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1

VOLUME

REFERENCIAL CURRICULAR
NACIONAL PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL

I N T R O D U Ç Ã O
Licenciado para - Alessandra de Oliveira - 32876183854 - Protegido por Eduzz.com
Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso

Ministro de Estado da Educação e do Desporto


Paulo Renato Souza

Secretário Executivo
Luciano Oliva Patrício

104

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REFERENCIAL CURRICULAR
NACIONAL PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL

INTRODUÇÃO

VOLUME 1

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Secretaria de Educação Fundamental
Iara Glória Areias Prado

Departamento de Política da Educação Fundamental


Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farha

Coordenação-Geral de Educação Infantil


Gisela Wajskop

Capa: Desenho em lápis de cera (utilização parcial) feito por Irma Carvalho e Silva, de
Lucena - Paraíba, nascida em 3.1.95, vencedora do Concurso Criança e Cidadania,
promovido pela ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação


Fundamental.
Referencial curricular nacional para a educação infantil /
Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação
Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.
3v.: il.

Volume 1: Introdução; volume 2: Formação pessoal e social;


volume 3: Conhecimento de mundo.

1. Educação infantil. 2. Criança em idade pré-escolar. I. Título.

CDU 372.3

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL

REFERENCIAL CURRICULAR
NACIONAL PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL

INTRODUÇÃO

VOLUME 1

Brasília
1998

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Heloísa Pacheco

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CARTA DO MINISTRO

Ao Professor de Educação Infantil

É com muito prazer que lhe entregamos o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil referente às creches, entidades equivalentes e pré-escolas, que
integra a série de documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais elaborados pelo
Ministério da Educação e do Desporto.
Atendendo às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei 9.394/96) que estabelece, pela primeira vez na história de nosso país, que a educação
infantil é a primeira etapa da educação básica, nosso objetivo, com este material, é auxiliá-
lo na realização de seu trabalho educativo diário junto às crianças pequenas.
Considerando a fase transitória pela qual passam creches e pré-escolas na busca por
uma ação integrada que incorpore às atividades educativas os cuidados essenciais das crianças
e suas brincadeiras, o Referencial pretende apontar metas de qualidade que contribuam
para que as crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de
crescerem como cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos. Visa, também, contribuir
para que possa realizar, nas instituições, o objetivo socializador dessa etapa educacional,
em ambientes que propiciem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos conhecimentos da
realidade social e cultural.
Este documento é fruto de um amplo debate nacional, no qual participaram
professores e diversos profissionais que atuam diretamente com as crianças, contribuindo
com conhecimentos diversos provenientes tanto da vasta e longa experiência prática de
alguns, como da reflexão acadêmica, científica ou administrativa de outros. Ele representa
um avanço na educação infantil ao buscar soluções educativas para a superação, de um
lado, da tradição assistencialista das creches e, de outro, da marca da antecipação da
escolaridade das pré-escolas. O Referencial foi concebido de maneira a servir como um
guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas
para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, respeitando
seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira.
Esperamos que os esforços daqueles que participaram dessa empreitada, em nome
da melhoria da educação infantil, possam reverter em um enriquecimento das discussões
pedagógicas no interior de cada instituição, subsidiando a elaboração de projetos educativos
singulares, em parceria com as famílias e a comunidade.

Paulo Renato Souza


Ministro da Educação e do Desporto

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APRESENTAÇÃO

Professor,

Você está recebendo uma coleção de três volumes que compõem o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil organizados da seguinte forma:
• Um documento Introdução, que apresenta uma reflexão sobre creches e pré-escolas
no Brasil, situando e fundamentando concepções de criança, de educação, de
instituição e do profissional, que foram utilizadas para definir os objetivos gerais
da educação infantil e orientaram a organização dos documentos de eixos de
trabalho que estão agrupados em dois volumes relacionados aos seguintes âmbitos
de experiência: Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo.
• Um volume relativo ao âmbito de experiência Formação Pessoal e Social que
contém o eixo de trabalho que favorece, prioritariamente, os processos de
construção da Identidade e Autonomia das crianças.
• Um volume relativo ao âmbito de experiência Conhecimento de Mundo que
contém seis documentos referentes aos eixos de trabalho orientados para a
construção das diferentes linguagens pelas crianças e para as relações que
estabelecem com os objetos de conhecimento: Movimento, Música, Artes
Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática.
Para garantir o acesso e o bom aproveitamento deste material, o MEC coloca à
disposição de cada profissional de educação infantil seu próprio exemplar, para que possa
utilizá-lo como instrumento de trabalho cotidiano, consultá-lo, fazer anotações e discuti-lo
com seus parceiros e/ou com os familiares das crianças usuárias das instituições.
A organização do Referencial possui caráter instrumental e didático, devendo os
professores ter consciência, em sua prática educativa, que a construção de conhecimentos
se processa de maneira integrada e global e que há inter-relações entre os diferentes eixos
sugeridos a serem trabalhados com as crianças. Nessa perspectiva, o Referencial é um
guia de orientação que deverá servir de base para discussões entre profissionais de um
mesmo sistema de ensino ou no interior da instituição, na elaboração de projetos educativos
singulares e diversos.
Estes volumes pretendem contribuir para o planejamento, desenvolvimento e
avaliação de práticas educativas que considerem a pluralidade e diversidade étnica, religiosa,
de gênero, social e cultural das crianças brasileiras, favorecendo a construção de propostas
educativas que respondam às demandas das crianças e seus familiares nas diferentes regiões
do país.

Secretaria de Educação Fundamental

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Iolanda Huzak

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SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................................................... 11
Características do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil ........................................... 13
Algumas considerações sobre creches e pré-escolas .............................................................................. 17
A criança ..................................................................................................................................................... 21
Educar ......................................................................................................................................................... 23
Cuidar ..................................................................................................................................................... 24
Brincar ..................................................................................................................................................... 27
Aprender em situações orientadas ........................................................................................................... 29
Interação ........................................................................................................................................... 31
Diversidade e individualidade ............................................................................................................. 32
Aprendizagem significativa e conhecimentos prévios ......................................................................... 33
Resolução de problemas ................................................................................................................... 33
Proximidade com as práticas sociais reais .......................................................................................... 35
Educar crianças com necessidades especiais .................................................................................... 35
O professor de educação infantil ................................................................................................................ 39
Perfil profissional ....................................................................................................................................... 41
Organização do Referencial Curricular Nacional para a educação infantil ............................................. 43
Organização por idade ........................................................................................................................... 45
Organização em âmbitos e eixos ............................................................................................................. 45
Componentes curriculares ....................................................................................................................... 47
Objetivos ........................................................................................................................................... 47
Conteúdos ......................................................................................................................................... 48
Organização dos conteúdos por blocos ....................................................................................... 53
Seleção de conteúdos ................................................................................................................. 53
Integração dos conteúdos ........................................................................................................... 53
Orientações didáticas ........................................................................................................................ 54
Organização do tempo ............................................................................................................... 54
Atividades permanentes ......................................................................................................... 55
Seqüência de atividades ........................................................................................................ 56
Projetos de trabalho ............................................................................................................... 57
Organização do espaço e seleção dos materiais ......................................................................... 58
Observação, registro e avaliação formativa ................................................................................. 58
Objetivos gerais da educação infantil ........................................................................................................ 63
A instituição e o projeto educativo ............................................................................................................. 65
Condições externas ................................................................................................................................. 65
Condições internas .................................................................................................................................. 65
Ambiente institucional ........................................................................................................................ 66
Formação do coletivo institucional ..................................................................................................... 67
Espaço para formação continuada ................................................................................................... 67
Espaço físico e recursos materiais ....................................................................................................... 68
Versatilidade do espaço ..................................................................................................................... 69
Os recursos materiais ......................................................................................................................... 69
Acessibilidade dos materiais ............................................................................................................... 71
Segurança do espaço e dos materiais ............................................................................................... 71
Critérios para formação de grupos de crianças .................................................................................. 72
Organização do tempo ..................................................................................................................... 73
Ambiente de cuidados ...................................................................................................................... 73
Parceria com as famílias .................................................................................................................... 75
Respeito aos vários tipos de estruturas familiares ............................................................................ 76
Acolhimento das diferentes culturas, valores e crenças sobre educação de crianças .................... 77
Estabelecimento de canais de comunicação .............................................................................. 78
Inclusão do conhecimento familiar no trabalho educativo ............................................................ 79
Acolhimento das famílias e das crianças na instituição .................................................................. 79
A entrada na instituição .......................................................................................................... 79
Os primeiros dias .................................................................................................................... 80
Remanejamento entre os grupos de criança .......................................................................... 83
Substituição de professores ..................................................................................................... 83
Passagem para a escola ........................................................................................................ 84
Acolhimento de famílias com necessidades especiais .................................................................. 84
Estrutura do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil ..................................................... 85
Bibliografia ................................................................................................................................................... 87

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Iolanda Huzak

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INTRODUÇÃO

A expansão da educação infantil no Brasil e no mundo tem ocorrido de forma


crescente nas últimas décadas, acompanhando a intensificação da urbanização, a
participação da mulher no mercado de trabalho e as mudanças na organização e estrutura
das famílias. Por outro lado, a sociedade está mais consciente da importância das
experiências na primeira infância, o que motiva demandas por uma educação institucional
para crianças de zero a seis anos.

A conjunção desses fatores ensejou um movimento da sociedade civil e de órgãos


governamentais para que o atendimento às crianças de zero a seis anos fosse reconhecido
na Constituição Federal de 1988. A partir de então, a educação infantil em creches e pré-
escolas passou a ser, ao menos do ponto de vista legal, um dever do Estado e um direito da
criança (artigo 208, inciso IV). O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, destaca
também o direito da criança a este atendimento.

Reafirmando essas mudanças, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,


o
Lei n 9.394, promulgada em dezembro de 1996, estabelece de forma incisiva o vínculo
entre o atendimento às crianças de zero a seis anos e a educação. Aparecem, ao longo do
texto, diversas referências específicas à educação infantil.

No título III, Do Direito à Educação e do Dever de Educar, art. 4o, IV, se afirma
que: “O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia
de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de
idade”. Tanto as creches para as crianças de zero a três anos como as pré-escolas, para as de
quatro a seis anos, são consideradas como instituições de educação infantil. A distinção
entre ambas é feita apenas pelo critério de faixa etária.

A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica (título V,


capítulo II, seção II, art. 29), tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade. O texto legal marca ainda a complementaridade entre as instituições
de educação infantil e a família.

Outras questões importantes para este nível de educação são tratadas na LDB, como
as que se referem à formação dos profissionais, as relativas à educação especial e à avaliação.

Considerando a grande distância entre o que diz o texto legal e a realidade da educação
infantil, a LDB dispõe no título IX, Das Disposições Transitórias, art. 89, que: “As creches
e pré-escolas existentes ou que venham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a
contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino”.

No título IV, que trata da organização da Educação Nacional, art. 11, V, considera-se
que: “Os Municípios incumbir-se-ão de: (...) oferecer a educação infantil em creches e pré-

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escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de
ensino quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência
e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento do ensino”.

Porém, reafirma, no art. 9º, IV, que: “A União incumbir-se-á de (...) estabelecer, em
colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
para a educação infantil (...) que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de
modo a assegurar formação básica comum”.

De acordo com a LDB e considerando seu papel e sua responsabilidade na indução,


proposição e avaliação das políticas públicas relativas à educação nacional, o Ministério da
Educação e do Desporto propõe, por meio deste documento, um Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil.

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CARACTERÍSTICAS DO REFERENCIAL
CURRICULAR NACIONAL PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL

Este documento constitui-se em um conjunto de referências e orientações


pedagógicas que visam a contribuir com a implantação ou implementação de práticas
educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o
exercício da cidadania das crianças brasileiras.

Sua função é contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando


informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos,
professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino
estaduais e municipais.

Considerando-se as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das


crianças de zero a seis anos, a qualidade das experiências oferecidas que podem contribuir
para o exercício da cidadania devem estar embasadas nos seguintes princípios:

• o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas


nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais,
étnicas, religiosas etc.;

• o direito das crianças a brincar, como forma particular de


expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;

• o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis,


ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à
expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à
ética e à estética;

• a socialização das crianças por meio de sua participação e


inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem
discriminação de espécie alguma;

• o atendimento aos cuidados essenciais associados à


sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade.

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A estes princípios cabe acrescentar que as crianças têm direito, antes de tudo, de
viver experiências prazerosas nas instituições.

O conjunto de propostas aqui expressas responde às necessidades de referências


nacionais, como ficou explicitado em um estudo recente elaborado pelo Ministério da
Educação e do Desporto, que resultou na publicação do documento “Proposta pedagógica
e currículo em educação infantil: um diagnóstico e a construção de uma metodologia de
análise”1 . Nesse documento, constatou-se que são inúmeras e diversas as propostas de
currículo para a educação infantil que têm sido elaboradas, nas últimas décadas, em várias
partes do Brasil. Essas propostas, tão diversas e heterogêneas quanto o é a sociedade
brasileira, refletem o nível de articulação de três instâncias determinantes na construção
de um projeto educativo para a educação infantil. São elas: a das práticas sociais, a das
políticas públicas e a da sistematização dos conhecimentos pertinentes a essa etapa
educacional. Porém, se essa vasta produção revela a riqueza de soluções encontradas nas
diferentes regiões brasileiras, ela revela, também, as desigualdades de condições
institucionais para a garantia da qualidade nessa etapa educacional.

Considerando e respeitando a pluralidade e diversidade da sociedade brasileira e


das diversas propostas curriculares de educação infantil existentes, este Referencial é uma
proposta aberta, flexível e não obrigatória, que poderá subsidiar os sistemas educacionais,
que assim o desejarem, na elaboração ou implementação de programas e
currículos condizentes com suas realidades e singularidades. Seu caráter não obrigatório
visa a favorecer o diálogo com propostas e currículos que se constroem no cotidiano das
instituições, sejam creches, pré-escolas ou nos diversos grupos de formação existentes nos
diferentes sistemas.

Nessa perspectiva, o uso deste Referencial só tem sentido se traduzir a vontade


dos sujeitos envolvidos com a educação das crianças, sejam pais, professores,
técnicos e funcionários de incorporá-lo no projeto educativo da instituição ao qual estão
ligados.

Se por um lado, o Referencial pode funcionar como elemento orientador de ações na


busca da melhoria de qualidade da educação infantil brasileira, por outro, não tem a pretensão
de resolver os complexos problemas dessa etapa educacional. A busca da qualidade do
atendimento envolve questões amplas ligadas às políticas públicas, às decisões de ordem
orçamentária, à implantação de políticas de recursos humanos, ao estabelecimento de
padrões de atendimento que garantam espaço físico adequado, materiais em quantidade e
qualidade suficientes e à adoção de propostas educacionais compatíveis com a faixa etária
nas diferentes modalidades de atendimento, para as quais este Referencial pretende dar
sua contribuição.

1
MEC/DPE/COEDI. Brasília: 1996.

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Brasil: Crianças de zero a seis anos de idade, residentes em domicílios
particulares permanentes, por classes de rendimento familiar per capita,
segundo grupos de idade - 1995

Classes de rendimento
Faixa de idade Total Até ½ SM + de 1/2 mais de mais de s/rend. s/decl.
a 1 SM 1 a 2 SM 2 SM
0 a 6 anos 21.375.192 8.264.317 4.786.933 3.633.225 3.119.560 1.219.776 351.381
0 a 3 anos 12.073.480 4.654.328 2.698.755 2.006.024 1.665.337 855.222 193.814
4 a 6 anos 9.301.712 3.609.989 2.088.178 1.627.201 1.454.223 364.554 157.567
Freqüentam creche ou pré-escola
0 a 6 anos 5.358.400 1.590.226 1.122.296 1.023.799 1.343.594 173.417 105.014
0 a 3 anos 912.624 239.541 154.115 147.763 316.555 35.459 19.191
4 a 6 anos 4.445.776 1.350.685 968.181 876.036 1.027.039 138.012 85.823

Freqüentam creche ou pré-escola (percentual)


0 a 6 anos 25,1 19,2 23,4 28,2 43,1 14,2 29,9
0 a 3 anos 7,6 5,1 5,7 7,4 19,0 4,1 9,9
4 a 6 anos 47,8 37,4 46,4 53,8 70,6 37,9 54,5

FONTE: IBGE - PNAD 1995

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE
CRECHES E PRÉ-ESCOLAS

O atendimento institucional à criança pequena, no Brasil e no mundo, apresenta ao


longo de sua história concepções bastante divergentes sobre sua finalidade social. Grande
parte dessas instituições nasceram com o objetivo de atender exclusivamente às crianças
de baixa renda. O uso de creches e de programas pré-escolares como estratégia para combater
a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças foi, durante muitos
anos, justificativa para a existência de atendimentos de baixo custo, com aplicações
orçamentárias insuficientes, escassez de recursos materiais; precariedade de instalações;
formação insuficiente de seus profissionais e alta proporção de crianças por adulto.

Constituir-se em um equipamento só para pobres,


principalmente no caso das instituições de educação
infantil, financiadas ou mantidas pelo poder público2 ,
significou em muitas situações atuar de forma
compensatória para sanar as supostas faltas e carências
das crianças e de suas famílias. A tônica do trabalho
institucional foi pautada por uma visão que estigmatizava
a população de baixa renda. Nessa perspectiva, o
atendimento era entendido como um favor oferecido para
poucos, selecionados por critérios excludentes. A concepção
educacional era marcada por características assistencialistas,
sem considerar as questões de cidadania ligadas aos ideais
de liberdade e igualdade.

Modificar essa concepção de educação assistencialista


significa atentar para várias questões que vão muito além
dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as
especificidades da educação infantil e rever concepções
sobre a infância, as relações entre classes sociais, as
responsabilidades da sociedade e o papel do Estado
diante das crianças pequenas.

Embora haja um consenso sobre a necessidade de que a


educação para as crianças pequenas deva promover a integração entre os aspectos físicos,
emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança, considerando que esta é um ser

2
Segundo a definição da LDB, as instituições públicas são aquelas criadas ou incorporadas, mantidas e
administradas pelo poder público. As privadas são aquelas instituídas, mantidas e administradas por pessoas
físicas ou jurídicas de direito privado. Estas se dividem em comunitárias, confessionais e filantrópicas.

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completo e indivisível, as divergências estão
exatamente no que se entende sobre o que seja
trabalhar com cada um desses aspectos.

Há práticas que privilegiam os cuidados


físicos, partindo de concepções que compreendem
a criança pequena como carente, frágil, dependente
e passiva, e que levam à construção de
procedimentos e rotinas rígidas, dependentes todo
o tempo da ação direta do adulto. Isso resulta em
períodos longos de espera entre um cuidado e outro,
sem que a singularidade e individualidade de cada
criança seja respeitada. Essas práticas tolhem a
possibilidade de independência e as oportunidades das
crianças de aprenderem sobre o cuidado de si, do outro e
do ambiente. Em concepções mais abrangentes os cuidados
são compreendidos como aqueles referentes à proteção, saúde
e alimentação, incluindo as necessidades de afeto, interação,
estimulação, segurança e brincadeiras que possibilitem a exploração
e a descoberta.

Outras práticas têm privilegiado as necessidades emocionais


apresentando os mais diversos enfoques ao longo da história do
atendimento infantil. A preocupação com o desenvolvimento emocional
da criança pequena resultou em propostas nas quais, principalmente nas
creches, os profissionais deveriam atuar como substitutos maternos.
Outra tendência foi usar o espaço de educação infantil para o
desenvolvimento de uma pedagogia relacional, baseada exclusivamente
no estabelecimento de relações pessoais intensas entre adultos e crianças.

Desenvolvimento cognitivo é outro assunto polêmico presente em algumas práticas.


O termo “cognitivo” aparece ora especificamente ligado ao desenvolvimento das estruturas
do pensamento, ou seja, da capacidade de generalizar, recordar, formar conceitos e raciocinar
logicamente, ora se referindo a aprendizagens de conteúdos específicos. A polêmica entre
a concepção que entende que a educação deve principalmente promover a construção das
estruturas cognitivas e aquela que enfatiza a construção de conhecimentos como meta da
educação, pouco contribui porque o desenvolvimento das capacidades cognitivas do
pensamento humano mantém uma relação estreita com o processo das aprendizagens
específicas que as experiências educacionais podem proporcionar.

Polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na relação pedagógica e


sobre educar para o desenvolvimento ou para o conhecimento têm constituído, portanto, o
panorama de fundo sobre o qual se constroem as propostas em educação infantil.

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A elaboração de propostas educacionais, veicula necessariamente concepções sobre
criança, educar, cuidar e aprendizagem, cujos fundamentos devem ser considerados de
maneira explícita.

Iolanda Huzak

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A CRIANÇA

A concepção de criança é uma noção historicamente construída e conseqüentemente


vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo
no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma
mesma cidade existam diferentes maneiras de se considerar as crianças pequenas
dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. Boa
parte das crianças pequenas brasileiras enfrentam um cotidiano bastante adverso que as
conduz desde muito cedo a precárias condições de vida e ao trabalho infantil, ao abuso e
exploração por parte de adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras,
recebendo de suas famílias e da sociedade em geral todos os cuidados necessários ao seu
desenvolvimento. Essa dualidade revela a contradição e
conflito de uma sociedade que não resolveu ainda as
grandes desigualdades sociais presentes no cotidiano.

A criança como todo ser humano, é um sujeito


social e histórico e faz parte de uma organização
familiar que está inserida em uma sociedade, com
uma determinada cultura, em um determinado
momento histórico. É profundamente marcada
pelo meio social em que se desenvolve, mas
também o marca. A criança tem na família,
biológica ou não, um ponto de referência
fundamental, apesar da multiplicidade de
interações sociais que estabelece com outras
instituições sociais3 .

As crianças possuem uma natureza


singular, que as caracteriza como seres que sentem
e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas
interações que estabelecem desde cedo com as
pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço
para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e,
por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus
anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das
mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses
originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva as crianças constroem o
conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio

3
Texto adaptado do documento “Política nacional de educação infantil”. MEC/SEF/DPE/COEDI, dez/1994,
p. 16-17.

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em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de
um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação4 .

Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem


no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. Embora os
conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociologia, medicina etc. possam ser
de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns
de ser das crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças.

4
A concepção de construção de conhecimentos pelas crianças em situações de interação social foi pesquisada,
com diferentes enfoques e abordagens, por vários autores, dentre eles: Jean Piaget, Lev Semionovitch Vygotsky
e Henry Wallon. Nas últimas décadas, esses conhecimentos que apresentam tanto convergências como
divergências, têm influenciado marcadamente o campo da educação. Sob o nome de construtivismo reúnem-
se as idéias que preconizam tanto a ação do sujeito, como o papel significativo da interação social no processo
de aprendizagem e desenvolvimento da criança.

22

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EDUCAR

Nas últimas décadas, os debates em nível nacional e internacional apontam para a


necessidade de que as instituições de educação infantil incorporem de maneira integrada
as funções de educar e cuidar, não mais diferenciando nem hierarquizando os profissionais
e instituições que atuam com as crianças pequenas e/ou aqueles que trabalham com as
maiores. As novas funções para a educação infantil devem estar associadas a padrões de
qualidade. Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as
crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas
interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais diversas
linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construção de uma
identidade autônoma.

A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a


freqüentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu
desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o
desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas,
realizadas em situações de interação.

Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer às crianças condições para as


aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas
intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos. É importante ressaltar, porém,
que essas aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo
de desenvolvimento infantil.

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e


aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os
outros em uma atitude básica de aceitação,
respeito e confiança, e o acesso, pelas
crianças, aos conhecimentos mais amplos
da realidade social e cultural. Neste
processo, a educação poderá auxiliar o
desenvolvimento das capacidades de
apropriação e conhecimento das
potencialidades corporais, afetivas,
emocionais, estéticas e éticas, na
perspectiva de contribuir para a formação
de crianças felizes e saudáveis.

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Cuidar

Contemplar o cuidado na esfera da instituição da educação infantil significa


compreendê-lo como parte integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos,
habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja, cuidar de
uma criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de
conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas.

A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver


como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado
é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica
em procedimentos específicos.

O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolvem


a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade
da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são
oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.

As atitudes e procedimentos de cuidado são influenciadas por crenças e valores em


torno da saúde, da educação e do desenvolvimento infantil. Embora as necessidades
humanas básicas sejam comuns, como alimentar-se, proteger-se etc. as formas de identificá-
las, valorizá-las e atendê-las são construídas socialmente. As necessidades básicas, podem
ser modificadas e acrescidas de outras de acordo com o contexto sociocultural. Pode-se

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dizer que além daquelas que preservam a vida orgânica, as
necessidades afetivas são também base para o desenvolvimento
infantil.

A identificação dessas necessidades sentidas e expressas


pelas crianças, depende também da compreensão que o adulto
tem das várias formas de comunicação que elas, em cada faixa
etária possuem e desenvolvem. Prestar atenção e valorizar o
choro de um bebê e responder a ele com um cuidado ou outro
depende de como é interpretada a expressão de choro, e dos
recursos existentes para responder a ele. É possível que alguns
adultos conversem com o bebê tentando acalmá-lo, ou que
peguem-no imediatamente no colo, embalando-o. Em
determinados contextos socioculturais, é possível que o adulto
que cuida da criança, tendo como base concepções de
desenvolvimento e aprendizagem infantis, de educação e
saúde, acredite que os bebês devem aprender a permanecer
no berço, após serem alimentados e higienizados, e, portanto, não considerem o embalo
como um cuidado, mas como uma ação que pode “acostumar mal” a criança. Em outras
culturas, o embalo tem uma grande importância no cuidado de bebês, tanto que existem
berços próprios para embalar.

O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que


quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade
do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os
princípios de promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação
da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e
procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento
biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes
realidades socioculturais.

Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua
singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso
depende a construção de um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado.

Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é preciso que o professor possa


ajudar a criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de
forma adequada. Assim, cuidar da criança é sobretudo dar atenção a ela como pessoa que
está num contínuo crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade,
identificando e respondendo às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que a
criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste
conhecimento e de suas habilidades, que aos poucos a tornarão mais independente e mais
autônoma.

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Brincar

Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível que
haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam
elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que ocorrem por meio de uma
intervenção direta.

A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo
que é o “não-brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto
implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer
que é preciso haver consciência da diferença existente entre a brincadeira e a realidade
imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso
apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos
significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação entre a
imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no
plano das emoções e das idéias, de uma realidade anteriormente vivenciada.

Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate ritmicamente com os pés no
chão e imagina-se cavalgando um cavalo, está orientando sua ação pelo significado da
situação e por uma atitude mental e não somente pela percepção imediata dos objetos e
situações.

No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam


outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os
acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando.

O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem


enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à
realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas
ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.

A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar


progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a
interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos.
Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de
constituição infantil.

Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam


anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir um
determinado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer alguma de suas características.
Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma
experiência vivida na família ou em outros ambientes, do relato de um colega ou de um
adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema ou narradas em livros etc. A fonte de
seus conhecimentos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmentados. É no ato de

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brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel
assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis, tomando
consciência disto e generalizando para outras situações.

Para brincar é preciso que as crianças tenham certa independência para escolher
seus companheiros e os papéis que irão assumir no interior de um determinado tema e
enredo, cujos desenvolvimentos dependem unicamente da vontade de quem brinca.

Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginativas e criadas por elas mesmas,


as crianças podem acionar seus pensamentos para a resolução de problemas que lhe são
importantes e significativos. Propiciando a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no
qual as crianças podem experimentar o mundo e internalizar uma compreensão particular
sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos.
O brincar apresenta-se por meio de várias categorias de experiências que são
diferenciadas pelo uso do material ou dos recursos predominantemente implicados. Essas
categorias incluem: o movimento e as mudanças da percepção resultantes essencialmente
da mobilidade física das crianças; a relação com os objetos e suas propriedades físicas assim
como a combinação e associação entre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários
níveis de organização a serem utilizados para brincar; os conteúdos sociais, como papéis,
situações, valores e atitudes que se referem à forma como o universo social se constrói; e,
finalmente, os limites definidos pelas regras, constituindo-se em um recurso fundamental
para brincar. Estas categorias de experiências podem ser agrupadas em três modalidades
básicas, quais sejam, brincar de faz-de-conta ou com papéis, considerada como atividade
fundamental da qual se originam todas as outras; brincar com materiais de construção e
brincar com regras.

As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles


que possuem regras, como os jogos de sociedade (também
chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos,
corporais etc., propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis
por meio da atividade lúdica.

É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na instituição


infantil, ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das
crianças. Conseqüentemente é ele que organiza sua base estrutural,
por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos
ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar.

Por meio das brincadeiras os professores podem observar e


constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças
em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas
capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades
sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem.

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A intervenção intencional baseada na observação das brincadeiras das crianças,
oferecendo-lhes material adequado, assim como um espaço estruturado para brincar permite
o enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacionais infantis. Cabe
ao professor organizar situações para que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada
para propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e
companheiros com quem brincar ou os jogos de regras e de construção, e assim elaborarem
de forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras
sociais.
É preciso que o professor tenha consciência que na brincadeira as crianças recriam e
estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, em uma
atividade espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva não se deve confundir situações
nas quais se objetiva determinadas aprendizagens relativas a conceitos, procedimentos ou
atitudes explícitas com aquelas nas quais os conhecimentos são experimentados de uma
maneira espontânea e destituída de objetivos imediatos pelas crianças. Pode-se, entretanto,
utilizar os jogos, especialmente aqueles que possuem regras, como atividades didáticas. É
preciso, porém, que o professor tenha consciência que as crianças não estarão brincando
livremente nestas situações, pois há objetivos didáticos em questão.

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Aprender em situações orientadas


A organização de situações de aprendizagens orientadas ou que dependem de uma
intervenção direta do professor permite que as crianças trabalhem com diversos

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conhecimentos. Estas aprendizagens devem estar baseadas não apenas nas propostas dos
professores, mas, essencialmente, na escuta das crianças e na compreensão do papel que
desempenham a experimentação e o erro na construção do conhecimento5 .
A intervenção do professor é necessária para que, na instituição de educação infantil,
as crianças possam, em situações de interação social ou sozinhas, ampliar suas capacidades
de apropriação dos conceitos, dos códigos sociais e das diferentes linguagens, por meio da
expressão e comunicação de sentimentos e idéias, da experimentação, da reflexão, da
elaboração de perguntas e respostas, da construção de objetos e brinquedos etc. Para isso,
o professor deve conhecer e considerar as singularidades das crianças de diferentes idades,
assim como a diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças, etnias etc. das crianças
com as quais trabalha respeitando suas diferenças e ampliando suas pautas de socialização.
Nessa perspectiva, o professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento,
organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos
e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus
conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento
humano. Na instituição de educação infantil o professor constitui-se, portanto, no parceiro
mais experiente, por excelência, cuja função é propiciar e garantir um ambiente rico,
prazeroso, saudável e não discriminatório de experiências educativas e sociais variadas.
Para que as aprendizagens infantis ocorram com sucesso, é preciso que o professor
considere, na organização do trabalho educativo:

• a interação com crianças da mesma idade e de idades diferentes


em situações diversas como fator de promoção da aprendizagem
e do desenvolvimento e da capacidade de relacionar-se;
• os conhecimentos prévios de qualquer natureza, que as crianças
já possuem sobre o assunto, já que elas aprendem por meio de
uma construção interna ao relacionar suas idéias com as novas
informações de que dispõem e com as interações que
estabelece;
• a individualidade e a diversidade;
• o grau de desafio que as atividades apresentam e o fato de que
devam ser significativas e apresentadas de maneira integrada
para as crianças e o mais próximas possíveis das práticas sociais
reais;
• a resolução de problemas como forma de aprendizagem.

5
O erro construtivo tem uma função primordial no processo cognitivo. Neste processo, a criança elabora
hipóteses que se apoiam em soluções próprias, particulares e provisórias para resolver problemas, por meio de
aproximações sucessivas ao conceito cientificamente considerado. Nem todo erro cometido pelas crianças
pode ser considerado erro construtivo, ele só faz sentido em um processo de elaboração cognitiva.

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Essas considerações podem estruturar-se nas seguintes condições gerais relativas às
aprendizagens infantis a serem seguidas pelo professor em sua prática educativa.

INTERAÇÃO

A interação social em situações diversas é uma das estratégias mais importantes do


professor para a promoção de aprendizagens pelas crianças. Assim, cabe ao professor
propiciar situações de conversa, brincadeiras ou de aprendizagens orientadas que garantam
a troca entre as crianças, de forma a que possam comunicar-se e expressar-se, demonstrando
seus modos de agir, de pensar e de sentir, em um ambiente acolhedor e que propicie a
confiança e a auto-estima. A existência de um ambiente acolhedor, porém, não significa
eliminar os conflitos, disputas e divergências presentes nas interações sociais, mas pressupõe
que o professor forneça elementos afetivos e de linguagem para que as crianças aprendam
a conviver, buscando as soluções mais adequadas para as situações com as quais se defrontam
diariamente. As capacidades de interação, porém, são também desenvolvidas quando as
crianças podem ficar sozinhas, quando elaboram suas descobertas e sentimentos e constroem
um sentido de propriedade para as ações e pensamentos já compartilhados com outras
crianças e com os adultos, o que vai potencializar novas interações. Nas situações de troca,
podem desenvolver os conhecimentos e recursos de que dispõem, confrontando-os e
reformulando-os.

Nessa perspectiva, o professor deve refletir e discutir com seus pares sobre os critérios
utilizados na organização dos agrupamentos e das situações de interação, mesmo entre
bebês, visando, sempre que possível, a auxiliar as trocas entre as crianças e, ao mesmo
tempo, garantir-lhes o espaço da individualidade. Assim, em determinadas situações, é
aconselhável que crianças com níveis de desenvolvimento diferenciados interajam; em
outras, deve-se garantir uma proximidade de crianças com interesses e níveis de
desenvolvimento semelhantes. Propiciar a interação quer dizer, portanto, considerar que
as diferentes formas de sentir, expressar e comunicar a realidade pelas crianças resultam
em respostas diversas que são trocadas entre elas e que garantem parte significativa de
suas aprendizagens. Uma das formas de propiciar essa troca é a socialização de suas
descobertas, quando o professor organiza as situações para que as crianças compartilhem
seus percursos individuais na elaboração dos diferentes trabalhos realizados.

Portanto, é importante frisar que as crianças se desenvolvem em situações de interação


social, nas quais conflitos e negociação de sentimentos, idéias e soluções são elementos
indispensáveis.

O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas para elaborar estratégias de


pensamento e de ação, possibilitando a ampliação das hipóteses infantis. Pode-se
estabelecer, nesse processo, uma rede de reflexão e construção de conhecimentos na qual
tanto os parceiros mais experientes quanto os menos experientes têm seu papel na

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interpretação e ensaio de soluções. A interação permite que se crie uma situação de ajuda
na qual as crianças avancem no seu processo de aprendizagem6.

DIVERSIDADE E INDIVIDUALIDADE

Cabe ao professor a tarefa de individualizar as situações de aprendizagens oferecidas


às crianças, considerando suas capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas assim
como os conhecimentos que possuem dos mais diferentes assuntos e suas origens
socioculturais diversas. Isso significa que o professor deve planejar e oferecer uma gama
variada de experiências que responda, simultaneamente, às demandas do grupo e às
individualidades de cada criança.

Considerar que as crianças são diferentes entre si, implica propiciar uma educação
baseada em condições de aprendizagem que respeitem suas necessidades e ritmos

6
Essas interações promovem avanços naquilo que a criança é capaz de realizar com a ajuda dos outros, ou seja,
no seu desenvolvimento potencial. A distância entre o nível de desenvolvimento potencial e o real foi
conceituada pelo pesquisador russo L. S. Vygotsky (1886-1936), como zona de desenvolvimento proximal.
Esta zona é caracterizada pela distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar por
meio da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado por meio
da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com parceiros mais experientes.

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individuais, visando a ampliar e a enriquecer as capacidades de cada criança, considerando-
as como pessoas singulares e com características próprias. Individualizar a educação infantil,
ao contrário do que se poderia supor, não é marcar e estigmatizar as crianças pelo que
diferem, mas levar em conta suas singularidades, respeitando-as e valorizando-as como
fator de enriquecimento pessoal e cultural.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E CONHECIMENTOS PRÉVIOS

Os assuntos trabalhados com as crianças devem guardar relações específicas com os


níveis de desenvolvimento das crianças em cada grupo e faixa etária e, também, respeitar
e propiciar a amplitude das mais diversas experiências em relação aos eixos de trabalho
propostos.

O processo que permite a construção de aprendizagens significativas pelas crianças


requer uma intensa atividade interna por parte delas. Nessa atividade, as crianças podem
estabelecer relações entre novos conteúdos e os conhecimentos prévios (conhecimentos
que já possuem), usando para isso os recursos de que dispõem. Esse processo possibilitará
a elas modificarem seus conhecimentos prévios, matizá-los, ampliá-los ou diferenciá-los
em função de novas informações, capacitando-as a realizar novas aprendizagens,
tornando-as significativas.

É, portanto, função do professor considerar, como ponto de partida para sua ação
educativa, os conhecimentos que as crianças possuem, advindos das mais variadas
experiências sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostas. Detectar os conhecimentos
prévios das crianças não é uma tarefa fácil. Implica que o professor estabeleça estratégias
didáticas para fazê-lo. Quanto menores são as crianças, mais difícil é a explicitação de tais
conhecimentos, uma vez que elas não se comunicam verbalmente. A observação acurada
das crianças é um instrumento essencial nesse processo. Os gestos, movimentos corporais,
sons produzidos, expressões faciais, as brincadeiras e toda forma de expressão, representação
e comunicação devem ser consideradas como fonte de conhecimento para o professor sobre
o que a criança já sabe. Com relação às crianças maiores, podem-se também criar situações
intencionais nas quais elas sejam capazes de explicitar seus conhecimentos por meio das
diversas linguagens a que têm acesso.

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Nas situações de aprendizagem o problema adquire um sentido importante quando


as crianças buscam soluções e discutem-nas com as outras crianças. Não se trata de situações
que permitam “aplicar” o que já se sabe, mas sim daquelas que possibilitam produzir
novos conhecimentos a partir dos que já se tem e em interação com novos desafios. Neste

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processo, o professor deve reconhecer as diferentes soluções, socializando os resultados
encontrados.

PROXIMIDADE COM AS PRÁTICAS SOCIAIS REAIS

A prática educativa deve buscar situações de aprendizagens que reproduzam


contextos cotidianos nos quais, por exemplo, escrever, contar, ler, desenhar, procurar uma
informação etc. tenha uma função real. Isto é, escreve-se para guardar uma informação,
para enviar uma mensagem, contam-se tampinhas para fazer uma coleção etc.

EDUCAR CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

As pessoas que apresentam necessidades especiais (portadores de deficiência mental,


auditiva, visual, física e deficiência múltipla, e portadores de altas habilidades) representam
10% da população brasileira e possuem, em sua grande maioria, uma vasta experiência de
exclusão que se traduz em grandes limitações nas possibilidades de convívio social e usufruto
dos equipamentos sociais (menos de 3% têm acesso a algum tipo de atendimento), além
de serem submetidas a diversos tipos de discriminação.

Uma ação educativa comprometida com a cidadania e com a formação de uma


sociedade democrática e não excludente deve, necessariamente, promover o convívio com
a diversidade, que é marca da vida social brasileira. Essa diversidade inclui não
somente as diversas culturas, os hábitos, os costumes, mas
também as competências, as particularidades de cada um.
Aprender a conviver e relacionar-se com pessoas que possuem
habilidades e competências diferentes, que possuem
expressões culturais e marcas sociais próprias, é condição
necessária para o desenvolvimento de valores éticos, como a
dignidade do ser humano, o respeito ao outro, a igualdade e a
equidade e a solidariedade. A criança que conviver com a
diversidade nas instituições educativas, poderá aprender muito
com ela. Pelo lado das crianças que apresentam necessidades
especiais, o convívio com as outras crianças se torna benéfico na
medida em que representa uma inserção de fato no universo social
e favorece o desenvolvimento e a aprendizagem, permitindo a
formação de vínculos estimuladores, o confronto com a diferença
e o trabalho com a própria dificuldade.

Os avanços no pensamento sociológico, filosófico e legal


vêm exigindo, por parte do sistema educacional brasileiro, o

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abandono de práticas segregacionistas
que, ao longo da história,
marginalizaram e estigmatizaram
pessoas com diferenças individuais
acentuadas. A LDB, no seu capítulo V,
Da Educação Especial, parágrafo 3 o ,
determina que: “A oferta de educação
especial, dever constitucional do
Estado, tem início na faixa etária de
zero a seis anos, durante a educação
infantil”.

A Educação Especial, termo cunhado


para a educação dirigida aos portadores de deficiência, de condutas típicas e de altas
habilidades, é considerada pela Constituição brasileira, como parte inseparável do direito à
educação. A posição da UNESCO, considera a educação especial como uma forma
enriquecida de educação em geral, que deve contribuir para a integração na sociedade dos
portadores de deficiência, de condutas típicas e de altas habilidades. O Estatuto da Criança
e do Adolescente, em seu art. 54, III, afirma que: “É dever do estado assegurar à criança e
ao adolescente (...) atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”. O MEC desenvolve, por intermédio de sua
Secretaria de Educação Especial (SEESP) uma política visando à integração das crianças
portadoras de necessidades especiais ao sistema de ensino, propondo a inclusão destas
crianças nas instituições de educação infantil.

No mundo inteiro tem se observado iniciativas no sentido da inclusão cada vez maior
das crianças com necessidades especiais nos mais diversos espaços sociais, o que culmina
hoje com a Declaração de Salamanca, de princípios, política e prática das necessidades
educativas especiais. Este documento se inspira “no princípio de integração e no
reconhecimento da necessidade de ação para conseguir escola para todos, isto é, escolas
que incluam todo mundo e conheçam as diferenças, promovam a aprendizagem e atendam
as necessidades de cada um”. A realidade brasileira, de uma forma geral, exige que se
busque alternativas para a integração do portador de deficiência, de maneira a garantir-lhe
uma convivência participativa.

A Escola Inclusiva é uma tendência internacional deste final de século. É considerada


Escola Inclusiva aquela que abre espaço para todas as crianças, abrangendo aquelas com
necessidades especiais. O principal desafio da Escola Inclusiva é desenvolver uma pedagogia
centrada na criança, capaz de educar a todas, sem discriminação, respeitando suas diferenças;
uma escola que dê conta da diversidade das crianças e ofereça respostas adequadas às suas
características e necessidades, solicitando apoio de instituições e especialistas quando isso
se fizer necessário. É uma meta a ser perseguida por todos aqueles comprometidos com o
fortalecimento de uma sociedade democrática, justa e solidária.

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As alternativas de atendimento educacional às crianças que apresentam necessidades
educativas especiais, no Brasil, vão desde o atendimento em instituições especializadas
até a completa integração nas várias instituições de educação.

A qualidade do processo de integração depende da estrutura organizacional da


instituição, pressupondo propostas que considerem:

• grau de deficiência e as potencialidades de cada criança;

• idade cronológica;

• disponibilidade de recursos humanos e materiais existentes na


comunidade;

• condições socioeconômicas e culturais da região;

• estágio de desenvolvimento dos serviços de educação especial


já implantado nas unidades federadas.

Para que o processo de integração dessas crianças possa acontecer de fato, há que se
envolver toda a comunidade, de forma a que o trabalho desenvolvido tenha sustentação. É
preciso considerar este trabalho como parte do projeto educativo da instituição.

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Secretaria de Educação Especial/MEC

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O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Embora não existam informações abrangentes sobre os profissionais que atuam


diretamente com as crianças nas creches e pré-escolas do país, vários estudos7 têm mostrado
que muitos destes profissionais ainda não têm formação adequada, recebem remuneração
baixa e trabalham sob condições bastante precárias. Se na pré-escola, constata-se, ainda
hoje, uma pequena parcela de profissionais considerados leigos, nas creches ainda é
significativo o número de profissionais sem formação escolar mínima cuja denominação é
variada: berçarista, auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, pajem, monitor,
recreacionista etc.

A constatação dessa realidade nacional diversa e desigual, porém, foi acompanhada,


nas últimas décadas, de debates a respeito das diversas concepções sobre criança, educação,
atendimento institucional e reordenamento legislativo que devem determinar a formação
de um novo profissional para responder às demandas atuais de educação da criança de zero
a seis anos. As funções deste profissional vêm passando, portanto, por reformulações
profundas. O que se esperava dele há algumas décadas não corresponde mais ao que se
espera nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates têm indicado a necessidade de uma
formação mais abrangente e unificadora para profissionais tanto de creches como de pré-
escolas e de uma restruturação dos quadros de carreira que leve em consideração os
conhecimentos já acumulados no exercício profissional, como possibilite a atualização
profissional.

Em resposta a esse debate, a LDB dispõe, no título VI, art. 62 que: “A formação de
docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura,
de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras
séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal”.
Considerando a necessidade de um período de transição que permita incorporar os
profissionais cuja escolaridade ainda não é a exigida e buscando proporcionar um tempo
para adaptação das redes de ensino, esta mesma Lei dispõe no título IX, art. 87, § 4º que:
“até o fim da década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em
nível superior ou formados por treinamento em serviço”.

Isto significa que as diferentes redes de ensino deverão colocar-se a tarefa de investir
de maneira sistemática na capacitação e atualização permanente e em serviço de seus
professores (sejam das creches8 ou pré-escolas), aproveitando as experiências acumuladas
daqueles que já vêm trabalhando com crianças há mais tempo e com qualidade. Ao mesmo

7
MEC/SEF/COEDI, 1994.
8
As diferentes funções atribuídas a berçaristas, auxiliares de educação, pajens, babás etc. deverão ser
reconsideradas e adequadas em função das demandas atuais de educação de crianças pequenas.

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Educação Pré-escolar - Número de Funções Docentes, por Grau de Formação - 1996

Unidade Funções Docentes por Grau de Formação


da Total Número Percentual
Federação 1ºº Grau 1ºº Grau 2ºº Grau 3ºº Grau 1ºº Grau 1ºº Grau 2ºº Grau 3ºº Grau
Incomp. Completo Completo Completo Incomp. Completo Completo Completo

Brasil 219.517 16.198 19.069 144.189 40.061 7,38 8,69 65,68 18,25
Norte 14.474 1.644 2.762 9.734 334 11,36 19,08 67,25 2,31
Rondônia 1.579 123 167 1.246 43 7,79 10,58 78,91 2,72
Acre 584 15 85 452 32 2,57 14,55 77,40 5,48
Amazonas 1.920 136 166 1.581 37 7,08 8,65 82,34 1,93
Roraima 622 17 134 446 25 2,73 21,54 71,70 4,02
Pará 7.308 900 1.835 4.406 167 12,32 25,11 60,29 2,29
Amapá 790 33 47 706 4 4,18 5,95 89,37 0,51
Tocantins 1.671 420 328 897 26 25,13 19,63 53,68 1,56
Nordeste 80.509 13.116 11.954 51.743 3.696 16,29 14,85 64,27 4,59
Maranhão 11.876 1.917 1.931 7.960 68 16,14 16,26 67,03 0,57
Piauí 6.317 1.393 803 4.045 76 22,05 12,71 64,03 1,20
Ceará 13.434 2.358 3.099 7.545 432 17,55 23,07 56,16 3,22
R. G. do Norte 5.478 856 682 3.649 291 15,63 12,45 66,61 5,31
Paraíba 6.027 1.245 1.159 3.172 451 20,66 19,23 52,63 7,48
Pernambuco 9.240 311 617 6.897 1.415 3,37 6,68 74,64 15,31
Alagoas 3.593 625 750 2.033 185 17,39 20,87 56,58 5,15
Sergipe 3.603 594 619 2.123 267 16,49 17,18 58,92 7,41
Bahia 20.941 3.817 2.294 14.319 511 18,23 10,95 68,38 2,44
Sudeste 82.798 438 1.575 55.052 25.733 0,53 1,90 66,49 31,08
Minas Gerais 21.318 240 415 15.552 5.111 1,13 1,95 72,95 23,98
Espírito Santo 4.467 15 42 3.684 726 0,34 0,94 82,47 16,25
Rio de Janeiro 16.334 170 622 13.030 2.512 1,04 3,81 79,77 15,38
São Paulo 40.679 13 496 22.786 17.384 0,03 1,22 56,01 42,73
Sul 29.844 671 2.008 19.662 7.503 2,25 6,73 65,88 25,14
Paraná 9.743 175 497 6.255 2.816 1,80 5,10 64,20 28,90
Santa Catarina 11.749 399 1.246 8.214 1.890 3,40 10,61 69,91 16,09
R. G. do Sul 8.352 97 265 5.193 2.797 1,16 3,17 62,18 33,49
Centro-Oeste 11.892 329 770 7.998 2.795 2,77 6,47 67,26 23,50
M. G. do Sul 2.579 58 92 1.429 1.000 2,25 3,57 55,41 38,77
Mato Grosso 2.381 82 216 1.515 568 3,44 9,07 63,63 23,86
Goiás 4.349 189 446 3.241 473 4,35 10,26 74,52 10,88
Distrito Federal 2.583 16 1.813 754 0,00 0,62 70,19 29,19

Fonte:MEC/INEP/SEEC

Nota: o mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um estabelecimento.

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tempo, deverão criar condições de formação regular de seus profissionais, ampliando-lhes
chances de acesso à carreira como professores de educação infantil, função que passa a lhes
ser garantida pela LDB, caso cumpridos os pré-requisitos. Nessa perspectiva, faz-se
necessário que estes profissionais, nas instituições de educação infantil, tenham ou venham
a ter uma formação inicial sólida e consistente acompanhada de adequada e permanente
atualização em serviço. Assim, o diálogo no interior da categoria tanto quanto os
investimentos na carreira e formação do profissional pelas redes de ensino é hoje um desafio
presente, com vista à profissionalização do docente de educação infantil.
Em consonância com a LDB, este Referencial utiliza a denominação “professor de
educação infantil”9 para designar todos os/as profissionais responsáveis pela educação direta
das crianças de zero a seis anos, tenham eles/elas uma formação especializada ou não.

PERFIL PROFISSIONAL

O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma
competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com
conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até
conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter
polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve
tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo
com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações
necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão
sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação.

A implementação e/ou implantação de uma proposta curricular de qualidade depende,


principalmente dos professores que trabalham nas instituições. Por meio de suas ações,
que devem ser planejadas e compartilhadas com seus pares e outros profissionais da
instituição, pode-se construir projetos educativos de qualidade junto aos familiares e às
crianças. A idéia que preside a construção de um projeto educativo é a de que se trata de
um processo sempre inacabado, provisório e historicamente contextualizado que demanda
reflexão e debates constantes com todas as pessoas envolvidas e interessadas.

Para que os projetos educativos das instituições possam, de fato, representar esse
diálogo e debate constante, é preciso ter professores que estejam comprometidos com a
prática educacional, capazes de responder às demandas familiares e das crianças, assim
como às questões específicas relativas aos cuidados e aprendizagens infantis.

9
O corpo profissional de grande parte das instituições de educação infantil de todo o país, hoje, é ainda
formado, em sua grande maioria, por mulheres. Este Referencial dirige-se ao professor de educação infantil
como categoria genérica.

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Fotos: Iolanda Huzak

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ORGANIZAÇÃO DO REFERENCIAL
CURRICULAR NACIONAL PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL

A partir do diagnóstico realizado pela COEDI/DPE/SEF/MEC das propostas


pedagógicas e dos currículos de educação infantil de vários estados e municípios brasileiros
em 1996, pode-se observar alguns dados importantes que contribuem para a reflexão sobre
a organização curricular e seus componentes.

Essa análise aponta para o fato de que a maioria das propostas concebe a criança
como um ser social, psicológico e histórico, tem no construtivismo sua maior referência
teórica, aponta o universo cultural da criança como ponto de partida para o trabalho e
defende uma educação democrática e transformadora da realidade, que objetiva a formação
de cidadãos críticos. Ao mesmo tempo, constata-se um grande desencontro entre os
fundamentos teóricos adotados e as orientações metodológicas. Não são explicitadas as
formas que possibilitam a articulação entre o universo cultural das crianças, o
desenvolvimento infantil e as áreas do conhecimento.

Com o objetivo de tornar visível uma possível forma de articulação, a estrutura do


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil relaciona objetivos gerais e
específicos, conteúdos e orientações didáticas numa perspectiva de operacionalização do
processo educativo.

Para tanto estabelece uma integração curricular na qual os objetivos gerais para a
educação infantil norteiam a definição de objetivos específicos para os diferentes eixos de
trabalho. Desses objetivos específicos decorrem os conteúdos que possibilitam concretizar
as intenções educativas. O tratamento didático que busca garantir a coerência entre objetivos
e conteúdos se explicita por meio das orientações didáticas.

Essa estrutura se apoia em uma organização por idades — crianças de zero a três
anos e crianças de quatro a seis anos — e se concretiza em dois âmbitos de experiências —
Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo — que são constituídos pelos
seguintes eixos de trabalho: Identidade e autonomia, Movimento, Artes visuais, Música,
Linguagem oral e escrita, Natureza e sociedade, e Matemática.

Cada documento de eixo se organiza em torno de uma estrutura comum, na qual


estão explicitadas: as idéias e práticas correntes relacionadas ao eixo e à criança e aos
seguintes componentes curriculares: objetivos; conteúdos e orientações didáticas;
orientações gerais para o professor e bibliografia.

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Organização por idade
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, explicita no art. 30,
capítulo II, seção II que: “A educação infantil será oferecida em: I - creches ou entidades
equivalentes para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de
quatro a seis anos”.

Este Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil adota a mesma


divisão por faixas etárias contemplada nas disposições da LDB. Embora arbitrária do ponto
de vista das diversas teorias de desenvolvimento, buscou-se apontar possíveis regularidades
relacionadas aos aspectos afetivos, emocionais, cognitivos e sociais das crianças das
faixas etárias abrangidas. No entanto, em alguns documentos fez-se uma diferenciação
para os primeiros 12 meses de vida da criança, considerando-se as especificidades dessa
idade.

A opção pela organização dos objetivos, conteúdos e orientações didáticas por faixas
etárias e não pela designação institucional — creche e pré-escola — pretendeu também
considerar a variação de faixas etárias encontradas nos vários programas de atendimento
nas diferentes regiões do país, não identificadas com as determinações da LDB.

Organização em âmbitos e eixos


Frente ao mundo sociocultural e natural que se apresenta de maneira diversa e
polissêmica optou-se por um recorte curricular que visa a instrumentalizar a ação do
professor, destacando os âmbitos de experiências essenciais que devem
servir de referência para a prática educativa. Considerando-se as
particularidades da faixa etária compreendida entre zero e seis
anos e suas formas específicas de aprender criou-se categorias
curriculares para organizar os conteúdos a serem trabalhados
nas instituições de educação infantil. Esta organização visa
a abranger diversos e múltiplos espaços de elaboração de
conhecimentos e de diferentes linguagens, a construção
da identidade, os processos de socialização e o
desenvolvimento da autonomia das crianças que
propiciam, por sua vez, as aprendizagens consideradas
essenciais. Os âmbitos são compreendidos como
domínios ou campos de ação que dão visibilidade aos
eixos de trabalho educativo para que o professor possa
organizar sua prática e refletir sobre a abrangência das
experiências que propicia às crianças.

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O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil define dois âmbitos de
experiências: Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo. É preciso ressaltar
que esta organização possui um caráter instrumental e didático, devendo os professores ter
consciência, em sua prática educativa, que a construção de conhecimentos se processa de
maneira integrada e global e que há inter-relações entre os diferentes âmbitos a serem
trabalhados com as crianças.

O âmbito de Formação Pessoal e Social refere-se às experiências que favorecem,


prioritariamente, a construção do sujeito. Está organizado de forma a explicitar as complexas
questões que envolvem o desenvolvimento de capacidades de natureza global e afetiva
das crianças, seus esquemas simbólicos de interação com os outros e com o meio, assim
como a relação consigo mesmas. O trabalho com este âmbito pretende que as instituições
possam oferecer condições para que as crianças aprendam a
conviver, a ser e a estar com os outros e consigo mesmas em
uma atitude básica de aceitação, de respeito e de confiança.
Este âmbito abarca um eixo de trabalho denominado
Identidade e autonomia.

O âmbito de Conhecimento de Mundo refere-


se à construção das diferentes linguagens pelas
crianças e às relações que estabelecem com os objetos
de conhecimento. Este âmbito traz uma ênfase na
relação das crianças com alguns aspectos da cultura.
A cultura é aqui entendida de uma forma
ampla e plural, como o conjunto de
códigos e produções simbólicas,
científicas e sociais da humanidade
construído ao longo das histórias dos
diversos grupos, englobando múltiplos aspectos e em constante processo de reelaboração
e ressignificação. Esta idéia de cultura transcende, mas engloba os interesses momentâneos,
as tradições específicas e as convenções de grupos sociais particulares. O domínio progressivo
das diferentes linguagens que favorecem a expressão e comunicação de sentimentos,
emoções e idéias das crianças, propiciam a interação com os outros e facilitam a mediação
com a cultura e os conhecimentos constituídos. Incide sobre aspectos essenciais do
desenvolvimento e da aprendizagem e engloba instrumentos fundamentais para as crianças
continuarem a aprender ao longo da vida.

Destacam-se os seguintes eixos de trabalho: Movimento, Artes visuais, Música,


Linguagem oral e escrita, Natureza e sociedade, Matemática.

Estes eixos foram escolhidos por se constituírem em uma parcela significativa da


produção cultural humana que amplia e enriquece as condições de inserção das crianças na
sociedade.

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Componentes curriculares

OBJETIVOS

Os objetivos explicitam intenções educativas e estabelecem capacidades que as


crianças poderão desenvolver como conseqüência de ações intencionais do professor.
Os objetivos auxiliam na seleção de conteúdos e meios didáticos.

A definição dos objetivos em termos de capacidades — e não de comportamentos —


visa a ampliar a possibilidade de concretização das intenções educativas, uma vez que as
capacidades se expressam por meio de diversos comportamentos e as aprendizagens que
convergem para ela podem ser de naturezas diversas. Ao estabelecer objetivos nesses termos,
o professor amplia suas possibilidades de atendimento à diversidade apresentada pelas
crianças, podendo considerar diferentes habilidades, interesses e maneiras de aprender no
desenvolvimento de cada capacidade.

Embora as crianças desenvolvam suas capacidades de maneira heterogênea, a


educação tem por função criar condições para o desenvolvimento integral de todas as
crianças, considerando, também, as possibilidades de aprendizagem que apresentam nas
diferentes faixas etárias. Para que isso ocorra, faz-se necessário uma atuação que propicia o
desenvolvimento de capacidades envolvendo aquelas de ordem física, afetiva, cognitiva,
ética, estética, de relação interpessoal e inserção social.

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As capacidades de ordem física estão associadas à possibilidade de apropriação e
conhecimento das potencialidades corporais, ao auto conhecimento, ao uso do corpo na
expressão das emoções, ao deslocamento com segurança.

As capacidades de ordem cognitiva estão associadas ao desenvolvimento dos recursos


para pensar, o uso e apropriação de formas de representação e comunicação envolvendo
resolução de problemas.

As capacidades de ordem afetiva estão associadas à construção da auto-estima, às


atitudes no convívio social, à compreensão de si mesmo e dos outros.

As capacidades de ordem estética estão associadas à possibilidade de produção artística


e apreciação desta produção oriundas de diferentes culturas.

As capacidades de ordem ética estão associadas à possibilidade de construção de


valores que norteiam a ação das crianças.

As capacidades de relação interpessoal estão associadas à possibilidade de


estabelecimento de condições para o convívio social. Isso implica aprender a conviver com
as diferenças de temperamentos, de intenções, de hábitos e costumes, de cultura etc.

As capacidades de inserção social estão associadas à possibilidade de cada criança


perceber-se como membro participante de um grupo de uma comunidade e de uma
sociedade.

Para que se possa atingir os objetivos é necessário selecionar conteúdos que auxiliem
o desenvolvimento destas capacidades.

CONTEÚDOS

As diferentes aprendizagens se dão por meio de sucessivas reorganizações do


conhecimento, e este processo é protagonizado pelas crianças quando podem vivenciar
experiências que lhes forneçam conteúdos apresentados de forma não simplificada e
associados a práticas sociais reais. É importante marcar que não há aprendizagem sem
conteúdos.

Pesquisas e produções teóricas realizadas, principalmente durante a última década,


apontam a importância das aprendizagens específicas para os processos de desenvolvimento
e socialização do ser humano, ressignificando o papel dos conteúdos nos processos de
aprendizagem.

Muitas das pautas culturais e saberes socialmente constituídos são aprendidos por
meio do contato direto ou indireto com atividades diversas, que ocorrem nas diferentes
situações de convívio social das quais as crianças participam no âmbito familiar e cotidiano.

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Outras aprendizagens, no entanto, dependem de situações educativas criadas especialmente
para que ocorram. O planejamento dessas situações envolve a seleção de conteúdos
específicos a essas aprendizagens.

Nessa perspectiva, este Referencial concebe os conteúdos, por um lado, como a


concretização dos propósitos da instituição e, por outro, como um meio para que as crianças
desenvolvam suas capacidades e exercitem sua maneira própria de pensar, sentir e ser,
ampliando suas hipóteses acerca do mundo ao qual pertencem e constituindo-se em um
instrumento para a compreensão da realidade. Os conteúdos abrangem, para além de fatos,
conceitos e princípios, também os conhecimentos relacionados a procedimentos, atitudes,
valores e normas como objetos de aprendizagem. A explicitação de conteúdos de naturezas
diversas aponta para a necessidade de se trabalhar de forma intencional e integrada com
conteúdos que, na maioria das vezes, não são tratados de forma explícita e consciente.

Esta abordagem é didática e visa a destacar a importância de se dar um tratamento


apropriado aos diferentes conteúdos, instrumentalizando o planejamento do professor para
que possa contemplar as seguintes categorias: os conteúdos conceituais que dizem respeito
ao conhecimento de conceitos, fatos e princípios; os conteúdos procedimentais referem-se
ao “saber fazer” e os conteúdos atitudinais estão associados a valores, atitudes e normas.
Nos eixos de trabalho, estas categorias de conteúdos estão contempladas embora não estejam
explicitadas de forma discriminada.

A seguir, as categorias de conteúdos serão melhor explicadas de forma a subsidiar a


reflexão e o planejamento do professor.

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Os conteúdos conceituais referem-se à construção ativa das capacidades para operar
com símbolos, idéias, imagens e representações que permitem atribuir sentido à realidade.
Desde os conceitos mais simples até os mais complexos, a aprendizagem se dá por meio de
um processo de constantes idas e vindas, avanços e recuos nos quais as crianças constroem
idéias provisórias, ampliam-nas e modificam-nas, aproximando-se gradualmente de
conceitualizações cada vez mais precisas.

O conceito que uma criança faz do que seja um cachorro, por exemplo, depende das
experiências que ela tem que envolvam seu contato com cachorros. Se num primeiro
momento, ela pode, por exemplo, designar como “Au-Au” todo animal, fazendo uma
generalização provisória, o acesso a uma nova informação, por exemplo, o fato de que gatos
diferem de cachorros, permite-lhe reorganizar o conhecimento que possui e modificar a
idéia que tem sobre o que é um cachorro. Esta conceitualização, ainda provisória, será
suficiente por algum tempo — até o momento em que ela entrar em contato com um novo
conhecimento.

Assim, deve-se ter claro que alguns conteúdos conceituais são possíveis de serem
apropriados pelas crianças durante o período da educação infantil. Outros não, e estes
necessitarão de mais tempo para que possam ser construídos. Isso significa dizer que muitos
conteúdos serão trabalhados com o objetivo apenas de promover aproximações a um
determinado conhecimento, de colaborar para elaboração de hipóteses e para a manifestação
de formas originais de expressão.

Iolanda Huzak

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Os conteúdos procedimentais
referem-se ao saber fazer. A
aprendizagem de procedimentos está
diretamente relacionada à
possibilidade de a criança construir
instrumentos e estabelecer caminhos
que lhes possibilitem a realização de
suas ações. Longe de ser mecânica e
destituída de sentido, a aprendizagem de procedimentos constitui-se em um importante
componente para o desenvolvimento das crianças, pois relaciona-se a um percurso de tomada
de decisões. Desenvolver procedimentos significa apropriar-se de “ferramentas” da cultura
humana necessárias para viver. No que se refere à educação infantil, saber manipular
corretamente os objetos de uso cotidiano que existem à sua volta, por exemplo, é um
procedimento fundamental, que responde às necessidades imediatas para inserção no
universo mais próximo. É o caso de vestir-se ou amarrar os sapatos, que constituem-se em
ações procedimentais importantes no processo de conquista da independência. Dispor-se
a perguntar é uma atitude fundamental para o processo de aprendizagem. Da mesma forma,
para que as crianças possam exercer a cooperação, a solidariedade e o respeito, por exemplo,
é necessário que aprendam alguns procedimentos importantes relacionados às formas de
colaborar com o grupo, de ajudar e pedir ajuda etc.
Deve-se ter em conta que a aprendizagem de procedimentos será, muitas vezes,
trabalhada de forma articulada com conteúdos conceituais e atitudinais.

Os conteúdos atitudinais tratam dos valores, das normas e das atitudes. Conceber
valores, normas e atitudes como conteúdos implica torná-los explícitos e compreendê-los
como passíveis de serem aprendidos e planejados.

As instituições educativas têm uma função básica de socialização e, por esse motivo,
têm sido sempre um contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os valores
impregnam toda a prática educativa e são aprendidos pelas crianças, ainda que não sejam
considerados como conteúdos a serem trabalhados explicitamente, isto é, ainda que não
sejam trabalhados de forma consciente e intencional. A aprendizagem de conteúdos deste
tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se pretende
trabalhar estejam presentes desde as relações entre as pessoas até a seleção dos conteúdos,
passando pela própria forma de organização da instituição. A falta de coerência entre o
discurso e a prática é um dos fatores que promove o fracasso do trabalho com os valores.
Nesse sentido, dar o exemplo evidencia que é possível agir de acordo com valores
determinados. Do contrário, os valores tornam-se vazios de sentido e aproximam-se mais
de uma utopia não realizável do que de uma realidade possível.

Para que as crianças possam aprender conteúdos atitudinais, é necessário que o


professor e todos os profissionais que integram a instituição possam refletir sobre os valores
que são transmitidos cotidianamente e sobre os valores que se quer desenvolver. Isso

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significa um posicionamento claro sobre o quê e o como se aprende nas instituições de
educação infantil.

Deve-se ter em conta que, por mais que se tenha a intenção de trabalhar com atitudes
e valores, nunca a instituição dará conta da totalidade do que há para ensinar. Isso significa
dizer que parte do que as crianças aprendem não é ensinado de forma sistemática e
consciente e será aprendida de forma incidental. Isso amplia a responsabilidade de cada
um e de todos com os valores e as atitudes que cultivam.

Iolanda Huzak

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Organização dos conteúdos por blocos

Os conteúdos são apresentados nos diversos eixos de trabalho, organizados por blocos.
Essa organização visa a contemplar as dimensões essenciais de cada eixo e situar os diferentes
conteúdos dentro de um contexto organizador que explicita suas especificidades por um
lado e aponta para a sua “origem” por outro. Por exemplo, é importante que o professor
saiba, ao ler uma história para as crianças, que está trabalhando não só a leitura, mas também,
a fala, a escuta, e a escrita; ou, quando organiza uma atividade de percurso, que está
trabalhando tanto a percepção do espaço, como o equilíbrio e a coordenação da criança.
Esses conhecimentos ajudam o professor a dirigir sua ação de forma mais consciente,
ampliando as suas possibilidades de trabalho.

Embora estejam elencados por eixos de trabalho, muitos conteúdos encontram-se


contemplados em mais de um eixo. Essa opção visa a apontar para o tratamento integrado
que deve ser dado aos conteúdos. Cabe ao professor organizar seu planejamento de forma
a aproveitar as possibilidades que cada conteúdo oferece, não restringindo o trabalho a um
único eixo, em fragmentando o conhecimento.

Seleção de conteúdos

Os conteúdos aqui elencados pretendem oferecer um repertório que possa auxiliar o


desenvolvimento das capacidades colocadas nos objetivos gerais. No entanto, considerando
as características particulares de cada grupo e suas necessidades, cabe ao professor selecioná-
los e adequá-los de forma que sejam significativos para as crianças.

Deve se ter em conta que o professor, com vistas a


desenvolver determinada capacidade, pode priorizar
determinados conteúdos; trabalhá-los em diferentes momentos
do ano; voltar a eles diversas vezes, aprofundando-os a cada vez
etc. Como são múltiplas as possibilidades de escolha de
conteúdos, os critérios para selecioná-los devem se atrelar ao
grau de significado que têm para as crianças. É importante,
também, que o professor considere as possibilidades que os
conteúdos oferecem para o avanço do processo de aprendizagem
e para a ampliação de conhecimento que possibilita.

Integração dos conteúdos

Os conteúdos são compreendidos, aqui, como instrumentos para


analisar a realidade, não se constituindo um fim em si mesmos. Para que as
crianças possam compreender a realidade na sua complexidade e enriquecer

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sua percepção sobre ela, os conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada,
relacionados entre si. Essa integração possibilita que a realidade seja analisada por diferentes
aspectos, sem fragmentá-la. Um passeio pela rua pode oferecer elementos referentes à
análise das paisagens, à identificação de características de diferentes grupos sociais, à
presença de animais, fenômenos da natureza, ao contato com a escrita e os números
presentes nas casas, placas etc., contextualizando cada elemento na complexidade do meio.
O mesmo passeio envolve, também, aprendizagens relativas à socialização, mobilizam
sentimentos e emoções constituindo-se em uma atividade que pode contribuir para o
desenvolvimento das crianças.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS

Os conteúdos estão intrinsecamente relacionados com a forma como são trabalhados


com as crianças. Se, de um lado, é verdade que a concepção de aprendizagem adotada
determina o enfoque didático, é igualmente verdade, de outro lado, que nem sempre esta
relação se explicita de forma imediata. A prática educativa é bastante complexa e são
inúmeras as questões que se apresentam no cotidiano e que transcendem o planejamento
didático e a própria proposta curricular. Na perspectiva de explicitar algumas indicações
sobre o enfoque didático e apoiar o trabalho do professor, as orientações didáticas
situam-se no espaço entre as intenções educativas e a prática. As orientações didáticas são
subsídios que remetem ao “como fazer”, à intervenção direta do professor na promoção de
atividades e cuidados alinhados com uma concepção de criança e de educação.
Vale lembrar que estas orientações não representam um modelo fechado que define
um padrão único de intervenção. Pelo contrário, são indicações e sugestões para subsidiar
a reflexão e a prática do professor.

Cada documento de eixo contém orientações didáticas gerais e as específicas aos


diversos blocos de conteúdos. Nas orientações didáticas gerais explicitam-se condições
relativas à: princípios gerais do eixo; organização do tempo, do espaço e dos materiais;
observação, registro e avaliação.

Organização do tempo

A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático,
ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina deve envolver os
cuidados, as brincadeiras e as situações de aprendizagens orientadas. A apresentação de
novos conteúdos às crianças requer sempre as mais diferentes estruturas didáticas, desde
contar uma nova história, propor uma técnica diferente de desenho até situações mais

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Iolanda Huzak

elaboradas, como, por exemplo, o desenvolvimento de um projeto, que requer um


planejamento cuidadoso com um encadeamento de ações que visam a desenvolver
aprendizagens específicas. Estas estruturas didáticas contêm múltiplas estratégias que são
organizadas em função das intenções educativas expressas no projeto educativo,
constituindo-se em um instrumento para o planejamento do professor. Podem ser agrupadas
em três grandes modalidades de organização do tempo. São elas: atividades permanentes,
seqüência de atividades e projetos de trabalho.

Atividades permanentes

São aquelas que respondem às necessidades básicas de cuidados, aprendizagem e


de prazer para as crianças, cujos conteúdos necessitam de uma constância. A escolha dos
conteúdos que definem o tipo de atividades permanentes a serem realizadas com freqüência
regular, diária ou semanal, em cada grupo de crianças, depende das prioridades elencadas
a partir da proposta curricular. Consideram-se atividades permanentes, entre outras:

• brincadeiras no espaço interno e externo;

• roda de história;

• roda de conversas;

• ateliês ou oficinas de desenho, pintura, modelagem e música;

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• atividades diversificadas ou ambientes organizados por temas
ou materiais à escolha da criança, incluindo momentos para
que as crianças possam ficar sozinhas se assim o desejarem;

• cuidados com o corpo.

Seqüência de atividades

São planejadas e orientadas com o objetivo de promover uma aprendizagem específica


e definida. São seqüenciadas com intenção de oferecer desafios com graus diferentes de
complexidade para que as crianças possam ir paulatinamente resolvendo problemas a partir
de diferentes proposições. Estas seqüências derivam de um conteúdo retirado de um dos
eixos a serem trabalhados e estão necessariamente dentro de um contexto específico.

Por exemplo: se o objetivo é fazer com que as crianças avancem em relação à


representação da figura humana por meio do desenho, pode-se planejar várias etapas de
trabalho para ajudá-las a reelaborar e enriquecer seus conhecimentos prévios sobre esse
assunto, como observação de pessoas, de desenhos ou pinturas de artistas e de fotografias;
atividades de representação a partir destas observações; atividades de representação a partir
de interferências previamente planejadas pelo educador etc.

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Projetos de trabalho

Os projetos são conjuntos de atividades que trabalham com conhecimentos


específicos construídos a partir de um dos eixos de trabalho que se organizam ao redor de
um problema para resolver ou um produto final que se quer obter. Possui uma duração que
pode variar conforme o objetivo, o desenrolar das várias etapas, o desejo e o interesse das
crianças pelo assunto tratado. Comportam uma grande dose de imprevisibilidade, podendo
ser alterado sempre que necessário, tendo inclusive modificações no produto final. Alguns
projetos, como fazer uma horta ou uma coleção, podem durar um ano inteiro, ao passo que
outros, como, por exemplo, elaborar um livro de receitas, podem ter uma duração menor.
Por partirem sempre de questões que necessitam ser respondidas, possibilitam um contato
com as práticas sociais reais. Dependem, em grande parte, dos interesses das crianças,
precisam ser significativos, representar uma questão comum para todas e partir de uma
indagação da realidade. É importante que os desafios apresentados sejam possíveis de
serem enfrentados pelo grupo de crianças. Um dos ganhos de se trabalhar com projetos é
possibilitar às crianças que a partir de um assunto relacionado com um dos eixos de trabalho,
possam estabelecer múltiplas relações, ampliando suas idéias sobre um assunto específico,
buscando complementações com conhecimentos pertinentes aos diferentes eixos. Esse
aprendizado serve de referência para outras situações, permitindo generalizações de ordens
diversas.

A realização de um projeto depende de várias etapas de trabalho que devem ser


planejadas e negociadas com as crianças para que elas possam se engajar e acompanhar o

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percurso até o produto final. O que se deseja alcançar justifica as etapas de elaboração. O
levantamento dos conhecimentos prévios das crianças sobre o assunto em pauta deve se
constituir no primeiro passo. A socialização do que o grupo já sabe e o levantamento do
que desejam saber, isto é, as dúvidas que possuem, pode se constituir na outra etapa.
Onde procurar as informações pode ser uma decisão compartilhada com crianças, familiares
e demais funcionários da instituição. Várias fontes de informações poderão ser usadas,
como livros, enciclopédias, trechos de filmes, análise de imagens, entrevistas com as mais
diferentes pessoas, visitas a recursos da comunidade etc. O registro dos conhecimentos
que vão sendo construídos pelas crianças deve permear todo o trabalho, podendo incluir
relatos escritos, fitas gravadas, fotos, produção das crianças, desenhos etc. Os projetos contêm
seqüências de atividades e pode-se utilizar atividades permanentes já em curso.

A característica principal dos projetos é a visibilidade final do produto e a solução do


problema compartilhado com as crianças. Ao final de um projeto, pode-se dizer que a
criança aprendeu porque teve uma intensa participação que envolveu a resolução de
problemas de naturezas diversas. Soma-se a todas essas características mais uma, ligada ao
caráter lúdico que os projetos na educação infantil têm. Se o projeto é sobre castelos, reis,
rainhas, as crianças podem incorporar em suas brincadeiras conhecimentos que foram
construindo, e o produto final pode ser um baile medieval. Há muitos projetos que envolvem
a elaboração de bonecos do tamanho de adultos, outros a construção de circos, de maquetes,
produtos que por si só já representam criação e diversão para as crianças, sem contar o
prazer que lhes dá de conhecer o mundo.

Organização do espaço e seleção dos materiais

A organização dos espaços e dos materiais se constitui em um instrumento


fundamental para a prática educativa com crianças pequenas. Isso implica que, para cada
trabalho realizado com as crianças, deve-se planejar a forma mais adequada de organizar o
mobiliário dentro da sala, assim como introduzir materiais específicos para a montagem de
ambientes novos, ligados aos projetos em curso. Além disso, a aprendizagem transcende o
espaço da sala, toma conta da área externa e de outros espaços da instituição e fora dela. A
pracinha, o supermercado, a feira, o circo, o zoológico, a biblioteca, a padaria etc. são mais
do que locais para simples passeio, podendo enriquecer e potencializar as aprendizagens.

Observação, registro e avaliação formativa

A observação e o registro se constituem nos principais instrumentos de que o professor


dispõe para apoiar sua prática. Por meio deles o professor pode registrar, contextualmente,
os processos de aprendizagem das crianças; a qualidade das interações estabelecidas com
outras crianças, funcionários e com o professor e acompanhar os processos de

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desenvolvimento obtendo informações sobre as experiências das crianças na instituição.
Esta observação e seu registro fornecem aos professores uma visão integral das crianças ao
mesmo tempo que revelam suas particularidades.

São várias as maneiras pelas quais a observação pode ser registrada pelos professores.
A escrita é, sem dúvida, a mais comum e acessível. O registro diário de suas observações,
impressões, idéias etc. pode compor um rico material de reflexão e ajuda para o planejamento
educativo. Outras formas de registro também, podem ser consideradas, como a gravação
em áudio e vídeo; produções das crianças ao longo do tempo; fotografias etc.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada em dezembro de 1996,


estabelece, na Seção II, referente à educação infantil,
artigo 31 que: “... a avaliação far-se-á mediante o
acompanhamento e registro do seu desenvolvimento,
sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso
ao ensino fundamental”.

Existem ainda no Brasil práticas na educação


infantil que possuem um entendimento equivocado da
avaliação nessa etapa da educação, o que vem gerando
sérios problemas, com conseqüências preocupantes,
sobretudo, para as crianças de determinadas camadas
da sociedade. A mais grave é a existência das chamadas
“classes de alfabetização” que conferem à educação
infantil o caráter de terminalidade. São classes que
atendem crianças a partir de seis anos, retendo-as
até que estejam alfabetizadas. As crianças que
freqüentam essas classes não ingressam na primeira
série do ensino fundamental, até que tenham
atingido os padrões desejáveis de aprendizagem da
leitura e escrita. A essas crianças têm sido vedado,
assim, o direito constitucional de serem matriculadas
na primeira série do ensino fundamental aos sete anos de idade. Outras práticas de avaliação
conferem às produções das crianças: notas, conceitos, estrelas, carimbos com desenhos de
caras tristes ou alegres conforme o julgamento do professor. A avaliação nessa etapa deve
ser processual e destinada a auxiliar o processo de aprendizagem, fortalecendo a auto-
estima das crianças.

Neste documento, a avaliação é entendida, prioritariamente, como um conjunto de


ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e
ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças. É um elemento indissociável
do processo educativo que possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades
e criar situações que gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como função
acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo.

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No que se refere às crianças, a avaliação deve permitir que elas acompanhem suas
conquistas, suas dificuldades e suas possibilidades ao longo de seu processo de
aprendizagem. Para que isso ocorra, o professor deve compartilhar com elas aquelas
observações que sinalizam seus avanços e suas possibilidades de superação das dificuldades.
São várias as situações cotidianas nas quais isso já ocorre, como, por exemplo, quando o
professor diz: “Olhe que bom, você já está conseguindo se servir sozinho”, ou quando
torna observável para as crianças o que elas sabiam fazer quando chegaram na instituição
com o que sabem até aquele momento. Nessas situações, o retorno para as crianças se dá
de forma contextualizada, o que fortalece a função formativa que deve ser atribuída à
avaliação. Além dessas, existem outras situações que podem ser aproveitadas ou criadas
com o objetivo de situar a criança frente ao seu processo de aprendizagem. É importante
que o professor tenha consciência disso, para que possa atuar de forma cada vez mais
intencional. Isso significa definir melhor a quem se dirige a avaliação — se ao grupo todo
ou às crianças em particular; qual o melhor momento para explicitá-la e como deve ser
feito. Esses momentos de retorno da avaliação para a criança devem incidir prioritariamente
sobre as suas conquistas. Apontar aquilo que a criança não consegue realizar ou não sabe,
só faz sentido numa perspectiva de possível superação, quando o professor detém
conhecimento sobre as reais possibilidades de avanço da criança e sobre as possibilidades
que ele tem para ajudá-la. Do contrário, ao invés de potencializar a ação das crianças e
fortalecer a sua auto-estima, a avaliação pode provocar-lhes um sentimento de impotência
e fracasso. Outro ponto importante de se marcar, refere-se à representação que a criança
constrói sobre a avaliação. O professor deve ter consciência de que a forma como a avaliação
é compreendida, na instituição e por ele próprio, será de fundamental importância para
que a criança possa construir uma representação positiva da mesma.
A avaliação também é um excelente instrumento para que a instituição possa
estabelecer suas prioridades para o trabalho educativo, identificar pontos que necessitam
de maior atenção e reorientar a prática, definindo o que avaliar, como e quando em
consonância com os princípios educativos que elege.

Para que possa se constituir como um instrumento voltado para reorientar a prática
educativa, a avaliação deve
se dar de forma sistemática
e contínua, tendo como
objetivo principal a
melhoria da ação
educativa. O professor,
ciente do que pretende que
as crianças aprendam, pode
selecionar determinadas
produções das crianças ao
longo de um período para

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obter com mais precisão informações sobre sua aprendizagem. Os pais, também, têm o
direito de acompanhar o processo de aprendizagem de suas crianças, se inteirando
dos avanços e conquistas, compreendendo os objetivos e as ações desenvolvidas pela
instituição.

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Daniela Pannuti

Iolanda Huzak

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OBJETIVOS GERAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

A prática da educação infantil deve se organizar de modo que as crianças desenvolvam


as seguintes capacidades:

• desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada


vez mais independente, com confiança em suas capacidades e
percepção de suas limitações;

• descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas


potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando
hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar;

• estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças,


fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas
possibilidades de comunicação e interação social;

• estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais,


aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de
vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo
atitudes de ajuda e colaboração;

• observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade,


percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e
agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes
que contribuam para sua conservação;

• brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos,


desejos e necessidades;

• utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral


e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de
comunicação, de forma a compreender e ser compreendido,
expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e
avançar no seu processo de construção de significados,
enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva;

• conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando


atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e
valorizando a diversidade.

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A INSTITUIÇÃO E O PROJETO EDUCATIVO

O Referencial Curricular propõe um diálogo com programas e projetos curriculares


de instituições de educação infantil, nos estados e municípios. Este diálogo supõe atentar
para duas dimensões complementares que possam garantir a efetividade das propostas:
uma de natureza externa; outra, interna às instituições.

Condições externas
As particularidades de cada proposta curricular devem estar vinculadas principalmente
às características socioculturais da comunidade na qual a instituição de educação infantil
está inserida e às necessidades e expectativas da população atendida. Conhecer bem essa
população permite compreender suas reais condições de vida, possibilitando eleger os temas
mais relevantes para o processo educativo de modo a atender a diversidade existente em
cada grupo social.

Nos diferentes municípios, existe um conjunto de conhecimentos, formas de viver


e de se divertir, de se manifestar religiosamente, de trabalhar etc. que se constitui em uma
cultura própria. A valorização e incorporação desta cultura no currículo das instituições é
fonte valiosa para a intervenção pedagógica. Além disso, o conhecimento das questões
específicas de cada região, sejam elas de ordem econômica, social ou ambiental permite a
elaboração de propostas curriculares mais significativas.

A problemática social de muitas das comunidades brasileiras faz com que os


profissionais e as instituições de educação infantil tenham que considerar questões bastante
complexas que não podem ser ignoradas, pois afetam diretamente a vida das crianças
pequenas. A desnutrição, a violência, os abusos e maus tratos, os problemas de saúde etc.
que algumas crianças sofrem não são questões que só a instituição de educação infantil
pode resolver isoladamente. Só uma ação conjunta entre os diversos recursos da comunidade
como as associações civis e os conselhos de direitos das crianças, as organizações
governamentais e não-governamentais ligadas à saúde, à assistência, à cultura etc. pode
encaminhar soluções mais factíveis com a realidade de cada situação.

Condições internas
As creches e pré-escolas existentes no Brasil se constituíram de forma muito diversa
ao longo de sua história, se caracterizando por uma variedade de modalidades de
atendimento. Há creches funcionando em período integral entre 8 e 12 horas por dia, que
atendem o ano todo sem interrupção; outras fecham para férias; há creches de meio período;

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há creches que atendem 24 horas por dia; há pré-escolas funcionando de 3 a 4 horas e há
inclusive as que atendem em período integral.

Ao se pensar em uma proposta curricular deve-se levar em conta não só o número de


horas que a criança passa na instituição, mas também a idade em que começou a freqüentá-
la e quantos anos terá pela frente. Estas questões acabam influindo na seleção dos conteúdos
a serem trabalhados com as crianças, na articulação curricular de maneira a garantir um maior
número de experiências diversificadas a todas as crianças que a freqüentam. Muitas
instituições de educação infantil têm a tarefa complexa de receber crianças a qualquer
tempo e idade. É possível, por exemplo, que crianças ingressem com seis meses, com dois
anos ou cinco anos. Esta especificidade da educação infantil exige uma flexibilidade em
relação às propostas pedagógicas e em relação aos objetivos educacionais que se pretende
alcançar.

O fato de muitas instituições atenderem em horário integral implica uma maior


responsabilidade quanto ao desenvolvimento e aprendizagens infantis, assim como com a
oferta de cuidados adequados em termos de saúde e higiene. Estes horários estendidos
devem significar sempre maiores oportunidades de aprendizagem para as crianças e não
apenas a oferta de atividades para passar o tempo ou muito menos longos períodos de
espera.

Em alguns municípios, existe um tipo de prática em que as crianças ficam um período


na creche e o outro na pré-escola. Nestes casos ou ainda naqueles onde há troca de turnos
de professores entre os períodos da manhã e da tarde, é necessário um planejamento em
conjunto, evitando repetições de atividades ou lacunas no trabalho com as crianças. Não é
desejável que a creche seja considerada apenas um espaço de cuidados
físicos e recreação e a pré-escola o local onde se legitima o aprendizado.

A elaboração da proposta curricular de cada instituição se constitui


em um dos elementos do projeto educativo e deve ser fruto de um
trabalho coletivo que reuna professores, demais profissionais e
técnicos. Outros aspectos são relevantes para o bom
desenvolvimento do projeto pedagógico e devem ser
considerados, abrangendo desde o clima institucional, formas de
gestão, passando pela organização do espaço e do tempo, dos
agrupamentos, seleção e oferta dos materiais até a parceria com
as famílias e papel do professor.

AMBIENTE INSTITUCIONAL

O ambiente de cooperação e respeito entre os profissionais


e entre esses e as famílias favorece a busca de uma linha
coerente de ação. Respeito às diferenças, explicitação de

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conflitos, cooperação, complementação, negociação e procura de soluções e acordos devem
ser a base das relações entre os adultos.

Em se tratando de crianças tão pequenas, a atmosfera criada pelos adultos precisa


ter um forte componente afetivo. As crianças só se desenvolverão bem, caso o clima
institucional esteja em condições de proporcionar-lhes segurança, tranqüilidade e alegria.
Adultos amigáveis, que escutam as necessidades das crianças e, com afeto, atendem a elas,
constituem-se em um primeiro passo para criar um bom clima. As crianças precisam ser
respeitadas em suas diferenças individuais, ajudadas em seus conflitos por adultos que
sabem sobre seu comportamento, entendem suas frustrações, possibilitando-lhes limites
claros. Os adultos devem respeitar o desenvolvimento das crianças e encorajá-las em sua
curiosidade, valorizando seus esforços.

FORMAÇÃO DO COLETIVO INSTITUCIONAL

Elaborar e implantar um projeto educativo requer das equipes de profissionais das


instituições um grande esforço conjunto. A direção da instituição tem um papel chave
neste processo quando auxilia a criação de um clima democrático e pluralista. Deve
incentivar e acolher as participações de todos de modo a possibilitar um projeto que
contemple a explicitação das divergências e das expectativas de crianças, pais, docentes e
comunidade.

O coletivo de profissionais da instituição de educação infantil, entendido como


organismo vivo e dinâmico é o responsável pela construção do projeto educacional e do
clima institucional. A tematização da prática, o compartilhar de conhecimentos são ações
que conduzidas com intencionalidade, formam o coletivo criando condições para que o
trabalho desenvolvido seja debatido, compreendido e assumido por todos. Compartilhar é
um processo que contribui para que a instituição se constitua como unidade educacional
no qual são expressas as teorias e os saberes que sustentam a prática pedagógica. Esse
processo tece a unidade do projeto educativo que embora traduzida pelos diferentes
indivíduos do coletivo, parte de princípios comuns. A unidade é, portanto, construída
dinamicamente.

ESPAÇO PARA FORMAÇÃO CONTINUADA

O coletivo, segundo as características apontadas acima, não pode prescindir da


formação continuada que deve fazer parte da rotina institucional e não pode ocorrer de
forma esporádica.

Hora e lugar especialmente destinado à formação devem possibilitar o encontro entre


os professores para a troca de idéias sobre a prática, para supervisão, estudos sobre os mais

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diversos temas pertinentes ao trabalho, organização e planejamento da rotina, do tempo e
atividades e outras questões relativas ao projeto educativo.

A instituição deve proporcionar condições para que todos os profissionais participem


de momentos de formação de naturezas diversas como reuniões, palestras, visitas,
atualizações por meio de filmes, vídeos etc.

Iolanda Huzak

ESPAÇO FÍSICO E RECURSOS MATERIAIS

A estruturação do espaço, a forma como os materiais estão organizados, a qualidade


e adequação dos mesmos são elementos essenciais de um projeto educativo. Espaço físico,
materiais, brinquedos, instrumentos sonoros e mobiliários não devem ser vistos como
elementos passivos, mas como componentes ativos do processo educacional que refletem
a concepção de educação assumida pela instituição. Constituem-se em poderosos auxiliares
da aprendizagem. Sua presença desponta como um dos indicadores importantes para a
definição de práticas educativas de qualidade em instituição de educação infantil. No
entanto, a melhoria da ação educativa não depende exclusivamente da existência destes
objetos, mas está condicionada ao uso que fazem deles os professores junto às crianças
com as quais trabalham. Os professores preparam o ambiente para que a criança possa
aprender de forma ativa na interação com outras crianças e com os adultos.

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VERSATILIDADE DO ESPAÇO

O espaço na instituição de educação infantil


deve propiciar condições para que as crianças possam
usufruí-lo em benefício do seu desenvolvimento e
aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço
seja versátil e permeável à sua ação, sujeito às
modificações propostas pelas crianças e pelos
professores em função das ações desenvolvidas.
Deve ser pensado e rearranjado, considerando as
diferentes necessidades de cada faixa etária, assim
como os diferentes projetos e atividades que estão
sendo desenvolvidos. Particularmente, as
crianças de zero a um ano de idade
necessitam de um espaço especialmente
preparado onde possam engatinhar
livremente, ensaiar os primeiros passos,
brincar, interagir com outras crianças, repousar quando
sentirem necessidade etc. Os vários momentos do dia que demandam
mais espaço livre para movimentação corporal ou ambientes para aconchego e/ou
para maior concentração, ou ainda, atividades de cuidados implicam, também, planejar,
organizar e mudar constantemente o espaço. Nas salas, a forma de organização pode
comportar ambientes que permitem o desenvolvimento de atividades diversificadas e
simultâneas, como, por exemplo, ambientes para jogos, artes, faz-de-conta, leitura etc.
Pesquisas indicam que ambientes divididos são mais indicados para estruturar espaços
para crianças pequenas ao invés de grandes áreas livres. Os pequenos interagem melhor
em grupos quando estão em espaços menores e mais aconchegantes de onde podem
visualizar o adulto. Os elementos que dividem o espaço são variados, podendo ser prateleiras
baixas, pequenas casinhas, caixas, biombos baixos dos mais diversos tipos etc. Esse tipo de
organização favorece à criança ficar sozinha, se assim o desejar.

Na área externa, há que se criar espaços lúdicos que sejam alternativos e permitam
que as crianças corram, balancem, subam, desçam e escalem ambientes diferenciados,
pendurem-se, escorreguem, rolem, joguem bola, brinquem com água e areia, escondam-
se etc.

OS RECURSOS MATERIAIS

Recursos materiais entendidos como mobiliário, espelhos, brinquedos, livros, lápis,


papéis, tintas, pincéis, tesouras, cola, massa de modelar, argila, jogos os mais diversos,
blocos para construções, material de sucata, roupas e panos para brincar etc. devem ter

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Fotos: Iolanda Huzak

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presença obrigatória nas instituições de educação infantil de forma cuidadosamente
planejada.

Os materiais constituem um instrumento importante para o desenvolvimento da


tarefa educativa, uma vez que são um meio que auxilia a ação das crianças. Se de um lado,
possuem qualidades físicas que permitem a construção de um conhecimento mais direto e
baseado na experiência imediata, por outro lado, possuem qualidades outras que serão
conhecidas apenas pela intervenção dos adultos ou de parceiros mais experientes. As crianças
exploram os objetos, conhecem suas propriedades e funções e, além disso, transformam-
nos nas suas brincadeiras, atribuindo-lhes novos significados.

Os brinquedos constituem-se, entre outros, em objetos privilegiados da educação


das crianças. São objetos que dão suporte ao brincar e podem ser das mais diversas origens
materiais, formas, texturas, tamanho e cor. Podem ser comprados ou fabricados pelos
professores e pelas próprias crianças; podem também ter vida curta, quando inventados e
confeccionados pelas crianças em determinada brincadeira e durar várias gerações, quando
transmitidos de pai para filho. Nessa perspectiva, as instituições devem integrá-los ao acervo
de materiais existentes nas salas, prevendo critérios de escolha, seleção e aquisição de
acordo com a faixa etária atendida e os diferentes projetos desenvolvidos na instituição.

ACESSIBILIDADE DOS MATERIAIS

Outro ponto importante a ser ressaltado diz respeito à disposição e organização dos
materiais, uma vez que isso pode ser decisivo no uso que as crianças venham a fazer deles.
Os brinquedos e demais materiais precisam estar dispostos de forma acessível às crianças,
permitindo seu uso autônomo, sua visibilidade, bem como uma organização que possibilite
identificar os critérios de ordenação.

É preciso que, em todas as salas, exista mobiliário adequado ao tamanho das crianças
para que estas disponham permanentemente de materiais para seu uso espontâneo ou em
atividades dirigidas. Este uso freqüente ocasiona, inevitavelmente, desgaste em brinquedos,
livros, canetas, pincéis, tesouras, jogos etc. Esta situação comum não deve ser pretexto
para que os adultos guardem e tranquem os materiais em armários, dificultando seu uso
pelas crianças. Usar, usufruir, cuidar e manter os materiais são aprendizagens importantes
nessa faixa etária. A manutenção e reposição destes materiais devem fazer parte da rotina
das instituições e não acontecer de forma esporádica.

SEGURANÇA DO ESPAÇO E DOS MATERIAIS

Para as crianças circularem com independência no espaço, é necessário um bom


planejamento que garanta as condições de segurança necessárias. É imprescindível o uso

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de materiais resistentes, de boa qualidade e testados pelo mercado, como vidros e espelhos
resistentes, materiais elétricos e hidráulicos de comprovada eficácia e durabilidade. É
necessária, também, proteção adequada em situações onde exista possibilidade de risco,
como escadas, varandas, janelas, acesso ao exterior etc. Os brinquedos devem ser seguros
(seguindo as normas do Inmetro10), laváveis e necessitam estar em boas condições. Os
brinquedos de parque devem estar bem fixados em área gramada ou coberta com areia e
não sobre área cimentada.

CRITÉRIOS PARA FORMAÇÃO DE GRUPOS DE CRIANÇAS

As diferenças que caracterizam cada fase de desenvolvimento são bastante grandes,


o que leva, muitas vezes, as instituições a justificar os agrupamentos homogêneos por faixa
etária. Esta forma de agrupamento está relacionada muito mais a uma necessidade do
trabalho dos adultos do que às necessidades da criança. Se, de um lado, isto facilita a
organização de algumas atividades e o melhor aproveitamento do espaço físico disponível,
de outro, dificulta a possibilidade de interação que um grupo heterogêneo oferece.

Não há uma divisão rígida, mas é comum que bebês fiquem em um mesmo grupo
até conseguirem andar. As crianças que já andam bem e estão iniciando o controle dos
esfíncteres costumam ser concentradas em outro agrupamento. Após a retirada das fraldas,
as crianças costumam ser agrupadas por idade, isto é, em turmas de três, quatro, cinco e
seis anos de idade. Numa concepção de educação e aprendizagem que considera a interação
como um elemento vital para o desenvolvimento, o contato entre estas crianças de diferentes
faixas etárias e com diferentes capacidades deve ser planejado. Isto quer dizer que é
interessante prever constantes momentos na rotina ou planejar projetos que integrem estes
diferentes agrupamentos.

Tão importante quanto pensar nos agrupamentos por faixa etária é refletir sobre o
número de crianças por grupos e a proporção de adulto por crianças. Quanto menores as
crianças, mais desaconselhados são os grupos muito grandes, pois há uma demanda de
atendimento individualizado. Até os 12 meses, é aconselhável não ter mais de 6 crianças
por adulto, sendo necessária uma ajuda nos momentos de maior demanda, como, por
exemplo, em situações de alimentação. Do primeiro ao segundo ano de vida,
aproximadamente, aconselha-se não mais do que 8 crianças para cada adulto, ainda com
ajuda em determinados momentos. A partir do momento no qual as crianças deixam as
fraldas até os 3 anos, pode-se organizar grupos de 12 a 15 crianças por adulto. Quando as
crianças adquirem maior autonomia em relação aos cuidados e interagem de forma mais

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INMETRO: Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial do Ministério da
Indústria, Comércio e Turismo.

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independente com seus pares, entre 3 e 6 anos, é possível pensar em grupos maiores, mas
que não ultrapassem 25 crianças por professor.

A razão adulto/criança, porém, não pode ser um critério isolado. Mesmo quando as
proporções acima indicadas são respeitadas, há de se
considerar que grupos com muitas crianças e muitos
professores não resolvem as necessidades de um
trabalho mais individualizado e cria um ambiente
inadequado.

ORGANIZAÇÃO DO TEMPO

A rotina na educação infantil pode ser facilitadora ou


cerceadora dos processos de desenvolvimento e aprendizagem.
Rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a criança, que precisa
adaptar-se a ela e não o contrário, como deveria ser; desconsideram
também o adulto, tornando seu trabalho monótono, repetitivo e
pouco participativo.

O número de horas que a criança permanece na instituição,


a amplitude dos cuidados físicos necessários ao atendimento, os ritmos e diferenças
individuais e a especificidade do trabalho pedagógico demandam um planejamento
constante da rotina. A organização do tempo deve prever possibilidades diversas e muitas
vezes simultâneas de atividades, como atividades mais ou menos movimentadas, individuais
ou em grupos, com maior ou menor grau de concentração; de repouso, alimentação e higiene;
atividades referentes aos diferentes eixos de trabalho.

Considerada como um instrumento de dinamização da aprendizagem, facilitador


das percepções infantis sobre o tempo e o espaço, uma rotina clara e compreensível para as
crianças é fator de segurança. A rotina pode orientar as ações das crianças, assim como dos
professores, possibilitando a antecipação das situações que irão acontecer.

AMBIENTE DE CUIDADOS

A instituição necessita criar um ambiente de cuidado que considere as necessidades


das diferentes faixas etárias, das famílias e as condições de atendimento da instituição.
Como as crianças pequenas se caracterizam por um ritmo de crescimento e desenvolvimento
físico variado os cuidados devem incluir o acompanhamento deste processo.

É possível, principalmente na creche, que alguns grupos iniciem o ano com


determinadas características e necessidades, que estarão modificadas no final do primeiro
trimestre. Algumas crianças começam a freqüentar o primeiro grupo das creches ainda no

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Fotos: Iolanda Huzak

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seu primeiro mês de vida, outras serão matriculadas próximo ao quarto mês ou no final do
primeiro ano. Assim nas instituições que atendem bebês e crianças pequenas, não se pode
prever uma organização do cotidiano de forma homogênea e que se mantenha o ano todo
sem alterações.

A organização dos momentos em que são previstos cuidados com o corpo, banho,
lavagem de mãos, higiene oral, uso dos sanitários, repouso e brincadeiras ao ar livre, podem
variar nas instituições de educação infantil, segundo os grupos etários atendidos, o tempo
de permanência diária das crianças na instituição e os acordos estabelecidos com as famílias.
As atividades de cuidado das crianças se organizam em função de suas necessidades nas 24
horas do dia. Isto exige uma programação conjunta com as famílias para divisão de
responsabilidades, evitando-se a sobreposição ou a ausência de alguns dos cuidados
essenciais.

O planejamento dos cuidados e da vida cotidiana na instituição deve ser iniciado


pelo conhecimento sobre a criança e suas peculiaridades, que se faz pelo levantamento de
dados com a família no ato da matrícula e por meio de um constante intercâmbio entre
familiares e professores. Algumas informações podem ser colhidas previamente à sua entrada
na instituição, como os esquemas, preferências e intolerância alimentar; os hábitos de sono
e de eliminação; os controles e cuidados especiais com sua saúde. Outras serão conhecidas
na própria interação com a criança e sua família, ao longo do tempo.

PARCERIA COM AS FAMÍLIAS

As características da faixa etária das crianças atendidas, bem como as necessidades


atuais de construção de uma sociedade mais democrática e pluralista apontam para a
importância de uma atenção especial com a relação entre as instituições e as famílias.

Constata-se em muitas instituições que estas relações têm sido conflituosas, baseadas
numa concepção equivocada de que as famílias dificultam o processo de socialização e de
aprendizagem das crianças. No caso das famílias de baixa renda, por serem consideradas
como portadoras de carências de toda ordem. No caso das famílias de maior poder aquisitivo,
a crítica incide na relação afetiva estabelecida com as crianças. Esta concepção traduz um
preconceito que gera ações discriminatórias, impedindo o diálogo. Muitas instituições que
agem em função deste tipo de preconceito têm procurado implantar programas que visam
a instruir as famílias, especialmente as mães, sobre como educar e criar seus filhos dentro
de um padrão preestabelecido e considerado adequado. Essa ação, em geral moralizadora,
tem por base o modelo de família idealizada e tem sido responsável muito mais por um
afastamento das duas instituições do que por um trabalho conjunto em prol da educação
das crianças.

Visões mais atualizadas sobre a instituição familiar propõem que se rejeite a idéia de
que exista um único modelo. Enfoques teóricos mais recentes procuram entender a família

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como uma criação humana mutável, sujeita a determinações culturais e históricas que se
constitui tanto em espaço de solidariedade, afeto e segurança como em campo de conflitos,
lutas e disputa.

A valorização e o conhecimento das características étnicas e culturais dos diferentes


grupos sociais que compõem a nossa sociedade, e a crítica às relações sociais discriminatórias
e excludentes indicam que, novos caminhos devem ser trilhados na relação entre as
instituições de educação infantil e as famílias.

Respeito aos vários tipos de estruturas familiares

Constate-se que as famílias independente da classe social a qual pertencem se


organizam das mais diversas maneiras. Além da família nuclear que é constituída pelo pai,
mãe e filhos, proliferam hoje as famílias monoparentais, nas quais apenas a mãe ou o pai
está presente. Existem, ainda, as famílias que se reconstituíram por meio de novos
casamentos e possuem filhos advindos dessas relações. Há, também, as famílias extensas,
comuns na história brasileira, nas quais convivem na mesma casa várias gerações e/ou pessoas
ligadas por parentescos diversos. É possível ainda encontrar várias famílias coabitando em
uma mesma casa. Enfim, parece não haver limites para os arranjos familiares na atualidade.

As crianças têm direito de ser criadas e educadas no seio de suas famílias. O Estatuto
da Criança e do Adolescente reafirma, em seus termos, que a família é a primeira instituição
social responsável pela efetivação dos direitos básicos das crianças. Cabe, portanto, às
instituições estabelecerem um diálogo aberto com as famílias, considerando-as como
parceiras e interlocutoras no processo educativo infantil.

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Iolanda Huzak

Acolhimento das diferentes culturas, valores e crenças


sobre educação de crianças

A pluralidade cultural, isto é, a diversidade de etnias, crenças, costumes, valores etc.


que caracterizam a população brasileira marca, também, as instituições de educação infantil.
O trabalho com a diversidade e o convívio com a diferença possibilitam a ampliação de
horizontes tanto para o professor quanto para a criança. Isto porque permite a conscientização
de que a realidade de cada um é apenas parte de um universo maior que oferece múltiplas
escolhas. Assumir um trabalho de acolhimento às diferentes expressões e manifestações
das crianças e suas famílias significa valorizar e respeitar a diversidade, não implicando a
adesão incondicional aos valores do outro. Cada família e suas crianças são portadoras de
um vasto repertório que se constitui em material rico e farto para o exercício do diálogo,
aprendizagem com a diferença, a não discriminação e as atitudes não preconceituosas.
Estas capacidades são necessárias para o desenvolvimento de uma postura ética nas relações
humanas. Nesse sentido, as instituições de educação infantil, por intermédio de seus
profissionais, devem desenvolver a capacidade de ouvir, observar e aprender com as famílias.
Acolher as diferentes culturas não pode se limitar às comemorações festivas, a
eventuais apresentações de danças típicas ou à experimentação de pratos regionais. Estas
iniciativas são interessantes e desejáveis, mas não são suficientes para lidar com a diversidade
de valores e crenças.

Compreender o que acontece com as famílias, entender seus valores ligados a

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procedimentos disciplinares, a hábitos de higiene, a formas de se relacionar com as pessoas
etc. pode auxiliar a construção conjunta de ações. De maneira geral, as instituições de
educação devem servir de apoio real e efetivo às crianças e suas famílias, respondendo às
suas demandas e necessidades. Evitar julgamentos moralistas, pessoais ou vinculados a
preconceitos é condição para o estabelecimento de uma base para o diálogo.

Estabelecimento de canais de comunicação

Existem oportunidades variadas de incluir as famílias no projeto institucional. Há


experiências interessantes de criação de conselhos e associações de pais que são canais
abertos de participação na gestão das unidades
educacionais.

A comunicação mais individualizada entre as


famílias e as instituições de educação infantil deve
ocorrer desde o início de forma planejada. Após os
primeiros contatos, a comunicação entre as famílias e os
professores pode se tornar uma rotina mais informal, mas
bastante ativa. Entrar todos os dias até a sala onde sua
criança está, trocar algumas palavras com o professor pode
ser um fator de tranqüilidade para muitos pais. Quanto menor
a criança, mais importante essa troca de informações. Este
contato direto não deve ser substituído por comunicações impessoais, escritas de maneira
burocrática. Oportunidades de encontros periódicos com os pais de um mesmo grupo por
meio de reuniões, ou mesmo contatos individuais fazem parte do cotidiano das instituições
de educação infantil.

Em geral a troca de informações é diária com as famílias, principalmente quando há


cuidados especiais que a criança esteja necessitando. Assim, para que o professor não fique
sobrecarregado pela necessidade de dar atenção às famílias e crianças ao mesmo tempo, o
planejamento deste momento — em conjunto com os pais e a ajuda de outros funcionários
— é fundamental para o relacionamento de todos os envolvidos.
É preciso combinar formas de comunicação para trocas específicas de informações,
como uso de medicamentos, que precisam ser dados em doses precisas, de acordo com
receita do médico, ou eventos ligados à saúde e alimentação. Isso evita esquecimentos que
podem ser prejudiciais para a saúde da criança e facilita a vida do professor e da família.

Com as famílias de crianças maiores, a comunicação é de natureza diferente. As


informações entre as famílias e a instituição podem ser mais esporádicas, ocorrendo somente
à medida das necessidades. As reuniões para discussão sobre o andamento dos trabalhos
com as crianças são sempre bem-vindas e se constituem em um direito dos pais.

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No entanto, a participação das famílias não deve estar sujeita a uma única
possibilidade. As instituições de educação infantil precisam pensar em formas mais variadas
de participação de modo a atender necessidades e interesses também diversificados.

Os pais, também, devem ter acesso à:

• filosofia e concepção de trabalho da instituição;

• informações relativas ao quadro de pessoal com as qualificações


e experiências;

• informações relativas à estrutura e funcionamento da creche


ou da pré-escola;

• condutas em caso de emergência e problemas de saúde;

• informações quanto a participação das crianças e famílias em


eventos especiais.

As orientações podem ser modificadas caso haja um trabalho coletivo envolvendo as


famílias e o coletivo de profissionais por meio de consultas e negociações permanentes.

As trocas recíprocas e o suporte mútuo devem ser a tônica do relacionamento. Os


profissionais da instituição devem partilhar, com os pais, conhecimentos sobre
desenvolvimento infantil e informações relevantes sobre as crianças utilizando uma
sistemática de comunicações regulares.

Inclusão do conhecimento familiar no trabalho educativo

É possível integrar o conhecimento das famílias nos projetos e demais atividades


pedagógicas. Não só as questões culturais e regionais podem ser inseridas nas programações
por meio da participação de pais e demais familiares, mas também as questões afetivas e
motivações familiares podem fazer parte do cotidiano pedagógico. Por exemplo, a história
da escolha do nome das crianças, as brincadeiras preferidas dos pais na infância, as histórias
de vida etc. podem tornar-se parte integrante de projetos a serem trabalhados com as
crianças.

Acolhimento das famílias e das crianças na instituição

A entrada na instituição

O ingresso das crianças nas instituições pode criar ansiedade tanto para elas
e para seus pais como para os professores. As reações podem variar muito, tanto em

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relação às manifestações emocionais quanto ao tempo necessário para se efetivar o
processo.

Algumas crianças podem apresentar comportamentos diferentes daqueles que


normalmente revelam em seu ambiente familiar, como alterações de apetite; retorno às
fases anteriores do desenvolvimento (voltar a urinar ou evacuar na roupa, por exemplo).
Podem, também, adoecer; isolar-se dos demais e criar dependência de um brinquedo, da
chupeta ou de um paninho. As instituições de educação infantil devem ter flexibilidade
diante dessas singularidades ajudando os pais e as crianças nestes momentos.

A entrevista de matrícula pode ser usada para apresentar informações sobre o


atendimento oferecido, os objetivos do trabalho, a concepção de educação adotada. Esta é
uma boa oportunidade também para que se conheça alguns hábitos das crianças e para que
o professor estabeleça um primeiro contato com as famílias.

Quanto mais novo o bebê, maior a ligação entre mãe e filho. Assim, não é apenas a
criança que passa pela adaptação, mas também a mãe. Dependendo da família e da criança,
outros membros como o pai, irmãos, avós poderão estar envolvidos no processo de adaptação
à instituição. A maneira como a família vê a entrada da criança na instituição de educação
infantil tem uma influência marcante nas reações e emoções da criança durante o processo
inicial. Acolher os pais com suas dúvidas, angústias e ansiedades, oferecendo apoio e
tranqüilidade, contribui para que a criança também se sinta menos insegura nos primeiros
dias na instituição. Reconhecer que os pais são as pessoas que mais conhecem as crianças
e que entendem muito sobre como cuidá-las pode facilitar o relacionamento. Antes de
tudo, é preciso estabelecer uma relação de confiança com as famílias, deixando claro que o
objetivo é a parceria de cuidados e educação visando ao bem-estar da criança. Quando há
um certo número de crianças para ingressar na instituição, pode-se fazer uma reunião com
todos os pais novos para que se conheçam e discutam conjuntamente suas dúvidas e
preocupações.

Os primeiros dias

No primeiro dia da criança na instituição, a atenção do professor deve estar voltada


para ela de maneira especial. Este dia deve ser muito bem planejado para que a criança
possa ser bem acolhida. É recomendável receber poucas crianças por vez para que se possa
atendê-las de forma individualizada. Com os bebês muito pequenos, o principal cuidado
será preparar o seu lugar no ambiente, o seu berço, identificá-lo com o nome, providenciar
os alimentos que irá receber, e principalmente tranqüilizar os pais. A permanência na
instituição de alguns objetos de transição, como a chupeta, a fralda que ele usa para cheirar,
um mordedor, ou mesmo o bico da mamadeira a que ele está acostumado, ajudará neste
processo. Pode-se mesmo solicitar que a mãe ou responsável pela criança venha, alguns
dias antes, ajudar a preparar o berço de seu bebê.

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Iolanda Huzak

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Quando o atendimento é de período integral,
é recomendável que se estabeleça um processo
gradual de inserção, ampliando o tempo de
permanência de maneira que a criança vá se
familiarizando aos poucos com o professor, com o espaço,
com a rotina e com as outras crianças com as quais irá conviver.
É importante que se solicite, nos primeiros dias, e até
quando se fizer necessário, a presença da mãe ou do pai ou
de alguém conhecido da criança para que ela possa enfrentar
o ambiente estranho junto de alguém com quem se sinta
segura. Quando tiver estabelecido um vínculo afetivo com o
professor e com as outras crianças, é que ela poderá enfrentar bem a
separação, sendo capaz de se despedir da pessoa querida, com segurança e
desprendimento.

Este período exige muita habilidade, por isso, o professor necessita de apoio e
acompanhamento, especialmente do diretor e membros da equipe técnica uma vez que
ele também está sofrendo um processo de adaptação. Os professores precisam ter claro
qual é o papel da mãe (ou de quem estiver acompanhando a criança) em seus primeiros
dias na instituição.

Os pais podem encontrar dificuldades de tempo para viver este processo por não
poderem se ausentar muitos dias no trabalho. Neste caso, seria importante que pudessem
estar presentes, ao menos no primeiro dia, e que depois pudessem ser substituídos por
alguém da confiança da criança.
O choro da criança, durante o processo de inserção, parece ser o fator que mais provoca
ansiedade tanto nos pais quanto nos professores. Mas parece haver, também, uma crença
de que o choro é inevitável e que a criança acabará se acostumando, vencida pelo
esgotamento físico ou emocional, parando de chorar. Alguns acreditam que, se derem muita
atenção e as pegarem no colo, as crianças se tornarão manhosas, deixando-as chorar. Essa
experiência deve ser evitada. Deve ser dada uma atenção especial às crianças, nesses
momentos de choro, pegando no colo ou sugerindo-lhes atividades interessantes.

O professor pode planejar a melhor forma de organizar o ambiente nestes primeiros


dias, levando em consideração os gostos e preferências das crianças, repensando a rotina
em função de sua chegada e oferecendo-lhes atividades atrativas. Ambientes organizados
com material de pintura, desenho e modelagem, brinquedos de casinha, baldes, pás, areia
e água etc., são boas estratégias.

As orientações acima são válidas também para os primeiros dias do ano ou do


semestre, quando todas as crianças e funcionários estão em período de adaptação.
É necessário um período de planejamento da equipe para organizar a entrada e a rotina das
crianças.

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Remanejamento entre os grupos de criança

O remanejamento das crianças para outras turmas parece inevitável, principalmente


nas creches, em função da grande demanda por vagas. Havendo realmente necessidade de
enfrentar esta situação, todo cuidado é pouco. As crianças pequenas, em especial as de
zero a dois anos, constroem, por meio do vínculo afetivo com o adulto de referência, a base
sobre a qual vão se sentir seguras para explorar o ambiente e para se relacionar com novas
pessoas. A integração à nova turma precisa ser gradativa, envolvendo o adulto com a qual
estão acostumadas.

Substituição de professores

Considerando-se a importância dos vínculos estabelecidos com os adultos nessa faixa


etária, a substituição dos professores deve ser pensada e planejada com atenção e
antecedência, preparando as crianças para essa situação. Infelizmente, em muitas
instituições, a rotatividade de adultos é uma realidade. Quando isso ocorre, é bom que esta
transição seja feita paulatinamente com o professor antigo cedendo gradativamente o lugar
para o novo.

Iolanda Huzak

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Passagem para a escola

Com a saída das crianças, as famílias enfrentam novamente grandes mudanças. A


passagem da educação infantil para o ensino fundamental representa um marco significativo
para a criança podendo criar ansiedades e inseguranças. O professor de educação infantil
deve considerar esse fato desde o início do ano, estando disponível e atento para as questões
e atitudes que as crianças possam manifestar. Tais preocupações podem ser aproveitadas
para a realização de projetos que envolvam visitas a escolas de ensino fundamental;
entrevistas com professores e alunos; programar um dia de permanência em uma classe de
primeira série. É interessante fazer um ritual de despedida, marcando para as crianças este
momento de passagem com um evento significativo. Essas ações ajudam a desenvolver
uma disposição positiva frente às futuras mudanças demonstrando que, apesar das perdas,
há também crescimento.

Acolhimento de famílias com necessidades especiais

Algumas famílias enfrentam problemas sérios ligados ao alcoolismo, violência familiar


ou problemas de saúde e desnutrição que comprometem sua atuação junto às crianças.
Apenas quando a sobrevivência física e
mental está seriamente comprometida
pela conduta familiar, ou quando a
criança sofre agressão sexual, é possível
pensar em uma ação mais enérgica para
a interrupção imediata do
comportamento agressor, admitindo-se,
em casos extremos, o encaminhamento
de crianças para instituições
especializadas longe do convívio
familiar.

No geral, as famílias que


porventura tiverem dificuldades em
cumprir qualquer uma de suas funções
para com as crianças deverão receber
toda ajuda possível das instituições de
educação infantil, da comunidade, do
poder público, das instituições de apoio
para que melhorem o desempenho junto
às crianças.

Iolanda Huzak

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ESTRUTURA DO REFERENCIAL
CURRICULAR NACIONAL PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL

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BIBLIOGRAFIA

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Paulo, Sergipe, Tocantins.

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Propostas curriculares municipais

Aracaju, Araraquara, Belém, Belo Horizonte, Betim, Blumenau, Boa Vista, Curitiba,
Florianópolis, Fortaleza, Jaraguá do Sul, Jundiaí, Lorena, Maceió, Manaus, Mococa,
Natal, Palmas, Piracicaba, Porto Alegre, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São
Bernardo do Campo, São Luís, São Paulo, Teresina, Vitória.

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FICHA TÉCNICA

Coordenação
Ana Amélia Inoue, Gisela Wajskop, Silvia Pereira de Carvalho.

Elaboração
Aloma Fernandes Carvalho, Ana Amélia Inoue, Anamélia Bueno Buoro, Damares Gomes
Maranhão, Gisela Wajskop, Izabel Galvão, Maria Paula Vignola Zurawisky, Maria Priscila
Bacellar Monteiro, Teca Alencar de Brito, Maria Virgínia Gastaldi, Regina Lúcia Scarpa
Leite, Silvia Pereira de Carvalho, Vinicio de Macedo Santos.

Assessoria
Ana Teberosky, Antonia Terra, Délia Lerner de Zunino, Cecília Parra, Gilles Brougère,
Jean Hébrard, Izabel Galvão, Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, Maria Cristina Ribeiro
Pereira, Marisa Pelella Mélega, Nelio Bizzo, Ricardo Brein, Rosa Iavelberg, Telma Weisz
e 230 pareceristas — professores de universidades e especialistas de todo o país — que
contribuíram com críticas e sugestões valiosas para o enriquecimento do Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil.

Tabulação de Pareceres
Andréa Bueno Buoro, Eike Frehse, Fraya Frehse.

Preparação do texto
Lilian Jenkino

Revisão de Texto e copidesque


Ana Maria Viana Freire, Lilian Jenkino e Maristela Félix de Lima.

Agradecimentos
Andréa dos Santos Vianna, Aparecida Maria Gama Andrade, Beatriz Cardoso, Célia M.
Carolino Pires, Cisele Ortiz, Claudia Lemos, Edna Thomazella Cartaxo, Fátima Camargo,
Gilda Portugal Gouveia, Heloysa Dantas, Hércules Abrão de Araújo, Joselita Dias dos
Santos Reis, Márcia da Silva Ferreira, Maria Auxiliadora Albergaria, Maria Alice Junqueira
de Almeida, Maria Lúcia Barros de Azambuja Guardia, Maria Tereza Perez Soares, Marilene
Ribeiro dos Santos, Paulo Portella Filho, Saul Cypel, Sirlene Bendazzoli, Tereza de Jesus
Nery Barreto, Vanda Bartalini Baruffaldi, Yves de La Taille, Prefeituras dos Municípios
de Araraquara, Campo Grande, Itapetininga, Jaraguá do Sul, Jundiaí, Osasco, Salvador,
São Bernardo do Campo e São Paulo, Asbrac, CNE, Consed, Efei e Undime.

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da Educação e
do Desporto

Brasil
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