A Evolução Histórica Da Questão Ambiental
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RESUMO
O presente trabalho apresenta um breve estudo sobre a evolução histórica da questão ambiental por meio de
uma revisão teórica abordando primeiramente a relação homem-natureza, partindo de uma interação
harmônica com o meio ambiente até chegar a uma relação de exploração intensa de recursos naturais e a
consequente degradação do meio ambiente. Em seguida, foi abordada a crise ambiental e sua respectiva
evolução e finalmente, foram feitas considerações sobre a formação do conceito de desenvolvimento
sustentável e a conscientização do homem em relação à problemática ambiental.
INTRODUÇÃO
A humanidade, procurando superar suas limitações evoluiu continuamente rumo a um desenvolvimento
econômico baseado na acumulação de riqueza, passando a utilizar os recursos naturais não mais para suprir
suas necessidades básicas. No entanto, na busca por um crescimento econômico infinito o homem esgota ao
mesmo tempo suas próprias fontes de riqueza e sustentação. A natureza passa a ser um objeto que deve ser
possuído e dominado e essa visão se fortalece após a Revolução Industrial com a instituição do capitalismo.
Para Santos (1994), a história do homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem
e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como
indivíduo e inicia a mecanização do planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo. Ainda
segundo o autor, natureza artificializada marca uma grande mudança na história humana da natureza.
Atualmente o mundo se defronta com limitações de recursos e sofre com a degradação ambiental e os
problemas ambientais se agravam e tornam-se mais nítidos. A crise ambiental global passa a impulsionar a
humanidade despertando gradativamente a conscientização dos seres humanos sobre os problemas ambientais.
A humanidade chega enfim, a um estágio de permanente busca por alternativas sustentáveis para minimizar os
impactos causados por suas ações.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a classificação da pesquisa, tomou-se como base a metodologia adotada por Vergara (2007), que a
qualifica em relação a dois aspectos: quantos aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins, a pesquisa foi exploratória na medida em foi realizada em uma área na qual há pouco
conhecimento acumulado e sistematizado e o pesquisador aprofunda seus conhecimentos sobre o problema de
pesquisa.
Quanto aos meios, a pesquisa classifica-se como sendo bibliográfica, pois para a fundamentação teórico-
metodológica foi realizada uma investigação sobre os seguintes assuntos: relação homem-natureza, crise
ambiental, evolução da tomada de consciência e desenvolvimento sustentável.
Durante um longo período de tempo as organizações sociais humanas viveram unicamente da caça de animais
e colheita de gêneros alimentícios. Na maioria das tribos, os homens caçavam e colhiam frutos enquanto as
mulheres exerciam atividades relacionadas ao lar e aos filhos. Tais atividades possibilitaram a sobrevivência
do homem até mesmo nas condições climáticas mais adversas, sendo, portanto, o meio de vida mais maleável
e próspero quanto à utilização dos recursos naturais já adotado pelos seres humanos e o que menos males
ocasionou aos ecossistemas naturais.
Segundo Ponting (1995), esses grupos viviam em estreita harmonia com o meio ambiente, provocando danos
mínimos aos ecossistemas naturais. A colheita de alimentos exigia um conhecimento muito detalhado e uma
compreensão considerável dos locais onde esses alimentos poderiam ser encontrados, nas diferentes épocas do
ano, para que o ciclo anual das atividades de subsistência fosse organizado adequadamente, da mesma forma,
a criação e caça de animais exigia um estudo apurado de seus hábitos e movimentos.
Após alguns milhares de anos, a humanidade passa pela primeira grande transição, com surgimento e
evolução gradual da agricultura e a possibilidade de sustentar populações maiores, surgindo assim, as
primeiras cidades. Com a oferta de maiores quantidades de alimentos, tornou-se possível a evolução de
sociedades estabelecidas e de elites religiosas, políticas e militares. O homem nômade torna-se sedentário,
passando a modificar os ecossistemas naturais com a derrubada de florestas objetivando produzir grãos e pasto
para os animais.
Segundo Ponting (1995), durante aproximadamente dois milhões de anos os seres humanos viveram da
colheita, do pastoreio e da caça, passando após alguns milhares de anos a um modo de vida radicalmente
diferente, baseado em importante alteração de ecossistemas naturais, objetivando a produção de grãos e de
pasto para os animais.
Dias (2008) relata que com o homem produzindo os alimentos de que necessitava, houve um excedente de
alimentos, o que permitiu que se aumentasse a complexidade de funções que existiam. Puderam surgir ofícios
não diretamente ligados à produção de alimentos, aumentando a divisão do trabalho. Com o aumento da
complexidade das sociedades, cresceu a necessidade de cooperação continuada de numerosas pessoas para um
fim específico, de manutenção da qualidade de vida. Poting (1995) acrescenta ainda que a adoção da
agricultura, juntamente com suas duas maiores consequências – as comunidades assentadas e uma população
continuamente crescente – submeteram o meio ambiente a uma tensão constante.
A segunda grande transição na história humana ocorreu com a exploração dos estoques de combustíveis
fósseis, dando início a uma era de energia abundante, necessária para iluminação, calor e força. Segundo
Ponting (1995), a segunda grande transição na história humana, comparável em importância à adoção da
agricultura e ao surgimento das sociedades estabelecidas, envolveu a exploração dos vastos (mas limitados)
estoques de combustíveis fósseis, tornando possível uma era de energia abundante. Desde então, tais
suprimentos de energia estão sendo utilizados como se fossem inexauríveis.
O homem vem consumindo os recursos naturais como se não fosse parte do meio em que vive, sem maiores
preocupações com a conservação destes recursos. Tais ações resultam da separação homem-natureza, uma
característica marcante do pensamento que domina o mundo ocidental e coloca o homem como o centro do
mundo, devendo este dominar a natureza. Mantovani (2007) coloca que ao longo do tempo, a idéia que o
homem faz da natureza foi alterada, passando de uma visão mágica, por uma visão mecanicista até o olhar
utilitarista, como fonte de recursos.
A natureza passa a ser um objeto que deve ser possuído e dominado. Visão essa que se fortalece após a
Revolução Industrial com a instituição do capitalismo, pois os recursos naturais - que antes eram utilizados
para satisfazer as necessidades humanas mais básicas - passam a ser utilizados para acumular riqueza,
alimentando um consumismo crescente. Gonçalves (2000) argumenta que a idéia de uma natureza objetiva e
exterior ao homem, que pressupõe uma idéia de homem não-natural e fora da natureza, cristaliza-se com a
civilização industrial inaugurada pelo capitalismo.
Para Hawken et al. (1999), a Revolução Industrial deu origem ao capitalismo moderno, expandindo
extraordinariamente as possibilidades de desenvolvimento material da humanidade. A partir de meados do
século XVIII destruiu-se mais a natureza que em toda a história anterior.
Este conflito entre a lógica capitalista e a perspectiva ambiental é histórico. Hoje o mundo se defronta com
limitações de recursos e sofre com a degradação ambiental. O cenário atual reflete nitidamente os efeitos das
ações humanas que não respeitaram pressupostos básicos para que a dinâmica natural fosse mantida. Segundo
Merico (1996), para conservar esta dinâmica seria necessário não retirar dos ecossistemas mais do que sua
capacidade de regeneração e não lançar aos ecossistemas mais do que a sua capacidade de absorção.
Entretanto, o homem busca um crescimento econômico infinito e todas as suas ações estão direcionadas para a
acumulação de capital, esgotando ao mesmo tempo suas próprias fontes de riqueza e sustentação,
comprometendo ainda a qualidade de vida das recentes e futuras gerações.
Segundo Camargo (2003), os efeitos devastadores das duas grandes guerras mundiais foram decisivos para
que houvesse um impulso na conscientização dos seres humanos a respeito dos problemas ambientais. No
contexto pós-Segunda Guerra inicia-se uma mudança de valores no sentido de reagir e apresentar alternativas
aos problemas causados pela degradação ambiental. Tais mudanças foram chamadas de revolução ambiental,
como também foram denominadas de movimento ecológico, surgiram inicialmente nos países desenvolvidos e
aos poucos alcançaram o resto do mundo ao longo do século XX.
A década de 50 foi marcada pela preocupação ecológica da comunidade científica. Já a década de 60, pela
preocupação ecológica relacionada aos atores do sistema social, criticando não só um modo de produção, mas
o modo de vida. Os fatos mais marcantes nesta década foram a criação, em 1961, do World Wildlife Fund
(WWF) – primeira ONG ambiental mundial e, em 1962, a publicação do livro Silent Spring (Primavera
Silenciosa) por Rachel Carson denunciando os estragos causados pelo uso do DDT e outros agrotóxicos,
contribuindo para a proibição desse produto e criação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
(EPA).
A década de 70 foi marcada pela criação de diversas organizações internacionais com o objetivo de discutir
problemas ambientais em âmbito mundial e também dos primeiros movimentos ambientalistas organizados
como o Greenpeace. Registrou-se o começo da preocupação ambiental pelo sistema político.
A década de 80 foi marcada pelo surgimento de leis regulamentando a atividade industrial em grande parte
dos países no que se refere à poluição e só então na década de 1990 ocorre um grande impulso com relação à
consciência ambiental na maioria dos países.
No Brasil, a Rio 92 chamou a atenção do mundo para a dimensão global dos perigos que ameaçam a vida na
Terra e para a necessidade de uma aliança entre todos os povos em prol de uma sociedade sustentável. Como
resultado houve a aprovação de vários documentos como a declaração do Rio de Janeiro sobre o meio
ambiente e o desenvolvimento; a convenção sobre mudanças climáticas; declaração de princípios sobre
florestas e a Agenda 21. Esta foi identificada como uma agenda de trabalho para o século XXI, em que se
procurou identificar os problemas prioritários, os recursos e os meios necessários para enfrentá-los, bem como
as metas a serem atingidas nas próximas décadas.
A década de 90 foi a década da Gestão Ambiental em que foram elaboradas uma série de normas e suas
ferramentas para as empresas voltadas ao meio ambiente – como as normas da ISO série 14.000. A carta da
Terra foi outro marco da década de 90, contemplando todas as dimensões do homem em sua interação com a
natureza e servindo como um código ético planetário - equivalente à declaração Universal dos Direitos
Humanos – buscando promover um diálogo mundial sobre os valores compartilhados, ética global, de modo a
servir como um tratado dos povos, na promoção de uma aliança global em respeito à Terra e à vida.
Diante do exposto, percebe-se que houve uma revolução de valores nos últimos 50 anos. Em uma primeira
fase, foram percebidos os problemas ambientais localizados; em uma segunda fase, a degradação ambiental
foi percebida como um problema generalizado, restrito aos limites territoriais dos Estados nacionais e, em uma
terceira fase a degradação ambiental foi percebida como um problema planetário que atinge a todos.
O termo ecodesenvolvimento foi substituído por desenvolvimento sustentável e ambos vêm sendo utilizados
como sinônimos. A definição mais elaborada do conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentada no
relatório produzido na Comissão de Brundland (Nosso Futuro Comum); dentre elas: “O desenvolvimento
sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer de as gerações futuras
atenderem a suas próprias necessidades”.
Contudo, não há um consenso quanto ao seu real significado. Muitos acreditam que a expressão
desenvolvimento sustentável parece ambígua unindo duas palavras que por definição são antagônicas. Para
alguns, o desenvolvimento sustentável é um conceito em evolução. Brügger (1984, apud CAMARGO 2003)
ressalta, contudo, que a expressão pode ser utilizada para ocultar, por meio de uma “maquiagem verde”, as
mesmas estruturas que vem causando a degradação da natureza. Herculano (1992, apud CAMARGO 2003)
ressalta que o significado de desenvolvimento que ainda predomina é o de crescimento dos meios de
produção, acumulação, inovação técnica e aumento da produtividade, ou seja, o de expansão das forças
produtivas e não a alteração das relações sociais de produção.
Embora seja um conceito amplamente utilizado, pouco se conhece como promover o desenvolvimento
sustentável e o grande desafio da atualidade tem sido a busca da sua viabilidade e operacionalização. Dias
(2008) coloca que somente com os avanços da adoção de Sistemas de Gestão por parte das empresas teremos
uma perspectiva de rumarmos para um desenvolvimento minimamente sustentável.
O homem percorreu um longo caminho em direção ao desenvolvimento, perdendo a percepção sagrada que
tinha em relação à natureza, devendo esta ser respeitada. No cenário atual, marcado pela busca constante de
um desenvolvimento em harmonia com a natureza, o homem tenta encontrar meios para materializar a
sustentabilidade. A humanidade chega finalmente a um estágio de permanente busca por alternativas
sustentáveis para minimizar os impactos causados por suas ações. Segundo Sachs (1986), a questão central é
encontrar modalidades de crescimento que tornem compatíveis o progresso social e o gerenciamento sadio dos
recursos e do meio. Contudo, os atuais padrões de produção e consumo são incompatíveis com os ideais de
sustentabilidade e esta tem sido tratada como uma utopia, sendo assim, torna-se necessário refletir sobre quais
são as reais necessidades básicas de consumo que deveriam ser adotadas pela humanidade sem comprometer a
qualidade de vida das atuais e futuras gerações.
CONCLUSÕES
Promover mudança que venha tratar prioritariamente da defesa do meio ambiente ainda está reservado no
imaginário de alguns grupos ecológicos que lutam isoladamente pela causa. Reconhecer que a sociedade como
um todo poderia promover a tal revolução é absolutamente utópico para o sistema econômico atual, em que se
privilegiam o individualismo, as bases materialistas e o capital.
O grande desafio da humanidade com relação à questão ambiental consiste em encontrar um ponto de
equilíbrio entre as variáveis econômicas sobre as questões ambientais, de modo a garantir o desenvolvimento
econômico, sem degradar o meio ambiente. A fim de manter a sua biodiversidade, assegurando, desse modo,
as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. CAMARGO, Ana Luíza de Brasil. Desenvolvimento Sustentável: dimensões e desafios. Campinas:
Papiros, 2003.
2. DIAS, R. Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2008.
3. GONÇALVES, C. W. P. Os (Des) caminhos do Meio Ambiente. São Paulo: Contexto, 2000.
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Industrial. SP: Cultrix, 1999.
5. MANTOVANI, Waldir. O debate da ecologia com a sociedade. In: VIII Congresso de Ecologia do
Brasil, 2007. Caxambu – MG. Anais... Caxambu: SEB, 2007. p. 1-6.
6. MERICO, Luiz. F. K. Introdução à economia ecológica. Blumenau: FURB, p. 30, 1996.
7. POTING, Clive. Uma história verde do mundo. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 1995.
8. SACHS, I. Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir. São Paulo: Vértice, 1986.
9. SANTOS, M. Técnica, espaço e tempo. Globalização e meio técnico-científico-informacional. São
Paulo: Hucitec, 1994.
10. VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2007.