Manifesto Eco Modernista
Manifesto Eco Modernista
Manifesto Eco Modernista
Neste exato sentdo, abriram mão de notas opinatvas assim como de quaisquer
outros recursos que poderiam induzir ou direcionar o entendimento dos leitores. A
organização do texto acata o que está consignado na versão original em língua
inglesa e as notas, são todas sem exceção, explicatvas.
INTRODUÇÃO
Verdadeiramente, afrmar que a Terra é um planeta humanizado se confrma dia a
dia. Os seres humanos são um produto da Terra. E a Terra é refeita pelas mãos
humanas. Muitos especialistas das ciências da Terra expressam tal noção afrmando
que a Terra entrou numa nova era geológica: o Antropoceno. Isto é: a Era dos
Humanos 4.
Um Bom Antropoceno 5 exige que os seres humanos ponham em ação seu crescente
poder social, econômico e tecnológico para assegurar uma vida melhor para as
pessoas, estabilizar o clima e proteger o mundo natural.
Estes dois ideais não têm mais como ser conciliados. Os sistemas naturais não
poderão, grosso modo, serem protegidos ou reforçados perante uma expansão da
dependência humana sobre estes mesmos sistemas, responsáveis por seu sustento e
bem-estar.
“Um Bom Antropoceno exige que os seres humanos façam uso dos seus
crescentes poderes sociais, econômicos e tecnológicos para tornar a
vida melhor para as pessoas, estabilizar o clima e proteger o mundo
natural”.
Embora tenhamos escrito este texto separadamente 6, nossas opiniões são cada vez
mais discutdas como se fossem só uma. Deste modo, nós nos autodenominamos
como ecopragmatstas e ecomodernistas.
Nós oferecemos esta declaração para afrmar e clarifcar nossos pontos de vista. E de
igual modo, para descrever nossa visão quanto a colocar os poderes extraordinários
agremiados pela Humanidade a serviço da criação de um Bom Antropoceno.
5
I
A Humanidade tem prosperado ao longo dos últmos dois séculos. A expectatva
média de vida ampliou-se de 30 para 70 anos, resultando numa numerosa e pujante
população humana capaz de viver em muitos ambientes diferentes.
Das terras outrora cobertas por forestas, 20% destas foram incorporadas ao uso
humano. As populações de numerosos mamíferos, anfbios e aves declinaram em
mais de 50% somente nos últmos 40 anos. Um número superior a 100 espécies
destes grupos foi extnto no Século XX. E em torno de 785 espécies, desde o ano de
1500. No momento em que este texto é redigido, unicamente quatro rinocerontes
brancos setentrionais permanecem vivos.
Dado que os seres humanos são totalmente dependentes da biosfera viva, como é
possível que as pessoas deem curso a tamanhos danos aos sistemas naturais sem que
com isso, deixem de causar mal ainda maior para elas mesmas?
A despeito das asserções frequentes registradas a partr dos anos 1970 com premissa
nos “limites do crescimento” 7, são notavelmente restritas as evidências de que a
população humana e a expansão econômica sobreponham-se, em futuro previsível, à
capacidade de produzir alimentos e de prover-se de recursos materiais crítcos.
O nível para o qual são fxados os limites fsicos para o consumo humano é tanto
demasiado teórico quanto funcionalmente irrelevante. Por exemplo, a quantdade de
radiação solar que incide na Terra, é em últma análise fnita. Mas, isto não implica
em quaisquer restrições signifcatvas para os empreendimentos humanos.
Com uma gestão adequada, os humanos não correm risco de fcarem desprovidos de
superfcie agricultável sufciente para produzir alimentos. Tendo por patamar
abundância de terra e energia ilimitada, substtutvos para outros inputs 11 materiais
para o bem-estar humano podem ser facilmente encontrados na eventualidade
destes inputs se tornarem escassos ou dispendiosos.
7
Ainda que tais riscos sejam difcilmente quantfcáveis, hoje está explícita a evidência
de um ponderável potencial de risco quanto a impactos catastrófcos incidindo sobre
as sociedades e ecossistemas. Embora sejam graduais, sequelas não-catastrófcas
associadas com tais ameaças resultam comumente em custos humanos e
econômicos expressivos, do mesmo modo que induzem perdas ecológicas.
II
Embora os impactos ambientais humanos mantenham sua repercussão no seu
conjunto, um rol de tendências de longo prazo está conotando apreciável dissociação
do bem-estar humano relatvamente aos impactos ambientais.
Dado que vidas humanas foram alforriadas do duro trabalho agrícola, recursos
humanos gigantescos foram liberados para outros empreendimentos. As cidades, tal
como as conhecemos nos dias de hoje, não poderiam existr na ausência de
mudanças radicais na agricultura. Nesta acepção, a modernização é impossível numa
economia agrária de subsistência.
Hoje, a utlização média per capita de terra é muito menor do que era há 5.000 anos.
Isto a despeito do fato de que modernamente as pessoas desfrutam de uma dieta
bem mais rica.
Cerca de 80% da Nova Inglaterra é atualmente coberta por forestas, contra com
cerca de 50% aos fnais do Século XIX. Ao longo dos últmos 20 anos, a extensão de
terra dedicada à produção forestal mundial diminuiu em 50 milhões de hectares,
uma área equivalente à França.
Por outro lado, embora a quantdade total de poluição pelo nitrogênio esteja a
aumentar, a medida incorporada por unidade de produção tem diminuído
signifcatvamente nos países desenvolvidos.
Tal dinâmica pode até mesmo ser mais pronunciada nas economias em
desenvolvimento de hoje, as quais podem se benefciar do fato de serem aderentes
tardios das tecnologias de uso efciente dos recursos.
Tomadas em seu conjunto, tais tendências signifcam que o impacto total humano
sobre o meio ambiente, incluindo as alterações no uso da terra, sobre-exploração e a
poluição, pode pontfcar seu auge e declinar neste século.
III
Os processos de dissociação descritos anteriormente põem em cheque a ideia de que
as primeiras sociedades humanas viviam mais harmoniosamente sobre a terra do
que as sociedades modernas. Porquanto as sociedades do passado tenham
provocado impacto menor sobre o meio ambiente, isto se deveu, contudo, por tais
sociedades somarem escassos contngentes populacionais.
Tais padrões sugerem que os humanos são propensos a poupar a natureza em vista
dela não ser tão necessária para satsfazer suas necessidades quanto para eles o seria
poupá-la por explícitas razões estétcas e espirituais.
As partes do Planeta onde ainda não se procedeu a uma alteração profunda por
parte dos humanos, em sua maioria foram poupadas em razão de não serem até
agora encontrados usos econômicos para estas paisagens, tais como montanhas,
desertos, forestas boreais e outras terras “marginais”.
IV
O acesso abundante a formas modernas de energia é pré-requisito essencial para o
desenvolvimento humano e para a dissociação entre desenvolvimento e natureza. A
disponibilidade de energia barata permitrá que as pessoas pobres ao redor do
mundo parem de utlizar a foresta como combustvel.
Porém, tais ações não têm alcançado taxas consistentes de modo a manter as
emissões acumuladas de carbono num nível sufcientemente seguro, abaixo da meta
internacional de menos de 2 graus centgrados de aquecimento global.
Entretanto, ainda há muita confusão quanto à forma como isso poderá ser efetvado.
Note-se que nos países em desenvolvimento, o aumento do consumo de energia está
justamente correlacionado ao aumento dos rendimentos e melhoria dos padrões de
vida.
Por essa razão, qualquer confito entre a mitgação das alterações climátcas e a
contnuidade do processo de desenvolvimento, através do qual, bilhões de pessoas
ao redor do mundo estão sendo alçadas a um moderno padrão de vida, será
retumbantemente solucionado em favor desta últma.
Apesar disso, também salvará vidas. Para milhões que vivem sem luz e forçados a
queimar estrume para cozinhar seus alimentos, a eletricidade e os combustveis
modernos, não importa a fonte, oferece um caminho para uma vida melhor. Assim
como igualmente trazem novos desafos ambientais.
Combustveis com maior qualidade (ou seja, menos carbono intensivo, densidade
maior) em substtuição àqueles de baixa qualidade (isto é, mais carbono intensivo,
densidade menor), é de modo geral, como todas as sociedades têm descarbonizado
suas atvidades, apontando um caminho na direção da descarbonização acelerada no
futuro.
Infelizmente, muitas das formas de energia renovável são incapazes de realizar tal
feito. A extensão do uso do solo e outros impactos ambientais necessários para
prover o mundo de biocombustveis e de muitas outras fontes renováveis são de tal
monta que colocamos em dúvida que estas consttuam opção que repercuta
favoravelmente para um futuro de baixa pegada ecológica no tocante ao carbono
zero.
No longo prazo, energia solar de próxima geração, a fssão nuclear avançada e fusão
nuclear representam o caminho mais plausível para atngir os objetvos comuns de
estabilização do clima e dissociação radical dos humanos da natureza.
Porém, caso a história das transições de energia sirvam de guia, tal transição irá se
prolongar no tempo. Durante essa transição, outras tecnologias energétcas poderão
proporcionar benefcios sociais e ambientais importantes.
As barragens hidrelétricas podem ser, por exemplo, uma fonte barata de energia de
baixo carbono para as nações pobres. Isto a despeito de que a pegada em terras e
consumo de água das hidrelétricas seja relatvamente grande.
V
Nós escrevemos este documento transcendendo um profundo amor e conexão
emocional com o mundo natural. Ao apreciar, explorar, procurando entender e
cultvar a natureza, muitas pessoas se retram de si mesmas. Elas se conectam com
sua profunda história evolutva.
Na maioria dos casos, não existe uma única linha de base anterior às intervenções
humanas que possa ser reivindicada como referência para o retorno ao natural.
Exemplifcando, os esforços para restaurar paisagens para que mais se assemelhem
com registros originais [“indigeneidade”], pode signifcar a remoção de espécies
recém-chegadas [“espécies invasoras”].
Esforços explícitos para preservar as paisagens por seu valor não utlitário são
inevitavelmente escolhas antropogênicas 21. Por este motvo, todos os esforços de
conservação são em igual medida, fundamentalmente antropogênicos. Deixar de
lado a natureza selvagem é não menos uma escolha a serviço das preferências
humanas do que arrasá-la.
As pessoas podem optar por ter alguns serviços, tais como purifcação da água e
proteção contra inundações, fornecidos por sistemas naturais, quais sejam: bacias
hidrográfcas forestadas, recifes, pântanos e áreas úmidas, mesmo que tais sistemas
naturais sejam mais dispendiosos do que meramente erguer estações de tratamento
de água, quebra-mares e diques. Em suma: não haverá solução de tamanho único.
22
Isoladamente, a dissociação acelerada não será sufciente para garantr mais natureza
selvagem. Para tanto, uma polítca de conservação e um movimento em prol da vida
selvagem para exigir mais vida selvagem com base em motvações estétcas e
espirituais deve manter-se atuante.
VI
Asseveramos a necessidade e a capacidade humana para acelerar uma dissociação
acelerada, atva e consciente. O progresso tecnológico não é inevitável. Dissociar
impactos ambientais de resultados econômicos não é simplesmente uma função de
inovação orientada para o mercado, de uma resposta efciente à escassez.
O longo arco da transformação humana dos ambientes naturais por intermédio das
tecnologias começou bem antes de existr qualquer coisa que recordasse o mercado
ou sequer um sinal de precifcação. Graças ao aumento da demanda, da escassez,
inspiração e serendipidade 22, os humanos têm refeito o mundo por milênios.
Neste sentdo, a modernização liberou cada vez mais pessoas de uma vida de
pobreza e do árduo trabalho agrícola; as mulheres, do status de autêntco bem
imóvel; as crianças e as minorias étnicas, da opressão; as sociedades, do mando
arbitrário e aleatório.
mais produtvas são não apenas aquelas economias mais ricas, mas também as que
se habilitaram a atender com maior acerto as demandas humanas, encaminhando
fração ponderável do seu surplus 24 econômico para comodidades não-econômicas.
Nestas estão incluídos os cuidados com a saúde humana, ampliação da liberdade e
das oportunidades, artes, cultura e conservação da natureza.
VII
Nós apresentamos esta declaração acreditando que tanto a prosperidade humana
quanto um planeta ecologicamente vibrante são não apenas possíveis, mas
igualmente inseparáveis entre si. Comprometendo-nos com os processos reais, já em
curso, que começaram a separar bem-estar humano da destruição do meio
ambiente, acreditamos que esse futuro pode ser alcançado. Como tal, nós abraçamos
uma visão otmista para com as capacidades humanas e o futuro.
É nossa esperança que este documento possa contribuir para uma melhoria da
qualidade e teor no diálogo a respeito de como proteger o meio ambiente no Século
XXI. Muito assiduamente os debates sobre o meio ambiente têm sido dominados por
extremismos e atormentados pelo dogmatsmo, o que por sua vez alimenta a
intolerância.
Esperamos que esta declaração faça progredir o diálogo pertnente sobre a melhor
forma de obter dignidade humana universal em um planeta biodiverso e próspero.
26
STEWART BRAND - Cofundador de Revive & Restore, da Long Now Fundaton, The
WELL, Global Business Network e fundador/editor do Whole Earth Catalog. Dentre
seus livros se incluem: Whole Earth Discipline: The Rise of Ecopragmatsm, The Clock
of the Long Now, How Buildings Learn e The Media Lab. Ele foi treinado em Ecologia
em Stanford e serviu como ofcial de infantaria do Exército dos EUA.
MARK LYNAS - Autor de vários livros sobre o meio ambiente, incluindo High Tide: Six
Degrees, The God Species e Nuclear 2.0. Mark é atualmente professor visitante na
Universidade de Cornell junto à Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida,
trabalhando na recentemente fundada Cornell Alliance for Science. Lynas
frequentemente desenvolve palestras sobre as alterações climátcas, biotecnologia e
a importância da ciência na sociedade.
http://mwtextos.com.br/serie-meio-ambiente/
Os debates sobre MEIO AMBIENTE são um pilar central de atuação da
EDITORA KOTEV, publicadora digital que entrou em atividades no ano de
2016. Também trabalhamos com temas relacionados com RELAÇÕES
INTERNACIONAIS, AFRICANIDADES, CARTOGRAFIA, ANTROPOLOGIA e
EDUCAÇÃO POPULAR.