Manifesto Eco Modernista

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1

MANIFESTO ECO MODERNISTA 1

MAURÍCIO WALDMAN 2 e TADEU ALCIDES MARQUES 3


Tradutores do Manifesto Eco Modernista para o português

PREFÁCIO DOS TRADUTORES


O Manifesto Eco Modernista foi lançado no mês de Abril de 2015. Desde então, este
material, redigido e assinado por proeminente grupo de especialistas na questão
ambiental, provocou alvoroço e muitas polêmicas.

Indiscutvelmente, o cerne das controvérsias reside na dissociação entre


Desenvolvimento e Natureza. Consistndo na proposição central da argumentação
dos signatários do Documento, o Manifesto tem, pois por pressuposto conceitual
uma contestação das teses do Desenvolvimento Sustentável.

Seja como for, certo é que a noção de Desenvolvimento Sustentável - consagrada


pela Conferência Mundial do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, a Eco 92 - encontrou
obstáculos objetvos em termos de uma consecução concreta.

Note-se que a conceituação terminou conotada por uma polissemia onipresente.


Tanto assim que num Planeta assolado por desequilíbrios de todo o tpo, um copioso
rol de produtos e serviços ditos “sustentáveis” transita de modo eloquente por todo
o cotdiano.

Tal nuança, acompanhada de avanços muito pequenos da sustentabilidade num


amplo espectro de contextos e situações, abriu então um vácuo que em princípio, o
Manifesto Eco Modernista se presta a ocupar.

Portanto, em termos da factualidade conjuntural, o Manifesto Eco Modernista,


independentemente dos apoios ou das crítcas a ele dirigidas, evidencia demandas
que sugerem o repensar do ambientalismo, suas metas e formas de atuação.

Assim sendo, os tradutores do Manifesto Eco Modernista entenderam que quebrar a


barreira do idioma e traduzir o texto para o português pode contribuir para com
novos debates e novas propostas, ambas essenciais num contexto histórico gravado
por uma crise ambiental sem precedentes.
2

Nesta perspectva, para além das cautelas editoriais e do empenho em transmitr na


tradução as partcularidades que circunscrevem a identdade linguístca do idioma
português, os tradutores pretendem ampliar e garantr com a tradução uma ampla
democratzação do debate ambiental.

Neste exato sentdo, abriram mão de notas opinatvas assim como de quaisquer
outros recursos que poderiam induzir ou direcionar o entendimento dos leitores. A
organização do texto acata o que está consignado na versão original em língua
inglesa e as notas, são todas sem exceção, explicatvas.

Ademais, os tradutores agradecem pela gentleza da Kotev Editora, da capital


paulista, em formatar e confgurar o texto da tradução.

O que segue então é o texto do Manifesto Eco Modernista, para conhecimento,


análise e avaliação dos interessados.
3

INTRODUÇÃO
Verdadeiramente, afrmar que a Terra é um planeta humanizado se confrma dia a
dia. Os seres humanos são um produto da Terra. E a Terra é refeita pelas mãos
humanas. Muitos especialistas das ciências da Terra expressam tal noção afrmando
que a Terra entrou numa nova era geológica: o Antropoceno. Isto é: a Era dos
Humanos 4.

Na condição de acadêmicos, cientstas, atvistas e cidadãos, nós redigimos este


manifesto com a convicção de que o conhecimento e a tecnologia, aplicados com
sabedoria, poderão permitr um bom ou até mesmo um magnífco Antropoceno.

Um Bom Antropoceno 5 exige que os seres humanos ponham em ação seu crescente
poder social, econômico e tecnológico para assegurar uma vida melhor para as
pessoas, estabilizar o clima e proteger o mundo natural.

Neste manifesto, reafrmamos um antgo ideal ambiental: que a Humanidade faça


retroceder os impactos ocasionados no meio ambiente de modo a abrir mais espaço
para a natureza. Ao mesmo tempo rejeitamos um segundo ideário, calcado na noção
de que as sociedades humanas devam buscar harmonia com a natureza de sorte que
seja evitado um colapso econômico e ecológico.

Estes dois ideais não têm mais como ser conciliados. Os sistemas naturais não
poderão, grosso modo, serem protegidos ou reforçados perante uma expansão da
dependência humana sobre estes mesmos sistemas, responsáveis por seu sustento e
bem-estar.

“Um Bom Antropoceno exige que os seres humanos façam uso dos seus
crescentes poderes sociais, econômicos e tecnológicos para tornar a
vida melhor para as pessoas, estabilizar o clima e proteger o mundo
natural”.

A chave para dissociar o desenvolvimento humano dos impactos ambientais é


intensifcar as atvidades humanas, partcularmente a agricultura, obtenção de
energia, silvicultura e os assentamentos, de modo que se apropriem de menor
proporção de solo, é a chave para interferir em menor escala no mundo natural.
4

Estes processos socioeconômicos e tecnológicos são fundamentais para a


modernização econômica e proteção ambiental. Conjuntamente, permitriam às
pessoas mitgar as mudanças climátcas, poupar a natureza e aliviar a pobreza global.

Embora tenhamos escrito este texto separadamente 6, nossas opiniões são cada vez
mais discutdas como se fossem só uma. Deste modo, nós nos autodenominamos
como ecopragmatstas e ecomodernistas.

Nós oferecemos esta declaração para afrmar e clarifcar nossos pontos de vista. E de
igual modo, para descrever nossa visão quanto a colocar os poderes extraordinários
agremiados pela Humanidade a serviço da criação de um Bom Antropoceno.
5

I
A Humanidade tem prosperado ao longo dos últmos dois séculos. A expectatva
média de vida ampliou-se de 30 para 70 anos, resultando numa numerosa e pujante
população humana capaz de viver em muitos ambientes diferentes.

A Humanidade fez progressos extraordinários na redução da incidência e impactos


das doenças infecciosas. Da mesma maneira, se tornou mais resiliente em responder
às condições meteorológicas extremas e outros desastres naturais.

“As tecnologias humanas - tendo numa ponta as que num primeiro


momento propiciaram à agricultura a substtuiçço da caça e da coleta,
e na outra, as que hoje se postam ao comando da economia globalizada
- todas em comum tornaram os seres humanos menos dependentes dos
diversos ecossistemas que no passado, consttuuam seu sustento
exclusivo. Au incluudos os sistemas do meio natural que terminaram
profundamente comprometdos”.

A violência em todas suas formas retraiu signifcatvamente. Provavelmente atngiu o


menor nível per capita já experimentado pela espécie humana. Isto a despeito dos
horrores do Século XX e nos dias que seguem, do terrorismo. Na escala global, a
Humanidade deixou para trás os governos autocrátcos, tomando a direção da
democracia liberal, caracterizada pelo Estado de direito e ampliação da liberdade.

Liberdades pessoais, econômicas e polítcas se propagaram pela totalidade do globo,


sendo nos dias de hoje largamente aceitas enquanto valores universais. A
modernização libertou as mulheres dos papéis tradicionais de gênero, que ampliaram
o controle exercido sobre a fertlidade. Historicamente, um número maior de seres
humanos, tanto percentualmente quanto em números absolutos, foi libertado da
insegurança, da miséria e da servidão.

Ao mesmo tempo, a prosperidade dos humanos cobrou um alto preço da natureza,


dos ambientes não-antropizados e da vida selvagem. Os seres humanos fazem uso de
aproximadamente metade das terras livres de gelo do Planeta, convertdas
especialmente em pastagens, cultvos e produção forestal.
6

Das terras outrora cobertas por forestas, 20% destas foram incorporadas ao uso
humano. As populações de numerosos mamíferos, anfbios e aves declinaram em
mais de 50% somente nos últmos 40 anos. Um número superior a 100 espécies
destes grupos foi extnto no Século XX. E em torno de 785 espécies, desde o ano de
1500. No momento em que este texto é redigido, unicamente quatro rinocerontes
brancos setentrionais permanecem vivos.

Dado que os seres humanos são totalmente dependentes da biosfera viva, como é
possível que as pessoas deem curso a tamanhos danos aos sistemas naturais sem que
com isso, deixem de causar mal ainda maior para elas mesmas?

O papel que a tecnologia joga na redução da dependência da Humanidade


relatvamente à natureza explica esse paradoxo. As tecnologias humanas, tendo
numa ponta as que num primeiro momento propiciaram à agricultura a substtuição
da caça e da coleta, e na outra, as que hoje se postam ao comando da economia
globalizada, todas em comum tornaram os seres humanos menos dependentes dos
diversos ecossistemas que no passado, consttuíam sua única forma de subsistência.
Aí incluídos os sistemas do meio natural que terminaram profundamente
comprometdos.

A despeito das asserções frequentes registradas a partr dos anos 1970 com premissa
nos “limites do crescimento” 7, são notavelmente restritas as evidências de que a
população humana e a expansão econômica sobreponham-se, em futuro previsível, à
capacidade de produzir alimentos e de prover-se de recursos materiais crítcos.

O nível para o qual são fxados os limites fsicos para o consumo humano é tanto
demasiado teórico quanto funcionalmente irrelevante. Por exemplo, a quantdade de
radiação solar que incide na Terra, é em últma análise fnita. Mas, isto não implica
em quaisquer restrições signifcatvas para os empreendimentos humanos.

A civilização humana tem condições de forescer por séculos e milênios com a


energia fornecida pelo urânio em ciclo fechado 8 e pelo ciclo combustvel do tório 9.
Ou ainda, com base na fusão do hidrogênio-deutério 10.

Com uma gestão adequada, os humanos não correm risco de fcarem desprovidos de
superfcie agricultável sufciente para produzir alimentos. Tendo por patamar
abundância de terra e energia ilimitada, substtutvos para outros inputs 11 materiais
para o bem-estar humano podem ser facilmente encontrados na eventualidade
destes inputs se tornarem escassos ou dispendiosos.
7

Subsistem, no entanto, ameaças ambientais graves em longo prazo para o bem-estar


humano. A saber: alterações climátcas antropogênicas, depleção do ozônio
estratosférico e acidifcação dos oceanos.

Ainda que tais riscos sejam difcilmente quantfcáveis, hoje está explícita a evidência
de um ponderável potencial de risco quanto a impactos catastrófcos incidindo sobre
as sociedades e ecossistemas. Embora sejam graduais, sequelas não-catastrófcas
associadas com tais ameaças resultam comumente em custos humanos e
econômicos expressivos, do mesmo modo que induzem perdas ecológicas.

Grande parte da população mundial se ressente de riscos para a saúde ambiental no


entorno mais imediato. A poluição do ar em ambientes fechados e abertos persevera
em provocar morte prematura e doenças para milhões de pessoas a cada ano.

A poluição da água e as doenças transmitdas pela água, em face da poluição e da


degradação das bacias hidrográfcas, promovem padecimentos da mesma ordem.
8

II
Embora os impactos ambientais humanos mantenham sua repercussão no seu
conjunto, um rol de tendências de longo prazo está conotando apreciável dissociação
do bem-estar humano relatvamente aos impactos ambientais.

“Dadas as tendências atuais, é muito possuvel que o tamanho da


populaçço humana atngirr seu pico neste século, para em seguida,
começar a declinar”.

A dissociação ocorre tanto em termos relatvos quanto absolutos. Dissociação


relatva signifca que os impactos ambientais humanos crescem numa cadência mais
lenta do que o crescimento econômico global.

Assim, para cada unidade de produção econômica, o impacto ambiental é menor


(exemplos: desmatamento, defaunação, poluição). Por outro lado, a ordem global de
impactos pode ainda crescer em taxas mais lentas do que em outra situação.

Dissociação absoluta ocorre quando o total dos impactos ambientais, entendido


como impactos que ocorrem no seu conjunto, alcançam seu patamar máximo para
começar a diminuir, mesmo com a economia contnuando a crescer. A dissociação
pode ser induzida tanto por tendências tecnológicas quanto demográfcas, sendo
usualmente o resultado da combinação dos dois casos.

A taxa de crescimento da população humana já atngiu seu pico. Hoje, a taxa de


crescimento da população é da ordem de 1% ao ano, abaixo da alta pontuação de
2,1% na década de 1970. As taxas de fertlidade nos países que reúnem mais da
metade da população mundial estão agora abaixo do nível de reposição.

Nos dias que correm o crescimento da população é especialmente impulsionado por


uma maior expectatva de vida e menor mortalidade infantl. Não pelo aumento das
taxas de fertlidade. Dadas as tendências atuais, é muito possível que o tamanho da
população humana atngirá seu pico neste século, para em seguida, começar a
declinar.
9

Cabe atnar que estas tendências populacionais estão inextricavelmente associadas a


outras dinâmicas demográfcas e econômicas. Pela primeira vez na história da
Humanidade mais de metade da população global vive no meio urbano.

Espera-se que em 2050, 70% da população mundial esteja residindo em cidades, um


contngente que poderá se avantajar para 80% ou mais até o fnal do século. As
cidades se caracterizam pela alta densidade demográfca e baixas taxas de fertlidade.

“As cidades ocupam apenas entre um a três por cento da superfcie da


Terra e jr consttuem o lar de quase quatro bilhões de pessoas”.

As cidades ocupam apenas entre um a três por cento da superfcie da Terra e já


consttuem o lar de quase quatro bilhões de pessoas. Enquanto tal, as cidades
simbolizam e induzem o desacoplamento entre Humanidade e natureza.

E nesta sina, desempenham-se melhor que as economias rurais em prover mais


efcientemente as demandas materiais, performance esta acompanhada do recuo
dos impactos ambientais.

O crescimento das cidades, junto com os benefcios econômicos e ecológicos que as


acompanham, é inseparável de melhorias na produtvidade agrícola. Uma vez que a
agricultura tornou mais efciente o uso da terra e do trabalho, as populações rurais
abandonaram o campo em favor das cidades. No ano de 1880 cerca de metade da
população dos EUA era rural. No presente momento, menos de dois por cento o são.

Dado que vidas humanas foram alforriadas do duro trabalho agrícola, recursos
humanos gigantescos foram liberados para outros empreendimentos. As cidades, tal
como as conhecemos nos dias de hoje, não poderiam existr na ausência de
mudanças radicais na agricultura. Nesta acepção, a modernização é impossível numa
economia agrária de subsistência.

Estas melhorias resultaram não só em menor solicitação de trabalho por unidade de


produção agrícola, mas igualmente, em menor exigência de terra. Esta não é uma
tendência nova: o aumento dos rendimentos das colheitas tem, ao longo dos
milênios, reduzido a quantdade de terra necessária em média para alimentar uma
pessoa.
10

Hoje, a utlização média per capita de terra é muito menor do que era há 5.000 anos.
Isto a despeito do fato de que modernamente as pessoas desfrutam de uma dieta
bem mais rica.

Graças às melhorias tecnológicas na agricultura, durante a primeira metade do século


passado até meados da década dos anos 1960, a proporção de terra requerida para o
cultvo de culturas e alimentação animal por pessoa declinou em média para a
metade.

A intensifcação da agricultura, somada ao recuo da utlização da madeira como


combustvel, permitu que muitas partes do mundo assistssem a um reforestamento
líquido.

Cerca de 80% da Nova Inglaterra é atualmente coberta por forestas, contra com
cerca de 50% aos fnais do Século XIX. Ao longo dos últmos 20 anos, a extensão de
terra dedicada à produção forestal mundial diminuiu em 50 milhões de hectares,
uma área equivalente à França.

Uma “transição forestal”, deslocando-se do desmatamento líquido para o


reforestamento líquido, parece ser uma tão resiliente característca do
desenvolvimento quanto a transição demográfca, conotada pela redução das taxas
da natalidade humana par a par com o declínio da pobreza.

O uso humano de muitos outros insumos apresenta pendor similar. A quantdade de


água necessária para a dieta média diminuiu em quase 25% ao longo do últmo meio
século. A poluição por nitrogênio contnua a causar eutrofzação 12 e acarretar
imensas zonas mortas em sítos como o Golfo do México.

Por outro lado, embora a quantdade total de poluição pelo nitrogênio esteja a
aumentar, a medida incorporada por unidade de produção tem diminuído
signifcatvamente nos países desenvolvidos.

“Tomadas em seu conjunto, tais tendências signifcam que o impacto


total humano sobre o meio ambiente - incluindo as alterações no uso da
terra, sobre-exploraçço e a poluiçço - pode pontfcar seu auge e
declinar neste século. Ao compreender e promover esses processos
emergentes, os seres humanos têm a oportunidade de repovoar a Terra
com animais e vegetais, assim como os pauses em desenvolvimento de
alcançar os padrões de vida modernos e colocar um ponto fnal na
pobreza material”.
11

De fato, em contradição com o frequentemente explicitado medo de o crescimento


infnito colidir com um planeta fnito, a demanda por muitos haveres materiais
podem estar saturando as sociedades desenvolvidas mais faustosas.

O consumo de carne, por exemplo, atngiu um alto patamar em numerosas nações


afuentes. Contudo, o consumo transferiu-se posteriormente da carne bovina na
direção de fontes de proteína menos intensivas no uso da terra.

Enquanto a demanda por bens materiais é satsfeita, as economias desenvolvidas


observam níveis mais elevados de gastos direcionados para os setores de serviços e
do conhecimento, que representam uma parte crescente da atvidade econômica.

Tal dinâmica pode até mesmo ser mais pronunciada nas economias em
desenvolvimento de hoje, as quais podem se benefciar do fato de serem aderentes
tardios das tecnologias de uso efciente dos recursos.

Tomadas em seu conjunto, tais tendências signifcam que o impacto total humano
sobre o meio ambiente, incluindo as alterações no uso da terra, sobre-exploração e a
poluição, pode pontfcar seu auge e declinar neste século.

Ao compreender e promover esses processos emergentes, os seres humanos têm a


oportunidade de repovoar a Terra com animais e vegetais, assim como os países em
desenvolvimento de alcançar os padrões de vida modernos e colocar um ponto fnal
na pobreza material.
12

III
Os processos de dissociação descritos anteriormente põem em cheque a ideia de que
as primeiras sociedades humanas viviam mais harmoniosamente sobre a terra do
que as sociedades modernas. Porquanto as sociedades do passado tenham
provocado impacto menor sobre o meio ambiente, isto se deveu, contudo, por tais
sociedades somarem escassos contngentes populacionais.

“As tecnologias que os ancestrais da Humanidade utlizaram para


atender suas necessidades eram apoiadas em padrões de vida muito
mais simples, com elevados impactos per capita ao ambiente”.

Na verdade, as populações humanas de outrora, dotadas de um aparato tecnológico


menos avançado, possuíam, de longe, uma pegada ecológica de espaço muito maior
do que as sociedades atuais conhecidas. Considere-se que uma população de não
mais que um ou dois milhões de norte-americanos [natvos ] caçou a maioria dos
mamíferos de grande porte do contnente levando-os à extnção no Pleistoceno
tardio 13.

Ao mesmo tempo, durante este processo queimavam e derrubavam forestas por


todo o contnente. Extensas transformações humanas do ambiente contnuaram
durante todo o período Holoceno 14. Sabe-se que tanto quanto três quartos de todo o
desmatamento global ocorreu antes da Revolução Industrial.

As tecnologias que os ancestrais da humanidade utlizavam para atender suas


necessidades, apoiadas em padrões de vida muito menos exigentes, implicavam em
impactos per capita mais incisivos para o ambiente.

Na ausência de mortandade humana maciça, qualquer tentatva em larga escala em


reconectar as sociedades humanas com a natureza empregando essas tecnologias,
resultaria numa hecatombe ecológica e calamidade absoluta.

Ecossistemas de todo o mundo estão ameaçados atualmente porque as pessoas o


exploram em demasia: pessoas que dependem de lenha e carvão vegetal para
combustvel cortam e degradam as forestas; pessoas que comem carne de animais
selvagens caçam estas espécies de mamíferos como alimento até a extrpação local.
13

Quer benefciando uma comunidade indígena local ou uma corporação estrangeira, a


problemátca da conservação da natureza reporta à contnua dependência dos seres
humanos frente aos ambientes naturais.

Reciprocamente, as tecnologias modernas, ao se apropriarem dos fuxos e serviços


dos ecossistemas naturais mais efcientemente, oferecem uma possibilidade real de
reduzir a totalidade dos impactos humanos sobre a biosfera 15. Adotar estas
tecnologias é encontrar caminhos para um Bom Antropoceno.

Os processos de modernização que têm cada vez mais liberado a humanidade da


natureza são, é óbvio, dotados de dois gumes. Isto em razão de também degradarem
o ambiente natural.

Os combustveis fósseis, mecanização e industrialização, fertlizantes e pestcidas


sintétcos, eletrifcação e modernas tecnologias de transporte e de comunicação,
tornaram possíveis pela primeira vez a ampliação do consumo e os grandes
adensamentos populacionais. Caso as tecnologias não fossem aprimoradas desde a
Idade das Trevas, sem dúvida alguma a população humana não teria tdo a grande
expansão que observamos.

Também é verdade que as portentosas e crescentemente afuentes populações


urbanas, tem reivindicado enormes demandas sobre ecossistemas de lugares
distantes.

Reconhecidamente a extração de recursos naturais foi globalizada. Todavia, foram


estas mesmas tecnologias que também tornaram possível garantr a alimentação de
pessoas, abrigo, calor, luz e mobilidade através de meios que são muito mais
efcientes no uso da terra e dos recursos do que em qualquer outro momento
anterior da história humana.

Dissociar o bem-estar humano a partr da destruição da natureza solicita a aceleração


consciente dos processos de dissociação emergentes. Em alguns casos, o objetvo é o
desenvolvimento de substtutos tecnológicos. A redução do desmatamento e da
poluição do ar nos ambientes domiciliares exige a substtuiçço da madeira e do
carvão vegetal por energia moderna.

“A urbanizaçço, a aquicultura, a intensifcaçço da agricultura, a energia


nuclear e a dessalinizaçço, sço em unussono, processos dotados de
potencial comprovado para reduzir as demandas humanas sobre o meio
ambiente, concedendo mais espaço para as espécies nço-humanas”.
14

Em outros casos, a meta da humanidade deve ser empregar os recursos mais


produtvamente. Por exemplo, o incremento da produtvidade agrícola pode reduzir a
conversão de forestas e pastagens em fazendas. Os humanos devem esforçar-se para
desprender o meio ambiente da economia.

A urbanização, a aquicultura, a intensifcação da agricultura, a energia nuclear e a


dessalinização, são em uníssono, processos dotados de potencial comprovado para
reduzir as demandas humanas sobre o meio ambiente, concedendo mais espaço para
as espécies não-humanas.

Num sentdo inverso, suburbanização, agricultura de baixo rendimento e muitas


formas de produção de energia renovável geralmente requerem mais terras e
recursos, concedendo menos espaço para a natureza.

Tais padrões sugerem que os humanos são propensos a poupar a natureza em vista
dela não ser tão necessária para satsfazer suas necessidades quanto para eles o seria
poupá-la por explícitas razões estétcas e espirituais.

As partes do Planeta onde ainda não se procedeu a uma alteração profunda por
parte dos humanos, em sua maioria foram poupadas em razão de não serem até
agora encontrados usos econômicos para estas paisagens, tais como montanhas,
desertos, forestas boreais e outras terras “marginais”.

A dissociação levanta a possibilidade de que as sociedades possam alcançar o pico de


impacto humano sem alterar as áreas muito longínquas ou relatvamente intocadas.
A natureza não utlizada é natureza poupada.
15

IV
O acesso abundante a formas modernas de energia é pré-requisito essencial para o
desenvolvimento humano e para a dissociação entre desenvolvimento e natureza. A
disponibilidade de energia barata permitrá que as pessoas pobres ao redor do
mundo parem de utlizar a foresta como combustvel.

Assim os humanos produzirão mais alimentos solicitando menos terra, apoiados em


potentes inputs energétcos materializados em fertlizantes e tratores. A energia
permitrá aos humanos reciclar águas residuárias e dessalinizar 16 a água do mar para
poupar rios e aquíferos 17.

Permitrá também aos humanos baratear a reciclagem dos metais e do plástco,


tornando-a mais atraente do que minerar ou refnar estes materiais. Olhando
adiante, a energia moderna poderá permitr a captura de carbono da atmosfera para
reduzir a carbonização acumulada que dá alento ao aquecimento global.

“O acesso abundante a formas modernas de energia moderna é pré-


requisito essencial para o desenvolvimento humano e para dissociar o
desenvolvimento da natureza”.

No entanto, durante ao menos os últmos três séculos, o aumento da produção de


energia em nível mundial tem sido acompanhado pelo aumento das concentrações
atmosféricas de dióxido de carbono.

Lentamente, as nações também têm incentvado a descarbonização, isto é: reduzindo


a intensidade de carbono das suas economias, durante este mesmo período de
tempo.

Porém, tais ações não têm alcançado taxas consistentes de modo a manter as
emissões acumuladas de carbono num nível sufcientemente seguro, abaixo da meta
internacional de menos de 2 graus centgrados de aquecimento global.

Portanto, uma mitgação climátca de vulto exigirá que os humanos acelerem


rapidamente os processos em curso de descarbonização.
16

Entretanto, ainda há muita confusão quanto à forma como isso poderá ser efetvado.
Note-se que nos países em desenvolvimento, o aumento do consumo de energia está
justamente correlacionado ao aumento dos rendimentos e melhoria dos padrões de
vida.

Embora a utlização de muitos outros inputs de materiais, tais como nitrogênio,


madeira e terra, estejam atngindo seu ápice, a centralidade da energia no
desenvolvimento humano e seus múltplos usos enquanto substtuto no tocante aos
recursos materiais e humanos sugere que o consumo de energia vai contnuar a subir
durante a maior parte, se não na totalidade, do Século XXI.

Por essa razão, qualquer confito entre a mitgação das alterações climátcas e a
contnuidade do processo de desenvolvimento, através do qual, bilhões de pessoas
ao redor do mundo estão sendo alçadas a um moderno padrão de vida, será
retumbantemente solucionado em favor desta últma.

Certfque-se que as mudanças climátcas e outros desafos ecológicos globais não


consttuem preocupações imediatas mais importantes para a maioria dos povos do
mundo. Nem devem ser. Uma nova termelétrica movida a carvão no Bangladesh
pode trazer a poluição do ar e aumentar as emissões de dióxido de carbono.

Apesar disso, também salvará vidas. Para milhões que vivem sem luz e forçados a
queimar estrume para cozinhar seus alimentos, a eletricidade e os combustveis
modernos, não importa a fonte, oferece um caminho para uma vida melhor. Assim
como igualmente trazem novos desafos ambientais.

Uma signifcatva mitgação climátca é fundamentalmente um desafo tecnológico.


Com isto queremos dizer que até mesmo os limites dramátcos postados ao consumo
global per capita são insufcientes para obter uma mitgação climátca relevante.
Inexistndo profunda mudança tecnológica, deixa de ser credível um caminho para
qualquer mitgação climátca expressiva.

Conquanto os debatedores se contraponham quanto ao pacote de tecnologias


partculares que apoiam, estamos conscientes de que não haverá um cenário
quantfcado de mitgação climátca no qual o câmbio tecnológico deixe de consttuir
a viga mestra de um corte ponderável das emissões.

Os caminhos específcos tecnológicos que as pessoas podem adotar na direção da


mitgação das alterações climátcas permanecem profundamente contestados. Os
17

cenários teóricos para a mitgação climátca refetem emblematcamente as


preferências tecnológicas e as hipóteses analítcas de seus criadores.

Enquanto isso, todas falham profundamente em contabilizar o custo, a taxa e a escala


por intermédio das quais as tecnologias de energia de baixo carbono podem ser
implantadas.

“A transiçço para um mundo alimentado por fontes de energia com


emissço de carbono zero irr exigir tecnologias de energia que sejam
potencialmente densas e capazes de gerar muitas dezenas de terawats
para empoderar uma economia humana crescente”.

Todavia, a história de transições energétcas sugere que houve padrões consistentes


associados com os meios pelas quais as sociedades se movimentam na direção de
fontes de energia mais limpas.

Combustveis com maior qualidade (ou seja, menos carbono intensivo, densidade
maior) em substtuição àqueles de baixa qualidade (isto é, mais carbono intensivo,
densidade menor), é de modo geral, como todas as sociedades têm descarbonizado
suas atvidades, apontando um caminho na direção da descarbonização acelerada no
futuro.

A transição para um mundo alimentado por fontes de energia com emissão de


carbono zero solicitará tecnologias de energia que sejam potencialmente densas e
capazes de gerar muitas dezenas de terawats 18 para empoderar uma ascendente
economia humana.

Infelizmente, muitas das formas de energia renovável são incapazes de realizar tal
feito. A extensão do uso do solo e outros impactos ambientais necessários para
prover o mundo de biocombustveis e de muitas outras fontes renováveis são de tal
monta que colocamos em dúvida que estas consttuam opção que repercuta
favoravelmente para um futuro de baixa pegada ecológica no tocante ao carbono
zero.

Células solares de alta efciência produzidas a partr de materiais abundantes na terra


consttuem uma exceção: possuem potencial para gerar várias dezenas de terawats
em reduzida porcentagem da superfcie terrestre.
18

Objetvando atender este padrão, as tecnologias solares correntes exigirão inovação


substancial, assim como o aprimoramento das tecnologias de armazenamento de
energia barata, habilitando-as a lidar com uma geração de energia altamente variável
em escalas de vulto.

A fssão nuclear representa hoje a única tecnologia contemporânea de emissão de


carbono zero, com uma capacidade demonstrada para atender a maioria, se não a
totalidade, das demandas energétcas de uma economia moderna.

Não obstante, uma sequência de desafos sociais, econômicos e insttucionais torna


improvável a implantação das correntes tecnologias nucleares na escala necessária
para obter signifcatva mitgação climátca.

Uma nova geração de tecnologias nucleares mais seguras e mais baratas,


provavelmente será necessária para que a energia nuclear possa ter pleno potencial
enquanto uma tecnologia viável para a mitgação das alterações climátcas.

No longo prazo, energia solar de próxima geração, a fssão nuclear avançada e fusão
nuclear representam o caminho mais plausível para atngir os objetvos comuns de
estabilização do clima e dissociação radical dos humanos da natureza.

Porém, caso a história das transições de energia sirvam de guia, tal transição irá se
prolongar no tempo. Durante essa transição, outras tecnologias energétcas poderão
proporcionar benefcios sociais e ambientais importantes.

As barragens hidrelétricas podem ser, por exemplo, uma fonte barata de energia de
baixo carbono para as nações pobres. Isto a despeito de que a pegada em terras e
consumo de água das hidrelétricas seja relatvamente grande.

Processar combustveis fósseis com captura e estocagem de carbono 19 pode


igualmente proporcionar substanciais benefcios ambientais na comparação com os
métodos ora existentes de utlização das energias fósseis ou da biomassa.

“O caminho étco e pragmrtco na direçço de uma justa e sustentrvel


economia energétca global requer que nesta transiçço os seres
humanos mudem tço rapidamente quanto possuvel para fontes de
energia que sejam baratas, limpas, densas e abundantes”.
19

O caminho étco e pragmátco na direção de uma justa e sustentável economia


energétca global requer que nesta transição os seres humanos mudem tão
rapidamente quanto possível para fontes de energia que sejam baratas, limpas,
densas e abundantes.

Tal caminho exigirá apoio público sustentado para o desenvolvimento e implantação


de tecnologias energétcas limpas, tanto no interior das nações como entre elas,
conquanto ocorra em termos de uma colaboração internacional e concorrência,
inserida no quadro mais amplo de modernização e desenvolvimento global.
20

V
Nós escrevemos este documento transcendendo um profundo amor e conexão
emocional com o mundo natural. Ao apreciar, explorar, procurando entender e
cultvar a natureza, muitas pessoas se retram de si mesmas. Elas se conectam com
sua profunda história evolutva.

Mesmo quando as pessoas nunca experimentam esta natureza selvagem


diretamente, elas reiteram que o fato desta existr importa para seu bem-estar
psicológico e espiritual.

“Nós escrevemos este documento transcendendo um profundo amor e


conexço emocional com o mundo natural”.

Os humanos sempre dependerão materialmente da natureza em algum grau. Mesmo


que um mundo totalmente sintétco fosse possível, muitos de nós ainda
escolheríamos por contnuar a viver em maior sintonia com a natureza do que
requerem o sustento e as tecnologias humanas.

O que a desconexão oferece é a possibilidade de que a dependência material da


humanidade quanto à natureza possa ser menos destrutva.

No caso de uma dissociação mais atva, consciente e acelerada, a preservação da


natureza delineia-se mais com o concurso do plano espiritual ou estétco do que
através de argumentos materiais ou utlitários.

As gerações atuais e futuras poderiam sobreviver e prosperar materialmente num


planeta dotado de menor biodiversidade e vida selvagem. Mas este não é um mundo
que queremos. Tampouco, caso os humanos adotem a dissociação, precisariam
aceitar.

O que estamos denominando de natureza, ou até mesmo de natureza selvagem,


abrange paisagens, cenários marinhos, biomas e ecossistemas que têm sido, numa
sequência inumerável de vezes, regularmente alterados por infuências humanas ao
longo de séculos e milênios.
21

A ciência da conservação e os conceitos de biodiversidade, complexidade e


indigeneidade 20 são úteis. Mas por si só não estão habilitados a determinar quais
paisagens a preservar. Ou mesmo como.

Na maioria dos casos, não existe uma única linha de base anterior às intervenções
humanas que possa ser reivindicada como referência para o retorno ao natural.
Exemplifcando, os esforços para restaurar paisagens para que mais se assemelhem
com registros originais [“indigeneidade”], pode signifcar a remoção de espécies
recém-chegadas [“espécies invasoras”].

Portanto, implicando numa reduçço líquida da biodiversidade local. Noutras


circunstâncias, as comunidades podem decidir sacrifcar a indigeneidade em favor da
novidade e da biodiversidade.

“Conjuntamente com a desconexço das necessidades materiais da


humanidade relatvamente ao meio natural, hr que ser instaurado um
compromisso permanente visando a preservaçço da vida selvagem, da
biodiversidade e de um mosaico de paisagens signifcatvas. Algo que
exigirr uma profunda conexço emocional para com elas”.

Esforços explícitos para preservar as paisagens por seu valor não utlitário são
inevitavelmente escolhas antropogênicas 21. Por este motvo, todos os esforços de
conservação são em igual medida, fundamentalmente antropogênicos. Deixar de
lado a natureza selvagem é não menos uma escolha a serviço das preferências
humanas do que arrasá-la.

Os humanos colocarão a salvo paisagens e refúgios da vida selvagem por um


convencimento concidadão de que tais sítos (e as criaturas que os habitam) sejam
dignos de proteção.

As pessoas podem optar por ter alguns serviços, tais como purifcação da água e
proteção contra inundações, fornecidos por sistemas naturais, quais sejam: bacias
hidrográfcas forestadas, recifes, pântanos e áreas úmidas, mesmo que tais sistemas
naturais sejam mais dispendiosos do que meramente erguer estações de tratamento
de água, quebra-mares e diques. Em suma: não haverá solução de tamanho único.
22

Nesta perspectva, ambientes serão pensados em conformidade com diferentes


preferências locais, históricas e culturais. A despeito de acreditarmos que a
intensifcação da agricultura para poupar terra seja indispensável para proteger a
natureza selvagem, deve-se reconhecer que muitas comunidades contnuarão a optar
pelo compartlhamento da terra, visando, por exemplo, a conservação da vida
selvagem no bojo das paisagens agrícolas.

Isto em vez de oportunizar a reversão da natureza selvagem na forma de espaços


dominados por gramíneas, arbustos e forestas. Onde a dissociação reduz a pressão
sobre paisagens e ecossistemas para atender às necessidades humanas básicas,
proprietários de terras, comunidades e governos terão pela frente a decisão sobre
qual propósito estétco ou econômico desejam emprestar a estas terras.

Isoladamente, a dissociação acelerada não será sufciente para garantr mais natureza
selvagem. Para tanto, uma polítca de conservação e um movimento em prol da vida
selvagem para exigir mais vida selvagem com base em motvações estétcas e
espirituais deve manter-se atuante.

Conjuntamente com a desconexão das necessidades materiais da humanidade


relatvamente ao meio natural, há que ser instaurado um compromisso permanente
visando a preservação da vida selvagem, da biodiversidade e de um mosaico de
paisagens signifcatvas. Algo que exigirá uma profunda conexão emocional para com
elas.
23

VI
Asseveramos a necessidade e a capacidade humana para acelerar uma dissociação
acelerada, atva e consciente. O progresso tecnológico não é inevitável. Dissociar
impactos ambientais de resultados econômicos não é simplesmente uma função de
inovação orientada para o mercado, de uma resposta efciente à escassez.

O longo arco da transformação humana dos ambientes naturais por intermédio das
tecnologias começou bem antes de existr qualquer coisa que recordasse o mercado
ou sequer um sinal de precifcação. Graças ao aumento da demanda, da escassez,
inspiração e serendipidade 22, os humanos têm refeito o mundo por milênios.

Soluções tecnológicas para os problemas ambientais também devem ser


consideradas a partr da inserção num marco mais amplo: social, econômico e
polítco. Nós pensamos que desatvar usinas nucleares é contraproducente para
nações como a Alemanha e o Japão, e estados como a Califórnia.

A consequência direta desta decisão será a recarbonização do aparato energétco,


bem como o redirecionamento destas economias em favor dos combustveis fósseis e
da biomassa. No mais, tais exemplos sublinham claramente que as escolhas
tecnológicas não serão determinadas por organismos internacionais remotos. Mas
sim, por insttuições nacionais, locais e culturas.

Repetdamente, a modernização é confundida - tanto por seus defensores quanto por


seus crítcos - com o capitalismo, com o poder corporatvo e as polítcas econômicas
do tpo laissez-faire 23. Rejeitamos tais reducionismos.

Quando nos referimos à modernização estamos falando da evolução em longo prazo


dos arranjos sociais, econômicos, polítcos e tecnológicos nas sociedades humanas
em direção ao bem-estar material, saúde pública, produtvidade dos recursos,
integração econômica, infraestrutura compartlhada e liberdade individual.

Neste sentdo, a modernização liberou cada vez mais pessoas de uma vida de
pobreza e do árduo trabalho agrícola; as mulheres, do status de autêntco bem
imóvel; as crianças e as minorias étnicas, da opressão; as sociedades, do mando
arbitrário e aleatório.

A maior produtvidade dos recursos, quando associados com modernos sistemas


sociotecnologicos, garantu às sociedades humanas a satsfação das necessidades da
população com poucos insumos e menor impacto sobre o meio ambiente. Economias
24

mais produtvas são não apenas aquelas economias mais ricas, mas também as que
se habilitaram a atender com maior acerto as demandas humanas, encaminhando
fração ponderável do seu surplus 24 econômico para comodidades não-econômicas.
Nestas estão incluídos os cuidados com a saúde humana, ampliação da liberdade e
das oportunidades, artes, cultura e conservação da natureza.

“A dissociaçço entre bem-estar humano e impactos ambientais exigirr


um compromisso sustentado para o progresso tecnológico e a evoluçço
contínua das insttuições sociais, econômicas e polutcas paralelamente
a estas mudanças”.

Retenha-se que os processos modernizadores estão distantes de estarem fnalizados,


mesmo nas economias avançadas e desenvolvidas. O consumo material está tão
apenas chegando ao seu ápice nas sociedades opulentas.

A dissociação entre bem-estar humano e impactos ambientais exigirá um


compromisso sustentado em prol do progresso tecnológico e concomitantemente a
esta mudança, a evolução contnua das insttuições sociais, econômicas e polítcas.

O progresso tecnológico acelerado exigirá a partcipação atva, assertva e agressiva


dos empresários do setor privado, dos mercados, da sociedade civil e do Estado.
Conquanto rejeitemos a falácia do planejamento da década dos anos 1950,
advogamos um papel público decisivo na abordagem dos problemas ambientais e a
aceleração da inovação tecnológica.

Isto inclui pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias mais aprimoradas,


subsídios e outras medidas para respaldar a inserção deste no mercado, assim como
regulamentos para atenuar riscos ambientais. A colaboração internacional em
matéria de inovação e transferência de tecnologia é essencial para as áreas da
agricultura e energia.
25

VII
Nós apresentamos esta declaração acreditando que tanto a prosperidade humana
quanto um planeta ecologicamente vibrante são não apenas possíveis, mas
igualmente inseparáveis entre si. Comprometendo-nos com os processos reais, já em
curso, que começaram a separar bem-estar humano da destruição do meio
ambiente, acreditamos que esse futuro pode ser alcançado. Como tal, nós abraçamos
uma visão otmista para com as capacidades humanas e o futuro.

“Nós valorizamos os princupios liberais da democracia, da tolerância e


do pluralismo em si mesmos, do mesmo modo que os afrmamos como
basilares para que seja alcançado um Bom Antropoceno”.

É nossa esperança que este documento possa contribuir para uma melhoria da
qualidade e teor no diálogo a respeito de como proteger o meio ambiente no Século
XXI. Muito assiduamente os debates sobre o meio ambiente têm sido dominados por
extremismos e atormentados pelo dogmatsmo, o que por sua vez alimenta a
intolerância.

Nós valorizamos os princípios liberais da democracia, da tolerância e do pluralismo


em si mesmos, do mesmo modo que os afrmamos como matriciais para que seja
alcançado um Bom Antropoceno.

Esperamos que esta declaração faça progredir o diálogo pertnente sobre a melhor
forma de obter dignidade humana universal em um planeta biodiverso e próspero.
26

AUTORES E SIGNATÁRIOS DO MANIFESTO ECO MODERNISTA

JOHNASAFU ADJAYE - Professor associado de Economia da Universidade de


Queensland, em Brisbane, Austrália. Seus interesses de pesquisa estão nas áreas de
recursos naturais e economia ambiental, especifcamente em energia e alterações
climátcas econômicas.

BARRY BROOK - Ecólogo, Professor de meio ambiente sustentabilidade na


Universidade da Tasmânia. Ele publicou três livros, mais de 250 artgos referendados,
e é pesquisador altamente citado. Seu trabalho se concentra sobre as alterações
ambientais e as sinergias humanas com a biosfera. É Breakthrough Senior Fellow
(2012).

LINUS BLOMQVIST - Diretor do Insttuto Avançado de Conservação e um membro do


Breakthrough. Sua pesquisa atual concentra-se sobre a forma como o progresso
tecnológico humano pode ser dissociado do conceito de pegada ambiental e as
implicações deste processo para a teoria e a prátca da conservação.

RUTH DEFRIES - Professora de Desenvolvimento Sustentável na Universidade de


Columbia. Sua pesquisa examina a transformação humana da paisagem e suas
consequências para o clima, biodiversidade e ecossistema. Seu livro mais recente é
The Big Ratchet: Como a humanidade prospera em face da crise do natural.

STEWART BRAND - Cofundador de Revive & Restore, da Long Now Fundaton, The
WELL, Global Business Network e fundador/editor do Whole Earth Catalog. Dentre
seus livros se incluem: Whole Earth Discipline: The Rise of Ecopragmatsm, The Clock
of the Long Now, How Buildings Learn e The Media Lab. Ele foi treinado em Ecologia
em Stanford e serviu como ofcial de infantaria do Exército dos EUA.

ERLE ELLIS - Cientsta ambiental da Universidade de Maryland, Baltmore County e


líder principal da teoria do Antropoceno, a Era dos Humanos. Sua pesquisa investga
o manejo humano dos ecossistemas nas escalas locais e globais tendo por meta um
manejo sustentável da biosfera. É Breakthrough Senior Fellow (2012).

CHRISTOPHER FOREMAN - É membro sênior não-residente da Brookings Insttuton.


Seu livro Promessa e Perigo da Justça Ambiental examina as limitações da defesa da
justça ambiental. Foreman também é diretor do programa de polítca social da
Universidade de Maryland. É Breakthrough Senior Fellow (2012).
27

MARK LYNAS - Autor de vários livros sobre o meio ambiente, incluindo High Tide: Six
Degrees, The God Species e Nuclear 2.0. Mark é atualmente professor visitante na
Universidade de Cornell junto à Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida,
trabalhando na recentemente fundada Cornell Alliance for Science. Lynas
frequentemente desenvolve palestras sobre as alterações climátcas, biotecnologia e
a importância da ciência na sociedade.

DAVID KEITH - Tem trabalhado na interface entre a ciência do clima, tecnologia da


energia e polítcas públicas ao longo de 25 anos. Ele é Professor de Física Aplicada na
Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas e Professor de Polítcas Públicas na Harvard
Kennedy School. Passa cerca de um terço de seu tempo em Calgary, onde assessora a
Carbon Engineering, uma empresa de desenvolvimento de tecnologia para captura
do CO2 a partr do ar.

TED NORDHAUS - Presidente ecofundador do Breakthrough Insttute. Seu livro Break


Through: A partr de Morte do Ambientalismo, em coautoria com Michael
Shellenberger, foi considerado pela revista WIRED como “a melhor matéria que
surgiu no ambientalismo desde A Primavera Silenciosa”. Em 2008, ele foi nomeado
pela Revista TIME como “Herói do Meio Ambiente”.

MARTIN LEWIS - Professor sênior do Departamento de História na Universidade de


Stanford. Suas pesquisas abordam o desenvolvimento histórico e uso polítco das
idéias chave da geografa. Lewis é coautor de dois livros de ponta sobre a geografa
mundial. É Breakthrough Senior Fellow (2014).

ROGER PIELKE JR - É professor no programa de estudos ambientais da Universidade


do Colorado e diretor do Centro para a Ciência e Polítca Tecnológica da UC. Seu mais
recente livro é The Rightul Place of Science: Disasters and Climate Change (2014). É
Breakthrough Senior Fellow (2008) e membro do Breakthough Advisory Board.

RACHEL PRITZKER - É presidente e fundadora da Fundação Innovaton Pritzker, cuja


missão é apoiar o desenvolvimento e avanço de ideias relacionadas à mudança de
paradigmas, visando abordar os problemas mais incisivos do mundo, com foco nas
polítcas e inovações tecnológicas necessárias para fornecer energia barata, limpa e
abundante para todos. Ela também atua como Presidente do Conselho Consultvo do
Breakthough Advisory Board e copresidente do Programa de Energia Limpa da
Terceira Via.

MICHAEL SHELLENBERGER - É presidente e cofundador do Breakthrough Insttute.


Seu livro Break Through: From the Death of Environmentalism em coautoria com Ted
28

Nordhaus, foi considerado como “a melhor coisa que aconteceu para o


ambientalismo desde Silent Spring” pela revista Wired. No ano de 2008, foi nomeado
pela Revista TIME como “Herói do Meio Ambiente”.

JOYASHREE ROY - É ICSSR Natonal Fellow e professora de economia na Universidade


de Jadavpur, em Calcutá, Índia. Ela iniciou e também coordena a Programa de
Mudança Global. Joyashree partcipa da rede de cientstas que compartlharam o
Prêmio Nobel da Paz 2007 atribuído ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climátcas. É Breakthrough Senior Fellow (2014).

ROBERT STONE - Cineasta especializado em documentários, laureado com os


Prêmios Oscar e Emmy. Seu mais recente flme, Promessa de Pandora, documenta os
pro e os contra de cinco relevantes ambientalistas que apoiam a energia nuclear,
tendo em vista as mudanças climátcas. Entre seus outros flmes a constam Dias da
Terra, que estreou no Sundance Film Festval. Ele está trabalhando em um
documentário sobre como o programa Apolo foi comercializado tanto para o público
americano como para o mundo.

MARK SAGOFF - Pesquisador sênior no Insttuto para Filosofa e Polítcas Públicas e


professor de flosofa na George Mason University. Crítco mordaz do “cientfcação”
das questões ecológicas, Mark tem argumentado que o ambientalismo deve voltar-se
para os valores sociais. Seus livros, incluindo A Economia da Terra (2008), consttuem
marcos no seu campo de atuação. Mark é Breakthrough Senior Fellow (2012).

PETER TEAGUE - Conselheiro Sênior do Breakthrough Insttute. Anteriormente atuou


como vice-presidente sênior de Pesquisa e Estratégia na Fundação Nathan
Cummings, Onde desempenhou papel pioneiro no trabalho de fomento para o
movimento eco modernista. Foi consultor sênior para polítca ambiental para o
congressista Leon Paneta, para o candidato ao Senado Dianne Feinstein e para a
senadora Barbara Boxer.
1
Manifesto Eco Modernista, ISBN: 1230001788389 (Kotev, 2016), é um documento
do Breakthrough Insttute traduzido do original em língua inglesa An Eco Modernist
Manifesto para o português por Maurício Waldman e Tadeu Alcides Marques, sendo
primeiramente disponibilizado em Abril de 2016 na Plataforma Kobo pela Editora
Kotev (Kotev ©). Em Abril de 2018, este mesmo material foi transformado em texto
de acesso livre na Internet em Formato PDF. A presente edição para acesso livre na
web contou com a Assistência de Editoração e Tratamento Digital de Imagens do
webdesigner Francesco Antonio Picciolo, E-mail: [email protected],
Home-page: www.harddesignweb.com.br. Anote-se que editorialmente, o texto de
Manifesto Eco Modernista é um material gratuito, sendo vedada toda forma de
reprodução comercial e também, de divulgação sem aprovação prévia da Editora
Kotev (Kotev©). O texto-base do original em inglês An Eco Modernist Manifesto,
acompanhado do elenco de autores e signatários pode ser acessado através do link:
htp://www.ecomodernism.org/manifesto/. A citação do Manifesto Eco Modernista
deve obrigatoriamente incorporar referências bibliográfcas em conformidade com o
padrão modelar que segue: Manifesto Eco Modernista. Breakthrough Insttute.
Oakland (EUA), 2015. Tradução de Maurício Waldman e Tadeu Alcides Marques.
Série Meio Ambiente Nº. 8. São Paulo (SP): Editora Kotev. 2018.
2
MAURÍCIO WALDMAN é Professor de Pós-Graduação, Coordenador editorial,
Consultor Ambiental e Jornalista. Ambientalista histórico do Estado de São Paulo,
Waldman foi colaborador de Chico Mendes, Coordenador de Meio Ambiente em São
Bernardo do Campo e Chefe da Coleta Seletva de Lixo da Capital paulista. Sociólogo
e Antropólogo, Waldman é Doutor em Geografa (USP, 2006), Pós Doutor em
Geociências (UNICAMP, 2011), em Relações Internacionais (USP, 2013) e em Meio
Ambiente (PNPD-Fundação CAPES, 2015). Tradutor de diversos textos e livros, tais
como O Ecologismo dos Pobres, de Joan Martnez Alier, Waldman é autor de 500
artgos, textos acadêmicos, pareceres de consultoria e de 16 livros, com destaque
para Ecologia e Lutas Sociais no Brasil (Contexto, 1992), obra granjeada por 16
edições sucessivas; Meio Ambiente & Antropologia (SENAC, 2006), primeira obra
brasileira sobre Antropologia Ambiental e Lixo: Cenários e Desafos (Cortez 2010),
obra indicada como melhor livro na área de Ciências Naturais para Prêmio Nacional
Jabut o ano de 2011. Contato E-mail: [email protected]. Currículo Lates-CNPP:
htp://lates.cnpq.br/3749636915642474. Maurício Waldman, Textos Masterizados:
htp://mwtextos.com.br/. Portal do Professor Maurício Waldman: www.mw.pro.br
3
TADEU ALCIDES MARQUES é Graduado em Engenharia Agronômica pela Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP, 1985), Marques é Mestre em Ciência e
Tecnologia de Alimentos pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1991),
no Setor de Açúcar e Álcool. Atualmente atua como Professor do Programa de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Regional (MMADRE), na Universidade do Oeste
Paulista - UNOESTE, assim como membro do Colegiado do MMADRE. É Doutor em
Tecnologia de Alimentos (1987) e Pós Doutor em Tecnologia de Alimentos, setor de
açucarados (UNICAMP, 1999). Atua como Diretor do CENTEC - Centro de Estudos
Avançados em Bioenergia e Tecnologia Sucroalcooleira, junto à Universidade do
Oeste Paulista - UNOESTE, em Presidente Prudente (SP). Autor de seis capítulos de
livros e três livros publicados, dentre os quais Programação em Delphi 3.0 aplicada
à Engenharia de Biossistemas (et alli, LEB/USP, 2010). Animador de cinco sofwares
e de outros 50 itens de produção técnica. Pelo mérito do seu trabalho e atuação,
Marques foi laureado com 21 prêmios e/ou homenagens. E-mail:
[email protected]
4
O parágrafo faz eco a uma famosa prédica do sábio russo Vladimir Vernadsky (1863-
1945): “O Homem tornou-se uma poderosa força geológica”. Justamente nesta
vertente é que o conceito de Antropoceno aufere materialidade. O termo foi
cunhado nos anos 1980 pelo biólogo estadunidense Eugene Stoermer (1934-2012),
sendo amplamente universalizado nas décadas seguintes. Antropoceno é uma
palavra contemporânea criada a partr de radicais provenientes do grego clássico,
resultando da combinação das raízes Antropo (de ἄνθρωπος, antropos, que signifca
“humano”) e de Ceno (de καινός, kainos, qual seja, “novo”). Devemos reter que
independentemente do termo, intelectuais do porte do flósofo francês Paul Valéry e
do geógrafo brasileiro Milton Santos, entre muitos outros, apontam para idêntca
circunscrição conceitual. Qual seja: a de um mundo modelado pela ação humana,
dela dependente e que determinadamente se afasta das inferências regidas pelo
mundo natural.
5
No texto original em inglês está consignado “Good Anthropocene”, do que se
obtém em tradução direta “Bom Antropoceno”. Os tradutores ressalvam que seria
possível recorrer a adjetvações com largo trânsito no jargão ambientalista,
derivando, por exemplo, em Antropoceno Virvel ou em Antropoceno Possuvel.
Contudo, a tradução preservou o signifcado direto a partr do original inglês,
deixando em aberto uma instgante frente adicional de argumentações.
6
Ver elenco completo dos autores do Manifesto ao fnal do documento.
7
Alusão ao Relatório Limites do Crescimento, também conhecido como Relatório
Meadows, documento elaborado nos anos 1960 pelo famoso Clube de Roma,
amplamente referendado enquanto material icônico da problemátca ambiental.
8
O ciclo nuclear fechado, closed fuel cycle, ao invés do ciclo convencional aberto,
oncethrough fuel cycle, corrente na maioria dos países, recicla as sobras do urânio e
do plutônio resultantes da queima do combustvel nuclear. Desta maneira, se obtém
material fssil passível de reincorporação no circuito operacional dos reatores. Mas,
além de reconhecidos problemas ambientais, o ciclo fechado é anteconômico
devido à ampla oferta de urânio.
9
O aproveitamento energétco do tório confgura em muitas pontuações como uma
revolução nuclear energétca. Frente aos sistemas que baseados no urânio, o tório
apresenta múltplas vantagens. Confra-se: as jazidas do minério formam estoques
quatro vezes superiores que as de urânio, geração mais segura de energia, menor
ejeção de resíduos e maior difculdade para construir bombas atômicas. Atualmente,
várias nações investem na pesquisa e/ou construção de usinas abastecidas com
tório. A Índia pretende até o ano 2050 atender 30% da demanda elétrica com tório
combustvel. A China, num esforço para deter as emissões de gases de efeito estufa
(GEE), prepara agressivo programa de usinas à base de tório. Recentemente, o Chile
inaugurou usina de tório voltada para dessalinização. Israel, Noruega, Japão e Rússia,
igualmente preparam sofstcados projetos energétcos à base do tório.
10
Tecnicamente, as centrais de hidrogênio-deutério são atvadas com base na fusão
de isótopos do hidrogênio (deutério e também o tríto), obtdos da água do mar.
Geram energia a temperaturas mais baixas, com rendimento maior do que as
demais reações de fusão. Cinquenta xícaras de água do mar liberam energia análoga
à duas toneladas de carvão. Ambientalmente, o deutério e o tríto, assim como hélio,
resíduo fnal, não possuem toxidade, não são radioatvos, não poluem a atmosfera,
nem causam efeito estufa.
11
Tanto a terminologia input (“entrada”) quanto sua contraposição, output (“saída”)
se inserem no quadro geral da Teoria dos Sistemas, modelo que encontrou
receptvidade em múltplos ramos da ciência contemporânea. Entre os especialistas
em meio ambiente, Howard Odum, Eugene Odum, e Fritjof Capra, foram alguns dos
que incorporaram a Teoria dos Sistemas nas análises das problemátcas ecológicas e
ambientais.
12
Eutrofzação é um fenômeno causado pela adição substâncias naturais e artfciais,
principalmente compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio, em um corpo
líquido por intermédio de detergentes, esgoto e fertlizantes, impactando em maior
ou menor grau a teia alimentar dos ecossistemas aquátcos assim como a qualidade
das águas.
13
O Pleistoceno corresponde a uma divisão da escala temporal geológica que se
inicia 2,59 milhões de anos atrás e fnaliza aproximadamente em 10.000 a.C., sendo
precedida pelo Plioceno e seguida pelo Holoceno. Na América do Norte, acredita-se
que durante o Pleistoceno foram extntos 73% dos grandes mamíferos, incluindo os
mamutes, mastodontes, cavalos, camelos, gliptodontes. Seria cabível admitr que
estas e muitas outras espécies que no passado dominavam a paisagem terrestre
foram eliminadas pela caça predatória encetada pelas populações tradicionais.
14
O Holoceno é a época que se inicia com o fm da Idade do Gelo, cerca de 10.000
a.C., se prolongando até o presente. O Holoceno é o lapso de tempo que abrange o
período em que surgem as grandes civilizações, apoiadas na agricultura e na vida
urbana e comercial. Para alguns autores, o Antropoceno tem ponto de partda neste
processo. Contudo, outras vertentes de especialistas entendem o Antropoceno
como desdobramento da revolução industrial e da Modernidade. That is to say: um
processo que ocorreu nos últmos dois séculos.
15
Em 1926, Wladimir Vernadsky, geoquímico e mineralogista de formação, lança o
livro A Biosfera (composição dos radicais gregos βίος, buos, vida e σφαίρα, sfaira,
esfera. Daí, esfera da vida), difundindo a hipótese de que a fsionomia terrestre foi
determinada biologicamente. Considerada como o maior nível de organização
ecológica, a biosfera inclui todos os ecossistemas da Terra, aos quais os humanos
impostam sua marca num ritmo cada vez mais categórico.
16
O termo dessalinização, na advertência do engenheiro brasileiro Samuel Murgel
Branco (1930-2003), seria tecnicamente desaconselhável, cabendo substtuí-lo por
dessalgamento. Longe de pautar preciosismo de linguagem, Branco adverta que a
dessalinização não se destna a remover toda a salinidade. Antes, presta-se a retrar
exclusivamente o excesso de sais da água, tornando-a potável. E por sinal, a água
potável não está isenta de sólidos em suspensão.
17
Notar que um dos grandes óbices para a expansão das plantas de dessalgamento
das águas oceânicas tem sido o custo energétco destes projetos, invariavelmente
muito altos.
18
A energia utlizada pela Humanidade na escala planetária é comumente
mensurada em terawats. Um terawat corresponde a um trilhão de wats. É por
defnição a unidade de medida apropriada para quantfcar matrizes energétcas de
vasta proporção.
19
Procedimento técnico conhecido no jargão técnico de língua inglesa como Carbon
Capture and Storage (CCS), método de confsco das emissões de dióxido de carbono
oriundas de fontes pontuais como usinas de energia alimentadas por combustveis
fósseis, posteriormente conduzidas para um síto de estocagem (via-de-regra uma
formação geológica subterrânea), para em princípio impedir a disseminação do
efuente na atmosfera.
20
Indigeneidade é uma conceituação atnente aos modos tradicionais de
conhecimento e de atuação no mundo, aludindo especialmente às culturas ditas
“primitvas”, “tribais” ou de “pequena escala”. No plano ambiental, a indigeneidade
é amplamente reconhecida como de importância fundamental para explicar largo e
extenso cabedal de paisagens esculturadas pelo homem em sociedade, no geral uma
antropogenia baseada na ação cumulatva de ações ditas “pouco impactantes”, mas
que no transcorrer do tempo implicam em profundas alterações do meio natural,
assim como da composição e distribuição dos elementos da vida selvagem. Neste
partcular, cenários amplamente catalogados como “naturais” seriam mais
verdadeiramente paisagens construudas, que dispensando a presença humana
multmilenar, jamais teriam a confguração que passaram a exibir.
21
Esta asserção remonta a um princípio caro à antropologia ambiental quanto ao
poder exercido por uma “reserva imaginária do natural” nas ações concretas
desenvolvidas pela sociedade contemporânea na conservação da natureza. Dito de
outro modo: o papel de proa exercido por opções e modelos imaginários de cunho
ambiental na fxação e determinação do que seria natural. Nesta visada, retenha-se
que tanto a naturalidade quanto a artfcialidade decorrem, em ambos os casos, de
noções e premissas fortemente legitmadas por aspirações calcadas pelo momento
histórico, determinantes do modus operandi da sociedade no espaço habitado.
22
Serendipity em inglês. Serendipidade que se refere a descobertas afortunadas
realizadas aparentemente por acaso.
23
A doutrina do laissez-faire, ao pé da letra “deixar fazer” ou “seguir” em francês, é
uma terminologia emblemátca do liberalismo econômico. Associa-se à noção de
que a economia de mercado deve fuir sem ingerência estatal. No campo das ideias
econômicas tem por polo oposto o intervencionismo do Estado na economia e as
experiências de estatzação do antgo mundo socialista.
24
Galicismo frequente no léxico das ciências econômicas. Palavra congênere ao que
no idioma português é defnido como excedente ou ainda, excedente econômico.
CONHEÇA A SÉRIE MEIO AMBIENTE

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Os debates sobre MEIO AMBIENTE são um pilar central de atuação da
EDITORA KOTEV, publicadora digital que entrou em atividades no ano de
2016. Também trabalhamos com temas relacionados com RELAÇÕES
INTERNACIONAIS, AFRICANIDADES, CARTOGRAFIA, ANTROPOLOGIA e
EDUCAÇÃO POPULAR.

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