A Relação Da Fé, Na Busca Pela Reabilitação Da Saúde

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FACULDADE DE TERAPIA OCUPACIONAL

PAULA MONTEIRO MARITAN

O OLHAR DA TERAPIA OCUPACIONAL, COMPREENDENDO


A RELAÇÃO DA FÉ, NA BUSCA PELA REABILITAÇÃO DA SAÚDE:
ESTUDO DE CASO A PARTIR DA RELIGIÃO UMBANDISTA.
2

PORTO ALEGRE

2006/2

PAULA MONTEIRO MARITAN

O OLHAR DA TERAPIA OCUPACIONAL, COMPREENDENDO


A RELAÇÃO DA FÉ NA BUSCA, PELA REABILITAÇÃO DA SAÚDE:
ESTUDO DE CASO A PARTIR DA RELIGIÃO UMBANDISTA.
3

Trabalho de Conclusão de Curso da


Faculdade de Terapia Ocupacional, do
Centro Universitário Metodista IPA como
requisito do grau em Bacharel em Terapia
Ocupacional

Orientadora: Patrícia Dorneles

Porto Alegre
2006 /2

PAULA MONTEIRO MARITAN

O OLHAR DA TERAPIA OCUPACIONAL, COMPREENDENDO A


RELAÇÃO DA FÉ NA BUSCA, PELA REABILITAÇÃO DA SAÚDE: ESTUDO DE
CASO A PARTIR DA RELIGIÃO UMBANDISTA.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a


obtenção do grau de Bacharel no Curso de Terapia Ocupacional do
Centro Universitário Metodista IPA.
4

Porto Alegre, 20 de Dezembro de 2006.

Orientadora Profª Patrícia Dorneles


Docente do Curso de Terapia Ocupacional

Apresentada à banca examinadora integrada pelos professores (as)

____________________________ __________________________
Prof. Prof.
Centro Universitário Metodista IPA Centro Universitário Metodista IPA
5

DEDICATÓRIA

A minha família de sangue, de coração e


espiritual. Onde cada um com seu jeitinho único formaram
meu alicerce para esta conquista. Dedico essa singela
escrita, de grandes desejos, a todos os guias da
Umbanda, que zelaram e incentivaram este trabalho, no
qual desejo do fundo do meu coração ter conseguido, no
mínimo, cumprir esta linda e complexa missão.
6

AGRADECIMENTOS

Faltariam palavras em nosso vocabulário para simbolizar o agradecimento a todos que de


uma forma direta ou indireta fizeram parte desse marco em minha vida. Agradeço a minha
família, pelas incansáveis horas de auxílio; A minha mãe, por ser amiga/companheira e até
secretária pessoal (risos), sendo instigadora do conhecimento e dona de um “colinho” único;
Ao meu pai por ser um dos meus maiores símbolos de inspiração, de garra, de força,
incentivando-me a não apenas conquistar o TCC, mas a conquistar o “meu mundo”, abrindo
minhas asas e me ensinando a voar; A minha vó, pelas preocupações constantes com meu
sono e minha alimentação e pelos apelidos, “coruja”, nas madrugadas trabalhando; Ao meu
irmão, por ser um das minhas ancoras da realidade, trazendo-me pro chão em meu
trabalho, quando minha imaginação perdia as fronteiras do bom senso, sendo um espelho,
afinal, “sou sua cópia melhorada, não é?”; A minha cunhada, meus sinceros agradecimentos
pelo meu monopólio no computador, não dando espaço para mais ninguém trabalhar (risos);
A Tia Ione, pessoa para a qual faltariam adjetivos para qualificar, mas digo a ela: “Obrigado
por lutar por mim, por não me deixar cair, por pensar no meu todo, cuidando do meu físico,
do meu intelecto e do meu coração”; A Minha Mana de coração (Jujuba), agradecer seria
pouco, frente a todos os segundos de angústia por causa do TCC, pelas TPMs fora de hora,
pelas risadas e apoios que sempre foram um carinho de luz em meu coração. Não poderia
esquecer de todos meus amigos, cada um no seu patamar em meu coração, aqueles que
entenderam meu isolamento necessário, para hoje estar aqui lhes agradecendo a paciência,
também aqueles que viveram junto comigo cada segundo desta caminhada, rindo,
estudando, matando aula, vivendo, aprendendo. Aos mestres também meu muito Obrigado.
Em especial minha orientadora Patrícia Dorneles, por ser a incentivadora deste meu sonho
concretizado, sendo a pessoa que muitas vezes entrou nas minhas ilusões, e outras me
trouxe para a realidade. Agradeço do fundo do meu coração, ao Centro de Umbanda Reino
da Mãe Iara, que me acolheu prontamente para a realização deste trabalho, e também ao
Centro Espírita de Umbanda Nossa Senhora Aparecida, que de portas abertas projetou este
desejo de trabalho, acolhendo-me para a realização do mesmo, tendo essa corrente de luz,
tanto material quanto espiritual sido o alimento da minha alma, acalentando-me nos
momentos de cansaço, e como uma família, segurando em minha mão direcionando à luz. E
por fim, mas não menos importante, e sim, com intuito de “final de ouro”, aos guias
maravilhosos da Umbanda, que com toda certeza foram mentores e meus maiores mestres
nessa estrada.
7

PAI NOSSO DA UMBANDA

Pai-nosso que estais nos céus, nos mares, nas matas e em


todos os mundos habitados.
Santificado seja o TEU nome, pelos TEUS filhos, pela natureza,
pelas águas, pela Luz e pelo ar que respiramos.
Que o TEU reino do bem, do amor e da fraternidade, nos una a
todos e a tudo o que criastes, em torno da sagrada cruz, aos
pés do Divino Salvador e Redentor.
Que a TUA vontade nos conduza sempre para o culto do AMOR
e da CARIDADE.
Daí-nos hoje e sempre a vontade firme para sermos virtuosos e
úteis aos nossos semelhantes.
Daí-nos hoje o pão do corpo, o fruto das matas e a água das
fontes para o nosso sustento material e espiritual.
Perdoa, se merecermos, as nossas faltas e dês o sublime
sentimento do perdão para os que nos ofendam.
Não nos deixeis sucumbir ante a luta, dissabores, ingratidões,
tentações dos maus espíritos e ilusões pecaminosas da matéria.
Enviai Pai, um raio da TUA Divina complacência, luz e
misericórdia para os TEUS filhos, pecadores que aqui labutam
pelo bem da humanidade, nossa irmã.

Assim Seja!

RESUMO
8

MARITAN, Paula Monteiro. O Olhar de um Terapeuta Ocupacional,


compreendendo a relação da fé, na busca pela reabilitação da saúde, a partir
da religião Umbandista. Trabalho de Conclusão do Curso de Terapia Ocupacional.
Centro Universitário Metodista IPA. 2006/2.

O presente Trabalho de Conclusão, do Curso de Terapia Ocupacional, do


Centro Universitário Metodista – IPA, teve por objetivo identificar a relação subjetiva
estabelecida entre a fé e a busca pela reabilitação da saúde. A partir desta premissa,
procuramos por pessoas que foram acometidas por alguma doença e que buscaram
ajuda espiritual, em Terreiras de Umbanda paralelo, ou não, ao tratamento médico
tradicional, configurando assim uma intervenção alternativa, em prol da reabilitação
da saúde. Metodologicamente utilizou-se um questionário com seis perguntas
semi-estruturadas, observação participante e levantamento bibliográfico. Visando
uma maior abrangência nos resultados, foram pesquisados cinco freqüentadores do
Centro de Umbanda Reino da Mãe Iara, e cinco freqüentadores do Centro Espírita
de Umbanda Nossa Senhora Aparecida, ambos situados em Porto Alegre/RS. A
população participante de cada Terreira foi escolhida pelas líderes responsáveis de
cada local, respeitando assim, as questões éticas acadêmicas e as religiosas. As
entrevistas diferenciaram-se nas vias de atuação entre as Casas, nas fontes para
chegaram a tal recurso, na diversidade das doenças, mas todas, sem exceção
apontaram a fé como ponto importante da busca. Sendo ela a força que garantiu
presença real de uma melhora ou da cura, através de intervenções espirituais que
contrariavam a posição da medicina tradicional de impotência perante os casos.

Palavras-chaves: Terapia Ocupacional – Cultura – Religião – Saúde – Umbanda


9

ABSTRACT

MARITAN, Paula Monteiro. The look of the Occupational Therapy, understanding the
relation of the faith, in the search for the whitewashing of the health: Study of case
from the Umbandista religion. Work Conclusion of Course of Occupational Therapy.
University center Methodist IPA. 2006/2

The present Work of Conclusion, of the Course of Occupational Therapy, the


Methodist University Center - IPA, had for objective to identify the subjective relation
established between the faith and the search for the whitewashing of the health.
From this premise, we look for for people who had been attacks for some illness and
that they had searched aid spiritual, in Earthy of parallel Umbanda, or not, to the
traditional medical treatment, thus configuring an alternative intervention, in favor of
the whitewashing of the health. As instrument used a questionnaire with six half-
structuralized questions, participant comment and bibliographical survey. Aiming at a
bigger abrangência in the results, five peoples of the Centro de Umbanda Reino da
Mãe Iara had been searched, and five peoples of the Centro Espírita de Umbanda
Nossa Senhora Aparecida, both situated in Porto Alegre /RS. The participant
population of each Earthy one was chosen by the responsible leaders of each place,
thus respecting, the academic ethical questions and the religious ones. The
interviews had been differentiated in the ways of performance between the Houses,
in the sources for had arrived at such resource, in the diversity of the illnesses, but
all, without exception had pointed the faith as important point of the search. Being it
force that guaranteed true presence to it of an improvement or the cure, through
interventions spirituals that opposed the position of the traditional medicine of
impotence before the cases.

Word-keys: Occupational therapy - Culture - Religion - Health - Umbanda


10

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………..10
1.1 OBJETIVO GERAL ………………………………………………………………...10
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS……………………………………………………….10

2.FÉ E SAÚDE ……………………………………………………………………….....13

3. UMBANDA .…………………………………………………………………………...19

4. CULTURA, SAÚDE E DOENÇA .....……………………………………………….25

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS……………………………………………31
5.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ………………………………………………….31
5.2 CONTINGENTE POPULACIONAL …………………………………………………31
5.3 INSTRUMENTOS……………………………………………………………………...32
5.4 AMOSTRAGEM………………………………………………………………………..33
5.4.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ……………………………………………………….33
5.5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS …………………………………………………………34

6. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ..……………………………………………………...35

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………………....59

8. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA………………………………………………………62

9 ANEXO A : Questionário………………………………………………………………..66
ANEXO B: Termo de Consentimento Livre Esclarecido para Entrevistado ………..68
ANEXO C: Termo de Consentimento Livre Esclarecido Para Líder Espiritual……...71
11

1. INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão, do Curso de Terapia Ocupacional, do


Centro Universitário Metodista – IPA, teve por objetivo identificar a relação subjetiva
estabelecida entre a fé e a busca pela reabilitação da saúde, quais sejam:

1.1 Objetivo Geral

Analisar a ação benéfica da religiosidade, em específico a ação da


Umbanda frente aos tratamentos de saúde e a ação dos terreiros 1 de umbanda
quanto produtores de saúde, via alicerces culturais, objetivando o estudo da relação
paciente – fé/cultura/religião – terapeuta.

1.2 Objetivos Específicos

 Identificar casos de doenças, que tiveram paralelamente ao


tratamento medicamentoso, à atenção espiritual Umbandista;
 Verificar o papel subjetivo que o rito, subsidiado na fé exerce sobre as
peculiaridades de cada pessoa entrevistada;
 Proporcionar reflexão sobre o olhar terapêutico-humanista perante o
paciente, abrangendo, respeitando e aceitando suas características
culturais peculiares;
 Conhecer a ação das Casas Umbandistas, frente as problemáticas
trazidas pelas pessoas em busca de ajuda.
 Compreender qual a contribuição desta pesquisa na aplicabilidade de
Terapia Ocupacional;

1
Terreiro/terreira: território físico onde acontecem as sessões umbandistas.
12

A partir destes objetivos, procuramos por pessoas que foram acometidas por
alguma doença e que buscaram ajuda espiritual, em Terreiras de Umbanda paralelo,
ou não, ao tratamento médico tradicional, configurando assim uma intervenção
alternativa, em prol da reabilitação da saúde. Neste trabalho, baseado na “Ecologia
do Saber”, que segundo Boaventura (SANTOS, 2004:24) é o diálogo acadêmico
entrelaçado com o diálogo popular, valorizando aqui neste trabalho, a importância da
respeitabilidade dos profissionais da saúde nos aspectos culturais e religiosos de
cada indivíduo.
Neste trabalho utilizou-se uma pesquisa qualitativa, de caráter
interpretativo. Metodologicamente aplicou-se um questionário com seis perguntas
semi-estruturadas, observação participante e levantamento bibliográfico. Visando
uma maior abrangência nos resultados, foram pesquisados cinco freqüentadores do
Centro de Umbanda Reino da Mãe Iara, e cinco freqüentadores do Centro Espírita
de Umbanda Nossa Senhora Aparecida, ambos situados em Porto Alegre/RS. A
população participante de cada Terreira foi escolhida pelas líderes responsáveis de
cada local, respeitando assim, as questões éticas acadêmicas e as religiosas.
As pesquisas, previamente avisadas pelas líderes espirituais, foram
coletadas, na sua grande maioria na residência dos entrevistados. Entretanto a
concretização das mesmas foi tarefa lenta e árdua, pois passou por diversas etapas,
necessitando respeitar o tempo de cada sujeito e o tempo religioso. A
obrigatoriedade das líderes indicarem os entrevistados, significou esperar a reflexão
delas sobre quem indicar e que falassem com cada um, para só então entrarmos em
contato com os participantes escolhidos. Uma nova etapa de espera se formou,
tendo que respeitar e adequarmo-nos aos horários dos entrevistados. Contudo, isso
mostrou-nos que a realidade sócio-cultural, é um fator que influencia e direciona na
conduta e na subjetividade de cada sujeito. Fazendo com que cada entrevista fosse
um espaço de diálogo desprovido de preconceito, da linguagem espiritual, com a
linguagem acadêmica.
O diálogo entre culturas, além de exigir um desprendimento cultural do
entrevistador, para assim captar ao máximo, a fala do entrevistado, exigiu uma
busca literária, para fundamentar e nortear esta pesquisa. Partindo desta premissa,
este trabalho divide-se em três Capítulos de desenvolvimento teórico.
No primeiro Capítulo, aborda-se a questão saúde e fé, no qual se verifica
os processos onde a fé é a base na reabilitação da saúde. Apontamos também a
13

Neuroteologia, enriquecendo nossa pesquisa, onde cientificamente a fé demonstra


atuações cerebrais, ativando mecanismos, ações e reações no organismo,
buscando assim, uma explicação científica para a questão de cura pela fé. Além das
questões neurofisiológicas abordadas neste capítulo, apontamos novas terapias,
que baseiam-se no poder do pensamento, no diálogo como fonte de desopilação e
assim, amenização dos males, como é visto nas práticas da Terapia Comunitária, um
local de miscigenação cultural, no qual objetiva-se aliviar as angústias e mazelas da
população participante.
No segundo Capítulo, apresenta-se um pouco da história da Umbanda.
Religião escolhida para tal pesquisa, procurando compreender suas características,
sua evolução histórica, para assim subsidiar as análises das entrevistas realizadas,
visando um maior entendimento de toda singularidade e subjetividade de cada fala,
enriquecida pela fé nas atividades espirituais desenvolvidas pelas Terreiras de
Umbanda. Neste capítulo procuramos, também, dentro das condições como
acadêmica, diferenciar a Umbanda dos cultos afro-brasileiros, como o Batuque/
Candomblé/ Nação, buscando entender o motivo das associações errôneas entre
tais religiões.
O terceiro Capítulo destina-se a discussão sobre cultura, saúde e doença.
Relacionando assim, com bases nos capítulos anteriores, como a cultura influencia
no processo da doença e no processo da saúde. Veremos que em muitas culturas
as manifestações religiosas, ou as buscas medicinais alternativas são tão presentes
ou mais que a medicina tradicional.
O Capítulo seis que apresenta a análise das entrevistas ficou configurado
de forma densa e extensa, pois se optou em preservar ao máximo as falas dos
entrevistados, a fim de expor ao leitor a complexidade de tais narrativas,
abrangendo, assim, um maior entendimento do mesmo.
14

2. FÉ E SAÚDE

Nas turbulências e correrias do dia-a-dia, a busca do ser humano pela


realização plena, vem ascendendo cada vez mais. Um exemplo disto é o número de
vendas de livros de auto-ajuda, e outros na linha do espiritismo, que muitas vezes
chegam a ser campeões de vendas. O ser humano contemporâneo vem, ora
buscando soluções individuais, ora buscando nas referências de espiritualidade e fé,
soluções que facilitem a sua auto-compreensão ou compreensão de sua existência.
Nesta busca incluem-se diversos lugares, práticas, cultos, seitas, religiões, objetos
que preencham um vazio decorrente das pressões e transformações culturais e
sociais, que na atualidade se manifestam na insegurança, sentimento de solidão e
depressão, instabilidade e outros provocados pelo ritmo competitivo e pela
efemeridade das relações, projetos e sustentabilidade de vida.
A busca incessante pelo materialismo de forma desesperada, a lógica
escravizante do consumo que valoriza o ser humano pelo ter e não pelo ser, o
isolamento social, devido aos perigos iminentes, a luta constante contra o relógio a
favor da produção, entre outros fatores sócio-culturais fazem com que as pessoas
desenrolem seu dia, como se estivessem mecanicamente programadas.
Sabe-se que com toda essa cobrança social, vêm juntas, seqüelas orgânicas,
psíquicas, sociais e, também para os religiosos, as seqüelas espirituais. Um
exemplo de uma, dentre tantas seqüelas, é o famoso stress, a chamada “doença do
século”, que segundo Cicco (2006) nada mais é do que a manifestação do nosso
organismo, perante estímulos externos desfavoráveis, ocorrendo assim, uma
alteração orgânica, onde uma elevada descarga de adrenalina é liberada no
organismo, desequilibrando o funcionamento normal dos órgãos (CICCO.2006.
Disponível em: <http:/www.saudevidaonline.com.br/stress.htm>. Acesso em:
30/03/2006). Entretanto esta definição de stress, inicialmente descrita por Selye
(1936), já foi contestada por diversos autores (HELMAN, 2003), que aponta uma
outra visão mais abrangente do stress. Visão essa não tão mecanicista, apenas
com pareceres fisiológicos, e sim uma manifestação do papel patogênico das
emoções e das percepções, estas agregadas às já comentadas manifestações
orgânicas. Mas o stress é apenas uma pequena parcela, das manifestações
enfermas da sociedade atual.
15

Ultimamente os estudos2 relacionados entre patologias e religiões e/ou o


poder da fé, estão em ascensão. Faculdades de renome, profissionais de diversas
áreas, revistas conceituadas, ampliando investimentos em pesquisas e publicações
sobre o assunto, pelo entendimento da relação sutil que se estabelece entre
enfermidades físicas ou psíquicas, com as manifestações religiosas e intervenção
dos tratamentos alternativos.
A busca por um recurso alternativo de cura, tem por muitas vezes a fé
como seu combustível, onde segundo Menconi:

A fé é a sensação de certeza de que tudo está resolvido, que há um alento, o


que tem efeito pacificador no cérebro. A religião é uma solução menos
dolorosa para enfrentar a vida porque a dúvida incomoda e angustia, diz
Gilberto Azzi, Ph.D em neurociência pela Universidade Estadual de Michigan
(MENCONI, 2005)3.

As reflexões de Cortes, Pereira e Tarantino, reafirmam as surpresas e


evidencias científicas em relação a fé.

Hoje há muitas evidências científicas de que a fé e métodos como a oração e


meditação ajudam os indivíduos”, afirma Thomas McCormick, do
Departamento de História e Ética Médica da Universidade de Washington,
EUA, (CORTES, PEREIRA, TARANTINO. 2005)4.

Estes novos estudos relacionando o poder da fé e o cérebro, deram


origem ao novo ramo de pesquisa da ciência, a “Neuroteologia”. Atualmente o
radiologista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia é um ponto
referencial da Neuroteologia. Moreira em um artigo para a Revista Internacional de
Espiritismo, traz a experiência realizada por Andrew Newberg:

2
Artigos: DALGALARRONDO, DANTAS, PAVARIN Sintomas de conteúdo religioso em pacientes
psiquiátricos; Revista Brasileira de Psiquiatria, 1999, ALMEIDA, LOTUFO; Diretrizes
Metodológicas
para investigar estados alterados de consciências e experiências anômalas; Revista de
Psiquiatria
Clínica, 2003.
3
MENCONI, Darlene. As razões da Fé. Disponível em www.istoe.com.br. 2005. Acesso em
30/03/2006
4
CORTES, Celina. PEREIRA, Cilene. Tarantino, Mônica. A medicina da alma. Disponível em
www.iestoe.com.br. 2005. Acesso em: 02/01/2006
16

O radiologista Andrew Newberg submeteu a exames tomográficos o


cérebro de budistas tibetanos mergulhados em profunda meditação e um
grupo de freiras franciscanas, que rezavam fervorosamente durante 45
minutos.[...]O resultado da pesquisa mostrou que as imagens do lobo
parietal superior acusavam uma queda na atividade dessa região, que
chegava a ficar bloqueada no momento mais intenso, isto é, no momento
que o meditador experimenta a sensação de iluminação religiosa. O mais
interessante é que essa área do cérebro proporciona ao homem o senso
de orientação no espaço e no tempo. Isso levou os pesquisadores a
concluírem que, privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo
parietal desligariam os mecanismos das funções visuais e motoras do
organismo. Isso levou Newberg a dizer: “O sentimento de unicidade parece
paralisar os receptores sensórios da região parietal”. Exatamente por isso,
o cérebro não consegue traçar fronteiras e por isso percebe o “eu” como
um ente expandido, ilimitado e unido a todas as coisas. As imagens dos
lobos temporais, na região do “cérebro emocional”, também conhecida
como sistema límbico, indicam uma atividade intensa dessas áreas durante
as experiências contemplativas (MOREIRA. 2003).

No Brasil o Dr. Raul Marino Júnior, neuropsiquiatra e professor titular de


Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da USP, autor do livro “A Religião do
Cérebro”, é um grande referencial nos estudos das manifestações da fé no cérebro.
O autor traz informações referentes a atuação da fé no cérebro, pontuando
mecanismos, zonas cerebrais a serem ativadas a partir do estímulo religioso e/ou
da evocação da fé.
A partir de estudos realizados sobre o funcionamento, mecanismo e atuação
cerebral percebemos que no cérebro temos todas as fontes e substâncias
necessárias para o funcionamento saudável do nosso organismo e do nosso
psíquico, visto que a alteração de alguns neurotransmissores afeta diretamente no
comportamento.
Quando se encontra uma desordem nessa produção de neurotransmissores e
neuroreceptores, algum problema é desencadeado, variando de extensão e
complexidade. Usando um pensamento lógico que se há uma desordem devido à
falta ou excesso de alguma substância, devem-se organizar essas produções, para
assim sanar a problemática. Esta organização dar-se-á por duas vias, utilizadas
paralelas ou isoladas. A intervenção medicamentosa da medicina tradicional, e/ou a
intervenção da medicina alternativa, recorrendo a medicações naturais, alimentação,
estímulos do prazer, espiritualidade, religiosidade, tratamento popular, entre outras
vias de intervenção alternativa frente a doença.
As vias “populares” de atuação, que constatamos acima, apresentam
ações perante produções e inibições cerebrais, tendo assim atuações distintas, com
objetivos iguais a via medicamentosa.
17

A Neuroteologia é assim, uma porta para compreensão das manifestações


religiosas com as manifestações cerebrais. Entretanto, mesmo com inúmeros
estudos referentes a tais peculiaridades culturais, ainda percebemos que muitos
profissionais da saúde, ignoram tais registros culturais, mantendo assim a
segregação entre ciência e conhecimento popular.
Mas porque se criou este abismo entre espírito e corpo, entre ciência e
espiritualidade? Darlene Menconi (2005), fala em um artigo para a revista Istoé que,
“A missão da ciência não é investigar se Deus existe ou não, mas como a mente
percebe as manifestações divinas”, e acrescentamos ainda, que essa missão
engloba conhecer como a mente percebe as manifestações divinas e como
podemos utilizar estas descobertas em prol da saúde. Seguindo no mesmo artigo
de Menconi, ela apresenta o estudo de um geneticista americano Dean Hamer,
Doutor pela Universidade de Harvard, no qual defende um conjunto de genes, que
apelidou de Gene de Deus ( VMAT2), o qual seria responsável pela predisposição
genética para a espiritualidade. “A espiritualidade é uma das heranças genéticas
humanas fundamentais, um instinto”, diz Hamer no artigo de Menconi.
É em busca dessa (re) unificação do ser humano, que a cada dia surgem
novos templos, novas religiões, novos simbolismos, objetivando sanar, ou atenuar as
cóleras da alma, as enfermidades da matéria, da mente e do espírito. Simbolismos
são criados incessantemente a fim de direcionar, canalizar a energia e o poder
mental do ser humano, o poder da fé. Poder este que é estimulado e reconhecido
através do conhecimento popular, sabedoria onde muitas vezes encontramos
nesses templos, terreiros, igrejas que visam a atenuação dos miasmas patológicos,
seja de cunho físico, emocional ou espiritual. Atuando através de suas
peculiaridades estruturais de cura, seja através de meditações, rezas, simpatias,
desabafos ou simbolismos materiais (trabalhos, despachos).
Referimo-nos acima que esta busca é uma (re) unificação do
conhecimento científico, com o conhecimento popular, pois, a partir de diversas
literaturas, percebemos que a cultura Ocidental já foi influenciada pela cultura
Oriental, onde o saber popular é tão reconhecido se não mais do que o saber
científico.
A Terapeuta Ocupacional Denise Dias de Barros, traz a definição da
Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre medicina tradicional, em seu livro
“Itinerários da Loucura em Territórios Dogon”. Conceituando esta medicina como a
18

soma de todos os conhecimentos teóricos e práticos, explicáveis ou não, utilizados


para diagnósticos, prevenção e supressão de transtornos físicos, mentais ou sociais,
com base exclusivamente na experiência e observação, transmitidos verbalmente
ou por escrito de uma geração à outra (BARROS, 2004: 72).
Mesmo com toda essa intervenção da cultura popular, do conhecimento
coletivo, ainda permanece a pergunta sobre a cisão entre a religiosidade, juntamente
com a sua atuação popular, e a ciência.
De acordo com Mauro Kwitko (KWITKO, 2004: 10-28), a cisão ocorrida
entre a espiritualidade e a ciência, deve-se ao período da Santa Inquisição, onde era
proibido lidar com espíritos, por serem coisas do “Diabo”. O autor faz um passeio
histórico para fundamentar tal sustentação, alegando que a Psicologia e a
Psiquiatria não acreditam em espíritos devido ao Consciente Coletivo Ocidental, no
qual se estabeleceu desde 553 d.C. com o Imperador Justiniano que decretou a
não existência da reencarnação. Assim para este autor, é a partir desse
Consciente Coletivo, que se estruturam as bases da medicina tradicional atual,
sendo também, a maioria segundo ele, descrentes da existência e influência de
forças sobrenaturais5 .
Esta cisão citada por Mauro Kwitko, parece estar diminuindo. Parece-nos
que há um interesse sobre os aspectos da influência das religiões, da espiritualidade
e da fé, que estão sendo observadas com outros olhos multidisciplinares.
Atualmente sabe-se que Psicólogos, Antropólogos, Enfermeiros, Cientistas,
Terapeutas Ocupacionais e outros, estão se aproximando e buscando o
conhecimento, ou o entendimento da importância da religiosidade como fator
cultural, manifestação simbólica do inconsciente, estimulação cerebral, terapia
alternativa, a fim de entender e conhecer estas relações na reabilitação da saúde.
As casas de religiões passam a ser alvo de estudos de diversos
profissionais, analisando seu papel para com a sociedade e para com o indivíduo
que buscam, tais locais como forma de abrigo da alma. Nessa busca do
conhecimento/entendimento popular, a teia de profissionais da saúde engajados
nessa caminhada subjetiva, encontra-se na maior parte das vezes, com o objetivo

5
Não estamos generalizando a Psiquiatria e nem a Psicologia, estando cientes da existência de
diversos profissionais que acreditam na espiritualidade, agregando este conhecimento ao
seu
saber científico. Estamos aqui refletindo a partir dos apontamentos do autor.
19

de construir um link desse saber popular com o saber científico. Um exemplo de


sucesso e referência é a proposta da Terapia Comunitária, como veremos a seguir.
Podemos admitir então, de acordo com Fukui (2006), que as casas de
religiões também são palcos para a Terapia Comunitária, sendo um espaço de fala e
escuta, onde os protagonistas são todos que ali se encontram e ao mesmo tempo
apenas aquele que está falando, tornando daquele momento de fala uma
apresentação da sua subjetividade, do seu exercício de cidadania, um personagem
importante de sua cultura, recebendo como aplauso o acalento para sua dor, se não
em âmbito material e físico da resolução dos problemas, ao menos no plano
sentimental, confortando e fortalecendo toda sua singularidade para compreender,
enfrentar, aceitar, lutar contra a moléstia presente.
Ousamos fazer uma comparação onde a Umbanda, religião que foi
escolhida para esta pesquisa, é um exemplo da junção das diferenças (diferentes
pessoas que freqüentam) a fim de formar uma única semelhança (fé). Como na
Terapia Comunitária, a Umbanda agrega diferentes pessoas (sexos, problemas,
idades...) a fim de promover a melhora das angústias, das problemáticas de cada
participante, seja ela feita através da simples escuta, ou da complexa atuação direta
no problema.
Uma vez que nas sessões umbandistas a conversa é muitas vezes o
maior recurso de ajuda, a relação com a Terapia Comunitária faz-se aparentemente
coerente, visto que a Umbanda também utiliza do falar e ouvir como seu mecanismo
de atuação com aqueles que lhe pedem socorro, assim como a Terapia Comunitária.
Ambas formadas pela diversidade de pessoas que buscam tais recursos, onde a
única característica real entre todos que ali freqüentam é a fé/esperança naquele
grupo terapêutico, templo, terreira, igreja,... .
A partir das referências bibliográficas descritas neste capítulo, encontramos
que a terapia alternativa engloba todos os recursos terapêuticos diferentes da
terapia tradicional, normalmente alopático-medicamentosa. Dentro dessa busca
encontramos a procura pelos curandeiros, religiões como citamos acima em um
trecho que Helmam nos descreve. Sendo assim, o tratamento espiritual indicado
pelos guias (espíritos que estão incorporados nos médiuns nas sessões
Umbandistas) também enquadrar-se-iam nesse pressuposto teórico, levando em
consideração as peculiaridades e subjetividades de cada cultura, sendo esta uma
busca, uma manifestação, um recurso cultural, teoricamente, em prol da saúde.
20

3. UMBANDA

Que a tua Sabedoria não seja uma humilhação


para teu próximo. – Omar Khayyam

Falar e escrever sobra a Umbanda torna-se difícil, frente à diversidade de


terreiros que utilizam esse mesmo nome, como se fossem diversas ramificações de
uma única filosofia. Mas para escrever este capítulo, baseamo-nos nas literaturas
indicadas e referidas pelas líderes espirituais visitadas. Ciente das diferenças
encontradas nas terreiras, tentaremos resumir, dentro da condição de acadêmica, o
que é a Umbanda, sua história, seus princípios, e as mistificações com outros cultos,
como o Candomblé, Batuque, Nação, entre outros.
Essas variações de nomenclaturas ocorrem devido a miscigenação e a
própria confusão de algumas Terreiras, que utilizam o nome Umbanda, mas que na
sua essência praticam ritos cultuados nas religiões Afro-brasileiras. Esse
esclarecimento que trazemos neste capítulo, não é com o intuito de discriminar e
nem elevar nenhuma religião, mas apenas esclarecer, a fim de compreender a
essência cultural dessa religião buscada por nossos entrevistados.
Na busca literária Umbandista, encontramos algumas referências
importantes, como: W.W. da Matta e Silva (Mestre Espiritual Yapacany), um
precursor na literatura do Movimento Umbandista, com o livro Umbanda de Todos
Nós, lançado em 1956, surgindo a partir desta publicação outras tantas novas
bibliografias. Também em destaque, encontra-se Domingos Rivas Neto (Mestre
Espiritual Itamiara), sendo um dos seguidores de Matta e Silva, entre tantos outros
nomes, significativos para o Movimento Umbandista.
A energia Umbandista – a AUMBHANDAN - surgiu a milhares de anos
antes de Cristo, quase que paralelamente ao surgimento do homem na terra.A
formação do planeta terra, deu-se a partir de uma civilização muito antiga no qual
propagavam a AUMBHANDAN, formada por seres evoluidíssimos de outros níveis
espirituais, pois na Umbanda acredita-se na existência de diversos planos
(Planetas), cada um com um nível de evolução. Estes seres estariam auxiliando na
formação de um novo planeta, a Terra, onde a primeira Raça Terrena, no Brasil, foi
chamada de Raça Vermelha (NETO,1997). Diz-se que a Umbanda é genuinamente
21

brasileira, porque os primeiros habitantes deste plano, apresentaram-se em solo,


hoje brasileiro, mais precisamente no atual Planalto Central, como afirma Iara
Rodrigues (Mestre Espiritual Jurema das Matas) 6. Segundo Rivas Neto:

...e para espanto geral tudo isso ocorreu em pleno Planalto Central Brasileiro,
onde surgiu as primeiras manifestações de vida no Planeta terra. Segundo a
própria Geologia, ciência que estuda os solos, o Planalto Central Brasileiro é
terra muito antiga, emergida do pélago universal há muito tempo. Sabemos
pelas entidades do Astral Superior que o Planalto Central Brasileiro foi a
primeira porção de Terra a surgir do imenso oceano que era o Planeta após o
que a ciência chama de o “Grande Dilúvio”, fato ocorrido há cerca de 3
bilhões de anos. (NETO, 1997:35)

Sabe-se, segundo literatura, que o surgimento da AUMBHANDAN foi em solo


brasileiro, migrando assim, para todos os cantos do planeta, explicando as diversas
semelhanças com outras religiões. No início, a AUMBHANDAN (Conjunto de Leis
Divinas) era uma energia, algo sem as fronteiras ditadas pelas religiões, mas sim
um sentimento universal. Sabe-se, na visão Umbandista, que o planeta Terra teria
sido habitado primeiramente por seres de grande evolução espiritual e alto padrão
vibracional, preparando este planeta para a recepção dos espíritos destinados a este
plano espiritual.
O Planeta Terra, para a religião Umbandista, é considerado um espaço de
aprendizado e de possibilidade de evolução espiritual. Este aprendizado é
compreendido na religião pelo processo reencarnatório, assim espíritos
necessitados de tais aprendizados iniciam este processo de reencarnação, a
habitação na terra. É importante destacar que na visão da Umbanda, o processo
reencarnatório ocorre em diversos planos, sendo a Terra, apenas umas das
passagens evolucionistas.
Com o passar dos anos, após o surgimento do planeta Terra, os espíritos
mais evoluídos foram diminuindo em quantidade nesse plano, devido aos processos
de desencarne (morte do corpo físico), predominando, habitavelmente, espíritos
menores na escala de evolução, acarretando assim, uma baixa sensível no padrão
vibratório do planeta, fazendo com que os pensamentos e sentimentos mais
inferiores ultrapassassem os superiores, como diz Rivas Neto (1997:39). É nesse
momento que, os conceitos e fundamentos originais de AUMBHANDAN, começaram
a ser deturpados.

6
Iara Rodrigues, é a responsável espiritual (chamada de Cacique, na religião), pelo Centro Espírita
Nossa Senhora Aparecida (CEUNSA).
22

O objetivo do Movimento Umbandista é então, resgatar a essência dos


fundamentos originais de AUMBHANDAN, com os verdadeiros preceitos de Amor-
Sabedoria. O movimento que teve diversas etapas foi oficializada em 15 de
Novembro de 1908 por Zélio Fernandino de Moraes, médium no qual se manifestava
o Caboclo 7 Encruzilhadas. O Caboclo 7 Encruzilhadas, encarnado em Zélio
Fernandino, em uma sessão espírita Kardecista, disse que daria início a um culto
onde não haveria nenhuma forma de discriminação racial, onde pobres e ricos,
sábios e ignorantes poderiam ali se chegar para serem atendidos nesse ritual que
se chamaria UMBANDA.
Seguindo estas explicações percebemos que a Umbanda, como muitos
dizem, não teve sua origem ligada aos povos africanos, mas sim na Pura Raça
Vermelha, originalmente brasileira.
A partir da vasta literatura Umbandista 7, refletimos o porque de tantas
confusões entre Umbanda e outros cultos. Com a necessidade de atenuar a energia
do planeta terra, e o início do Movimento Umbandista, espíritos de luz, que
acreditam no “Religare” (Reencontro com Deus), precisavam entrar nas religiões já
existentes, como os cultos africanos, o Kardecismo, entre outras, a fim de trazerem
mensagens de luz, paz e amor, para quem sabe um dia agregar todas as religiões
em uma só, mas não com ditaduras, e sim com a simples linha do amor, da caridade
e da sabedoria. Por isso, Pais Velhos 8, entre outros Guias de Luz da Umbanda,
começaram a incorporar em Terreiras de Batuque, a fim de buscar, com suas
palavras de amor e caridade, a evolução destes outros espíritos, com vibrações
menores9. Já no Kardecismo, assumiam, por exemplo, a roupagem de médicos, e
grandes sábios, a fim de diminuir essa distância criada entre astral e encarnados.
Por isso que na Umbanda, prega-se a simplicidade. Sem preconceitos e nem
discriminações, onde espíritos de grande sabedoria apresentam-se como “pais
velhos”, curvados e humildes, muitas vezes com a fala errada, mas com o intuito de

7
Como “Umbanda de Todos Nós” (Mestre W.W. da Matta e Silva), “Umbanda – A Proto-síntese
cósmica” ( F.Rivas Neto), “Umbanda - ao alcance dos jovens” (Domingos Rivas Neto), “Teologia
Umbandista” (Mestre Obashanan), entre tantos outros fidedignos aos princípios de AUMBHANDAN.
8
Pais Velhos são espíritos evoluidíssimos, que assumem essa roupagem astral, que para os
Umbandistas, significa a forma que o espírito irá se apresentar neste plano, caracterizando assim,
pelo processo de incorporação algumas características peculiares de cada roupagem no médium. As
roupagens espirituais, são os caboclos, pais velhos, crianças, entre outras formas de manifestação.
Os pais velhos adotam essa roupagem como forma de manifestação da humildade, sendo os
propagadores da caridade, do amor e da luz.
9
Em hipótese alguma, generalizamos tal informação, tendo ciência da existência de casas de
Batuque ministradas por espíritos de grande Luz, sendo esta afirmativa, apenas uma síntese dos
autores acima citados.
23

aproximar e aconchegar aquelas pessoas que procuram por eles, como explica Iara
Rodrigues.
Sabe-se que a Umbanda, apesar de ter raízes milenares, ainda é um
movimento recente. E como vimos anteriormente, a necessidade de amenizar as
energias de alguns cultos fizeram com que Guias Umbandistas se manifestassem
em diferentes locais, formando muitas vezes a conhecida Umbanda Cruzada 10, mas
almejando transmutar tudo para as lições de AUMBHANDAN.
No Livro de Rivas Neto (1997:47), encontramos também uma diferenciação
dentro da Umbanda, onde ele caracteriza a Umbanda Popular e a Umbanda
Esotérica. Sendo a Umbanda Popular “aquela que adquiriu suas tradições e seus
conceitos através da passagem oral e, principalmente, por estar sempre ligada a
forma e não a essência deturpou conceitos tentando adaptá-los a massa”, e nessa
adaptação é que encontramos a fusão com outras religiões. A Umbanda Esotérica
“está mais próxima da realidade, porque guardou em seus templos os reais e
verdadeiros ensinamentos, soube velá-los e protegê-los de usurpadores”, e são
templos considerados de Linha Branca. Mas não quer dizer que a Esotérica é
melhor que a Popular, apenas duas formas de culto, cada uma com uma função
dentro do movimento Umbandista .
A Umbanda Popular ou Cruzada, como diz Rivas Neto (1997), é
predominante, quanto ao número de terreiras, encontradas no Brasil hoje. Tal dado
se dá, não por superioridade ou inferioridade quanto a Umbanda Esotérica, mas
devido à junção cultural que foi sendo realizada com o passar dos anos. Apesar de,
na literatura, encontramos que a Umbanda não manuseia sangue e nem dinheiro,
como forma de pagamento aos trabalhos, encontramos muitas terreiras que utilizam-
se de tais práticas, caracterizando então, a Umbanda Cruzada. Genezi Araújo 11
(Mestre Espiritual Mãe Iara), explica que os trabalhos realizados na Umbanda
Cruzada, sob a energia Umbandista, não utiliza-se da energia do sangue, nem do
sacrifício (rituais específicos dos cultos Africanos/ Batuque/ Candomblé), mas que
podem acontecer num momento específico do Batuque. Quanto a dinheiro, Genezi
diz ser necessário o aché12 de cada trabalho, podendo variar de centavos a milhões.

10
Popularmente assim é chamada, porque em uma mesma Terreira encontram-se cultos (sessões -
giras) com guias da Umbanda e guias do Batuque. Sendo que em algumas casas tais manifestações
ocorrem em dias e horas diferenciadas, não acontecendo simultaneamente.
11
Líder espiritual do Centro de Umbanda Reino da Mãe Iara.
12
Aché, é a forma de pagamento, ou troca com a Natureza. Diz-se que tudo que se tira dela, devolve-
se a ela. E o Aché, seria tal devolução.
24

Na Umbanda Esotérica, o aché varia de R$0,70 á R$7,00, em pouquíssimos casos,


o aché pode ser mais alto, sempre em múltiplos de 7, como informa-nos Iara
Rodrigues. Os materiais utilizados em trabalhos também baseiam-se nos princípios
da natureza, sendo usadas as forças dos elementares (poderes da natureza, água,
fogo, vento, terra,mata).
Em uma enciclopédia virtual encontramos tais dizeres:

A Umbanda é genuinamente brasileira. A Prática da Umbanda nada tem a


ver com o Candomblé ou com a Kiumbanda. Trata-se de uma religião que
trabalha diretamente com entidades do Plano Astral ou com seres da
natureza (os elementais) e utiliza a mecânica da incorporação para
trabalhar as necessidades emergenciais do homem, trazendo a força e a
sabedoria dos mestres da Aruanda para a cura e a energização do campo
astral humano, com a atuação nos centros de força dos corpos e nos
campos energéticos das pessoas que "...vêm em busca de socorro, alívio e
cura para suas dores morais e físicas", e também traz muito ensinamento
das verdades da espiritualidade maior. (Retirado:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Umbanda, Acesso: 03/11/2006>).

Os cultos Umbandistas são regados de misticismo, ritualismos, crenças no


mundo espiritual, onde se acreditam na existência de divindades, chamadas de
Orixás, que seriam grandes emanações de luz divina. Nas sessões religiosas da
Umbanda, segundo a vasta literatura, há a incorporação de entidades de luz
(Caboclos, Pais-Velhos, Ibeijes [crianças]), que vêem para ajudar, acalentar, escutar
as pessoas que buscam ajuda. Sendo muitas vezes, apenas um momento de
conversa, de desabafo, onde a fé e a esperança são constantemente invocadas,
como recurso positivo daquela ajuda.
No entanto, com a mesma premissa da incorporação, acontecem as
manifestações de espíritos de baixo padrão vibracional, no qual chamamos de
Obsessores, ou espíritos de pouca Luz. A presença desses espíritos, acarretam uma
vasta sintomatologia, como dores, cansaço, agressividade, pois segundo a
Umbanda, a energia desses obsessores estariam interferindo na energia da pessoa
perseguida. Essa perseguição, dá-se por inúmeros motivos, como raiva do
obsessor pela pessoa, dívida de vidas passadas, entre tantas outras hipóteses
descritas pela literatura.
A tríade espiritual da Umbanda é formada por Pretos Velhos (Sabedoria),
Cosmes-crianças (pureza), e Caboclos (Força), sendo essas formas espirituais que
manifestam-se nas Terreiras de Umbanda, como acima foi citado.
25

No Livro “Jardim dos Orixás”, de Norberto Peixoto (2004), psicografado


pelo espírito de luz Ramatis, encontramos de forma simples e clara alguns
elementos característicos da Umbanda. Princípios nos quais descrevemos na
íntegra do livro:

Umbanda – Sua face

1. A Umbanda crê num Ser Supremo, o Deus Único criador de


todas as religiões monoteístas. Os Sete Orixás são emanações da
Divindade, como todos os seres criados.
2. O propósito maior dos seres criados é a Evolução, o
progresso rumo à Luz Divina. Isso de dá através das vidas sucessivas – a
Lei da Reencarnação -, o caminho do aperfeiçoamento.
3. Existe uma Lei de Justiça Universal, que determina a cada
um colher o fruto de suas ações, que é conhecida como Lei do Carma.
4. A Umbanda se rege pela Lei da Fraternidade Universal, todos
os seres são irmãos por terem a mesma origem, e a cada um devemos
fazer o que gostaríamos que a nós fosse feito.
5. A Umbanda possui uma identidade própria, e não se
confunde com outras religiões ou cultos, embora a todos respeite
fraternalmente, partilhando alguns princípios com muitos deles 13.
6. A umbanda está a serviço da Lei Divina, e só visa ao Bem.
Qualquer ação que não respeite o livre-arbítrio das criaturas, que implique
em malefício ou prejuízo de alguém, ou se utilize de magia negativa, não é
Umbanda.
7. A Umbanda não realiza, em qualquer hipótese, o sacrifício
ritualístico de animais, nem utiliza quaisquer elementos destes em ritos,
oferendas ou trabalhos.
8. A Umbanda não preconiza a colocação de despachos ou
oferendas em esquinas urbanas,e sua reverencia as forças da natureza
implica em preservação e respeito a todos os ambientes naturais da Terra,
9. Todo o serviço da Umbanda é de caridade, jamais cobrado ou
aceitando retribuição de qualquer espécie por atendimentos, consultas ou
trabalhos. Quem, cobra por serviço espiritual não é Umbandista.
Um espírito amigo.
(PEIXOTO, 2004:17-18).

13
Umbanda e catolicismo são diversos, apesar do sincretismo, que teve raízes históricas.
Umbanda e espiritismo são diversos, embora ensinem as mesmas Grandes Leis milenares
da Evolução, do Carma e da Reencarnação.
Umbanda e Candomblé são diversos, embora ambos realizem o intercâmbio com Planos
Invisíveis.
26

4. CULTURA, SAÚDE E DOENÇA

E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por


aqueles que não podiam escutar a música – Friedrich Nietzche.

Para compreender a relação saúde e doença, através da concepção das


ações da religião Umbandista, é necessário dialogar com um outro conceito, a
cultura. Assim, neste capítulo busca-se diálogos e reflexões entre estes conceitos
com o objetivo de ampliar e qualificar este estudo.
A relação saúde e doença é um assunto variante de cultura para cultura.
Tendo princípios e ações distintas umas das outras. Ações que não entram na
discussão do certo e do errado, e sim nas características culturais daquela
sociedade, daquele grupo social, que não se restringe nas noções de fronteiras
federais (cultura de nação14), no qual muitas vezes encontramos dentro de um
mesmo território (país, estado, cidade, bairro), diferentes culturas (realidade
cultural15).
Silveira Teles (1993:28) diz que "A personalidade do indivíduo vai emergir,
portanto, não só do contexto social, mas de um contexto social “específico”.
Abaixo, uma caminhada nos conceitos, com o objetivo de aprofundar a
reflexão sobre a relação cultura, saúde e doença.
De acordo com o Dicionário Luft (8ª edição: 178), Cultura é “...conjunto de
experiências humanas (conhecimentos, costumes, instituições, etc.) adquiridas pelo
contato social e acumuladas pelos povos através dos tempos”. De acordo com um
glossário virtual, cultura é:

[Do lat. cultura.] O conjunto de características humanas que não são inatas,
e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e
cooperação entre indivíduos em sociedade. Nas ciências humanas, opõe-se
por vezes à idéia de natureza, ou de constituição biológica, e está
associada a uma capacidade de simbolização considerada própria da vida
coletiva e que é a base das interações sociais. A parte ou o aspecto da vida
coletiva, relacionados à produção e transmissão de conhecimentos, à
criação intelectual e artística, etc. Cultura de massa: Cultura imposta pela
indústria cultural; Induzir, instigar, incitar.
(http://www.geocities.com/RainForest/Canopy/9555/glossario_ambiental.htm
acesso em: 21/10/2006).

14
Cultura de nação, nomeamos como aquela que caracteriza todo um país, como por exemplo, no
Brasil temos a cultura do futebol e do carnaval. Isto não é restrito a um ou outro estado, é um
referencial de toda população brasileira, mesmo sendo mais investido em determinados estados.
15
Realidade cultural, varia muitas vezes de um bairro para o outro. Tendo diversos fatores como
precursores dessa diferença, os fatores sócioeconômicos, fatores intelectuais, entre outros. Dentro de
uma cidade existem diferentes bairros, cada um com sua peculiaridade cultural.
27

Helman também inicia seu livro, fazendo este pequeno apanhado sobre o que
é cultura, e após citar alguns conceitos, o autor conclui que:

...cultura é um conjunto de princípios (explícitos e implícitos) herdados por


indivíduos membros de uma dada sociedade; princípios esses que mostram
aos indivíduos como ver o mundo, como vivenciá-lo emocionalmente e
como comportar-se em relação às outras pessoas, às forças sobrenaturais
ou aos deuses e ao meio ambiente (2003: 12).

Em relação aos conceitos de saúde, sabe-se que a Organização Mundial de


Saúde, define saúde não apenas a ausência de doença, ela corresponde ao bem
estar humano nas vertentes física, psíquica e social.
No Dicionário Luft encontramos o conceito de saúde como um “estado são, do
individuo cujo organismo funciona normalmente” (p. 559). Seguindo esta mesma
literatura, definimos doença como: “perturbação mais ou menos grave as saúde;
moléstia; enfermidade” (p. 221)
O enfoque da antropologia médica contribui para entendermos as relações
entre saúde/doença e cultura. Sabe-se que a antropologia médica encontra-se num
ramo da antropologia social e cultural. Assim cabe aqui destacar o conceito
encontrado na definição de Foster e Anderson:

a antropologia médica é uma disciplina biocultural, preocupada tanto com os


aspectos socioculturais do comportamento humano e, especialmente, com
os modos pelos quais eles interagem no decorrer da história humana de
modo a influenciar a saúde e a doença” (FOSTER e ANDERSON Apud
HELMAN, 2003: 15)

Com essa passagem de Foster e Andersom, mostra-nos que as crenças e


atuações frente aos problemas de saúde, são elementos fundamentais da cultura,
sendo norteadores de condutas, necessitando assim, a devida atenção dos
profissionais ligados ao estudo e promoção do bem estar da humanidade, sendo ele
em âmbito de saúde tanto quanto em âmbito sócio-cultural. Conforme os autores,
cultura e saúde são tópicos extremamente interligados.
Seguindo ainda as referências antropológicas, encontramos Kleinman que
vem nos contribuir dizendo que:
28

No paradigma biomédico ocidental, patologia significa mau funcionamento


ou má adaptação de processos biológicos e psicológicos no indivíduo;
enquanto enfermidade (estar doente), representa reações pessoais,
interpessoais e culturais perante a doença e o desconforto, imbuídos em
complexos nexos familiares, sociais e culturais. Dado que a doença e a
experiência de doença fazem parte do sistema social de significações e
regras de conduta, elas são fortemente influenciadas pela cultura e por isso
socialmente construídas. (1992, p. 252).

De acordo com o autor, a saúde, a doença e o tratamento são partes de um


sistema cultural e, como tal, devem ser entendidas nas suas relações mútuas.
Examiná-las isoladamente é distorcer a compreensão da natureza dos mesmos e de
como funcionam num dado contexto.
Segundo Amadeu Matos Gonçalves, algumas doenças só podem ser
devidamente explicadas e compreendidas se os técnicos de saúde abandonarem o
quadro teórico do paradigma biomédico e partirem para a análise dos elementos
étnicos e culturais do problema. Sendo essa a premissa básica da antropologia
médica, a psiquiatria transcultural como especialidade, tem como objetivo
compreender a dimensão cultural das doenças mentais e a dimensão psiquiátrica
das culturas. Helman (1994) inclui a psiquiatria transcultural como uma das
principais áreas da antropologia médica, e refere-se a esta área do saber da
seguinte forma:

... ramo da antropologia social e cultural, colocada entre as ciências naturais


e sociais, nas margens da medicina e da antropologia, interessada no modo
como as pessoas, em diferentes culturas e grupos sociais, explicam as
causas do seu estado de saúde, de doença, os tipos de tratamento em que
acreditam e aqueles a quem pedem ajuda, quando ficam doentes (...) a
psiquiatria transcultural consiste no estudo e na comparação da doença
mental nas diferentes culturas” (p.216).

Conforme entrevista16 com Rubim Pinho, a psiquiatria transcultural remete


sobre os muitos comportamentos, muitas reações, muitas expressões da
personalidade que são formados à partir de certos condicionamentos culturais. Para
Rubim, o profissional da saúde mal preparado pode confundir esses
comportamentos com verdadeiros distúrbios mentais. E destaca que: a maior
habilidade de alguns dos líderes religiosos, que às vezes erram, como erram
também os médicos, é saber diferenciar os casos que comportam um tratamento

16
Artigo da Revista de Psiquiatrica Brasileira: “A psiquiatria Transcultural no Brasil: Rubim Pinho e as
“psicoses da cultura-nacional”. Volume 25, nº 1. 2003
29

médico, aplicado pela medicina formal, dos casos que são sensíveis aos
tratamentos informais, como por exemplo, espirituais.

Algumas vezes a questão cultural, ou seja, a representação cultural da


realidade aproxima mais as pessoas de suas crenças que da ciência. A psiquiatria
Transcultural nada mais é do que esse entrelace do popular com o científico. A
admissão de outras possibilidades de escuta, de tratamento, não inviabilizando as
vias medicamentosas tradicionais, apenas abrindo-se para o saber popular.
Escutando e respeitando as vias culturais de atuação para tratamentos de saúde,
seja ela de ordem religiosa, mística, entre outras.
Temos também, seguindo a área da saúde como um todo, mesmo que
referenciando bibliografias psiquiátricas, a “Psiquiatria Folclórica”, onde Pinho
(2002: 28,29) define como “um conjunto dos métodos adotados pelos curandeiros
profissionais para o tratamento das moléstias psíquicas”. No decorrer de sua
literatura, o autor agrega a esse significado “a compreensão do conhecimento de
quadros psicopatológicos rigorosamente ligados às superstições”. Encontramos
nesse ramos de estudo, a valorização, ou ao menos, o respeito e a acessibilidade
em ouvir e tentar entender, casos de doenças de diversas ordens, desencadeados a
partir de mitos, de histórias – atitudes – costumes populares, que por eles são
desencadeados e por eles são curados, onde muitas vezes a ação da medicina
tradicional é inútil.
Helman que descreve de forma bem detalhada os setores de assistência da
saúde, aponta que, o Setor Popular é apenas formado de recursos de saúde “ extra-
oficial”, ou “não tradicional”, dentro da cultura Ocidental. Neste setor periférico ao
setor reconhecido da medicina, encontramos a valorização e reconhecimento de
pessoas, que trabalham com a saúde física, psíquica, social e espiritual. Essas
pessoas são as parteiras, os curandeiros, os espiritualistas, xamãs, bruxas,
médiuns, as vovós17, enfim, pessoas que detêm o conhecimento popular, a medicina
popular, o conhecimento transmitido por gerações, a medicina de contato espiritual.
Conhecimentos e aplicabilidades muitas vezes mistificadas e errôneas perante o
18
olhar científico, mas também uma forma humana que não dilacera o homem em
simples patologias ambulantes. Um olhar sobre aqueles que lhes buscam ajuda

17
Helman sita as vovós, como detentoras de um saber. Tendo o conhecimento de gerações, os chás,
os remédios naturais...
18
Homem: descrito aqui, não com discriminação de gênero, mas em situação abrangente de ser
humano.
30

como um individuo uno19, dotado de matéria (corpo), psique, emocional, social e


espiritual.
O professor, psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto (RICARTO.2005), que
disserta-nos sobre a Terapia Comunitária, desenvolvida em Pirambu, na periferia de
Fortaleza (CE), aponta que a Terapia Comunitária permite essa junção do popular
com o científico, dando espaço para a singularidade de cada participante, sem
estabelecer regras e nem pré-conceitos, fazendo da fala e da escuta o maior recurso
terapêutico.

A idéia é partir do viés pessoal em direção ao coletivo. Provar que a


superação de problemas não é obra particular de um indivíduo ou de um
terapeuta, mas é da coletividade. Essa constatação gera um sentimento de
auto-confiança na comunidade, que passa a se enxergar capaz de sair da
dependência e chegar a autonomia. Romper com o clientelismo e atingir a
cidadania[...]. É dessa maneira que a Terapia Comunitária atinge um de
seus principais objetivos: formar redes sociais solidárias de promoção de
vida. Um dos pontos chaves desse processo é que o saber acadêmico cede
vez ao saber popular. (RICARTO. 2005: 34).

Fukui apresentou no II Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária, ocorrido


em Brasília no ano de 2004, um trabalho onde dissertou a “Terapia Comunitária,
como forma de atuação no espaço público”. A partir deste a autora decorre que:

A terapia comunitária é uma forma de atuação no espaço público, sendo um


espaço aberto (...) de ajuda mútua. (...). A terapia comunitária, onde quer
que ela ocorra, compreende sempre um conjunto de relações, num
emaranhado de situações que sempre extrapolam o âmbito individual e
familiar. Um grupo de pessoas numa praça, pacientes e familiares no
corredor de um hospital; pessoas numa sala de espera; um grupo reunido
num salão paroquial ou numa outra filiação religiosa; uma associação de
bairro; uma unidade de saúde; um centro cultural; são locais onde pode
ocorrer periódicamente reuniões de Terapia. (...) Ao relatar a sua dor, seu
sofrimento ou sua alegria o protagonista perfila sua singularidade no grupo
e as marcas de sua identidade, reforçando a auto-estima. Ao reconhecer
sua competência pessoal apropria-se de sua herança cultural, sua forma de
“estar no mundo”, passível de modificar-se modificando a vida pessoal, as
relações familiares, de vizinhança e sua inserção na comunidade, na
demanda de serviços e no exercício de seus direitos. Pressupõe escolha,
opção e a busca do exercício da autonomia. (FUKUI. 2004 )20.

Finalizamos este capítulo, refletindo sobre a importância de compreender que


nessas práticas de atenção a saúde, a experiência cultural é um fator importante a
ser considerado.

19
Uno: único; singular; indivisivo ( MINI DICIONÁRIO LUFT).
20
FUKUI, Lia. Terapia Comunitária: UMA FORMA DE ATUAÇÃO NO ESPAÇO PÚBLICO. Disponível
em: <www.usp.br/nemge/textos_tecendo_estudando/terapiacomun_espaçopublico_fukui.pdf>.
2004. Acesso em: 25/04/2006
31

Para Marcondes:

Por outro lado, o homem produz, também linguagem, idéias, concepções de


realidade, fenômenos e criações de imaginação, como as produções
artísticas; além de símbolos, valores, pensamentos, religião, costumes,
instituições, que fazem parte da sua cultura não-material. A cultura, pois,
não somente envolve ser humano, mas penetra-o, modelando sua
identidade, personalidade, maneira de ver, pensar e sentir o mundo. É um
mundo de entidades subjetivas e objetivas com extrema diversidade e
multiplicidade, ou seja, muita pluralidade. As estruturas da sociedade
influenciam decisivamente as estruturas do indivíduo. (MARCONDES; “O
que é cultural?O que é cultura?)21

Nas relações entre saúde e doença, num paradigma popular, onde a religião
e a fé são elementos importantes para a busca de saúde, a subjetividade com as
praticas ritualísticas, que não causam risco de vida, até aqui nos parecem que
devem ser compreendidas e respeitadas.

21
MARCONDES, Mª Célia de Campos. O que é Cultural? O que é Cultura?; Disponível em:
http://www.conexaodanca.art.br/imagens/textos/artigos/cultural.htm; Acesso em: 29/10/2006
32

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Lakatos e Marconi (2000) consideram que método é um conjunto de


atividades sistemáticas e racionais que com maior segurança e economia, permitem
alcançar o objetivo, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando
nas decisões científicas.

5.1 Delineamento da Pesquisa

Esta é uma pesquisa qualitativa, de caráter interpretativo. Onde


Metodologicamente utilizou-se de um questionário com perguntas semi-
estruturadas, observação participante e levantamento bibliográfico.
A pesquisa é caracterizada qualitativa, baseando no seu foco de busca, pois
de acordo com Liebscher (1998):

Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é


complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente,
são usados quando o entendimento do contexto social e cultural é um
elemento importante para a pesquisa. Para aprender métodos qualitativos é
preciso aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre
pessoas e entre pessoas e sistemas.

As pesquisas qualitativas com estudo das culturas humanas, exige uma


pesquisa participativa, em que o pesquisador forma parte do campo de pesquisa,
como dizem kaplan & Duchon (1988:571-586) que “ As principais características
dos métodos qualitativos são a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva
interpretativa de condução da pesquisa”.
Tal pesquisa teve uma abordagem interpretativa, pois segundo um
levantamento de Claudia Dias (2000), a abordagem interpretativa:
33

Baseia-se na hermenêutica (busca o significado de um texto) e na


fenomenologia (teoria gerada a partir dos dados coletados). [Myers]..

Busca compreender o fenômeno a partir dos próprios dados, das


referências fornecidas pela população estudada e dos significados
atribuídos ao fenômeno pela população [Myers].

Assume que a realidade é subjetiva e socialmente construída [Wildemuth,


1993].

Uma pesquisa puramente interpretativa segue o paradigma holístico-


indutivo [Patton, 1980]. (DIAS. 2000)22.

5.2 Contingente Populacional

A população participante desta pesquisa foi escolhida aleatoriamente. Sendo


irrelevante cor, classe social, instrução, importância hierárquica dentro da terreira,
entre outros itens excludentes, utilizando-se apenas do critério de ser participante da
religião e terreira previamente estabelecida e sofrer ou ter sofrido algum
desequilíbrio psíquico ou orgânico, no qual recorreu à ajuda espiritual Umbandista.
As terreiras foram escolhidas aleatoriamente, por indicação ou proximidade
física, facilitando o acesso.

5.3 Instrumentos

Tivemos como base avaliatória, a interpretação de um questionário com seis


questões semi-abertas, agregando assim, minhas percepções quanto à fala verbal e
corporal durante a entrevista. Visto que, de acordo com as citações anteriores a
pesquisa qualitativa de caráter interpretativo submete-se aos sentidos do
pesquisador, sendo ele, o meio de coleta e os levantamentos bibliográficos os
alicerces para a elaboração de conclusões retiradas a partir da subjetividade da
pesquisa. Fez parte Metodologicamente da pesquisa, levantamentos bibliográficos e
coleta de informações sobre as questões peculiares da Umbanda, no entanto

22
DIAS, Claudia. Pesquisa Qualitativa –características gerais e referências. Disponível em
<http://www.geocities.com/claudiaad/qualitativa.pdf>, publicada em Maio de 2000. Acesso
em:14/05/2006
34

utilizou-se muito do saber popular dos líderes religiosos das terreiras pesquisadas,
visto a grande diversidade de literatura.
A pesquisa bibliográfica, tornou-se ponto excepcional da pesquisa, tanto
quanto as entrevistas, visto que este formou um pequeno véu de conhecimento, que
se fez necessário para as interpretações verbais e gestuais dos depoimentos.

5.4 Amostragem

Visando uma maior abrangência nos resultados, foram pesquisadas duas


terreiras de umbanda, sem ligações prévias uma com a outra, buscando assim uma
miscigenação, de população pesquisada.
Foram entrevistadas cinco casos de busca da religião, por motivos de doença,
de cada terreira, totalizando uma amostra de dez casos.

5.4.1 Critério de Inclusão

Foram coletados os dados apenas de pessoas que apresentaram alguma


desordem orgânica ou psíquica tendo procurado a ajuda espiritual para a resolução
daquela moléstia.
Fizeram parte desta amostra, apenas pessoas, que atualmente não
apresentam nenhuma alteração psíquica, assim, podendo analisar na íntegra, a
proposta para tal participação na pesquisa, respeitando todos os princípios bioéticos
estabelecidos nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas
envolvendo Seres Humanos23.

23
O Conselho Nacional de Saúde, no uso da competência que lhe é outorgada pelo Decreto n° 93933
de 14 de janeiro de 1987.
35

5.5 Considerações éticas

Este projeto de pesquisa foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética


do Centro Universitário Metodista – IPA. Os responsáveis pelas Instituições
envolvidas na pesquisa, assinaram um Termo de Autorização Institucional (Anexo C)
e os participantes do estudo assinaram, em duas vias, o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (Anexo B), de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde.
De acordo com o Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96 - Diretrizes
e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos:

O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe


após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos
que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à
participação na pesquisa. (Conselho Nacional de Saúde, Resolução
196/96).

Partindo desta normativa, dois Termos de Consentimentos fizeram a ligação


e a burocratização entre pesquisador e terreira, e o outro entre pesquisador e
população pesquisada. Aquele foi determinante deste, visto que hierarquicamente,
os responsáveis pela terreira devem aprovar primeiramente, para que a pesquisa
desenvolva-se no espaço por eles administrado, e após então, o consentimento da
pessoa entrevistada, informando-a de todas as peculiaridades deste projeto.
De acordo com Bradley (1993:431-449) “Na pesquisa qualitativa, o
pesquisador é um interpretador da realidade baseado na afirmativa, é que
transcorrerá nosso papel perante os casos relatados, fazendo um levantamentos
dos mesmos e uma interpretação com as relações sócio-culturais.

6. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS


36

A consciência de Deus é autoconsciência; o conhecimento de Deus é


autoconhecimento. A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do
homem, a revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos
seus segredos de amor. Ludwig Feuerbach 24.

Como já foi apontado na introdução deste trabalho, optou-se por apresentar


aqui, as respostas, na íntegra, da primeira questão do instrumento de pesquisa. Esta
opção é devido à complexidade de cada relato e vivência dos entrevistados e é
nesta questão, que possui uma intensidade maior de respostas, que as outras do
questionário elaborado, basicamente são respondidas.
Com o objetivo ético de não identificar os entrevistados cada um deles
recebeu nomes fictícios. A seguir o relato dos entrevistados 25, de como chegaram às
casas de religião pesquisadas neste trabalho.
Conforme relato, Paola nos conta que buscou o Centro Espírita de Umbanda
Nossa Senhora Aparecida (CEUNSA) por questões de saúde. Dizendo que seus
problemas de saúde iniciaram aos seis anos de idade, sem nunca ter sido
apresentada pelos médicos, uma solução para tais acontecimentos. Quando Paola
tinha 24 anos ficou internada durante quase uma semana no Hospital Santa Casa,
no terceiro andar, em uma cama do lado da janela, que referia ser um lugar só de
tristeza, angústia e medo, tendo uma sensação horrorosa de que todos que
estavam ali tentando ajudá-la não conseguiriam. Após quatro dias de internação, em
uma ida ao banheiro, parece-nos, conforme relato, que Paola teve sua primeira
experiência mística, quando suplicou à Nossa Senhora Aparecida :

Me tira daqui, eu preciso sair daqui, tô sendo judiada, meu corpo não
agüenta mais!! Me tira daqui hoje, porque se eu não sair daqui hoje, eu
posso me jogar pela janela .

Mais tarde, Paola solicitou a sua mãe que falasse com a junta médica, sobre
sua alta. A junta médica após avaliar o caso, não permitiu a alta, mas presenciando
a relutância de Paola em aderir ao tratamento, sugeriu que a mãe da mesma
voltasse no final da tarde. Neste período, em que a mãe retorna, há uma segunda
relação mística da família com o mesmo símbolo religioso. Sua mãe ao passar em
frente ao um templo próximo de sua casa, avistou no topo uma imagem da Nossa

24
Ludwig Feuerbach apud ALVES, 1999:13
25
Serão apresentados de forma literal apenas os entrevistados que autorizaram tal fato. Os demais
sem autorização serão apenas mencionados perante minha reflexão, sem o detalhamento do mesmo.
37

Senhora Aparecida. Em conversa com alguns freqüentadores da casa, que estavam


na frente do prédio, soube ser um Centro de Umbanda e que naquele dia haveria
uma reunião especial com os médiuns, que deram permissão para que o caso de
Paola fosse analisado. A mãe de Paola, voltando ao hospital, relata à filha tal
situação, desencadeando em Paola, como parece-nos, uma sensação de “súplica
escutada”. Tendo a certeza que estaria tendo uma chance de Deus para comparecer
ao local, e não apenas uma roupa sua, como foi solicitado no templo, visto que ela
não conseguia caminhar e por estar internada, suplicou pela alta hospitalar, que
agora sim foi atendida. Carregada pelos familiares Paola foi levada até a terreira, no
trajeto ocorreram várias paradas para vômitos, desmaios, entre outras dificuldades.
Ao cruzar o portão de entrada ela relata que:

Consegui cruzar o portão e entrada, e este é o um dos momentos mais


lindos, de angústia e tristeza, mas também de glória, porque quando eu
cruzei o portão eu caí, ou seja, comprovou que tudo aquilo era espiritual,
que aquilo não pertencia ao meu corpo, que era o acúmulo de toda essa
energia, que foi desgastando até que afetou meu corpo físico ao ponto de
não conseguir caminhar.

Após o desmaio, Paola recebeu uma ficha de atendimento de número 73,


necessitando assim, mais uma prova de força, perante tantos obstáculos
apresentados. Paola subiu apoiada em dois médiuns incorporados, o Cacique Pai
Coral e o Cacique Flecha Verde. Nessa trajetória, suas pernas estavam travadas,
tanto pelas erupções cutâneas que as cobriam, dando uma “aparência de lepra”,
como ressalta a entrevistada, quanto pela condição motora, que ela não coordenava
naquele momento. Mesmo com ficha, ela foi atendida por último, por solicitação do
Cacique, quando estavam apenas ela e os médiuns da terreira. Ela foi chamada e
atendida, por três guias, simultaneamente, pelo Caboclo Flecha Verde, pelo Pai
Coral e pela Jurema das Águas. Com os pontos puxados (cantos da religião), outra
manifestação mística aconteceu, como conta Paola, afirmando ter girado muito,
caído muito, totalizando sete quedas, e na oitava foi amparada pelos três caboclos,
evitando assim que ela caísse. Foi este o marco de sua vitória, pois após a sétima
queda Paola começou a andar sozinha e ao olhar para suas pernas percebeu que
aquelas erupções pareciam estar diminuindo. Confiante nas orações feitas e em
toda aquele ritual ali apresentado, Paola afirmou-se curada. Após cinco dias
hospitalizada, com apenas 30 minutos de intervenção espiritual a entrevistada
sentiu-se acariciada por Deus novamente, conforme expressa em seu relato. Depois
38

de todo aquele ritual, o tratamento de Paola continuou durante mais 21 dias de


irradiações, onde ela recebeu passes e fez meditações. Sendo aqueles momentos
de reflexão e crescimento, conforme sua afirmação.
No relato de Paola, percebemos inúmeros simbolismos e ritos que, segundo
ela, foram responsáveis pela cura de suas mazelas, que ficou caracterizado ser de
cunho espiritual, e consequentemente afetou a parte física. Para a entrevistada,
foram aquelas correntes de guias e médiuns que lhe “salvaram” de sua trajetória de
sofrimento. Trajetória essa que a medicina tradicional nada pode fazer, a não ser
“judiar” de seu corpo como ela cita em determinado momento. E foi naquela casa
simples de religião, com intensas conversas e passes que fortaleceram seu espírito
e sua matéria (corpo), norteando suas condutas, seus pensamentos e sentimentos.
Assim como Paola, Martha, também relata na primeira pergunta seu contato
inicial com o CEUNSA por motivos de saúde. Martha morava em São Paulo, e diz
ser médium, e que há muito tempo atrás trabalhou em uma casa Umbandista. Em
1991, Martha teve uma grande perda em sua vida, o falecimento de seu filho aos 17
anos. Momento esse em que iniciou a busca desesperada por algum lugar que
acalentasse seu coração. Freqüentou Centros Kardecistas, entre outros, no entanto,
não eram aqueles Centros apaziguadores de seu coração sofrido, pois dizia ser
Umbandista de coração. Em toda sua busca, ela relata ter sido em Porto Alegre que
encontrou sua paz, pois sua sobrinha que começara a freqüentar um Centro
Umbandista, convidou-a para conhecer a referida Casa e passou a vir no mínimo
uma vez ao ano para consultar no Templo. A partir dessa confiança estabelecida,
sempre que necessário, sua sobrinha realizava trabalhos de saúde para a tia,
juntamente com os guias, mesmo à distância. E a entrevistada afirma sempre ter
sido solucionados os problemas irradiados pelos guias. Martha conta ainda uma das
tantas situações que recorreu ao Templo, em prol de sua saúde. Sem motivos
aparentes, ela começou a passar mal, com vômitos, diarréias, diminuição dos sinais
vitais, tendo ficado internada por quinze dias em um hospital em São Paulo. Os
médicos não sabiam ao certo o que a paciente tinha, mas suspeitavam de infecção
no estômago. Com uma rápida melhora, Martha telefona para sua sobrinha e conta-
lhe todo o caso, ocasião em que ela pede para a tia vir à Porto Alegre, para se tratar
com os guias. Martha aceitou, no entanto não poderia viajar sozinha, devido a suas
condições de saúde. Sua sobrinha, tendo ciência do caso, foi até São Paulo buscá-
la, contudo, no aeroporto, minutos antes de ambas embarcarem, Martha relata-nos
39

mais uma das suas experiências místicas. Refere ter desmaiado, apresentado perda
total dos sinais vitais, vivendo uma experiência de quase morte, pois recuperou os
sentidos minutos depois. Como diz Martha: “Porque quando eu tava lá no aeroporto
eu “morri”, pois fiquei sem pulsação, sem nada. Eu morri e “eles”, os guias foram lá e
me trouxeram de volta.”
Diante de toda aquela situação o socorrista local, disse não autorizar o
embarque da entrevistada, pois com a mudança de pressão, ela poderia não resistir.
Como diz Martha, sua sobrinha, crente nas questões espirituais e sabedora de que
toda aquela situação era causada por obsessores, que não estariam permitindo sua
ida à Porto Alegre e que “eles” sabiam que ela seria tratada pela luz e essas
desordens psíquicas e orgânicas, causadas por eles, não aconteceriam mais, tomou
uma atitude: ligou para a líder espiritual do Templo, perguntando o que sua Mentora
espiritual, Jurema das Matas, dizia sobre o embarque. Tendo o aval dos guias para
embarcar, sua sobrinha, assinou um termo responsabilizando-se pela saúde de
Martha durante o vôo. E, apesar de todos os indícios da medicina tradicional, Martha
suportou todas as trocas de pressão da viagem, chegando assim em Porto Alegre,
dizendo ela, ter sido graças aos guias espirituais da Umbanda. Ela relata-nos:

Cheguei na quarta de noite e na quinta-feira fui até o Templo e aí foi uma


maravilha. Falei com o “Pai Agostinho” e ele já começou a me tratar.
Mandou fazer as demandas e tomar alguns chás. Começou a fazer os
trabalhos porque era caso de urgência. Em uma semana eu já tava bem.

Martha afirma ter sido salva pelos guias da Umbanda, pois de acordo com a
medicina tradicional ela morreria. Durante o depoimento, Martha diz saber que toda
sua problemática era causada pelo mundo espiritual, como podemos analisar neste
trecho:

Era espiritual que afetou a matéria. O Pai Agostinho falou que tudo o que eu
tinha era espiritual, pois eu larguei os meus guias, porque antes eu
trabalhava e deixei. Porque lá eu não tinha lugar pra ir e eu deixei. Dando
espaço para os obsessores.

Martha acredita que todo seu sofrimento era de fundo espiritual, tendo sido
solucionado apenas pela atenção da Umbanda, já que a medicina tradicional, nada
pode fazer a não ser anunciar sua morte próxima. Ela ressalta em diversos
momentos a força da irradiação dos guias, afinal um problema de saúde daquela
dimensão, foi tratado apenas com chás, passes, demandas e flores aonde uma
40

simples rosa, no trabalho, transformava-se “na rosa” de beleza inigualável, resistindo


muito mais do que o normal. E era naquele simbolismo que ela depositava sua fé,
suas rezas, crente de que através delas, os guias estariam irradiando-a.
Nesse relato, onde diversos momentos de situações místicas são apontados,
a situação de “quase morte” também é citada no depoimento de Ana.
Ana buscou o Centro de Umbanda Reino da Mãe Iara (Mãe Iara) em 1978,
primeiramente, não por motivos de saúde, mas com intuito de ser ajudada em
problemas de relacionamento conjugal, visto que seu marido havia deixado-a com
dois filhos pequenos. Após um rápido relato de sua chegada na terreira, Ana diz que
seu vínculo criado com a líder espiritual da casa foi tão intenso, que se nomeiam
comadres. A partir do relato, percebemos a importância que a terreira teve no
decorrer da vida de Ana, tanto por questões emocionais, de saúde, quanto social.
Ela conta que recorreu à Terreira, várias vezes por questões de doença, sempre
obtendo alguma orientação espiritual produtiva. Dentre tantas buscas, a entrevistada
relata que num certo dia em que não se sentia bem, com uma forte dor na barriga
foi tomar um passe e não comentou nada com o guia que a atendeu. Sem
explicações lógicas, como diz Ana, o guia lhe disse para procurar um médico para
ver “essas coisas da barriga”. Surpresa, pois não tinha dito nada a ele, mas certa da
veracidade daquele espírito, Ana seguiu seu conselho. Quando chegou no médico
foi detectado pedra na vesícula, tendo que ir à cirurgia de emergência. Mesmo tendo
sido operada na medicina tradicional, Ana disse que, paralelamente, a sua comadre
realizava trabalhos espirituais: “Mas a Mãe tava sempre fazendo trabalho paralelo,
para guiar as mãos dos médicos, coisa assim”.
Após a cirurgia, Ana pegou uma infecção hospitalar, ficando na CTI por mais
ou menos 26 dias, pois como disse ela “a vesícula grudou no fígado, tive que fazer
mais quatro cirurgias, aí eu peguei Diabete”. Segundo a entrevistada, um dia, na
CTI, tive uma visão:

Eu tive uma visão sabe, não sei te explicar direito, mas eu vi uma coisa que
parecia uma caixa de ovos com um monte de trouxinhas de pano escuro e
uma cabeça, tudo enterrado, a coisa mais horrível. Mandei avisar a Mãe
logo disso, para que ela pudesse me explicar e depois eu soube que teria
de desmanchar porque era trabalho ruim feito pra mim.

Ana sofria de muitas dores, mas apegando-se na sua fé, dizia nada reclamar,
pois sabia que a Mãe Iara estava provendo por ela. Aquela força que ela nutria de
41

sua fé na Mãe Iara, no Dr. Bezerra de Menezes 26e no Tupiara como ela citou, foram
os “anestésicos” da dor da matéria, e também o alimento da alma. Os médicos,
segundo relato, não sabiam mais o que fazer, devido à gravidade do caso. Com a
proximidade do Natal o médico avisou a sua família para que não saíssem da
cidade, pois ela não resistiria muito tempo. No dia 24/12/2003 sua sobrinha foi visitá-
la, e nesse período Ana sofreu um enfarte, que segundo os médicos teria sido
fulminante, pela intensidade e pela debilidade que ela se encontrava. Contrariando
as previsões e probabilidades da medicina tradicional, Ana sobreviveu, dizendo:

Graças ao Dr. Bezerra de Menezes, ao Tupiara (Centro Espírita Kardecista


que faz cirurgias astrais à distância) e a Comadre, eu sobrevivi, porque
quando eu estava indo lembrei do Dr. Bezerra e de Deus e com toda força
da minha fé eu voltei. Os médicos disseram que foi milagre, porque nas
condições que eu estava não tinha como voltar.

A entrevistada tem certeza que foi auxiliada e fortalecida pelos mentores


espirituais, não somente dos guias da linha da Umbanda, mas também do
Kardecismo, como citou o Dr. Bezerra de Menezes e o Tupiara, porque se fosse
apenas pela medicina eles não conseguiriam trazê-la dessa experiência de quase
morte. Ana conta-nos um outro momento místico:

Durante aqueles meses no hospital eu tive que colocar uma prótese, entre o
fígado e a vesícula, não sei se foi antes disso ou depois só sei que eu
peguei Diverticulite, e com isso me invalidei, caminhava com muita
dificuldade, desmaiava, vomitava. Ao voltar no médico ele disse que eu teria
que operar de novo, porque a prótese que eu coloquei estava entupida e
por isso das dores.

Fragilizada pela internação anterior, ela amedrontou-se de realizar uma nova


cirurgia, foi quando pediu para o médico, que lhe avaliara, quarenta e oito horas,
para que pudesse recorrer a tratamentos espirituais. Para surpresa de Ana, o
médico era Espírita, concedendo este tempo, mas alertou-a que, pela experiência
que ele possuía, a cirurgia seria inevitável. Saindo do hospital, procurou a Terreira de
Umbanda, e lá, de acordo com o relato:

26
Dr Bezerra de Menezes, mentor espiritual, conhecido por suas curas.
42

Os guias fizeram um trabalho com buchada de boi na minha barriga, como


troca de órgãos. Teve sangue dessa vez, porque ela teve que usar a linha
cruzada da casa, a linha do batuque junto.

Quando Ana voltou ao médico, solicitou que fosse feito uma nova radiografia,
o médico por sua vez, alegou ser desnecessário, pois teria feito uma há poucos dias.
Ana insistiu, e para surpresa do médico, e certeza de Ana, quando o novo exame foi
avaliado, nada mais precisava ser feito, o pus desaparecera, e a prótese estava
desentupida.

Ele não entendeu nada, mas como era o mesmo que eu disse que
acreditava em espiritismo, ele apenas sorriu e perguntou onde eu tinha
trabalhado, eu disse que tinha feito com o Tupiara e com uma terreira de
Umbanda. E depois disso, fui cada fez ficando mais forte, voltei a caminhar
melhor, meus cabelos voltaram, engordei

Nas duas situações apresentadas por Ana, é notória a presença da fé,


fortalecendo e até mesmo curando, como foi relatado. O simbolismo do fígado no
segundo caso, para Ana teve um significado de trocar o órgão, passando para
aquele fígado de boi, a problemática que seu fígado possuía. No entanto, mesmo
com o simbolismo apresentado, Ana em vários momentos citou outras fontes de
busca, que não a terreira, buscando também via carta, a ajuda do Centro Espírita
Tupiara, que realiza cirurgias astrais.
Um dado importante do relato de Ana, foi a atenção e compreensão do
médico, em permitir e aceitar o pedido de aguardar por quarenta e oito horas,
visando um tratamento espiritual mesmo sabendo, como médico que seria inevitável
operar.
Essa respeitabilidade médica, também é citada na fala de Helena, com outro
viés e entendimento, que podemos analisar no decorrer de seu relato.
Helena, antes de relatar sua experiência no CEUNSA, conta-nos que já havia
frequentado terreiras de Umbanda. Buscando também outros lugares, como as
casas de Nação/Batuque, os Centros Kardecistas, entre outros, sempre
impulsionada pela curiosidade. No entanto essa caminhada, foi interrompida,
segundo ela, quando casou, pela incredulidade do marido:

O meu marido dizia que era tudo falcatrua, coisa de “gentinha” e eu me


afastei da religião, apesar de continuar acreditando e muito eventualmente
buscando tomar passe no kardec. Ele não acredita e eu cedi, não impus
minha vontade.
43

Helena, no final de 2003, ao procurar um reumatologista descobriu que


estava infectada com o vírus da Hepatite C, que foi adquirido em uma transfusão de
sangue que Helena necessitou no parto de sua filha em 1984. Então, foram vinte
anos da ação do vírus no organismo de Helena, que silenciosamente foi “judiando”
do fígado dela, acarretando uma cirrose.

Começou a minha busca por médicos especialistas na área, para começar o


tratamento, que conforme fui avisada por todos os especialistas que
procurei seria bastante difícil, doloroso e com muitos efeitos colaterais. O
medo em mim e nos meus familiares era latente. Eu sentia medo de morrer
antes do tempo ( como se fosse possível isso acontecer) e de enfrentar uma
“quimioterapia”.

A partir dessa situação, a entrevistada foi levada por sua filha, ao Centro
Espírita de Umbanda Nossa Senhora Aparecida, no qual a jovem já era
freqüentadora. Para que seu marido não descobrisse essa ida ao templo, Helena
teve de optar pelo período da tarde, momento no qual não tinha atendimento normal
ao público. Mas cientes da gravidade, Helena e a filha ficaram esperando a Cacique
do Templo para solicitar uma consulta fora de hora. Nessa espera, com o tempo
passando e a cacique demorando, uma outra médium apareceu, e foi a ela que a
filha de Helena solicitou se o “Pai Velho” que ela recebia, poderia atender sua mãe.
Para Helena, mesmo o medo e uma situação de apreensão, quanto a horário,
quanto a sua doença, notificou no relato, situações místicas, que ela define como
sendo de intervenção direta do astral. E assim diz ela:

O que de pronto foi atendido. Bendito atraso da cacique, pois foi aí que
conheci o Pai José.
Aqui tenho que fazer outros dois comentários que acho que devem ser
valorizados:
1-a médium que recém chegou havia perdido a mãe há 7 dias atrás e eu
pensei: puxa quanta abnegação pelo próximo; quanto compromisso com o
Templo. O seu sofrimento pessoal não impediu que mantivesse sua rotina
de desprendimento, de caridade.
2- A cacique, com quem era para eu consultar, veio a falecer dois ou três
meses após este dia. E eu ficava pensando que se tivesse iniciado o
tratamento com ela, teria pirado mais ainda. Pois estava totalmente
vulnerável com minha doença.
Mais uma vez tenho a confirmação que as coisas não acontecem por acaso,
que sempre temos a força do astral trabalhando a nosso favor. Pena que
nem sempre a gente se lembra disso e confia simplesmente.

Seguindo o relato, ela disse permanecer em atendimento com o Pai José, no


entanto permaneceria com a atenção alopática, do Interferon e da Ribavarina. Essa
medicação despertava medo em Helena devido aos sabidos efeitos colaterais, mas
44

mesmo com todos os medos e angústias, Helena absorvia ao máximo as palavras


ditas pelo Pai José, que afirmava que seu tratamento teria êxito, e que se resolveria
mais rápido do que esperavam.
Para começar o tratamento com o Interferon ela teria que normalizar a
anemia, que era provocada por hemorragias constantes, em função de vários
miomas. Helena então procurou uma médica que disse ser necessário a retirada de
todo aquele aparelho, útero, trompas e tudo mais, como vemos no relato. No
entanto, antes de realizar qualquer procedimento, buscou auxílio e orientação na
terreira, junto ao Pai José. Nesse momento ele falou não ser necessário a retirada
desse órgão, e que ela procurasse uma outra profissional, indicada pela médium que
recebe este guia. E a partir disso ele poderia atuar, “intuir” a médica.

Procurei outra médica, que me foi indicada, e ela fez a retirada apenas dos
miomas. Ainda no final da cirurgia ela comentou: “os miomas e um ........
(não lembrou o nome) pareciam estar se atirando nas minhas mãos para
serem tirados fora

Seguindo essa fala, percebemos que Helena, acredita que Pai José estava
influenciando, tanto na consulta, onde foi indicado a não retirada do útero, quanto na
retirada dos miomas, que surpreendentemente soltaram-se facilmente.
Helena, teve o vírus “negativado”, antes do tempo previsto pela medicina
tradicional e contrariando todas as expectativas e advertências dos órgãos de saúde
pública que aplicam o tratamento, os efeitos colaterais não se manifestaram. Ela
comenta que teve “apenas” dores de cabeça fortes, mas suportáveis.
Quando a participante nos relata tal fato, parece-nos que ela acreditou na
“profecia” realizada pelo Pai José, acreditando piamente, ser ele o maior
responsável, pela sua negativação antecipada, e pela atenuação dos efeitos
colaterais. Helena diz que durante todo tratamento, Pai José utilizou apenas rosas,
como forma de simbolizar sua presença durante as aplicações da medicação,
instigando e conversando com ela, durante as consultas espirituais, que buscasse a
confiança e a fé dentro de seu coração, despertando a certeza de que ela seria
vencedora. Como percebemos nessa fala dela:

Durante todo esse período, por orientação do Pai José, mantinha uma rosa
na cabeceira da minha cama e sempre que eu sentia um mal estar, rezava e
pedia proteção. Tenho certeza que se eu não tivesse a proteção e as
palavras seguras e confiantes do Preto Velho eu não teria sido tão valente.
45

Helena nos relata um segundo fato, com o mesmo guia espiritual, que
reafirma para ela a veracidade e o poder deste Pai Velho. Helena realizou, a pedido
do médico, uma ecografia, que apontou uma mancha no fígado, necessitando ser
melhor investigada via ressonância magnética e outros exames, quando foi
detectada uma mancha que poderia ser um tumor e que as vias-biliares intra-fígado
estavam entupidas. Munida dessas informaçõesa paciente buscou novamente
orientação do Pai José, que afirmava, não ser tumor, por mais que os médicos
dissessem que sim, e que ele “mostraria” para os médicos que não era tumor.

O cirurgião me explicou quais eram as possibilidades e a mais provável


seria de um câncer. O que de pronto eu disse a ele que não era, pois não
tenho história familiar e cheguei a bater pé que não era nada de ruim. Eu
tinha certeza que não era nada complicado, baseada na conversas que
durante todo esse tempo eu tive com o Pai José.

Helena, teve de realizar uma biópsia, para análise do possível tumor, no


entanto, quando o médico colocou o equipamento na parte interna do fígado,
encontrou e retirou uma calcificação, que era responsável pelo entupimento das vias
biliares, e era o que aparecia como mancha, sendo o suposto tumor.

Quando acordei da anestesia geral o médico estava debruçado sobre a


maca, e entre lágrimas me dizia que eu estava curada. E eu perguntava do
quê? E ele respondia [tu não tens nenhum tumor, tu tinhas era um “dentão”
dentro do teu fígado e a nossa maior preocupação era como te dizer que
pela localização do dito tumor seria inoperável]. E eu ainda sonolenta
argumentava que tinha certeza que não tinha coisa ruim e nunca estivera
[doente] como eles falavam. Pasmem: Essa mancha não aparecia há seis
meses atrás quando do penúltimo exame e mais ainda o Pai José relatou
que estaria [empurrando] algo para os médicos conseguirem enxergar e
retirar. Até eu fico pasma quando relembro de algumas situações.

Mais uma vez, seguindo a fala da entrevistada, a profecia feita pelo Pai José
se realizou, e mesmo sofrendo todos os procedimentos, e escutando dos médicos
que a presença do câncer era quase certa, Helena manteve-se agarrada na certeza
e nas palavras ditas pelo guia. Fazendo daquele discurso místico, a força de sua fé,
acreditando na sua cura.
A confiança plena nos guias é uma característica quase que geral de todos os
entrevistados, principalmente porque relatam situações, que para eles, tiveram
intervenção direta do astral, auxiliando assim na cura/melhora de suas moléstias.
Suzana, também relatou seu caso de busca de ajuda espiritual para a saúde
no CEUNSA. No entanto a sua chegada no templo difere-se das entrevistas até
46

agora apresentadas, pois ela, em um primeiro momento negava-se a ir ao templo,


alegando não gostar, sentir-se mal, ter ânsias de vômito, dores de cabeça. Lutando
contra sua família, que suplicava para que ela fosse:

Minha filha e meu marido me convidaram para ir nesse templo, e eu disse


[não eu não vou, eu não quero!] Eu não gostava, eu não queria saber de
nada disso. Aí meu marido não quis ir mais, nisso minha filha disse: [mãe,
se tu não for, o pai não vai mais, você sabe que ele só faz as coisas junto
contigo.] Aí começou aquela briga...eu disse [nãooo, continua...esquece que
eu to aqui, eu fico, tu vai, tu continua o que tu ta fazendo?] Eu dizia [tu e a
nossa filha, não tem ficar brabos comigo]. Minha filha dizia: [Olha o que tu
ta fazendo? é tão bom lá, o pai ta contente feliz] e eu dizia ele que
continue, não to impedindo, só não quero....E assim foi, aí eu vi que ele
começou a ficar de mau humor, chateado, triste, então eu resolvi ir junto
com ele, (risos) fui obrigada a ir, por amor (risos), mas eu me sentia mal, era
horrível pra mim, eu tinha que fazer um sacrifício pra continuar indo...pra
não sair correndo...detestei, não gostei de nada, tudo horrível...mas meu
marido gostava de ir, tava contente, feliz, mas mesmo assim me dava tudo
de ruim, dor de cabeça, ânsia de vômito, doía as pernas, quando começava
a cantar os pontos...era horrível, aí, ao poucos isso foi melhorando.

Com o passar do tempo, Suzana, passou a freqüentar cada vez mais a


terreira, porém gostando e sentindo-se bem. Hoje, ela entende que aquele
sentimento de repulsa e fuga, era causado por espíritos obsessores que estavam
tentando impedir a sua entrada em um lugar de luz. Suzana, conta que antes de
entrar no Templo, tinha um problema seríssimo de coluna, tendo tido diagnóstico de
três “bicos de papagaio”. Ela diz ter sofrido de dores horríveis, que a invalidavam.

Eu não tinha força pra pegar um balde, nem pra tirar do tanque e colocar no
chão, era meu pai de 78 anos que me ajudava. Eu ia no médico, tomava
injeção, a dor passava, aí eu ficava bem, fazia minhas coisas, mas voltava
tudo de novo, todas aquelas dores horríveis eu não podia fazer nada, nem
varrer, não fazia nada. Então engordei, vivia desanimada, vivia só na cama,
as coisas da casa meu pai que ajudava.

Passando a freqüentar e gostar do templo, Suzana apresentou uma tosse


diferenciada, buscou ajuda do Pai Velho Preto Antônio que prescreveu o uso de
chás. Em menos de um mês essa tosse desapareceu, surpreendendo Suzana, pois
já havia tomado diversas medicações e nada resolvia. Passando a acreditar nas
prescrições espirituais, Suzana, recorreu ao mesmo guia, para “tentar” atenuar seu
problema nas costas, mesmo sabendo que tudo, perante a medicina tradicional já
havia sido feito.
O tratamento da coluna durou mais ou menos um ano, e através de chás,
meditação, massagens, demandas, passe e muita conversa, suas dores foram
47

sendo atenuadas, e sua funcionalidade sendo recuperada. Segundo relato, toda sua
problemática era de fundo emocional, por isso as conversas reflexivas junto com o
Preto Antonio, foram tão importantes quanto a ação dos chás no organismo e das
massagens na musculatura. Pois tudo era desencadeado das emoções.
A importância da melhora de Suzana, não dá-se apenas pela ausência de dor,
mas também pelas questões emocionais e sociais que eram afetadas devido ao alto
grau de dor e de improdutividade, afetando diretamente sua auto-estima, seu papel
social dentro de casa, enquanto mãe-cuidadora, mulher-prestativa, dona de casa
produtiva, como percebemos no decorrer de sua entrevista..

Quando eu já estava me tratando há uns cinco meses mais ou menos, eu


fui para praia, eu, meu marido e mais um casal. Eu fui dar uma
caminhadinha com ela, e consegui dar a volta na quadra todaaaa, eu
consegui, algo que eu não fazia há tempos. Meu marido lembra até hoje da
alegria que eu cheguei dizendo que tinha conseguido dar a volta na quadra,
sem sentir dor, e isso faziam mais de três anos que eu não conseguia fazer,
E lá em cinco meses eu consegui... a partir disso me apaixonei por
lá...fiquei devota, porque me curei. Eu não acreditava que não sentia
dor...e fui voltando a fazer minhas coisas normais, minha ginástica, minha
vida de antes. As minhas amigas não acreditavam que eu não sentia mais
nada, porque antes quando eu ia viajar eu tinha que parar umas quatro
vezes no caminho, porque eu ficava toda dura, aí depois disso, eu fui visitar
meu genro em Bagé, dali fomos à Rio Grande, e a Pelotas e não pedi para
parar em nenhum momento. Foi ótimo! E quando nós íamos voltando, ele
me disse, [eu não acredito que a senhora está curada da coluna, porque tu
não pediu pra parar uma vez, eu não acreditava que a senhora tinha ficado
curada, mas agora....]e até hoje nunca mais senti nada.

Suzana, a partir da intervenção espiritual, curou-se das dores de coluna que a


invalidavam, que fizeram com que toda sua vida social fosse alterada e diminuída,
devido a sintomatologia que apresentava.
Neste caso, refletimos sobre o papel que a terreira assumiu na vida dela. Ao
ponto de transcender da negação, para a devoção. E tudo isso deu-se através da
cura de uma moléstia que a acompanhava há três anos, sem solução apresentada
pela medicina tradicional, mas alcançada através de prescrições espirituais, vindas
desta casa de religião que ela relutou a freqüentar.
A relutância quanto às casas de religião, pode ser entendida como uma forma
de ataque espiritual, como diz Suzana, como uma forma de manifestação
preconceituosa do consciente coletivo.
Partindo desse preconceito cultural, ou desse medo do desconhecido, que
vem mistificado pelas histórias folclóricas quanto às casas de religiões, encontramos
48

o relato de Márcio, onde apresenta um misto de preconceito, com gratidão pela


graça alcançada.
Márcio, chegou ao CEUNSA, por indicação, como sendo uma casa de ajuda
gratuita. Pois pontua que financeiramente não teria mais condições de fazer novos
investimentos, pois já o fizera, buscando auxilio para seu filho.

E me indicaram essa casa. Porque diziam que ali eles ajudavam de todas
as formas, principalmente na saúde, e que não cobravam, já que naquela
época dinheiro era um problema para mim, pois eu gastei tudo, buscando
ajuda para meu filho. Eu nunca havia ido nessas casas de religião, pra falar
a verdade tinha até um certo preconceito. Mas acho que o desespero de pai
me fez apelar para tudo que pudesse ajudar meu filho.

Antes de começar o relato, o entrevistado, aparentemente demonstrou uma


certa relutância no detalhamento, alegando sofrer ao relembrar, mas crê ser
necessário que todas as graças alcançadas sejam reconhecidas.
Márcio procurou a terreira na busca de ajuda para seu filho de sete anos, na
época (2004), e segundo relato, apresentava surtos psicóticos, onde gritava, corria,
falava estranho, mudava a voz. Esta situação que durou mais ou menos um ano,
formatou-se com uma intensa busca por médicos, psiquiatras, deixando a família
em constante apreensão, na espera de um novo surto.

A família já não tinha mais sossego, sempre esperando uma nova crise,
porque não sabíamos o que ele podia fazer .... podia sair correndo e
atravessar a rua e ser atropelado. E coisas do gênero

Márcio não entendia como seu filho podia ser rotulado de “louco” se o
considerava um menino normal, que ia bem na escola, tinha amigos, mas que de
uma hora para outra começou a agir de tal forma.
As medicações psiquiátricas eram constantemente alteradas, por não
apresentarem eficácia, ora dando efeitos colaterais muito intensos, ora não agindo
no organismo, em suma, apenas dopavam o menino, visão que segundo Márcio era
tão deprimente quanto ver seu filho em surto.
Márcio, relata que teria sido crucial para que sua busca por ajuda, atingissem
todas as dimensões, indiferente de crédulo ou não.
49

Mas um dia, de noite, depois de uma pequena agitação, ele deitou a


cabecinha no meu colo e disse: “papai, eu sou doente? Não gosto de ver
você e a mãe tristes. Eu sou mau né? Vocês não vão me amar mais! Me
ajuda a ser bonzinho papai?”, aquilo doeu mais que uma bala no peito, não
tinha respostas para as perguntinhas dele. Só sabia dizer que eu o amava e
que o ajudaria. Uns dias depois uma amiga me disse dessa casa, eu vim,
sem nem pensar, afinal o que era mais uma tentativa mesmo ....

Antes do entrevistado levar o filho na terreira indica, talvez como forma de


proteção, ou até mesmo, pelo preconceito já citado, ele fez uma consulta com os
guias, sozinho. Foram marcadas demandas em peças de roupas, e indicado alguns
chás e para surpresa de Márcio,

E foi mágico. Em uma semana tomando os chás, meu filho teve apenas
crises leves. E no final das três semanas de demanda e de chás meu filho
não tava tendo mais nenhuma crise. Tanto é que a psiquiatra tirou uma
medicação.

Ao término desse primeiro tratamento, o Preto Velho a quem Márcio recorreu,


marcou mais três demandas, no entanto, nesse segundo tratamento, o entrevistado
deveria levar seu filho, e não apenas a roupa, como antes. Sorrindo, Márcio diz ter
achado estranho aquele primeiro contato entre seu filho e o Preto Velho,
descrevendo a cena, como se seu filho falasse com um amiguinho, sem medo.
Após a intervenção espiritual, o pai antes angustiado, relata orgulhoso, que
seu filho nunca mais teria tido crises fortes como sofria antes. Apenas algumas
agitações, mas que rapidamente passavam.
Mesmo reconhecendo a eficácia e a ajuda espiritual encontrada naquela
casa simples, sem as aparências estereotipadas que invadiam a mente de Márcio,
evitando que buscasse esse tipo de auxílio, ele nos fala que:

Não freqüento sempre, mesmo vendo tudo o que aconteceu, e serei sempre
grato, tenho um certo receio. Mas já voltei lá depois disso. Quando vejo que
ele começa a se agitar mais do que o normal.

O entrevistado não soube dizer se o problema do filho, segundo a visão


umbandista era espiritual, ou se realmente era de ordem psíquica/fisiológica. Talvez
pelo medo, pela ansiedade de melhora, pelo preconceito, Márcio não absorveu
muito da fala do Preto Velho, como ele mesmo pontua no relato. Mas independente,
ele percebeu que só a partir daquela intervenção mística, usando apenas chás e
demandas, seu filho voltou a ser como antes, “normal”, e não com a intervenção
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alopática como foi tentado antes. Assim a casa de religião configurou-se um


“pronto-socorro” para ele, e não um local de freqüência diária.
A busca pela ajuda espiritual por desordens psíquicas também caracterizou a
fala de Gilmara.
Gilmara, por volta de 1943, aos 12 anos de idade, começou a apresentar
ataques, caracterizados por agitação, mas que eram passageiros. Ao procurar um
médico da Santa Casa, ele dissera que seriam ataques epiléticos. Com o passar do
tempo, os ataques tornavam-se mais freqüentes, foi então quando o médico disse
para a mãe de Gilmara que ela teria de ser internada para um tratamento médico
psiquiátrico e que se fazia necessário aplicar choques. A mãe ficou muito
assustada. Ao voltarem para casa, uma vizinha, pediu se não poderia levar Gilmara
em uma Casa da Maria da Conceição, que seria o Centro de Urubatã. Segundo ela,
naquela época eram em pequena quantidade.

Minha mãe disse, “mas essa menina já tem essas coisas, e ainda você vai
levar nessas coisas, nestes misticismos, nestes batuques, ela não
acreditava, porque o cristianismo era o que imperava mais, tudo aquilo, que
a Santa passava de casa em casa ...

Após insistência da vizinha, a mãe de Gilmara, permitiu a ida nessa casa,


mesmo sendo em um lugar bem distante, devido aos preconceitos e necessidades
de omissão, perante a sociedade. Chegando na casa, Gilmara descreve-nos como
deu-se seu primeiro contato direto com a religião Umbandista.

Quando eu cheguei na casa, que era pequena de chão batido, e cadeiras


de palha, que eu eu botei o pé naquele degrau , eu não vi mais nada.
Quando terminou os trabalhos, eu voltei a mim, e disse, ué? O que eu to
fazendo aqui? Nisso não tinha quase ninguém mais, só eu a senhora que
me levou, o diretor e os seis médiuns. Esse diretor disse “Olha Rosa, essa
menina é uma grande médium, e ela tem que futuramente trabalhar e
dirigir uma casa de religião.

Ao voltar para casa e relatar o acontecido a sua mãe, esta por sua vez,
proibiu o retorno de Gilmara na terreira. Passados dois meses, as crises voltaram a
aparecer, que hoje em dia , Gilmara compreende ser manifestações espirituais.

Hoje eu sei que essas crises eram manifestações dos protetores espirituais
que queriam trabalhar.

Segundo relato, quando a entrevistada conseguia ir às sessões espirituais,


durante o período seguinte nenhuma crise era desencadeada, ou nada se
51

manifestava como disse Gilmara, mas passando um mês ou dois, porque sua mãe
não permitia sua ida, as crises tornavam a aparecer e com freqüência. Como
Gilmara acreditava que essas crises eram manifestações espirituais, disse-nos que
quanto mais ela freqüentava o templo, mais elas se manifestavam, porém apenas na
terreira e não em casa, ou na rua como acontecia. Perante isso, sua mãe permitiu a
sua ida na terreira, para evitar que ocorressem novas crises, porém mantinha-se não
freqüentando e não gostando daquela prática religiosa.
Gilmara, de forma bem clara, conclui que foi taxada de louca por ter
mediunidade. E que sua melhora não se deu pela adoção do tratamento de eletro
choques, mas sim, com a constância e o desenvolvimento espiritual em uma terreira
de Umbanda.
No relato, encontramos diversos momentos onde a entrevistada pontua
momentos de preconceito, de fuga, pois naquela época, segundo ela, essas práticas
eram proibidas, pois não havia nenhum órgão que as protegesse.

Naquele tempo era pouco falado do africanismo, e da umbanda, falava-se


mais no Kardec. As casas eram só em cima de morros, distantes. Naquele
tempo par fazer um ritual de ervas, tinha ir até o porto pegar uma canoa, e
passar lá pra IIha das Flores, ou a Ilha do Pavão, porque “Deus me livre” se
alguém visse, tanto é que naquela época a cavalaria montada, entrava no
centro e mandava fechar. Porque era proibido. Porque não tinha órgão
nenhum que podia apoiar, era tudo sigiloso.

Durante o relato, ela nos conta outros momentos difíceis durante sua
caminhada espiritual. Ao casar-se com um marido que era extremamente católico,
passou a sofrer agressões verbais dele. Pois seu marido não compreendia que
religião era aquela que fazia ela chegar tarde da noite, com cheiro de charuto e
bebida, estes nos quais eram utilizados pelos Pretos Velhos que ela recebia. Em
diversos momentos, segundo ela, teve de dormir na rua, porque ele não permitiria
sua entrada na casa com aquele cheiro, chamando sua prática religiosa de “putaria”.
Passado o tempo ele disse que ria junto ver “que putaria” era aquela que ela ia e a
partir daquela primeira ida, Gilmara diz que ele ficou mais devoto que ela. Pois vira
que era uma prática de caridade sem maldade nenhuma, como antes ele
verbalizava.
Neste relato, inúmeras situações importantes são apontadas pela
entrevistada, o diagnóstico de louca, o possível tratamento com eletro choques, o
preconceito da mãe, do marido e da sociedade. No entanto, mesmo com todos
52

esses impecilhos, Gilmara lutou, pois acreditava ser aquela sua missão, e com o
desenvolver de sua mediunidade aqueles ataques epiléticos, ou ditos surtos
psiquiátricos não mais se manifestaram, pois seriam apenas um processo
mediúnico, e não uma situação psiquiátrica.
Assim como Gilmara, temos o relato de Camila, que por motivos pessoais não
autorizou a publicação de seu depoimento, permitindo apenas que eu transcrevesse
que fora considera louca, e tratada como tal pela medicina tradicional. Mas que no
entanto, após atendimento espiritual, todos os sintomas antes considerados
psicóticos desapareceram. Segundo ela, todas suas perturbações eram decorrentes
de um espírito obsessor, que manifestava-se pelo processo de incorporação,
fazendo com que ela se transformasse, agindo de forma atípica.
A ação da terreira em problemas ditos psiquiátricos, também foi apontada no
relato de Anita, uma mãe que buscou na terreira da Mãe Iara, ajuda para “curar a
cabeça de seu filho”.

Eu já conhecia a mãe Genezi. Já havia procurado ela pra resolver


problemas do meu casamento. E assim que vi que ela era boa, fui buscar
ajuda para curar a cabeça do meu filho. Ele era especial sabe? Muito
inteligente, mas tinha algumas dificuldades.

Anita, durante o relato, não soube, ou não teve condições de detalhar a


possível doença de seu filho. Dizendo ter ele momentos agitados, e momentos de
profunda depressão, apresentando dificuldades de fala, de deambulação, mas
aparentemente, segundo os dados que nos aponta, não apresentava problemas de
cognição.
Mãe Iara, realizou diversos trabalhos para a cabeça do filho de Anita, usando
ervas, velas, e cabeças de cera. Sendo assim, uma forma simbólica de materializar
o trabalho que estaria sendo feito no astral.
As intervenções espirituais dos guias, mantinham seu filho, por um bom
tempo “normal” dentro das suas condições, como diz Anita. E sempre que ele se
agitava, sua mãe o levava para tomar passe, mesmo sendo fora de horário de
sessão, pois assim, o menino se acalmava.
Antes de procurar o atendimento espiritual, Anita dizia não gostar de dar as
medicações receitadas pela psiquiatra, situação que não foi aprovada pelos guias da
terreira.
53

Eu não gostava daqueles remédios, deixavam ele sem vida, todo duro, sem
rir, e nem chorava, uma múmia. Então eu só dava quando achava que
deveria dar, mas claro que não contava para a médica. Mas quando eu
comecei a trabalhar com os guias da Umbanda, eles me repreenderam,
dizendo que eu estava errada em não dar seqüência com a medicação. E
assim eles me mandaram dar corretamente, porque com a constância dos
trabalhos realizados ele iria melhorar e a psiquiatra tiraria aquela
medicação. E dito e feito. E lá cancelou depois de um tempo. Eles são
porreta né?

A intervenção dos guias, não se deteve apenas nas questões que


relacionavam o seu trabalho específico, orientando, explicando e norteando a
conduta da mãe com seu filho perante as intervenção da medicina tradicional. Essa
fala deu-se pela relação de confiança estabelecida por Anita nos guias, acatando
tudo que lhe era falado, pois para ela, já tinha tido diversas provas do poder deles
sobre a saúde de seu filho e em outras situações pessoais.
O filho de Anita, hoje é falecido, mas segundo ela, ele não teria tido uma vida
tão prolongada, já que a medicina tradicional estipulou um tempo X de idade para
ele, sendo este dado ultrapassado 10 anos, tudo graças as intervenções espirituais.
Anita buscou toda ajuda espiritual possível, indo na terreira na Mãe Iara, e até a
Bahia de carro, para consultar-se com a “Menininha do Cantuá“.
Seguimos nossa análise com a história de Cátia, uma senhora de 78 anos,
que buscou ajuda na casa da Mãe Iara, e mesmo com o avançar de sua idade,
trabalha, com vontade, arduamente nesta terreira. No entanto toda essa devoção,
teve início partindo de uma revolta com o catolicismo, como ela conta.

Passei um bocado de coisa aqui em Porto Alegre. Não tinha onde morar,
não tinha o que comer, ia pra lá, ia pra cá. Era católica, apostólica, fazia
tudo,..., tudo o que a Igreja mandava eu fazer, eu preenchia aqueles
livrinhos sabe, no final do mês entregava tudo. E rezava e rezava... Um dia
perguntei para um padre se podia carregar a fita do apostolado da oração e
ele disso que primeiro eu tinha que casar, pois estava grávida. Ele disse
casa primeiro enquanto isso tu não podes carregar nada da Igreja. Aquilo
me deu uma revolta muito grande, eu pensava será que Deus vai virar as
costas para uma pessoa que está passando tanta dificuldade que nem eu?
Saí de lá muito revoltada.

Inicia-se a partir de desapontamento, uma busca por algum lugar que


pudesse acalentar seu espírito. E entre diversas casas, de espiritismo, de umbanda,
de batuque, ao chegar na casa de Mãe iara, ela relata:

Quando entrei na porta era a coisa mais linda, era um silêncio, uma calma,
uma paz de Deus. Eu olhei e disse é aqui que eu vou ficar.
54

Freqüentando a casa, e colaborando sempre que possível, Cátia, começou aos


poucos desenvolver sua mediunidade, vindo posteriormente a trabalhar na corrente
de médiuns. Um dia, no seu trabalho de doméstica, Cátia foi erguer um balde e
sentiu uma forte dor no peito, que segundo ela expandia-se pelas costas, parecendo
uma “facada”. Com histórico familiar de angina, Cátia foi levada na emergência do
Hospital de Clínicas, pelo seu patrão. Com todos os exames feitos, diagnosticou-se
osteoporose, princípio de diabete e angina. Sabendo disso, Cátia buscou auxílio na
casa da Mãe Iara, que mandou imediatamente fazer um trabalho para a saúde,
utilizando-se de ervas, velas e um coração de cera. No decorrer do depoimento,
Cátia diz que este coração deixou de ser de cera para ser de boi, pois dizia não ter
mais uma condição física muito boa, devido a idade, necessitando assim dessa
intervenção.
Após o primeiro tratamento na terreira, Cátia retornou ao médico para realizar
novamente todos os exames, relatando-nos:

Fui no médico de novo fazer todos os exames de novo, e passei em todos.


Passei em tudo. Aí a Doutora que me atendeu disse assim “ o que
acontece dona Cátia? Porque a senhora aqui nesses papeis , tava com isto,
isto, isto, e agora a senhora ta tudo bem”. E isso aconteceu em apenas uma
semana. Então a Doutora, disse para eu me sentar para conversarmos,
“Dona Cátia, nós temos um mistério aí!” E eu “ Porque Dra?” porque olha
aqui seus exames, eles parecem de pessoas diferentes, tudo em muito
pouco tempo”. E eu bem tranqüila disse “o mistério Dra é que eu sou
Umbandista e que fiz um trabalho de saúde, fiz uma troca, e então eu
expliquei mais ou menos para ela...dentro do que eu sabia...e terminou
dizendo: “nesse mundo que nós vivemos existe muita coisa que nem nossa
vã filosofia alcança.

Parece-nos que mais um caso, onde a intervenção espiritual e a medicina


dialogam, como já havia ocorrido no caso de Maria. Sem apresentar explicações
cientificamente lógicas, Cátia, sem medo de preconceito, conta para sua médica o
que teria sido o tal mistério como a médica configurou. É o saber cultural, o poder da
fé, e segundo Cátia, o poder dos guias e do trabalho feito, surpreendendo a
medicina tradicional, atuando de forma mais eficaz, como fala a entrevistada, mas
nem por isso desconsidera a alopatia.
Na seqüência apresenta-se a análise das demais perguntas. No entanto,
devido a grande similaridade das perguntas, optou-se por uma escrita mais
abrangente e direta, pontuando algumas falas dos entrevistados, sendo intercaladas
no decorrer do questionário, diferente da opção feita na 1ª questão, contendo ela,
55

uma maior diversidade de informações que não poderiam ser generalizadas e nem
excluídas desta escrita.
Na pergunta dois, é questionado se os entrevistados procuraram atendimento
médico,. antes durante ou depois do tratamento espiritual. Unanimemente, todos
procuraram em um primeiro momento a ajuda da medicina tradicional.
No entanto, Paola, Suzana, Martha, Camila e Gilmara, após o início da
intervenção espiritual, não permaneceram com o tratamento alopático da medicina
tradicional. Pois alegaram a eficácia da intervenção espiritual, que em quase todos
esses casos citados, foram resolvidos com a intervenção da fitoterapia (tratamento
por ervas e chás) indicado pelos guias espirituais, meditações, trabalhos específicos
e passes. Foi questionado, para essas entrevistadas, se hoje, quando surge uma
dor, ou algum problema “físico” a quem elas recorreriam primeiro? Todas novamente
disseram que primeiramente vão ao templo, e se lá, os guias mandarem procurar um
médico, como assim fazem se necessário, só então elas recorreriam à medicina
tradicional, mas sempre com a atenção espiritual paralela.
Na questão Suzana, respondeu de forma bem direta :

Só antes. Depois não. Eles (guias) diziam que eu podia continuar. Mas eu
que não quis mais. Porque eu tinha tomado tanto remédio, e nunca me senti
tão bem, como eu me sentia ali, me tratando com o Preto Antônio. Mas claro
que se precisasse ir no médico, se eles me mandassem eu iria...mas
mesmo assim perguntaria se era mesmo muito necessário, eu sempre dizia
“é preciso?” se eles dissessem sim! Eu ia, mas se ficasse a minha escolha,
eu preferia ficar me tratando apenas no templo. Eu não queria ir ao médico,
queria me tratar só com eles. E eu escolhi. Fiquei só com eles e fiquei
curada. [...] Me tratavam só com Chás, meditação, massagem, demandas,
passe, e muita conversa.... Foi maravilhoso.

Gilmara, assim como Suzana, respondeu que:

Primeiro eu pergunto pros meus guias, se eles mandarem eu procurar o


médico eu vou, mas mesmo mandando eles vão trabalhando junto

Helena, nesta questão, referiu ter continuado com o tratamento


medicamentoso paralelo, porque os Pretos Velhos a instruíram desta forma, pois a
medicação da Hepatite C não poderia ser interrompida. No entanto ela, refere ter
tido um tratamento diferenciado das outras pessoas que faziam a mesma aplicação
medicamentosa, dizendo não ter sofrido quase nada dos efeitos colaterais comuns
56

com essa medicação, alegando ter sido a influência do tratamento espiritual


paralelo, como já foi visto relato dela na primeira questão.
Assim como Helena, Ana, Cátia e Márcio tiveram de continuar com a
medicação alopática, sempre incentivados pelos guias espirituais, estes que por sua
vez atuavam simultaneamente com atenção fitoterápica, chás, passes, conversas,
ou trabalhos mais específicos como a troca de órgãos, citada por Ana e Mariana.
Na fala de Márcio, ele afirma manter a ação da medicina paralelo ao
tratamento tradicional, acreditando que a partir dessa intervenção dos Pretos
Velhos, a médica pode reduzir a dose alopática:

Procurei antes, mas mantive durante o tratamento espiritual, até porque em


nenhum momento na casa de religião me mandaram parar. Não falei para a
médica que estava fazendo um “trabalho” para ele, mas no decorrer dos
atendimentos na terreira, ele ficando mais calmo, até a doutora se
surpreendeu, e resolveu, não sei por que, tirar algumas medicações, (ele
usava 3,e ficou só com 1)

Na questão 3, perguntou-se qual teria sido a importância/eficácia, da


orientação espiritual recebida na evolução do tratamento/cura. E todos os
entrevistados de ambas as terreiras responderam: Essencial. Mesmo não obtendo a
cura, a melhora foi mais do que esperavam os médicos. Como diz Helena:

Tenho certeza que se eu não tivesse a proteção e as palavras seguras e


confiantes do Preto Velho eu não teria sido tão valente.

Márcio, mesmo não compreendendo a dimensão do que fora trabalhado para


seu filho, acredita sim, que a intervenção espiritual tenha sido de importante
relevância, como ele relata.

Não sei em que dimensão, só sei que depois meu filho recebeu essa ajuda
espiritual ele está mudado, mais calmo. Então acho que foi fundamental a
ajuda deles. Mesmo sem entender muito que eles fizeram e nem como
fizeram.

A pergunta 4, apenas reafirmava uma informação já fornecida na questão 1,


quando relatado o caso, perguntando se o entrevistado havia encontrado a melhora
e/ou a cura da doença. Paola, Suzana, Martha, Camila, Helena, Gilmara,
encontraram cura, ao menos perante a sintomatologia antes apresentada. Ana,
Cátia, Anita e Márcio, obtiveram uma melhora acentuada no quadro, referindo ser
conscientes de que terão tais problemas para o resto da vida, mas que com a
57

atuação das terreiras, os sintomas e os efeitos colaterais são bruscamente


diminuídos. Márcio responde que:

Melhora, porque ele ainda tem crises, mesmo que mais amenas. Mas talvez
eu encontre a cura um dia. Essa minha amiga que me indicou a casa, me
disse que quando eu encarar sem medo a terreira, muitas coisas podem
mudar, e quem sabe mais ganhos na saúde do meu filho. Mas isso é muito
confuso para mim.

Gilmara de forma bem descontraída, nesta questão responde:

Nem melhora e nem cura, até porque eu não era doente, e sim uma
médium sem instrução, mas se você quer saber de acordo coma psiquiatria,
encontrei a cura, porque o que era dito surto, passou a ser chamado de
incorporação, com o meu controle sobre tal situação.

Na questão 5, perguntou-se qual seria o papel que a terreira/religião teria na


vida deles hoje. O que se percebe é que na grande maioria dos entrevistados, hoje,
são membros integrantes das terreiras que recorreram. Uns como médiuns,
principalmente os que afirmavam que sua problemática era de cunho estritamente
espiritual. Outros como freqüentadores assíduos do templo. Somente Márcio, disse,
freqüentar apenas quando o filho está em crise. Entre os demais, a casa de religião
tornou-se uma roda social, um grupo, uma tribo, que norteia identidade, condutas.
Com características assim é que pontuamos como parte integrante da cultura, sendo
um credo, uma rotina, uma orientação. Trago, respectivamente, as falas de Paola,
Helena, Gilmara, Mariana pontuando esse papel da terreira no seu dia-a-dia e a fala
de Márcio, que se difere quanto intensidade das demais, mas não menos simbólica
do que as mesmas:

Paola: A Umbanda rege minha conduta, afinal pra ser médium já temos
automaticamente uma outra estrutura, uma outra preparação. O que eu
aprendo, estudo, e deparo aqui na casa, eu levo pro meu dia a dia. A
terreira hoje em dia é parte formadora de mim. Aqui você aprende a ter uma
nova noção de vida...para evoluirmos!

Helena: ... em todas as situações de doença da minha família recorro à


Terreira que é um lugar aonde todos encontram amparo às suas dores do
físico e do espírito.

Gilmara: Hoje sou a responsável por uma terreira, filha. E minha vida é toda
em função dessa casa. Meus horários, meus compromissos tudo...mas faço
tudo com amor. Pois a recompensa é muito maior que o trabalho.

Mariana: eu com meus anos avançados (risos), muitas vezes me sinto


cansada , mas quando sei que tenho que ir para a terreira, me muno de
uma força extraordinária, e mesmo sendo velha, para muitos, vou lá duas
58

vezes por semana, pra trabalhar. E quando não me sinto bem, é pra lá que
vou meditar, até porque quando se chega lá, sempre tem alguém que vem
ver como você está, é uma família sabe?!

Marcio: Serei eternamente grato a eles. Não freqüento sempre, mas tenho
a casa como um referencial de ajuda. Tipo um “pronto-socorro” (risos).

Finalizando o questionário, perguntou-se sobre o papel da fé no tratamento. E


mais uma vez todos responderam de forma geral, que acreditar naquele rito,
naquela simbologia, foi fundamental. Paralelo a essa pergunta, questionava-se
sobre os novos estudos da neurociência, que falam do poder da fé, de cura. Muitos
concordavam dizendo ser um mecanismo que atua junto com o poder dos guias,
mas que só é ativado perante aquela força que os guias lhes transmitem. Ana relata-
nos:
Se não fosse a minha fé, a minha força de viver e minhas rezas, muita coisa
não teria acontecido. Resisti às dores calada, porque tinha fé que aquilo iria
passar. E se foi pensando no Dr. Bezerra e em Deus que busquei força pra
voltar do enfarte. Então sem minha fé...nada teria acontecido. Acredito que
quando tenho fé, meu cérebro ajuda na melhora sim, como já li, mas sem a
ajuda do astral eu não teria alcançado tudo que alcancei. Por mais fé que
eu tivesse, até porque sem eles teria fé no que, para ativar o cérebro?
(risos).

No entanto Suzana, acredita que sua cura deve-se estritamente ao poder dos
guias, que as pessoas até podem não acreditar muito, mas isso apenas tardará a
resolução do problema, mas não invalidaria a atuação dos mestres espirituais.
Partindo dessa questão de simbologia, Rubem Alves descreve-nos que:

Aqui surge a religião, teia de símbolos, rede de desejos, confissão de espera,


horizonte dos horizontes, a mais fantástica e pretensiosa tentativa de
transubstancias a natureza [...] Há coisas a serem consideradas: altares,
santuários, comidas, perfumes, lugares, capelas, templos, amuletos colares,
livros...e também gestos, como os silêncios, os olhares, rezas encantações,
renúncias, canções, poemas, romarias, procissões, peregrinação,
exorcismos, milagres, celebrações, festas adorações. [...] Com seus símbolos
sagrados o homem exorciza o medo e constrói diques contra o caos
(1999:24-26)

E é partindo desta última frase descrita por Rubens Alves que finalizo esta
análise, pontuando a diferença de simbolismos apresentada entre as duas terreiras.
E como vimos no capítulo 2, a Umbanda divide-se em dois ramos, o popular e o
esotérico, assim podemos compreender a diferença de simbologias utilizadas nos
trabalhos.
59

Na Terreira CEUNSA, os entrevistados, descreviam os procedimentos do


tratamento espiritual, com chás, meditações, conversas, passes, trabalhos que
utilizavam-se somente de flor e vela, e assim, obtiveram o acalento necessário para
as angustias causadas pela doenças, alcançando a cura ou a melhora das mazelas.
Na Terreira da Mãe Iara, os entrevistados, relatavam também a utilização de
passes, demandas, e trabalhos, que aqui se diferenciam por conterem um maior
numero de material simbólico, como comida específica de cada orixá, órgãos de
animais, dinheiro, mas que também igualmente aos outros entrevistados
encontraram o apaziguamento desejado.
Então, por um processo Cultural, tanto da religião, quanto da população
específica de cada terreira é que se dão os simbolismos, tornando uma flor, um
fígado e uma pedra um mesmo canalizador de energia, de fé, de desejo, mas que
podemos explicar essa variação pelo processo próprio cultural da Umbanda.
60

7.CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para


que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser, não
somos o que iremos ser, mas graças a Deus, não somos o que
éramos-. Martin Luther King

Com este trabalho, verificamos que o Centro Espírita de Umbanda Nossa


Senhora Aparecida (CEUNSA), e o Centro de Umbanda Reino da Mãe Iara,
desenvolvem um trabalho de expressivo apoio social. Local no qual o objetivo é
primeiramente professar uma religião, mas que acaba agindo em dimensões muito
mais extensas do que as paredes do terreiro, formando cultura religiosa e até
personalidade norteada pela religião.
A procura de casas de religião como fonte de ajuda na reabilitação da saúde,
mostra-nos que, independente da comprovação científica, essas terreiras
exerceram um papel fundamental nesta busca, onde muitas vezes, casos
desenganados pela medicina tradicional, como relatado nas entrevistas, foram
solucionados por espíritos ditos, “Pais Velhos”, “Caboclos”, entre outros.
Então pode-se apontar que, para esta população entrevistada, a intervenção
espiritual foi eficaz, levando a cura ou a melhora das moléstias.
Um dado muito pontuado nos relatos, foi a aconchegante atenção recebida
dentro dessas casas de religião, fazendo com que a terreira assuma um papel
apaziguador, acolhendo cada sujeito, respeitando suas singularidades e tornando
aquele momento de escuta e de desabafo, num momento de reflexão dos
problemas. Percebe-se então que essas terreiras são muito mais do que uma
simples casa de “socorro”, sendo uma referência de ajuda, de conforto, de
solidariedade e humanidade.
Percebemos pela fala dos entrevistados, que na terreira procurada, suas
forças eram acrescidas, pois o sentimento de solidão era preenchido pela certeza de
que algo, ou alguém com mais “capacidades” estariam zelando por eles, atenuando
assim o peso daquela problemática.
Os espaços religiosos, e mais precisamente os locais estudados, com suas
“portas abertas”, oferecem alternativas ao enfrentamento de sofrimento do corpo, da
alma e do espírito, não importando se essas alternativas são via flor, vela, comida,
61

ou uma simples conversa de forma humilde, como eles caracterizam os espíritos


ditos “Pais Velhos”
O rito e as simbologias tornam-se peças fundamentais para os entrevistados,
como forma de materializar suas esperanças, sua fé, sua crença. No entanto, é
sabido por eles, que tal poder pode curar por si, como excitador de mecanismos
cerebrais de cura. Percebe-se pelos relatos, que mesmo cientes do dito “poder da
fé”, os entrevistados parecem acreditar mais no poder dos guias do que no poder da
fé, desenvolvidos por eles. Percebe-se isso quando também, a partir das entrevistas,
os pesquisados apontam que a fé também continham quando estavam buscando o
tratamento com a medicina tradicional. Assim, acabam demonstrando que é a fé no
poder dos guias e a força dos guias que lhes propiciaram a cura. Cabe aqui
perguntar: É o símbolo necessário para fortalecer e concentrar o pensamento e a
força da fé?
Acredito, a partir desta pesquisa que o Terapeuta Ocupacional, profissional da
saúde que deve olhar o sujeito como um todo e que atua nesses limiares entre a
ciência e o conhecimento popular, sem banalizar os conhecimentos científicos,
também sem menosprezar a fala folclórica e a fala religiosa, deve buscar em
consideração a importância da respeitabilidade com a subjetividade e a história
religiosa e de vida de cada pessoa.
O meio social, as características culturais do individuo, estão intrínsecas em
sua personalidade, em sua conduta, de acordo com o autor

Não se pode considerar a prática do sujeito desengajada de suas próprias


relações sociais, das condições e modo de produção, do lugar que ocupa o
sujeito e da forma de se colocar frente a essas circunstancias que lhe são
únicas, é necessário conhecer a realidade do universo cultural para se
compreender realmente o outro. (DE CARLO)

Sandra Galheigo (1997) denominou o Terapeuta Ocupacional de Articulador


Social, visto que no desempenho das atividades conjuntas com aqueles que estão
sobre seus cuidados, o T.O deve ser sensível para observar e compreender o
contexto sócio cultural em que irá atuar, fazendo um link entre paciente, cultura,
sociedade e saúde.
Deve-se levar em consideração a experiência de vida e a fala das pessoas
(conhecimento popular), e compreender que as casas de religião, como meio
alternativo de enfrentamento dos problemas de saúde,tem função importante para
62

uma certa população que busca, e alguns conseguem, como apresenta a


pesquisa,de alguma forma atender a suas demandas.
É também importante perceber que a busca por esses espaços, pode ser
vista como a busca por algo que dê mais sentido a vida tornando-a mais coerente, e
o sofrimento e a doença como parte aceitável da vida. É bem provável que a procura
por esses espaços, signifique hoje também, o refúgio da crise, no sentido de
proteção, abrigo e acolhida.
Márcia Cristina L.C.Pietrukowicz, na sua dissertação de mestrado 27, concluiu
que:

...talvez a grande diferença entre o Centro de Saúde e o Centro Espírita, no


que se refere à satisfação e adesão obtidas no caso do sofrimento difuso,
seja a maior capacidade deste ultimo em ouvir e integrar as pessoas
(“usuárias”, “pacientes”, “doentes”, “sofredores”) um sistema de relações
mútuas de apoio social em que todas se sentem de certa forma, parte do
problema, mas também parte de sua solução.

Esta ação, que se dá nas terreiras, como forma acolhedora de atenção, vista
nos relatos desta pesquisa, afirma a relação feita com a Terapia Comunitária, no
capítulo Fé e saúde, sendo assim mais uma via de atenção ao sujeito, respeitando
sua subjetividade, ajudando-o a ser parte integrante e fundamental da sua melhora.
A partir de tais apontamentos, abre-se espaço a novas reflexões para os
profissionais da saúde, sobre essa relação entre cultura, saúde e doença, mas
principalmente quanto a aceitação e compreensão da variabilidade cultural,
respeitando assim suas formas de manifestações, transcendendo o olhar da saúde.

27
PIETRUKOWICZ, Márcia Cristina L.C.; Apoio Social e religião: uma Forma de enfrentamento dos problemas
de saúde; Dissertação de mestrado em saúde Pública; Departamento de Endemias Samuel Pessoa; Fundação
Oswaldo Cruz; Escola Nacional de Saúde Pública; Rio de janeiro; 2001: 99
63

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de Endemias Samuel Pessoa. Fundação Oswaldo Cruz – Escola Nacional de
Saúde Pública. Rio de Janeiro. 2001.

 PIETRUKOWICZ, Márcia Cristina L.C.; Apoio Social e religião: uma Forma


de enfrentamento dos problemas de saúde; Dissertação de mestrado em
saúde Pública; Departamento de Endemias Samuel Pessoa; Fundação
Oswaldo Cruz; Escola Nacional de Saúde Pública; Rio de janeiro; 2001

 PINHO, Rubim. “A psiquiatria Transcultural no Brasil: Rubim Pinho e as


“psicoses da cultura-nacional”. Revista Brasileira de Psiquiatria. Volume 25, nº
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 RICARTO, Tarciano. Terapia Comunitária: É CONVERSANDO QUE A GENTE


SE ENTENDE. CONASEMS – Agosto/Setembro 2005: 33-38

 SANTOS, Boaventura de Souza. A Universidade no Século XXI: Para uma


reforma democrática e emancipatória da Universidade. Editora Cortez. São
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 SARACENI, Rubens. Umbanda Sagrada: Religião, Ciência, Magia e


Mistérios. Editoras Madras. São Paulo. 2002.

 SILVA, Matta e, Mestre Yapacany Umbanda de Todos Nós , Editora Ícone,


1956

 ________,_______. Tratado geral de Umbanda: As Chaves interpretativas


teológicas. Editora Madras. São Paulo. 2005.

 TELLES, Silveira. Sociologia para jovens. Editoras Vozes. Petrópolis, 1993

 VARELLA, Drauzio. Raízes orgânicas e sociais da violência urbana.


Disponível em: <www.drauziovarella.com.br>. Acesso em: 11/04/2006
67

9. ANEXOs
ANEXO A: Instrumento de Pesquisa
68

INSTRUMENTO DE PESQUISA

Data: ___/___/_____ Nº ______


DADOS DE IDENTIDICAÇÃO
Nome:
Bairro onde mora:
Idade: Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Religião: Praticante: ( )Sim, muito ( )Eventual ( )Não
Cor:
Terreira:

1) O que te trouxe a essa casa de religião?

2) Procurou atendimento médico tradicional, antes ou depois da busca


espiritual?

3) Qual foi a importância/eficácia, da orientação espiritual recebida na evolução


de seu tratamento/cura?

4) Você encontrou uma melhora ou cura?

5) Qual o papel que a terreira/religião tem em sua vida hoje?

6) Qual o papel da sua fé no percurso de seu tratamento/cura?


______________
Todos os dados de identificação que exponham o entrevistado, serão expostos
através de siglas, e no corpo do texto receberão nomes fictícios
69

ANEXO B - Termo de Consentimento Livre Esclarecido


Para Entrevistado
70

Termo de Consentimento Livre Esclarecido


Para Entrevistado

Título da Pesquisa:

O Olhar da Terapia Ocupacional, compreendendo a relação da fé na busca


pela reabilitação da saúde: Estudo de caso a partir da religião Umbandista.

Justificativa e objetivos da pesquisa:


Este projeto de pesquisa introduz o Trabalho de Conclusão de Curso, do
Curso de Terapia Ocupacional, do Centro Universitário Metodista – IPA, o qual tem
por objetivo identificar pessoas com doenças, de identidades diversas, que
buscaram ajuda espiritual, paralelamente ao tratamento médico tradicional.
Analisando assim, as possíveis alterações a partir dessa intervenção alternativa, em
prol da reabilitação da saúde. Neste projeto de pesquisa se tem por objetivo,
também, levantar e analisar informações, usando-as como instrumento da “Ecologia
do Saber”, onde o conhecimento popular e o acadêmico interagem trazendo a
reflexão sobre a importância da respeitabilidade nos aspectos culturais e religiosos
de cada indivíduo.

Procedimentos a serem utilizados:

Será realizada uma entrevista de caráter individual, com perguntas 6


abertas. Onde os dados coletados na entrevista serão utilizados como fonte para o
estudo

Garantias asseguradas:
Não deverá haver nenhum tipo de desconforto ou constrangimento durante
o desenvolvimento da pesquisa. Caso venha a ocorrer, ficará assegurada a
liberdade do participante para abandonar a pesquisa em qualquer etapa de seu
desenvolvimento sem que esta decisão acarrete qualquer tipo de penalização ou
constrangimento ao entrevistado.
71

É assegurada aos indevidos participantes desta pesquisa, toda liberdade


de não responder a alguma pergunta do questionário, sem qualquer
constrangimento e nem punições ao entrevistado.
Em qualquer etapa do trabalho e a qualquer participante fica garantido o
direito de resposta a todas as dúvidas que venham a surgir.
Após o término do trabalho, as participantes serão informadas dos
resultados do estudo.
É assegurada a privacidade de todas as informações que serão colhidas
dos participantes. Os indivíduos serão mencionados na pesquisa de forma anônima.
Todas as informações coletadas através desta pesquisa, serão
estritamente de uso acadêmico, sem idealização de publicações externas, sem aviso
prévio dos envolvidos.

Declaração:

Eu,_________________________________________, fui informado (a) dos


objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada. Recebi informações a
respeito do instrumento que serei submetido e esclareceram minhas duvidas. Sei
que em qualquer momento poderei pedir novas informações e modificar minhas
decisões se assim eu desejar, podendo, caso incomodado, abandonar a pesquisa
em qualquer momento, sem acarretar nenhuma penalização para minha pessoa. A
acadêmica Paula Monteiro Maritan e a orientadora responsável pelo projeto,
professora Patrícia Dornelles, certificaram-me de que todos os dados desta
pesquisa serão sigilosos e poderei retirar meu consentimento de participação caso
eu desejar.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela
acadêmica Paula Monteiro Maritan. Telefone: 33480027 / 91514687 ou pela
orientadora responsável Patrícia Dornelles, telefone: 99581002
________________________ _______________________
Entrevistado Acadêmica Pesquisadora

Porto Alegre, ___ de __________ de 2006


72

ANEXO C - Termo de Consentimento Livre Esclarecido


Para Líder Espiritual
73

Termo de Consentimento Livre Esclarecido


Para Líder Espiritual

Título da Pesquisa:

O Olhar da Terapia Ocupacional, compreendendo a relação da fé na busca


pela reabilitação da saúde: Estudo de caso a partir da religião Umbandista.

Justificativa e objetivos da pesquisa:

Este projeto de pesquisa introduz o Trabalho de Conclusão de Curso,


do Curso de Terapia Ocupacional, do Centro Universitário Metodista – IPA, o qual
tem por objetivo identificar pessoas com doenças, de identidades diversas, que
buscaram ajuda espiritual, paralelamente ao tratamento médico tradicional.
Analisando assim, as possíveis alterações a partir dessa intervenção alternativa, em
prol da reabilitação da saúde. Neste projeto de pesquisa se tem por objetivo,
também, levantar e analisar informações, usando-as como instrumento da “Ecologia
do Saber”, onde o conhecimento popular e o acadêmico interagem trazendo a
reflexão sobre a importância da respeitabilidade nos aspectos culturais e religiosos
de cada indivíduo.

Procedimentos a serem utilizados:

Através do conhecimento de líder espiritual, responsável pela casa de


religião ______________________________________________________, perante
os freqüentadores da terreira, a seleção das pessoas aptas dentro dos critérios já
estabelecidos para a realização da pesquisa será realizada pela responsável acima
ciatada.
74

Será realizada uma entrevista de caráter individual, com perguntas 6


abertas. Onde os dados coletados na entrevista serão utilizados como fonte para o
estudo

Garantias asseguradas:

Não deverá haver nenhum tipo de desconforto ou constrangimento durante


o desenvolvimento da pesquisa. Caso venha a ocorrer, ficará assegurada a
liberdade do representante espiritual participante para abandonar a pesquisa em
qualquer etapa de seu desenvolvimento sem que esta decisão acarrete qualquer tipo
de penalização ou constrangimento, tanto para o líder espiritual, quanto para os
freqüentadores da terreira
É assegurada aos indevidos participantes desta pesquisa, toda liberdade
de não responder a alguma pergunta do questionário, sem qualquer
constrangimento e nem punições ao entrevistado.
Em qualquer etapa do trabalho e a qualquer participante fica garantido o
direito de resposta a todas as dúvidas que venham a surgir.
Após o término do trabalho, as participantes serão informadas dos
resultados do estudo.
É assegurada a privacidade de todas as informações que serão colhidas
dos participantes. Os indivíduos serão mencionados na pesquisa de forma anônima.
Todas as informações coletadas através desta pesquisa, serão
estritamente de uso acadêmico, sem idealização de publicações externas, sem aviso
prévio dos envolvidos.

Declaração:

Eu,_________________________________________, fui informado(a)


dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada. Recebi informações
a respeito do instrumento que será aplicado , obtendo esclarecimentos de minhas
duvidas. Sei que em qualquer momento poderei pedir novas informações e modificar
minhas decisões se assim eu desejar. A acadêmica Paula Monteiro Maritan e a
orientadora responsável pelo projeto, professora Patrícia Dornelles, certificaram-me
75

de que todos os dados desta pesquisa serão sigilosos e poderei retirar meu
consentimento de participação caso eu desejar.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela
acadêmica Paula Monteiro Maritan. Telefone: 33480027/91514687 ou pela
orientadora responsável Patrícia Dornelles, telefone: 99581002

Autorização:
A partir das informações recebidas, autorizo a aplicação deste projeto nas
dependências da terreira, no qual sou responsável, comprometendo-me com a
colaboração para a pesquisa, na parte que a mim foi destinada pela acadêmica
pesquisadora.

__________________________ _______________________
Entrevistado Acadêmica Pesquisadora

__________________________ ________________________
Coordenador do Curso Orientadora

Porto Alegre, ___ de __________ de 2006


76

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