Thielly Ecologia Social Desmatamento Estradas Texto
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O fenômeno denominado espinha de peixe” é o desmatamento que tem como vetor a rodovia,
acontecendo perpendicularmente à rodovia.
A BR-163, no trecho entre Cuiabá (MT) e Santarém (PA ) está em obras de pavimentação num
trecho de, aproximadamente, 1000 km de extensão. Os estudos ambientais colocam a obra
como necessária ao escoamento de produção, à disponibilização de serviços essencias como
saúde, educação, abastecimento de água e saneamento básico; à regularização do transporte
de passageiros; acesso do Estado para fiscalização e proteção da natureza e das populações.
Já a BR-230, conhecida por Transamazônica, está com obras de pavimentação no trecho entre a
divisa dos estados do Tocantins e Pará e a cidade de Rurópolis nesse útlimo estado. A principal
justificativa para o projeto era a de ligar pontos navegáveis dos rios da região, formando um
sistema de transporte rodo-fluvial integrado atendendo a uma população de 2.500.000
habitantes. A conservação da estrada é um permanente desafio com atoleiros durante a época
chuvosa e poeira intensa durante o período chuvoso. O estudo ambiental coloca que o
empreendimento visa atender reivindicações da população local e que permitirá consolidar a
estratégia de implementação de políticas efetivas de desenvolvimento econômico e social para
a região.
O próprio estudo traz a dicotomia entre a manutenção das áreas intactas e a necessidade de
gerar lucros a partir da utilização da natureza. Para tanto, seria um objetivo do projeto gerar
riqueza na Amazônia pela ocupação do vazio populacional entre os Rios Tapajós e Xingu;
melhoria do aproveitamento do porto de Santarém.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS E FLORESTAIS
ESTUDOS DE PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS
Por fim, a BR-319/AM liga de Manaus (AM) a Porto Velho (RO) com 870 km de extensão com o
objetivo de assegurar acesso regular e seguro à região do interflúvio Purus-Madeira. A
implantação foi iniciada em 1968 e concluída em 1976. Atualmente, encontra-se em obras de
reconstrução/pavimentação, no segmento entre os km 250,0 e o km 655,7.
A obra também é justificada pela necessidade de assegurar a presença do poder público e, desse
modo, garantir a governança da região para evitar maiores impactos ambientais
regula a utilização dos recursos com base na legislação; entende-se como indutor do
desenvolvimento; define traçados e, de certo modo, impõe necessidades às comunidades
diretamente atingidas.
A ecologia social contrapõe a escola conservacionaista que trata o mundo natural como fonte
de recursos para a espécie humana, quanto à necessidade de um estado forte e centralizado.
Contrapõe, também, a ecologia profunda, cujos ideais são considerados por Bookchin como
neomathusianos. Essa escola considera que os problemas ecológicos advém da superpolução e
que só sua redução seria capaz de permitir a sobrevivência do planeta. Desse modo, o
isolamento da população faz parte e, portanto, não se justificaria a implantação de uma rodovia.
Por outro lado a ecologia social defende que os problemas ambientais são fruto da pobreza e da
desigualdade. Destaca ainda, que não é possível atribuir a responsabilidade aos seres humanos
individuais. Os responsáveis pelos grandes problemas são as instituções, em especial o Estado e
o agronegócio.
As instituições, incluindo-se o mercado e o sistema capitalista foram criadas pela mente humana
e, portanto, podem e devem ser revistas. O Estado forte e centralizado não tem capacidade de
representar a humanidade. Humanidade não é uma coisa única, existem as mulheres, os
homens, os jovens, os idosos, as crianças, os privilegiados, os desprivilegiados.
Ainda, destaca-se que os problemas ambientais estão intimamente ligados com as divisões
internas no domínio do social dando origem às divisões entre sociedade e natureza.
A espécie humana não pode ser vista com uma abordagem zoológica, como apenas mais uma
espécie dentre todas em função da sua capacidade de establecer relações complexas. É essa
capacidade intelectual que dá ao ser humano a consciência no mundo e que, de algum modo o
leva a estabelecer relações de dominação.
Nessa lógica de dominação. Vem a necessidade de vencer e, por consequência, de ter. Sendo
assim, a solução dos problemas ecológicos passa, necessariamente, por uma mudança radical
no sistema em que estamos inseridos. Até que humanidade atinja sua plenitude enquanto
espécie, considerando sua capacidade de criar relações complexas, solidariedade e criatividade,
todos os problemas ecológicos continuarão a ter as suas raízes nos problemas sociais
Nesse contexto, não há que se falar no abandono das tecnologias pois que a espécie humana se
desenvolveu com uso de tecnologias, sejam as mais rudimentares (como as ferramentas de
pedra e madeiras) quanto as atuais tecnologias digitais.
Os vínculos comunitários, quando existentes devem ser fortalecidos, pois contribuem para o
florescimento da natureza do ser humano, equanto ser solidário, cooperativo e
interdependente. Dessa forma, há que se pensar sobre o fortalecimeto dos vínculos dessa
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ESTUDOS DE PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS
comunidade. Somente dessa forma, se pode pensar em cuidar e pertencer ao meio ambiente
natural.
A questão do vínculo passa por considerarmos que as associações humanas são estáveis,
fortemente institucionalizadas e caracterizadas por um grau de solidariedade e de criatividade
notável.
Considera que os problemas ecológicos são, essencialmente, problemas sociais e só podem ser
solucionados com o fim da dominação, com o estabelecimento de vínculos comunitários, com
o entendimento da posição do ser humano no mundo e sua relação direta com a prórpia
evolução do mundo natural.
A ecologia social proporia uma solução de base uma comunitára ouvindo-se as populações locais
que, de algum modo, foram levadas a se firmar nesse local. Não se pode colocar a
responsabilidade nessas populações que reividnicam a rodovia. Elas estão inseridas e atendem
às suas necessidade de subsistência numa lógica capitalista, de geração de lucros.
Nesse contexto, há que se questionar o sistema e suas instituições, pois que foram criadas pelos
próprios seres humanos.
Não se pode abordar a questão do desmatamento somente pelos aspectos ecológicos. Todo e
qualquer problema ecológico na sociedade atual advém do social, do sistema e das instituições
criadas. É necessário considerar as desigualdades, fome e miséria em função do modelo
capitalista.
Percebe-se que não há soluções prontas, isso deve vir de diálogo e entendimento das
necessidades de cada comunidade. A ecologia social leva ao questionamento da ordem social,
das instituições, mas não por meio de simplismo e do dualismo que contrapõe homem e
natureza considerando que sociedade e natureza estão fundidas e são interdependentes.