Atlas Historico e SocioAmbiental
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“Na verdade, só sabemos quão pouco sabe- cada dia e nos fazem refletir: para onde esta- de permitir o aporte contínuo de infor-
mos – com o saber, cresce a dúvida”. Com essa mos caminhando? Esse é o caminho que nos mações de fontes de credibilidade du-
afirmação, em 1826, talvez o próprio Johann levará aonde queremos chegar? As mudanças vidosa, com a profusão das já famosas
Wolfgang Von Goethe não imaginasse que a significativas em nossa sociedade trouxeram “fake news”. Especificamente no Brasil, os
constatação permaneceria tão atual e opor- consigo desafios inimagináveis para conciliar investimentos em educação e a alocação
tuna quase dois séculos mais tarde. Desde os valores, os interesses e as pretensões de de recursos ao desenvolvimento cientí-
então, devemos reconhecer, muita coisa mu- futuro de uma população incontável de orga- fico e tecnológico têm sido ameaçados
dou. Foram rápidas e profundas mudanças nismos que habitam o Planeta Terra, algo já e frequentemente tratados como não
na estrutura da sociedade, nas formas de se próximo dos oito bilhões, somente da espé- prioritários. A preservação da história
comunicar e disseminar informações, nas re- cie Homo sapiens sapiens. nacional não tem despertado a atenção
lações entre o ser humano e o meio ambien- Vivemos um momento sensível da nos- que merece. Em setembro de 2018, um
te. Houve inegável evolução tecnológica nas sa sociedade em relação ao acesso ao co- incêndio de grandes proporções atingiu
áreas de engenharia, medicina, agricultura, nhecimento e a informações de qualida- o Museu Nacional no Rio de Janeiro e re-
indústria, biotecnologia, inteligência artificial, de. Novas ferramentas de comunicação, duziu a ruínas um rico acervo histórico
entre tantos outros avanços extraordinários. resguardadas suas inegáveis virtudes e e científico, com cerca de 20 milhões de
Novos horizontes aparecem e se expandem a contribuições, têm tido o efeito colateral itens. Hoje, pesquisadores, técnicos e vo-
* Engenheiro Ambiental pela Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (EESC/USP); Doutor em Ciências (Programa de Engenharia Hidráulica e Saneamento)
pela EESC/USP; Pós-Doutor no Departamento de Hidráulica e Saneamento (SHS/EESC/USP); Pesquisador visitante nas seguintes instituições: Kansas State University e University of
Nebraska-Lincoln (Estados Unidos), Université de Montréal (Canadá), Universidad Nacional de La Plata (Argentina), Universidad Nacional Autónoma de Mexico (México) e Earthwatch
Institute e Anglia-Ruskin University (Inglaterra). Atualmente é professor do SHS/EESC/USP.
SÃO CARLOS: DIFERENTES PAISAGENS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 COMO A PAISAGEM NATURAL DE SÃO CARLOS FOI
SENDO SUBSTITUÍDA?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
POR QUE AS PAISAGENS NATURAIS SÃO TÃO DIFERENTES?.43
INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES ANIMAIS NA ZONA
QUE TIPO DE CLIMA TEMOS EM SÃO CARLOS?. . . . . . . . . . . . . . 44 RURAL E URBANA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
DE ANOS
ta Terra era diferente: para começar, ele era lhões de anos depois, o Planeta esfriou tan-
uma imensa bola de rocha “derretida”, como to que a chuva pôde começar a cair. Com as
aquela que sai de dentro dos vulcões, a lava. chuvas, os oceanos se formaram e a vida, que
Com o passar do tempo, o Planeta come- até então não existia, começou a se desen-
çou a esfriar e, assim, surgiram as primeiras volver.
1 3
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 11
Uma das teorias mais aceitas atualmente é Tanto as plantas quanto os animais so- Nessa época, ainda não existiam as plantas
a de que organismos parecidos com as bac- freram mutações e se modificaram, em um com tronco ou caule. Há quase 300 milhões
térias foram os primeiros seres vivos; depois processo chamado evolução: algumas algas de anos, apareceram também as plantas com
teriam surgido as algas e, muito, mas muito e alguns musgos sofreram mutações e ori- sementes e sem frutos, as gimnospermas,
tempo depois, os primeiros animais, que vi- ginaram as primeiras plantas com raízes; os e algumas delas são encontradas até hoje,
viam nos oceanos e não possuíam ossos, por animais primitivos também foram se modifi- como os pinheiros e as cicas.
isso, eram denominados invertebrados. cando e originaram os primeiros peixes, há As angiospermas, plantas com frutos, fo-
As primeiras plantas terrestres surgiram mais de 400 milhões de anos. ram as últimas a aparecerem, há 140 milhões
na margem dos antigos oceanos e lagos, que Mais mutações aconteceram com as pri- de anos, em um período marcado também
puderam se formar porque o Planeta já havia meiras plantas, até surgirem as samambaias. pelo desaparecimento dos dinossauros.
esfriado bastante.
5a 6
5b 7
12 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
Figura 7 – Artrópodes, animais marinhos chamados 10
Figura 5 – A. Oceanos com água líquida, propícios trilobitas, com aproximadamente 15 centímetros, an-
para o desenvolvimento da vida. A Terra, contudo, cestrais dos atuais insetos e caranguejos.
ainda sofreria transformações, e muitos asteroides e
meteoritos cairiam do espaço, causando extinções. B. Figura 8 – A evolução dos seres e do ambiente no
Meteorito composto por ferro, encontrado na Argen- tempo geológico.
tina.
Figura 9 – Escala de tempo geológico com os nomes
Figura 6 – Primeiros invertebrados, parentes das das eras e dos períodos e a principal ocorrência de
atuais águas-vivas, há mais de 550 milhões de anos. vida.
Eram pequenos, com até 10 centímetros.
Figura 10 – Cica jovem, uma gimnosperma com pou-
co menos de um metro de altura.
8
Fonte: http://shopblob.blob.core.windows.net/10
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 13
De fato, a evolução dos animais aconteceu Os mamíferos e as aves surgiram quan- Contudo, as modificações não ocorreram
juntamente com a das plantas; alguns dos pri- do os dinossauros, que também são répteis, somente com os seres vivos. Os continentes
meiros peixes foram se modificando e origina- ainda dominavam a Terra. No caso das aves, também eram bem diferentes da forma como
ram os anfíbios; alguns anfíbios se modificaram elas descendem de um grupo de dinossauros os conhecemos hoje. Isso porque, há mais de
e originaram os répteis e, também, os primei- ágeis e predadores, os chamados terópodes. 250 milhões de anos, eles ficavam todos jun-
ros dinossauros. Mas isso tudo não aconteceu É possível perceber, então, que a evolução, tos, em um imenso bloco chamado Pangea,
rápido, levou milhões e milhões de anos. que ainda acontece nos dias de hoje, é um
dos fatores que permite a biodiversidade.
CONCEITO – BIODIVERSIDADE
Fonte: https://natturais.blogspot.com.br/11
14 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
no meio do qual existiam grandes desertos, http://www.famedisud.it15
chamados paleodesertos.
Há mais de 200 milhões de anos, um gran-
de pedaço, chamado Gondwana, separou-se 16
daquele bloco, o Pangea. O Gondwana era
formado pelos atuais continentes do hemis- 15
fério Sul (América do Sul, África, Austrália, An-
tártida), mais a Índia. No meio desse bloco fi-
cava o maior deserto de areia que já existiu na
história do planeta Terra, onde hoje ficam as
Fonte: https://upload.wikimedia.org/16
regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste
do Brasil. Esse deserto também ocupava par-
tes da Argentina, do Paraguai e do Uruguai.
Por milhões de anos, essas áreas foram so-
frendo um processo de compactação e cimen-
tação natural, isto é, foram ficando mais duras
e se transformando em rochas, o que os geó-
logos chamam de Formação Botucatu. Essa
formação, ocorrida há 135 milhões de anos, si-
tua-se na Bacia Sedimentar do Paraná, que vai
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 15
biente desértico pré-histórico (paleodeserto), nossauros e de outros animais pré-históricos
SAIBA MAIS – FORMAÇÃO BOTUCATU com dunas transportadas pelo vento, como (mamíferos, insetos e escorpiões) podem ser
Um fato interessante é que pelo menos 50% da nos desertos atuais, por vezes apareciam
água da cidade de São Carlos provém do Are- regiões com maior umidade entre as dunas,
nito Botucatu, também conhecido como Areni- SAIBA MAIS – FORMAÇÃO DE PEGADAS
to Guarani ou Aquífero Guarani. Isso acontece
semelhantes aos oásis. Quando os animais
porque as rochas do arenito são porosas e fun- caminhavam pelas areias do paleodeserto, Como foram preservadas as pegadas dos di-
cionam como uma esponja gigante no subsolo, nossauros?
deixavam impressas suas pegadas, que fica- Quando o animal pisa em sedimento mole, sua
absorvendo a água da chuva e, também, dos
rios. É por isso que a região na qual predomi- ram mais bem preservadas nas proximidades pegada fica impressa no substrato e deforma as
camadas inferiores do sedimento. O vento ou a
na essa formação rochosa, que era um deserto, dessas regiões mais úmidas. Com o passar do
hoje fornece a água que tomamos. água, trazem mais sedimento que cobre total-
tempo, centenas de metros de areia seca tra- mente a pegada. Após milhões de anos, ocorre
zida pelo vento recobriram as pegadas, enter- a cimentação dos grãos do sedimento, endure-
desde o sul do Estado de Goiás até o Uruguai. cendo a rocha. Ocasionalmente, quando se que-
rando-as. Após milhões de anos, toda a areia
bra o estrato de rocha, pode-se encontrar uma
Uma bacia sedimentar, como o próprio
do deserto transformou-se em uma rocha de camada onde o animal realmente pisou (A) pe-
nome diz, lembra uma bacia mesmo, dessas gada fóssil. Também se destaca deste estrato o
origem sedimentar chamada arenito, na qual
de uso doméstico. Trata-se de uma região (B) contra-molde da pegada, que corresponde
as pegadas se eternizaram. ao sedimento de cima, que preencheu a pegada.
rebaixada da superfície terrestre, deformada
O curioso é que algumas pegadas de di- Por fim, pode ser encontrada uma (C) subpega-
pelo peso das rochas, na qual se acumulam da que representa apenas as camadas inferio-
sedimentos e outros fragmentos rochosos. res deformadas, devido ao peso do animal.
CONCEITO – AMBIENTE
Com o tempo, milhões de anos, esses sedi-
mentos e fragmentos sofrem um processo O ambiente é o espaço da vida, formado pelos
próprios seres vivos e, também, por elementos
de compactação e cimentação, que os trans-
não vivos – como o clima, a água, o ar e o solo.
forma em rocha. Até mesmo o magma pode Esses elementos vivos e não vivos estão relacio-
escorrer para essas bacias, contribuindo com nados de forma intensa e complexa. Os paleo-
desertos, por exemplo, eram ambientes com
o peso que deformará a superfície.
clima seco, ventos fortes e solos arenosos; oca-
Nas rochas da Formação Botucatu ficaram sionalmente, na periferia, apresentavam vegeta-
registradas as pegadas de diversos animais, in- ção predominante de pinheiros (gimnospermas)
e diversos animais, como os dinossauros. Os se- Fonte: Marcelo A. Fernandes1
clusive dinossauros. Mas, como isso acontecia?
res vivos eram adaptados a esses ambientes.
Pesquisadores entendem que, em um am-
16 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
21a 21b
19
21c
20
Figura 19 – Pegadas de dinossauros carnívoros preservadas no Arenito Botucatu. O animal devia ter o tamanho de uma galinha.
Figura 20 – Pegadas de mamíferos, preservadas nos arenitos da Formação Botucatu. Eles não eram maiores que um gambá atual.
Figura 21 – Pegadas (a) de um grande dinossauro herbívoro bípede (b), e detalhe de uma das pegadas (c).
Fonte: Marcelo A. Fernandes20
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 17
encontradas hoje nas pedreiras da região de da época não era propício para a fossilização Carlos é conhecida mundialmente no meio
São Carlos e Araraquara – que um dia já fo- dos ossos, mas somente das pegadas. paleontológico por ser uma das mais ricas da
ram o local das dunas do paleodeserto –, das O primeiro registro de pegadas fósseis da América do Sul em pegadas fósseis do final
quais são extraídas rochas para calçamento América Latina foi encontrado em São Car- do período Jurássico e início do Cretáceo.
das vias públicas. Essas pedreiras têm grande los, no ano de 1911, coletado das calçadas da É possível realizar um dos trabalhos do pa-
número de rochas com pegadas de dinossau- cidade por um engenheiro de minas chama- leontólogo ao organizar uma verdadeira “caça
ros, mas nenhuma com ossos desses animais. do Joviano Pacheco. Até hoje, a região onde ao dinossauro” pelas ruas e avenidas de São
Isso aconteceu porque o ambiente desértico se localizam as cidades de Araraquara e São Carlos, uma vez que algumas das calçadas
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mais antigas da cidade foram pavimentadas
com rochas de pedreiras que apresentam es- SAIBA MAIS - ENDEREÇOS DE LOCAIS DE SÃO CARLOS EM QUE HÁ PEGADAS FÓSSEIS NAS CALÇADAS URBANAS.
25
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 19
SAIBA MAIS - ENDEREÇOS DE LOCAIS DE SÃO CARLOS EM
QUE HÁ PEGADAS FÓSSEIS NAS CALÇADAS.
Tabela 2.
20 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
SAIBA MAIS - ENDEREÇOS DE LOCAIS DE SÃO CARLOS EM
QUE HÁ PEGADAS FÓSSEIS NAS CALÇADAS.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 21
Tabela 3.
SAIBA MAIS - ENDEREÇOS DE LOCAIS DE SÃO CARLOS EM
QUE HÁ PEGADAS FÓSSEIS NAS CALÇADAS.
22 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
Tabela 4.
SAIBA MAIS - ENDEREÇOS DE LOCAIS DE SÃO CARLOS EM
QUE HÁ PEGADAS FÓSSEIS NAS CALÇADAS.
Tabela 5.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 23
A região de São Carlos é conhecida tam- 26a 26c
bém por ter a única prova da existência de
mamíferos do Período Cretáceo no Brasil: o
Brasilichnium elusivum, que viveu aqui há 135
milhões de anos. As pegadas desse animal,
parecido com um pequeno gambá, foram
descobertas em 1976, por Giuseppe Leonar-
di, padre e paleontólogo italiano que viveu no
Brasil durante 10 anos.
Voltando à história do Gondwana, a sepa-
ração dos continentes do sul, para se chegar
à atual configuração, ainda levaria muitos mi- 26b
lhões de anos. Inclusive, essa “dança dos con-
tinentes” continua até hoje. Como, por exem-
plo, a África, que se separa da América do Sul
em média quatro centímetros por ano. Cal-
cula-se que há 135 milhões de anos, enquan-
to ainda existia o paleodeserto, no centro do
Gondwana, ocorreu um dos maiores eventos Fonte: Aline M. Ghilardi26
24 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
rou a África e a América do Sul em direções No entanto, tais mudanças também favore- E as transformações do clima e do relevo
opostas e deu origem ao Oceano Atlântico. O ceram o aparecimento de rios que até então continuaram: por milhões de anos, os sedi-
clima da região mudou muito, bem como a não existiam no grande deserto que era a re- mentos e magma se acumularam, originando
paisagem. Essas mudanças todas causaram a gião de São Carlos. novas rochas. O peso dessas rochas fez com
modificação e a destruição do ambiente onde que as camadas de depósitos se deformas-
Fonte: Christofer R. Scotese, 201630
viviam vários animais e plantas, levando à ex- sem. Estas rochas também se desgastaram
tinção muitas espécies. ao longo dos do tempo e, por isso, mais sedi-
Fonte: http://publicadosbrasil.blogspot.com.br/28 mentos se acumularam na Bacia do Paraná,
28
que afundou centenas de metros e originou
outra bacia, chamada Bacia Bauru.”
Por causa de várias mudanças ambientais,
muitos rios que nasciam ao redor da região
CONCEITO - EXTINÇÃO
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 25
acabaram mudando seu curso para dentro da as de relevo elevado que aprisionam os rios e
nova bacia sedimentar, a Bacia Bauru. Junto promovem o escoamento de água do relevo CONCEITO - PLACAS TECTÔNICAS
com os rios, uma grande quantidade de sedi- de maior altitude para o de menor altitude, As placas tectônicas são subdivisões da crosta
mentos também foi depositada nessa nova ba- onde os rios, ao escoarem pela força de gra- terrestre que se movimentam de forma lenta e
cia, criando um novo relevo para a paisagem. contínua sobre o manto, que é uma das cama-
das que formam o planeta Terra e que fica logo
Durante os períodos Paleogeno e Neogeno abaixo da superfície terrestre. Como o interior
CONCEITO - FORMAÇÃO DE UM RIO
(de 65,5 milhões a 1,8 milhões de anos atrás), do Planeta ainda é muito aquecido e viscoso, es-
o movimento das placas tectônicas causou Existem várias maneiras de um rio se formar: sas placas se aproximam ou se afastam e, algu-
por causa do derretimento do gelo nos picos mas vezes, é possível sentir os movimentos na
falhas na superfície onde ficam o Rio Tietê e o
das montanhas, da água de lagos ou por cau- forma de terremotos ou maremotos (terremo-
Rio Mogi-Guaçu. Muitos rios, dentre eles o Rio sa de águas subterrâneas que afloram na su- tos que acontecem no mar), quando as placas
Paraná, também ajudariam a formar e mode- perfície, formando primeiro o que é chamado se chocam ou deslizam entre elas. Há aproxima-
de “olho d’água”. Mas todos eles correm natu- damente 240 milhões de anos, só existiam duas
lar o relevo da Bacia do Paraná.
ralmente de uma área mais alta do relevo em grandes placas: a Laurásia e o Gondwana, mas,
No decorrer dos períodos Neogeno e Qua- direção a outra mais baixa e, geralmente, desa- com o tempo, elas foram sofrendo transforma-
ternário, todos esses eventos manifestaram- guam em outro rio, em um lago ou no mar. ções e se dividiram em 55 diferentes placas.
26 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
vidade pelo caminho que oferece menor re-
sistência, escavam a paisagem, constituindo
assim um sistema de drenagem.
No final do Período Pleistoceno, há apro-
ximadamente 15 mil anos, o clima da região
33 onde hoje se situa São Carlos era muito, mas
muito mais frio que hoje. Para alguns botâni-
cos e paleontólogos, esse clima é o motivo da
presença atual de araucárias (Araucaria angus-
tifolia) nessa região, uma vez que elas são árvo-
res adaptadas aos climas frios, como os do sul
do País. Com o tempo, o clima foi esquentando,
mas algumas árvores resistiram, adaptando-se
e reproduzindo-se, de maneira que ainda se
34
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 27
encontram araucárias em São Carlos. 35 37
Durante o Período Holoceno (de 11,5 mil
anos atrás até o presente), rios como o Tietê,
o Mogi-Guaçu e o Jacaré-Guaçu transforma-
riam ainda mais a paisagem, gerando as pla-
nícies de inundação, áreas de relevo plano e
baixo onde as águas dos rios extravasam na
época das chuvas, inundando o entorno.
Sabe aquele ditado, “água mole em pedra Fonte: http://meioambiente.culturamix.com/37
dura, tanto bate até que fura”? Pois foi exa- Fonte: Everson José de Freitas Pereira 35
Figura 37 – Erosão fluvial, ou seja, a água do rio, ao passar pelas rochas, vai desgastando e abrindo caminho por entre elas.
Figura 38 – Bacia hidrográfica.
Figura 39 – Migração humana até chegar ao Brasil.
28 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
Os primeiros habitantes das Américas saí- do Pacífico, que os ajudou também a chegar à
E O SER HUMANO, ONDE ESTAVA
ram da Beríngia – uma área que hoje fica em- América do Sul e ocupá-la, e outra que provavel-
NESSA HISTÓRIA TODA? baixo d’água (submersa), entre o Alasca e a mente foi muito importante para a ocupação da
Sibéria. Essa área, há mais ou menos entre 15 América do Norte. Durante dois mil anos, essas
A partir de uma pesquisa realizada com o
mil e 17 mil anos, ligava os continentes ame- duas vias de acesso podem ter sido usadas vá-
DNA de 70 mil indivíduos que vivem atualmente
ricano e asiático. rias vezes pela população que chegava da Ásia.
no mundo, sendo 1.338 brasileiros, pesquisa-
Arqueólogos, como Valter Neves, pesquisa- Teriam existido dois grupos que chegaram
dores chegaram à conclusão de que a ocupa-
dor da Universidade de São Paulo, acreditam aqui nas Américas: o primeiro seria de ances-
ção do continente americano pelos primeiros
que esses primeiros habitantes usaram duas trais dos atuais aborígines australianos, que
grupos humanos, os paleoíndios, foi realizada
rotas para chegar às Américas: uma pela costa teriam saído do sul da China atual e chega-
por pelo menos dois movimentos migratórios.
do ao continente americano há aproximada-
Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/cranio-encontrado-no-brasil-altera-historia-da-ocupacao-das-americas-2107969839
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 29
Das sementes que brotaram em locais mais arqueológicos da região (Boa Esperança do Sul
PASSAGEM DOS INDÍGENAS PELA
frios nasceram araucárias que acabaram se re- e Araraquara), foram encontradas lascas de
REGIÃO DE SÃO CARLOS produzindo e ainda podem ser encontradas. pedra que serviam de raspadores e lâminas
Para os pesquisadores, a ocupação dessa em acampamentos muito antigos, de 1.000 a
Na época da colonização do Brasil, a região
região estaria diretamente ligada também à 3.000 anos atrás (ou, como dizem os arqueó-
que compreende São Carlos e outras cidades
movimentação e ao deslocamento de grupos logos, 1.000 a 3.000 anos A.P. – antes do pre-
vizinhas (Araraquara, Brotas, Rio Claro etc.) era
indígenas. Estudos e achados arqueológicos sente). Em outros sítios arqueológicos, perto
um grande sertão, de vegetação bem fechada,
na região mostram que a ocupação dessas de Rio Claro, foram encontradas pontas de fle-
chamado Sertões de Araraquara. Seus habi-
terras aconteceu em dois momentos diferen- chas que os arqueólogos acreditam ter mais de
tantes originais, os indígenas, já conheciam es-
tes e começou antes de os portugueses che- 6.000 anos A.P.
sas terras, mas os colonizadores europeus não.
garem ao Brasil.
A vegetação, nessa época, era um pouco dife-
Primeiro, foram grupos de caçadores, cole- 40
rente de como a conhecemos hoje. Um exem-
tores, pescadores, que não plantavam nem fa-
plo é que existiam muito mais araucárias na
ziam objetos de cerâmica. Eles comiam o que
região. Alguns pesquisadores acreditam que os
caçavam e pescavam e as frutas e os vegetais
indígenas que andavam por todas as partes do
que coletavam nas matas. Em alguns dos sítios
País tinham uma relação direta com a presença
desse tipo de árvore. Isso porque eles teriam
Figura 40 – Sítio arqueológico na região de Araraqua-
trazido sementes da araucária e plantado aqui. ra, com o corte da terra mostrando alguns artefatos Fonte: Robson Rodrigues40
em diferentes níveis do solo.
Figura 41 – Artefato cerâmico encontrado em um
canavial próximo a Araraquara. Era um local onde os
SAIBA MAIS – SERTÕES DE ARARAQUARA índios produziam potes de cerâmica para diversas fi-
nalidades.
30 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
O segundo grupo era formado por agriculto- vamente. Nesse descanso, recompõem-se os
CONCEITOS - SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS res ceramistas, povos tupis e guaranis que se nutrientes e, enquanto isto, o plantio se faz em
Sítios arqueológicos são locais onde ficaram deslocaram para aquele que atualmente é o Es- outros terrenos. Além disso, esses povos domi-
preservadas evidências de culturas passadas tado de São Paulo por volta do século V, prove- navam a técnica de produzir potes cerâmicos,
de povos que ali viveram. Hoje se conhece par- nientes do sul do Brasil. Eles também caçavam, que serviam para várias finalidades. Vestígios
te dessa cultura pesquisando-se objetos, ossos,
estátuas, roupas e pedaços de construções en-
pescavam e coletavam frutas e vegetais nas ma- desses potes encontrados por arqueólogos in-
contrados nesses locais. tas, mas a diferença é que já praticavam a cha- dicam que eram usados como urnas funerárias
mada agricultura de coivara, a qual consiste em (igaçabas), nas quais se conservavam os restos
deixar o solo descansar antes de cultivá-lo no- dos mortos. Outros, com pinturas coloridas e
42 desenhos geométricos, eram utilizados para di-
44
versas práticas, inclusive a culinária. Acredita-se
que esse grupo praticava a agricultura porque
o solo da região era fértil e pescavam porque
havia muitos rios por perto.
Contudo, a região de São Carlos foi ocupada
também por grupos da tradição Aratu-Sapucai
e Jês, provenientes do Brasil Central, entre os
séculos IV e XVI, como mostram as descobertas
Fonte: Marcelo A. Fernandes44 em sítios arqueológicos da região do município
Fonte: Fernando José Cantele42
45 de Monte Alto.
43 Lá foram encontrados restos de fogueiras cir-
culares, cacos cerâmicos, utensílios em forma
de vasos e cuias ou tigelas de base plana. Os
arqueólogos encontraram também registros
de sepultamentos primários – quando o corpo
é enterrado diretamente no chão – e secundá-
rios – quando o corpo é colocado em urnas de
cerâmica escura e sem decoração.
Fonte: Marcelo A. Fernandes43 Fonte: Robson Rodrigues45
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 31
do a crosta rígida. Observa-se a Lua ao fundo, re- 11. Milhões de anos de evolução dos peixes até
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41. Artefato cerâmico encontrado em um canavial
26. Representação do mamífero (A) que produziu 33. Rios atuais que percorrem a superfície da próximo a Araraquara. Era um local onde os índios
as pegadas de Brasilichnium elusivum e dinossauros região onde já aconteceram muitas mudanças produziam potes de cerâmica para diversas finali-
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS 33
43. Artefatos líticos, ou seja, feitos de pedra las- 44. Pontas de flechas de pedra lascada, encon- 45. Igaçabas encontradas na região de Araraqua-
cada. FERNANDES. Marcelo A. Arquivo pessoal. tradas na região de Araraquara. FERNANDES. ra, expostas no Museu Histórico e Pedagógico
Marcelo A. Arquivo pessoal. Voluntários da Pátria, de Araraquara. RODRI-
GUES Robson. Arquivo pessoal.
34 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE I | SÃO CARLOS HÁ MILHÕES DE ANOS
SÃO CARLOS: AS SESMARIAS E SÃO CARLOS menores chamados sesmarias (lotes de ter-
ra com aproximadamente 150 a 600 mil km2,
FORMAÇÃO E
Oficialmente, o município de São Carlos foi ou seja, até uma área equivalente ao dobro
fundado no século XIX; no entanto, para en- daquela do Estado de São Paulo). Essa divi-
tender melhor a formação da cidade, é neces- são podia ser feita tanto pelo governo quanto
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 35
do Pinhal (a mais antiga, de 1781), a Sesmaria e, posteriormente, de origem africana. vam em pequenos vilarejos. Foi de um desses
do Monjolinho (que foi uma área de posse ir- Por esse modelo de exploração, o ouro en- pontos de descanso que surgiu o povoado
regular até 1811) e a Sesmaria do Quilombo 1
contrado na região de Cuiabá/Mato Grosso, de São Carlos, nos arredores do Córrego do
(uma área também irregular até 1812), onde no início do século XVIII, pertencia à metrópo- Gregório, área onde hoje ficam o Mercado
hoje ficam os distritos de Santa Eudóxia e le e era levado até portos marítimos, de onde Municipal e a Catedral. Assim, em meados do
Água Vermelha. partia de navio para Portugal. século XVIII, a região que viria a ser São Carlos
Até essa época (século XIX), a vegetação e a Para o ouro sair da região de Cuiabá e chegar era somente um povoado, local onde os via-
fauna no Estado de São Paulo mantiveram-se à região portuária, tinha de ser primeiramente jantes paravam para descansar quando pas-
bem preservadas, uma vez que o interior do carregado, no lombo de burros, por caminhos savam pelo Picadão de Cuiabá atravessando
Estado era ocupado por vilas, e as pessoas controlados pelo Estado português. Lembre-se os Sertões de Araraquara.
cultivavam pequenos terrenos e criavam ani- que esses caminhos não eram estradas como
mais domésticos para alimentação própria e as que conhecemos hoje, mas sim picadas, tri-
para um pequeno comércio. lhas no meio do mato abertas com facão.
Era muito importante que esses caminhos LOCALIZANDO – PICADÃO DE CUIABÁ
OS SERTÕES E O POVOADO DE SÃO fossem seguros, para evitar roubos e contra- O “Picadão de Cuiabá” cortava a região, que se
CARLOS bando, e sempre que um deles apresentava ris- configuraria na futura cidade de São Carlos, en-
trando pela atual Rua Raimundo Correia, subin-
cos aos interesses da Coroa Portuguesa, o ca-
do a ladeira da Rua Episcopal até a Rua XV de
Para enriquecer, as metrópoles europeias minho poderia ser abandonado e outro aberto. Novembro, em direção ao norte, até a Avenida
exploravam suas colônias de muitas manei- Um desses caminhos, feito em 1724, era Miguel Petroni (antiga estrada boiadeira), seguin-
ras: além de escravizar seres humanos, reti- do o traçado da estrada velha de Araraquara.
conhecido como “Picadão de Cuiabá”. Ele
“A estrada de Cuiabá seguia ao lado do rancho e
ravam das colônias matérias-primas, especia- atravessava os “Sertões de Araraquara”, pas- da venda de Inacinho Mineiro, vencendo a ladei-
rias, pedras e metais preciosos. sava por Rio Claro, Piracicaba, Itu, Sorocaba, ra pelo traçado da atual Rua Episcopal até inferir
Assim ocorreu na relação entre Portugal São Paulo e chegava a Santos, de onde o ouro para oeste no rumo da rua 15 de novembro, para
novamente ganhar o norte pela antigamente cha-
e sua colônia na América, o Brasil, por meio ia de navio para Portugal. mada estrada de boiadeiro, atual Miguel Petroni.
da exploração do pau-brasil, da cana-de-açú- Como muitos dos caminhos para transpor- Continuava seguindo élo traçado da estrada de
car – que trouxeram dos Açores e da Ilha da tar o ouro eram longos, as tropas de viajantes Araraquara, em direção à Capela São Bento já
existente desde 1817. ”
Madeira – e do ouro. Além disso, utilizaram, precisavam descansar durante a viagem, e al-
inicialmente, a mão de obra escrava indígena guns locais onde eles paravam se transforma- Fonte: NEVES, 19571
36 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
O pesquisador Oswaldo Truzzi2 conta que tal bispo diocesano por Jesuíno Soares de Arru-
SAIBA MAIS - CÓRREGO DO GREGÓRIO processo, em fins do século XVIII, decorreu de da e sua mulher, proprietários de parte da
intensa disputa entre membros de influentes antiga Sesmaria do Pinhal. Em 1857, um ano
Foi dado ao córrego este nome devido a um
posseiro, chamado Grégório, que vivia às suas famílias de Campinas, Itu e Piracicaba, para depois da construção da capela, São Carlos
margens. conseguir a concessão das sesmarias, ou do Pinhal foi fundada. Com a expansão da ati-
seja, de títulos que garantiriam a apropriação vidade cafeeira, na segunda metade do sécu-
47a e uso das terras nas regiões de Rio Claro, Bro- lo XIX, São Carlos cresceu rapidamente e, por
tas e São Carlos. volta de 1865, já havia ao seu redor seis ruas,
Naquele tempo, devido à estreita relação três no sentido norte-sul e três no sentido les-
entre o Estado monárquico e a Igreja Católica, te-oeste, com 10 quarteirões: Rua do Comér-
não poderia existir uma cidade sem capela, e cio (Avenida São Carlos), Santo Ignácio (depois
São Carlos só começou a construir a sua no Carvalho e atual Episcopal), Jathy (D. Alexan-
século XIX, por conta de um pedido feito ao drina), Itaquay (Jesuíno de Arruda), Riachuelo
(13 de Maio) e Paysandu (General Osório).
48c
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 37
ao plantio do café em áreas de terra roxa. Em outro, a prática de retirada das árvores para
CAFÉ, FERROVIA E URBANIZAÇÃO:
meados do século XIX, com a decadência da a plantação de café foi uma das grandes res-
TUDO ESTÁ RELACIONADO produção de café na região do Vale do Para- ponsáveis pelo desmatamento mais intenso
íba (região que fica entre os Estados de São dessa região. É importante lembrar que a re-
No final do século XVIII e início do século
Paulo e Rio de Janeiro), uma nova fase da ati- tirada da mata nativa vem desde o início da
XIX, a principal atividade econômica do inte-
vidade cafeeira começou no interior de São colonização, mas, naquela época, o corte das
rior paulista era a agricultura, destacando-se,
Paulo, no chamado Oeste Paulista que, na árvores era menor, apenas para que os co-
inicialmente, o açúcar, e mais tarde o café, en-
verdade, não fica no oeste geográfico do Es- lonos plantassem roças de onde tiravam seu
tre outros produtos. Os municípios de Soro-
tado de São Paulo, mas na região central. sustento.
caba, Piracicaba, Mogi-Guaçu, Jundiaí, Itu, Por-
Se, de um lado, o café ajudou no crescimen- Com o desenvolvimento da atividade cafe-
to Feliz, Campinas e Mogi-Mirim tornaram-se
to da população e urbanização da cidade, por eira na região conhecida como Oeste Paulista,
grandes produtores de açúcar em São Paulo,
embora as províncias da Bahia, Pernambuco
e Rio de Janeiro fossem as responsáveis pela 49
maior parte de sua produção no Brasil.
A cultura de cana-de-açúcar não foi muito
importante em São Carlos, uma vez que seu
solo predominantemente arenoso, por ser
ácido e pobre em nutrientes, não era consi-
derado adequado para o cultivo desse pro-
duto, e ainda não havia conhecimento cientí-
fico e tecnológico adequado para modificá-lo.
Oswaldo Truzzi diz que na primeira metade
do século XIX “o lugarejo não passava de pon-
to de pousada para viajantes vindos de Rio
Claro, que seguiam rumo a Araraquara, mais
adiante”.
Fonte: Projeto AFLORAR - espaços educadores1
O grande desenvolvimento econômico da
Figura 49 - Mapa da expansão cafeeira para a região de São Carlos
Vila de São Carlos esteve diretamente ligado
38 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
ao longo do século XIX, aumentou também a Começou então a aumentar o interesse porto de Santos, de onde as sacas eram ex-
população negra da cidade, porque os fazen- dos fazendeiros em enviar sua produção di- portadas para outros países.
deiros utilizavam mão de obra escrava para retamente de São Carlos para Santos, o que, Nessa época, São Carlos era a terceira
plantar, colher, secar e ensacar o café, além com todo o dinheiro e poder que tinham na maior produtora de café do País, uma das ra-
de outras atividades. Em apenas 10 anos (de época, conseguiram: em 1884, a Companhia zões que fez D. Pedro II visitar a cidade em
1874 a 1884), a população escrava da cidade Rio-Clarense de Estrada de Ferro chegava à 1886, quando ainda governava o Brasil. A car-
mais que dobrou, de 1.568 indivíduos para cidade, e a produção de café podia ser des- ruagem que ele usou para passear na cidade
3.774. E esse número continuou bem alto até tinada com mais facilidade e rapidez para o ainda pode ser vista no Museu de São Carlos.
o fim oficial da escravidão no Brasil, em 1888.
Fontes (a, b): Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos; (c) – Silvia Aparecida Martins dos Santos5
Boa parte desses homens e mulheres eses
cravizados, que vinham para trabalhar nas fa-
zendas do Estado de São Paulo, era trazida
das fazendas de municípios vizinhos e mes-
mo de outros lugares onde a atividade eco-
nômica estava em decadência, como Minas
Gerais e o nordeste do Brasil, formando um
mercado interno de escravos.
Com o passar do tempo, as fazendas de
50a 50b
café cresceram e se desenvolveram, aumen-
tando a quantidade desse produto. Porém,
para ser exportado, o café ainda precisava
passar por outras cidades para ser levado ao
porto de Santos de trem, já que São Carlos
ainda não fazia parte da malha ferroviária do
café.
50c
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 39
Em 1884, foi inaugurada a estação ferrovi- Na mesma época, em 1876, a região havia até a abolição da escravidão, em 1888, vá-
ária, cujo prédio é o mesmo até hoje. A cons- assistido à chegada do primeiro grupo de imi- rias leis foram aprovadas. Essa sequência de
trução da ferrovia impulsionou o crescimen- grantes italianos trazidos por Antonio Carlos leis beneficiou os fazendeiros do café, que ga-
to urbano, pela demanda por moradias para de Arruda Botelho (futuro Conde do Pinhal) nharam tempo para substituir aos poucos a
seus operários e empregados. Estes se insta- – um dos maiores latifundiários da região – mão de obra escrava pela do imigrante. Assim,
laram na Vila Prado, um dos bairros mais anti- para trabalhar em suas fazendas, substituin- o Brasil foi o último país do continente ameri-
gos da cidade. Em 1892, a Companhia Paulis- do a mão de obra escrava. cano a abolir a escravidão.
ta de Estrada de Ferro compra a Companhia A substituição da mão de obra escrava pela Com a abolição da escravidão, mais de três
Rio-Clarense. do imigrante não aconteceu de uma só vez e, mil escravos negros foram libertados em São
Carlos. Alguns se mudaram para a então pe-
Fonte: (a, b, c) Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos; (d): Rita de Cássia de Almeida
riferia da cidade e outros continuaram a vi-
ver e trabalhar nas fazendas, mesmo sendo
discriminados, recebendo salários inferiores
aos pagos para os imigrantes italianos ou, às
vezes, não recebendo salário nenhum.
Parte do dinheiro gerado com o comércio
51a 51b
do café começou a ser investido no desenvol-
40 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
vimento da cidade, que passou a ter bancos, 52a 52b 52c
casas de comércio e fábricas, muitas delas
ligadas de alguma maneira ao café, como fá-
bricas de sacos de estopa (para ensacar os
grãos), dormentes (usados na ferrovia), bem
como outras que serviam para abastecer a
população, como fábricas de móveis. Fonte: (a) - Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos; (b, c): Rita de Cássia de Almeida7
Fonte: (a) - Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos; (b, c, d) Silvia Aparecida Martins dos Santos9
Figura 52 –Casarão da Rua 13 de Maio construído na década de 1890 (a) registro de 1940 e (b, c) 2017.
Figura 53 - Casarão da Rua 9 de julho com Rua Sete de Setembro (construído pelo fazendeiro Dr. Valdomiro Caleiro em
1925. Foi adquirido pelo Bispo D. Rui Serra para ser o segundo Palácio Episcopal que funciona até hoje ao lado da Curia
Diocesana), (a) sem data de registro; (b, c) – 2018.
Figura 54 - Casarão do Major José Inácio de C. Penteado (ano de construção: sem data de registro) (a) registro de 1920,
local que em 1923 passou a funcionar o Colégio Diocesano La Salle; (b, c, d) – 2018, dentro do Colégio Diocesano La Salle.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 41
55 56a 56b 56c
Fonte: (a, b) - Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos; (c, d, e) Silvia Aparecida Martins dos Santos12
57e
Figura 55 - Palácio Episcopal - esquina da Rua Episcopal com a Rua Visconde/Conde do Pinhal (atual Sete de Setembro) (ano de construção:
1890, casarão construído por Abreu Sampaio e adquirido pelo bispado são-carlense após sua morte), registro de 1910. Foi demolido no início
da década de 1980, para construção do Banco BANESPA, atualmente Banco Santander.
Figura 56 - Fórum e Cadeia (ano de construção - 1890); na década de 1950 é batizado por Edifício Euclides da Cunha, (a) registro de 1960, (b,
c) 2018, atual Câmara Municipal.
Figura 57 - Palacete Conde do Pinhal (ano de construção: 1893) - (a, b) sem data de registro, (c, d, e) atual.
42 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
tinha 6.897 habitantes, mais de dois terços
CURIOSIDADES SOBRE SÃO CARLOS SÃO CARLOS: DIFERENTES
da população de Araraquara, da qual era
PAISAGENS
distrito até 20 anos antes.
• O primeiro cemitério ficava onde hoje é a
Igreja São Benedito, entre as ruas General Hoje, andando pelo município de São Car-
• São Carlos passou por um grave surto de fe-
Osório e Nove de Julho, o que na época era los, podemos ver diferentes tipos de paisa-
bre amarela entre os anos de 1896 e 1904,
fora da cidade. Com o crescimento da cida- gens. Na zona rural há paisagens naturais e
que provocou muitas mortes e levou as pes-
de, foi necessário um novo cemitério, cons- modificadas. As paisagens naturais variam
soas a abandonarem o povoado e a se re-
truído em 1882, na Vila Nery, onde hoje fica de fisionomias mais abertas (vegetação de
fugiarem nas fazendas e povoados vizinhos.
o Estádio Ruy Barbosa. menor porte) até manchas de vegetação
fechada, além de locais de áreas alagadas
• Atualmente, a maioria da população do Mu-
• Em 1873, a Vila de São Carlos do Pinhal já (vegetação de várzea). Já entre as paisagens
nicípio de São Carlos está concentrada na
possuía um razoável número de profissio- modificadas, que hoje predominam em de-
área urbana, mas nos primeiros 80 anos da
nais para a época: 3 advogados; 2 médicos corrência dos ciclos econômicos agrícolas e
cidade a área rural tinha mais habitantes. Foi
práticos; 2 farmacêuticos; 11 lojas de teci- pastoris, destacam-se as culturas da cana-
a partir da década de 1930, com os efeitos
dos; 27 lojas de comidas ou, como eram cha- -de-açúcar, laranja, eucalipto, e as criações
da crise do café, que o número de pessoas
madas, “armazéns de molhados”; 4 alfaiates; de gado para a produção de carne e leite e a
que viviam na cidade ultrapassou aquele das
1 alugador de animais; 1 bilhar; 18 carpintei- própria urbanização.
pessoas que moravam no campo.
ros; 3 ferradores; 3 ferreiros; 2 fogueteiros,
responsáveis por colocar o carvão na forna- POR QUE AS PAISAGENS NATURAIS SÃO
lha dos antigos trens; 4 funileiros; 1 hotel; 1 TÃO DIFERENTES?
maquinista; 4 marchantes, profissionais que SAIBA MAIS – CRISE DO CAFÉ
trabalhavam no abatedouro; 2 marceneiros; Na crise de 1929, a produção dos grãos era É preciso entender que não é um único
2 padeiros; 5 pedreiros; 6 sapateiros; 4 selei- muito maior que seu consumo no exterior. As fator que determina a paisagem, mas uma
ros e 2 torneiros. fazendas brasileiras continuavam a plantar o
interação entre os elementos formação ge-
café, mas os Estados Unidos da América, maior
consumidor do café brasileiro, estava em crise ológica, clima, relevo e as ações dos seres
• Esse crescimento se confirmou em 1874, e não comprava mais. Com isso, o preço do humanos (antrópica), tais como fogo, corte
com a realização de um recenseamento, no café diminuiu muito e muita gente rica perdeu
da vegetação para atividades agropecuárias,
sua fortuna da noite para o dia.
qual se viu que a Vila de São Carlos do Pinhal aterros e outras.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 43
Considerando que a área ocupada pelo mu- cas, que no processo de intemperismo deram inferior a 18oC e a do mês mais quente ultra-
nicípio de São Carlos apresenta latitude, lon- origem a sete diferentes tipos de solos. passa 22oC. O total de chuvas do mês mais seco
gitude e altitude com pouca variação, o clima não atinge 30 mm (ficando a umidade relativa
não apresenta grandes alterações, sendo as QUE TIPO DE CLIMA TEMOS EM SÃO do ar em torno de 20%) e, no mês mais chu-
formações geológicas, os solos e o relevo, os CARLOS? voso, atinge valores 10 ou mais vezes maiores
principais fatores que contribuem para a dife- (chegando a quase 100% de umidade relativa).
renciação das paisagens. A região apresenta O clima local é considerado como tropical O período seco compreende o intervalo de ju-
substrato rochoso composto por rochas mag- de altitude, clima quente com inverno seco, no nho a agosto, embora com déficit hídrico mais
máticas básicas (basalto e diabásio) e areníti- qual a temperatura média no mês mais frio é intenso possa variar de abril a setembro3.
44 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
COMO SE APRESENTA O RELEVO?
SAIBA MAIS – TIPOS DE SOLO E DE VEGETAÇÃO
O município de São Carlos está localizado Tipos de solos que ocorrem no município de São Carlos, sua fertilidade, características e associação com a
vegetação original
na borda do Planalto Ocidental Paulista, uni-
dade Planalto Residual de São Carlos, com
relevo suavemente ondulado a ondulado, de
colinas amplas e arredondadas, e paisagens
aluviais controladas por afloramentos basálti-
cos em fundos de rios. Este planalto apresen-
ta cumes escarpados com altitudes de 900 a
mil metros, virados para o sudeste, irregula-
res e ondulantes, formando padrões geoló-
gicos curiosos como mesas, pilões e morros
testemunhos, que se destacam bruscamente
das áreas corroídas circundantes. Perto da
base das escarpas e subindo da sua parte su-
perior desde tempos imemoriais, a vegetação
intrincada e densa cresceu, alimentada por
manchas irregulares de solo vermelho, resul-
Perfil teórico, sem escala, das camadas geológicas de São Carlos.
tante da decomposição de rochas basálticas
Fonte: SOARES, João Juares et al. 2003 (não publicado)14.
de fluxos de lava antigos.
59
QUE TIPOS DE SOLOS SÃO ENCONTRADOS
NO MUNICÍPIO?
Figura 59
São oito os tipos de solo encontrados no
Município, e a cada um deles correspondia um
tipo de vegetação original aí encontrada.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 45
QUAIS SÃO AS PAISAGENS NATURAIS
CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO DE SÃO
CARLOS? 60
46 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
Fonte: Projeto AFLORAR - espaços educadores1
62
61
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 47
metros de altura. As folhas de algumas espécies pa), a orelha-de-macaco (Enterolobium con-
FLORESTA ESTACIONAL
podem cair todas ou em grande parte durante tortisiliquum), o ingá-banana (Inga striata), o
SEMIDECIDUAL a seca. Esta é uma adaptação das plantas para araribá (Centrolobium tomentosum), a louveira
evitar a transpiração, economizando água du- (Cyclolobium vecchi), a embira-de-sapo (Lon-
O Estado de São Paulo apresenta três gran-
rante essa época do ano. chocarpus guilleminianus), o jacarandá-de-es-
des formações vegetais: as florestas úmidas de
Por causa dessa perda das folhas, esse tipo pinho (Machaerium aculeatum), o bico-de-pa-
encosta (como a Mata Atlântica), na província
de formação recebe o nome de floresta esta- to (Machaerium nyctitans), o pau-de-malho
do planalto atlântico e na província costeira; os
cional semidecidual (estacional significa estação (Machaerium stipitatum), o óleo-de-cabreúva
cerrados, no oeste-noroeste da província do
climática bem definida – seca ou úmida; semi (Myroxylon peruiferum), o faveiro (Platypodium
planalto ocidental; e, entre essas duas forma-
quer dizer metade; e decidual significa que cai elegans), o limão-bravo (Siparuna guianensis), a
ções, a depressão periférica, coberta em sua
– ou seja, floresta na qual parte das espécies figueira (Ficus enormis), a figueira-branca (Ficus
maior parte por uma formação florestal mais
perde as folhas na estação seca). guaranitica) e a tajuba (Maclura tinctoria).4
seca que a atlântica e menos xeromorfa que o
Exemplos de árvores dessa formação são
cerrado, denominada de “floresta estacional se-
o jequitibá branco (Cariniana estrellensis), je-
midecidual” ou “floresta mesófila”.4 SAIBA MAIS – NOMES CIENTÍFICOS
quitibá rosa (Cariniana legalis), o pau-jacaré
Essa formação pode ser encontrada na Re-
(Piptadenia gonoacantha), o guatambu (Aspi- Os nomes entre parênteses são os nomes cien-
serva de Floresta Estacional Semidecídua, na
dosperma ramiflorum), a peroba-rosa (Aspidos- tíficos das plantas, escritos em latim. Por meio
Fazenda Canchim, de propriedade da Embrapa do nome científico, uma determinada planta
perma polyneuron), o pau d’alho (Gallezia go-
Pecuária Sudeste (CPPSE), localizada no muni- pode ser identificada em qualquer região do
nazema), o canchim (Pachystroma longifolium), Brasil ou do mundo pela mesma denominação.
cípio de São Carlos, entre 21°55’ e 22°00’ sul
o pau-marfim (Balfourodendron riedelianum), Por exemplo: a planta que no Estado de São
e 47°48’ e 47°52’ oeste. O fragmento fica ao Paulo conhecemos por “mandioca”, no Nor-
a caroba (Jacaranda micrantha), o ipê felpudo
lado da sede da Fazenda e encontra-se a apro- deste chama-se “macaxeira” ou “aipim”, mas
(Zeyheria tuberculosa), a paineira (Ceiba spe-
seu nome científico não muda, continua sendo
ximadamente oito quilômetros do perímetro
ciosa), o jatobá (Hymenaea sp), a almecegueira Manihot esculenta. Com os animais acontece a
urbano. Além disso, exemplares dessa vegeta- mesma coisa: por exemplo, em todo o mundo a
(Protium heptaphyllum), a laranjeira-brava (Ac-
ção podem ser encontrados nos bairros Jardim capivara recebe o nome de Hydrochoerus hydro-
tinostemon communis), a canelinha (Nectandra
Gonzaga e Botafogo e nos bosques do bairro chaeris. O nome científico é sempre escrito em
megapotamica), a canela-preta (Ocotea corym- latim porque é uma língua considerada “morta”,
Santa Marta.
bosa), a canela-sassafrás (Ocotea odorifera), o ou seja, que já não é falada em nenhum lugar
As suas árvores geralmente possuem tron- do mundo e que, por isto, não sofrerá mais al-
angico-branco (Anadenanthera colubrina), o
cos lisos, com ramos que variam de 10 a 30 terações.
angico-vermelho (Anadenanthera macrocar-
48 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
63b 63c
63a
63f
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 49
64
Figura 64 - Floresta Estacional Semidecidual Parque
Estadual de Vassununga: perfil da mata.
Figura 65 – Floresta Semidecidual com Araucária.
exóticas, para produção de lenha e de celulo- de São Paulo, que ocorriam junto com as es-
FLORESTA ESTACIONAL
se para papel. pécies da floresta estacional semidecidual. A
SEMIDECIDUAL COM ARAUCÁRIA São Carlos foi considerada a região com floresta com araucárias chegou a ocupar 4%
o limite inferior de altitude da ocorrência de
No início da colonização brasileira pelos eu- bosques de araucária no interior do Estado
LEGISLAÇÃO - ARAUCÁRIAS
ropeus, essa floresta se estendia do sul dos
Estados de Minas Gerais e São Paulo até o No município de São Carlos, o decreto no 133,
sul do Rio Grande do Sul, avançando também SAIBA MAIS – NOME DE SÃO CARLOS de 20 de setembro de 2001, proíbe o corte das
araucárias e a lei municipal nº 12.988/2002 ins-
pela Argentina. Por aproximadamente 150 Você sabia que até 1908 a cidade se chamava titui o dia 25 de abril como o Dia Municipal da
anos, as araucárias foram derrubadas devido São Carlos do Pinhal por causa da grande quan- Araucária. Em 2005, por meio do decreto pre-
à exploração madeireira. Algumas áreas an- tidade de araucárias que existiam por aqui? sidencial no 5.433 de 20 de abril, o dia 24 de
Que essa árvore está presente nos principais junho foi instituído como Dia Nacional da Arau-
tes ocupadas por essas árvores deram lugar
símbolos da cidade: no brasão e na bandeira? cária.
às plantações de pinus e eucaliptos, espécies
50 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
do território do nosso município, nas áreas e bacia hidrográfica do Rio Monjolinho), Car-
Figura 66 –Araucárias nos bairros: (a) Jardim Ricetti;
com altitude acima de 600 metros e com pre- dinali, Jardim Ricetti, Botafogo (microbacia hi- (b) Planalto Paraiso
sença de solos férteis (alteração do basalto). drográfica do Córrego do Gregório). Na área
66a
rural, estavam presentes na estrada Domin-
DE ONDE VIERAM AS ARAUCÁRIAS? gos Innocentini, que liga São Carlos à Represa
do Broa, e ao longo da rodovia Washington
A distribuição das araucárias no Brasil foi Luis, próximo ao Posto Castelo (bacia do Ri-
muito mais ampla em um passado remoto. beirão Feijão). Essa vegetação foi desapare-
Assim, duas são as teorias possíveis para ex- cendo em consequência da intensa devasta-
plicar a sua presença no município de São ção que ocorreu a partir do século XIX, para
Carlos: dar lugar às lavouras cafeeiras, e por possuir
madeira de alta qualidade, muito utilizada
- Teoria paleoclimática – que afirma ter ha- para mobiliário e diversos outros fins.
vido um paleoclima no terciário, muito mais
frio e seco, quando as araucárias teriam per- O QUE RESTOU DAS ARAUCÁRIAS NO
manecido apenas nas regiões com condições MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS?
ecologicamente favoráveis de altitude e ferti-
lidade do solo. O que observamos hoje são árvores isola-
das, como aquelas que você pode ver no Pla-
- Teoria antrópica – que apregoa que popula-
nalto Paraíso e no Jardim Ricetti.
ções indígenas teriam trazido sementes du-
rante o seu processo migratório e as teriam
plantado durante a sua estadia, que por ve-
zes durava muitos anos.
66b
Na área urbana, as araucárias ocorriam
onde hoje se localizam, por exemplo os bair-
ros Planalto Paraíso, Jardim Alvorada (micro-
bacia hidrográfica do Córrego do Mineirinho
Fonte: Silvia Aparecida Martins dos Santos20
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 51
A preocupação em repovoar a região de As matas ripárias são protegidas por lei
A MATA RIPÁRIA
São Carlos com essa espécie levou à propos- desde 1965, sendo por isso consideradas
ta de se plantar várias mudas em diferentes Áreas de Proteção Permanente (APP).
locais da cidade, tendo em vista que a recu- As matas ripárias acompanham pequenos Apesar disto, raramente são encontradas na
peração dessa vegetação de forma natural é e grandes cursos d´água. As chamadas ma- área urbana, devido ao crescimento das cida-
um desafio. Nela, existem indivíduos masculi- tas ciliares, assim denominadas porque lem- des, e muitas vezes estão ausentes também
nos (que produzem o pólen) e indivíduos fe- bram os cílios que margeiam os nossos olhos, na área rural, em decorrência das atividades
mininos (que produzem os óvulos). Para que aparecem nos rios cuja largura permite a vi- agropecuárias.
ocorra a fecundação, e consequentemente a sualização do curso d´água quando se so- Os cursos d´água protegidos pelas matas
formação de sementes (os pinhões), as arau- brevoa a vegetação. Já quando acompanham ripárias possuem uma rica fauna de inverte-
cárias masculinas e femininas devem crescer pequenos riachos ou córregos, são preferen- brados que vivem no fundo lodoso ou areno-
próximas. O problema é que só é possível dis- cialmente denominadas mata galeria, uma so dos córregos e rios, servindo de alimento
tingui-las depois que se tornam adultas e co- vez que a vegetação forma um tubo em torno para muitos peixes. Com a retirada dessas
meçam a produzir pólen ou óvulos, o que leva do corpo d´água como se fosse uma galeria. matas, muitos desses animais desaparecem,
de 10 a 15 anos. Além disso, a destruição das Em ambos os casos, são compostas por uma o que causa um empobrecimento de toda a
matas de araucária ocasionou o desapareci- vegetação densa que inclui desde espécies diversidade da fauna aquática. Essa situação
mento daqueles animais que se alimentariam herbáceas e arbustivas até árvores de grande é típica dos córregos localizados em áreas
dos pinhões (cotias, gralhas, esquilos e bu- porte. agrícolas, onde plantações de cana-de-açú-
gios) e, assim, contribuiriam para a dispersão
das sementes e, portanto, para a reprodução
dessas árvores. 67 68
52 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
car, por exemplo, chegam algumas vezes até
a borda dos cursos d´água. LEGISLAÇÃO – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)
As matas ciliares são ricas em espécies A Lei Brasileira nº 12.651, de 25 de maio de 2012, V - as encostas ou partes destas com declividade
como o genipapo (Genipa americana), o jato- que dispõe sobre a proteção da vegetação nati- superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cen-
bá (Hymenaea coubaril), a peroba (Aspidosper- va, entende por Área de Preservação Permanente to) na linha de maior declive;
(APP) qualquer área protegida, coberta ou não por IX - no topo de morros, montes, montanhas e
ma peroba), a embaúba (Cecropia pachysta- vegetação nativa, com a função ambiental de pre- serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e
chya), a samambaiaçu (Cyathea delgadii) e a servar os recursos hídricos, a paisagem, a estabili- inclinação média maior que 25°, as áreas delimi-
louveira (Cyclolobium vecchii). dade geológica e a biodiversidade (Art. 2). Para os tadas a partir da curva de nível correspondente
efeitos desta mesma Lei, no Art. 4, consideram-se a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação
As matas galerias caracterizam-se por pos-
APP, dentre outros casos: sempre em relação à base, sendo esta definida
suírem no seu interior pequenos córregos pelo plano horizontal determinado por planície
com maior umidade e baixa incidência solar, I - as faixas marginais de qualquer curso d’água ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos on-
natural, desde a borda da calha do leito regular, dulados, pela cota do ponto de sela mais próximo
o que favorece o desenvolvimento de uma
em largura mínima de: da elevação.
densa vegetação com espécies como o pal- a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de me-
mito (Euterpe edulis), a pindaíba (Xylopia bra- nos de 10 (dez) metros de largura; A mesma Lei dispõe também que, em áreas ur-
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água banas, ou seja, compreendidas nos perímetros
siliensis), a pinha do brejo (Magnolia ovata),
que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros urbanos definidos por lei municipal, as faixas
a casca de anta (Drimys brasiliensis), samam- de largura; marginais de qualquer curso d’água natural que
baias como o xaxim e trepadeiras, musgos e c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que te- delimitem as faixas de inundação poderá ter sua
liquens nos troncos das árvores. nham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros largura determinada pelos respectivos planos di-
de largura; retores e leis de uso do solo, ouvidos os conselhos
Apesar de sua importância ecológica e de d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água estaduais e municipais de Meio Ambiente.
sua conservação ser garantida por lei, esse que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) A supressão total ou parcial de vegetação em APP
tipo de vegetação é muitas vezes substituído metros de largura; requer prévia autorização do Poder Executivo Fe-
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água deral e só pode ser autorizada em caso de necessi-
por campos agrícolas e pastos, processo que
que tenham largura superior a 600 (seiscentos) dade, devidamente caracterizada em procedimen-
causa a perda de solo, o assoreamento dos metros; to administrativo próprio, visando a execução de
corpos d´água e a sua contaminação por agro- IV – as áreas no entorno das nascentes e dos olhos obras ou atividades de utilidade pública ou inte-
d’água perenes, qualquer que seja sua situação resse social, e quando não houver alternativa téc-
tóxicos, além de interferir na variação da tem-
topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) me- nica e locacional ao empreendimento proposto.
peratura da água no caso das matas galerias. tros;
As matas ripárias são consideradas impor-
tantes corredores naturais entre os ecossis-
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 53
temas, pois favorecem o deslocamento de por exemplo, dos rios São Francisco, Paraná e
O CERRADO
animais. Elas representam importantes refú- Tocantins. É também área de recarga do Aquí-
gios para o acasalamento, nidificação e ali- fero Guarani, um dos maiores mananciais de
mentação de muitas espécies animais, além O Cerrado é um dos principais biomas brasi- água doce subterrâneo do mundo.
de serem importantes por contribuir com se- leiros, o segundo em extensão, superado ape- A área predominante do Cerrado está con-
mentes para a recuperação e enriquecimento nas pela Floresta Amazônica. Contém grande di- centrada nos Estados do Piauí, Maranhão,
de outras áreas. Nelas se dá a troca de genes versidade biológica (um terço da biodiversidade Tocantins, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato
entre populações, o que garante a variabilida- do nosso país) e, por isso, é considerado uma Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
de genética, fator importante para a sobrevi- das 34 áreas mundiais prioritárias para a con-
vência das espécies. servação, conhecidas também como hotspots.
Em áreas urbanas, a mata ciliar é substi- Nas áreas de Cerrado encontram-se inúme-
tuída por construções, ruas e avenidas mar- ras nascentes e rios, tendo papel importante
ginais, processo que impermeabiliza o solo, como fornecedor de água para as principais
contribuindo para o rápido escoamento da bacias hidrográficas da América do Sul, como,
água pelas vias e, consequente, aumento do
volume dos corpos d’água logo depois das
chuvas, causando alagamentos. CONCEITO - HOTSPOTS 69
Tanto a recomposição da mata ciliar com es- Um hotspot de biodiversidade ou hotspot ecoló-
pécies originais como a reposição com outros gico designa uma área de relevância ecológica
tipos de vegetação são muito dificultadas, prin- por abrigar espécies endêmicas, ou seja, es-
pecíficas de uma determinada região. Os hots-
cipalmente devido à descaracterização do solo, pots de biodiversidade são identificados pela
particularmente nas áreas urbanas. Isto deveria Conservation International (organização criada
nos despertar para a urgência da preservação em 1987 e devotada à proteção da Natureza
e da biodiversidade) com base em sua riqueza
dos fragmentos remanescentes, consideran-
biológica e, portanto, na necessidade de sua
Fonte: Projeto AFLORAR – espaços educadores1
do a importância de seus serviços ambientais conservação. Segundo esta organização, por
(benefícios que as pessoas obtêm da Natureza mais reduzida que seja a área correspondente
a esses importantes biomas, nela se concentra
direta ou indiretamente, através dos ecossiste-
60% do patrimônio natural mundial (plantas e Figura 69: Mapa do Brasil com distribuição do Cerra-
mas, a fim de sustentar a vida no Planeta). animais). do, com destaque para o Estado de São Paulo.
Fonte: Reginaldo Sadao Matsumoto22
54 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
Originalmente, cerca de 50% do município O nome Cerrado (que significa fechado, to sensu); se o solo for menos arenoso, mais
de São Carlos era coberto por Cerrado; po- denso) foi dado pelas características da ve- úmido e rico em nutrientes, a vegetação será
rém, com a expansão das áreas urbanas e das getação, que possui arbustos e as árvores mais alta e densa (Cerradão).
atividades agrícolas e pecuárias, atualmente com ramos tortos que se entrelaçam. Apre- Geralmente, os solos do Cerrado são pro-
só restam fragmentos dessa formação vege- senta diferentes fisionomias que estão rela- fundos, porosos, com baixa retenção de água,
tal. Na área urbana, encontramos algumas cionadas principalmente ao regime hídrico e baixo teor de matéria orgânica e lenta decom-
pequenas manchas de Cerrado nos bairros às características do solo, como porosidade e posição da serapilheira, fatores que levam a
localizados nos limites do perímetro urbano, fertilidade. Se o solo for mais arenoso e pobre uma baixa concentração de nutrientes. Devi-
como Cidade Aracy, Novo Horizonte, Embaré, em nutrientes, as espécies vegetais tenderão do principalmente ao alto índice de alumínio
Bosque São Carlos e Samambaia. a ser mais baixas e espaçadas (Cerrado stric- e ferro, são bastante ácidos (pH entre 4 e 5,5),
70
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 55
SAIBA MAIS – CARACTERÍSTICAS DA VEGETAÇÃO
NA RAIZ – as árvores de Cerrado possuem raízes das garrafas de vinho). Essa camada serve para a luz do sol diminuindo o aquecimento. Com isso,
mais finas e mais profundas que as árvores da proteger a planta da perda de água, porque ela é a planta transpira menos e perde menos água. As
Mata Atlântica, por exemplo. As mais finas apare- impermeável (não deixa a água sair); do fogo (mui- folhas das plantas podem ter também uma grande
cem em grande quantidade, ficam emaranhadas to comum no Cerrado), por ser um isolante térmico, quantidade de pelos, cuja função também é refle-
e bem rentes ao solo, para poder absorver os nu- ou seja, evita que o calor passe; e dos animais, pois tir a luz do Sol. Em grande número de espécies de
trientes que são formados quando as folhas mor- ela tem um gosto muito ruim que a torna indese- Cerrado as folhas jovens possuem cores que vão
tas que ficam no chão se decompõem. As raízes jável. Na ponta dos ramos das plantas de Cerrado do vermelho escuro até o amarelo claro, para tam-
mais profundas ajudam a planta a se prender no existem também pelos com as mesmas funções de bém ajudar a refletir a luz solar.
solo e buscar água em uma maior profundidade. proteção. Mas é importante que você saiba que todas essas
NO CAULE – além de os caules serem tortos em NA FOLHA – para evitar a perda de água, além das modificações não são encontradas em uma só ár-
muitas espécies, eles também podem ter uma características já descritas no texto, normalmente vore, ou seja, algumas plantas têm pelos, outras fo-
grossa casca morta chamada de súber ou cortiça as folhas grandes são poucas e recobertas com lhas com cutina, algumas plantas perdem as folhas
(que lembra o material de que são feitas as rolhas uma espécie de cera chamada cutina, que reflete e outras as conservam.
71a 71b
56 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
dificultando também a absorção de nutrien-
tes pelas plantas. Com relação à disponibili-
SAIBA MAIS – CARACTERÍSTICAS DA VEGETAÇÃO
dade de água no solo, as árvores do Cerra-
72 do possuem raízes profundas para alcançar
o lençol freático, que facilmente atinge 20
metros de profundidade. Folhas miúdas, du-
ras e grossas ou com presença de pelos são
adaptações encontradas em várias espécies,
minimizando a perda de água e a herbivoria.
O Cerrado apresenta também um estrato
inferior composto por um tapete de gramíne-
as. Na época da seca, este tapete de plantas
herbáceas associado à camada de serapilhei-
ra favorece a propagação de incêndios que
ocorrem naturalmente provocados por raios
no início da época das chuvas. A adaptação
das plantas ao fogo é uma das características
mais conhecidas do Cerrado. Muitas árvores
têm casca grossa que protege os vasos con-
dutores de seiva e caules subterrâneos que
garantem a sobrevivência e a rebrota após o
incêndio.5
O fogo quebra a dormência de algumas se-
mentes e diminui o sombreamento, favore-
Fonte: Acervo CDCC26 cendo indiretamente a germinação de outras
sementes que precisam do Sol. Entretanto,
a repetição de incêndios em curto espaço
Figura 72 – Cerrado, cerrado com fogo e sua recuperação durante um período de 4 meses
de tempo – geralmente aqueles provocados
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 57
pela ação humana, uma vez que tendem a ou seja, aquelas que se adaptam melhor às lização geográfica restrita e, também, neces-
ser mais intensos e de difícil controle devido mudanças do ambiente como, por exemplo, sidades muito específicas em relação ao seu
à ausência de chuva - é deletéria, pois não o sapo-ferrero (Hypsiboas faber); a jararaca habitat.
permite que as populações de plantas se re- (Bothops moojeni); a maritaca (Psittacara leu- Os anfíbios apresentam uma maior biodi-
cuperem e que os animais se restabeleçam cophthalmus), que tem se tornado uma ave versidade em ambientes de floresta. As ma-
neste ambiente, podendo até mesmo causar urbana; o tucano toco (Ramphastos toco) e o tas são áreas mais úmidas e, como a pele
a extinção local de algumas espécies. macaco-prego (Cebus apella). Contudo, não desses animais é permeável à água (os anfí-
se deve pensar que mesmo estes animais es- bios perdem água em ambientes mais secos),
O QUE RESTOU DA FAUNA DA NOSSA tejam a salvo de uma possível extinção local. eles encontram nesses ambientes melhores
REGIÃO? Os animais mais exigentes, que precisam condições para viver e se reproduzir. Como
de áreas maiores de mata conservada para a devastação das matas foi intensa, os pes-
Por estar geograficamente localizada em buscar abrigo e alimentos, raramente são en- quisadores acreditam que alguns anfíbios te-
uma região de encontro de diferentes for- contrados em nossa região. Entre eles, temos nham desaparecido antes mesmo de terem
mações florestais, como o Cerrado, a Mata algumas aves de grande porte e comedoras sido identificados e ganhado um nome cien-
Atlântica de interior e remanescentes antigos de frutas, como a jacupemba (Penelope super- tífico.
de formação de araucárias, a fauna passada ciliaris) e o araçari do bico branco (Pteroglos- Os animais que habitavam os Cerrados
de nosso município também foi bastante di- sus aracari), e mamíferos como a paca (Agouti são-carlenses são os mesmos que vivem no
versa, com representantes típicos dessas três paca) e o gato-do-mato (Leopardus tigrinus). Cerrado brasileiro em geral. Alguns animais
formações, como nos contam registros histó- Outras espécies são consideradas raras mes- vertebrados ainda são abundantes: os répteis
ricos de exploradores e caçadores que anda- mo quando seu ambiente natural apresenta
ram por aqui. uma boa qualidade. Isso ocorre por caracte-
Destas formações originais existem pou- Figura 73 – Algumas espécies da fauna da região de
rísticas biológicas da própria espécie, como,
São Carlos: (a) Aranha-lobo (Lycosa erythrognatha); (b)
cos fragmentos de florestas preservados; a por exemplo, o caso do tatu-canastra (Prio- Buraqueira (Athene cunicularia); (c) Ema (Rhea ameri-
cana); (d) Galito macho (Alectrurus tricolor); (e) Gato
maioria das matas são capoeiras ou matas dontes maximus), animal naturalmente raro e Mourisco (Puma yagouaroundi); (f) Guaxinim (Procyon
lotor); (g) Jaguatirica (Leopardus pardalis); (h) Lobo-
muito modificadas pela ação humana. Assim, de difícil visualização. Tais espécies ficam ain- -guará (Chrysocyon brachyurus); (i) Onça-Parda (Puma
concolor); (j) Pica pau de banda branca (Dryocopus li-
os animais que habitam nossas florestas são da mais vulneráveis à extinção quando seus neatus); (k) Saí-azul (Dacnis cayana); (l) Sauá (Callicebus
aqueles mais tolerantes, as espécies que os ambientes sofrem algum tipo de impacto, personatus); (m) Siriema (Cariama cristata); (n) Tatu
(Euphractus sexcinctus); (o) Teiú (Tupinambis teguixim).
biólogos consideram ter maior elasticidade, pois apresentam baixa taxa reprodutiva, loca-
58 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
Fonte: (a, c, i) Reginaldo Sadao Matsumoto; (b, d, j, k, m) J.C. Motta- Junior; (h) Marcelo Leite; (e, g) Leandro Kenji Takao; (f) Pavel Dodonov; (l) Fernanda Maria Neri; (n) Juarez de Castro Cabral; (o) Patrícia Carneiro27
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 59
teiú (Tupinambis teguixin), jiboia (Boa constric- O urubu-rei (Sarcoranphus papa), a onça- -açúcar, e atacando os galinheiros ou fuçando
tor) e cascavel (Crotalus durissus); a ave serie- -pintada (Panthera onca), o tamanduá-ban- no lixo em bairros da periferia das cidades, o
ma (Cariama cristata); os mamíferos tatu-peba deira (Myrmecophaga tridactyla) e a anta (Ta- que o coloca com frequência em rota de con-
(Euphractus sexcinctus), tatu-galinha (Dasypus pirus terrestris) são encontrados em áreas flito com o ser humano.
novemcintus), veado-catingueiro (Mazana mais conservadas do Cerrado brasileiro, mas A fauna da região de São Carlos é compos-
gouazoubira), cachorro-do-mato (Cerdocyon praticamente desapareceram dos Cerrados ta predominantemente por animais menores,
thous), o quati (Nasua nasua), a irara (Eira em nosso município. Tanto a onça-pintada pequenos roedores e aves. Estas últimas de-
Barbara) e o furão (Gallictis vittata). Outros como a preta eram avistadas até por volta de sempenham a importante função de disper-
animais são raros e classificados como “espé- 1954 (último registro), assim como os porcos soras de sementes, contribuindo para a recu-
cies vulneráveis ou em situação de perigo”. É queixadas (Tayassu pecari), espécies agora peração de matas galerias e a manutenção da
o caso das aves meia-lua-do-cerrado (Mela- consideradas extintas localmente. O cervo- biodiversidade.
nopareia torquata) e gavião-de-cabeça-cinza -do-pantanal (Blastocerus dichotomus), que Aproximadamente 30% das 750 espécies
(Leptodon cayanensis); de mamíferos como o também havia desaparecido, recentemente de aves encontradas no Estado de São Paulo
tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), o foi reintroduzido na Estação Ecológica do Ja- habitam o Cerrado, embora muitas delas se-
cateto (Pecari tajacu), o lobo-guará (Chryso- taí, no município de Luiz Antônio, que faz di- jam encontradas também em outros ambien-
cyon brachyurus), o gato-mourisco (Puma ya- visa com São Carlos. Outros animais, com a tes. No entanto, 30 destas espécies vivem
gouaroundi) e a onça-parda (Puma concolor); chegada dos seres humanos, mudaram de apenas no Cerrado, o que significa que sua
e de répteis como urutu-cruzeiro (Bothrops hábitos; é o caso do lobo-guará (Chrysocyon sobrevivência depende da preservação desta
alternatus), sendo esta última classificada brachyurus) , que se alimenta em grande par- formação vegetal.
como espécie muito ameaçada de extinção. te de vegetais como, por exemplo, a chamada Não obstante, algumas espécies de aves já
Com relação à onça parda (Puma concolor), “fruta-do-lobo” ou “lobeira” (Solanum lycocar- tenham desaparecido na nossa região, como
têm sido constantes os relatos de avistamen- pum), cujos frutos representam até 50% de a arara-vermelha (Ara chloropterus), a anhu-
tos de animais e, também, de atropelamen- sua dieta alimentar, podendo ter um efeito ma (Anhima cornuta) e, mais recentemente,
tos, assim como com o lobo-guará; no en- terapêutico contra o verme-gigante-dos-rins, a ema (Rhea americana), maior ave brasilei-
tanto, não existem dados concretos para se muito frequente e geralmente fatal no lobo. ra e característica do Cerrado, elas eram en-
avaliar se a espécie está se adaptando ou se Com a diminuição das áreas naturais, o lobo contradas até meados da década de 1990.
são os últimos remanescentes da espécie em adotou outros hábitos alimentares, incorpo- Outras voltaram para as matas preservadas,
uma tentativa de sobrevivência. rando em sua dieta, por exemplo, a cana-de- como o papagaio-verdadeiro (Amazona aesti-
60 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
va), o papagaio-galego (Alipiopsitta xanthops) te a descaracterização desses ecossistemas A partir de 1930, a indústria de móveis em
e a arara canindé (Ara ararauna), que voltou causou um desequilíbrio na distribuição dos São Carlos cresceu, e boa parte da madeira
em virtude de trabalhos de reintrodução de indivíduos por espécie, de maneira que são usada veio provavelmente das espécies de Cer-
espécies realizados na região. A presença de poucas as espécies com populações mais nu- rado, como o ipê e a cabreúva, por exemplo.
algumas espécies, como o mutum-de-pena- merosas. Entre as espécies de répteis mais O que mais percebemos na região são as
cho (Crax fasciolata), é indicadora de boa qua- comuns, na nossa região ainda se encon- plantações de cana-de-açúcar, que, com as
lidade ambiental, por serem muito exigentes tram o jacaré (Caiman yacare), lagarto-teiú novas tecnologias como irrigação e o uso in-
quanto às condições e aos recursos ambien- (Tupinambis teguixin teguixin), o lagarto verde tensivo de insumos e maquinários agrícolas,
tais. Ao contrário, a garça-branca-grande (Ar- (Ameiva ameiva), cascavel (Crotalus durissus), podem utilizar até mesmo os solos menos
dea alba) é um dos últimos animais a abando- jararaca (Bothrops jararaca e Bothrops moo- férteis do Cerrado.
nar as áreas degradadas, alimentando-se de jeni), jiboia (Boa constrictor), sucuri (Eunectes Com a colonização agrícola, a vegetação
pequenos peixes e moluscos que sobrevivem murinus) e a caninana (Spilotes pullatus). mais fechada desapareceu, dando lugar a
até mesmo em córregos muito poluídos. campos e pastagens, ou tornou-se espaçada.
Devido à escassez de água superficial no COMO A PAISAGEM NATURAL DE SÃO Da mesma forma, desapareceram ou torna-
Cerrado, os anfíbios apresentam menos es- CARLOS FOI SENDO SUBSTITUÍDA? ram-se raras algumas espécies animais. Por
pécies que nas matas. Nos Cerrados há pou- outro lado, as alterações ambientais favore-
cas espécies, mas algumas são bem comuns A devastação da área natural começou na ceram o aumento das populações de outros
e colonizaram também as áreas de vegetação segunda metade do século XIX, para o plan- animais como, por exemplo, os morcegos
aberta modificadas pela ação humana. Exem- tio de café na região. Com o tempo, as ati- hematófagos (Desmodus rotundus) – que se
plos típicos de espécies originárias de Cer- vidades agrícolas se diversificaram, com a in- alimentam de sangue –, que ganharam uma
rado que expandiram e diversificaram seus trodução de culturas como: algodão, laranja, nova fonte de alimento com a expansão das
ambientes são as rãs Leptodactylus fuscus e arroz, milho, feijão e tabaco. Ao contrário do atividades pecuárias. Antes da introdução
Physalaemus cuvieri. que ocorreu com as regiões do município que do gado, esses morcegos se alimentavam do
A maioria dos répteis, ao contrário dos an- apresentavam solos mais férteis (manchas de sangue de mamíferos silvestres, como a ca-
fíbios, são animais adaptados à vida em am- nitossolo vermelho oriundo do basalto) e, pivara (Hydrochaeris hydrochaeris) e o veado-
bientes mais secos e ensolarados. Por isso, portanto, foram destinadas ao cultivo de café, -mateiro (Mazana americana).
formam um grupo mais diversificado nos as áreas com solos mais pobres foram utiliza- Também a garça-vaqueira (Bubulcus íbis),
Cerrados paulistas. No entanto, infelizmen- das principalmente para a pecuária. a pomba avoante (Zenaida auriculata) e a
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 61
pomba-asa-branca (Columba picazuru) foram sentam as espécies mais comuns de pombas
INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES ANIMAIS
beneficiadas pela expansão das áreas agríco- da região. Aqui, protegem-se dos predadores
NA ZONA RURAL E URBANA
las. Estas duas espécies de pomba chegaram naturais nas plantações de cana-de-açúcar,
à região de São Carlos na década de 1970, onde nidificam, e encontram alimento abun-
vindas de áreas com vegetação aberta da dante nas plantações de milho e soja. As condições ambientais criadas pela ocu-
região central do Brasil, e atualmente repre- pação urbana e pelas atividades agrícolas
favoreceram a colonização da cidade e do
74a 74b 74b campo por espécies exóticas, ou seja, por se-
res vivos – plantas e animais – originários de
outros territórios, muitas vezes introduzidos
deliberadamente pelos seres humanos. Um
dos exemplos mais conhecidos é o caramujo-
-gigante-africano (Achatina fulica). Esta espé-
cie, que como diz o nome é originária da Áfri-
Fonte: José Braz Mania28
ca, foi importada para o Brasil na década de
1980, com o propósito de criar os caramujos
para uso alimentar, dado que são muito simi-
lares ao escargot, uma iguaria da gastronomia
francesa. Contudo, seu sabor não foi nada
Figura 74 – Móveis antigos: (a e b)
Fazenda do Pinhal; (c e d) Fazenda apreciado pelos brasileiros. Como se não
Santa Maria; (e) Fazenda São Ro-
berto. bastasse, em 2005, o IBAMA (Instituto Brasi-
leiro do Meio Ambiente e dos Recursos Natu-
rais Renováveis), preocupado com o potencial
invasor dessa espécie, proibiu sua criação e
comercialização, condenando definitivamen-
te aquela iniciativa econômica ao fracasso.
Paradoxalmente, a rejeição a esses caramu-
jos, extremamente prolíficos, cujas matrizes
74c 74d 74e
62 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
inutilizadas foram soltas em terrenos e cór- pela abundância de abrigos e alimento que no antigo Egito, onde era venerado por caçar
regos, acelerou sua difusão descontrolada (já oferecem. os principais inimigos das colheitas de cere-
que aqui não existem seus predadores natu- As espécies exóticas, em geral menos exi- ais, os ratos. Na Idade Média, ao contrário,
rais) em mais de vinte Estados brasileiros, e gentes em recursos e condições ambientais, por terem um importante papel em ritos con-
hoje os caramujos africanos se confundem e não foram as únicas a adaptar-se ao ambien- siderados pagãos, eles passaram a represen-
competem com espécies nativas. te urbano e rural. Com o corte das matas e tar uma força do mal, sendo queimados em
Em outros casos, a introdução de animais o desaparecimento de seus habitats naturais, fogueiras junto com os heréticos condenados
exóticos não foi intencional e pode ter ocorri- também animais da fauna nativa voltaram-se pela Santa Inquisição. Esta crença só foi re-
do centenas de anos atrás, quando da coloni- para as cidades como um meio alternativo de vertida pela percepção de que os gatos po-
zação do Brasil. Um exemplo é um outro tipo sobrevivência. Por exemplo, das 750 espécies deriam contribuir para controlar a peste bu-
de caramujo encontrado na nossa região, de aves registradas no Estado de São Paulo, bônica, uma doença transmitida pelas pulgas
cujo nome científico é Biomphalaria glabrata. 187 frequentam nossas praças e jardins. É o dos ratos, que dizimou populações urbanas
Hospedeiro do agente causador da esquis- caso do bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), do na Ásia e na Europa do século XIV.
tossomose, doença também conhecida como sanhaço-do-coqueiro (Thraupis palmarum),
“barriga d’água”, na época das chuvas (de no- do quero-quero (Vanellus chilensis), do sabiá-
vembro a março) este molusco se reproduz, -laranjeira (Turdus rufiventris) e do urubu co-
tornando-se um importante transmissor da mum (Coragyps atratus).
doença, que afeta principalmente a popula- Gatos e cachorros são indiscutivelmente SAIBA MAIS – DOENÇA TRANSMITIDA PELO
POMBO DOMÉSTICO
ção de baixa renda, sem acesso à infraestru- os animais “exóticos” (já que não fazem par-
tura sanitária e, por isso, utilizam para con- te da fauna nativa, ou seja, originária da re-
sumo direto a água de córregos e represas, gião) mais comuns, tanto na cidade como no
hábitats favoritos de tais caramujos. campo. Companheiros dos seres humanos
Outras espécies exóticas deram-se muito há tempos imemoráveis, os cachorros des-
bem nos ambientes criados pelos seres hu- cendem dos lobos cinzentos e, não obstante,
manos. É o caso do pássaro pardal (Passer as teorias sobre sua aproximação junto aos
domesticus), do pombo-doméstico (Columba seres humanos sejam controversas, parecem
lívia) e da ratazana (Rattus rattus), que elege- ter sido a primeira espécie a ser domesticada.
ram as cidades como seu habitat privilegiado, Quanto ao gato, ele já foi um animal sagrado
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 63
Sendo assim, será que devemos domesti- o cascudo (Hypostomus ancistroides), com pou-
ANIMAIS SILVESTRES E
car outras espécies? Para saber mais sobre co ou nenhum valor comercial, mas importan-
DOMÉSTICOS essa questão, assista aos vídeos Da Campa- tes para o equilíbrio ecológico dos ambientes
nha WSPA Brasil - Silvestre não é PET. aquáticos. Nas cabeceiras dos rios, os peixes
Animais silvestres são todos os animais
de piracema poderiam ter sido banidos de
pertencentes às espécies nativas, migratórias
AMBIENTES AQUÁTICOS: PEIXES E nossos rios, se não fosse pela introdução de
e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres,
OUTROS MORADORES
que tenham todo ou parte do ciclo de vida
ocorrendo dentro dos limites de uma região LEGISLAÇÃO - LEIS MUNICIPAIS SOBRE CAPTURA
Em relação aos peixes de água doce, pode- E GUARDA DE ANIMAIS
em questão.
mos dizer que nenhuma espécie foi totalmen- ABANDONADOS
Animais domésticos são espécies que por
te extinta, mas as populações de peixes se
meio de processos tradicionais muito lentos, Em São Carlos, um canil foi criado em 1993, a
adequaram às novas condições. Na bacia do partir da Lei Municipal nº 10.841, o Canil tem
de melhoramento genético, se tornaram do-
Alto Rio Paraná, as principais ações danosas por diretriz principal a proteção dos animais
mesticados, possuindo características bioló- de companhia. Desde então, são recolhidos
do ser humano foram o desmatamento das
gicas e comportamentais em estreita depen- apenas os animais atropelados, doentes, agres-
matas ciliares, o uso desenfreado de agrotó- sivos ou suspeitos de outros agravos contra a
dência do ser humano, podendo inclusive
xicos nas áreas de agropecuária extensiva e a população. Estes animais são recuperados, cas-
apresentar aparência diferente da espécie sil- trados e encaminhados para a doação. Desde
construção de barragens hidrelétricas.
vestre que os originaram. Podemos citar como 2003, o Município conta, inclusive, com uma Lei,
Nos cursos principais de água – os rios a 13.209, que dispõe sobre o registro, criação,
exemplo: gato, cachorro, cavalo, boi, porco, ga-
maiores – vivem as espécies de grande por- posse, guarda responsável e venda de cães e
linha, avestruz, codorna, dentre outros. gatos, bem como com um programa que prevê
te, que já foram bem abundantes em nossos
A domesticação é um processo lento, pois a colaboração entre a administração municipal
rios, mas que, hoje em dia, têm suas popula-
e associações de proteção dos animais (como a
o animal domesticado é o resultado de várias
ções reduzidas. É o caso dos peixes curimba- Arca de São Francisco e a União Internacional
gerações e nem sempre dá certo. Atualmen- de Proteção dos Animais – UIPA), o qual se cons-
tá (Prochilodus lineatus) e piapara (Leporinus
te, há muitos cães e gatos abandonados tituiu em modelo para o Estado de São Paulo.
obtusidens).
nas ruas, parques, unidades de conservação Com tais iniciativas, registrou-se um decrésci-
Os peixes que habitam as cabeceiras dos mo da quantidade de filhotes abandonados e
e também na zona rural, que sofrem e podem
rios sofreram de forma mais direta com as al- recolhidos, de 1.799 entre 2002 e 2003 a 322
trazer problemas para a conservação da bio- filhotes entre 2006 e 2007. Atualmente, o Canil
terações ambientais. Esses peixes são meno-
diversidade. e Gatil Municipal, situado na estrada da Água
res, como o lambari (Astyanax scabripinnis) e Fria, abriga uma média de 200 cães e 180 gatos.
64 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
alevinos (os filhotes dos peixes) pelas próprias nho (Butorides striatus), irerê (Dendrocygna vi- que os estrangeiros encontravam por aqui.
companhias geradoras de eletricidade. duata), biguatinga (Anhinga anhinga), galinha- Eles levavam os espécimes de plantas ou
O jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latiros- -d’água (Gallinula chloropus), jaçanã (Jacana animais ao seu país, estudavam-nos com de-
tris) talvez seja o melhor exemplo de animal jacana) e martim-pescador (Ceryle torquata). talhes e davam-lhes um nome científico. Os
muito caçado, sobretudo por causa do cou- Também são encontrados mamíferos como a estudos de descrição da fauna e da flora bra-
ro, muito valorizado na produção de bolsas e capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), a cuíca sileira apresentavam observações aprofunda-
sapatos. Apesar de ser distribuído por quase d’água (Chironectes minimus) e o ratão-do-ba- das sobre a biologia da espécie. Porém, não
todo o território brasileiro e não somente na nhado (Myocastor coypus). Além desses, os se faziam estudos ecológicos, que registras-
Amazônia e ao norte do Pantanal, as popu- anfíbios, que são animais que dependem da sem dados como o tamanho das populações
lações desses jacarés hoje são tão pequenas água para se reproduzir, vivem próximos às de cada espécie e suas exigências quanto ao
que é muito difícil vê-los em nossos rios ou lagoas, aos riachos e às represas. Em nossa uso dos recursos do ambiente, tais como, no
represas. região, o sapo-cururu (Bufo icteritus), o sapo- caso dos animais, recursos alimentares, local
O cágado d’água (Phrynops geoffroanus) é -ferrero (Hypsiboas faber) e a perereca-do- de repouso e de reprodução, e, no caso das
um exemplo de animal aquático que tolera -brejo (Dendropsophus minutus) são espécies plantas, condições do solo, de luz e grau de
certo grau de poluição, podendo até ser ob- comumente encontradas. umidade. Nosso conhecimento mais detalha-
servado em grandes aglomerações nas re- A partir do início do século XIX, muitos pes- do sobre a biodiversidade de São Paulo e do
presas do Rio Monjolinho. quisadores europeus fizeram expedições Brasil é muito recente; estudos sobre eco-
Muitas aves vivem sempre junto a ambien- zoobotânicas – viagens para a coleta de espé- logia, genética e evolução das espécies, que
tes aquáticos e fazem parte da manutenção cimes da flora e a fauna – por todo o território nos ajudariam na tomada de medidas de pre-
do equilíbrio ecológico desses ambientes, tais brasileiro. Os primeiros estudos se resumi- servação mais eficazes, são preocupações da
como: garcinha-branca (Egretta thula), socozi- ram, basicamente, às descrições de espécies atualidade.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 65
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– 1950. 3° Ed. São Carlos: EDUFSCar; São Paulo: : Embrapa, 2018. 356 p. ISBN 978-85-7035-800-4 Ferroviária em 2017. ALMEIDA, Rita C. Acervo do
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007, p. CDCC/USP.
35-36.
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3. NIMER, E. Clima. In: IBGE, Geografia do Brasil: década de 1890, registro de 1940. Acervo da Fun-
Região Sudeste, v. 3. Rio de Janeiro: IBGE, p. 51-89, dação Pró-Memória de São Carlos; Casarão da Rua
3. SOARES, J. J.; SILVA, D. W.; LIMA, M. I. S. L. Current
1977. 13 de Maio em 2017 ALMEIDA, Rita C. Acervo do
situation and projection of the probable original
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Setembro, sem data de registro. Acervo da Fun-
27, núm. 5, pp. 647-656, 2003. dação Pró-Memória de São Carlos; Casarão da Rua
9 de julho com Rua Sete de Setembro em 2018.
5. SOARES, J. J.; SOUZA, M. H. A. O. E.; LIMA, M. I.S. C - FIGURAS SANTOS, Silvia A. M. Acervo do CDCC/USP.
Twenty years of post-fire sucession in a “cerrado”,
São Carlos, SP, Brazil. Brazilian Journal of Biology, 9. Casarão do Major José Inácio de C. Penteado,
v. 66(2B), p. 587-602, 2006. 1. PROJETO – espaços educadores: “Criação de Es-
registro de 1920. Acervo da Fundação Pró-Memória
paços Permanentes de Saúde e Educação Ambiental
de São Carlos; Casarão do Major José Inácio de C.
no Município de São Carlos.” Fundação Educacio-
Penteado em 2018. SANTOS, Silvia A. M. Acervo do
nal de São Carlos (FESC), Comitê de Bacia do Tietê
B - BOXES Jacaré (CBH-TJ), financiamento FEHIDRO. São Carlos,
CDCC/USP.
2021. Disponível em: atlassanca.eco.br. Acesso em: 10. Palácio Episcopal – Rua Episcopal com Rua
BOX: LOCALIZANDO – PICADÃO DE CUIABÁ 20 de setembro de 2021. Sete de Setembro, registro de 1910. Acervo da
Fundação Pró-Memória de São Carlos
2. Catedral: Final do século XVIII e Mercado Mu-
1. NEVES, A. P. São Carlos Primeiro Centenário: nicipal: Século XIX. Acervo da Fundação Pró-Me- 11. Edifício Euclides da Cunha construído em
1857 – 1957. São Carlos: Prefeitura Municipal de São mória de São Carlos. 1890, registro de 1960. Acervo da Fundação
Carlos, 1957, p.2. Pró-Memória de São Carlos; Edifício Euclides da
3. Primeiras ruas de São Carlos: Avenida São Car-
Cunha, atual Câmara Municipal em 2018. SAN-
los; Rua Episcopal; Rua General Osório; Rua Dona
TOS, SANTOS, Silvia A. M. Acervo do CDCC/USP.
66 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO
12. Palacete Conde do Pinhal, construído em 18. Floresta Estacional Semidecidual Parque 26. Cerrado, cerrado com fogo e sua recuperação
1893, sem data de registro. Acervo da Fundação Estadual de Vassununga: perfil da mata. TAKAO, durante um período de 4 meses. Acervo do CDCC/
Pró-Memória de São Carlos; Palacete Conde do Leandro Kenji. Arquivo Pessoal. USP.
Pinhal em 2018. SANTOS, Silvia A. M. Acervo do
CDCC/USP. 19. Floresta Estacional Semidecidual com Arau- 27. Algumas espécies da fauna da região de São
cária. DODONOV, Pavel. Arquivo Pessoal. Carlos: (a) Aranha-lobo (Lycosa erythrognatha); (c)
13. Morro testemunho, Cuscuzeiro município de Ema (Rhea americana); (i) Onça-Parda (Puma conco-
Analândia/SP. ALMEIDA, Rita C. Arquivo Pessoal. 20. Araucárias nos bairros: Jardim Ricetti e Pla- lor). MATSUMOTO, Reginaldo Sadao. Arquivo Pesso-
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14. SOARES, J. J. et al. A Vegetação e Aspectos Eco- Acervo do CDCC/USP. cho (Alectrurus tricolor); (j) Pica pau de banda branca
lógicos do Município de São Carlos – SP. Departa- (Dryocopus lineatus); (k) Saí-azul (Dacnis cayana);
mento de Botânica da Universidade Federal de São 21. Mata Ciliar. MATSUMOTO, Reginaldo Sadao.
(m) Siriema (Cariama cristata); MOTTA-JUNIOR José
Carlos. 2003 (não publicado). Arquivo Pessoal.
Carlos. Arquivo Pessoal.; (h) Lobo-guará (Chrysocyon
22. Mata Galeria. MATSUMOTO, Reginaldo Sadao. brachyurus); LEITE, Marcelo. Arquivo Pessoal; (e)
16. Mapa Florestal do Município de São Carlos.
Arquivo Pessoal. Gato Mourisco (Puma yagouaroundi); (g) Jaguatirica
Disponível em: <http://s.ambiente.sp.gov.br/sifesp/
(Leopardus pardalis); TAKAO, Leandro Kenji. Arquivo
saocarlos.pdf> Acesso em: 05 de abril de 2018.
24. FIGUEIREDO, A.; DI TULLIO, A.; SANTOS, S. A. Pessoal.; (f) Guaxinim (Procyon lotor). DODONOV,
17. Algumas espécies da vegetação da região M. Integração da paisagem na educação para a Pavel. Arquivo Pessoal; (l) Sauá (Callicebus persona-
de São Carlos: (a) angico-branco (Anadenanthera conservação da fauna. In: OLIVEIRA, Haydée torres tus). NERI, Fernanda Maria. Arquivo Pessoal; (n) Tatu
colubrina); (b) canchim (Pachystroma longifolium); (c) et al. Educação Ambiental para a conservação da (Euphractus sexcinctus). CABRAL, Juarez de Castro.
jequitibá branco (Cariniana estrellensis); (d) jatobá biodiversidade: animais de topo de cadeia. São Arquivo Pessoal; (o) Teiú (Tupinambis teguixim). CAR-
(Hymenaea sp), (e) ipê felpudo (Zeyheria tuberculosa); Carlos, SP: Diagrama Editorial, 2016. NEIRO, Patrícia. Arquivo Pessoal.
Acervo do CDCC; (f) jequitibá rosa (Cariniana legalis);
25. Cerrado: strictu sensu. DODONOV, Pavel. Arqui- 28. Móveis antigos da Fazenda Conde do Pinhal,
Espécie de vegetação da região de São Carlos,
vo Pessoal; Cerrado: campo sujo. MATSUMOTO, Fazenda Santa Maria e Fazenda São Roberto.
TAKAO, Leandro Kenji. Arquivo Pessoal.
Reginaldo Sadao. Arquivo pessoal. MANIA, José Braz. Acervo do CDCC/USP.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE II | SÃO CARLOS: FORMAÇÃO E POVOAMENTO 67
SÃO CARLOS
dos pontos mais altos para os mais baixos e Fazem parte da Bacia Platina as bacias do
as direcionam para um determinado curso Paraná, Paraguai e Uruguai, sendo que o mu-
d´água, que pode ser o rio principal ou seus nicípio de São Carlos, em uma escala macro,
BACIAS
Todas as bacias hidrográficas estão sepa- seguindo uma ordem de grandeza, o nosso
radas entre si pelos divisores de águas, que território hidrográfico abrange: a Bacia Hidro-
são os pontos mais altos do relevo. Em fun- gráfica do Rio Tietê, a Sub-bacia Hidrográfica
ção da gravidade, as águas fluem dos pontos do Rio Jacaré-Guaçu e a Microbacia Hidrográ-
mais altos para os pontos mais baixos. Por fica do Rio do Monjolinho. Tomando como re-
BACIAS HIDROGRÁFICAS isso, os divisores de água funcionam como ferência uma escala menor, temos a Bacia Hi-
fronteiras das bacias em que, de um lado, a drográfica do Rio do Monjolinho, a Sub-bacia
água escoa em direção a um rio e, do outro, Hidrográfica do Córrego do Gregório e a Mi-
Bacia hidrográfica é a área de drenagem de escoa em direção ao outro rio. Assim, por crobacia Hidrográfica do Córrego do Lazarini.
um rio principal e seus afluentes. A formação meio desses divisores, todo território está Esse sistema de bacias, sub-bacias e microba-
das bacias ocorre em função dos desníveis do dividido em bacias hidrográficas, que podem cias forma a rede hidrográfica de uma região.
relevo, que orientam a drenagem das águas ser subdivididas em sub-bacias e microbacias, Como a bacia hidrográfica recebe, drena
dependendo da ordem de grandeza da área e direciona toda água superficial ou subter-
75 de drenagem. rânea a um curso d’água principal, toda ação
As principais bacias hidrográficas do terri- realizada nessa área, seja ela positiva ou ne-
tório brasileiro são a Amazônica, a do Tocan- gativa, irá contribuir para a conservação ou
tins, a Platina e a do São Francisco. A Bacia degradação do recurso hídrico. Ou seja, to-
Amazônica é a maior do mundo e sua área de das as atividades ocorridas neste espaço fi-
drenagem abrange seis países, além do Brasil sicamente delimitado, sejam elas de ordem
(Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela econômica, social e/ou cultural, têm reflexos
e Guiana), sendo que a maior extensão está na qualidade socioambiental de uma dada
Fonte: Christiana Andrea Vianna Prudêncio1 em terras brasileiras. bacia hidrográfica.
Figura de
75 - Divisores
água.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 69
76
70 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Figura 77 - Bacia Hidrográfica – Representação gráfica
LEGISLAÇÃO - REGIÕES HIDROGRÁFICAS
77 do
go o
O CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS-CNRH, no uso rre nh
Có eiri
n
de suas atribuições e competências que lhe são conferidas pela Lei nº Mi
Art. 2o Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Com o objetivo de gerenciar os recursos hídricos do Estado de São Pau-
lo, utilizando o conceito de bacias hidrográficas, foi criada em 27 de de-
zembro de 1994 a Lei Estadual nº 9.034, que aprovou o primeiro Plano
Marina Silva
Presidente Estadual e estabeleceu a divisão hidrográfica do Estado em 22 Unidades
Hidrográficas de Gerenciamento de Recursos Hídricos – UGRHi, estabele-
cendo os municípios integrantes de cada uma delas1.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 71
78
72 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
O município de São Carlos está inserido em áreas de recarga do Aquífero Guarani, que se
duas das mais importantes: UGRHi - Mogi- localizam no município de São Carlos, estão CONCEITO – AQUÍFERO GUARANI
-Guaçu e UGRHi Tietê/Jacaré onde está locali- comprometidas devido ao baixo percentual O Aquífero Guarani é considerado um dos
zada a área urbanizada. Situa-se no Sistema de cobertura vegetal e ao uso e à ocupação maiores mananciais de água doce subterrânea
Aquífero Guarani, sobre mananciais subsu- da terra inadequados. do mundo. Está localizado na região centro-les-
te da América do Sul, estendendo-se pelo Bra-
perficiais rasos e profundos. Quase 72% das sil, Paraguai, Uruguai e Argentina, sendo que a
maior ocorrência se dá em território brasileiro
(2/3 da área total), abrangendo os Estados de
Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
CONCEITO - AQUÍFEROS
Sul.
Um Aquífero é uma formação geológica subter- O aquífero confinado ou artesiano é constituído Trata-se de um aquífero confinado por um dos
rânea, constituída por rochas permeáveis, com por formação geológica permeável, limitada por maiores derrames de rochas vulcânicas do
capacidade de armazenar água em seus poros duas camadas impermeáveis ou semipermeá- mundo, o basalto. O conjunto formado pelas
ou fraturas e de transmitir essa água armazena- veis, mantidos sob uma pressão interna superior rochas sedimentares de arenitos e o confina-
da. Pode ter uma extensão que varia de poucos à pressão atmosférica. Possui recarga indireta e mento basáltico é o que se denomina Sistema
quilômetros quadrados a milhares. geralmente estão localizados em bacias sedimen- Aquífero Guarani.
Existem vários tipos de aquíferos que podem tares. Quando perfurados, os seus poços costu- A recarga natural desse Aquífero ocorre segun-
ser classificados tanto quanto à sua porosidade mam jorrar água em velocidade razoável em ra- do dois mecanismos principais: 1) por meio de
como segundo a pressão da água na sua super- zão dessa pressão superior. infiltração direta de água na área confinada; 2)
fície. Neste último caso, o aquífero é classificado Um Aquífero é muito importante pois apresenta por infiltração vertical (drenança) ao longo das
como livre, também conhecido como freático, e várias funções para o ambiente e para os seres rochas que compõem o sistema desse aquífero.
confinado, também chamados de artesiano. humanos, como por exemplo: 1) produção de Porém, as áreas de afloramento também apre-
O aquífero livre ou freático é constituído por uma água para o consumo humano; 2) estocagem de sentam alguma parcela de recarga, decorrente
formação geológica permeável e superficial, limi- água excedentes como as que ocorrem durante de camadas semiconfinantes. Tal condição é es-
tado em sua base por uma camada impermeá- uma enchente; 3) filtro para extrair água clarifi- tabelecida pela presença intercalada de rochas
vel. Encontram-se, em geral, em profundidades cada e purificada; 4) estratégica para épocas de basálticas fraturadas da Formação Serra Geral
pequenas, sendo quase sempre limitados pela pouca ou nenhuma chuva; 5) energética, no caso e de arenitos das Formações Botucatu e Piram-
própria superfície ou pelo limite de acumulação de utilização como fonte de energia elétrica ou boia (arenitos intercalares). Alves, s.d.1; ABAS,
da água e possui recarga direta. São os mais ex- termal; 6) mantenedora, uma vez que mantém o s.d.,2; São Paulo. CETESB, sd,3.
plorados pela população e também os que mais fluxo de base dos rios. Alves, s.d1; ABAS, s.d 2
apresentam problemas de contaminação.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 73
Fonte: Projeto AFLORAR – espaços educadores2 MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS Fonte: TREVISAN, Diego
80
79
Figura 79 - Mapa do Município de São Carlos com as delimitações das sub-bacias do Rio
Mogi-Guaçu e Tietê-Jacaré.
Figura 80 - Tipologia da cobertura vegetal e Sistema Aquífero do município de São Carlos.
74 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Esta região do Estado de São Paulo é rica Neste Atlas, apresentamos a evolução da
em recursos hídricos, sendo que só no mu- malha urbana nas sub-bacias hidrográficas
nicípio de São Carlos existem cerca de 700 que compõem as UGRHi Mogi-Guaçu (área
nascentes mapeadas, o que representa uma norte do Município), onde estão localizados
média de 60 nascentes por km2, sendo que os distritos de Água Vermelha e Santa Eudó-
100 delas estão localizadas em áreas urbanas. xia, Tietê/Jacaré (área sul do Município), onde
se localiza a cidade de São Carlos.
CONCEITO - NASCENTES
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 75
UNIDADE DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS
(UGRHI) MOGI-GUAÇU
81
76 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
O Rio do Quilombo nasce próximo à Capela de Nossa Senhora Aparecida
SUB-BACIA HIDROGRÁFICA
da Babilônia, no município de São Carlos (próximo da rodovia SP-215, que
DO RIO DO QUILOMBO
liga São Carlos a Descalvado), e percorre uma extensão de aproximada-
mente 40 km, em direção ao distrito de Santa Eudóxia até desembocar no
A sub-bacia do Rio do Quilombo drena parte
dos municípios de São Carlos e Descalvado e
possui uma área de aproximadamente 418 km2.
Figura 82 – Mapa Sub-bacia do Rio do
Quilombo.
83a
Figura 83 - Rio do Quilombo: (a) vista pa-
norâmica da área de nascentes; (b) nas-
cente localizada na estrada velha que liga Nascentes do
São Carlos ao Santuário de Aparecida da Rio do Quilombo
Babilônia; (c) vista panorâmica da foz do
82 Rio do Quilombo no Rio Mogi-Guaçu.
83b
Rio Mogi-Guaçu
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Fonte: Projeto AFLORAR – espaços educadores2 Fonte: (a e c) Google Earth; (b) Rita de Cássia de Almeida7
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 77
Rio Mogi-Guaçu, divisor geográfico dos muni-
cípios de São Carlos e Luiz Antônio. 84b 84c
Dada a relevância hidráulica desta sub-ba-
cia pelo seu potencial de geração de energia
elétrica, foram construídas duas barragens
no Rio do Quilombo (Represa do Bom Retiro
e Represa da Barra) e uma no seu afluente,
Ribeirão dos Negros (Represa do 29), para es-
tocagem de água e funcionamento da Usina
Hidrelétrica Capão Preto.
É a sub-bacia que ocupa a maior área do mu-
nicípio de São Carlos, sendo considerada pe-
Usina
las autoridades locais como Zona de Interesse Capão Preto
Represa
da Barra
LEGISLAÇÃO - PLANO DIRETOR MUNICIPAL
78 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Turístico e de produção agrícola pelo Plano
Figura 85 – (a) Vista pa-
norâmica do Córrego do Diretor Municipal.
Itararé – das nascentes
à foz; (b) vista panorâmi- A área urbana do distrito de Santa Eudóxia é
ca da área de nascente
drenada pela microbacia hidrográfica do Cór-
do Itararé; (c) nascente
do Itararé no Sitio Três rego do Itararé, que é um dos afluentes do Rio
Marias; (d) Vista panorâ-
85c mica da foz do Córrego do Quilombo. O Córrego nasce no Sítio Três
do Itararé no Rio do Qui-
lombo; (e) foz do Itararé Marias, a oeste do povoado e, após percorrer
no Rio do Quilombo,
próximo à Estação de
uma extensão de 2,7 km, deságua no Rio do
Tratamento de Esgoto. Quilombo, próximo à Estação de Tratamento
de Esgoto do Distrito, no Sítio Santa Rosa.
Foz
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Fonte: (a, b, d) Google Earth; (c, e) Rita de Cássia de Almeida9
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 79
SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIBEIRÃO DAS ARARAS
80 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
O Ribeirão das Araras nasce em uma área
Figura 87 - (a) Vista panorâmica do Ribeirão das Ara-
rural próxima à estrada que liga São Carlos a ras: (b) vista panorâmica da área de nascentes; (c)
nascente no Sitio Santo Antônio do Quilombo; (d) vis-
Ribeirão Preto (SP-318). Percorre uma exten-
87d ta panorâmica da foz do Ribeirão das Araras, no Rio
Mogi-Guaçu.
são de aproximadamente 38 km até desaguar Rio Mogi-Guaçu
na margem esquerda do Rio Mogi-Guaçu, na
divisa geográfica entre os municípios de São
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Carlos e Luís Antônio.
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Fonte: (a, c) Google Earth; (b) Rita de Cássia de Almeida10
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Nascente
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 81
O distrito de Água Vermelha está localizado
Figura 88 - Vista panorâmica do distrito de Água Ver-
no divisor de águas das sub-bacias do Rio do melha – divisor de água Bacia do Ribeirão das Araras
e do Rio do Quilombo: Ribeirão das Araras e Córrego
Quilombo e do Ribeirão das Araras. do Lobo (pertence a sub-bacia do Rio do Quilombo).
88
Nascente
Ribeirão das Araras
Água Vermelha
Nascente
Córrego do Lobo
82 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Dentro da sub-bacia da Bacia do Rio do com o Ribeirão dos Negros formam a Repre-
Figura 89 – (a) Vista panorâmica das áreas de nascen-
Quilombo, o curso d'água mais próximo ao sa do 29. Após o represamento, o curso d´á- tes e foz do Córrego do Lobo, Córrego da Jararaca e
Represa do 29; (b) nascente do Córrego do Lobo; (c)
povoado é o Córrego do Lobo, que perten- gua continua como Ribeirão dos Negros, por Córrego da Jararaca; (d) foz do Córrego da Jararaca na
ce à área de drenagem da sub-bacia do Rio ser o de maior extensão, e deságua no Rio do Represa do 29; (e) nascente do Ribeirão dos Negros;
(f) vista panorâmica da foz do Ribeirão dos Negros no
do Quilombo. Percorre uma extensão de 3,17 Quilombo, após a barragem da usina hidrelé- Rio do Quilombo.
89d 89e
Represa do 29
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 83
OCUPAÇÃO URBANA DE SANTA
90 D
EUDÓXIA E ÁGUA VERMELHA
B
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84 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
C
A B
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 85
Até 1884, toda produção cafeeira da re-
gião de Santa Eudóxia era escoada pelo Rio 92a
Mogi-Guaçu até o município vizinho de Por-
to Ferreira e, de lá, seguia por ferrovia até o
porto de Santos, de onde era exportado para
outros países. 92b
86 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Com a inauguração, em 1884, da Estação
Ferroviária São Carlos, da Companhia Rio-Cla- 93b
rense de estrada de Ferro, e do ramal Água
Vermelha e Santa Eudóxia, em 1892, o esco-
amento do café – que já respondia por um
terço da produção nacional –, passou então a
ser feito diretamente para o porto de Santos.
93a
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 87
Mesmo após a grande crise cafeeira da se-
gunda metade do século XX, o café continuou 94
sendo ainda por muito tempo o principal pro-
duto agrícola da região, a qual, atualmente,
é ocupada por fazendas produtoras espe-
cialmente de laranja, milho e cana-de-açúcar
(para atender principalmente à indústria de
açúcar e álcool). A partir de 1970, com o des-
matamento do Cerrado e sua ocupação por
pastagens, a região se transformou em um
importante polo de laticínios.
88 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
A atividade rural ainda continua sendo a Vale do Quilombo, a Fazenda Argentina, a Fa- timento e fonte de renda para a população
base da economia do Distrito, e sua popula- zenda Grande (antiga Fazenda Santa Eudó- local.
ção, de aproximadamente, 3.034 habitantes, xia) – tombada pelo CONDEPHAAT (Conselho Entre a área urbana de São Carlos e o dis-
é formada principalmente por descendentes de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, trito de Santa Eudóxia, localiza-se o distrito
de imigrantes europeus que vieram trabalhar Arqueológico e Turístico do Estado de São de Água Vermelha, que, no final do século XIX,
nas fazendas da região. Paulo) – e a Fazenda Figueira Branca. Este servia como ponto de descanso para os via-
São várias as fazendas históricas do perí- patrimônio histórico, arquitetônico e ecoló- jantes e assentamento dos trabalhadores das
odo cafeeiro que ainda se conservam nessa gico vem atraindo muitos visitantes e trans- fazendas de café. O povoado de Água Verme-
região, dentre elas a atual Estância Ecológica formando o ecoturismo em importante inves- lha foi promovido a distrito em 24 de dezem-
bro de 1948, de acordo com a Lei Municipal nº
23.233, e o último censo, realizado em 2014,
95
aponta 3.296 habitantes residentes no Distri-
to. Todo ano, no mês de abril, Água Vermelha
promove a Festa do Milho, um evento bastan-
te conhecido que atrai a população dos arre-
dores.
Água Vermelha possui uma biblioteca públi-
ca instalada no tradicional armazém de secos
e molhados “Casa Pulcinelli”, que funcionou
até 1980, quando passou por um processo
de recuperação e restauro, sendo entregue
à população em 25 de agosto de 2007, como
Armazém Cultura “Lola Pulcinelli Biason”. No
distrito de Água Vermelha localizava-se tam-
bém o Museu da TAM (companhia aérea),
considerado o maior museu de aviação do
Figura 95 - Casa Pulcinelli, atual Casa da Cultura. mundo, com uma área de mais de 20.000 m2,
que foi desativado no ano de 2015.
Fonte: Rita de Cássia de Almeida18
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 89
Em seus depoimentos, alguns moradores
relatam o quanto o café foi importante para a DEPOIMENTOS
SANTA EUDÓXIA E RIO MOGI-GUAÇU
economia local e lamentam que as monocul-
turas da cana-de-açúcar e da laranja tenham “(...) Santa Eudóxia era menor, tinha muito café, as terras eram só café, agora mudou muito, que é só cana,
prejudicado a qualidade ambiental da região, laranja. (...) no tempo do café Santa Eudóxia era mais poderosa do que hoje, circulava mais dinheiro.” [de-
poente falando sobre o final da década de 1940, quando tinha aproximadamente 7 anos de idade]. D. Cida.
devido à destruição das matas ciliares e aos Almeida, 20106.
resíduos de fertilizantes sintéticos e defensi-
vos agrícolas utilizados nessas plantações. “(...). O Mogi eu frequentava, está diferente, melhorou mais para as pessoas ficarem, mais casas. Mas hoje não
tem peixe como tinha antes, se não tinha qualquer coisa para o almoço ou para a janta iam pescar, pegava
mais fácil, hoje está difícil, eu não fui mais.” Sr. José. Almeida, 20106.
“Eu era pescador, eu conheço o Quilombo desde a nascente (...). A diferença da margem do rio é que ela
era selvagem depois deixou de ser, não há um respeito com relação às matas ciliares, eles estão plantando
qualquer cultura até na beira do rio. E esses produtos químicos aplicados nas culturas vão direto para a água,
(...). Antigamente a gente pegava no Quilombo até Piracamjuba, que é uma Piava de tamanho grande que
chegava até 12 quilos, depois passou apenas para a Piava que é um peixe de 2,5 quilos, hoje nós pegamos
Piavinha de 700 gramas, esse é o retrato da desenvolução. Pior agora que nós estamos pegando Corimba,
que não é peixe do Rio do Quilombo, que tem a água limpa e o Corimba é peixe de água barrenta, se ele está
subindo é porque ele também está ameaçado, deve estar irrespirável a água do Rio Mogi-Guaçu.” Sr. José.
Almeida, 20106.
96
90 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
UNIDADE DE GERENCIAMENTO
DE RECURSOS HIDRICOS (UGRHI)
TIETÊ-JACARÉ
A UGRHi Tietê-Jacaré, no município de São abastecimento público e abriga a primeira
Carlos, é composta pelas seguintes sub-ba- usina hidrelétrica a entrar em operação, no
cias hidrográficas: do Rio Chibarro, do Ribei- estado de São Paulo. Construída em 1893, a
rão do Feijão, do Rio Jacaré-Guaçu e do Rio do Usina Hidrelétrica do Monjolinho está lo-
Monjolinho. Dentre essas, destacamos a do calizada na Fazenda Cascatinha, Estrada Mu-
Monjolinho, que abrange uma área de 273,77 nicipal São Carlos-Usina Açucareira da Serra,
m², a qual drena a zona urbana do Município. km 7, a uma distância de aproximadamente
Possui uma importante área de manancial e 3km da Rotatória do Cristo Redentor.
A Usina Monjolinho entrou em operação em tão, com capacidade de 600 KW, com duas máqui- 97
1893 e foi a primeira hidrelétrica a ser construí- nas trifásicas de 300 KW cada uma.
da no Estado de São Paulo, sendo a segunda do Apenas em 1973, no dia 5 de setembro, a Com-
Brasil e do Hemisfério Sul. Na época, eram duas panhia Paulista de Eletricidade passou o controle
máquinas monofásicas de 50 kVA, que respon- acionário para a Companhia Paulista de Força e
diam à demanda necessária para a população Luz - CPFL. Em 1986, a usina foi incluída no pro-
local. A queda d’água para a usina era de 33 cesso de semi automação implantado pela CPFL,
metros, com canal de adução de 250 metros. A que tinha como objetivo aumentar a produção de
usina foi construída pela “Companhia de Luz Elé- energia elétrica.
trica de São Carlos” e operou até 1907, quando A Usina Monjolinho foi totalmente reformada em
foi substituída pela Companhia Paulista de Ele- 2001, com a construção e reforma da barragem,
tricidade - CPE. comportas, casa de máquinas e revisão geral das
O rápido crescimento da demanda de energia elé- 2 unidades geradoras de 300KW cada. De acordo
Figura 97 – Mapa do Município de São Carlos, Bacias
trica fez com que fosse construída, em 1908, uma com a Secretaria de Energia e Mineração do Esta- Hidrográficas do Tietê-Jacaré
nova usina, utilizando todo o potencial da queda do de São Paulo, em maio de 2018 a geração de
d’água - 80 metros. A usina passou a operar, en- energia era de 222MWh. Lima, 20167.
Fonte: Projeto AFLORAR – espaços educadores2
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 91
O Rio do Monjolinho nasce a 900 metros de de aproximadamente 600 metros, na divisa este, passando pela área urbana da cidade
altitude, no Planalto de São Carlos, a leste do geográfica dos municípios de São Carlos e de São Carlos. Durante o seu percurso, o Rio
Município, na região do bairro Douradinho, e Ribeirão Bonito. Percorre uma extensão de do Monjolinho recebe inúmeros afluentes
desagua no Rio Jacaré-Guaçu, a uma altitude aproximadamente 43 km, no sentido leste-o- que, por sua vez, formam várias microbacias.
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92 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Figura 99 - Mapa ocupação urbana sub-bacia do Rio
do Monjolinho, dentro das microbacias.
Expansão
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 93
Figura 100 – Rio do Monjolinho – (a) vista panorâmica
da área de nascentes; (b) nascente na Fazenda Santa 100a
Rio do Monjolinho
Teresinha, década de 1990; (c) nascente na Fazenda
Santa Teresinha, em 2017; (d) vista panorâmica da foz
no Rio Jacaré-Guaçu, na Fazenda Santo Inácio – divisa
dos municípios de São Carlos e Ribeirão Bonito; (e)
foz do Rio do Monjolinho, no Rio Jacaré-Guaçu; (f) Rio
Jacaré Guaçu, após junção com o Rio do Monjolinho;
(g) estação de trem Santo Inácio, próximo a junção do
Rio do Monjolinho com o Rio Jacaré Guaçu.
Nascente
100b 100c
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 95
Uma das atividades econômicas
SAIBA MAIS - CURTUMES
que causou graves impactos ambien-
tais na sub-bacia hidrográfica do Rio do Atualmente, os curtumes em geral são providos de estações de tratamento dos efluentes (controle via tra-
Monjolinho, a partir da década de 1930, tamento “fim-de-tubo”), com o objetivo de mitigar seus impactos ambientais e atender à legislação vigente.
Contudo, continuam sendo grandes consumidores de recursos hídricos:
foram os curtumes que se localizavam “Segundo o Centro Tecnológico do Couro, SENAI – Rio Grande do Sul, o consumo total médio atual do setor
ao longo do curso do Rio. Durante o pro- brasileiro está estimado em 25-30 m3 água/t pele salgada – cerca de 630 litros água/pele salgada, em média.
Vale dizer, portanto, que um curtume integrado, de processo convencional que processe 3.000 peles salga-
cesso de produção do couro, todos os
das por dia (de porte médio), consumiria aproximadamente, 1.900 m3 água/dia, que equivale ao consumo
resíduos do processo – que inclui a lim- diário de uma população de cerca de 10.500 habitantes, considerando-se um consumo médio de 180 litros
peza do couro para a retirada de restos de água /habitante/dia. (PACHECO, 2005)8.
96 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Figura 101 - Antigo Curtume Hispano-Brasileiro.
DEPOIMENTO
Poema
Quando eu era criança Prá onde foram os passarinhos
No rio Monjolim eu tomava banho Com os insetos e todos animais
Fonte: Rita de Cássia de Almeida
23
De lá comi seus peixinhos Por causa da poluição todos pereceram
Bebi água potável e dei a Já não existem mais
Todo meu rebanho
Agora que estou ficando velho
Agora que estou ficando velho Meu coração não agüenta mais
Meu coração não agüenta mais
Eu convido quem trabalha
Ai meu Deus do céu Com a cabeça e com as mãos
Que saudade que tenho do rio Quem transforma força e fruto
Monjolim há 50 anos atrás Sem direito na produção
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 97
A seguir, serão apresentadas sete microba- pação e as Áreas de Proteção e Recuperação de Essas microbacias pertencem aos córregos:
cias que drenam a área urbana da cidade de Mananciais de Abastecimento Público (APREM) Gregório, Tijuco Preto, Medeiros, Santa Maria
São Carlos, de acordo com a cronologia de ocu- do Rio do Monjolinho e do Ribeirão do Feijão. do Leme, Mineirinho, Água Quente e Água Fria.
102
98 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO Figura 103 - Mapa da microbacia do Córrego do Gre-
CÓRREGO DO GREGÓRIO gório, com a expansão urbana, rede hídrica e localiza-
ção dos bairros e escolas.
Instituições de ensino
localizadas na Microbacia
Hidrográfica do Córrego
do Gregório
(34) EE Dr. Álvaro Guião
(37) CEFA Prof. Cid da Silva
César (38) CEMEI Cônego
Manoel Tobias (39) EE
Cel. Paulino Carlos (40) EE
Prof. Sebastião de Oliveira
Rocha (41) Escola Livre de
Música Maestro João Sepe
(42) Creche Anita Costa
(43) ACORDE (44) Centro
Interescolar Paulino Botelho
(46) EE José Juliano Neto
(47) CEMEI Dom Rui Serra
(51) UAB - Prédio Octávio
Carlos Damlano (52) Oficina
Cultural Sérgio Buarque de
Holanda (53) EE Eugênio
Franco (54) SENAC (55) EE
Prof. Arlindo Bittencourt (56)
CEMEI Dep. Lauro Montei-
ro da Cruz (57) CDCC/USP
(58) SENAI-Escola Antônio
Adolfo Lobbe (59) EE Bispo
Dom Gastão (60) Creche
Aracy Leite Pereira Lopes
(61) CEMEI Carmelita Rocha
Ramalho (76) EE Jesuíno de 103
Arruda (77) Centro Educa-
cional SESI 108 (79) CEMEI
João Muniz (80) EE Péricles
Soares (97) CEMEI João Jorge
Marmorato (98) EE Prof. An-
tônio Adolfo Lobbe (99) EE
Prof. João Jorge Marmorato
(100) CEMEI João Batista
Paino (101) CEMEI Bruno
Panhoca.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 99
O Córrego do Gregório nasce na área ru-
Figura 104 – Vista panorâmica das nascentes do Rio
ral, cerca de 900 metros de altitude, na mes- do Monjolinho, Córrego do Gregório e Ribeirão dos
Negros.
ma região em que nascem também o Rio do
Monjolinho e o Ribeirão dos Negros.
Nascente do Rio
do Monjolinho
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do nte Nascente do Ribeirão
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104
Fonte: Google Earth26
100 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Percorre a área urbana, no sentido leste- A vegetação predominante na microbacia
Figura 105 – Córrego do Gregório – (a) vista panorâ-
-oeste, por uma extensão de aproximada- hidrográfica do Córrego do Gregório era a mica da nascente; (b) nascente no Sitio Santo Antônio;
(c) vista panorâmica da foz, no Rio do Monjolinho; (d)
mente 9 km, e sua bacia abrange uma área Floresta Semidecidual com Araucária e man- foz no Rio do Monjolinho, na Rotatória do Cristo.
de 19 km2. Considerando o seu curso desde a chas de Cerrado e Cerradão.
nascente até a foz, possui como afluentes os Fonte: (a, c) Google Earth; (b, d) Acervo do CDCC/USP27
Córrego do
Gregório
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Nascente do Córrego
do Gregório
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 101
Foi nesta bacia que se construíram as pri-
meiras ruas e casas, situação não diferente 106b
de muitas outras cidades, cuja urbanização
iniciou em locais próximos aos cursos d´á-
gua. Conforme a população foi aumentando,
a cidade foi crescendo a partir desse peque-
no núcleo urbano e melhorando sua infraes-
trutura.
106a 106c
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3
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4
102 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Em 1890, a cidade era abastecida pelo Cór- da Rua Visconde de Inhaúma. Hoje, o Córrego ros públicos situados em pontos de grande cir-
rego da Biquinha, que nasce na região do da Biquinha está totalmente canalizado e co- culação de pessoas. Foi apenas em 1899 que a
Teatro Municipal (Rua Padre Teixeira) e de- berto, mas, naquela época, suas águas eram água encanada chegou às torneiras de algumas
semboca no Córrego do Gregório, na altura distribuídas em quatro chafarizes, bebedou- casas.
1
107
4
Figura 107 - Localização dos chafarizes – bebedouros
públicos: (1) próximo ao local da nascente (posto Bi- 3
quinha/Teatro Municipal); (2) Rua Episcopal (quadra
entre a 13 de maio e a Jesuíno de Arruda); (3) Rua 9
de Julho, esquina com General Osório, Igreja de São
Benedito; (4) Rua General Osório (entre Alexandrina e
Avenida São Carlos).
Fonte: Pavesi; Pavesi; Roberts. Jabur, 201129Figura 108 – Córrego
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 103
108a
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104 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Em 1969, o Serviço Autônomo de Água e dos poços é o “Antonio Fischer dos Santos”, alimentícios CICA, que seria instalada naque-
Esgoto (SAAE), criado naquele mesmo ano, localizado na Rua D. Pedro II, inaugurado em le local. Apesar desse empreendimento não
começou a perfurar poços profundos para 02 de junho de 1969, entre as ruas General ter sido concretizado, ficou conhecido como
captar água de um reservatório subterrâneo, Osório e Geminiano Costa, construído para “Poço da CICA” e continua em funcionamento.
na microbacia do Córrego do Gregório. Um fornecer água para a empresa de produtos
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 105
Quanto à rede de esgoto, embora já hou- de “Filtros” e ficava onde hoje está localizado
vesse planos para a sua implantação em 1890, o Serviço Social do Comércio (SESC). Esta es-
o primeiro projeto de tubulação, que seguia a tação funcionou de 1925 a 1930 e tratava a
margem esquerda do Gregório, data de 1901, água até deixá-la praticamente limpa, para
e sua execução foi finalizada em 1903. O prof. lançá-la, em seguida, no Córrego do Gregório.
Mário Tolentino conta que a primeira esta-
ção de tratamento de esgoto foi chamada
“Quando eu mudei beirando o Gregório, não havia Era um tratamento biológico, por assim dizer, da
casa, só havia a casa que eu morava ali na beira- água, mas melhorava bem a qualidade da água, a
da do córrego. (...) E aí o riozinho que passava ali água passava por três tanques. Esses filtros eram
era que nem hoje, um fio de água, quando vinha constituídos por uns tanques que deveriam ter
muita chuva aquilo alagava tudo, subia dois, três aproximadamente uns 20m x 20m, com um metro,
metros. E o esgoto de São Carlos, ele era despeja- mais ou menos, de profundidade. Três tanques
do aqui em baixo, perto do Cristo. Ali tinha uma de alvenaria, construídos à margem do Gregório,
estação de tratamento de esgoto que chamava intercomunicantesantes de a água depois de sair
“Filtro”, você vê que tratamento de esgoto é coisa da terceira bacia de sedimentação, saía relativa-
antiga, em 1930, isso aí! Então, tinha uns tanques mente pura e era lançada no Córrego do Gregó-
em que o esgoto entrava dentro e ficava decan- rio. Esse lugar era uma chácara conhecido pelos
tando, a água ia saindo e aquela sujeira acumulan- filtros, onde está hoje aquela construção do SESC,
do. Uma vez por mês eles tiravam a água de um ali onde está o SESC estava a estação de tratamen-
tanque para o outro e recolhia aquilo ali e punha to de águas”. Prof. Tolentino. Almeida, 20019.
pra secar e vendia como esterco. [...] esse esgo-
to era lançado numas lagoas de sedimentação e
oxidação que existiam numa chácara que tinha o
nome de ‘filtros’, exatamente por causa disso [...]
A água do esgoto era depositada nos tanques de
alvenaria, passava de um tanque para outro atra-
vés de um conjunto de pedras que serviam de su-
porte para bactérias, que faziam a degradação da
matéria orgânica, que era carreada pelo esgoto.
106 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
A ocupação da microbacia do Córrego do
Gregório foi bastante intensa até a década de
1940. Nesta região, desenvolviam-se pratica-
mente todas as atividades econômicas, so-
ciais e culturais e, por isso, é até hoje o centro
da cidade.
O estudo das atividades econômicas pode 110a 110b
nos contar um pouco sobre a ocupação da mi-
crobacia. Entre 1911 e 1920, funcionavam em
São Carlos 84 estabelecimentos industriais.
Dois deles eram grandes indústrias locais – a
Fábrica de Tecidos Magdalena e a Serraria
Santa Rosa. A Fábrica de Tecido Magdalena,
no auge de sua produção, chegou a empregar
quase mil funcionários, e a Serraria Santa Rosa
permitiu a instalação de pequenas indústrias
de transformação de madeira na cidade.
110c 110d
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 107
Até 1920, a atividade industrial estava
Figura 111 - Fotos das indústrias: (a) Indústria de
concentrada em três setores: o da produ- Artigos para Selaria, (b) Fábrica de Veículos Giometti,
(c) Indústria de Sabão A. J. Cerri, (d) Indústrias Fachi-
ção de máquinas para agricultura, especial- na – anos 1920, (e) Indústria Fachina anos 1940, (f)
mente para o beneficiamento do café; o de Faber Castell, anos 1940, (g) Indústrias de Cadeira
Saya, anos 1940, (h) Frigorifico São Carlos anos 1960,
fabricação de sacaria para embalagem; e o (i) Indústrias Pereira Lopes, anos 1960, (j) Indústrias
Pereira Lopes, anos 1970.
da produção de bens de consumo, realizada
predominantemente em estabelecimentos
111a 111b 111c
de administração familiar. Essa produção
de bens de consumo era bastante variada,
abrangendo produtos como madeira, móveis,
carroças, lápis, tecidos e vestuário, sapatos,
fogões, pregos, louça, sabão, doces e bebi-
das, café em pó, peças e dormentes para a
ferrovia. Nos anos seguintes, instalaram-se
outras pequenas indústrias, permitindo que 111d 111e 111f
a economia da cidade se recuperasse da cri-
se cafeeira. Em 1924, os estabelecimentos
classificados como indústrias somavam 183
unidades.
Contudo, o desenvolvimento industrial de São
Carlos gerou impactos negativos ao meio am-
biente, tanto na retirada de cobertura vegetal 111i 111j
111g 111h
como com o lançamento de resíduos nos cur-
sos d’água. Por exemplo, a indústria de móveis,
que se consolidou por volta da década de 1930,
cresceu graças à exploração de espécies do
Cerrado e da Mata Semidecídua, como a peroba
rosa, a imbuia, o ipê, a araucária e a cabriúva. Fonte: Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos33
108 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Na área de várzea do Córrego do Gregório do mercado” foi sendo modificada. Em 1934, plexo de áreas livres destinadas ao lazer. O
foi construído também o primeiro Mercado foram implantadas as praças Voluntários da antigo prédio do Mercado foi demolido em
Municipal de São Carlos (1903), composto por Pátria e Pedro de Toledo, onde foi construí- 1968 e reinaugurado no mesmo ano com o
dois edifícios destinados à venda de verdu- da a piscina municipal. Essas duas praças, em nome de Mercado Municipal Antonio Massei.
ras, frutas, legumes e carnes. Com o passar conjunto com a Praça Maria Aparecida Resi-
do tempo, a região conhecida como “baixada tano (Praça do Mercado), formaram um com- Figura 112 – Mercado Municipal: (a) década de 1910;
(b) 1918; (c) 1930; (d) 1938; (e) 1940; (f) 1950; (g) área
interna; (h) 2018 (Praça Maria Aparecida Resitano).
Fontes: (a, b, c, d, e, f) Acervo da Fundação Pró-Memória de São
Carlos; (h) Rita de Cássia de Almeida34
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 109
DEPOIMENTO - MERCADO E PRAÇAS Figura 113 – (a) Vista panorâmica das três praças:
Praça do Mercado Municipal (Praça Maria Aparecida 113a
Resitano), Praça dos Voluntários da Pátria e Praça da
Ali na frente do mercado, a cada distância, tinha Piscina Municipal (Praça Pedro de Toledo); (b) Praça
um poste e cada poste era cheio de argolas, para do Mercado Municipal - antiga; (c) Praça do Mercado
Municipal - 2017; (d) Praça dos Voluntários da Pátria-
amarrar os cavalos. E os “caras”, tinha muito índio, antiga; (e) Praça dos Voluntários da Pátria - 2017; (f)
caboclo, mestiço né, da região aqui mesmo, que Praça da Piscina Municipal - 1934; (g) Praça da Piscina
negociavam cavalo, o negócio aqui era cavalo e Municipal- 2017.
113f 113g
110 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 111
Na região central da cidade estavam tam- de encontro e abrigar uma escola primária Universidade de São Paulo (USP) e a Socieda-
bém muitos espaços culturais, como o Grê- para essa comunidade. Em 1922, a sede foi de Dante Alighieri para a cessão do prédio, a
mio Recreativo Familiar Flor de Maio, fundado ampliada e passou também a ser palco de fes- fim de abrigar a Escola de Engenharia de São
pela comunidade negra em maio de 1928, e tas e de exibição de peças de teatro. Por mo- Carlos (EESC/USP) enquanto o campus estava
a Sociedade Dante Alighieri, fundada pela co- tivos políticos, em virtude da Segunda Guerra em construção. Em 1980, o edifício passou a
munidade italiana, em 1902. Seu prédio foi Mundial, o prédio foi fechado em 1945. Em ser utilizado pelo Centro de Divulgação Cien-
inaugurado em 1908 para se tornar um local 1952, foi formalizado um convênio entre a tífica e Cultural (CDCC/USP).
Figura 115 - Clube Flor de Maio: (a) anos 50; (b) 2018.
115a 115b
112 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Figura 116 – Sociedade Dante Alighieri (a) década de
1910; (b) década de 1920; (c) Escola de Engenharia -
Década de 1950; CDCC (d) Década de 1980 (e) Década
de 2010.
116a 116b
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 113
Nessa região, funcionavam também os cine- cionou de 1902 a 1976, em um prédio da Pra-
mas: Cine São José, na Rua Nove de Julho, em ça Coronel Salles; o Cine Avenida, aberto na DEPOIMENTO - CINE AVENIDA
frente à Igreja São Benedito, que funcionou década de 1950 e fechado em 1982, que se “Era um cinema de luxo sabe. Que nós, homens,
da primeira metade do século XX até meados localizava na Avenida São Carlos, perto do Lar- tinha que por gravata para entrar no cinema.
dos anos de 1960; o Cine São Carlos, que fun- go da Santa Cruz, onde hoje está o Banco Itaú. Se você não tinha gravata, tinha que ter man-
ga comprida, ou paletó. Assim, de roupa assim,
não entrava.” Dr. Hugo.Almeida, 20019.
Figura 117 – (a) Cine Avenida; (b) Cine São José; (c)
Cine Joia; (d) Cine São Carlos - anos 1950; (e) Cine São
Carlos - anos 1970.
Fonte: Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos39
117d 117e
114 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
OCUPAÇÃO URBANA E SEUS
IMPACTOS
A urbanização de São Carlos, que já era vida dos seres vivos é a conservação da mata
representativa em 1940, intensificou-se entre ciliar ou galeria, nome dado à vegetação DEPOIMENTO - URBANIZAÇÃO
1950 e 1970, causando graves problemas am- natural que acompanha os cursos d´água. “São Carlos era calçada de pedra, as pedras
bientais, a começar pela questão do escoa- Contudo, naquela época era comum retirar a compridas chamadas paralelepípedos. O mer-
mento das águas. vegetação, aterrar as nascentes e tampar os cado era para cima do rio [falando sobre o Cór-
rego do Gregório, em 1947]. Ali tinha um bar-
Ao longo do processo de urbanização, mui- córregos em todo o seu comprimento, trans- racão, ali era o mercado e, então, as pessoas
tas mudanças aconteceram na paisagem formando radicalmente a paisagem natural. jogavam as coisas no rio e o rio levava embora,
original do Córrego do Gregório. Durante o Essa prática afeta irreversivelmente os pro- o rio era o esgoto dali.”
“Ali, onde hoje é o Magazine Luiza, tinha um
período de 1970 a 1974, o leito do córrego cessos de drenagem e o ciclo hidrológico em
Posto de Gasolina. Subindo a Avenida São Car-
perdeu o seu traçado original, tendo sido re- geral – a infiltração das águas das chuvas, a los, que era de paralelepípedos, tinha a Farmá-
tificado e canalizado em alguns trechos para recarga do aquífero e a renovação dos cur- cia do Jordão e tinha a loja do Piovesan, onde
meu pai ia comprar tralha. Foi o Prefeito Anto-
dar lugar à construção de ruas, avenidas mar- sos d’água. Entre todos os problemas, aquele
nio Massei [entre 1952 e 1956] que começou
ginais e bairros residenciais e comerciais. A provocado pelas enchentes e o consequente a fazer o asfalto da Avenida São Carlos, lá na
canalização do córrego permitiu também que alagamento de extensas áreas da cidade, in- Praça Itália. Até teve um fato lá que, como era
um terreno alagadiço, a camada abaixo de dois
o esgoto lançado diretamente em suas águas clusive do centro é, ainda hoje, o mais trau-
metros era toda alagada, era um barro. Então,
não estagnasse nas áreas naturais de várzea mático, tendo deixado a sua marca na memó- fizeram o asfalto, mas não tinha canalização da
– que, quando chovia, se alagavam – e fosse ria coletiva dos são-carlenses. água, então chovia e a Avenida São Carlos vira-
va um rio.” (Dr. Hugo. ALMEIDA, 2001)9.
escoado rapidamente para fora da cidade.
A urbanização se deu sem grandes preocu-
pações com a conservação da paisagem do
córrego, nem com a qualidade de suas águas.
Hoje, sabemos que um dos fatores funda-
mentais para a conservação da qualidade e
da quantidade das águas superficiais e da
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 115
Figura 118 – Enchentes do Córrego do Gregório, na re-
gião do Mercado Municipal: (a) antigas; (b) 2018; (c) 2020. Fontes: (a) Acervo da Fundação pró-Memória de São Carlos; (b, c)
Acervo da Defesa Civil – Prefeitura Municipal de São Carlos40
116 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
A partir de 2002, a Prefeitura Municipal re- fortes chuvas. A fonte do problema, de fato, a água corre em enxurradas, ruas abaixo, até
alizou importantes obras de engenharia para reside no atual padrão intensivo de ocupação alcançar o córrego, cuja vazão aumenta de
a prevenção das enchentes, na baixada do do solo na microbacia por ruas e construções, uma hora para outra, causando transborda-
Mercado, mas foram insuficientes para conter que impedem que a água se infiltre. Assim, mentos e a erosão das margens.
a vazão do Córrego do Gregório, em dias de especialmente com as fortes chuvas do verão,
119c
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 117
Em 2005, foi aprovado o Plano Diretor do margem direita – que nasce na região dos O Córrego do Simeão nasce na região da
Município (Lei n 13.691, revisão pela Lei n
o o
bairros Tangará e Douradinho e desemboca Praça Itália, passa sob o bairro Lagoa Serena
18.053, de 19 de dezembro de 2016), que defi- no Córrego do Gregório, antes da rodovia e desemboca no Córrego do Gregório, na re-
ne as diretrizes de uso, ocupação, parcelamen- Washington Luiz; o Córrego do Sorregotti – gião do Mercado. Um dos poucos locais que
to e expansão do solo urbano. Na parte que que nasce no bairro Tangará, próximo à ro- não está canalizado, situa-se nos fundos de
trata das “Zonas de Proteção e Ocupação Res- dovia Washington Luiz, e desemboca no Cór- um restaurante instalado na Rua Episcopal,
trita”, constam restrições para o crescimento rego do Gregório, na rotatória Celeste Zanon esquina com a Rua Santa Cruz.
urbano, na direção das nascentes do Córrego (Escola Educativa); e o Córrego do Lazarini,
do Gregório. A preocupação com este e outros que nasce na Chácara do Parque, região alta
córregos se faz presente também na parte das da Vila Nery, próximo ao Cristo, e desemboca
“Áreas Especiais de Interesse Ambiental”, que no Córrego do Gregório, próximo à Rua Major
se destinam a proteger e recuperar corpos Manuel Antonio de Matos.
d´água, por meio do reflorestamento de suas Os afluentes da área central desapareceram
Figura 120 - Canalização do Córrego Simeão – (a) na
margens, entre outras medidas. e quase ninguém lembra ou tem conhecimen- área do Pontilhão da Praça Itália; (b) na praça do Bair-
ro Lagoa Serena, c) boca de lobo na entrada do antigo
Desde os primórdios da urbanização de to de que, debaixo da Rua Episcopal e das Ruas Prédio da Faber Castell, na Rua Primeiro de Maio; (d)
saindo da área do antigo prédio da Faber Castell na
São Carlos, a paisagem da microbacia do José Bonifácio e Aquidaban, ainda correm os Rua Episcopal; (e) foz do Simeão no Córrego do Gre-
Córrego do Gregório sofreu profundas trans- córregos do Simeão e Biquinha. Do Córrego Bi- gório (durante obras de canalização do Córrego do
Gregório, em 2002).
formações, sendo que apenas três dos cinco quinha, emerge apenas o fio d’água que escor-
afluentes deste córrego ainda são visíveis: o re da fonte na creche Anita Costa, localizada na
Fonte: (a) Acervo da Fundação Pró-Memória de São Carlos; (b, c, d)
Córrego Primeira Água, primeiro afluente à esquina das ruas Aquidaban e Conde do Pinhal. Rita de Cássia de Almeida; (e) Acervo do CDCC42
118 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Em 2009, entrou em funcionamento a Esta-
SAIBA MAIS – CÓRREGO DO SIMEÃO ção de Tratamento de Esgoto (ETE), localizada
O Córrego do Simeão (canalizado sob a Rua às margens do Rio do Monjolinho, sendo que
Episcopal, deságua no Córrego do Gregório per- em 2012 tratava 85% do esgoto da cidade de
to do Mercado Municipal), teve, desde a época São Carlos. Antes da ETE, a maior parte do es-
de ocupação, o nome de “baixada”. Nesse local,
foram erguidas as primeiras indústrias, quase
goto coletado era lançado no Rio do Monjoli-
artesanais, trazidas pelos imigrantes europeus, nho e o restante nos córregos do Gregório e
principalmente italianos, que ali fixaram resi- do Tijuco Preto. Dados de 2017 mostram que
dência. Essa região passou a ser denominada
a ETE Monjolinho coleta 100% do esgoto da
de “Piccola Calabria”, por muitos destes imi-
grantes serem originários desta região do sul cidade e trata 98% (500 L/s), sendo removido
da Itália. Com o tempo, essa área à montante mais de 90% de matéria orgânica2.
do Córrego do Simeão passou a ser denomina-
Apesar da existência da rede coletora de
da de Lagoa Serena, por conta da água acumu-
lada pela nascente. Neves, s.d.11. esgoto e da implantação da ETE, ainda se ob-
servam evidências do lançamento de esgoto
em alguns pontos do Córrego do Gregório,
DEPOIMENTO – CÓRREGO DO SIMEÃO pois a água apresenta cor e cheiro caracterís-
ticos. É provável que até mesmo os sedimen-
“O Simeão era um riozinho, mas tinha cobra ti-
tos do leito do córrego e de seus afluentes
nha tudo. Ele descia, ia de lá de cima, (...) passa-
va por baixo da hoje que é a Lápis. (...) Foi sain- estejam contaminados por óleos, solventes
do ali embaixo da Giometti, depois canalizou, aí e outras substâncias utilizadas em postos de
foi aumentando as casas e teve que esconder o
combustíveis e oficinas.
rio. Tinha umas partes que era meio fundinho.
Não era sujo, mas também não era limpo pra
beber. A turma pescava lambari, com peneira,
anzolzinho. Era gostoso ver aquilo. Sra. Lica .
Pavesi; Roberts. Jabur, 201110.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 119
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO
CÓRREGO DO TIJUCO PRETO
121
120 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
O Córrego do Tijuco Preto nasce no bairro
Vila Nery, dentro do condomínio Dom Bosco, 122a 122b
a uma altitude de 870 metros, e desemboca
no Rio do Monjolinho, próximo ao bairro Par-
que Arnold Schmidt, a uma altitude de 800
metros, depois de percorrer aproximada-
Nascente do Córrego
mente 3 km. do Tijuco Preto
Rio do
Monjolinho
Monjolinho
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Córrego do
Tijuco Preto
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Fonte: (a, c) Google Earth; (b, d) Rita de Cássia de Almeida44
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 121
A microbacia do Córrego do Tijuco Preto
ocupa uma área de 3,700 km2 e faz divisa com
as microbacias do Córrego do Gregório, Cór-
rego da Federal, Córrego Belvedere e Rio do
Monjolinho. 123a
Um dos principais afluentes do Córrego
do Tijuco Preto é o Córrego do Schmidt, que
foi canalizado e coberto em toda a sua ex-
tensão. Hoje, suas nascentes brotam direta-
mente nos quintais, piscinas e caixas d’água
de algumas moradias do bairro Vila Elizabeth 123c
e é canalizado passando sob a Praça Delmas
Penteado Machado, em direção ao Córrego
do Tijuco Preto.
123b
122 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Até pelo menos, a década de 1930, a pai- controlado de resíduos e a adequação da Es-
sagem da microbacia do Córrego do Tijuco tação de Tratamento de Efluentes (ETE), que
Preto se caracterizava por chácaras produto- analisa se a água está dentro dos padrões de
ras de verduras e legumes que abasteciam a qualidade, antes de lançá-la na rede pública.
cidade. A maior parte dessa água é reutilizada no res-
A expansão urbana em direção à microba- friamento dos equipamentos de produção, e
cia do Córrego do Tijuco Preto foi expressiva o resíduo biosólido gerado é utilizado como
entre as décadas de 1950 e 1960. Alguns fa- adubo orgânico em pastagens.
tores contribuíram para a sua rápida ocupa- A construção do campus da Universidade
ção, entre eles a inauguração, em 1951, da de São Paulo, em 1952, na margem direita do
Indústria de Tapetes São Carlos, grande ex- córrego e, sobretudo, a construção de aveni-
portadora ainda em atividade, e da Indústria das marginais na década de 1980, também
de Conservas Hero, desativada na década de contribuíram para o crescimento urbano nes-
1990. sa microbacia. Em decorrência de uma ação
Essas indústrias foram instaladas na mar- movida em 1995, pela Associação de Prote-
gem esquerda do Córrego do Tijuco Preto, ção Ambiental de São Carlos (APASC), em de-
próximo à sua nascente, e, provavelmen- zembro de 2000, a Prefeitura de São Carlos
te, lançavam seus resíduos diretamente nas foi condenada a suspender a implantação
águas do Córrego. Felizmente, esse quadro de avenidas marginais em áreas de proteção
vem mudando: a fábrica Tapetes São Carlos permanente dos seus cursos d’água. Além do
tem investido em um sistema de gestão am- embargo das obras, a condenação determi-
biental e, desde 2009, obtém certificações nava a obtenção de licenciamento dos proje-
série ISO 14.000. Para tanto, teve de cumprir tos a serem implantados e a revegetação das
certos requisitos, dentre os quais o descarte margens dos córregos.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 123
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO
Fonte: Márcio Henrique Bertazi46
Figura 124 - Mapa da microbacia do Córrego do Me-
CÓRREGO DO MEDEIROS deiros com a expansão urbana, rede hídrica e a loca-
lização dos bairros e escolas.
124
124 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
O Córrego do Medeiros nasce entre os bair- Fontes: (a, d) Google Earth; (b, c, e) Rita de Cassia de Almeida47
125f
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Figura 125 - Córrego do Medeiros: Nascente no Par-
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que do Bicão (a) vista panorâmica da área de nascen-
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tes; (b) afloramento do lençol, (c) canal; (d) Córrego do jol eg
Medeiro antes da Foz; (e) vista panorâmica da foz do M on o
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Córrego do Medeiros; (f) foz do Medeiros no Rio do M
Monjolinho, próximo ao Conjunto Habitacional São Ri ed
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 125
Um dos destaques paisagísticos dessa re- Este parque, muito utilizado pela comu- lização e requalificação do Parque “Veraldo
gião é o Parque do Bicão (Parque Joaquim da nidade do bairro, sempre apresentou pro- Sbampato” – o Bicão.
Rocha Medeiros e Praça Veraldo Sbampato). blemas, como falta de manutenção de seus O evento “Vem Brincar no Parque do Bicão”,
Construído em 1982, em uma Área de Prote- equipamentos, contaminação e estagnação realizado no dia 26 de maio de 2018, marcou
ção Ambiental com uma superfície de 41.800 de água, acúmulo de lixo e falta de segurança. a entrega dessa obra. Toda a parte de vege-
m , o Parque abriga três nascentes que, no
2
Sendo assim, sua manutenção e revitalização tação de pequeno e médio porte foi recu-
passado, sofreram intervenções como ater- é sempre tema de projetos de instituições perada, os espaços foram revitalizados para
ros e represamento de suas águas. Também públicas em parceria com instituições priva- atender o esporte, o lazer e a cultura. Foi im-
a vegetação original sofreu profundas altera- das e do terceiro setor. plantado o projeto de iluminação LED, dando
ções, com a retirada de espécies nativas e a Em março de 2017, o PROAB (Progresso e mais segurança para desenvolver atividades
introdução de espécies exóticas, de acordo Habitação de São Carlos) foi escolhido para também no período noturno, como a “Feira
com projetos paisagísticos voltados à criação desenvolver, coordenar, captar recursos e Livre do Parque do Bicão”, que acontece toda
de uma área para o esporte e o lazer. acompanhar o plano de ação para a revita- quinta-feira, das 16h às 21h.
126
126 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Figura 127 - Mapa da microbacia do Córrego Santa
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO Maria do Leme com a expansão urbana, rede Hídrica
e a localização dos bairros e escolas.
CÓRREGO SANTA MARIA DO LEME
Fonte: Márcio Henrique Bertazi49
127
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 127
O Córrego Santa Maria do Leme tem suas A microbacia do Córrego Santa Maria do Jardim Bandeirantes e o Jardim Centenário. A
nascentes localizadas em áreas rurais e ur- Leme drena uma área aproximada de 11Km , 2
partir dos anos de 1960, novos loteamentos
banas, ao norte do Município. Uma delas se originalmente ocupada por Cerrado e des- foram abertos: o Jardim Santa Paula (década
encontra na região dos condomínios Village matada para instalação de fazendas de gado de 1970), o Parque Santa Marta e o Jardim
Damha. Depois de percorrer cerca de cinco e de pequenas chácaras que abasteciam a Nova Santa Paula (década de 1990), o Jardim
quilômetros, atravessa a rodovia Washington cidade com verduras, legumes e frutas. Os Acapulco (década de 2000) e o Parque Santa
Luís e deságua no Rio do Monjolinho, próxi- primeiros bairros começaram a ser forma- Elisa (em 2007).
mo ao Kartódromo. dos em 1950, como o Jardim Jockey Clube, o
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Córrego Santa
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Maria do Leme o
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128 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Considerando que, de acordo com o Plano Nesta microbacia existem dois importantes ria orgânica em decomposição e a implanta-
Diretor de São Carlos, Lei nº 13.691, de 25 de bosques urbanos: o bosque Santa Marta e o ção de bairros residenciais contíguos motivou
novembro de 2005, revisão pela Lei n 18053, o
bosque Cambuí. a Associação dos Moradores do Parque Santa
de 19 de dezembro de 2016, que estabelece O primeiro, de aproximadamente 27.000 Marta a mobilizar-se para garantir a preser-
o zoneamento do território urbano, a maior m2, consiste em um fragmento de mata nati- vação do bosque. Se, no início, ainda na dé-
parte da microbacia hidrográfica do Córrego va tropical semidecidual de altitude, com es- cada de 1990, sua atuação limitava-se a inter-
Santa Maria do Leme situa-se em uma Zona pécies arbóreas que atingem a altura de 15 a venções em mutirão voltadas à limpeza e ao
de Regulação e Ocupação controlada. Esta é 20 m, dentre elas jequitibá (Cariniana legalis), plantio de espécies nativas, com a construção
uma área de transição entre o meio rural e o jatobá (Hymenaea courbaril), maçaranduba de um novo bairro, em 2007, o Parque Santa
meio urbano com forte tendência para a ex- (Manikara uberi), pau-terra-jundiaí (Qualea Elisa, ficou clara a necessidade de preserva-
pansão urbana, e para novos empreendimen- jundiahy), ipê felpudo (Zeyheria tuberculosa), ção de áreas de reserva legal, que seriam ar-
tos imobiliários. Vários segmentos sociais têm ipê amarelo (Tabebuia ochracea / Tabebuia borizadas e agregadas ao bosque.3
demostrado interesse na sua conservação. vellosoi) e canjarana (Cabrelea canjerana). A
degradação causada pela extração de maté-
Figura 129 - Bosque Santa Marta: (a, b) imagens in-
ternas do bosque; (c) vista lateral do bosque na Av.
Filomena Rispoli.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 129
O bosque Cambuí leva esse nome devido à em sua maioria nativas – pertencentes a 56 nome dessa associação deve-se à presença
grande presença da espécie da árvore nativa famílias botânicas. Esta intervenção teve im- nessa APP de dois tipos de nascentes: a loca-
cambuí (Myrceugenia euosma) na mata ciliar portantes efeitos sobre a diversidade animal, lizada, chamada de olho d’água, e a espraia-
do Córrego Santa Maria do Leme e do seu bem como nas condições microclimáticas e da ou difusa, que contribuei para formar as
afluente Córrego Cambuí. É justamente den- na qualidade da água.3 “veredas” dos córregos Cambuí e Santa Ma-
tro do bosque que o córrego, que nasce no Recentemente, tanto o bosque Santa Mar- ria do Leme. A vegetação dessa APP contém
bairro Jardim Acapulco, desagua no Córrego ta como o Cambuí passaram a integrar a APP grande variedade de espécies características
Santa Maria do Leme. 2 do Jardim Acapulco, constituindo, dessa for- da região: samambaiaçu (Alsophila taenites),
No final da década de 1990, a Diretoria da ma, um corredor biológico importante para quaresmeiras (Tibouchina granulosa), cin-
Associação de Moradores do Parque San- a manutenção da diversidade dos ecossiste- zeiro (Volchisia tucanorum), pinha-do-brejo
ta Marta propôs o projeto “Recuperação da mas locais. Tendo por referência as ativida- (Magnolia ovata), embaúba (Cecropia pachys-
mata ciliar dos mananciais urbanos Santa Ma- des conservacionistas empreendidas por as- tachya), copaíba (Copaifera langsdorfii), pin-
ria do Leme e Cambuí”, com o objetivo princi- sociações de moradores da região, em 2008 daíba (Duguetia lanceolata), canela-do-brejo
pal de reverter o quadro de abandono e de- instituiu-se a Associação não Governamental (Ocotea pulchella), capororoca (Rapanea fer-
terioração da vegetação das margens desses “Veredas – Caminho das Nascentes”, com o rugínea), dentre outras.4,5
córregos. Entre 1999 e 2003, o bosque rece- objetivo de coordenar ações socioambientais
beu mais de 5.000 mudas de 287 espécies – sustentáveis nessa microbacia hidrográfica. O
130 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
130b 130c
do Leme
Córrego Santa Maria
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Cór Maria do Leme
Córrego do Cambuí
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Figura 130 - (a) Vista panorâmica dos córregos Cam-
buí e Santa Maria do Leme; (b) Nascente do Córre-
go Cambuí, próximo a UPA Santa Felícia; (c) Bosque
Cambuí; (d) Foz do Córrego Cambuí no Córrego Santa 130a
Maria do Leme, dentro do Bosque Cambuí.
Fonte: Rita de Cássia de Almeida52
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 131
Figura 131 – Antiga Captação do Galdino – Atual
SAIBA MAIS CAPTAÇÃO DO GALDINO
Sede da AMOR.
131
Fonte: Rita de Cássia de Almeida53
132 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO Figura 132 - Mapa da Microbacia do Córrego do Mi-
CÓRREGO DO MINEIRINHO neirinho, com a expansão urbana, a rede hídrica e a
localização dos bairros e escolas.
132
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 133
O Córrego do Mineirinho, que tem a ex- quarta estão próximas ao campus da Univer- A microbacia do Córrego do Mineirinho pos-
tensão aproximada de 4 km, é formado por sidade de São Paulo/USP - Área 2; e a ter- sui uma área aproximada de 5.850 m², ante-
quatro nascentes: três estão localizadas no ceira nascente, que forma o Córrego Santa riormente localizada nos limites do perímetro
bairro Santa Angelina e uma entre os bairros Fé, está localizada próxima a Escola Estadual urbano do município, e que hoje está incorpo-
Santa Angelina e o Santa Felícia. A primeira Attilia Prado Margarido. O córrego deságua rada à área urbana, quase em sua totalidade.
encontra-se próxima à Escola Estadual Pro- no Rio do Monjolinho, próximo à rotatória do
fessor Bento da Silva Cesar; a segunda e a Cristo.
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Campus USP - Área 2 Rio do Monjolinho; (f) vista panorâmica da área da foz do
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Fontes: (a, f) Google Earth; (b, c, d, e, g, h) Silvia Aparecida Martins dos nho no Rio do Monjolinho – Rotatória do Cristo em 2018.
Santos55
134 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
A ocupação da microbacia do Córrego Mi- ídos por habitações populares, também es- as com maior declividade nas margens do
neirinho teve seu início na década de 1960, tão presentes condomínios de alto padrão e córrego. Além disso, o grande aumento na
com a construção da Capela de Santa Rita, centros comerciais, como o Shopping Center urbanização da microbacia ampliou de for-
em 1964. Nas décadas de 1960 e 1970, a Iguatemi São Carlos. Os bairros localizados ma significativa a impermeabilização do solo
ocupação se deu de forma desordenada e, a nessa microbacia são: São Carlos III; São Car- e, portanto, o escoamento das águas pluviais
partir da década de 1980, as casas passaram los IV (Lourival Maricondi); São Carlos V; Con- para a calha do córrego. Com o aumento da
a ser mais bem planejadas e com melhor in- junto Habitacional Santa Angelina; Arnon de quantidade de água que chega ao córrego,
fraestrutura. Mello; Parque Iguatemi; Parque Santa Felícia; frequentemente têm ocorrido alagamentos
Muitos dos bairros da região começaram Parque Sisi; Jardim Planalto Paraíso; Residen- na região da rotatória do Cristo, onde se lo-
a ser ocupados por pessoas vindas da área cial Monsenhor Romeu Tortorelli; Parque Fa- caliza sua foz. O aumento da drenagem para
rural e por moradores do bairro Jardim Gon- ber I, II e III. o córrego também tem sido responsável pelo
zaga, que, na década de 1990, passou por Como boa parte da ocupação da microba- estabelecimento de um significativo processo
um processo de urbanização, não permitin- cia do córrego não aconteceu de forma or- de assoreamento.
do mais construções precárias e em áreas de ganizada, muitos impactos ambientais foram Outros impactos observados com frequên-
risco. O deslocamento dessas pessoas ace- e ainda são observados na área. A remoção cia dizem respeito às áreas clandestinas de
lerou a ocupação da microbacia do Córrego da vegetação e a grande quantidade de solo descarte de lixo e entulho e de vazamento de
do Mineirinho. Embora a maioria dos bairros exposto tem facilitado o estabelecimento de esgoto diretamente no córrego.
localizados nessa microbacia sejam constitu- processos erosivos, principalmente nas áre-
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 135
Os impactos observados e o relato de mui-
tos moradores indicam uma grande possibili-
dade de contaminação. Apesar disso, as per-
cepções sobre a qualidade ambiental na área
são muito distintas, como fica evidenciado no
relato de um morador da região.
136 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Um dos principais afluentes do Córrego do projetos temáticos voltados à comunidade de Divulgação Cientifica e Cultural (CDCC) e
Mineirinho é o Córrego Santa Fé. A área da da Escola Estadual Attília Prado Margarido, financiado pela Fundação de Amparo à Pes-
nascente desse córrego foi um importante localizada no bairro Parque Jardim Santa Fe- quisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
exemplo de recuperação ambiental, que teve lícia. Esse programa teve origem no projeto
início a partir de um programa de educação “Educação Ambiental através da Visão Integra- Figura 136 – Projetos de Recuperação do Córrego
Santa Fé: (a) área da nascente no início do projeto
ambiental. O programa, denominado “Pro- da da Bacia Hidrográfica e Resíduos Sólidos”, (1998); (b) plantio em 2000; (c) plantio em 2011.
grama Santa Fé”, era formado por diferentes desenvolvido entre 1997 e 1999, pelo Centro
136a
136b
136c
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 137
A partir de um levantamento histórico e
ambiental da área, os alunos da Escola Es- DEPOIMENTO - “PROGRAMA SANTA FÉ”
tadual Attilia Prado Margarido, participantes “A Prefeitura e as escolas foram importantes. Nós “Então, há 12 anos nós começamos esse proje-
do programa, identificaram a nascente como temos duas escolas estaduais [falando sobre as es- to, era uma área bastante devastada, que servia
um local degradado e que servia como des- colas estaduais Attília Prado Margarido e Professor como depósito de entulho... é nascente, tem um
Bento da Silva César] e uma creche que está pró- buraco, então ali é para jogar lixo... não tinha qua-
pejo de entulho. Além disso, a comunidade xima ao córrego [CEMEI Maria Lúcia Marrara] que se vegetação e foi com muita dificuldade, com a
não identificava essa área como sendo uma trabalharam. Os professores e a direção se preo- Prefeitura ajudando, foi retirado o entulho, foram
nascente e, nos mapas oficiais do Município, cuparam com o córrego e isso fez com que fossem feitos plantios, aí as vacas vinham e comiam as
feitos vários plantios. A USP que fez o Campus II na mudas, depois resolvemos pedir uma cerca, o que
o córrego não possuía um nome.
região também tem projetos de preservação da- melhorou bastante... mas ainda tem muita coisa a
Buscando despertar um maior sentimento quela área e também fez plantios, então, acho que ser feita lá.” Profa. Luzdivina. Almeida, 20106.
de pertencimento da comunidade em rela- a área melhorou em relação de quando eu conheci
o córrego em 1980.”;
ção à área e à importância da conservação da
qualidade ambiental, decidiram dar um nome
para o córrego. Desta forma, optaram por re-
alizar uma votação para a escolha do nome,
que teve como vencedor “Santa Fé”, maneira
como a comunidade se refere ao bairro.
Para a implementação do projeto, foi im-
portantíssimo o envolvimento de toda a co-
munidade escolar e do entorno, além de es-
tabelecer parcerias como, por exemplo, com
outras escolas da região, Prefeitura e SAAE.
Sem dúvida, foram esses fatores que garanti-
ram o sucesso do projeto na época, que aca-
bou se transformando em um programa que
ainda existe na escola.
138 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Em 2018, ao revisitar a área, infelizmente
observou-se que está abandonada, com pre- 137a 137b
sença de entulho, vazamento de esgoto e
grandes erosões. Essa situação mostra que
o envolvimento da comunidade e o compro-
misso político das entidades governamentais
e privadas são de fundamental importância
para a conservação destas áreas.
137c 137d
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 139
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO
CÓRREGO DA ÁGUA QUENTE Figura 138 - Mapa da Microbacia Hidrográfica do Cór-
rego da Água Quente com a expansão urbana, rede
Hídrica e a localização dos bairros e escolas.
138
140 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
O Córrego da Água Quente nasce nas proxi-
midades do bairro Presidente Collor, em São SAIBA MAIS – POPULAÇÃO DE SÃO CARLOS – CENSO DO IBGE 201012
Carlos, e deságua depois de um percurso de O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística cílios, identificados como ocupados, 7.602 de uso
6 km, no principal curso d’água que atravessa (IBGE) dividiu a cidade em quatro grandes áreas. ocasional, 7.610 vagos e 561 fechados. A média
a cidade, o Rio do Monjolinho. Neste percur- A região identificada pelo Instituto como área 3, de moradores por domicílio é de 3,1 habitantes.
englobando os bairros Bela Vista, a partir da linha Os dados confirmam um maior número de mu-
so, drena e recebe as águas de uma das regi- férrea, Cidade Aracy, Vila Prado e Parque Faber, lheres na cidade, mais de 50% da população, com
ões da cidade que mais cresceu nas últimas soma 75.620 habitantes, o que perfaz aproxi- 113.061 e o número de homens sendo 108.87.
décadas (Parque Novo Mundo, Antenor Gar- madamente 34,07% da população. A área 2, que Veja o total de habitantes por área:
inclui a Vila Nery, entre as ruas São Paulo e Rai- 39.708 habitantes. Compreende o Centro, a região
cia, Jardim Zavaglia, Eduardo Abdelnur, Presi-
mundo Corrêa, Santa Maria e a área rural da Apa- que vai da UFSCar até a rodovia Domingos Inocen-
dente Color, Planalto Verde, CEAT, além dos recidinha, apresenta 57.374 pessoas, ou 25,85% tinni (SP-215), próximo a Volkswagem e a zona rural.
bairros Cidade Aracy 1 e 2), conforme censo dos são-carlenses. Ainda segundo dados do Cen- 57.374 pessoas. Bairro Vila Nery, entre rua São
so 2010, a região do Santa Felícia, divisada pela Paulo e Raimundo Correa, incluindo o bair-
do IBGE - 2010.
Avenida Doutor Francisco Pereira Lopes, incluindo ro Santa Maria e a área rural da Aparecidinha.
Jockey Clube, Samambaia, Água Vermelha e San- 75.620 pessoas. Bairro Bela Vista, a par-
ta Eudóxia – áreas urbana e rural - possui 47.642 tir da linha do trem, incluindo o bairro Ci-
habitantes (21,46%). A região compreendida pelo dade Aracy, Vila Prado e Parque Faber.
Centro, da UFSCar (Universidade Federal de São 47.642 habitantes. Bairro Santa Felícia, divisa pela
Carlos) até a rodovia Domingos Inocentinni, aces- rua Dr. Francisco Pereira Lopes incluindo Jockey
so 149 da SP-215, próximo à fábrica de motores da Clube, Samambaia, Água Vermelha e Santa Eudó-
Volkswagem, e área rural tem 39.708 habitantes xia (urbano e rural).
(17,89%). No total, foram visitados 71.190 domi-
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 141
Localizada na área sul de São Carlos, a mi-
crobacia do Córrego da Água Quente possui 139a
uma área de 12,5 km , sendo a terceira maior
2
Có ua
Ág
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bairros mais antigos (Jardim das Torres, Boa
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Vista, Jardim Medeiros, Jardim Beatriz, Mi-
rante Bela Vista, Jardim Santa Teresa, Jardim
139c
Belvedere, Jardim Martinelli, Jardim das Rosas, Nascente do Córrego
Jardim Pacaembú, Jardim Cruzeiro do Sul, Jar- da Água Quente
Có a Qu
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Madre Cabrini), os quais, embora periféricos,
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mantêm continuidade com a área urbana. Já a Rio do
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Monjolinho
parte baixa, à esquerda do córrego, compre-
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ende a encosta e os bairros de urbanização
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mais recente (Parque Novo Mundo, Antenor 139e
o
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Garcia, Jardim Zavaglia, Eduardo Abdelnur, Figura 139 – Córrego do
Presidente Color, Planalto Verde, CEAT, além Água Quente - Nascen- Rio do
te: (a) vista panorâmica M jolinho
on
dos bairros Cidade Aracy 1 e 2), ligados à ci- da área de nascentes,
(b) próximo ao cemité-
dade por apenas uma via principal, conhecida rio Jardim da Paz, (c) vis-
ta geral da microbacia;
como “Serrinha”. Para transpor a barreira ge- Foz (d) vista panorâmica Có
da foz no Rio do Monjo- Ág rreg
ográfica da encosta, a população abriu trilhas, ua o Estação de Tratamento
linho, (e) foz no Rio do Qu da de Esgoto (ETE)
conhecidas como “trios”, que atravessam a Monjolinho, próximo à en
te
Estação de Tratamento
Área de Preservação Permanente (APP) do de Esgoto de São Carlos. 139d
Fonte: (a, d) Google Earth; (b, c, e) Rita de Cássia de Almeida61
Córrego da Água Quente.
142 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
O documentário “Na margem”, realizado Se, por um lado, o isolamento e as inúmeras Em 2005, a interpretação de imagens de
pelas organizações TEIA-Casa de Criação e dificuldades que os primeiros habitantes dessa satélite, complementada por levantamentos
Acquavit, com o patrocínio da Petrobrás, nar- região tiveram de enfrentar contribuíram para a de campo, permitiu constatar que apenas
ra parte da história dos principais bairros mobilização social e a construção da uma iden- 25% da área ainda se encontrava coberta por
da microbacia do Córrego da Água Quente, tidade do bairro, por outro, o avanço da ocupa- vegetação nativa. Os remanescentes desta
ocupados por imigrantes que provêm de to- ção da região comprometeu a bela paisagem, vegetação indicaram que, previamente à ur-
das as regiões do Brasil, especialmente do pelo menos na memória daqueles que frequen- banização, a cobertura vegetal da microbacia
Nordeste, mas também da periferia de São tavam a fazenda que lá existia antigamente. do Córrego da Água Quente era composta,
Paulo. Começaram a chegar ainda nos anos essencialmente, por Cerrado e Floresta Esta-
1980, atraídos pelas oportunidades de traba- DEPOIMENTO – CÓRREGO ÁGUA QUENTE E ÁGUA cional Semidecidual, além da vegetação ciliar.
FRIA
lho que São Carlos prometia naquela época, A urbanização não implicou apenas no
e pela qualidade de vida que uma cidade do (...), passei a pescar mais para baixo, ali se cha- desaparecimento de grandes áreas de vege-
interior do Estado oferece ainda hoje. mava Água Quente e Água Fria. Nós íamos lá tação nativa, mas induziu a invasão e, con-
pescar, saía duas, três horas da tarde e punha a
Particularmente, nos bairros dessa região sequentemente, degradação das matas cir-
varinha nas costas. Depois do Diocesano tinha
da cidade, houve uma mobilização popular uma estrada que a gente passava, a gente ia de cundantes, nas quais o despejo de entulho, a
para reivindicar melhorias de infraestrutura bonde até o Seminário e seguíamos a pé (...), extração de madeira, as queimadas e o pas-
descia aquela estrada e ia parar no Água Fria
urbana e de prestação de serviços (comércio, toreio irregular são práticas comuns.
e Água Quente. E descia lá por trás, lá no Bota-
saúde, educação etc). O resultado é que, hoje, fogo, hoje onde existe a Pedreira Bandeirantes. Em 2012, as áreas das nascentes do Cór-
esta região da cidade é praticamente autô- Chegava lá, encontrava o rio, lá tinha muito lam- rego da Água Quente se encontravam em
noma, o que é confirmado no relato de um bari, bagre, trancinha. Descia que era uma bele- um estado avançado de degradação devido
za.... Quando era noite a gente saía de lá e vinha
morador local. a pé. Aí é que era duro, era subida, era pedra,
a retirada da mata ciliar, principalmente para
chegava aqui era 10 horas da noite. A gente pes- uso de pastagem. As combinações do desma-
cava muito no Água Quente e Água Fria. (...) Era tamento com a declividade mais acentuada
DEPOIMENTO – BAIRRO CIDADE ARACY ali que era bom, (...). (...) era tudo mato em volta,
e a fragilidade do solo arenoso, proveniente
tipo mato rasteiro, lá era mato bem rasteiro. (...).
“Muitas vezes fazem a comparação, ‘tal lugar é Hoje está tudo asfaltado, hoje tem o matadou- da Formação Botucatu, possibilitaram o apa-
bonito, é chique e tal’, mas tem que se deslocar ro ali em baixo, naquele tempo não tinha nada, recimento de processos erosivos graves nas
de ônibus, daqui para o centro da cidade, para tinha duas ou três fazendas, aquela estrada era
margens do córrego. Esses impactos interfe-
resolver aquilo que nós resolvemos dentro do via de acesso para as fazendas (relato refere-se
nosso próprio bairro”. a década de 1940). Dr. Hugo. Almeida, 20019 rem significativamente na qualidade do corpo
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 143
d’água, tanto no aumento de sedimentos sus- mitir um fácil acesso. Já em direção à foz do A proposta foi discutir questões e problemas
pensos na coluna d’água, como na estética do córrego, no Rio do Monjolinho, onde existe ambientais vivenciados pela população que
ambiente e na contaminação proveniente dos uma quantidade menor de áreas degradadas, habita a microbacia do Água Quente, e de
resíduos sólidos. A região do córrego, que en- o processo de assoreamento ainda é percep- promover atividades educacionais e ações de
globa a maior parte da microbacia, é a que tível, mas com uma menor frequência. O uso recuperação ambiental em colaboração com
mais sofreu com a remoção da vegetação e e ocupação desta área da microbacia estão organizações locais. Dentre os produtos des-
apresenta um grande número de áreas asso- mais direcionados a agricultura, com a pre- se projeto tem-se relatórios, cartilhas e bole-
readas, reduzindo ainda mais a profundidade sença de grandes propriedades10. tim de particular importância11,12,13.
do córrego. Ainda, a área de uma mineradora Vários projetos foram desenvolvidos nessa
de basalto desativada e não corretamente re- microbacia, entre 2005 e 2009, pela TEIA-Ca-
cuperada oferece riscos a população por per- sa de Criação, com o patrocínio da Petrobrás.
144 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO Figura 140 - Mapa da microbacia do Córrego da Água
CÓRREGO DA ÁGUA FRIA Fria, com a expansão urbana, rede hídrica e a locali-
zação dos bairros e escolas
140
Cerrado
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 145
O Córrego da Água Fria nasce a 820 me-
tros de altitude, próximo ao CEAT, e deságua 141a
no Rio do Monjolinho, a 685 metros de altitu-
de, depois de percorrer uma extensão de 7,7
km. Sua microbacia hidrográfica drena uma
área de, aproximadamente 29,6 km² e é em
grande parte ocupada por propriedades ru-
rais destinadas a subsistência, moradia ou 141b
lazer e à atividades agropecuárias. Apesar de
se localizar em sua maior parte na área rural,
o perímetro urbano está hoje alcançando a
margem direita do córrego. Porém nesta mi- N
as
crobacia ainda encontramos fragmentos de ce
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e
vegetação de Cerrado e Mata Atlântica de In-
terior.
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Figura 141 – Córrego da Água Fria – Nascente: (a) vis- e
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ta panorâmica, (b) nascente próximo ao CEAT – Estra- ó
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da Ribeirão Bonito; Foz: (c) vista panorâmica, (d) foz
no Rio do Monjolinho, próximo ao Posto Zootécnico Rio
do Posto
Pádua Salles, Canil e Gatil Municipal Dra. Jenye de Mo Zootécnico
Lara Carvalho Casale. njo
lin Canil e Gatil
ho 141c
Municipal
Fontes: (a, c) Google Earth; (b, d) Rita de Cássia de Almeida63
146 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Durante o seu percurso, passa próximo neração de areia que, se não bem operadas,
aos bairros Jardim Social Presidente Collor, podem prejudicar tanto a vegetação ciliar
Cidade Aracy e Jardim Social Antenor Garcia. quanto o próprio curso d´água.
Em seu leito, estão localizados pontos de mi-
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Mineradora Ág
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 147
ÁREA DE PROTEÇÃO E
RECUPERAÇÃO DE MANANCIAIS
148 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
APREM DO RIO DO MONJOLINHO Figura 144 – Mapa da APREM Monjolinho com a ex-
pansão urbana, rede hídrica e localização dos bairros
e escolas.
144
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 149
A APREM do Rio do Monjolinho correspon-
o
ad
de à área das suas nascentes, localizada antes 145a
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145c
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da Estação de Captação de Água do Córrego
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do Espraiado, que contribui com 15% da água
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de abastecimento público de São Carlos. Pos-
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sui uma área de, aproximadamente, 275 km².
Rio
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Mo
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Nascente do
Rio do Monjolinho
145b
150 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Espraiado – (a) vista panorâmica, (b) entrada na área de captação,
(c) casa das máquinas; (d) Córrego do Espraiado dentro do Parque
Ecológico, (e) Foz do Córrego do Espraiado no Rio do Monjolinho,
próximo à Captação de Água.
146d
Fonte: Rita de Cássia de Almeida68
o
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Captação do Espraiado
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o 146a
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 151
Anteriormente à construção da Estação de na Fazenda Santa Teresinha, próximo ao bairro A maioria dos cursos d’água da APREM do Rio
Captação do Córrego do Espraiado, um dos Jardim Tangará. Com o crescimento da cidade, do Monjolinho nasce na área rural, sendo que
principais pontos de captação encontrava-se no início da década de 1990, este foi desativado. metade deles deságua no Rio do Monjolinho,
ainda nesta área e a outra metade percorre a
área urbana e deságua no Monjolinho, em bair-
Figura 147 – Antiga captação do SAAE, nascente do
Rio do Monjolinho – Fazenda Santa Teresina: Projeto ros criados a partir da década de 1980. Todos
de Educação Ambiental – início da década de 1990
esses cursos d’água fazem parte do manancial
do Rio do Monjolinho e, por isso, é importante
que o poder público garanta, mediante o ins-
trumento do zoneamento ambiental, a preser-
vação da vegetação na área de suas nascentes
e a qualidade de suas águas.
Os córregos e as suas respectivas microba-
cias que compõem a APREM do Rio do Mon-
jolinho são:
152 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
A ocupação dessas microbacias teve iní-
cio a partir da década de 1980, e o seu his- DEPOIMENTO - OCUPAÇÃO DA ÁREA DA APREM
tórico foi recuperado por meio do relato de “(...) Por volta de 1983, em toda essa área do
seus primeiros moradores. Eles contam que manancial que está depois da Rodovia Washin-
o bairro do Jardim Tangará, atravessando a gton Luiz, existiam os Bairros Santa Maria I,
Maria Stella Fagá, Jardim Tangará I. Onde está
rodovia Washington Luís, foi o primeiro a ser o Bairro do Douradinho, era uma monocultu-
loteado. De acordo com os depoimentos, o ra de pinus e algumas chácaras. Quando eu
solo desta região era ocupado por grandes mudei para o Jardim Tangará existiam poucas
casas, na rua que eu morava só tinha a minha
extensões de (Pinus spp.), espécie exótica
casa e aí, conforme foi aumentando o número
muito utilizada no Brasil devido ao seu rápi- de casas, o solo passou a ser mais impermea-
do crescimento, e por fazendas de criação de bilizado, o que causou o aparecimento de uma
grande voçoroca. Depois de três ou quatro 148
gado. Em seus relatos, os moradores afirmam
anos [1986/87] foi instalado outro bairro que
existir uma área razoável de mata ciliar pre- é o Jardim São Rafael, que foi ocupado bem
servada, além de uma área de mata de reser- rapidamente e, depois de cinco ou seis anos
[1988/89], começaram a retirar a cultura de
va legal, pertencente à Fazenda Santa Joana.
pinus para o loteamento do bairro Douradi-
Entretanto, na área rural da nascente do Rio nho.” Granado, 201014.
do Monjolinho, a maior parte da mata de ga-
leria foi suprimida e o solo foi ocupado por
pastos. Para corresponder às necessidades de pro-
teção da APREM do Rio do Monjolinho e ga-
rantir a permanência da captação do Espraia-
DEPOIMENTO - CÓRREGO PONTE DE TÁBUA
do, o poder público municipal desenvolve
“(...) os bairros Parque Sabará e Parque Prima- projetos específicos para as regiões de nas-
vera têm uma mata ciliar grande e protegida
centes como, por exemplo, a recuperação da Figura 148 – Recuperação Mata Ciliar Córrego São
antes de atravessar a Rodovia Washington Luiz, Rafael – 2012.
depois dessa travessia passa no Bairro Maria vegetação ciliar nativa e o controle da erosão
Stella Fagá onde já não existe mais mata ciliar e e do assoreamento na APP do Rio do Monjoli- Fonte: Acervo da Secretaria de Ciência, Tecnologia e
deságua no Rio do Monjolinho já em área total- nho e na nascente do Córrego São Rafael. Desenvolvimento Sustentável de São Carlos70
mente urbanizada. ” Granado, 201014.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 153
No bairro Douradinho, a falta de planeja-
mento e cuidado com a APP, quando da im- 149
plantação da infraestrutura e de loteamentos
urbanos, resultou em danos ambientais de-
correntes do escoamento das águas pluviais
para dentro da mata e da consequente ero-
são do solo, bem como do depósito de en-
tulhos em áreas institucionais originalmente
destinadas, à instalação de equipamentos
públicos como, por exemplo, praças, pos-
tos de saúde e centros comunitários. Essas
questões motivaram alguns moradores para
a criação de uma Associação dos Moradores
do Parque Residencial Douradinho (AMORD),
Fonte: Raimunda Gomes S. Soares71
em 2006. Os instrumentos de reivindicação
consistiram, principalmente, em abaixo-assi-
nados e na busca de apoio de lideranças mu- DEPOIMENTOS – BAIRRO DOURADINHO
nicipais.
“Pra conseguir a luz e telefone aqui, nós fizemos da era tudo estrada de chão, tinha só as vias as-
abaixo-assinado. O Virgílio [o primeiro líder comu- sim né (...) Comprei esse terreno aqui na quadra
Figura 149 – Córrego Douradinho: Atividade de Diag- nitário do bairro, atualmente não reside no local] 16, foi a primeira casa a ser construída da quadra
nóstico Ambiental 2007 – Projeto CESCAR (2007-2008).
encabeçava os abaixo-assinados, todo mundo as- 16, da quadra não, do bairro inteiro, foi o primei-
sinava e levava lá na prefeitura. O Gentil [advoga- ro que veio pessoas morar aqui no Douradinho (...),
do que ajudou desde o início a criar a Associação, Na época que a gente cheguemos aqui, o que tinha
é relator de seu estatuto] trabalhava lá e passava bastante de árvore e bicho, bicho tipo: cachorro do
isso pra frente.(...) Não tinha quase ninguém aqui mato, viadinho, camaleão aquele teú grandão. Lá
no Douradinho, então quem eu via na rua eu cha- na horta [se refere a horta que ele cultiva em um
mava para formar a Associação”. 15 dos terrenos ociosos do bairro] ia sempre teú lá.
“Eu cheguei aqui no Douradinho não tinha nem uma Agora é que ele tá um pouco afastado por que tem
casa, não tinha nada (...) Aqui era só capim, tinha muita gente trevessando na beira da mata, não dá
a mata de baixo e a mata de cima, e tudo era só para ele passar pro lado. Também tinha muito Sa-
mato, capim, a máquina tinha passado, as estra- riema [Siriema]. Sr. Romário. Soares, 201115.
154 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
APREM DO RIBEIRÃO DO FEIJÃO17, 18, 19 Figura 150 – Mapa da APREM do Ribeirão do Feijão
com a expansão urbana, rede hídrica e a localização
dos bairros.
150
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 155
A sub-bacia hidrográfica do Ribeirão do primento, divide os municípios de São Carlos, do Ribeirão do Lobo com o Ribeirão do Feijão,
Feijão corresponde a uma área de, aproxi- Analândia e Itirapina. Suas primeiras nascen- o curso d´água que se segue recebe o nome
madamente, 22 mil ha, cortada ao meio pela tes ficam no alto da Serra do Cuscuzeiro, em de Rio Jacaré-Guaçú.
rodovia Washington Luís. O Ribeirão do Fei- Analândia e sua foz no Ribeirão do Lobo, logo
jão, com aproximadamente 13 km de com- após a Represa do Lobo-Broa. Após a junção
150a
Ribeirão
Nascente Rio Jacaré-Guaçu
do Feijão
150b
Ribeirão do Lobo
Nascente 150d
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Fontes – (a, c) Google Earth; (b, d) Rita de Cássia de Almeida73
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Figura 151 - Ribeirão do Feijão – Nascente (a) vista
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panorâmica, (b) Cachoeira da Bocaina; Foz: (c) vista
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panorâmica, (d) foz do Ribeirão do Feijão no Ribeirão
do Lobo, próximo a Represa do Lobo-Broa.
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156 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Parte da sub-bacia do Ribeirão do Feijão Figura 152 – Captação de Água Ribeirão do Feijão: (a)
vista panorâmica da captação, (b) local da captação,
está localizada dentro por situa-se no Aquí- (c) casa das máquinas.
Captação do
Feijão
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152c
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 157
Praticamente toda a área da sub-bacia está de monoculturas de pinus, eucalipto e cana- Porém, existem moradores que têm outra
localizada no município de São Carlos, com -de-açúcar. Além da área rural, a sub-bacia do visão sobre a conservação da região e contam
cerca de 13 mil ha pertencentes à APREM Ribeirão do Feijão também contempla o bair- que sua qualidade ambiental melhorou nos últi-
do Ribeirão do Feijão. Localiza-se predomi- ro Jardim Novo Horizonte e um parque indus- mos anos, principalmente devido a uma causa
nantemente na área rural, caracterizada por trial. Os próprios moradores percebem que de uma mudança de atitude dos proprietários
pequenas e médias propriedades, as quais tais instalações causam impactos ambientais de terras, que passaram a perceber a impor-
utilizam a terra para a criação de gado e su- devido ao uso impróprio do solo. tância da conservação dos recursos hídricos.
ínos, o plantio de arroz, feijão e milho, além
158 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
Nessa sub-bacia havia um antigo lixão de exemplo, uma roda d’água e equipamentos teiros de visitas com trilhas interpretativas.
São Carlos, localizado na Fazenda Santa Ma- de irrigação; e a análise da qualidade da água Para desenvolver seus projetos, conta com o
dalena, que foi desativado no início de 1995. é realizada regularmente. apoio de várias instituições, como a Organi-
Pode-se afirmar que a região do lixão é até Em 2007, criou o programa Escola da Flo- zação da Sociedade Civil de Interesse Público
hoje o maior passivo ambiental do município, resta, que tem como propósito a preservação “Iniciativa Verde”, Embrapa Instrumentação –
exigindo investimentos em monitoramento e do Ribeirão do Feijão e de seu entorno, além São Carlos, UFSCar e USP21.
investigações detalhadas periódicas, realiza- de ser um espaço educador que oferece ro-
das por especialistas sob a responsabilidade
do poder público. Os resultados de uma pes-
quisa realizada em 2014 mostram que, mes- 153a
mo o lixão estando desativado há 18 anos, é
fonte de contaminação, principalmente para
as águas do Ribeirão do Feijão e do Sistema
Aquífero Guarani.20
O Sitio São João, localizado às margens do
Ribeirão do Feijão, desde 1998, desenvolve
projetos de conservação, preservação e res- 153b
tauração da mata ciliar e de recuperação das
áreas degradadas. A manutenção do sítio é
realizada utilizando-se, práticas sustentáveis
como: tratamento do esgoto, por meio de
uma fossa séptica biodigestora e utilização
do efluente da fossa como adubo no plantio Ribeirão do Feijão
e na manutenção de mudas nativas; a cole-
ta de resíduos sólidos é realizada separada-
mente e posteriormente são reaproveitados
ou reciclados; economia de água e energia Figura 153 – Sitio São João: (a) vista panorâmica do
sitio, (b) Ribeirão do Feijão na divisa da propriedade e
por meio de tecnologias limpas como, por dos municípios de São Carlos e Itirapina.
Fontes: (a) Google Earth; (b) Silvia Ap. Martins dos Santos75
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 159
Prado Margarido”: Programa Santa Fé. In: SCHIEL, nicípio de São Carlos (APREM/SC) - Lei Municipal
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SUAS BACIAS O Estudo de Bacias Hidrogáficas: Uma estraté-
gia para a Educação Ambiental. São Carlos: Rima,
APREM – a do Rio do Monjolinho e a do Ribeirão
do Feijão. Disponível em: <http://www.saocarlos.sp.
2002, pp. 100 - 108. gov.br/images/stories/plano_diretor/Microsoft%20
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HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 161
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represa da Barra, Usina hidrelétrica Capão Preto. melha. Acervo da Fundação Pró-Memória de São
ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/USP. Carlos.
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1. Divisores de Água. PRUDÊNCIO, Christiana A.V. go Itararé e da foz do Córrego Itararé no Rio do
18. Casa Pulcinelli. ALMEIDA, Rita C. Acervo do
Acervo CDCC/USP. Quilombo. GOOGLE EARTH; Nascente do Córrego
CDCC/USP.
Itararé no Sitio Três Marias e foz do Córrego
2. PROJETO AFLORAR – espaços educadores: “Cria- Itararé no Rio do Quilombo, próximo à Estação 19. Rio Mogi-Guaçu – Distrito de Santa Eudó-
ção de Espaços Permanentes de Saúde e Educação de Tratamento de Esgoto. ALMEIDA, Rita C. Acervo xia. ALMEIDA, Rita C. Acervo CDCC/USP.20. Usina
Ambiental no Município de São Carlos.” Fundação do CDCC/USP. Hidrelétrica do Monjolinho – antiga. Acervo da
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do 29; da foz do Córrego do Lobo no Córrego da
Comemorativa do 146º Aniversário: característi- Teresinha na década de 1990 e em 2017; foz no
Jararaca e; da foz do Ribeirão dos Negros no
ca físico-territoriais. Organizado por: MONTAÑO, Rio Jacaré-Guaçu; Rio Jacaré Guaçu após junção
Rio Mogi-Guaçu. GOOGLE EARTH; Nascente do
162 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
com o Rio do Monjolinho; estação de trem Santo 31. Poço da Cica. ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/ 38. Sociedade Danti Alighieri em 1902 e 1922;
Inácio, próximo a junção do Rio do Monjolinho USP. Escola de Engenharia - Década de 1950; CDCC
e Rio Jacaré Guaçu. ALMEIDA, Rita C. Acervo do Década de 1980 e 2010. Acervo do CDCC/USP.
CDCC/USP. 32. Fábrica de Tecido Magdalena – anos 1950;
Serraria Santa Rosa. Acervo da Fundação Pró-Me- 39. Cine São José; Cine Joia; Cine São Carlos; Cine
23. Antigo Curtume Hispano-Brasileiro. ALMEIDA, mória de São Carlos Avenida. Acervo da Fundação Pró-Memória de São
Rita C. Acervo do CDCC/USP. Carlos
33. Fotos das indústrias: Indústria de Artigos
24. Mapa da sub-bacia do Monjolinho com a para Selaria; Fábrica de Veículos Geometti; 40. Imagens antigas de Enchentes do Córrego do
delimitação das microbacias e APREM do Monjo- Indústria de Sabão A. J. Cerri; Indústrias Fachina Gregório na região do Mercado Municipal. Acervo
linho. MANIA, José B. Acervo do CDCC/USP. – anos 1920; Indústria Fachina - anos 1940; Faber da Fundação pró-Memória de São Carlos. Imagem
Castell - anos 1940; Indústrias de Cadeira Saya de Enchente do Córrego do Gregório na região
25. Mapa da microbacia do Córrego do Gregório - anos 1940; Frigorifico São Carlos - anos 1960; do Mercado Municipal em 2018. Acervo da Defesa
com a expansão urbana, rede hídrica e locali- Indústrias Pereira Lopes – anos 1960; Indústrias Civil – Prefeitura Municipal de São Carlos.
zação dos bairros e escolas. BERTAZI, Marcio H. Pereira Lopes- anos 1970. Acervo da Fundação
Acervo do CDCC/USP Pró-Memória de São Carlos 41. Obra realizada no Córrego do Gregório - pri-
meira canalização. Acervo da Fundação Pró-Me-
26. Vista panorâmica das nascentes do Rio do 34. Mercado Municipal: Final do Século XIX; 1918; mória de São Carlos. Obra realizada no Córrego
Monjolinho, Córrego do Gregório e Ribeirão dos 1930; 1938; 1940; 1950; área interna. Acervo da do Gregório em 2002 na Praça do Mercado Muni-
Negros. GOOGLE EARTH Fundação Pró-Memória de São Carlos. Praça cipal e marginal próximo ao SESC antes da obra
Maria Aparecida Resitano em 2018. ALMEIDA, Rita e depois da obra em 2012. Acervo do CDCC/USP
27. Córrego do Gregório: vista panorâmica da
C. Acervo do CDCC/USP.
nascente e da foz. GOOGLE EARTH; Córrego do 42. Canalização do Córrego do Simeão Praça
Gregório: nascente no Sitio Santo Antônio e foz 35. Vista panorâmica das Praças: Mercado Mu- Itália. Acervo da Fundação Pró-Memória de São
no Rio do Monjolinho na Rotatória do Cristo. nicipal (Praça Maria Aparecida Resitano), dos Carlos. Córrego canalizado no Bairro Lagoa
Acervo do CDCC/USP Voluntários e da Piscina Municipal (Praça Pedro Serena; entrada do córrego no antigo Prédio da
de Toledo); Imagens antigas das praças: Mer- Faber Castell (Rua 1º de maio); córrego saindo do
28. Vista panorâmica da cidade 1890; Rua de
cado Municipal; Voluntários da Pátria e Piscina antigo prédio da Faber Castell (Rua Episcopal).
São Carlos Século XIX; Vista da cidade início do
Municipal (Praça Pedro de Toledo) - 1934. Acervo ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/USP. Foz do Cór-
século XX. Acervo da Fundação Pró-Memória de
da Fundação Pró-Memória de São Carlos. Imagens rego do Simeão no Córrego do Gregório (durante
São Carlos.
de 2017 das praças: Mercado Municipal, Voluntá- obras de canalização do Córrego do Gregório em
29. PAVESI, Alessandra; PAVESI, Lorenza; ROBERTS, rios da Pátria e Piscina Municipal. ALMEIDA, Rita 2002). Acervo do CDCC/USP.
Ana Mércia S.; JABUR, Rodrigo Sartori. Mapa dos C. Acervo do CDCC/USP.
43. Mapa da microbacia do Córrego do Tijuco
chafarizes – bebedouros públicos de São Carlos.
36. Praças da Catedral, do Largo Santa Cruz e Preto com a expansão urbana, rede hídrica, e a
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da Coronel Salles, imagens antigas. Acervo da localização dos bairros e escolas. BERTAZI, Márcio
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Catedral, do Largo Santa Cruz e da Coronel Sal-
20 de novembro de 2018. 44. Córrego do Tijuco Preto: vista panorâmica da
les, imagens de 2017. ALMEIDA, Rita C. Acervo do
CDCC/USP. área de nascente e da foz no Rio do Monjolinho.
30. Córrego Biquinha – Canalização do Córrego
GOOGLE EARTH. Nascente do Córrego do Tijuco
na região do Teatro Municipal. Acervo da Funda-
37. Clube Flor de Maio nos anos 50. Acervo da Preto na Rua Monteiro Lobato, próximo à Rua
ção Pró-Memória de São Carlos; Fonte Biquinha
Fundação Pró-Memória de São Carlos. Clube Flor Bruno Giongo e foz no Rio do Monjolinho, próxi-
na Creche Anita Costa. ALMEIDA, Rita C. Acervo do
de Maio nos anos em 2018. ALMEIDA, Rita C. Acer- mo à rotatória da USP. ALMEIDA, Rita C. Acervo do
CDCC/USP.
vo do CDCC/USP. CDCC/USP.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 163
45.Córrego do Schmidt - vestígios Rua São Paulo 48. Revitalização do Parque do Bicão - (evento 51. Bosque Santa Marta: imagens internas do
esquina com a Rua Orlando Damiano; Córrego Vem Brincar). Prefeitura Municipal de São Carlos, bosque. CARNIELLI, Gabriela V. Arquivo Pessoal
do Shimidt canalizado sob a Praça Delmas Pen- 2018. Disponível em: <http://www.saocarlos.sp.gov. Vista lateral do Bosque na Av. Filomena Rispoli.
teado Machado. ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/ br/index.php/noticias-2018/172095-brincar-no-bi- ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/USP.
USP. cao-reune-centenas-de-pessoas.html>. Acesso em:
13 de agosto de 2018. 52. Bosque Cambuí; Córrego do Cambuí: nascen-
46. Mapa da microbacia do Córrego do Medeiros te (próximo a UPA Santa Felícia) e foz no Córrego
com a expansão urbana, rede hídrica e a loca- 49. Mapa da microbacia do Córrego Santa Maria Santa Maria do Leme dentro do Bosque Cambuí.
lização dos bairros e escolas. BERTAZI, Márcio H. do Leme com a expansão urbana, rede Hídrica ALMEIDA, Rita C. Arquivo Pessoal. Vista panorâmica
Acervo do CDCC/USP. e a localização dos bairros e escolas. BERTAZI, da foz do Córrego Cambuí no Córrego Santa Maria
Márcio H. Acervo do CDCC/USP. do Leme. GOOGLE EARTH.
47. Córrego do Medeiros: Vista panorâmica da
área de nascente – parque do bicão e da foz no 50. Córrego Santa Maria do Leme: Vista panorâ- 53. Antiga Captação do Galdino – Atual Sede da
Rio do Monjolinho. GOOGLE EARTH. Afloramento mica da área de nascentes e foz. GOOGLE EARTH. AMOR. ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/USP.
do lençol e canal no Parque do Bicão e, foz no Nascente do Córrego Santa Maria do Leme no
Rio do Monjolinho próximo ao Conjunto Habita- Rio do Monjolinho, próximo ao kartódromo e à 54. Mapa da Microbacia do Córrego do Mineiri-
cional São Carlos VI. ALMEIDA, Rita C. Acervo do Sede da AMOR. ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/ nho com a expansão urbana, rede Hídrica e a
CDCC/USP. USP. localização dos bairros e escolas. BERTAZI, Márcio
H. Acervo do CDCC/USP.
164 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS
55. Córrego do Mineirinho: Vista panorâmica da 58. Projetos de Recuperação do Córrego Santa geral da microbacia; foz no Rio do Monjolinho,
área de nascentes e da canalização, foz no Rio Fé: imagens anteriores ao projeto (1998); ima- próximo à Estação de Tratamento de Esgoto de
do Monjolinho – Rotatória do Cristo. GOOGLE gens do plantio em 2000 e 2011. Acervo do CDCC/ São Carlos. ALMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/USP.
EARTH. Nascente próximo a EE Bento da Silva Ce- USP.
sar, nascente no Campus USP São Carlos – área 62. Mapa da microbacia do Córrego Água Quente
2, nascente do Córrego Santa Fé, afluente do 59. Nascente do Córrego Santa Fé – 2018: entu- com a expansão urbana, rede Hídrica e a loca-
Córrego do Mineirinho, final do curso do Córrego lho, erosão e encanamentos quebrados, mato lização dos bairros e escolas. BERTAZI, Márcio H.
Mineirinho, antes da canalização, foz no Rio do alto; vazamento de esgoto e erosão em área de Acervo do CDCC/USP.
Monjolinho – Rotatória do Cristo em 2017 e 2018. afloramento. SANTOS, Silvia A. M. Acervo do CDCC/
SANTOS, Silvia A. M. Acervo do CDCC/USP. USP. 63. Córrego da Água Fria – vista panorâmica da
área de nascentes e foz no Rio do Monjolinho.
56. Córrego do Mineirinho: entulho, lixo e esgoto. 60. Mapa da Microbacia Hidrográfica do Córrego GOOGLE EARTH. Nascente próximo ao C.E.A.T. –
Acervo CDCC/USP da Água Quente com a expansão urbana, rede Estrada Ribeirão Bonito e foz no Rio do Monjoli-
Hídrica e a localização dos bairros e escolas. Mar- nho, próximo ao Posto Zootécnico Pádua Salles,
57. Atividade de Recuperação da Nascente do cio H. Acervo do CDCC/USP. Canil e Gatil Municipal Dra. Jenye de Lara Carva-
Córrego do Mineirinho – EE Bento da Silva Cesar lho Casale. AlMEIDA, Rita C. Acervo do CDCC/USP.
em 2011. Acervo do CDCC/USP 61. Córrego do Água Quente – vista panorâmica
da área de nascentes e foz. GOOGLE EARTH. Nas- 64. Vista panorâmica da mineradora. GOOGLE
cente próximo ao cemitério Jardim da Paz, vista EARTH
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 165
65. SÃO CARLOS, Prefeitura Municipal. Secretaria 68. Captação do Córrego do Espraiado – vista 72. Mapa da APREM do Ribeirão do Feijão com a
Municipal de Habitação e desenvolvimento Urba- panorâmica. GOOGLE EARTH. Entrada do Córrego expansão urbana, rede hídrica e a localização dos
no – Anexo 2 – áreas de Controle dos Mananciais do do Espraiado na área de captação, casa das má- bairros. BERTAZI, Márcio H. Acervo do CDCC/USP.
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cia, Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável de
São Carlos.
HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS 167
168 HISTÓRICO E SOCIOAMBIENTAL DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DE SÃO CARLOS - SP | PARTE III | SÃO CARLOS POR SUAS BACIAS