pacientes.
A psicoeducação tem sido utilizada por profissionais de saúde como ferramenta para
orientação das famílias, baseando-se de forma simples e didática na explicação das
questões que podem causar os comportamentos apresentados pela criança, a fim de
ampliar o conhecimento dos pais, proporcionando maior estabilidade e segurança no
manejo dos sintomas do transtorno nos ambientes familiar, social e escolar (BRITO;
CECATTO, 2019). Nesse sentido, a orientação de pais leva ao paciente e à família
informações de maneira compreensível sobre o diagnóstico do TDAH, os sintomas, o
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Bertoldo, Feijó e Benetti (2018), ao citarem estudos realizados por Coates, Taylo e
Sayal (2015) e Daley e O’Brien (2013), afirmam que as intervenções parentais foram
associadas à redução de sintomas de TDAH e sintomas comórbidos em 45% das
crianças participantes com determinado transtorno. Isso indica que o trabalho com os
pais ao longo do tratamento pode seguir de várias formas, inclusive com sessões que
reúnam a família inteira, conforme a especificidade de cada caso. Tais manejos
exigem do terapeuta uma postura flexível, devendo abranger soluções abertas e
criativas (OLIVEIRA; GASTAUD; RAMIRES, 2018). Com base nesses achados,
considera-se, portanto, que os treinamentos de habilidades parentais e atenção
plena, bem como os programas de autoajuda para pais podem significar a
possibilidade de aumentar recursos parentais para lidar com o TDAH nas crianças.
Os estudos acerca da adesão dos pais no tratamento de seus filhos afirmam que
ainda existem muitas dificuldades que impedem o acesso das crianças às
intervenções, como a falta de informação familiar, que acarreta baixa motivação para
conhecer aspectos do transtorno e dos recursos disponíveis para tratamento; bem
como a deficiência dos conteúdos abordados nos programas de treinamento, no que
diz respeito a comportamentos disruptivos não relacionados ao TDAH (BERTOLDO;
FEIJÓ; BENETTI, 2018). Por sua vez, Oliveira, Gastaud e Ramires (2018) indicam
um consenso sobre a importância da participação dos pais na psicoterapia dos filhos,
em estudo realizado com 76 psicoterapeutas que trabalham com crianças.
Entretanto, as práticas reveladas pelos participantes divergem entre abordagens
mais compreensivas e intervencionistas e outras que se limitam à participação dos
pais no intercâmbio de informações.
com os pais configura-se uma importante ferramenta dentro da orientação, uma vez
que a escuta empática e genuína dos pais pode ser um importante favorecedor para
a evolução do processo terapêutico da criança (OLIVEIRA; GASTAUD; RAMIRES,
2018; WÜSTNER et al., 2019).
evidenciam que, quando os pais recebem o diagnóstico de TDAH de seus filhos, são
informados acerca da dosagem e uso do medicamento, não sendo esclarecidos
acerca das características do transtorno.
os sintomas do TDAH podem afetar a vida seus filhos, além de adverti-los sobre a
necessidade de que todos os elementos da vida da criança devam ser tratados por
meio de uma abordagem multimodal, que considere as questões sociais,
emocionais, comportamentais e escolares (BRASIL, 2022).
Sem a orientação de pais para promover uma efetiva mudança nos comportamentos
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É importante ressaltar, conforme os achados atuais, que, por meio dos programas
de orientação, observa-se ainda a redução do sentimento de culpa dos pais. É certo
que é imprescindível mostrar para esses pais, através de conhecimentos científicos,
que não há culpados e que os comportamentos apresentados por seus filhos são
característicos de um transtorno mental (SILVA, 2014 apud BRITO; CECATTO,
2019). Entretanto, estudos apontam que também é importante salientar com os pais,
durante as sessões de orientação, o impacto que seus estilos parentais podem
exercer sobre as crianças. Com base nisso, Santos e Wachelke (2019), em uma
revisão de literatura que relacionou habilidades sociais de pais e comportamento dos
filhos, perceberam que os estudos eram unânimes ao relatarem que as habilidades
sociais dos pais, tanto positivas quanto negativas, exerciam influência na
competência social e acadêmica dos filhos e no comportamento adequado deles.
É importante envolver os pais e levá-los a entender que a criança com TDAH não
age erroneamente por vontade própria, e sim devido às disfunções provocadas pelo
transtorno, conforme destacaram Rohde e Benczik (1999) apud Brito e Cecatto
(2019). Dessa forma, por meio da orientação, é possível auxiliar os responsáveis
para compreenderem os ambientes em que seus filhos estão inseridos, a
importância de dar-lhes ajuda e perceber quais as suas exigências e limitações, para
que seja possível adequar o nível das demandas ao que eles podem responder
(BERTOLDO et al., 2020; MENDES; MANCINI; MIRANDA, 2018).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidenciou-se, ainda, que as mães participam mais ativamente dos cuidados com os
filhos, o que pode estar ligado ao aumento do estresse materno e à qualidade da
interação com os filhos. Portanto, torna-se importante incentivar a participação
paterna no tratamento psicoterapêutico, a fim de melhorar o exercício da
parentalidade e a relação conjugal.
Por fim, destaca-se a necessidade de que mais estudos sejam realizados, visto que
é escassa a publicação de artigos sobre orientação de pais de crianças com TDAH.
Sugerem-se, também, pesquisas voltadas para TDAH infantil no âmbito da
orientação de professores, pois observou-se nas leituras realizadas que o
desconhecimento dos professores sobre como lidar com alunos com TDAH faz com
que se sintam abandonados, sobrecarregados e impotentes, fato que demanda
orientação de especialistas para explicar e sugerir meios para resolução dos
problemas em sala de aula.
REFERÊNCIAS
BERTOLDO, Lao-Tse Maria; FEIJÓ, Luan Paris; BENETT, Silvia Pereira da Cruz.
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https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/33454. Acesso em: 05
out. 2022.
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